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Julgado não comentado por ter menor relevância para concursos públicos e por ter sido decidido com base em
peculiaridades do caso concreto: REsp 1.414.394-DF. Se quiser, leia-o ao final deste Informativo.
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
DIREITO EDUCACIONAL
Revalidação no Brasil de diplomas de universidades da América Latina e Caribe.
DIREITO CIVIL
PROPRIEDADE INTELECTUAL
Ação de cobrança de direitos autorais proposta pelo ECAD.
CONDOMÍNIO
Aplicação de multa a condômino antissocial e direito de defesa.
DIREITO DO CONSUMIDOR
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
Abusividade da cláusula-mandato.
DIREITO EMPRESARIAL
CONTRATO DE FRANQUIA
Validade de notificação por e-mail para o exercício de direito de preferência.
PROCESSO COLETIVO
Alteração de polo ativo de ação civil pública promovida por associação.
DIREITO PENAL
CRIMES AMBIENTAIS
Configuração do crime do art. 48 da Lei 9.605/1998.
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ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Tipicidade da conduta de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido com registro vencido.
Atipicidade da conduta de porte ilegal de arma de fogo ineficaz.
LEI DE DROGAS
Hipótese de inocorrência de ação controlada.
TRIBUNAL DO JÚRI
Recusas imotivadas e pluralidade de réus.
DIREITO TRIBUTÁRIO
REFIS
Prescrição da cobrança de créditos tributários devidos por contribuinte excluído do REFIS.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA HÍBRIDA
Noções gerais.
APOSENTADORIA ESPECIAL
Aposentadoria especial a contribuinte individual não cooperado.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
Auxílio quebra de caixa.
DIREITO ADMINISTRATIVO
DIREITO EDUCACIONAL
Revalidação no Brasil de diplomas de universidades da América Latina e Caribe
Contestação
A Procuradoria Federal, que fazia a assistência jurídica da UFPE, contestou o pedido invocando duas teses:
1ª) A Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Diploma de Ensino Superior na América Latina e no
Caribe foi revogada pelo Decreto nº 3.007/99;
2ª) Ainda que se considere que a referida Convenção está em vigor, não se pode dizer que ela permita a
revalidação automática.
Conclusões
O STJ, apreciando o caso acima em regime de recurso especial repetitivo, chegou às seguintes conclusões:
O Decreto nº 80.419/77 (que incorporou a Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos,
Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina e no Caribe) foi recepcionado pela CF/88 com
status de lei ordinária e, portanto, não foi revogado pelo Decreto nº 3.007⁄99. Desse modo, essa
Convenção ainda está em vigor.
No entanto, o referido Decreto nº 80.419/77 não traz norma específica que vede o procedimento adotado
pelas Universidade brasileiras de revalidação dos diplomas estrangeiros. Esse processo de revalidação
obrigatória tem respaldo nos arts. 48 e 53, V, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira.
Em outras palavras, o Decreto nº 80.419/77 não dispensou o processo de revalidação nem impôs que a
universidades brasileiras fizessem uma "revalidação automática" dos diplomas estrangeiros expedidos nos
países signatários.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.215.550-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/9/2015 (Info 570).
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Revalidação de diploma estrangeiro
Vale ressaltar que o STJ entende que o registro de diploma estrangeiro no Brasil está submetido a prévio
processo de revalidação, segundo o regime previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
(art. 48, § 2º, da Lei 9.394/1996).
Não existe qualquer dispositivo legal que proíba a universidade de exigir um processo seletivo para aceitar
o pedido de revalidação de diploma, além do que isso está inserido na autonomia didático-científica e
administrativa da Instituição (art. 53, V, da Lei 9.394/1996 e art. 207 da CF/88).
Portanto, desde que observados os requisitos legais e os princípios constitucionais, deve-se garantir às
universidades a liberdade para editar regras específicas acerca do procedimento destinado à revalidação
de diplomas expedidos por universidades estrangeiras.
Assim, é legal a exigência feita por universidade, com base em resolução por ela editada, de prévia
aprovação em processo seletivo como condição para apreciar pedido de revalidação de diploma obtido em
instituição de ensino estrangeira.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.349.445-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/5/2013 (recurso
repetitivo) (Info 520).
DIREITO CIVIL
PROPRIEDADE INTELECTUAL
Ação de cobrança de direitos autorais proposta pelo ECAD
Contestação
A rádio contestou o pedido argumentando que o autor deveria ter comprovado a suposta violação dos
direitos autorais por meio de um documento chamado "Termo de Comprovação de Utilização Musical",
que não foi juntado aos autos.
Esse documento é previsto no Regulamento de Arrecadação do próprio ECAD.
Segundo afirmou a ré, esse documento serve como comprovação do fato constitutivo do autor, sendo,
portanto, um ônus dele apresentar, nos termos do art. 373 do CPC 2015 (art. 333 do CPC 1973):
Art. 373. O ônus da prova incumbe:
I – ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
A tese da ré está correta? Na ação proposta pelo ECAD cobrando o pagamento de direitos autorais é
indispensável a juntada do "Termo de Comprovação de Utilização Musical"?
NÃO. Na ação de cobrança de direitos autorais proposta pelo ECAD em desfavor de sociedade empresária
executante de serviço de radiodifusão, o Termo de Comprovação de Utilização Musical não é fonte de
prova imprescindível para comprovação do fato constitutivo do direito do autor.
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O Termo de Comprovação de Utilização Musical é como se fosse um auto de infração lavrado pelo fiscal do
ECAD relatando que no dia XX, às YY horas, houve a execução publica desautorizada de obras musicais,
literomusicais e fonogramas sem pagamento de direitos autorais. Trata-se de uma forma de registro que é
prevista no regulamento do ECAD.
Para o STJ, o Termo de Comprovação de Utilização Musical não goza de qualquer presunção, tais como
gozam os autos de infração emitidos por entidades fiscalizadoras (e, portanto, prestadoras de serviço
público), devendo, portanto, ser analisado no contexto das demais provas produzidas.
Além disso, esse termo é lavrado sem a participação do infrator, o que faz com que seja possível
questionar-se a sua força probatória.
A verdade é que a legislação não prevê que esse documento seja fato constitutivo do direito.
O fato constitutivo do direito é a divulgação e transmissão de músicas e fonogramas, e não a lavratura de
um termo, que tem por finalidade apenas facilitar a comprovação da inadimplência.
Desse modo, o fato constitutivo do direito do ECAD pode ser demonstrado por qualquer meio de prova.
Assim, não é razoável nem legal a exigência de que seja produzido um documento específico (Termo de
Comprovação de Utilização Musical) como requisito essencial para a ação de cobrança, quando a própria
lei não o exige. Ressalte-se que o referido documento - como qualquer outro documento - nada mais é do
que mera fonte de prova, a qual pode, em regra, ser substituída por qualquer outro meio de prova.
CONDOMÍNIO
Aplicação de multa a condômino antissocial e direito de defesa
Para que o condomínio aplique essa multa, é necessário que garanta ao condômino direito ao
contraditório e à ampla defesa?
SIM. A sanção prevista para o comportamento antissocial reiterado de condômino (art. 1.337, parágrafo
único, do CC) não pode ser aplicada sem que antes lhe seja conferido o direito de defesa.
Atualmente, o Código Civil deve ser lido a partir de uma visão civil-constitucional, de forma que se deve
reconhecer a aplicação imediata dos princípios e garantias constitucionais também nas relações entre
particulares. Isso é chamado de "eficácia horizontal dos direitos fundamentais".
A garantias constitucionais também devem incidir nas relações condominiais, devendo ser assegurados, na
medida do possível, a ampla defesa e o contraditório. A aplicação de punição ao condômino antissocial,
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sem que lhe seja garantida ampla defesa, contraditório ou devido processo legal prejudica
consideravelmente o suposto infrator, considerando que ele ficará impossibilitado de demonstrar que seu
comportamento não era antijurídico nem afetou a harmonia, a qualidade de vida e o bem-estar geral.
Dessa forma, em última análise estaria sendo violado até mesmo seu direito de propriedade.
A doutrina especializada também possui o mesmo entendimento. Nesse sentido, confira a conclusão da I
Jornada de Direito Civil do CJF:
Enunciado 92-CJF: Art. 1.337: As sanções do art. 1.337 do novo Código Civil não podem ser aplicadas sem
que se garanta direito de defesa ao condômino nocivo.
Sobre o tema, o STF já enfrentou algo parecido ao decidir que devem ser garantidos o contraditório e a
ampla defesa no caso em que uma associação desejava expulsar de seus quadros um associado pela
prática de infrações. Na oportunidade, o STF afirmou que "o espaço de autonomia privada garantido pela
Constituição às associações não está imune à incidência dos princípios constitucionais que asseguram o
respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A autonomia privada, que encontra claras
limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e
garantias de terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a autonomia da
vontade não confere aos particulares, no domínio de sua incidência e atuação, o poder de transgredir ou
de ignorar as restrições postas e definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força normativa
também se impõem, aos particulares, no âmbito de suas relações privadas, em tema de liberdades
fundamentais." (STF. 2ª Turma. RE 201819, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
11/10/2005).
Se a multa prevista no art. 1.337, parágrafo único, do CC não se mostrar efetiva, o condomínio poderá
tomar medidas mais drásticas contra o condômino antissocial?
SIM. Caso seja aplicada a multa e mesmo assim o infrator continue apresentando reiteradamente o
comportamento ofensivo, a doutrina sustenta que será possível que o condomínio ajuíze ação para
expulsar o condômino antissocial. Foi a conclusão da V Jornada de Direito Civil do CJF:
Enunciado 508-CJF: Verificando-se que a sanção pecuniária mostrou-se ineficaz, a garantia fundamental da
função social da propriedade (arts. 5º, XXIII, da CRFB e 1.228, § 1º, do CC) e a vedação ao abuso do direito
(arts. 187 e 1.228, § 2º, do CC) justificam a exclusão do condômino antissocial, desde que a ulterior
assembleia prevista na parte final do parágrafo único do art. 1.337 do Código Civil delibere a propositura
de ação judicial com esse fim, asseguradas todas as garantias inerentes ao devido processo legal.
