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AVALIAÇÃO DE ACESSIBILIDADE EM EDIFICAÇÃO ESCOLAR:

ESTUDO DE CASO DO COLÉGIO ESTADUAL RAINHA DA PAZ DE ALTO


PARANÁ/PR

CAMPOS, Rafael Alves de (1);


(1) Arquiteto Docente da Faculdade Ingá, Especialista em Execução de Obras Públicas
e-mail: arqrafaelcampos@gmail.com
SCOARIS, Rafael de Oliveira (2);
(1) Arquiteto Docente da Faculdade Ingá, Mestre em projeto de arquitetura
e-mail: rafaelscoaris@ibest.com.br

RESUMO

Para eliminar as barreiras arquitetônicas das escolas públicas é imprescindível instrumentalizar os


profissionais da construção civil com métodos práticos e seguros de avaliação de acessibilidade. Este
artigo analisou as condições espaciais do Colégio Estadual Rainha da Paz de Alto Paraná, utilizando o
método de vistoria eletrônica da Prefeitura de São Paulo com o objetivo de testar a sua aplicabilidade à
rotina de trabalhos da Secretaria de Obras Públicas do Paraná. O método se mostrou eficiente e o
software de avaliação revelou-se uma potencial ferramenta para auxiliar no desenvolvimento de projetos
de adequação de ambientes escolares à NBR 9050.

ABSTRACT (11 PTS, NEGRITO)

To eliminate architectural barriers in public schools is essential to equip professionals in the construction
industry with practical methods and safe accessibility evaluation. This paper analyzed the spatial
conditions of the State School Rainha da Paz of Alto Paraná city using the method of electronic survey of
Municipality of São Paulo in order to test its applicability to routine work of the Department of Public Works
of Paraná. The method is efficient and evaluation software a potential tool to assist in the development of
projects to adapt to the school environment NBR 9050.

1. INTRODUÇÃO

Segundo dados de IBGE de 2010, 45,6 milhões de brasileiros vivem com algum tipo de
deficiência visual, auditiva, mental ou física. Existem atualmente diversas leis que visam garantir
os direitos destas Pessoas com Deficiência (PCD’s), dentre elas estão as Diretrizes Nacionais
para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001), que definem que as escolas
devem promover a inclusão de alunos PCD’s na rede regular de ensino pública. O Estado do
Paraná, em consonância com estas diretrizes, publicou o documento com a Política Estadual de
Educação Especial (DEEIN, 2010) no qual afirma que para promover a inclusão se faz
necessária a imediata adequação do método de ensino e dos ambientes convencionais.
A normatização difere da realidade na qual se encontram as escolas, que muitas vezes
apresentam diversas barreiras arquitetônicas, pois, a grande maioria foi construída anos antes
da aprovação de normas como a NBR 9050, de 2004. Essas edificações vêm passando por
adaptações, porém, em muitos casos, realizadas sem o devido acompanhamento profissional e
nem sempre atendendo às normas e necessidades dos usuários. Apesar do avanço da
legislação a favor da inclusão, tanto as escolas como alguns profissionais da construção civil
não estão preparados para promovê-la. É o que afirma Bins Ely et al. (2006), que relaciona o
desconhecimento e despreparo de profissionais da construção civil para elaborar projetos de
espaços acessíveis à ausência da obrigatoriedade da matéria específica de acessibilidade nos
currículos das universidades, assim como a falta de equipamentos para avaliar os edifícios.
A Secretaria de Estado de Obras Públicas do Paraná (SEOP) é responsável pela construção e
reforma de todos os edifícios públicos estaduais, portanto, é imprescindível que os profissionais
da secretaria estejam capacitados neste sentido. No entanto, a realidade que pôde ser
comprovada a partir da experiência obtida no cotidiano da SEOP1, é a de que os funcionários
não utilizavam técnicas padronizadas para avaliação dos edifícios, além disso, as obras de
reforma não apresentavam projetos ou algum tipo de relatório citando as normas de
acessibilidade a serem atendidas.
A partir disto, criou-se o interesse em buscar um método de avaliação para auxiliar no cotidiano
de trabalho da SEOP e melhorar a qualidade dos projetos de adequação desenvolvidos. Optou-
se por avaliar a metodologia de análise baseada no Software de vistoria eletrônica2
desenvolvido pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da
Prefeitura de São Paulo e, como objeto de estudo, foi escolhido o Colégio Estadual Rainha da
Paz em Alto Paraná. A avaliação teve o intuito de testar a funcionalidade do método e
experimentar a utilização no cotidiano da SEOP. O levantamento in loco foi realizado utilizando-
se do roteiro de levantamento gerado pelo programa e, posteriormente, processado no mesmo,
o que resultou em um relatório minucioso das adequações necessárias para adequação à
NBR9050.
Visando aproximar o pesquisador da percepção do usuário com relação ao espaço, também foi
realizado um levantamento qualitativo intitulado “passeio acompanhado” (DISCHINGER, 2000),
método que se mostrou eficaz, no entanto, não será abordado neste artigo, pois, a
complexidade e grandeza dos resultados necessitam de um novo artigo para a divulgação
deles.
Ambos os métodos testados se mostraram eficientes e provaram que a utilização dos mesmos
pela SEOP seria de grande valia para aperfeiçoar o processo de levantamento e provavelmente
melhorar a qualidade das obras de adequações a serem realizadas. A avaliação a respeito da
instituição foi de que a mesma passou por alguns processos de adequação no passado que
visaram solucionar problemas relacionados à circulação, no entanto, as soluções foram
realizadas de maneira superficial e, por vezes, inadequadas às normas. Faz-se necessária a
adequação da escola à NBR9050 assim como a aplicação do conceito de desenho universal
que respeita a individualidade de cada cidadão, visando atender a maior gama o possível de
especificidades para promover a verdadeira inclusão nas escolas.

