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ANÁLISE DA ACESSIBILIDADE ESPACIAL EM CONDOMÍNIO DO

PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA (PMCMV)

AMORIM, Julia Moraes Callado de (1);


CALLADO, Rodrigo Moraes (2);
BINS ELY, Vera Helena Moro (3).
(1) Universidade Federal de Santa Catarina, Mestranda do PósARQ
e-mail:jucallado@hotmail.com
(2) Universidade Federal de Santa Catarina, Arq. Esp.
e-mail:rodcallado@yahoo.com.br
(3) Universidade Federal de Santa Catarina, Dra. Eng.
e-mail:vera.binsely@gmail.com

RESUMO

O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) deve atender as recomendações da Caixa
Econômica Federal, incluindo as relacionadas à acessibilidade, para liberação do habite-se e
utilização de subsídios governamentais. O objetivo deste artigo é analisar a acessibilidade espacial
nas áreas comuns e de lazer e nas unidades habitacionais de um condomínio residencial - Terra
Nova II, na Palhoça/SC -, através dos métodos e técnicas adotados - como entrevistas,
levantamentos e pesquisas documentais -, a fim de identificar os problemas de acessibilidade e
verificar se os requisitos mínimos são atendidos.

ABSTRACT

The Program Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) must comply with the recommendations of the Caixa
Econômica Federal, including those related to accessibility, to release the occupation license and use
of government subsidies. It has as the object of study the Terra Nova II Condo, at Palhoça-SC, in
order to analyze the spatial accessibility in public areas, leisure areas and housing units, through
methods and techniques adopted - such as interviews, surveys and researches -, identify accessibility
problems and verify that the minimum requirements are met.

1. INTRODUÇÃO

O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) foi instituído pelo Governo Federal do Brasil
com apoio da Caixa Econômica Federal, em março de 2009, visando uma melhor
distribuição de renda, a redução do déficit habitacional - prioritariamente para famílias de
baixa renda -, a promoção da inclusão social e dinamização do setor da construção civil com
a ampliação dos postos de trabalho. Consiste no fornecimento de linhas de crédito a juros
reduzidos para construtoras ou municípios interessados em construir conjuntos
habitacionais, bem como no fornecimento de subsídios e financiamento para aquisição de
moradias pela população que se enquadra nas faixas de renda atendidas pelo programa.
Inicialmente sua meta era a construção de 1 milhão de moradias, porém recebeu alterações
através da Lei 12.424/2011 (BRASIL, 2011c) que a ampliou para 2 milhões de moradias,
envolvendo a participação de União, estados, municípios, empreendedores, agentes
financeiros e movimentos sociais para atingir o objetivo proposto (CAIXA, 2012). Para a
liberação dos créditos e concessão dos financiamentos, o programa estabelece requisitos
que os empreendimentos deverão atender em relação à acessibilidade espacial e a
quantidade mínima de unidades destinadas a idosos e pessoas com deficiência, tanto em
suas áreas comuns quanto em suas áreas de uso privativo. A Lei 11.977/2009 (BRASIL,
2009), alterada pela Lei 12.424/2011 estabelece em seu artigo 73º que:
Serão assegurados no PMCMV:
I – condições de acessibilidade a todas as áreas públicas e de uso comum;
II – disponibilidade de unidades adaptáveis ao uso por pessoas com deficiência, com
mobilidade reduzida e idosos, de acordo com a demanda;
...
Parágrafo único. Na ausência de legislação municipal ou estadual acerca de
condições de acessibilidade que estabeleça regra específica, será assegurado que,
do total de unidades habitacionais construídas no âmbito do PMCMV em cada
Município, no mínimo, 3% (três por cento) sejam adaptadas ao uso por pessoas com
deficiência (BRASIL, 2011c).
Sabendo-se que: as pessoas com deficiência e idosos fazem parte daqueles que deveriam
se beneficiar com o programa; a legislação federal estabelece requisitos mínimos de
acessibilidade a serem adotados nos condomínios, loteamentos e suas habitações para
liberação de crédito; e estas construções utilizam recursos públicos, questiona-se se a
destinação destes recursos vem cumprindo sua função. Portanto, torna-se necessário
verificar se os requisitos de acessibilidade estão sendo atendidos para a liberação destes
subsídios. Nesse sentido, tomou-se como amostra um condomínio contemplado pelo
PMCMV e uma unidade habitacional autônoma, e realizou-se a análise da acessibilidade
espacial, levando em consideração as leis e normas vigentes a que estes se submetem -
CAIXA, 2012 a/b; BRASIL, 2011 a/b/c; CUNHA, 2010; BRASIL, 2009.