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COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA
Ausência de prazo para a ação de adjudicação compulsória
A promessa de compra e venda (ou compromisso de compra e venda) é uma espécie de contrato
preliminar por meio do qual uma pessoa (promitente vendedor) se compromete a vender o seu
bem ao promissário comprador após este pagar integralmente o preço que foi ajustado.
Se o promitente vendedor, mesmo após receber o preço integral combinado, recusar-se a outorgar
a escritura pública, o promissário comprador poderá ajuizar ação de adjudicação compulsória.
Existe um prazo para que o promissário comprador proponha a ação de adjudicação
compulsória? Depois de pago integralmente o preço, se o promitente vendedor se recusar a
outorgar a escritura pública, qual o prazo que o promissário comprador possui para requerer
a adjudicação compulsória?
Não há prazo. O promitente comprador, amparado em compromisso de compra e venda de
imóvel cujo preço já tenha sido integralmente pago, tem o direito de requerer judicialmente, a
qualquer tempo, a adjudicação compulsória do imóvel.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.216.568-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/9/2015 (Info 570).
Trata-se de um contrato preliminar porque após o promitente comprador pagar integralmente o preço, as
partes ainda irão celebrar um outro contrato, qual seja, de compra e venda.
Obs: alguns autores, como Nelson Rosenvald, diferenciam as expressões compromisso e promessa de
compra e venda. Para a maioria da doutrina e da jurisprudência, contudo, são terminologias sinônimas.
Forma
A promessa de compra e venda pode ser celebrada por instrumento público ou particular (art. 1.417 do CC).
O contrato principal (compra e venda) que será assinado após o pagamento integral do preço, se envolver
bem imóvel de valor superior a 30 salários mínimos, deverá ser feito por escritura pública (art. 108 do CC).
A promessa de compra e venda precisa ser registrada em cartório para ser válida?
NÃO. A promessa de compra e venda é válida mesmo sem registro no cartório.
Quando a promessa de compra e venda é registrada em cartório, esse compromisso passa a ter natureza
jurídica de direito real à aquisição. Veja o que diz o Código Civil:
Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada
por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o
promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.
(...) A promessa de compra e venda identificada como direito real ocorre quando o instrumento público ou
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particular é registrado no cartório de registro de imóveis, o que não significa que a ausência do registro
retire a validade do contrato. (...)
(STJ. 4ª Turma. REsp 1185383/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/04/2014)
A importância do registro em cartório está na eficácia da promessa de compra e venda perante terceiros:
Se a promessa não foi registrada: ela é válida, mas produz efeitos apenas entre as partes.
Ex: João (promitente vendedor) celebra um contrato de promessa de compra e venda de um imóvel
com Pedro (promitente comprador). Esta promessa não é registrada em cartório. João começa a pagar
as prestações mensais. Ocorre que João, de forma desonesta, vende à vista o mesmo imóvel para
Carlos que, de posse da escritura pública, vai até o cartório e registra o imóvel em seu nome. Pedro, ao
descobrir a venda, não poderá pleitear o imóvel de Carlos. Restará a ele ajuizar ação de indenização
contra João. Não significa que a promessa de compra e venda era inválida. O problema é que ela,
mesmo sendo válida, não produzia efeitos para terceiros. Logo, Pedro não tem direito de sequela
porque a promessa de compra e venda, neste caso, não é direito real.
Se a promessa foi registrada: ela é válida e, além disso, produz efeitos perante terceiros.
Ex: utilizando o mesmo exemplo acima, se a promessa de compra e venda celebrada entre João e
Pedro tivesse sido registrada em cartório, Carlos nem teria conseguido registrar o imóvel em seu
nome, considerando que haveria essa restrição na matrícula do imóvel. No entanto, ainda que Carlos
tivesse conseguido registrar, Pedro poderia ajuizar ação de adjudicação compulsória contra Carlos,
desconstituindo esse registro. Isso porque a promessa de compra e venda produz efeitos para
terceiros (no caso, Carlos) e a alienação de João para Carlos é ineficaz perante Pedro.
Nesse sentido, confira o art. 1.418 do CC:
Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de
terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda,
conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do
imóvel.
Enunciado 253 CJF: O promitente comprador, titular de direito real (art. 1.417), tem a faculdade de
reivindicar de terceiro o imóvel prometido à venda.
Irretratável ou retratável
A promessa de compra e venda, em regra, é irretratável.
As partes, contudo, com base na autonomia privada, podem inserir uma cláusula de arrependimento,
prevendo a possibilidade de desistirem de continuar o negócio jurídico. Se não previrem cláusula nesse
sentido, a promessa será irretratável.
Se o promitente vendedor, mesmo após receber o preço integral combinado, recusar-se a outorgar a
escritura pública, o que o promissário comprador poderá fazer?
Poderá ajuizar ação de adjudicação compulsória.
A adjudicação compulsória é a ação proposta pelo promissário comprador contra o promitente vendedor
que se recusa a cumprir sua obrigação de outorgar a escritura definitiva de compra e venda. O autor da
ação pede que o juiz prolate uma sentença que supra (substituta) a declaração de vontade do promitente
vendedor. Assim, a sentença já irá produzir o mesmo efeito da escritura pública que o promitente
vendedor não outorgou, podendo o autor até mesmo fazer o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
O pedido formulado na adjudicação compulsória era previsto de forma expressa no art. 466-B do CPC 1973:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 466-B. Se aquele que se comprometeu a concluir Não há dispositivo no novo CPC que reproduza
um contrato não cumprir a obrigação, a outra parte, expressamente a previsão do art. 466-B do CPC
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8
sendo isso possível e não excluído pelo título, poderá 1973. Apesar disso, a parte poderá continuar
obter uma sentença que produza o mesmo efeito do pedindo ao Judiciário a providência nele prevista
contrato a ser firmado. com base no art. 501 do CPC 2015:
Art. 466-C. Tratando-se de contrato que tenha por Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão
objeto a transferência da propriedade de coisa de declaração de vontade, a sentença que julgar
determinada, ou de outro direito, a ação não será procedente o pedido, uma vez transitada em
acolhida se a parte que a intentou não cumprir a julgado, produzirá todos os efeitos da declaração
sua prestação, nem a oferecer, nos casos e formas não emitida.
legais, salvo se ainda não exigível.
O compromisso de compra e venda pode ou não ser registrado no cartório de registro de imóveis. Se a
promessa não for registrada no cartório, ainda assim o promissário comprador poderá ajuizar ação de
adjudicação compulsória?
SIM. O registro do compromisso de compra e venda não é condição para o ajuizamento da ação de
adjudicação compulsória. Mesmo sem o registro, é possível a adjudicação compulsória. Nesse sentido:
Súmula 239-STJ: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de
compra e venda no cartório de imóveis.
Enunciado 95 da I Jornada de Direito Civil: O direito à adjudicação compulsória (art. 1.418 do novo Código
Civil), quando exercido em face do promitente vendedor, não se condiciona ao registro da promessa de
compra e venda no cartório de registro imobiliário (Súmula n. 239 do STJ).
Vantagem no caso de a promessa ter sido registrada para fins de adjudicação compulsória
Se a promessa estiver registrada no RI, o promissário comprador tem uma vantagem: ele poderá ajuizar a
ação de adjudicação compulsória com base em um rito sumário (mais rápido e simples) previsto no art. 25
da Lei nº 6.766/79 e art. 15 do DL nº 58/37. Já se o contrato não estiver registrado, a ação de adjudicação
compulsória será proposta como uma ação de conhecimento, de rito ordinário. (FARIAS, Cristiano Chaves
de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 5. Salvador : Juspodivm, 2014, p. 840).
Além disso, conforme já explicado acima, se a promessa estiver registrada, a adjudicação compulsória
poderá ser proposta inclusive contra terceiros.
Existe um prazo para que o promissário comprador proponha a ação de adjudicação compulsória?
Depois de pago integralmente o preço, se o promitente vendedor se recusar a outorgar a escritura
pública, qual o prazo que o promissário comprador possui para requerer a adjudicação compulsória?
Não há prazo. O promitente comprador, amparado em compromisso de compra e venda de imóvel cujo
preço já tenha sido integralmente pago, tem o direito de requerer judicialmente, a qualquer tempo, a
adjudicação compulsória do imóvel.
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Desse modo, não vamos falar em prazo prescricional para a ação de adjudicação compulsória (porque ela
é uma ação constitutiva). Devemos, então, procurar se a lei prevê um prazo decadencial para essa espécie
de ação. Ocorre que nem no Código Civil de 1916 nem no de 2002 existe a previsão de um prazo
decadencial para a ação de adjudicação compulsória. Vale ressaltar que, quanto aos prazos de decadência,
o legislador previu prazos específicos para cada uma das situações que quis regular. Quando não trouxe
prazo decadencial para determinada ação, significa que a parte poderá propor a ação a qualquer tempo.
Veja o que diz a doutrina:
"(...) os direitos potestativos sem prazo fixado em lei são perpétuos, podendo, desse modo, ser exercidos a
qualquer tempo, seja por meio de simples declaração de vontade, seja via ação constitutiva." (CAHALI,
Yussef Said. Prescrição e decadência. São Paulo: RT, 2008, p. 76)
Dessa forma, tratando-se de direito potestativo, sujeito a prazo decadencial, para cujo exercício a lei não
previu prazo especial, prevalece a regra geral da inesgotabilidade ou da perpetuidade, segundo a qual os
direitos não se extinguem pelo não uso. Assim, à míngua de previsão legal, o pedido de adjudicação
compulsória, quando preenchidos os requisitos da medida, poderá ser realizado a qualquer tempo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1216568/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/09/2015.
Só um alerta: se o promitente comprador não estiver na posse do imóvel, ele tem que ter cuidado para
que o possuidor não fique morando lá tempo suficiente para adquiri-lo por usucapião. Se isso acontecer, o
promitente comprador perderá seu direito real à aquisição pelo fato de o possuidor ter adquirido outro
direito real (o de propriedade).