1
Este artigo foi originado a partir do trabalho de conclusão do curso de Especialização em Construção de Obras
Públicas da Universidade Federal do Paraná que tem dentro de seu currículo o desenvolvimento de atividades
práticas de residência técnica na Secretaria de Estado de Obras Públicas do Paraná (SEOP), que ocorreram entre os
anos de 2008 a 2010.
2
Versão 1.05 do software Vistoria Eletrônica de 2010, disponível em (SÃO PAULO, 2010).
2. PRESUPOSTO TEÓRICO

Antes de realizar a análise de acessibilidade nas escolas se fez necessário entender como a
política de educação do estado previa o processo de inclusão de alunos PCD’s nos colégios e
explanar a respeito do conceito de desenho universal.

2.1 LEGISLAÇÃO E DIRETRIZES EDUCACIONAIS

Para alcançar a cidadania plena é necessária uma base educacional sólida. Para atingi-la,
existem diversas normas e leis que enfocam o direito à educação por Pessoas com Deficiência
(PCD’s): A constituição Federal (1988); o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90);
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96); Declaração Mundial de Educação para
Todos (TAILÂNDIA, 1990); Declaração de Salamanca (ESPANHA, 1994). Todas estas normas
foram utilizadas como base para o Plano Nacional de Educação que lista vinte e sete objetivos
e metas para garantir a educação inclusiva (BRASIL, lei n.10.172, 2001, p. 10).
No Paraná, a política estadual de educação especial na perspectiva da inclusão afirma que o
estado deverá promover a Inclusão Responsável “onde a inclusão seja feita mediante a
capacidade dos alunos de se desenvolver e da escola de providenciar as condições
necessárias ao seu atendimento, para que o aluno possa se manter na escola e alcançar o
objetivo da formação.” (DEEIN, 2010, p. 5)
A cidade de Alto Paraná, sede da escola analisada, está inserida no Núcleo Regional de
Educação de Paranavaí que atende a vinte e uma cidades do extremo noroeste do estado.
Segundo o “Levantamento estatístico – Rede Estadual e Municipal de Ensino” (NR PVAI, 2010)
criado pelo departamento de educação especial e de inclusão educacional (DEEIN) existem
1.832 alunos com algum tipo de deficiência, inclusos no sistema de ensino público da regional.
Com relação à infraestrutura espacial para atendimento a estes alunos inclusos, a Secretaria de
Estado de Obras da Regional de Paranavaí, informou que nos últimos cinco anos anteriores à
pesquisa não foram realizadas obras específicas para adaptação de acessibilidade em colégios
da regional, sendo realizados pontualmente construções de rampas ou adequação de sanitários
em alguns colégios, porém, sem a contextualização geral de acessibilidade que é exigência
mínima para uma efetiva inclusão.