2. OBJETO DE ESTUDO

Como estudo de caso tem-se o Condomínio Terra Nova, etapa II, localizado no município de
Palhoça, Estado de Santa Catarina, a cerca de 15Km da capital Florianópolis (vide Figura
1). Devido ao crescente desenvolvimento econômico do município o empreendimento está
inserido em uma área periférica ao centro que tem como característica principal a recente
incorporação de condomínios e loteamentos voltados ao atendimento da expansão
populacional (RODOBENS, 2012).
Partindo do entroncamento da BR-101 e da BR-282, através de uma via asfaltada, se pode
chegar ao acesso principal do condomínio, incorporado em três etapas (vide Figura 2). A
primeira etapa situa-se em terreno plano; a segunda com parte em terreno plano e parte em
terreno com maior declividade; e a terceira, com sua maior porção em terreno com
declividade acentuada. Todas as três etapas são interligadas por vias internas e estão
isoladas por cerca de proteção em relação ao entorno. Em cada uma delas existem
equipamentos de uso comum aos condôminos como: portaria de acesso, salão de festas,
piscina adulto e infantil, parque infantil, churrasqueiras, quadra polivalente, campo de futebol
e áreas de estacionamento para visitantes distribuídas nas extremidades das quadras.
Figura 1 – Localização BR/SC/Palhoça Figura 2 – Terra Nova I, II e III
Fonte: Adaptado de Google Earth, 2012 Fonte: Acervo Próprio, 2012

São oferecidos três tipos de unidades habitacionais, dispostas em fitas, distribuídas em


quadras alongadas, sendo que na terceira etapa, devido ao relevo acentuado, existem
unidades geminadas. A área construída das unidades varia de 46,72m2, 58,64m2 ou
66,60m², dependendo do tipo. A área privativa descoberta – garagem e jardim – possui
dimensões diversas que, somadas as áreas construídas, totalizam áreas entre 142,73m2 e
157,22m², dependendo da dimensão da unidade e geometria do terreno (RODOBENS,
2012).
A região onde está situado o condomínio ainda não dispõe de comércio vicinal (mercados,
padarias, lojas) bem como de equipamentos públicos próximos (tais como postos de saúde,
creches, escolas e centros de atendimento à população), o que condiciona o uso de
automóvel ou transporte coletivo para a utilização destes serviços. Existe transporte coletivo
regular com pontos de ônibus próximos as portarias.
Considerando que as três etapas possuem as mesmas características tipológicas e
equipamentos de uso comum aos condôminos, optou-se por eleger a etapa dois para o
estudo de acessibilidade espacial, por esta estar em área central, de transição entre a parte
plana do empreendimento e a porção com declive acentuado, possuindo aspectos
topográficos existentes nas duas outras etapas (vide Figura 3). Quanto às unidades
habitacionais, a etapa dois também possui os três tipos disponíveis, sendo escolhida uma
unidade de 58,64m² para analise quanto à acessibilidade espacial, por estar com as vendas
esgotadas, possuir um tamanho intermediário e por ter-se obtido acesso a uma unidade
habitada logo após contato com os proprietários – Figura 4.

Figura 3 – Etapa II, Condomínio Terra Nova Figura 4 – Planta Humanizada da Unidade
Fonte: Acervo Próprio, 2012 Habitacional, s/escala
Fonte: Rodobens, 2012
3. METODOLOGIA

Durante o mês de março de 2012, visitou-se a parte do empreendimento já concluída, a


central de vendas, os protótipos das unidades (“show room”) e uma unidade habitada, a fim
de realizar entrevistas não estruturadas com os moradores, levantamentos físicos e
fotográficos no local. Além desses métodos, recorreu-se a pesquisas bibliográficas e
documentais, conforme Tabela 1.

