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RESUMO
Este artigo apresenta um conjunto de argumentos, estratégias e técnicas para o ensino da filosofia e
princípios do Desenho Universal na formação profissional de arquitetos e urbanistas. Neste sentido,
almeja atender as prerrogativas do Decreto brasileiro nº 5.296 de 2004 que promove a inclusão de
temas relativos ao Desenho Universal nas diretrizes curriculares dos cursos de graduação em
Arquitetura e Urbanismo.
ABSTRACT
This paper presents a set of arguments, strategies and techniques for teaching the philosophy and
principles of Universal Design on professional training of architects and planners. In this regard, aims
to meet the prerogatives of Brazilian Decree No. 5296/2004 which promotes the inclusion of topics
related to universal design in curriculum guidelines for undergraduate courses in Architecture and
Urbanism.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Mace et al. (1998), para que a filosofia do Universal Design surgisse foram
necessárias mudanças demográficas, legislativas, econômicas e sociais com relação a
adultos, idosos e a pessoas com deficiência. Abaixo estão listados um conjunto de
argumentos que podem ser utilizados para a defesa da necessidade do Desenho Universal
nos projetos de arquitetura e urbanismo.
As mudanças do Século XX fizeram com que os cidadãos ficassem cada vez mais
conscientes e passem a exigir o seu direito de ir e vir, como no Architectural Barrier Act de
1968, nos Estados Unidos da America que requeria a acessibilidade em todos os prédios
projetados, construídos, reformados e alugados com recursos federais. Nesta época, estava
em voga o Barrier-Free-Design ou o Design Livre de Barreiras com o objetivo de eliminar os
obstáculos arquitetônicos, promovendo o acesso aos deficientes, porém de forma exclusiva,
o que reforçava a segregação, (MACE et al., 1998).
Diante do cenário demográfico países começaram a alterar leis, normas e políticas públicas
visando à integração da pessoa com deficiência na sociedade. A década de 80 do século
XX, marca o início de uma revolução legislativa, com o desenvolvimento de normas técnicas
de acessibilidade a partir de estudos ergonômicos, emendas constitucionais, convenções e
declarações internacionais visando o acesso à escola e ao trabalho, leis e decretos.
No Brasil, um marco decisivo foi a constituição de 1988 com diversos artigos voltados a
questão da pessoa com deficiência. Em 1989 foi elaborada da Lei nº 7.853, que referendou
a Convenção 159 da Organização Internacional do trabalho. Em 1991, foi criada a Lei nº
8.213, que estabeleceu cotas de contratação para empresas privadas com mais de cem
funcionários. Em 1999, é editado o Decreto nº 3.298, regulamentando a Lei nº 7.853,
fixando uma Política Nacional para a Integração de Pessoas Portadoras de Deficiência no
mercado de trabalho e na sociedade. Em 2000, é Criada a Lei nº 10.048, que dá prioridade
ao atendimento as pessoas portadoras de deficiência, idosos e gestantes e é sancionada a
Lei nº 10.098, que estabelece normas e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
O Brasil possui uma Norma técnica de Acessibilidade das mais avançadas do mundo a NBR
9050 da ABNT (2004). Sua primeira foi em 1985, a segunda em 1994, ambas focavam
apenas pessoas com deficiência. Na versão de 2004, é incorporado o termo Desenho
Universal, ou seja, é voltada para todos, sem segregação. Ainda em 2004, surge o Decreto
Nº 5.296 que regulamenta a Lei nº 10.048 e a Lei nº 10.098, e também incorpora o termo
Desenho Universal.
Em seu Art. 10 coloca que: a concepção e a implantação dos projetos arquitetônicos e
urbanísticos devem atender aos princípios do Desenho Universal, tendo como referências
básicas as normas técnicas de acessibilidade da ABNT, a legislação específica e as regras
contidas neste Decreto. Cabendo ao Poder Público promover a inclusão de conteúdos
temáticos referentes ao Desenho Universal nas diretrizes curriculares da educação
profissional e tecnológica e do ensino superior dos cursos de Engenharia, Arquitetura e
correlatos. Além de incentivar programas e linhas de pesquisa com temas voltados para o
Desenho Universal, nos organismos públicos de auxílio à pesquisa e de agências de
fomento.
O Art. 11 estabelece que: a construção, reforma ou ampliação de edificações de uso público
ou coletivo, ou a mudança de destinação para estes tipos de edificação, deverão ser
executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis à pessoa portadora de deficiência
ou com mobilidade reduzida. Cabendo às entidades de fiscalização profissional das
atividades de Engenharia, Arquitetura e correlatas anotarem a responsabilidade técnica dos
projetos e exigir a responsabilidade profissional declarada e ao poder público a aprovação
ou licenciamento ou emissão de certificado de conclusão de projeto arquitetônico ou
urbanístico só com o atestado de atendimento às regras de acessibilidade previstas nas
normas técnicas de acessibilidade da ABNT, na legislação específica e no referido Decreto-
Lei, (BRASIL, 2004).