DIREITO DO CONSUMIDOR
Importante!!!
Nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de cláusula-mandato que permita à
operadora emitir título cambial contra o usuário do cartão.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.084.640-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 23/9/2015 (Info 570).
DIREITO EMPRESARIAL
CONTRATO DE FRANQUIA
Validade de notificação por e-mail para o exercício de direito de preferência
Em um contrato de franquia, havia uma cláusula segundo a qual a franqueadora teria direito de
preferência caso a fraqueada decidisse vender o estabelecimento comercial. Para isso, quando a
franqueada recebesse alguma proposta pelo imóvel, deveria notificar a franqueadora para que
esta decidisse se desejaria pagar o mesmo valor e, assim, ficar com o bem.
A franqueada recebeu uma proposta para vender o estabelecimento comercial e notificou a
franqueadora, por e-mail, para que esta exercesse seu direito de preferência.
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O STJ entendeu que essa notificação por e-mail é válida.
No caso concreto, o Tribunal entendeu que a notificação realizada foi idônea porque: o
contrato não previa forma específica para a notificação; o correio eletrônico era o meio usual
de comunicação entre franqueadora e franqueado; houve ciência inequívoca da franqueadora
quanto à data do envio e do recebimento da mensagem; havia segurança da franqueadora
quanto à legitimidade do remetente já que ela sempre recebia e-mails do franqueado; e
quanto ao conteúdo, foram respeitados os requisitos estabelecidos na cláusula contratual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.545.965-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/9/2015 (Info 570).
Ação de indenização
Quando soube da venda, a franqueadora ajuizou contra a ex-franqueada ação de indenização sob o
argumento de que houve violação do direito de preferência. Segundo argumentou a autora, a notificação
de que trata a cláusula 12.1 não poderia ter sido feita por e-mail, sendo, portanto, inválida.
A tese da franqueadora foi aceita pelo STJ? No caso concreto, a notificação realizada por e-mail foi inválida?
NÃO. A notificação por e-mail enviada ao franqueador para o exercício do direito de preferência foi válida.
A validade da notificação por e-mail exige o atendimento de certos requisitos.
No caso concreto, o STJ entendeu que a notificação realizada foi idônea porque:
o contrato não previa forma específica para a notificação;
o correio eletrônico era o meio usual de comunicação entre franqueadora e franqueado;
houve ciência inequívoca da franqueadora quanto à data do envio e do recebimento da mensagem;
havia segurança da franqueadora quanto à legitimidade do remetente já que ela sempre recebia e-
mails do franqueado; e
quanto ao conteúdo, foram respeitados os requisitos estabelecidos na cláusula contratual.
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CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
Abusividade da cláusula-mandato
Importante!!!
Nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de cláusula-mandato que permita à
operadora emitir título cambial contra o usuário do cartão.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.084.640-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 23/9/2015 (Info 570).
Em outros contratos, contudo, a cláusula-mandato prevê apenas o poder de emitir título cambial (acepção
"c"). Esse, inclusive, é o caso mais comum. Explico o porquê. Atualmente, a grande maioria das operadoras
de cartão de crédito é também instituição financeira (banco). Logo, elas entendem que não é necessário
prever essa autorização para tomar empréstimos de outras instituições, considerando que, em situação de
débito, a própria operadora do cartão é quem irá emprestar o dinheiro para o usuário do cartão (com
juros).
Assim, na esmagadora maioria dos contratos, nos dias de hoje, a cláusula-mandato só prevê a
possibilidade de emissão de título cambial em nome do contratante.
A previsão dos dois poderes acima listados (acepções "b" e "c") ainda ocorre no caso de cartões de crédito
do tipo private label, que são aqueles cartões de crédito de uma loja específica e que possibilita a pessoa
comprar apenas naquele estabelecimento (normalmente uma grande loja de departamentos ou rede de
supermercados). Em geral, a operadora de cartão de crédito private label não é uma instituição financeira
(não é um banco). Por isso, no contrato que celebra com seus clientes, ela prevê a cláusula-mandato com
os dois poderes acima porque se a pessoa atrasar o pagamento, ela irá tomar um empréstimo com algum
banco, em nome do contratante, para pagar o débito.
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Exemplo:
João fez um cartão de crédito em seu nome. Isso significa que ele assinou um contrato de cartão de
crédito com a administradora/operadora do cartão. Neste contrato havia uma cláusula-mandato com as
duas autorizações acima explicadas ("b" e "c").
No dia do vencimento, João não conseguiu pagar a fatura do cartão de crédito no valor de R$ 5 mil. Logo, a
administradora do cartão contraiu junto ao banco que ela escolheu um empréstimo em nome de João (ele
é o devedor) neste valor e, além disso, emitiu um título cambial (ex: nota promissória) na qual João figura
como devedor dessa quantia.
Assim, se João não conseguir pagar a dívida, poderá ser executado, cobrando-se o valor.
(In)validade da cláusula-mandato
A validade da cláusula-mandato há muitos anos é questionada. Os seus críticos afirmam que ela é abusiva,
devendo ser considerada ilícita, nos termos do art. 51, VIII, do CDC e Súmula 60 do STJ:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;
Súmula 60-STJ: É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante,
no exclusivo interesse deste.
O que o STJ entende? A cláusula-mandato, nos contratos de cartão de crédito, é válida ou não?
Depende:
2) Cláusula-mandato que autoriza a administradora a emitir título cambial contra o contratante: é abusiva.
Nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de cláusula-mandato que permita à operadora
emitir título cambial contra o usuário do cartão.
Essa previsão não traz qualquer benefício ao contratante. Ao contrário, faz com que fique em uma
situação de extrema vulnerabilidade, já que autoriza que seja constituído unilateralmente um título
executivo contra ele, o que reduz, inegavelmente, a sua capacidade de defesa.
A operadora de cartão de crédito, em vez de ter que ingressar com uma ação de cobrança (ação de
conhecimento) contra o contratante, já poderá ajuizar, desde logo, uma execução, facilitando a sua
posição, mas dificultando bastante a do consumidor.
No mandato, o representante deve atuar em nome do representado, respeitando e agindo dentro dos
interesses do mandante. Neste caso, isso não ocorre, havendo nítido conflito de interesses.
Desse modo, a cláusula-mandato que possibilita ao mandatário a emissão de cambial contra o mandante,
mesmo quando inserida nos contratos de cartão de crédito, é inegavelmente abusiva, pois, além de
contrariar a própria natureza do mandato ao posicionar de forma antagônica os interesses do mandante e
do mandatário, insere o consumidor/mandante em notória e exagerada desvantagem, o que atenta contra
a boa-fé e a equidade, razão pela qual incide, neste caso, a súmula 60 do STJ e o art. 51, VIII, do CDC.
PRECATÓRIO
O limite previsto no § 2º do art. 100 da CF/88 é aplicável
para cada precatório individualmente considerado
Importante!!!
O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como beneficiários
pessoas com 60 anos de idade ou mais ou portadoras de doenças graves terão uma preferência
ainda maior. É como se fosse uma “fila com superpreferência”.
A superprioridade para créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves (§ 2º)
só vai até 3 vezes o valor da RPV (§ 4º do art. 100). Assim, se o valor a ser recebido pelo idoso
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14
ou doente grave for superior a 3 vezes o que é considerado "pequeno valor" para fins de
precatório (§ 4º), parte dele será paga com superpreferência e o restante será quitado na
ordem cronológica de apresentação do precatório.
Imagine que um idoso possua mais de um precatório para receber. Esse valor máximo para
receber na fila superpreferencial do § 2º é um valor para cada precatório ou para a totalidade
deles? Ex: Pedro tem dois precatórios para receber da União: um no valor de 120 salários-
mínimos e outro no valor de 100 salários-mínimos. Em se tratando da União, o limite de que
trata o § 2º é 180 salários-mínimos (3x60). Pedro poderá receber os dois precatórios na fila
especial do § 2º?
SIM. A limitação de valor para o direito de preferência previsto no art. 100, § 2º, da CF aplica-
se para cada precatório de natureza alimentar, e não para a totalidade dos precatórios
alimentares de titularidade de um mesmo credor preferencial, ainda que apresentados no
mesmo exercício financeiro e perante o mesmo devedor.
A CF/88 não proibiu que a pessoa maior de 60 anos ou doente grave participasse da listagem
de credor superpreferencial do § 2º por mais de uma vez. Ela só proibiu que o precatório
recebido fosse maior do que 3x o valor da RPV. Logo, não cabe ao intérprete criar novas
restrições não previstas no texto constitucional.
Assim, em nosso exemplo, Pedro poderá receber os dois precatórios na fila do § 2º do art. 100.
Isso porque, se considerados individualmente, nenhum dos dois precatórios é superior a 180
salários-mínimos.
STJ. 1ª Turma. RMS 46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 22/9/2015 (Info 570).
Regime de precatórios
Se a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por sentença judicial
transitada em julgado, a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime
especial chamado de “precatório” (art. 100 da CF/88).
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15
Recapitulando:
Os débitos da Fazenda Pública devem ser pagos por meio do sistema de precatórios.
• Quem é pago em 1º lugar: créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves (§ 2º).
• Quem é pago em 2º lugar: demais créditos alimentares, ou seja, de pessoas que não sejam idosas ou
portadoras de doenças graves (§ 1º).
• Quem é pago em 3º lugar: créditos não alimentares (caput).
Só tem direito à fila com superpreferência os precatórios até certo limite de valor
A superprioridade para créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves possui um limite de
valor previsto no § 2º do art. 100. Veja:
Art. 100 (...) § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou
mais na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei,
serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em
lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que
o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela EC 62/09).
O § 3º do art. 100 trata sobre o "pequeno valor" (valor da RPV: requisição de pequeno valor). Assim, só
pode receber na fila de superprioridade do § 2º o precatório que não seja superior a 3x o valor da RPV.
Quanto é “pequeno valor” para os fins do § 3º do art. 100? Qual é o valor da RPV?
Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado (União, Estado, DF, Município) por meio de
leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100.
