Professional Documents
Culture Documents
1. DADOS BIOGRÁFICOS
3. APORTE TEÓRICO
• O autor expõe as influências do pensamento de Sartre, que prefacia a obra,
especialmente a questão da liberdade na visão do filósofo. Também intelectuais como
Marx, Engels e Césaire.
Neste capítulo, o autor vai pensar a violência como tema central das relações de poder
e domínio que caracterizam o sistema de colonização. Uma violência a qual não se dá apenas
no âmbito físico, ainda que também neste, é impressa nos corpos dos sujeitos colonizados a
fim de tirar-lhes a humanidade. Na realização deste processo uma série de instituições
geradoras e que constituem a “máquina colonial” são utilizadas para o alcance desses
propósitos de inferiorização do ‘outro’, isto é, do autóctone e/ou aquele que não é europeu tais
como a polícia colonial, a igreja institucionalizada etc.
A descolonização é verdadeiramente a criação de homens novos. Mas essa criação não recebe
a sua legitimidade de nenhuma potência sobrenatural: a “coisa” colonizada se torna homem
no processo mesmo pelo qual ela se liberta. (p. 53)
Apresentada em sua nudez, a descolonização deixa adivinhar através de todos os seus poros,
balas vermelhas, punhais sangrentos. Se os últimos devem ser os primeiros, só pode ser em
consequência de um enfrentamento decisivo e mortífero dos dois protagonistas. Essa vontade
afirmada de trazer os últimos para o começo da fila [...] só pode triunfar se são jogados na
balança todos os meios, inclusive, é claro, a violência. (p. 53)
Esse mundo compartimentado, esse mundo cortado em dois é habitado por espécies
diferentes. A originalidade do contexto colonial é que as realidades econômicas, as
desigualdades, a enorme diferença dos modos de vida não conseguem nunca mascarar as
realidades humanas. Quando se percebe na sua imediatez o contexto colonial, é patente que
aquilo que fragmenta o mundo é primeiro o fato de pertencer ou não a tal espécie, a tal raça.
Nas colônias, a infraestrutura econômica é também uma superestrutura. A causa é
consequência: alguém é rico porque é branco, alguém é branco porque é rico. É por isso que
as análises marxistas devem ser sempre ligeiramente distendidas a cada vez que se aborda o
problema colonial. [...] A espécie dirigente é primeiro aquela que vem de fora, aquela que não
se parece com os autóctones, “os outros”. (p. 56-57)
Neste segundo capítulo Fanon se propõe a verificar as formas pelas quais os discursos
coloniais ainda se encontram presentes na organização política das ex-colônias europeias
mesmo aqueles onde o processo de descolonização já foi realizado. Para isso o autor observa
as divisões existentes entre os indivíduos da “cidade” e os do “campo” e como o processo
político invisibiliza este último. Ao analisar os sindicatos no contexto urbano e a lideranças
que os compõem, bem como o projeto nacionalista ali desenvolvido, o autor percebe um sutil
alinhamento a propostas eurocêntricas, ao ‘marginalizar’ o camponês da política nacional. Há
nesse caso uma falta de espontaneidade nesses países colonizados em libertar-se dessas
concepções europeias propor outras formas de gerir seu ‘próprio mundo’ a partir deles
mesmos.
Os partidos nacionalistas não compreendem êsse fenômeno nôvo que lhes precipita a
desagregação. O súbito aparecimento da insurreição nas cidades modifica a fisionomia da
luta. As tropas colonialistas, que se tinham dirigido em massa para os campos, voltam
precipitadamente para as cidades a fim de garantir a segurança das pessoas e dos bens. A
repressão dispersa as próprias fôrças, o perigo está presente por tôda a parte. É o solo
nacional, é a totalidade da colônia que entram em transe. Os grupos camponeses armados
assistem ao afrouxamento da opressão militar. A insurreição nas cidades é um balão de
oxigênio inesperado.
Os dirigentes da insurreição que vêem o povo entusiasta e ardente desferir golpes resolutos na
máquina colonialista reforçam sua desconfiança com respeito à política tradicional. Cada
vitória obtida legitima-lhes a hostilidade ao que daí por diante passam a chamar de gargarejo,
verbalismo, agitação estéril. Passam a odiar a "política", a demagogia. Por isso é que no início
assistimos a um verdadeiro triunfo do culto da espontaneidade.
As múltiplas revoltas nascidas nos campos atestam, por tôdas as partes em que surgem, a
presença ubiqüitária e geralmente densa da nação. Cada colonizado em armas é um pedaço da
nação doravante viva. Tais revoltas põem em perigo o regime colonial, mobilizam-lhe as
fôrças ao mesmo tempo que as dispersam, ameaçando a todo instante asfixiá-las. Obedecem a
uma doutrina simples: façamos com que a nação exista. Não há programa, não há discurso,
não há resoluções, não há tendências. O problema está enunciado com clareza: é necessário
que os estrangeiros partam. Constituamos uma frente comum contra o opressor e reforcemos
essa frente com a luta armada. (p. 107-108. Edição de 1968).
O imperialismo que hoje se bate contra uma autêntica libertação dos homens abandona por
tôda a parte germes de podridão que temos implacavelmente de descobrir e extirpar de nossas
terras e de nosso cérebro.
Por ser uma negação sistematizada do outro, uma decisão furiosa de recusar ao outro qualquer
atributo de humanidade, o colonialismo compele o povo dominado a se interrogar
constantemente: "Quem sou eu na realidade?” (p. 211-212)