Diante deste quadro demográfico, social, legal e com perspectivas econômicas de abranger
um público maior, com um mesmo produto de uso irrestrito, com menos despesa, sem
rótulos, atrativo e mais negociável levou a fundação do movimento do Universal Design nos
anos 80 do século XX, nos Estados Unidos da América (MACE et al. 1998). No Brasil, este
conceito só seria formalizado, com o Decreto nº 5.296 de 2004. E mesmo assim, ainda é
comum no Brasil, o desenvolvimento de projetos e reformas de caráter especial, caros e
pautados somente nas normas técnicas e mesmo assim com recorrentes erros de
interpretação.
Estimativas da National Comission on Architectural Barriers to Rehabilitation of the
Handicapped relatam que se o projeto que for concebido adequado às condições de
acessibilidade sofrerá um acréscimo de 1% do valor da obra, e, por outro lado, se precisar
ser adequado depois de construído esse valor poderá alcançar 25%. Portanto, é muito mais
econômico conceber o projeto desde o princípio já com o Desenho Universal do que serem
feitas reformas posteriores por meio de exigências legais (MACE et al. 1998).
Positivos - Alunos que optam livremente por uma disciplina eletiva de Desenho Universal
ou um curso de aperfeiçoamento se mostram mais receptivos e sensíveis ao problema. Isto
pode facilitar o processo de assimilação natural dos conceitos e o de repensar a forma
tradicional de concepção do projeto de arquitetura e urbanismo. Alunos, que abraçam
livremente a filosofia do Desenho Universal, tornam-se profissionais engajados e ardentes
defensores.
Negativos – Sendo uma disciplina opcional, os professores de outras disciplinas não podem
cobrar de todos os alunos os conhecimentos específicos, nem uma solução de projeto
universal. Corre-se o risco de o aluno capacitado em Desenho Universal se desestimular
vendo que sua habilidade e esforço de conceber uma solução criativa e universal não é
devidamente valorizada, quando os professores permitem soluções com barreiras
arquitetônicas ou simples aplicações de normas.
Positivos – Desenho Universal pode ser ensinado de modo sutil ao longo de um conjunto
de disciplinas relacionadas ao projeto (desenho urbano, paisagismo, edificações, interiores e
intervenções). Esta estratégia permite que o aluno vá se sensibilizando e se capacitando
aos poucos, ao mesmo tempo em que reconhece a importância do tema que é tratado por
todos os professores.
Negativos – Esta dispersão do conhecimento, também pode dificultar a sensibilização,
enfraquecer os esforços e dar a impressão de que o Desenho Universal algo secundário ao
projeto. Para seu bom funcionamento depende de uma forte sensibilização, capacitação e
cooperação do corpo docente do curso.
Positivos – Pesquisas com temas voltados para o Desenho Universal contam com o
incentivo dos organismos públicos de auxílio à pesquisa e de agências de fomento de
acordo com o Decreto nº 5.296 de 2004. Ou seja, serão privilegiados por estarem de acordo
com uma política pública de interesse nacional. Pesquisa é uma ótima oportunidade de
aprofundar conhecimentos dos alunos, e gerar novos pesquisadores da área. As atividades
de extensão possibilitam que o aluno possa ver na prática os benefícios do Desenho
Universal e entrar em contato próximo com o usuário do projeto.
Negativos – Pesquisa e extensão são atividades que exigem o comprometimento de alunos
e não necessariamente são praticadas por todos. Esta estratégia depende muito da
implantação de outras estratégias, pois sem o apoio da sala de aula e a formação básica em
Desenho Universal as pesquisas e atividades de extensão podem se tornar superficiais, com
uma simples análise e aplicação de normas técnicas.
Todas as estratégias apresentadas podem funcionar corretamente e nada impede que os
cursos de arquitetura e urbanismo abracem mais de uma das estratégias descritas,
valorando os seus aspectos positivos. Para evitar os pontos negativos é necessário um forte
engajamento, cooperação e sensibilização dos professores envolvidos. O importante é que
o conhecimento seja passado e os futuros profissionais de Arquitetura e Urbanismo estejam
preparados para conceber projetos contemplando a universalidade de limitações e
habilidades dos seres humanos.