União
Para as condenações envolvendo a União, pequeno valor equivale a 60 salários mínimos (art. 17, § 1º, da
Lei nº 10.259/2001). Esse é o teto da RPV no âmbito federal.
Assim, se o valor a ser recebido pelo idoso ou doente grave for superior a 3x o que é considerado
"pequeno valor" para fins de precatório (§ 4º), parte dele será paga com superpreferência e o restante
será quitado na ordem cronológica de apresentação do precatório.
Exemplo: João possui 70 anos e tem um precatório para receber da União. Pelo fato de ser maior de 60
anos, João tem direito de receber o precatório antes dos demais. Ele tem direito a uma fila
superpreferencial prevista no § 2º do art. 100 da CF/88. Ocorre que o precatório de João é alto (seu valor é
equivalente a 200 salários-mínimos). Nestes casos, o § 2º prevê que a pessoa deverá receber parte na "fila
superpreferencial" (até 3x o pequeno valor do § 3º) e o restante na "fila comum".
Assim, em nosso exemplo, João irá receber 180 salários-mínimos na fila superpreferencial (3 x 60) e os 20
salários-mínimos restantes serão recebidos por meio da fila comum.
Imagine que um idoso possua mais de um precatório para receber. Esse valor máximo para receber na
fila superpreferencial do § 2º é um valor para cada precatório ou para a totalidade deles? Ex: Pedro tem
dois precatórios para receber da União: um no valor de 120 salários-mínimos e outro no valor de 100
salários-mínimos. Em se tratando da União, o limite de que trata o § 2º é 180 salários-mínimos (3x60).
Pedro poderá receber os dois precatórios na fila especial do § 2º?
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16
SIM. A limitação de valor para o direito de preferência previsto no art. 100, § 2º, da CF aplica-se para cada
precatório de natureza alimentar, e não para a totalidade dos precatórios alimentares de titularidade de
um mesmo credor preferencial, ainda que apresentados no mesmo exercício financeiro e perante o
mesmo devedor.
A CF/88 não proibiu que a pessoa maior de 60 anos ou doente grave participasse da listagem de credor
superpreferencial do § 2º por mais de uma vez. Ela só proibiu que o precatório recebido fosse maior do
que 3x o valor da RPV. Logo, não cabe ao intérprete criar novas restrições não previstas no texto
constitucional.
Assim, em nosso exemplo, Pedro poderá receber os dois precatórios na fila do § 2º do art. 100. Isso
porque, se considerados individualmente, nenhum dos dois precatórios é superior a 180 salários-mínimos.
STJ. 1ª Turma. RMS 46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 22/9/2015 (Info 570).
Em que momento é analisada esta idade de 60 anos para que a pessoa passe a ter a superpreferência?
Segundo a redação literal do § 2º do art. 100, para que o indivíduo tenha direito à superpreferência, ele
deveria ser idoso (60 anos ou mais) no dia da expedição do precatório pelo juízo. Veja a redação do § 2º:
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data
de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos
com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os
fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante
será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.
Ocorre que, entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, passam-
se alguns anos. Desse modo, é comum que a pessoa não seja idosa no instante em que o precatório é
expedido, mas como o processo de pagamento é tão demorado, ela acabe completando mais de 60 anos
de idade durante a espera.
Diante disso, esta expressão “na data de expedição do precatório” constante no § 2º do art. 100 da CF/88
foi declarada INCONSTITUCIONAL pelo STF.
O STF entendeu que esta limitação até a data da expedição do precatório viola o princípio da igualdade e
que esta superpreferência deveria ser estendida a todos os credores que completassem 60 anos de idade
enquanto estivessem aguardando o pagamento do precatório de natureza alimentícia.
STF. Plenário. ADI 4357/DF, ADI 4425/DF, ADI 4372/DF, ADI 4400/DF, ADI 4357/DF, rel. orig. Min. Ayres
Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 13 e 14/3/2013 (Info 698).
PROCESSO COLETIVO
Alteração de polo ativo de ação civil pública promovida por associação
Importante!!!
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, não é possível sua
substituição no polo ativo por outra associação, ainda que os interesses discutidos na ação
coletiva sejam comuns a ambas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.405.697-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/9/2015 (Info 570).
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17
Foi então que a Associação Nacional dos Consumidores de Crédito - ANCC, outra associação civil voltada à
defesa dos consumidores, apresentou uma petição ao juiz da causa informando que o INDC foi extinto, razão
pela qual ela (ANCC) requereu sua integração no feito na qualidade de demandante, em substituição ao INDC.
O pedido da ANCC foi fundamentado no art. 5º, § 3º da Lei nº 7.347/85:
Art. 5º (...) § 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o
Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.
A segunda associação (ANCC) poderá ingressar com nova ação formulando os mesmos pedidos feitos na
primeira ação civil pública?
SIM. Não há nenhum óbice quanto a isso. No entanto, a associação terá que, antes disso, obter
autorização específica de seus associados para ingressar com a ação.
DIREITO PENAL
CRIMES AMBIENTAIS
Configuração do crime do art. 48 da Lei 9.605/98
A tipificação da conduta descrita no art. 48 da Lei 9.605/98 prescinde de a área ser de preservação
permanente. Isso porque o referido tipo penal descreve como conduta criminosa o simples fato de
"impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação".
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.498.059-RS, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador
Convocado do TJ/PE), julgado em 17/9/2015 (Info 570).
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18
A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98) prevê o seguinte delito:
Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Para que se configure esse delito, é necessário que a conduta do agente tenha se dado em área de
preservação permanente?
NÃO. A tipificação da conduta descrita no art. 48 da Lei nº 9.605/98 prescinde de a área ser de
preservação permanente. Isso porque o referido tipo penal descreve como conduta criminosa o simples
fato de "impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação".
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Tipicidade da conduta de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido com registro vencido
João praticou crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003)? O fato de o agente
possuir arma de fogo com registro vencido pode configurar crime?
NÃO. Posição da 5ª Turma do STJ SIM. Entendimento da 6ª Turma do STJ
A 5ª Turma decidiu que nestes casos trata-se de Para a 6ª Turma a conduta do agente de possuir,
mera infração administrativa. Isso porque se o réu no interior de sua residência, armas de fogo e
possui o registro da arma de fogo de uso munições de uso permitido com os respectivos
permitido significa que o Poder Público tem registros vencidos pode configurar o crime
completo conhecimento de que ele possui o previsto no art. 12 do Lei nº 10.826/2003.
artefato em questão, podendo rastreá-lo se
necessário. Logo, inexiste ofensividade na A conduta em tela, além de formalmente típica, é
conduta. antinormativa. Quando o proprietário de arma de
A mera inobservância da exigência de fogo deixa de demonstrar que ainda detém, entre
recadastramento periódico não pode conduzir à outros requisitos, aptidão psicológica e idoneidade
incriminação penal. moral para continuar a possuir o armamento, isso
Cabe ao Estado apreender a arma e aplicar a representa, em tese, um risco para a incolumidade
punição administrativa pertinente, não estando pública, de modo que a lei penal não pode ser
em consonância com o Direito Penal moderno indiferente a essa situação.
deflagrar uma ação penal para a imposição de Assim, sem investigar as peculiaridades de cada
pena tão somente porque o indivíduo - caso, é temerário afirmar, de forma automática e
devidamente autorizado a possuir a arma pelo categórica, que não é crime possuir arma de fogo
Poder Público, diga-se de passagem - deixou de ir com registro expirado.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19
de tempos em tempos efetuar o recadastramento Possuir arma de fogo, de uso permitido, com
do artefato. Portanto, até mesmo por questões de certificado vencido não é uma conduta
política criminal, não há como submeter o socialmente tolerável e adequada no plano ético.
paciente às agruras de uma condenação penal por Já sob a ótica do princípio da lesividade, tem-se,
uma conduta que não apresentou nenhuma aqui, que o perigo à incolumidade pública é
lesividade relevante aos bens jurídicos tutelados idêntico àquele ocasionado pelo agente que
pela Lei nº 10.826/2003, não incrementou o risco possui arma de fogo ou somente munições sem
e pode ser resolvida na via administrativa. certificado.
STJ. 5ª Turma. HC 294.078/SP, Rel. Min. Marco STJ. 6ª Turma. RHC 60.611-DF, Rel. Min. Rogério
Aurélio Bellizze, julgado em 26/08/2014. Schietti Cruz, julgado em 15/9/2015 (Info 570).
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Atipicidade da conduta de porte ilegal de arma de fogo ineficaz
Importante!!!
Para que haja condenação pelo crime de posse ou porte NÃO é necessário que a arma de fogo
tenha sido apreendida e periciada. Assim, é irrelevante a realização de exame pericial para a
comprovação da potencialidade lesiva do artefato. Isso porque os crimes previstos no arts. 12,
14 e 16 da Lei 10.826/2003 são de mera conduta ou de perigo abstrato, cujo objeto jurídico
imediato é a segurança coletiva.
No entanto, se a perícia for realizada na arma e o laudo constatar que a arma não tem nenhuma
condição de efetuar disparos não haverá crime. Para o STJ, não está caracterizado o crime de
porte ilegal de arma de fogo quando o instrumento apreendido sequer pode ser enquadrado no
conceito técnico de arma de fogo, por estar quebrado e, de acordo com laudo pericial, totalmente
inapto para realizar disparos. Assim, demonstrada por laudo pericial a total ineficácia da arma
de fogo e das munições apreendidas, deve ser reconhecida a atipicidade da conduta do agente
que detinha a posse do referido artefato e das aludidas munições de uso proibido, sem
autorização e em desacordo com a determinação legal/regulamentar.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.451.397-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/9/2015
(Info 570).
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20
O objetivo do legislador foi o de antecipar a punição de fatos que apresentam potencial lesivo à
população, prevenindo a prática de crimes.
STF. 2ª Turma. HC 119154, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/11/2013.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1442152/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2014.
Para que haja condenação pelo crime de posse ou porte, é necessário que a arma de fogo tenha sido
apreendida e periciada?