Tabela 01 – Quadro metodológico

MÉTODO OU
TÉCNICA
PARA QUÊ COM QUEM/ONDE RESULTADOS
Conhecer as Manual do Proprietário, Plantas que auxiliaram
PESQUISA características do contrato, projetos do a análise, assim como
DOCUMENTAL condomínio estudado e Condomínio e da informações sobre o
da unidade habitacional unidade habitacional conjunto e a moradia
Sites diversos (Caixa,
Governo, Ministério das
Conhecer o estado da Cidades, Rodobens e Conhecimento de Leis,
PESQUISA arte relacionado ao etc), cartilhas decretos, portarias e
BIBLIOGRÁFICA E NA PMCMV e a fornecidas pela Caixa normas que regulam as
INTERNET acessibilidade espacial, Econômica e Rodobens construções e
escolher os métodos e (PMCMV) e leituras conceitos fundamentais
técnicas e fundamentar complementares em para proceder à análise
as soluções periódicos e livros dos dados
Verificar se há Medições com trena, in Confirmação de
discrepância entre o locco, comparadas aos problemas
executado e o projetos do dimensionais
LEVANTAMENTO projetado e se o real empreendimento identificados
FÍSICO atende as leis/normas visualmente e por
comparação entre o
projetado e o
construído
Fotografias datadas de 150 imagens
Registrar os locais,
31/03/2012, batidas registradas, visando
LEVANTAMENTO identificando os
pelos pesquisadores, facilitar identificação
FOTOGRÁFICO principais problemas de
no entorno e interior do dos locais e/ou
acessibilidade espacial
condomínio Terra Nova problemas
Conhecer as
características e Realizada com o casal
ENTREVISTA NÃO Conhecimento da
identificar problemas do de moradores da
ESTRUTURADA percepção dos
Cond. e da unidade unidade habitacional
proprietários
habitacional conforme selecionada
visão dos usuários
Fonte: Acervo Pessoal, 2012

A partir das informações obtidas, desenvolveu-se uma planilha para verificação do


atendimento aos requisitos de acessibilidade espacial constante nas leis que instituíram o
PMCMV e orientações da Caixa Econômica Federal (CAIXA, 2012a; CAIXA, 2012b;
CUNHA, 2010), tanto nas áreas externas de uso comum aos condôminos quanto em uma
das unidades autônomas. Os dados resultantes foram compilados e seguem, apresentados
de forma sintética, no tópico abaixo.
4. ANÁLISE DA ACESSIBILIDADE ESPACIAL CONFORME AS RECOMENDAÇÕES
PARA O PMCMV

As recomendações a serem seguidas no PMCMV, além das exigências das normas,


apresentam-se em sua maior parte registradas na Cartilha de Acessibilidade a Edificações,
Espaços e Equipamentos Urbanos (CUNHA, 2010). Esta cartilha é baseada, principalmente,
na Lei 10.098 de 19/12/2000, Decreto Lei 5.296 de 02/12/2001 e ABNT NBR 9050 de 2004.
Com a leitura das cartilhas (CAIXA, 2012b; CUNHA, 2012) e recomendações da Caixa
(CAIXA, 2012a), da complementação nas fontes primárias - projetos, leis e decretos -, e
visitas a campo, pode-se analisar os aspectos da unidade e do entorno.
Os itens analisados no condomínio aparecem na Tabela 2, que compõem-se de três
colunas: 1ª Coluna - Identificação do Item; 2ª Coluna – Como deveria ser (Recomendação
da Caixa e exigência mínima do PMCMV), Como é (o que há executado no condomínio),
Observações (sugestões e comentários dos pesquisadores); 3ª Coluna –
Ilustração/Fotografia do item no condomínio e ícone demonstrando se o item possui
resultado positivo ou negativo em relação à acessibilidade.