É uma das técnicas mais consagradas e difundidas. Ainda, pode ser enquadrada como um
recurso para sensibilização. O objetivo é levar o aluno a vivenciar situações de deficiência
na mobilidade e problemas de orientação espacial, simulando por algum instante as
dificuldades enfrentadas diariamente por pessoas com deficiência. Além, de sensibilizar
para os problemas, contribui para a identificação de barreiras arquitetônicas que não eram
percebidas. Conforme Cambiaghi (2007) é importante que a experiência tenha um percurso,
roteiro de atividades e papeis de cada aluno pré-definidos, e que depois possa ser feito uma
exposição e discussão da experiência vivenciada.
4.3 Passeios acompanhados (atividade prática)
Esta é uma classificação oficial que foi aprovada, por uma comissão interdisciplinar, para
uso internacional, pela qüinquagésima-quarta Assembléia Mundial de Saúde da OMS em
2001 (OMS, 2001). A classificação avalia a funcionalidade, não só através das estruturas e
funções anatômicas do corpo humano, mas também com um conjunto de domínios de
atividades, e a influência de fatores contextuais ambientais e individuais, que podem
constituir-se em barreiras e facilitadores. O intuito aqui e esclarecer os conceitos de
Capacidade (o que o individuo faz sem a influência de Fatores Ambientais) e Desempenho
(o que o individuo faz sobre a influência de Fatores Ambientais). Se o Desempenho é
inferior a Capacidade é porque estão presentes barreiras no ambiente físico (incluindo
arquitetura e paisagem), familiar, social, cultural em que conduz sua vida. Se o Desempenho
é maior que a Capacidade é porque estão presentes Facilitadores. Desse modo, ressalta-
se que profissionais que projetam processos, produtos e ambientes, como os arquitetos, são
também responsáveis pela saúde e qualidade de vida da população, ao lado dos
profissionais de saúde.
É solicitado ao aluno que identifique e registre soluções que enfatizem cada um dos sete
princípios do Desenho Universal, no seu dia a dia na cidade e no ambiente familiar. Podem
ser usados registros fotográficos ou croquis e folhas de checagem permitindo avaliar até que
ponto a solução arquitetônica atende cada um dos sete princípios. O intuito capacitar o
aluno a reconhecer e avaliar soluções de Desenho Universal e perceber que muitas delas já
estão presentes na nosso dia a dia.
Parte do conceito lançado por Ubierna (1999), aonde é enfatizado que a acessibilidade só e
realmente aproveitada se for aplicada em todos os âmbitos (espaço urbano, edificações,
transporte, e informações). Por exemplo, de nada adianta tornar edificações acessíveis se o
espaço urbano não é acessível e a edificação não será alcançada. Consiste em trazer
exemplos em que toda a acessibilidade foi comprometida por falha em apenas um elo desta
cadeia. Capacita a pensar na acessibilidade de forma sistêmica, abordando tanto a visão do
todo, como a atenção aos detalhes para que se garanta a acessibilidade em seus diversos
âmbitos.
A partir da leitura critica da NBR 9050 da ABNT (2004), solicitam-se aos alunos que façam
um plano mestre de acessibilidade, adotando-se, e se for caso, reinventando, de forma
criativa e contextualizada, os parâmetros normativos, propondo assim uma solução
universal. O intuito é evitar a aplicação mecânica da norma, sem compreender o porquê dos
parâmetros e utilizar a criatividade na hora de adaptar o local.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O intuito deste artigo foi defender, e descrever estratégias e técnicas para o ensino do
Desenho Universal no Curso de Arquitetura e Urbanismo. Que este texto contribua com o
dialogo entre professores e que incentive a divulgação de mais técnicas de ensino do
Desenho Universal. Longe de esgotar o assunto e as possibilidades didáticas e mesmo sem
o detalhamento das técnicas, esperasse ter contribuído com divulgação e consolidação
desta filosofia de projeto.
O Desenho Universal ainda é uma novidade no Brasil. Como toda novidade, que está em
evidência já é bastante comum encontrar trabalhos finais de graduação com títulos como:
uma casa universal, uma escola inclusiva, calçadas acessíveis... É natural e salutar que os
alunos se interessem pelo tema e defendam esta idéia, que ainda está se consolidando.
Foi assim que aconteceu quando surgiram, no Brasil, às primeiras edificações salubres/
higienizadas com instalações hidráulicas, no final do século XIX. Hoje, ninguém diz “vou
fazer um projeto de uma casa salubre com instalações hidráulicas” é suposto como um
requisito primário, que todas as casas, tenham uma higienização básica. A esperança é que
num futuro breve ninguém precise enfatizar que seu projeto é universal, pois isto já seria
considerado um pressuposto básico de toda e qualquer projeto arquitetônico e urbanístico.
Neste dia, o Desenho Universal estará definitivamente incorporado à concepção
arquitetônica.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS