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RESUMO
O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) deve atender as recomendações da Caixa
Econômica Federal, incluindo as relacionadas à acessibilidade, para liberação do habite-se e
utilização de subsídios governamentais. O objetivo deste artigo é analisar a acessibilidade espacial
nas áreas comuns e de lazer e nas unidades habitacionais de um condomínio residencial - Terra
Nova II, na Palhoça/SC -, através dos métodos e técnicas adotados - como entrevistas,
levantamentos e pesquisas documentais -, a fim de identificar os problemas de acessibilidade e
verificar se os requisitos mínimos são atendidos.
ABSTRACT
The Program Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) must comply with the recommendations of the Caixa
Econômica Federal, including those related to accessibility, to release the occupation license and use
of government subsidies. It has as the object of study the Terra Nova II Condo, at Palhoça-SC, in
order to analyze the spatial accessibility in public areas, leisure areas and housing units, through
methods and techniques adopted - such as interviews, surveys and researches -, identify accessibility
problems and verify that the minimum requirements are met.
1. INTRODUÇÃO
O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) foi instituído pelo Governo Federal do Brasil
com apoio da Caixa Econômica Federal, em março de 2009, visando uma melhor
distribuição de renda, a redução do déficit habitacional - prioritariamente para famílias de
baixa renda -, a promoção da inclusão social e dinamização do setor da construção civil com
a ampliação dos postos de trabalho. Consiste no fornecimento de linhas de crédito a juros
reduzidos para construtoras ou municípios interessados em construir conjuntos
habitacionais, bem como no fornecimento de subsídios e financiamento para aquisição de
moradias pela população que se enquadra nas faixas de renda atendidas pelo programa.
Inicialmente sua meta era a construção de 1 milhão de moradias, porém recebeu alterações
através da Lei 12.424/2011 (BRASIL, 2011c) que a ampliou para 2 milhões de moradias,
envolvendo a participação de União, estados, municípios, empreendedores, agentes
financeiros e movimentos sociais para atingir o objetivo proposto (CAIXA, 2012). Para a
liberação dos créditos e concessão dos financiamentos, o programa estabelece requisitos
que os empreendimentos deverão atender em relação à acessibilidade espacial e a
quantidade mínima de unidades destinadas a idosos e pessoas com deficiência, tanto em
suas áreas comuns quanto em suas áreas de uso privativo. A Lei 11.977/2009 (BRASIL,
2009), alterada pela Lei 12.424/2011 estabelece em seu artigo 73º que:
Serão assegurados no PMCMV:
I – condições de acessibilidade a todas as áreas públicas e de uso comum;
II – disponibilidade de unidades adaptáveis ao uso por pessoas com deficiência, com
mobilidade reduzida e idosos, de acordo com a demanda;
...
Parágrafo único. Na ausência de legislação municipal ou estadual acerca de
condições de acessibilidade que estabeleça regra específica, será assegurado que,
do total de unidades habitacionais construídas no âmbito do PMCMV em cada
Município, no mínimo, 3% (três por cento) sejam adaptadas ao uso por pessoas com
deficiência (BRASIL, 2011c).
Sabendo-se que: as pessoas com deficiência e idosos fazem parte daqueles que deveriam
se beneficiar com o programa; a legislação federal estabelece requisitos mínimos de
acessibilidade a serem adotados nos condomínios, loteamentos e suas habitações para
liberação de crédito; e estas construções utilizam recursos públicos, questiona-se se a
destinação destes recursos vem cumprindo sua função. Portanto, torna-se necessário
verificar se os requisitos de acessibilidade estão sendo atendidos para a liberação destes
subsídios. Nesse sentido, tomou-se como amostra um condomínio contemplado pelo
PMCMV e uma unidade habitacional autônoma, e realizou-se a análise da acessibilidade
espacial, levando em consideração as leis e normas vigentes a que estes se submetem -
CAIXA, 2012 a/b; BRASIL, 2011 a/b/c; CUNHA, 2010; BRASIL, 2009.
2. OBJETO DE ESTUDO
Como estudo de caso tem-se o Condomínio Terra Nova, etapa II, localizado no município de
Palhoça, Estado de Santa Catarina, a cerca de 15Km da capital Florianópolis (vide Figura
1). Devido ao crescente desenvolvimento econômico do município o empreendimento está
inserido em uma área periférica ao centro que tem como característica principal a recente
incorporação de condomínios e loteamentos voltados ao atendimento da expansão
populacional (RODOBENS, 2012).
Partindo do entroncamento da BR-101 e da BR-282, através de uma via asfaltada, se pode
chegar ao acesso principal do condomínio, incorporado em três etapas (vide Figura 2). A
primeira etapa situa-se em terreno plano; a segunda com parte em terreno plano e parte em
terreno com maior declividade; e a terceira, com sua maior porção em terreno com
declividade acentuada. Todas as três etapas são interligadas por vias internas e estão
isoladas por cerca de proteção em relação ao entorno. Em cada uma delas existem
equipamentos de uso comum aos condôminos como: portaria de acesso, salão de festas,
piscina adulto e infantil, parque infantil, churrasqueiras, quadra polivalente, campo de futebol
e áreas de estacionamento para visitantes distribuídas nas extremidades das quadras.