2.2 DESENHO UNIVERSAL

Para atender a legislação e os intuitos de inclusão educacional do estado, faz-se ímpar que a
escola apresente condições físico-espaciais para atender dignamente os alunos e garantir a
multiplicidade de atividades a se desenvolver no ambiente de ensino. Estas adequações devem
ser aplicadas de modo a atender a população em toda a sua gama de diversidade.
Em 1963, em Washinton, é publicado pela associação Eastern Paralyzed Veterans Association
um manual intitulado “Barrier-Free Design”, que apresentava normas e parâmetros técnicos de
projeto para um Desenho Livre de Barreias (BENVEGNÚ, 2009). Surge ali o embrião do
conceito de Desenho Universal que passa por diversas modificações até que uma equipe de
pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte - composta por arquitetos, designers
industriais e engenheiros - definem os sete princípios básicos:
 A informação deve ser PERCEPTÍVEL – Deve-se comunicar eficazmente a informação
possibilitando o uso para pessoas com limitações sensoriais;
 Deve ser de uso SIMPLES E INTUITIVO – fácil de compreender para qualquer pessoa
independente da língua ou grau de formação, com pouco ou nenhuma complexidade;
 USO EQUIPARÁVEL – deve ser possível a utilização por pessoas com diferentes capacidades,
promovendo a segurança e autonomia a todos;
 USO FLEXÍVEL – pode ser utilizado para variados tipos de preferências e habilidades;
 TOLERANTE AO ERRO – prever a diminuição de risco no caso da utilização incorreta e previne
futuros erros;
 POUCA EXIGÊNCIA DE ESFORÇO FÍSICO – de fácil utilização, minimizar as ações repetitivas e
uso de esforço razoável.
 ESPAÇO ADEQUADO – prever espaços de acesso e uso que incluam o dimensionamento básico
de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
(BENVEGNÚ op cit./ PEREIRA, 2007 / SILVA et al. 2008)
O princípio básico é o atendimento a todos os tipos de usuários. A diferença fundamental está
na concepção de projetos, onde a ideia não é somente eliminar barreiras e adaptar espaços
para atender diferentemente cada tipo de pessoa, mas sim respeitar a diversidade prevendo
espaços que atendam a maior quantidade de pessoas sem necessitar de soluções específicas.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Tratou-se de uma pesquisa com abordagem Multimétodos, que é aplicação de mais de um


método para abordar uma mesma questão, tendo como conclusão uma análise mais
aprofundada nos estudos pessoa-ambiente3 (EPA) devido à integração dos resultados oriundos
de diferentes estratégias de pesquisa (GÜNTER, 2010).
Foram utilizados métodos de pesquisa Descritiva e Passeio Acompanhado. Segundo Silva
(2001), a pesquisa descritiva “visa descrever as características de determinada população ou
fenômeno. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e
observação sistemática”. Para isto, foi aplicado o levantamento através do roteiro básico
desenvolvido pela SMPED da Prefeitura de São Paulo aplicado ao programa de vistoria
eletrônica da mesma.