NÃO. É irrelevante (desnecessária) a realização de exame pericial para a comprovação da potencialidade
lesiva do artefato, pois basta o simples porte de arma de fogo, ainda que desmuniciada, em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, para a incidência do tipo penal. Isso porque os crimes previstos
no arts. 12, 14 e 16 da Lei 10.826/03 são de mera conduta ou perigo abstrato, cujo objeto jurídico
imediato é a segurança coletiva (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1294551/GO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 07/08/2014).
Assim, a pessoa pode ser condenada por posse ou porte de arma de fogo mesmo que não tenha havido
apreensão e perícia.
(...) Na hipótese, contudo, em que demonstrada por laudo pericial a total ineficácia da arma de fogo
(inapta a disparar) e das munições apreendidas (deflagradas e percutidas), deve ser reconhecida a
atipicidade da conduta perpetrada, diante da ausência de afetação do bem jurídico incolumidade pública,
tratando-se de crime impossível pela ineficácia absoluta do meio. (...)
STJ. 6ª Turma. REsp 1451397/MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/09/2015.
Vale ressaltar, no entanto, que, se a arma quebrada estiver com munição eficaz, o agente poderá ser
condenado porque o simples porte de munição (eficaz) já configura o delito.
Assim, para que não seja crime, o agente tem que ter sido apreendido com arma quebrada e
desmuniciada ou, então, com arma quebrada e com munições ineficazes (deflagradas e percutidas).
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21
DIREITO PROCESSUAL PENAL
MEDIDAS CAUTELARES
Ilegitimidade do corréu para ajuizar medida cautelar de sequestro de bens dos demais corréus
João, Pedro e Tiago foram denunciados pela prática de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº
8.137/90). O Ministério Público requereu ao juiz e foi autorizado o sequestro dos bens
somente do réu João, com base no Decreto-Lei 3.240⁄41:
Art. 1º Ficam sujeitos a sequestro os bens de pessoa indiciada por crime de que resulta
prejuizo para a fazenda pública, ou por crime definido no Livro II, Títulos V, VI e VII da
Consolidação das Leis Penais desde que dele resulte locupletamento ilícito para o indiciado.
João, inconformado pelo fato de que apenas os seus bens foram atingidos pela decisão,
impetrou mandado de segurança pedindo que os bens dos outros réus (Pedro e Tiago)
também fossem sequestrados. Alegou que a medida constritiva deveria ter recaído sobre os
bens de todos os acusados, sob pena de ofensa aos princípios da isonomia e da
proporcionalidade. O mandado de segurança terá êxito?
NÃO. O corréu - partícipe ou coautor - que teve seus bens sequestrados no âmbito de denúncia
por crime de que resulta prejuízo para a Fazenda Pública (DL 3.240/41) não tem legitimidade
para postular a extensão da constrição aos demais corréus, mesmo que o Ministério Público
tenha pedido a medida cautelar de sequestro de bens somente em relação àquele.
STJ. 6ª Turma. RMS 48.619-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/9/2015 (Info 570).
João, inconformado pelo fato de que apenas os seus bens foram atingidos pela decisão, impetrou
mandado de segurança pedindo que os bens dos outros réus (Pedro e Tiago) também fossem
sequestrados. Alegou que a medida constritiva deveria ter recaído sobre os bens de todos os acusados,
sob pena de ofensa aos princípios da isonomia e da proporcionalidade.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22
TRIBUNAL DO JÚRI
Recusas imotivadas e pluralidade de réus
Importante!!!
Alguns livros defendem o contrário!
O direito de a defesa recusar imotivadamente até 3 jurados é garantido em relação a cada um
dos réus, ainda que as recusas tenham sido realizadas por um só defensor (art. 469 do CPP).
De acordo com o art. 468, caput, do CPP, o direito a até 3 recusas imotivadas é da parte. Como
cada réu é parte no processo, se houver mais de um réu, cada um deles terá direito à referida
recusa.
Dessa forma, o direito às três recusas imotivadas é garantido ao acusado, e não à defesa, ou
seja, cada um dos réus terá direito às suas três recusas imotivadas ainda que possuam o
mesmo advogado, sob pena de violação da plenitude de defesa.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.540.151-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 8/9/2015 (Info 570).
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23
Recusa imotivada (ou peremptória)
A medida que os jurados forem sendo sorteados, o juiz irá ler o nome de cada um. A defesa e, depois dela,
o Ministério Público poderão recusar os jurados sorteados, até 3 cada parte, sem motivar a recusa.
Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o juiz presidente as lerá, e a defesa e,
depois dela, o Ministério Público poderão recusar os jurados sorteados, até 3 (três) cada parte, sem
motivar a recusa.
Ex: é retirado da urna o nome de João da Silva para ser jurado; o juiz deverá ler o nome e perguntar
primeiro ao advogado/Defensor Público: "como se manifesta a defesa do réu Fulano de Tal?" A defesa,
então, irá responder algo como: "sem objeção" (caso concorde com o nome sorteado) ou, então,
"agradeço, mas rejeito" (caso deseje recusar o nome).
Se houver dois réus, sendo ambos defendidos pelo mesmo advogado/Defensor Público, quantas recusas
a defesa terá? Cada réu terá direito a três recusas ou, pelo fato de estarem com o mesmo
advogado/Defensor, serão três recusas para os dois?
O direito de a defesa recusar imotivadamente até 3 jurados é garantido em relação a cada um dos réus,
ainda que as recusas tenham sido realizadas por um só defensor (art. 469 do CPP).
De acordo com o art. 468, caput, do CPP, o direito a até 3 recusas imotivadas é da parte. Como cada réu é
parte no processo, se houver mais de um réu, cada um deles terá direito à referida recusa.
Dessa forma, o direito às três recusas imotivadas é garantido ao acusado, e não à defesa, ou seja, cada um
dos réus terá direito às suas três recusas imotivadas ainda que possuam o mesmo advogado, sob pena de
violação da plenitude de defesa.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.540.151-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 8/9/2015 (Info 570).
LEI DE DROGAS
Hipótese de inocorrência de ação controlada
Ação controlada é uma técnica especial de investigação por meio da qual a autoridade policial
ou administrativa (ex: Receita Federal, corregedorias), mesmo percebendo que existem
indícios da prática de um ato ilícito em curso, retarda (atrasa, adia, posterga) a intervenção
neste crime para um momento posterior, com o objetivo de conseguir coletar mais provas,
descobrir coautores e partícipes da empreitada criminosa, recuperar o produto ou proveito da
infração ou resgatar, com segurança, eventuais vítimas.
Imagine que a Polícia recebeu informações de que determinado indivíduo estaria praticando
tráfico de drogas. A partir daí, passou a vigiá-lo, seguindo seu carro, tirando fotografias e
verificando onde ele morava. Em uma dessas oportunidades, houve certeza de que ele estava
praticando crime e foi realizada a sua prisão em flagrante. A defesa do réu alegou que a Polícia
realizou "ação controlada" e que, pelo fato de não ter havido autorização judicial prévia, ela
teria sido ilegal, o que contaminaria toda prova colhida. A tese da defesa foi aceita pelo STJ?
NÃO. A investigação policial que tem como única finalidade obter informações mais concretas
acerca de conduta e de paradeiro de determinado traficante, sem pretensão de identificar
outros suspeitos, não configura a ação controlada do art. 53, II, da Lei nº 11.343/2006, sendo
dispensável a autorização judicial para a sua realização.
STJ. 6ª Turma. RHC 60.251-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 17/9/2015 (Info 570).
AÇÃO CONTROLADA
Atuação retardada da autoridade responsável
Se a autoridade (seja ela policial ou administrativa) constatar que existe uma infração penal em curso, ela
deverá tomar as providências necessárias para que esta prática cesse imediatamente, devendo até mesmo
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24
realizar a prisão da pessoa que se encontre em flagrante delito.
A experiência demonstrou, contudo, que, em algumas oportunidades, é mais interessante, sob o ponto de
vista da investigação, que a autoridade aguarde um pouco antes de intervir imediatamente e prender o
agente que está praticando o ilícito. Isso ocorre porque em determinados casos se a autoridade esperar
um pouco mais, retardando o flagrante, poderá descobrir outras pessoas envolvidas na prática da infração
penal, reunir provas mais robustas, conseguir recuperar o produto ou proveito do crime, enfim obter
maiores vantagens para a persecução penal.
Exemplo
O exemplo típico desta técnica de investigação é o caso do tráfico de drogas. Imagine que a polícia
descubra que determinado passageiro irá embarcar uma grande quantidade de droga em uma barco que
seguirá de um Estado para outro. A polícia poderia prender o traficante no instante em que este estivesse
embarcando o entorpecente, ou ainda, no momento do transporte. Entretanto, revela-se mais
conveniente à investigação que a autoridade policial aguarde até que o agente chegue ao seu destino
onde poderá descobrir e prender também o destinatário da droga. Este modo de proceder é chamado de
“ação controlada”.
Conceito
Ação controlada é...
- uma técnica especial de investigação
- por meio da qual a autoridade policial ou administrativa (ex: Receita Federal, corregedorias),
- mesmo percebendo que existem indícios da prática de um ato ilícito em curso,
- retarda (atrasa, adia, posterga) a intervenção neste crime para um momento posterior,
- com o objetivo de conseguir coletar mais provas,
- descobrir coautores e partícipes da empreitada criminosa,
- recuperar o produto ou proveito da infração ou
- resgatar, com segurança, eventuais vítimas.
Nomenclatura
A ação controlada é também denominada de “flagrante prorrogado, retardado ou diferido”.
Previsão legislativa
A ação controlada é prevista nos seguintes dispositivos legais:
Convenção de Palermo (Decreto 5.015/2004):
Artigo 20
Técnicas especiais de investigação
1. Se os princípios fundamentais do seu ordenamento jurídico nacional o permitirem, cada Estado Parte,
tendo em conta as suas possibilidades e em conformidade com as condições prescritas no seu direito
interno, adotará as medidas necessárias para permitir o recurso apropriado a entregas vigiadas e, quando
o considere adequado, o recurso a outras técnicas especiais de investigação, como a vigilância eletrônica
ou outras formas de vigilância e as operações de infiltração, por parte das autoridades competentes no
seu território, a fim de combater eficazmente a criminalidade organizada.
(...)
4. As entregas vigiadas a que se tenha decidido recorrer a nível internacional poderão incluir, com o
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25
consentimento dos Estados Partes envolvidos, métodos como a intercepção de mercadorias e a
autorização de prosseguir o seu encaminhamento, sem alteração ou após subtração ou substituição da
totalidade ou de parte dessas mercadorias.
A previsão acima é muito importante considerando que, na antiga Lei do Crime Organizado (Lei n.
9.034/95), não se impunha uma fiscalização prévia da ação controlada por parte do Poder Judiciário, o que
gerava um perigo grande de que houvesse abusos ou, pior, que existissem atos de corrupção ou leniência
praticados pelas autoridades policiais e que fossem acobertados sob o argumento de que se estava diante
de uma “ação controlada”. Em outras palavras, poderia acontecer de a autoridade identificar a prática de
um crime em curso e não reprimi-lo por conta de corrupção. Caso fosse descoberta e questionada sobre
este fato, a autoridade alegava que estava praticando uma “ação controlada” e que iria atuar no momento
certo. Isso agora não mais será possível tendo em vista que a Lei exige a comunicação prévia da ação
controlada ao juiz.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26
A Lei nº 12.850/2013 fez bem ao dispensar a prévia autorização, exigindo tão-somente a comunicação.
Isso porque algumas vezes os fatos se desenrolam de forma muito rápida e não daria tempo para se
aguardar uma decisão judicial. Logo, a comunicação prévia supre a preocupação externada no parágrafo
anterior (evitar que a autoridade policial "simule" uma ação controlada) e, ao mesmo tempo, não
prejudica a dinâmica das investigações. Assim, protocolizada a comunicação, a ação controlada poderá ser
levada a efeito pela autoridade até que venha, se vier, uma limitação imposta pelo juiz.
Em muitas situações, não haveria sequer tempo hábil para que se aguardasse uma autorização judicial para a
ação controlada eis que os fatos da vida acontecem de forma célere e a execução do delito, não raras vezes,
é mais célere que o tempo necessário para o magistrado autorizar o diferimento da atuação policial.
Vale ressaltar que, se o crime de tráfico de drogas ou de lavagem de capitais estiverem sendo praticados
por organização criminosa que se enquadre no conceito da Lei nº 12.850/2013, será possível que a
autoridade policial invoque o art. 8º, § 1º deste diploma e faça a ação controlada valendo-se da mera
comunicação prévia considerando que neste caso estará sendo investigada uma organização criminosa.
Apesar de o § 1º falar apenas em limites, penso que o juiz poderá também simplesmente indeferir a ação
controlada, determinando a imediata intervenção policial sempre que não estiverem previstos os
requisitos legais ou quando a postergação não for recomendada. Ex1: se não envolver organização
criminosa considerando que não estaria previsto o requisito legal. Ex2: se a polícia descobriu o cativeiro de
uma vítima e há interceptação telefônica afirmando que irão matá-la a qualquer momento.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27
CASO CONCRETO ENVOLVENDO INVESTIGAÇÃO DE TRÁFICO DE DROGAS
Imagine a seguinte situação adaptada:
A Polícia Militar recebeu informações de que o indivíduo conhecido como "POTÓ" seria o responsável por
abastecer pontos de venda de drogas de determinada localidade. A partir daí, passou a vigiá-lo, seguindo
seu carro, tirando fotografias e verificando onde ele morava.
Em uma dessas oportunidades, houve certeza de que ele estava praticando crime e foi realizada a sua
prisão em flagrante.
A defesa do réu alegou que a Polícia realizou "ação controlada" e que, pelo fato de não ter havido
autorização judicial prévia, ela teria sido ilegal, o que contaminaria toda prova colhida.
A tese da defesa foi aceita pelo STJ? Houve ação controlada no presente caso?
NÃO. A investigação policial que tem como única finalidade obter informações mais concretas acerca de
conduta e de paradeiro de determinado traficante, sem pretensão de identificar outros suspeitos, não
configura a ação controlada do art. 53, II, da Lei nº 11.343/2006, sendo dispensável a autorização judicial
para a sua realização.
Não houve ação controlada no presente caso considerando que os policiais não pretendiam com a
investigação prolongada revelar a identidade de outros possíveis traficantes que atuassem em conjunto
com o réu, mas sim, tão somente, encontrar informações mais precisas a respeito das supostas condutas
ilícitas por ele praticadas para obterem maior êxito durante sua abordagem.
Além disso, os elementos retratados nos autos apontam no sentido de que, na primeira oportunidade em
que se materializou um crime por parte do réu a Polícia Militar efetuou sua prisão em flagrante,
encaminhando-o à delegacia de polícia, não estando configurada, assim, qualquer ação controlada.
Uma vez inexistente ação controlada, desnecessária se mostrava a autorização judicial para o caso.
DIREITO TRIBUTÁRIO
REFIS
Prescrição da cobrança de créditos tributários devidos por contribuinte excluído do REFIS
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 28
Imagine a seguinte situação hipotética:
Determinada empresa devia R$ 500 mil de tributos federais.
A União editou a Lei nº 9.964/2000 prevendo a possibilidade de que o devedor de tributos federais pudesse
parcelar seus débitos. Esse parcelamento foi chamado de REFIS (“Programa de Recuperação Fiscal”).
A empresa aderiu ao parcelamento. Para isso, teve que assinar um termo de confissão de dívida,
reconhecendo o débito e comprometendo-se a pagá-lo em 120 prestações mensais (10 anos).
A empresa iniciou o pagamento das parcelas mensais.
Durante o período em que a empresa está no REFIS, a União poderá ingressar com uma execução fiscal
cobrando a dívida?
NÃO. Se o débito está parcelado e o devedor está pagando regularmente as prestações, a Fazenda Pública
não pode executar o devedor cobrando a dívida toda. Isso porque o parcelamento é causa de suspensão
da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, VI, do CTN).
Durante o período em que a empresa está no REFIS, o prazo prescricional de 5 anos que a União possui
para ingressar com execução fiscal cobrando o débito está correndo?
NÃO. Como vimos na resposta acima, durante o parcelamento, a exigibilidade está suspensa. Logo, a
Fazenda Pública não pode cobrar a dívida. Se ela não pode cobrar a dívida, não se pode dizer que o prazo
prescricional esteja correndo.
Quando o devedor adere ao parcelamento, ele assina uma confissão de dívida, de forma que reconhece o
débito. Isso faz com que o prazo prescricional se interrompa (art. 174, parágrafo único, IV, do CTN) e fique
suspenso enquanto perdurar o parcelamento.
Quando a empresa foi excluída do REFIS, o crédito tributário voltou a ser exigível? A União poderá
ajuizar execução fiscal cobrando a dívida?
SIM. Veja o que diz o art. 5º, § 1º da Lei nº 9.964/2000:
§ 1º A exclusão da pessoa jurídica do Refis implicará exigibilidade imediata da totalidade do crédito
confessado e ainda não pago (...)
Com a exclusão da empresa do REFIS, o prazo prescricional de 5 anos que a União possui para ingressar
com execução fiscal cobrando o débito começa a correr?
SIM. Com a exclusão da empresa do REFIS, a exigibilidade do crédito recomeçou. Logo, o prazo
prescricional também se reiniciou. Isso significa que a União terá 5 anos para ajuizar execução fiscal
cobrando a dívida da empresa. Se não fizer essa cobrança no prazo, haverá prescrição.
O fato de a empresa, mesmo depois de excluída do REFIS, estar pagando as prestações mensais possui
alguma importância para fins de prescrição? Pode-se dizer que toda vez que ela paga a prestação
mensal o prazo prescricional se interrompe?
NÃO. Não interrompe o prazo prescricional o fato de o contribuinte, após ser formalmente excluído do
REFIS, continuar efetuando, por mera liberalidade, o pagamento mensal das parcelas do débito tributário.
O fato de o devedor ter continuado a realizar de forma voluntária e extemporânea o pagamento mensal
das parcelas não tem o condão de configurar ato de reconhecimento do débito (confissão de dívida) - já
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 29
que o crédito, na data da exclusão formal, já era exigível -, de modo que não há como falar na extensão da
interrupção do prazo prescricional.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.493.115-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/9/2015 (Info 570).
Isso significa que, se a União não ajuizar execução fiscal no prazo de 5 anos contados da exclusão da
empresa do REFIS, haverá a prescrição.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA HÍBRIDA
Noções gerais
A aposentadoria híbrida (art. 48, §§ 3º e 4º, da Lei nº 8.213/91) tem por objetivo alcançar os
trabalhadores que, ao longo de sua vida, mesclaram períodos de labor urbano e rural, sem,
contudo, perfazer tempo suficiente para se aposentar em nenhuma dessas atividades, quando
isoladamente consideradas, permitindo-se, por conseguinte, a soma de ambos os tempos.
Para ter direito à aposentadoria híbrida, a última atividade exercida pela pessoa deve ser a
agrícola? Exige-se que a pessoa tenha saído da atividade urbana para a agrícola?
NÃO. O reconhecimento do direito à aposentadoria híbrida por idade não está condicionado ao
exercício de atividade rurícola no período imediatamente anterior ao requerimento
administrativo. Em outras palavras, a aposentadoria híbrida pode ser concedida ainda que a
última atividade do segurado tenha sido a urbana, ou seja, ainda que ele tenha começado na
atividade rural e depois migrado para a urbana.
Para ter direito à aposentadoria híbrida, a pessoa tem que ter trabalhado mais tempo na
agricultora do que em atividades urbanas? A agricultura tem que ser a atividade
preponderante? Existe essa exigência?
NÃO. Seja qual for a predominância do labor misto no período de carência ou o tipo de
trabalho exercido no momento do implemento do requisito etário ou do requerimento
administrativo, o trabalhador tem direito à aposentadoria híbrida, desde que cumprida a
carência com a utilização de labor urbano ou rural.
