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Faccio, N. B.;
Pereira, D. L. T.;
Pereira, F. L. T.;
Souza, H. C.;
Garcia, R. de C.;
Lino, T. A.;
Di Baco, H. M.;
Lopes, P. R.
Resumo: O Projeto “A Pré-História Contada Por Meio dos Objetos” é parte integrante do
Núcleo de Ensino da FCT/UNESP. Este Projeto teve início no ano de 2006 e tem
por objetivo divulgar os conhecimentos produzidos no âmbito do Projeto de
Pesquisa cadastrado no CNPq, sob o título “Arqueologia Guarani”. Entre as ações
produzidas podemos citar: 1) elaboração e distribuição de textos didáticos sobre a
pré-história do Oeste Paulista; 2) realização de palestras sobre “O período pré-
histórico do Oeste Paulista”; 3) apresentação de vídeo; 4) organização e
apresentação de exposições itinerantes de peças arqueológicas e 5) realização de
oficinas em argila, utilizando técnicas indígenas. Este artigo trata do relato de um
projeto em vigência, portanto, os resultados são parciais.
HISTÓRICO
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Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente, FCT/UNESP, área de Ciências Humanas. Etnologia e Etnografia do
Brasil. Projeto do Núcleo de Ensino, nfaccio@terra.com.br
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Os textos preparados e disponibilizados, as palestras, os vídeos, as exposições
itinerantes e as oficinas em argila são ações integradas que buscam mostrar, para a clientela
alvo, a história de grupos indígenas por meio dos elementos de sua cultura material
conservados nos sítios arqueológicos. Depois do trabalho na escola, o professor tem o material
e a metodologia utilizada para trabalhar nos próximos anos com outras turmas. Diante das
atuais dificuldades que enfrentam as escolas públicas de ensino fundamental e médio, a
Universidade não pode deixar de contribuir, na forma de ações.
Nesse sentido, temos como foco a relação ambiente e tecnologia, a função dos
elementos presentes na cerâmica guarani, o significado dos motivos pintados ou incisos nas
faces dos vasos cerâmicos e por fim, uma tentativa de traçar um panorama, ainda que de
forma preliminar, do que a oleira guarani produziu na área do Oeste Paulista.
DESENVOLVIMENTO
O texto distribuído nas escolas (20 páginas) foi elaborado pela coordenadora do
projeto e serve como base para os professores das escolas usarem em suas aulas (Foto 1).
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O texto, elaborado pela coordenação do Projeto do Núcleo de Ensino,
aborda a pré-história do Oeste Paulista e serve de base para aulas das disciplinas
História e Geografia. Foram distribuídos 6.000 textos, até o momento, na forma
impressa, nas escolas públicas de ensino fundamental e médio. O texto na forma digital
é disponibilizado para as coordenações das escolas alvo do projeto e para outras
escolas, quando solicitado. De acordo com as dúvidas ou sugestões dos professores e/ou
alunos do ensino fundamental, o texto é revisado e/ou complementado.
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Durante as palestras muitas perguntas são feitas pelos alunos, o que demonstra
grande interesse pelo tema. No pátio das escolas são expostos os artefatos líticos elaborados
por povos caçadores-coletores e material cerâmico/pedra polida, confeccionados por povos
horticultores-ceramistas. A presença das peças arqueológicas desperta o interesse dos alunos
para a funcionalidade dos instrumentos e para o reconhecimento da genialidade do grupo
humano, muitas vezes classificados erroneamente como primitivos.
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No término das etapas anteriormente descritas, passamos para a realização da
oficina em argila.
Os tipos mais comuns são os decorados com técnicas plásticas, realizadas com
as unhas (unguladas), com as pontas dos dedos (corrugadas), com auxílio de objetos como
sabugo de milho (escovadas) ou espatulas (entalhado). Essas decorações são realizadas logo
após a confecção do vaso, enquanto a argila está mole. O entalhe realizado por esse grupo
indígena estão sempre localizados no lábio do vaso.
As decorações pintadas são realizadas na parte interna e/ou externa dos vasos,
respeitando a forma. Nos pratos e tigelas rasas é comum a pintura nas faces interna e externa.
Já nas tigelas fundas e nos vasos profundos o comum é a pintura na face externa. No caso dos
vasos carenados, a única parte pintada costuma ser a superior, do ombro até os lábios, de
forma policrômica.
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Usualmente, a pintura preta ou vermelha é aplicada sobre engobo branco
formando uma diversificada gama de desenhos geométricos. Os desenhos são constituídos por
linhas ou faixas, retas ou curvas.
A queima dos vasos foi realizada em fornos a céu aberto, por isso as paredes
nunca são totalmente oxidadas. Quanto às classes de vasilhas, podemos destacar as panelas
para cozinhar (yapepó, figura 1), as caçarolas para cozinhar (naetá, figura 2), as jarras para
bebidas em geral, especialmente bebidas fermentadas alcoólicas (cambuchí, figura 3), os
pratos para comer (ñaembé ou teembiru, figura 4) e as tigela para beber (cambuchi caguaba,
figura 52. Cada uma dessas formas possui uma função distinta e por issofornecem
informações sobre o preparo dos alimentos em cada sítio.
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As formas apresentadas, nas figuras de 1 a 5) foram adaptadas de Brochado & Monticelli, 1994.
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A oficina cerâmica também serve para se refletir sobre a importância dos vasos
cerâmicos na vida dos povos sedentários que, com o advento da agricultura, encontraram,
nestes recipientes, um meio prático e eficaz para o armazenamento de alimentos e bebidas.
Além do armazenamento, a cerâmica também serviu para cozinhar ou torrar alimentos.
Para a realização das oficinas de argila, os alunos das Escolas contaram com a
disposição dos materiais de trabalho, como argila branca, copos plásticos, palitos de dente e
papelão. Dessa maneira, a oficina de argila possui às seguintes etapas:
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1) preparação do bloco de argila;
2) preparação do rolete;
3) colocação do rolete I (base);
4) colocação do rolete II (parede);
5) junção dos roletes;
6) alisamento da parede;
7) decoração.
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CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A Professora Maria Estela de Almeida (da Escola Estadual Doutor José Foz de
Presidente Prudente) fez o seguinte relato: “aprendi a usar o espaço da escola e o seu entorno,
a ensinar a história do índio de uma forma que convence o aluno”.
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