Tabela 02 – Resultado da Análise do Condomínio conforme CUNHA (2010) – (1/3)

ITEM DISCUSSÃO ILUSTRAÇÃO


Como deveria ser: Ter largura mínima de 80cm em
TRANSPOSIÇÃO DE

obstáculos de até 40cm de comprimento e 90cm para os


LARGURA PARA

OBSTÁCULOS

demais
Como é: Onde existem obstáculos foram respeitadas as
larguras mínimas sugeridas
Observações: Atende as recomendações, a cancela foi
o único obstáculo identificado, junto à entrada de
pedestre do condomínio (Figura 5) Figura 5 – Entrada do condomínio
Fonte: Acervo próprio, 2012
Como deveria ser: Com pavimentação definitiva,
calçadas, guias, sarjetas e sistemas de drenagem
Como é: Os bueiros situam-se onde os pedestres
INFRAESTRUTURA

transitam e as guias não tem rebaixamento (exceto em


dois bolsões de estacionamento). A pavimentação é
composta, principalmente, por trechos em paver, grama
e placas de concreto. Somente o acesso externo à
portaria é asfaltado.
Observações: Não atende as recomendações. Figura 6:
bueiro ao lado da boca de lobo, desnecessário e Figura 6 – Entrada do condomínio
atrapalha o transito dos pedestres que ocorre no limiar Fonte: Acervo próprio, 2012
das vias. Faz-se necessária a execução de calçadas
Como deveria ser: Nivelados com o piso, com frestas
máximas de 15mm, material firme, antiderrapante, com
INSPEÇÃO OU VISITAS
TAMPAS DE CAIXA DE

textura diferente ao dos pisos podotáteis


Como é: A maior parte não está nivelada com o piso.
Não há piso podotátil e as tampas são de concreto
Observações: Não atende as recomendações.
Atrapalha a caminhada de quem opta andar pela grama,
fora da via; assim como os postes de iluminação e
eletricidade, que estão próximos ao meio-fio, e as vagas,
dificultando a construção de calçadas ao lado das vias Figura 7 – Tampas de CI e CV
(Figura 7) Fonte: Acervo próprio, 2012

Fonte: Acervo Próprio


Tabela 02 – Resultado da Análise do Condomínio conforme CUNHA (2010) – (2/3)

ITEM DISCUSSÃO ILUSTRAÇÃO


Como deveria ser: Fora das rotas acessíveis ou possuir
no máximo 15mm de dimensão no sentido transversal ao
GRELHAS E JUNTAS DE

movimento
Como é: Não existem rotas acessíveis no condomínio.
DILATAÇÃO

As calçadas existentes tem espaçamento maior que 5cm


entre as placas, preenchido com grama (Figura 8)
Observações: Não atende as recomendações. As
juntas tem mais de 15mm dificultando o deslocamento,
principalmente de pessoas em cadeira de rodas, com
Figura 8 – Calçadas
muletas e idosos
Fonte: Acervo próprio, 2012

Como deveria ser: Vagas reservadas a pessoas com


deficiência física e visual (1%) e idosos (5%), com
sinalização. Dimensões mínimas de 2,5x5,0m, inclinação
ESTACIONAMENTO

longitudinal máxima de 5%, rebaixamento do meio fio


Como é: Não existem vagas para idoso, mas as vagas
para deficientes garantem o número de reserva de
vagas. Não há rebaixo do meio-fio próximo a maior parte
dos bolsões de estacionamento, mesmo àqueles com
vagas reservadas
Figura 9 – Vaga próxima ao salão,
Observações: Não atende a maior parte das parque e piscina da 2ª etapa
recomendações. O piso das vagas para visitantes é de Fonte: Acervo próprio, 2012
concreto e grama (Figura 9) e de paver na 1ª etapa do
condomínio
(INTERIOR DO CONDOMÍNIO)

Como deveria ser: Com piso antiderrapante, inclinação


transversal de no máximo 3% e longitudinal
CIRCULAÇÃO EXTERNA

acompanhando, preferencialmente, as vias lindeiras


Como é: Não existem passeios nos quarteirões,
somente em frente à entrada da unidade, com apenas
55cm de largura, e próximo às áreas de lazer com 1,20m
(Figura 8)
Observações: Não atende as recomendações. A
execução das calçadas próximas às vias é fundamental, Figura 10 – Pedestres: via e entrada
inclusive por motivo de segurança. As calçadas que da casa
levam à porta de entrada da residência deveriam ter Fonte: Acervo próprio, 2012
largura maior ou igual a 80cm (Figura 10)
Como deveria ser: Possuir centro comunitário, espaço
EQUIPAMENTO DE LAZER E

para lazer/recreação infantil, quadra de esportes,


depósito de lixo e local para armazenamento de
USO COMUNITÁRIO

correspondência
Como é: Os equipamentos recomendados existem,
porém, apresentam barreiras como desníveis e falta de
sinalização que reduzem seu uso. A lixeira do
condomínio fica fora do mesmo, obrigando os moradores
a percorrer grandes distâncias para descartar seu lixo
Figura 11 – Parquinho e lixeira
Observações: Apesar de atender as recomendações, coletiva
não é acessível. O serviço de coleta de lixo deveria estar Fonte: Acervo próprio, 2012
incluso no valor do condomínio e ser oferecido aos
condôminos
Fonte: Acervo Próprio
Tabela 02 – Resultado da Análise do Condomínio conforme CUNHA (2010) – (3/3)

ITEM DISCUSSÃO ILUSTRAÇÃO

Como deveria ser: Permitidos desníveis com até 5mm;


de 5 a 15mm deve-se executar rampas e acima de
15mm são considerado degraus. Deve-se prever, de
acordo com a inclinação, a instalação de elevadores ou
DESNÍVEIS

plataformas
Como é: Possui desníveis nas entradas das áreas de
lazer que excedem 15mm, mas não são tratadas como
degraus;
Observações: Não atende as recomendações. As Figura 12 - Entradas: piscina e
entradas poderiam ser suavemente rampeadas, churrasqueira
prevendo descanso se necessário – de acordo com a Fonte: Acervo próprio, 2012
inclinação e extensão
Fonte: Acervo Próprio

Complementado a análise do condomínio (Tabela 2), apresenta-se a seguir os itens


avaliados na unidade habitacional (vide Tabela 3) onde os resultados distribuem-se em três
colunas: 1ª Coluna - Identificação do Item; 2ª Coluna – Como deveria ser (Recomendação
da Caixa e exigência mínima do PMCMV), Como é (o que há executada na unidade
habitacional), Observações (sugestões e comentários dos pesquisadores, quando
existirem); 3ª Coluna – Ilustração/Fotografia do item na unidade habitacional e ícone
demonstrando se o item possui resultado positivo ou negativo em relação à acessibilidade.

Tabela 03 – Resultado da Análise da Unidade Habitacional conforme CUNHA (2010) – (1/2)

ITEM DISCUSSÃO ILUSTRAÇÃO

Como deveria ser: Regular, firme, antiderrapante e


estável. Inclinações máximas: transversal interna
máxima de 2% e externa de 3% e longitudinal de 5%
Como é: Excedem as porcentagens nas circulações
externas do condomínio. São firmes e estáveis, no
PISOS

interior da unidade habitacional. Possuem trechos


irregulares, descontínuos e escorregadios (limo/lama),
na área externa da unidade e de uso comum/condomínio
Observações: Não atende as recomendações. O piso Figura 13 – Pisos da unidade
cimentício é propício ao aparecimento de limo, que o estudada
torna escorregadio, portanto sua limpeza deveria constar Fonte: Acervo próprio, 2012
frequentemente nas atividades de manutenção do
condomínio e não deveria ser interrompido por grama
CIRCULAÇÃO INTERNA

Como deveria ser: Largura mínima de 90cm para


trechos até 4m, 1,20m para os trechos de 4 a 10m e
(INTERIOR DA

1,50m para os trechos acima de 10m


UNIDADE)

Como é: As circulações internas não atendem as


exigências mínimas, tanto nas unidades quanto no salão
de festas
Observações: Não atende as recomendações. As
unidades menores sequer possuem circulação
Figura 14 – Circulação na unidade
Fonte: Acervo próprio, 2012
Fonte: Acervo Próprio
Tabela 03 – Resultado da Análise da Unidade Habitacional conforme CUNHA (2010) – (2/2)

ITEM DISCUSSÃO ILUSTRAÇÃO

Como deveria ser: Dimensões mínimas de 0,80 x


2,10m e vão livre de 80cm. P. Abrir: maçaneta de
alavanca instalada entre 0,90m e 1,10m de altura nas
áreas comuns e 1m nas unidades. P. Correr: trilhos na
(ABRIR E CORRER)

parte superior ou niveladas com o piso na parte inferior,


com fresta máxima de 15mm
PORTAS

Como é: O vão destinado à instalação das portas de


abrir tem larguras de 80cm na sala e 60 cm no bwc.
Após a instalação das portas, estes vãos passaram a
dispor de larguras de 75 e 57cm, respectivamente. Já a
porta de correr da cozinha da unidade estudada tem
75cm de vão livre
Observações: Não atende as recomendações. O ideal é Figura 15 –Porta de Correr e de
que todas as portas possuíssem vãos livres de 80cm Abrir
independente de ser uma unidade adaptada ou não. Fonte: Acervo próprio, 2012
Como deveria ser: Operadas com um único movimento
e com alcances máximo horizontal de 65cm e vertical de
2 2
75cm. Vão de 1,50m nos quartos e 2m na sala,
admitindo 5% de variação
JANELAS

Como é: As janelas atendem as recomendações,


porém, devido ao tamanho dos cômodos o mobiliário
pode atrapalhar seu acesso
Observações: Atendem as recomendações. Porém
deixam a desejar quando ao conforto térmico pois as Figura 16 – Janela do quarto e
vedações não são eficazes. Moradores: - Passa o vento, churrasqueira
as janelas e paredes estão fora do esquadro, dá para ver Fonte: Acervo próprio, 2012
pelo forro e acabamentos
Fonte: Acervo Próprio

Pode-se observar que quase a totalidade dos itens analisados não atende as
recomendações do próprio PMCMV e, consequentemente, da legislação, deixando claro que
mesmo com a liberação do habite-se e de subsídios, os condomínios não são acessíveis.
Existem alguns itens que sequer aparecem nas Tabela 2 e 3, pois o condomínio não os
contempla. São eles:
a) Unidades Adaptadas: deveria existir no mínimo 3% destinada aos idosos, pessoas com
deficiência ou mobilidade reduzida;
b) Área de aproximação: com 60 cm internamente e 30 cm externamente para aproximação
e abertura de portas – o mobiliário também impede a reserva desta área devido às
pequenas dimensões dos cômodos;
c) Áreas de descanso: nos caminhos inclinados deve-se prever partes planas a cada 50 m
para piso com inclinação de 3% e a cada 30 m para inclinações de 3 a 5%;
d) Áreas de embarque e desembarque: para facilitar o uso de áreas comuns e acesso as
unidades, mesmo que os estacionamentos sejam distantes;
e) Faixa elevada: interligando circulação de pedestres interrompidas por vias;
f) Percurso acessível: deveria existir uma rota acessível com largura mínima de 1,20 m,
livre, antiderrapante – sugere-se a execução de uma faixa na lateral das vias, criando
um caminho resguardado, sinalizado e seguro para o deslocamento de moradores e
visitantes (Figuras 17);
g) Piso Podotátil Direcional e Alerta: deveria existir piso direcional no sentido do
deslocamento quando não existir linha guia identificável e piso alerta cromo diferenciado
ou contrastante com o entorno, ambos no padrão da NBR 9050 (CAIXA, 2012b; CUNHA,
2010). Esses pisos deveriam fazer parte da rota acessível, mas, como esta não existe,
ao menos deveriam alertar obstáculos suspensos e desníveis (Figura 18).

Figura 17 – Faixa livre (do manual e Figura 18 – Piso alerta sinalizando obstáculo
sugerida) suspenso
Fonte: CAIXA, 2012b e Acervo Próprio, 2012 Fonte: CAIXA, 2012b

Além do acima exposto, os moradores também observaram a impossibilidade de demolir as