3.1 ROTEIRO BÁSICO DE VISTORIA TÉCNICA DA PREFEITURA DE SÃO PAULO

Este método de levantamento trata-se de um roteiro básico para vistoria intitulado “Critérios de
avaliação de acessibilidade em edificações” que foi desenvolvido pela Prefeitura Municipal de
São Paulo através da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida
(SMPED) em parceria com a Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA).
O site da Prefeitura de São Paulo define que “a Secretaria tem como missão promover a
transformação social necessária à inclusão das pessoas com deficiência e mobilidade
reduzida.” (SÃO PAULO, 2013). A CPA instituída desde o ano de 2000, é o órgão consultivo e
deliberativo nas questões de acessibilidade da Prefeitura, composto por pessoas das diversas
secretarias e órgão municipais, representações e entidades civis, segundo informações do sítio
da prefeitura de São Paulo, cabe a ela “sugerir, checar e fiscalizar se os projetos, novos e
antigos, contemplam os acessos necessários.” Assim como cabe a ela fornecer o ‘Selo de

3
A múltipla interface com áreas vizinhas e a falta de uma teoria unificante são temas recorrentes nas auto-reflexões
da Psicologia Ambiental. A relação de estudos da Psicologia integrada com áreas como Arquitetura, Geografia,
Biologia, entre outras, tem levado à utilização da expressão Estudos Pessoa-Ambiente (EPA). GUNTER et al.
Acessibilidade”4. Existem três grupos de trabalho: a) edificações, b) vias públicas, logradouros,
mobiliário urbano e c) transportes.
Para obter o selo de Acessibilidade os projetos ou as edificações construídas, passam pelo
processo de vistoria, a partir do roteiro básico disponibilizado pela prefeitura que é base do
Software de vistoria eletrônica (SÃO PAULO, 2010). São avaliados requisitos referentes a: a)
circulação horizontal e vertical, b) portas, c) janelas, d) sanitários, e) vestiários, f) mobiliário
interno, g) estacionamento e h) piscinas. Em relação ao passeio público, os quesitos avaliados
são definidos na legislação da cidade. O Decreto Nº 45.904, de 2005, que regulamenta o artigo
6º da Lei nº 13.885, de 2004, estipula normas para: passeio, estacionamento, mobiliário urbano
e vegetação.
O programa eletrônico pode ser baixado gratuitamente no site da Prefeitura e tem como
objetivo possibilitar uma verificação rápida dos princípios de acessibilidade em edificações e
vias públicas construídas ou em estágio de projeto. Ele funciona em duas etapas, no primeiro
momento é gerado um roteiro de vistoria com os requisitos a serem analisados. São questões
como se o tipo de piso utilizado é antiderrapante, qual altura de corrimão, e assim por diante.
Em um segundo momento, os dados levantados devem ser inseridos no software que processa
as informações e gera um relatório minucioso com orientações para adequação da edificação
às normas de acessibilidade. O programa é voltado para profissionais da área da construção
civil, no entanto, também permite a utilização por leigos.
Ao todo o programa apresenta dezoito tópicos a serem avaliados e mediante o tipo de
edificação ele seleciona os itens para análise, esta sugestão pode ser acatada pelo usuário ou
não, pois o programa permite acrescentar ou retirar itens que se deseja analisar. São eles:

1. Passeio Público 7. Mobiliário 13. Locais de Reunião


2. Acessos 8. Sanitários 14. Locais de Refeição
3. Circulação Horizontal e Vertical 9. Estacionamento 15. Locais de Exposição
4. Portas, Janelas e Dispositivos 10. Cozinhas 16. Locais de Hospedagem
5. Equipamentos de Auto-Atendimento 11. Provadores 17. Locais de Saúde
6. Esporte Lazer e Turismo 12. Locais de Leitura 18. Locais de Ensino

(São Paulo, 2010)


Para a análise de escolas, o programa sugere que se avalie os tópicos referentes ao Passeio
Público, Acessos, Circulação Horizontal, Circulação Vertical, Portas, Janelas e dispositivos,
Sanitários, Mobiliário, Esporte e Lazer e Locais de Ensino. Como se trata de uma edificação
térrea, não se aplica o tópico referente à Circulação Vertical, além desse, também foram
desconsiderados os tópicos referentes a Passeio Público e Mobiliário, pois a SEOP não presta
serviços a este respeito. Foram acrescentados na avaliação os tópicos Local de Refeição e
Locais de Leitura, pois a escola possui refeitório e biblioteca. Resultando, portanto, na análise
dos seguintes tópicos: acessos, circulação horizontal, portas, janelas e dispositivos, sanitários,
esporte e lazer e locais de ensino, locais de refeição e locais de leitura.