Figura 1 – Localização BR/SC/Palhoça Figura 2 – Terra Nova I, II e III
Fonte: Adaptado de Google Earth, 2012 Fonte: Acervo Próprio, 2012
Figura 3 – Etapa II, Condomínio Terra Nova Figura 4 – Planta Humanizada da Unidade
Fonte: Acervo Próprio, 2012 Habitacional, s/escala
Fonte: Rodobens, 2012
3. METODOLOGIA
MÉTODO OU
TÉCNICA
PARA QUÊ COM QUEM/ONDE RESULTADOS
Conhecer as Manual do Proprietário, Plantas que auxiliaram
PESQUISA características do contrato, projetos do a análise, assim como
DOCUMENTAL condomínio estudado e Condomínio e da informações sobre o
da unidade habitacional unidade habitacional conjunto e a moradia
Sites diversos (Caixa,
Governo, Ministério das
Conhecer o estado da Cidades, Rodobens e Conhecimento de Leis,
PESQUISA arte relacionado ao etc), cartilhas decretos, portarias e
BIBLIOGRÁFICA E NA PMCMV e a fornecidas pela Caixa normas que regulam as
INTERNET acessibilidade espacial, Econômica e Rodobens construções e
escolher os métodos e (PMCMV) e leituras conceitos fundamentais
técnicas e fundamentar complementares em para proceder à análise
as soluções periódicos e livros dos dados
Verificar se há Medições com trena, in Confirmação de
discrepância entre o locco, comparadas aos problemas
executado e o projetos do dimensionais
LEVANTAMENTO projetado e se o real empreendimento identificados
FÍSICO atende as leis/normas visualmente e por
comparação entre o
projetado e o
construído
Fotografias datadas de 150 imagens
Registrar os locais,
31/03/2012, batidas registradas, visando
LEVANTAMENTO identificando os
pelos pesquisadores, facilitar identificação
FOTOGRÁFICO principais problemas de
no entorno e interior do dos locais e/ou
acessibilidade espacial
condomínio Terra Nova problemas
Conhecer as
características e Realizada com o casal
ENTREVISTA NÃO Conhecimento da
identificar problemas do de moradores da
ESTRUTURADA percepção dos
Cond. e da unidade unidade habitacional
proprietários
habitacional conforme selecionada
visão dos usuários
Fonte: Acervo Pessoal, 2012
OBSTÁCULOS
demais
Como é: Onde existem obstáculos foram respeitadas as
larguras mínimas sugeridas
Observações: Atende as recomendações, a cancela foi
o único obstáculo identificado, junto à entrada de
pedestre do condomínio (Figura 5) Figura 5 – Entrada do condomínio
Fonte: Acervo próprio, 2012
Como deveria ser: Com pavimentação definitiva,
calçadas, guias, sarjetas e sistemas de drenagem
Como é: Os bueiros situam-se onde os pedestres
INFRAESTRUTURA
movimento
Como é: Não existem rotas acessíveis no condomínio.
DILATAÇÃO
correspondência
Como é: Os equipamentos recomendados existem,
porém, apresentam barreiras como desníveis e falta de
sinalização que reduzem seu uso. A lixeira do
condomínio fica fora do mesmo, obrigando os moradores
a percorrer grandes distâncias para descartar seu lixo
Figura 11 – Parquinho e lixeira
Observações: Apesar de atender as recomendações, coletiva
não é acessível. O serviço de coleta de lixo deveria estar Fonte: Acervo próprio, 2012
incluso no valor do condomínio e ser oferecido aos
condôminos
Fonte: Acervo Próprio
Tabela 02 – Resultado da Análise do Condomínio conforme CUNHA (2010) – (3/3)
plataformas
Como é: Possui desníveis nas entradas das áreas de
lazer que excedem 15mm, mas não são tratadas como
degraus;
Observações: Não atende as recomendações. As Figura 12 - Entradas: piscina e
entradas poderiam ser suavemente rampeadas, churrasqueira
prevendo descanso se necessário – de acordo com a Fonte: Acervo próprio, 2012
inclinação e extensão
Fonte: Acervo Próprio
Pode-se observar que quase a totalidade dos itens analisados não atende as
recomendações do próprio PMCMV e, consequentemente, da legislação, deixando claro que
mesmo com a liberação do habite-se e de subsídios, os condomínios não são acessíveis.
Existem alguns itens que sequer aparecem nas Tabela 2 e 3, pois o condomínio não os
contempla. São eles:
a) Unidades Adaptadas: deveria existir no mínimo 3% destinada aos idosos, pessoas com
deficiência ou mobilidade reduzida;
b) Área de aproximação: com 60 cm internamente e 30 cm externamente para aproximação
e abertura de portas – o mobiliário também impede a reserva desta área devido às
pequenas dimensões dos cômodos;
c) Áreas de descanso: nos caminhos inclinados deve-se prever partes planas a cada 50 m
para piso com inclinação de 3% e a cada 30 m para inclinações de 3 a 5%;
d) Áreas de embarque e desembarque: para facilitar o uso de áreas comuns e acesso as
unidades, mesmo que os estacionamentos sejam distantes;
e) Faixa elevada: interligando circulação de pedestres interrompidas por vias;
f) Percurso acessível: deveria existir uma rota acessível com largura mínima de 1,20 m,
livre, antiderrapante – sugere-se a execução de uma faixa na lateral das vias, criando
um caminho resguardado, sinalizado e seguro para o deslocamento de moradores e
visitantes (Figuras 17);
g) Piso Podotátil Direcional e Alerta: deveria existir piso direcional no sentido do
deslocamento quando não existir linha guia identificável e piso alerta cromo diferenciado
ou contrastante com o entorno, ambos no padrão da NBR 9050 (CAIXA, 2012b; CUNHA,
2010). Esses pisos deveriam fazer parte da rota acessível, mas, como esta não existe,
ao menos deveriam alertar obstáculos suspensos e desníveis (Figura 18).
Figura 17 – Faixa livre (do manual e Figura 18 – Piso alerta sinalizando obstáculo
sugerida) suspenso
Fonte: CAIXA, 2012b e Acervo Próprio, 2012 Fonte: CAIXA, 2012b
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabendo que o Programa MCMV visa reduzir o déficit habitacional e também gerar inclusão,
a Caixa Econômica Federal só deveria liberar recursos aos condomínios que propiciassem
acessibilidade espacial aos seus condôminos, o que verificou-se não ocorrer no condomínio
Terra Nova.
A partir dos Métodos e Técnicas aplicados descobriram-se diversos problemas quanto à
acessibilidade. No entanto, o pior resultado encontrado é o fato de não existir uma
rota/percurso acessível que interligue o acesso do condomínio às unidades, áreas de lazer e
de serviços. É inquestionável também o fato de que deveria existir ao menos uma unidade
habitacional e acessível e que o conjunto não atende aos requisitos impostos pela Caixa.
Pode-se dizer ainda que, quanto à acessibilidade espacial, o condomínio Terra Nova precisa
de adaptações urgentes, destacando-se, conforme os quatro componentes de
acessibilidade espacial – comunicação, deslocamento, orientação e uso -, as seguintes
conclusões:
a) Comunicação: não há uma boa comunicação entre os usuários, principalmente quando
se faz necessário o uso do interfone para os visitantes adentrarem ao condomínio;
b) Deslocamentos: a movimentação horizontal é prejudicada com a falta de calçadas,
desníveis, pisos irregulares e escorregadios (grama) e a falta de faixas de segurança. Já
o deslocamento vertical é necessário para o acesso às quadras e algumas habitações,
podendo ser facilmente amenizado por uma nova configuração das rampas que hoje
estão à disposição dos condôminos, a criação de áreas de descanso e de uma rota
acessível;
c) Orientação: não existem mapas ou sinalizações que auxiliam a compreensão do
ambiente e direcionem os moradores ou visitantes às habitações ou áreas de lazer, além
de falta de elementos básicos, como os pisos táteis, por exemplo.
d) Uso: o fato das quadras e algumas churrasqueiras estarem em patamares mais
elevados impossibilita/dificulta a participação de pessoas com restrição de mobilidade
devido à configuração do espaço, além da dificuldade gerada pela inexistência de áreas
de embarque e desembarque nas proximidades destas áreas e das residências.
Banheiros, circulações e vãos – principalmente de portas - com dimensões reduzidas
vão de encontro às exigências mínimas e não respeitam sequer as recomendações
ergonômicas quanto aos alcances e rotações.
Sugere-se que, no mínimo, sejam criadas unidades adaptadas, rotas e percursos acessíveis
e executadas as calçadas ou faixas demarcadas para o deslocamento seguro de pedestres
pela via. Dessa forma garante-se que sejam seguidas integralmente as recomendações das
normas estabelecidas pelo Programa e pela Caixa, sem prejuízo das demais normas
aplicáveis. Caso contrário, pode-se implantar um sistema de auditoria de acessibilidade
visando impedir a aquisição ou financiamento de empreendimentos que não possuam
acessibilidade e utilizem recursos do Programa. Também se faz necessário que estudos
futuros sejam aplicados em outros condomínios para verificar se o problema é pontual ou
generalizado.
6. REFERENCIAS
_____. Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011. Altera a Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009, que
dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV e a regularização fundiária de
assentamentos localizados em áreas urbanas. (c)
_____. Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida –
PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Especificações Mínimas: Programa Minha Casa, Minha Vida.
Disponível em: <http://www1.caixa.gov.br/download/asp/ent_hist.asp?download=41457> Acesso em:
Março, 2012.(a)
_____. Cartilha Programa Minha Casa Minha Vida. 2012. Disponível em: <http://downloads.caixa.
gov.br/_arquivos/habita/mcmv/CARTILHACOMPLETA.PDF> Acesso em: Março, 2012(b).