Para ter direito à aposentadoria híbrida, a pessoa pode aproveitar o tempo trabalhado em
atividades rurícolas mesmo que isso tenha ocorrido antes da Lei nº 8.213/91? Pode aproveitar
o tempo trabalhado em atividades rurais mesmo que não tenha recolhido contribuições para a
Previdência Social sobre esse labor rural?
SIM. É possível considerar o tempo de serviço rural anterior ao advento da Lei nº 8.213/91
para fins de carência de aposentadoria híbrida por idade, sem que seja necessário o
recolhimento de contribuições previdenciárias para esse fim.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.476.383-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 1º/10/2015 (Info 570).
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 30
Desse modo, existem duas espécies de aposentadoria por idade:
URBANA RURAL
Homem: 65 anos de idade Homem: 60 anos de idade
Mulher: 60 anos de idade Mulher: 55 anos de idade
Carência: exige-se uma carência de180 O trabalhador rural deve comprovar o efetivo
contribuições mensais (quinze anos). exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior
Obs: existe uma regra de transição no art. 142 da
ao requerimento do benefício, por tempo igual ao
Lei nº 8.213/91 para o segurado inscrito na
número de meses de contribuição correspondente
previdência social até 24/07/91. Assim, por
à carência do benefício pretendido. Ex: se a
exemplo, se o segurado implementou as
carência for de 180 contribuições, ele deverá
condições de idade em 2010, ela precisará apenas
comprovar quinze anos de atividade rural
de 174 meses de contribuição.
contínua.
Obs.: também deve ser observada a tabela de
transição do art. 142 da Lei nº 8.213/91.
Pode acontecer de, quando o trabalhador rural atingir a idade mínima necessária (ex.: 65 anos, homem),
ele ainda não ter alcançado o tempo mínimo de atividade rural exigida. Ex.: João trabalhou dez anos com
atividades urbanas. De repente, decidiu se mudar para o campo e, desde então, só trabalha com
agricultura. Ao atingir 60 anos de idade, João não pode ter direito à aposentadoria por idade rural, já que
só acumulou oito anos trabalhando na roça (e a carência seria de quinze anos).
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 31
aposentadoria por idade híbrida, desde que a soma do tempo rural com o de outra categoria implemente
a carência necessária contida na Tabela, não ocorrendo, por certo, a diminuição da idade.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.367.479-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/9/2014 (Info 548).
Aposentadoria híbrida
A aposentadoria híbrida tem por objetivo alcançar os trabalhadores que, ao longo de sua vida, mesclaram
períodos de labor urbano e rural, sem, contudo, perfazer tempo suficiente para se aposentar em nenhuma
dessas atividades, quando isoladamente consideradas, permitindo-se, por conseguinte, a soma de ambos
os tempos.
Previsão legal
Veja cada uma das modalidades de aposentadoria por idade no art. 48 da Lei nº 8.213/91:
Aposentadoria híbrida
§ 3º Os trabalhadores rurais de que trata o § 1º deste artigo que não atendam ao disposto no § 2º deste
artigo, mas que satisfaçam essa condição, se forem considerados períodos de contribuição sob outras
categorias do segurado, farão jus ao benefício ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, e 60 (sessenta) anos, se mulher. (Incluído pela Lei nº 11.718/2008)
§ 4º Para efeito do § 3º deste artigo, o cálculo da renda mensal do benefício será apurado de acordo com
o disposto no inciso II do caput do art. 29 desta Lei, considerando-se como salário-de-contribuição mensal
do período como segurado especial o limite mínimo de salário-de-contribuição da Previdência Social.
(Incluído pela Lei nº 11.718/2008)
Para ter direito à aposentadoria híbrida, a última atividade exercida pela pessoa deve ser a agrícola?
Exige-se que a pessoa tenha saído da atividade urbana para a agrícola?
NÃO. O reconhecimento do direito à aposentadoria híbrida por idade não está condicionado ao exercício
de atividade rurícola no período imediatamente anterior ao requerimento administrativo.
Em outras palavras, a aposentadoria híbrida pode ser concedida ainda que a última atividade do segurado
tenha sido a urbana, ou seja, ainda que ele tenha começado na atividade rural e depois migrado para a urbana.
Não faz diferença se ele está exercendo atividade urbana ou rural no momento em que completa a idade
ou apresenta o requerimento administrativo.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 32
Quem sai do campo para cidade tem direito à aposentadoria híbrida, assim como quem sai da cidade e vai
para o campo.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.476.383-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 1º/10/2015 (Info 570).
Para ter direito à aposentadoria híbrida, a pessoa tem que ter trabalhado mais tempo na agricultora do
que em atividades urbanas? A agricultura tem que ser a atividade preponderante? Existe essa exigência?
NÃO. Seja qual for a predominância do labor misto no período de carência ou o tipo de trabalho exercido
no momento do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo, o trabalhador tem
direito à aposentadoria híbrida, desde que cumprida a carência com a utilização de labor urbano ou rural.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.497.086/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 06/04/2015.
Para ter direito à aposentadoria híbrida, a pessoa pode aproveitar o tempo trabalhado em atividades
rurícolas mesmo que isso tenha ocorrido antes da Lei nº 8.213/91? Pode aproveitar o tempo trabalhado
em atividades rurais mesmo que não tenha recolhido contribuições para a Previdência Social sobre esse
labor rural?
SIM. É possível considerar o tempo de serviço rural anterior ao advento da Lei nº 8.213/91 para fins de
carência de aposentadoria híbrida por idade, sem que seja necessário o recolhimento de contribuições
previdenciárias para esse fim.
A Lei nº 11.718/2008, ao alterar o art. 48 da Lei nº 8.213/91 e prever a aposentadoria híbrida, não proibiu
que se computasse o tempo de serviço rural anterior à vigência da Lei nº 8.213/91 para fins de carência
nem exigiu qualquer recolhimento de contribuições previdenciárias.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.476.383-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 1º/10/2015 (Info 570).
APOSENTADORIA ESPECIAL
Aposentadoria especial a contribuinte individual não cooperado
Importante!!!
Imagine que João trabalhou durante 25 anos como dentista (contribuinte individual) exposto a
agentes nocivos biológicos. Diante disso, requereu ao INSS a aposentadoria especial. A
autarquia indeferiu o pedido afirmando que o art. 64 do Decreto 3.048/99 só permite
aposentadoria especial para contribuinte individual se este for integrante de cooperativa.
A tese do INSS é aceita pela jurisprudência? Essa restrição imposta pelo art. 64 do Decreto
3.048/99 é válida? O contribuinte individual, para ter direito à aposentadoria especial, precisa
ser obrigatoriamente filiado à alguma cooperativa?
NÃO. É possível sim a concessão de aposentadoria especial a contribuinte individual do RGPS
mesmo que este não seja cooperado.
O art. 57, caput, da Lei nº 8.213/91, que prevê a aposentadoria especial, não traça qualquer
diferenciação entre as diversas categorias de segurados. Em outras palavras, esse dispositivo
não restringe a aposentadoria especial a algumas espécies de segurado. Assim, percebe-se que
o art. 64 do Decreto nº 3.048/99, ao limitar a concessão da aposentadoria especial apenas ao
segurado empregado, ao trabalhador avulso e ao contribuinte individual cooperado,
extrapolou os limites da Lei, criando distinções onde não existia. Em razão disso, essa restrição
imposta pelo art. 64 deve ser tida como ilegal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.436.794-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 17/9/2015 (Info 570).
Aposentadoria especial
Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais favoráveis
que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 33
O art. 57 da Lei nº 8.213/91 trata sobre a aposentadoria especial no Regime Geral da Previdência Social
(RGPS) e prevê que esta será concedida às pessoas que trabalhem em condições que prejudiquem a sua
saúde ou integridade física:
Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado
que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física,
durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.
Desse modo, se a pessoa fica exposta a agentes nocivos que tornem suas condições de trabalho
insalubres, perigosas ou penosas, ela poderá ter direito à aposentadoria especial. Esses agentes nocivos
estão previstos em Decretos do Presidente da República, conforme autoriza a Lei nº 8.213/91:
Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à
saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o
artigo anterior será definida pelo Poder Executivo.
Assim, todos os meses João terá que pagar contribuição previdenciária de 20% sobre o valor auferido no
mês com o exercício de sua atividade de dentista. Em compensação, ele terá direito aos benefícios
previdenciários pagos pelo INSS (auxílio-doença, aposentadoria etc.).
A tese do INSS é aceita pela jurisprudência? Essa restrição imposta pelo art. 64 do Decreto nº 3.048/99 é
válida? O contribuinte individual, para ter direito à aposentadoria especial, precisa ser obrigatoriamente
filiado à alguma cooperativa?
NÃO. É possível sim a concessão de aposentadoria especial a contribuinte individual do RGPS mesmo que
este não seja cooperado.
O art. 57, caput, da Lei nº 8.213/91, que prevê a aposentadoria especial, não traça qualquer diferenciação
entre as diversas categorias de segurados. Em outras palavras, esse dispositivo não restringe a
aposentadoria especial a algumas espécies de segurado. Assim, percebe-se que o art. 64 do Decreto nº
3.048/99, ao limitar a concessão da aposentadoria especial apenas ao segurado empregado, ao
trabalhador avulso e ao contribuinte individual cooperado, extrapolou os limites da Lei, criando distinções
onde não existia. Em razão disso, essa restrição imposta pelo art. 64 do Decreto deve ser tida como ilegal.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 34
Em suma:
É possível a concessão de aposentadoria especial ao contribuinte individual não cooperado que cumpra a
carência e comprove, nos termos da lei vigente no momento da prestação do serviço, o exercício de
atividade sob condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou sua integridade física pelo período de
15, 20 ou 25 (vinte cinco) anos.
Importante!!!
A reforma da decisão que antecipa a tutela obriga o autor da ação a devolver os benefícios
previdenciários indevidamente recebidos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.401.560-MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Ari Pargendler,
julgado em 12/2/2014 (recurso repetitivo) (Info 570).