4
O Selo de Acessibilidade – adesivo de 17,5 cm x 25 cm – atesta que a edificação é adequada para pessoas com
deficiência, conforme o estabelecido no Decreto 45.552/2004, contemplando todas as normas de acessibilidade
especificadas em lei (Disponível em www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/pessoa_com_deficiencia., visitado em
03/03/2012)
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

A instituição avaliada é o Colégio Estadual Rainha da Paz da cidade de Alto Paraná, extremo
noroeste do Estado. Atende a 700 alunos da cidade e região que cursam ensino médio ou
cursos técnicos de administração e espanhol. O colégio de 1960 foi ampliado diversas vezes,
sendo a última ampliação a construção da quadra coberta em 2009.

Figura 1: Planta Baixa Colégio Estadual Rainha da Paz.


Fonte: Disponível em (CAMPOS, 2010).
No terreno de 6.750,00 m² existem cinco edificações, como pode-se ver na planta-baixa (Figura
1), o Bloco de Salas de Aula, Biblioteca, Casa do Zelador, Bloco de Cozinha/Depósito e
Quadras Esportivas (coberta e descoberta) somando 1.865,99m² construídos. O Bloco principal
de Salas de Aula tem 893,07m² e abriga sete salas de aula, uma sala de uso múltiplo, as salas
de orientação educacional, diretoria, secretaria, sala de professores, coordenação pedagógica,
sanitários, pátio coberto que funciona como refeitório e cozinha. A Biblioteca de 224,22m², além
de seu acervo, abriga um laboratório de informática. Um bloco de cozinha e depósito de
alimentos de 27,64m². A casa do caseiro de 61,16m² e duas quadras esportivas, sendo uma
delas coberta.
A escola passou por um processo de reforma em 2009 onde foram executadas obras de
reparos na cobertura, instalações elétricas, hidráulicas, readequação de banheiros, troca de
piso geral, entre outros serviços que custaram R$ 161.475,89. A única obra prevista
relacionada à acessibilidade foi criação de um sanitário universal.
No quadro funcional da escola existe um funcionário que possui mobilidade reduzida e que
enfrenta diariamente barreiras arquitetônicas, motivo pelo qual a diretoria do colégio fez um
requerimento ao núcleo de educação de Paranavaí, solicitando obras de adequação. O
processo chegou em Maio de 2010 na Secretaria de Estado de Obras Públicas na Regional de
Paranavaí que realizou o levantamento de obras necessárias para readequação que resultou
em um orçamento de R$ 6.670,00. Em entrevista, o funcionário da SEOP alegou que foi
quantificada uma rampa de acesso que vença o desnível do corredor do bloco principal até o
pátio interno, porém, não foi desenvolvido projeto arquitetônico da rampa, o que dificulta a
interpretação do orçamento, dificultando um controle de qualidade dos serviços requisitados.
4.2 RESULTADOS OBTIDOS ATRAVÉS DA VISTORIA TÉCNICA

O levantamento dos dados foi realizado no dia 08 de Outubro de 2010 por dois representantes
da Secretaria de Estado de Obras Públicas em um intervalo de aproximadamente 50 minutos,
utilizou-se do roteiro básico para se levantar as informações. Foi abastecido o software que por
sua vez gerou um relatório com mais de 50 páginas contendo fotos e normas. Não será
apresentado neste artigo o relatório completo devido à extensão do mesmo, será apresentado
um excerto do mesmo de modo a exemplificar o todo. Será mantida a ordem e formatação do
texto original visando expor com maior clareza o produto gerado pelo Software.

 Relatório de Vistoria Técnica Colégio Estadual Rainha da Paz 2010

Colégio Estadual Rainha da Paz -Ensino Médio


R. Estados Unidos, nº.2.443 - Alto Paraná / PR
representante da edificação: Michel Araújo Girondi
função do representante: Técnico Administrativo
telefone do representante: 44 34471647
vistoriado por: Arquiteto Rafael Alves de Campos
VT.2010.00-0001.D.AF .003.Colégio Estadual Rainha da Paz
Observações:
A vistoria foi gerada pela versão 1.05 do software Vistoria Eletrônica de 2010.
A vistoria foi realizada tendo como referência a NBR 9050/04 da ABNT.
Descrição
O Colégio Estadual Rainha da Paz localizado na cidade de Alto Paraná necessita de
adaptações para enquadrar-se às normas vigentes de acessibilidade, pois, além de ser uma
exigência da legislação federal, o colégio possui em seu quadro funcional um técnico
administrativo com deficiência motora que já sofreu acidentes de trabalho devido à inadequação
espacial. Este funcionário é Michel Girondi, que acompanhou a equipe no levantamento.
A instituição é constituída por cinco blocos, o primeiro de Salas de Aula tem 893,07 m², o
segundo de Serviço (cozinha e depósito) tem 27,54 m², o terceiro é a Biblioteca e Laboratório
de Informática com 224,22 m², o quarto com 61,16m² é a Casa do Zelador e o último é a
Quadra Esportiva com 660,00m².

CIRCULAÇÃO HORIZONTAL - Acesso Salas de Aula


O corredor avaliado dá acesso às salas de aula, secretaria, sanitários, pátio central e refeitório.
PISO
O piso está inadequado no seguinte item: - não é antiderrapante
Figura 1: Foto do corredor da escola com referência na planta-baixa do ângulo de visão.
Fonte: Disponível em (CAMPOS, 2010).l
Itens a serem atendidos:
Os pisos devem ter superfície regular, firme, estável e antiderrapante sob qualquer condição,
que não provoque trepidação em dispositivos com rodas (cadeiras de rodas ou carrinhos de
bebê). Admite-se inclinação transversal da superfície de até 2% para pisos internos e 3% para
pisos externos. Inclinações superiores a 5% são consideradas rampas e, portanto, devem
atender o item abaixo. Recomenda-se evitar a utilização de padronagem na superfície do piso
que possa causar sensação de insegurança (por exemplo, estampas que pelo contraste de
cores possam causar a impressão de tridimensionalidade).
CAPACHO - Em frente às salas administrativas
- Desnível resultante da instalação do capacho inadequado.
Itens a serem atendidos:
Os capachos devem ser embutidos no piso e nivelados de maneira que eventual desnível não
exceda 5mm.
DEGRAU - Degrau para salas de aula
O degrau está inadequado nos seguintes itens:

- não possui faixa de cor contrastante; - altura incorreta do desnível.

Itens a serem atendidos:


Todo degrau ou escada deve ter sinalização visual na borda do piso, em cor contrastante com a
do acabamento, medindo entre 0,02m e 0,03m de largura. Essa sinalização pode estar restrita
à projeção dos corrimãos laterais, com no mínimo 0,20m de extensão.
Devem ser evitados espelhos com dimensão entre 1,5cm e 15cm. Para degraus isolados
recomenda-se que possuam espelho com altura entre 15cm e 18cm.
RAMPA - Rampa do átrio para o corredor
A rampa está inadequada nos seguintes itens:

- o piso não é antiderrapante; - não há patamar a cada mudança de direção;


