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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS


Departamento de Engenharia Química

N° XXX

G
Q Trabalho de Conclusão de
Curso

I AVALIAÇÃO DO RISCO RADIOATIVO DE ÁGUAS


MINERAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DO
RECIFE, NORDESTE DO BRASIL.

Crescêncio Andrade Silva Filho


Aluno

Orientador(es):Profa. Dra. Otidene Rossitersá da Rocha


Prof. Dr. Elvis Joacir de França

Recife/PE
DEQ – Departamento de Engenharia
Química
Cidade Universitária- Recife – PE Setembro/2013
CEP. 50640-901
Telefax: 0-xx-81- 21268717
CRESCÊNCIO ANDRADE SILVA FILHO

AVALIAÇÃO DO RISCO RADIOATIVO DE ÁGUAS MINERAIS DA REGIÃO


METROPOLITANA DO RECIFE, NORDESTE DO BRASIL.

Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado a Coordenação do Curso de
Graduação em Química Industrial da
Universidade Federal de Pernambuco, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Química Industrial.

Orientadores: Profa. Dra. Otidene Rossiter Sá da Rocha


Prof. Dr. Elvis Joacir De França

Recife
2013
DEDICATÓRIA

Às pessoas que lutam diariamente ao meu lado,

transmitindo fé, sabedoria, amor, alegria,

determinação, paciência e coragem, tornando os

meus dias mais felizes, belos e proveitosos.


AGRADECIMENTOS

A todos os átomos que compõem os corpos de todos aqueles que direta ou


indiretamente me ajudaram ao longo desta jornada.
RESUMO

A Região Metropolitana do Recife (RMR) é bem suprida de recursos hídricos


subterrâneos, sendo seus principais aquíferos o Beberibe, e o Barreiras, que se
destacam devido à qualidade de sua água e capacidade de produção. A RMR
também está localizada sobre os depósitos fosfato-uraníferos da região costeira do
Nordeste do Brasil. Essas rochas sedimentares apresentam teores de U 3O8 variando
de 30 a 500 mg.kg-1 (média de 150 mg.kg-1), sendo considerado uma das maiores
ocorrências deste tipo de depósito no mundo. O contato das áreas de recarga
destes aquíferos com as rochas fosfato-uraníferas pode aumentar a concentração de
atividade devido à lixiviação e transporte de urânio e outros elementos químicos
radioativos das rochas para a água subterrânea. Levando-se em conta o aumento
contínuo de produção e consumo de água mineral engarrafada na região que
ocorreu na última década, este estudo abrangeu as primeiras determinações das
concentrações das atividades alfa e beta total em águas minerais engarrafadas na
RMR. A determinação dos teores das atividades alfa e beta foi realizada em nove
marcas de águas minerais comerciais de fontes localizadas em diferentes pontos ao
longo dos aquíferos Beberibe e Barreiras. A metodologia analítica aplicada foi a
preconizada pelo Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater
20th Edition e consiste de etapas de evaporação das amostras em plaquetas e
posterior contagem em Contador Proporcional de Fluxo Gasoso de baixo ruído de
fundo, modelo Canberra® S5-XLB. As concentrações de atividade variaram de (35 ±
3) mBq.L-1 a (85 ± 5) mBq.L-1, e (200 ± 9) mBq.L-1 a (330 ± 8) mBq.L-1 para as
concentrações de atividade alfa e beta, respectivamente. Apesar de existir pontos
onde o fosfato-uranífero está depositado diretamente sobre zonas de recarga do
aquífero Beberibe, o risco de contaminação radioativa foi considerado baixo, pois as
concentrações das atividades alfa e beta total estão de acordo com os padrões
radioquímicos de potabilidade da Portaria nº2914 de 12 de dezembro de 2011 do
Ministério da Saúde do Brasil, que são 500 mBq.L-1 e 1000 mBq.L-1, para alfa e beta,
respectivamente.

Palavras-chave: Radiação alfa; Radiação beta; Água mineral; Estudo radiométrico.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Coluna Estratigráfica da Bacia da Paraíba...............................................10

Figura 2 - Deposição do fosfato-uranífero diretamente sobre o Beberibe.................11

Figura 3 - Regiões de operação de um detector gasoso...........................................13

Figura 4 - Contador Proporcional de Fluxo Gasoso..................................................15

Figura 5 - Detector do Contador Proporcional de Fluxo Gasoso...............................16

Figura 6 - Mistura P10, composta por 10% de metano e 90% de argônio................17

Figura 7 - Localização dos pontos de coleta.............................................................19

Figura 8 - Evaporação da amostra em placa de aquecimento..................................20

Figura 9 - Plaquetas de aço inox...............................................................................21

Figura 10 - Fontes de calibração...............................................................................22

Figura 11 - Platô alfa.................................................................................................25

Figura 12 - Platô beta................................................................................................25

Figura 13 - Eficiência de contagem alfa e beta.........................................................26

Figura 14 - Modelo para determinação da eficiência de contagem para emissões alfa


(241Am).........................................................................................................................26

Figura 15 - Modelo para determinação da eficiência de contagem para emissões


beta (137Cs).................................................................................................................27
Figura 16 - Resultados do Ennumber para determinações das concentrações das
atividades alfa e beta total das rodadas de amostras do Programa Nacional de
Intercomparação do Instituto de Radioproteção e Dosimetria...................................28