paredes das edificações, devido ao sistema construtivo, e a dificuldade de fazer alterações
como, por exemplo, mudar a posição dos interruptores que, no quarto, está do lado de fora,
ou seja, no corredor. Explicaram que: “As paredes desgastam, mesmo limpando como o
manual indica, e são muito finas (8cm); quando furamos caiu um bloco (...) as portas são
pequenas (largura), principalmente a dos banheiros, que também são apertados (...) as
janelas e paredes estão fora de esquadro, passando o vento, dá para ver pelo forro e
acabamento”. Percebem-se também, através das observações dos pesquisadores, que: o
acesso ao condomínio é complicado, sem uma boa orientação não se chega ao mesmo; a
liberação da passagem pela portaria se dá através de um interfone, o que dificulta a
comunicação entre as pessoas, principalmente para os surdos e/ou mudos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabendo que o Programa MCMV visa reduzir o déficit habitacional e também gerar inclusão,
a Caixa Econômica Federal só deveria liberar recursos aos condomínios que propiciassem
acessibilidade espacial aos seus condôminos, o que verificou-se não ocorrer no condomínio
Terra Nova.
A partir dos Métodos e Técnicas aplicados descobriram-se diversos problemas quanto à
acessibilidade. No entanto, o pior resultado encontrado é o fato de não existir uma
rota/percurso acessível que interligue o acesso do condomínio às unidades, áreas de lazer e
de serviços. É inquestionável também o fato de que deveria existir ao menos uma unidade
habitacional e acessível e que o conjunto não atende aos requisitos impostos pela Caixa.
Pode-se dizer ainda que, quanto à acessibilidade espacial, o condomínio Terra Nova precisa
de adaptações urgentes, destacando-se, conforme os quatro componentes de
acessibilidade espacial – comunicação, deslocamento, orientação e uso -, as seguintes
conclusões:
a) Comunicação: não há uma boa comunicação entre os usuários, principalmente quando
se faz necessário o uso do interfone para os visitantes adentrarem ao condomínio;
b) Deslocamentos: a movimentação horizontal é prejudicada com a falta de calçadas,
desníveis, pisos irregulares e escorregadios (grama) e a falta de faixas de segurança. Já
o deslocamento vertical é necessário para o acesso às quadras e algumas habitações,
podendo ser facilmente amenizado por uma nova configuração das rampas que hoje
estão à disposição dos condôminos, a criação de áreas de descanso e de uma rota
acessível;
c) Orientação: não existem mapas ou sinalizações que auxiliam a compreensão do
ambiente e direcionem os moradores ou visitantes às habitações ou áreas de lazer, além
de falta de elementos básicos, como os pisos táteis, por exemplo.
d) Uso: o fato das quadras e algumas churrasqueiras estarem em patamares mais
elevados impossibilita/dificulta a participação de pessoas com restrição de mobilidade
devido à configuração do espaço, além da dificuldade gerada pela inexistência de áreas
de embarque e desembarque nas proximidades destas áreas e das residências.
Banheiros, circulações e vãos – principalmente de portas - com dimensões reduzidas
vão de encontro às exigências mínimas e não respeitam sequer as recomendações
ergonômicas quanto aos alcances e rotações.
Sugere-se que, no mínimo, sejam criadas unidades adaptadas, rotas e percursos acessíveis
e executadas as calçadas ou faixas demarcadas para o deslocamento seguro de pedestres
pela via. Dessa forma garante-se que sejam seguidas integralmente as recomendações das
normas estabelecidas pelo Programa e pela Caixa, sem prejuízo das demais normas
aplicáveis. Caso contrário, pode-se implantar um sistema de auditoria de acessibilidade
visando impedir a aquisição ou financiamento de empreendimentos que não possuam
acessibilidade e utilizem recursos do Programa. Também se faz necessário que estudos
futuros sejam aplicados em outros condomínios para verificar se o problema é pontual ou
generalizado.

6. REFERENCIAS

BRASIL. Portaria nº465, de 3 de Outubro de 2011. Ministério das Cidades.

_____. Decreto nº 7.499, de 16 de junho de 2011. Regulamenta dispositivos da Lei nº 11.977, de 7


de julho de 2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida, e dá outras providências.
(b)

_____. Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011. Altera a Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009, que
dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV e a regularização fundiária de
assentamentos localizados em áreas urbanas. (c)

_____. Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida –
PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Especificações Mínimas: Programa Minha Casa, Minha Vida.
Disponível em: <http://www1.caixa.gov.br/download/asp/ent_hist.asp?download=41457> Acesso em:
Março, 2012.(a)

_____. Cartilha Programa Minha Casa Minha Vida. 2012. Disponível em: <http://downloads.caixa.
gov.br/_arquivos/habita/mcmv/CARTILHACOMPLETA.PDF> Acesso em: Março, 2012(b).

CUNHA, Ana Paula (coord.). Cartilha de Acessibilidade a edificações, espaços e equipamentos


urbanos. Caixa Econômica Federal. Junho 2010. 47p.
RODOBENS. _______. Disponível em <http://www.rodobens-
rni.com.br/Empreendimentos/empreendimento-terra-nova-palhoca.aspx> Acesso em: Março, 2012.

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