- não possui guia de balizamento; - não possui piso tátil de alerta.
- inclinação incorreta;
Inadequações do(s) corrimão(s):
- não possui corrimãos.
Itens a serem atendidos:
Os pisos devem ter superfície regular, firme, estável e antiderrapante sob qualquer condição,
que não provoque trepidação em dispositivos com rodas. Recomenda-se evitar a utilização de
padronagem na superfície do piso que possa causar sensação de insegurança (por exemplo,
estampas que pelo contraste de cores possam causar a impressão de tridimensionalidade).
As rampas devem ter inclinação de acordo com os limites estabelecidos na tabela 5 da NBR
9050/04 da ABNT. Para inclinações entre 6,25% e 8,33%, devem ser previstas áreas de
descanso nos patamares, a cada 50m de percurso.
Deve haver sinalização tátil de alerta no início e término de escadas e rampas, em cor
contrastante com a do piso, com largura entre 0,25m a 0,60m, afastada de 0,32m no máximo
do ponto onde ocorre a mudança do plano.
Quando não houver paredes laterais as rampas devem incorporar guias de balizamento com
altura mínima de 5cm, instaladas ou construídas nos limites da largura da rampa e na projeção
dos guarda-corpos.
Os corrimãos devem ser instalados em ambos os lados dos degraus isolados, das escadas
fixas e rampas.
Entre os segmentos de rampa, devem ser previstos patamares com dimensão longitudinal
mínima de 1,20m sendo recomendável 1,50m. Os patamares situados em mudanças de direção
devem ter dimensões iguais à largura da rampa.

4.3 AVALIAÇÃO DO PESQUISADOR SOBRE O MÉTODO

A aplicação do método de vistoria da SMPED/SP se mostrou eficiente, pois, com o auxílio do


roteiro foi possível seguir uma metodologia de levantamento organizada e identificar com maior
facilidade quais os elementos construtivos deveriam ser analisados visando identificar possíveis
barreiras arquitetônicas. O manual de vistoria sugeriu a análise sequencial dos seguintes
ambientes: acesso, circulação horizontal, portas, janelas e dispositivos, sanitários, locais de
refeição, locais de esporte, lazer e turismo e locais de leitura. Nestes ambientes foram
levantados dados referentes ao tipo de piso, largura de portas, tipos de maçanetas e dentre
outros. A realização de todo o processo de levantamento durou menos de uma hora, tempo
considerado curto pelo avaliador.
Posteriormente, as informações obtidas foram inseridas no software de vistoria eletrônica, o
programa se mostrou intuitivo e de fácil compreensão, pois, ele segue a lógica do roteiro
utilizado previamente, apresenta interfaces que representam desenhos em planta-baixa ou
elevações com campos vazios para serem preenchidos com os dados do levantamento. Em
caso de dúvida, ao passar o cursor do mouse sobre estes campos, o programa
automaticamente abre uma nota explicando qual informação deve ser inserida no mesmo
(figura 2). A utilização de linguagem técnica no software se justifica pelo fato de o programa ser
dirigido aos profissionais da construção civil.
Figura 2: Quadro de avaliação de instalação sanitária
Fonte: Software de Vistoria Eletrônica (São Paulo, 2010)
A única dificuldade encontrada na utilização do software se deu no momento final de
processamento de dados. O programa exigiu que todos os campos referentes aos dados da
obra fossem preenchidos, no entanto, devido ao fato de o mesmo ter sido desenvolvido na
prefeitura de São Paulo, algumas informações pedidas não puderam ser completadas, pois,
referiam-se exclusivamente àquele estado, como o campo referente a nome da subprefeitura.
O problema foi levado à SMPED/SP, que informou através da funcionária Daniella Bertini
Ferreira5, que o programa estava em processo de aperfeiçoamento e que para realizar a
conclusão do relatório seria preciso inserir todas as informações pedidas, mesmo sendo irreais.
Tendo isto em vista, os campos vazios foram completos com o dígito 1.
O programa montou um relatório da vistoria com mais de 50 páginas em arquivo de texto que
se mostrou bastante completo, todas as informações foram processadas e organizadas em
capítulos onde se elencam o título do componente, a parte a que se refere à avaliação, uma
foto, seguida das inadequações do elemento e dos itens a serem atendidos. Este relatório
poderia ser utilizado como manual para adequação da instituição às normas de acessibilidade,
servindo como base para a realização do orçamento de serviços, indicação de tarefas a serem
realizados pelos empreiteiros e posteriormente manual para fiscalização das obras pelos
profissionais da SEOP.
Em resumo, a utilização do método se mostrou rápido com uma ferramenta de processamento
de dados eficiente que carece de aperfeiçoamentos que, no entanto, é capaz de produzir
material de qualidade que poderia auxiliar consideravelmente a secretaria de estado de obras
públicas no processo de eliminação barreias arquitetônicas nas escolas