Obs: a TNU e alguns julgados do STF afirmam que tais valores são IRREPETÍVEIS, ou seja, não devem
ser devolvidos (Súmula 51 da TNU e STF. 1ª Turma. ARE 734242 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 04/08/2015).
SITUAÇÃO 1: DEVOLUÇÃO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS RECEBIDOS POR FORÇA DE TUTELA ANTECIPADA REVOGADA
Imagine a seguinte situação:
João propõe ação contra o INSS pedindo a concessão de auxílio-doença, alegando que possui uma
incapacidade total e temporária para o exercício de suas funções.
O autor junta atestado médico comprovando a incapacidade.
O juiz concede a tutela antecipada, determinando que o INSS fique pagando mensalmente o auxílio-
doença até que a sentença seja proferida.
É realizada perícia médica judicial. O médico-perito discorda do resultado do atestado médico apresentado
pelo autor e afirma que João tem sim condições de trabalhar.
Diante do laudo, o juiz sentencia a demanda, revogando a tutela antecipada anteriormente concedida e
julgando improcedente o pedido.
Ocorre que João recebeu 10 meses de auxílio-doença por força da tutela antecipada.
Obs: em provas objetivas, atentar para o enunciado da questão para verificar se ele fala em STF ou STJ. No
entanto, se não mencionar nada, marque o entendimento do STJ (deve devolver). Isso porque no STF o
tema ainda não está consolidado enquanto que no STJ já existe até precedente em recurso especial
repetitivo.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 36
SITUAÇÃO 3: VALORES RECEBIDOS POR SENTENÇA MANTIDA EM 2ª INSTÂNCIA E REFORMADA EM RESP
A situação agora é a seguinte:
Ricardo propõe ação contra o INSS pedindo a concessão de aposentadoria.
O juiz concede a tutela antecipada ao autor. A sentença julga o pedido procedente e confirma a tutela.
O INSS recorre ao TRF, que, no entanto, nega o recurso e mantém a sentença.
Contra o acórdão do TRF, a autarquia previdenciária interpõe recurso especial.
O STJ reforma o acórdão e revoga o benefício concedido.
A situação aqui é diferente dos casos anteriores. Isso porque o autor recebe o benefício por força de
decisão proferida, em cognição exauriente, pelo Juiz de 1º grau (sentença), a qual foi confirmada em 2ª
instância. Existe, portanto, um duplo conforme (ou dupla conformidade) entre a sentença e o acórdão.
Isso gera a estabilização da decisão de primeira instância.
Nessa hipótese, o INSS, que sucumbiu, só tem a possibilidade de interpor RE ou REsp, que são recursos de
natureza extraordinária, de fundamentação vinculada, e nos quais é vedado o reexame de fatos e provas,
além de, em regra, não possuírem efeito suspensivo.
Logo, a dupla conformidade limita a possibilidade de recurso do vencido, tornando estável a relação jurídica
submetida a julgamento, sendo, por isso, passível de execução provisória. Além disso, cria no vencedor a
legítima expectativa de que é titular do direito reconhecido na sentença e confirmado pelo tribunal de 2ª
instância. Essa expectativa legítima de titularidade do direito, advinda de ordem judicial com força definitiva,
é suficiente para caracterizar a boa-fé exigida de quem recebe a verba de natureza alimentar posteriormente
cassada, porque, no mínimo, confia — e, de fato, deve confiar — no acerto do duplo julgamento.
Assim, na presente situação, se fosse determinada a restituição de tudo o que foi recebido pelo autor,
haveria uma violação ao princípio da dignidade da pessoa humana, além de se abalar a confiança que os
jurisdicionados possuem nas decisões judiciais.
(STJ. Corte Especial. EREsp 1.086.154-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/11/2013.)
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 37
QUADRO COMPARATIVO:
DEVOLVERÁ OS
SEGURADO RECEBE O BENEFÍCIO POR FORÇA DE...
VALORES?
1ª) tutela antecipada, que é, posteriormente, revogada na sentença. STJ: SIM
STF e TNU: NÃO
2ª) sentença, que é, posteriormente, reformada em 2ª instância. SIM
3ª) sentença, mantida em 2ª instância, sendo, no entanto, reformada em Resp. NÃO
4ª) sentença transitada em julgado, que posteriormente, é reformada em AR. NÃO
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
Auxílio quebra de caixa
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos
da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I — do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa
física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II — do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;
III — sobre a receita de concursos de prognósticos;
IV — do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 38
A CF/88 determina que os recursos arrecadados com as contribuições previstas no art. 195, I, “a” e II serão
destinados exclusivamente para o pagamento de benefícios previdenciários do RGPS (administrado pelo INSS).
Em razão disso, a maioria dos autores de Direito Previdenciário denomina as contribuições do art. 195, I,
“a” e II de “contribuições previdenciárias”, como se fossem uma subespécie das contribuições para a
seguridade social. Nesse sentido: Frederico Amado.
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
A contribuição previdenciária é uma espécie de tributo, cujo montante arrecadado é destinado ao
pagamento dos benefícios do RGPS (aposentadoria, auxílio-doença, pensão por morte etc.)
Incide contribuição previdenciária sobre o auxílio quebra de caixa pago pelo empregador ao empregado?
SIM. O STJ entende que o auxílio quebra de caixa tem nítida natureza salarial e integra a remuneração.
Logo, possuindo natureza salarial, conclui-se que esta verba integra a remuneração, razão pela qual incide
contribuição previdenciária.
Deve-se relembrar a seguinte regra:
Tem natureza salarial: INCIDE contribuição previdenciária.
Possui natureza indenizatória: NÃO incide contribuição previdenciária.
Por que o STJ entende que o auxílio quebra de caixa tem natureza salarial? Ele não é uma forma de
compensar os riscos do empregado? Não seria mais correto considerá-la como natureza indenizatória?
O STJ adota o seguinte critério: se a verba é paga por liberalidade do empregador, ela não pode ser
considerada como sendo de natureza indenizatória. Para o STJ, as verbas de natureza indenizatória são
obrigatórias. Como o auxílio quebra de caixa não é obrigatório (a empresa poderia ter se recusado a
celebrar o acordo/convenção coletiva), não se pode dizer que ela seja indenizatória.
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CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (Procurador Federal AGU 2013 CESPE) Tendo em vista que, de acordo com súmula vinculante editada pelo
STF, a cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola dispositivo da CF, é correto concluir
que a cobrança, por instituição pública de ensino superior, de taxa para revalidar diploma de graduação
obtido no exterior é inconstitucional. ( )
2) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) A jurisprudência considera que o instrumento de compra e venda configura justo
título, apto a ensejar a declaração de usucapião ordinária, pois o promitente comprador tem o direito à
adjudicação compulsória do imóvel independentemente do registro e, quando registrado, o compromisso
de compra e venda passa a integrar a categoria de direito real pela legislação civil. ( )
3) (PGM Maceió - FUNDEPES) É nula a aposição de cláusula mandato nos contratos celebrados entre
consumidores e administradoras de cartão de crédito. ( )
4) (Juiz TRF1 2013 CESPE) É lícita a inclusão, no contrato de cartão de crédito, de cláusula mandato que tenha
como efeito autorizar a administradora do contratante a representá-lo perante instituições financeiras,
visando obter financiamento do crédito por ele utilizado. ( )
5) Nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de cláusula-mandato que permita à operadora
emitir título cambial contra o usuário do cartão. ( )
6) (Juiz TRF5 2011 CESPE) Apenas os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham sessenta e cinco
anos de idade, ou mais, na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave,
definidos na forma da lei, devem ser pagos com preferência sobre todos os demais débitos. ( )
7) Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, não é possível sua substituição no polo
ativo por outra associação, ainda que os interesses discutidos na ação coletiva sejam comuns a ambas. ( )
8) (Juiz TJRN 2013 CESPE) Conforme o entendimento jurisprudencial que considera o porte ilegal de arma de
fogo crime de perigo abstrato, para a consumação do delito, é necessária a demonstração do efetivo caráter
ofensivo da arma transportada pelo indivíduo. ( )
9) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) No crime de roubo, para que seja aplicado o aumento de pena por emprego de
arma de fogo, é imprescindível que tenham sido realizadas a apreensão e a perícia no artefato utilizado no
crime. ( )
Informativo 570-STJ (01 a 14/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 40
10) (Promotor MP/MS 2015) A incidência da majorante do emprego de arma de fogo no roubo não prescinde da
apreensão e da perícia para verificação de seu potencial lesivo. ( )
11) (Juiz Federal TRF4 banca própria) Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não se mostram
necessárias a apreensão e a perícia da arma de fogo empregada no roubo para comprovar seu potencial
lesivo, visto que tal qualidade integra a própria natureza do artefato. Lesividade do instrumento que se
encontra in re ipsa. A qualificadora do art. 157, § 2º, do Código Penal pode ser evidenciada por qualquer
meio de prova, em especial pela palavra da vítima ou pelo depoimento de testemunha presencial. Se o
acusado alegar o contrário ou sustentar a ausência de potencial lesivo da arma empregada para intimidar a
vítima, será dele o ônus de produzir tal prova, nos termos do art. 156 do Código de Processo Penal. ( )
12) (DPE/PE 2015 CESPE) O fato de as armas apreendidas estarem desmuniciadas não tipifica o crime de posse
ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito em razão da total ausência de potencial lesivo da conduta. (
)
13) (Promotor MP/BA) Segundo o disposto na Lei nº 12.850/2013 (Organizações Criminosas), se a ação
controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da intervenção policial ou administrativa
não dependerá da cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino
do investigado, o que garantirá a efetividade da investigação criminal. ( )
14) (Juiz TJMG 2014 banca própria) Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos na Lei
de Drogas (Lei nº 11.343/06) são permitidos procedimentos investigatórios, além dos previstos em lei e
independentemente de autorização judicial, consistente na infiltração por agentes de polícia e ação
controlada. ( )
Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. C 5. C 6. E 7. C 8. E 9. E 10. E
11. C 12. E 13. E 14. E
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