5. CONCLUSÃO

A pesquisa teve o intuito de analisar as condições de acessibilidade em uma instituição da rede


de ensino atendida pela Secretaria de Estado de Obras Públicas do Paraná através do estudo
de caso do Colégio Estadual Rainha da Paz da cidade Alto Paraná. Visando atender a diretriz

5
Arquiteta funcionária da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura de
São Paulo em Novembro de 2010.
estadual de ensino que prevê a adequação de ambientes escolares para promover a inclusão.
Para realizar a tarefa, buscou-se uma abordagem multimétodos, utilizando simultaneamente o
método de Pesquisa Descritiva e o de Passeio Acompanhado. O emprego de ambos objetivou
sanar as limitações respectivas e possibilitar uma abordagem mais ampla da questão. A
Pesquisa Descritiva que ficou a cargo da aplicação do “Roteiro Básico para Vistoria - critérios
de avaliação de acessibilidade em edificações” e o processamento dos dados no Software de
Vistoria Eletrônica desenvolvido pelo SMPED/SP baseado na NBR 9050/04.
O levantamento através do roteiro da Prefeitura de São Paulo possibilitou a organização
metódica da ação e a otimização do processamento de dados através do software de vistoria,
que criou um relatório com a descrição de todas as irregularidades e indicação de itens a serem
atendidos com relação à NBR 9050/04.
O colégio apresenta obstáculos arquitetônicos que se repetem sistematicamente em
edificações educacionais distribuídas ao longo do território brasileiro, como se comprovou
através do levantamento de estudos correlatos, são irregularidades de revestimentos de piso,
altura e tipo de comandos, altura do campo visual de janelas, ausência de rampas, etc. Existem
nestas escolas algumas características de acessibilidade, como rampas, corredores largos,
degraus chanfrados, sanitário com espaço para cadeira de rodas, etc. Contudo, visam atender
apenas a pessoas com deficiência motora (cadeirantes, etc) negligenciando o restante da
população a ser inclusa. Além disto, na maioria dos casos, mesmo estes elementos foram
executados erroneamente e não atendem às normas. Para colocar em prática as diretrizes
políticas de inclusão, é imprescindível que as edificações escolares se ajustem ao conceito de
desenho universal e que principalmente existam profissionais capacitados para projetar,
executar e fiscalizar as obras para que seja evitado o desperdício de verba pública em serviços
ineficazes.
Um dos objetivos do trabalho foi testar os métodos para avaliar a aplicação deles no cotidiano
de trabalho da Secretaria de Estado de Obras Públicas do Paraná devido a ser ela a
responsável pela adequação das edificações públicas. Acredita-se que a utilização destes
métodos pelos funcionários da SEOP seria de grande valia, pois, o software de vistoria
eletrônica poderia otimizar o processo de levantamento e elevar o controle de qualidade da
fiscalização dos serviços.
Seria necessário adequar o Software de São Paulo às características do Paraná, além de
promover a capacitação dos funcionários da SEOP a respeito de conceitos como desenho
universal, pessoas com deficiência, projeto de adequação inclusiva, entre outros. Estas ações
poderiam resultar na melhoria da qualidade dos serviços de adequação das instituições.
A pesquisa sobre acessibilidade é um tema atual e que pode ser explorado de maneira
inesgotável. Este trabalho deixa como sugestão para futuras pesquisas testar a aplicação do
método de levantamento de Vistoria Eletrônica da SMPED/SP em todos os escritórios regionais
da Secretaria de Estado de Obras Públicas do Paraná e realizar avaliação dos projetos de
adequação propostos pela Secretaria de Estado de Obras Públicas, assim como projetos de
escolas novas que estão processo de construção.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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mobiliário espaços e equipamento urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
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