Figura 17 - Comparação entre os maiores níveis de teor de atividade alfa e beta


total ao redor do mundo.............................................................................................30
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 6
2 FUNDAMENTAÇÃO .............................................................................. 8
2.1 REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE.............................................. 8
2.2 REGIÃO URANO-FOSFÁTICA DO NORDESTE................................... 8
2.3 OS AQUÍFEROS E O FOSFATO URANÍFERO..................................... 9
2.4 PRODUÇÃO DE ÁGUA MINERAL......................................................... 11
2.5 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ALFA E BETA TOTAL EM ÁGUA... 12
2.6 CONTADOR PROPORCIONAL DE FLUXO GASOSO DE BAIXA
RADIAÇÃO DE FUNDO.......................................................................... 12
2.6.1 Detectores gasosos de radiação......................................................... 12
2.6.2 Regiões de operação de um detector gasoso de radiação.............. 13
2.6.3 Contador Proporcional de Fluxo Gasoso de baixa radiação de
fundo...................................................................................................... 14
2.7 PLATÔ E EFICIÊNCIA DE CONTAGEM................................................ 17
2.7.1 Platô........................................................................................................ 17
2.7.2 Eficiência de contagem........................................................................ 18
2.8 AUTO-ABSORÇÃO................................................................................. 18
3 METODOLOGIA..................................................................................... 19
3.1 AMOSTRAGEM…………….................................................................... 19
3.2 TRATAMENTO E QUANTIFICAÇÃO...................................................... 20
3.3 CALIBRAÇÃO DO CONTADOR PROPORCIONAL DE FLUXO
GASOSO DE BAIXA RADIAÇÃO DE FUNDO........................................ 21
3.3.1 Determinação do platô de operação................................................... 22
3.3.2 Determinação da eficiência de contagem........................................... 22
3.4 MODELOS MATEMÁTICOS PARA CORREÇÃO DA
AUTOABSORÇÃO.................................................................................. 23
3.5 CÁLCULO DA CONCENTRAÇÃO DE ATIVIDADE................................ 23
3.6 CÁLCULO DA INCERTEZA DA CONCENTRAÇÃO DE ATIVIDADE... 24
3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS.................................................. 24
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................. 25
5 CONCLUSÃO......................................................................................... 31
REFERÊNCIAS....................................................................................... 32
6

1 INTRODUÇÃO

Com os crescentes problemas globais de abastecimento de água potável, os


seres humanos estão se tornando mais conscientes de quão preciosa água é
atualmente. Água mineral engarrafada tornou-se uma das principais fontes de
consumo, especialmente em países em desenvolvimento, e isso pode ser atribuído à
preocupação da população com a saúde e, por consequência, com a ingestão de
bebidas mais saudáveis (ROZMARIC et al., 2012).

No Brasil, a água mineral era um produto só consumido pelos indivíduos de


maior poder aquisitivo, porém, hoje é considerada como uma necessidade e está
inclusa nos gastos do orçamento da maioria das famílias. Junto a este crescimento
no consumo, tem-se a necessidade de regulamentação e monitoração dos
parâmetros de qualidade. Isto fica evidenciado no número crescente de países, que
adotara como normas os padrões de concentração de atividade em água potável
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (RESENDE & PRADO, 2008).

A água é uma das principais rotas de entrada de radionuclídeos no corpo


humano e facilmente demostra-se a importância da monitoração de radionuclídeos
em água mineral por esta ser muito utilizada na preparação de alimentos para
crianças lactentes (DESIDERE et al., 2007).

Publicado em dezembro de 2011, o trabalho intitulado “Health Efects of


Naturally Radioactive Water Ingestion: The need for Enhanced Studies” trás uma
compilação de dados da literatura indicadores que o aumento do risco de câncer,
leucemia, lesões renais, instabilidades no genoma e transformações neoplásicas em
células ósseas, estão associados com o consumo de águas minerais radioativas
contendo níveis elevados de urânio, rádio-226, rádio-228, radônio e seus produtos
de decaimento. Os radionuclídeos que podem estar presentes nestas águas são
produto da erosão de ocorrências radioativas naturais como, por exemplo, a rocha
urano-fosfática que ocorre na região costeira do norte do estado de Pernambuco
(CANU et al., 2011; AFZAL, 2006; EL-MAGEED et al., 2011; BONOTTO et al.,
2008).

Tendo em vista a crescente produção e consumo de água mineral, a


geoquímica e as características radiológicas de Pernambuco, o objetivo deste
7

trabalho foi elaborar um estudo de avaliação de contaminação radioativa de águas


minerais envasadas e consumidas nesta região. Os objetivos específicos são:
determinar as concentrações das atividades alfa e beta total em amostras de nove
marcas mais consumidas de água mineral, por secagem direta em plaquetas de aço
inox e posterior contagem em Contador Proporcional de fluxo Gasoso, comparando
os valores obtidos com aqueles estipulados (500 mBq.L-1 para atividade alfa total e
1000 mBq.L-1 para beta total) pela Portaria MS Nº 2914 DE 12/12/2011, obter de
modelos matemáticos para a correção da autoabsorção e a garantia da qualidade
dos resultados analíticos.
8

2 FUNDAMENTAÇÃO

2.1 REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

A Região Metropolitana do Recife - RMR é constituída pelos municípios de


Abreu e Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu,
Itamaracá, Ipojuca, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista,
Recife e São Lourenço da Mata. Grande parte destes municípios encontra-se na
Região Urano-Fosfática do Nordeste (SILVA FILHO et al., 2012).

2.2 REGIÃO URANO-FOSFÁTICA DO NORDESTE

Localizada na faixa sedimentar costeira, que se estende do sul da cidade de


Olinda, em Pernambuco, até o extremo norte da Paraíba, ocorre uma faixa mais ou
menos contínua, com espessura variando de 0,4 a 2,0 metros, de rocha fosfática de
origem marinha que é reconhecida como Região urano-fosfática do Nordeste
(MENOR et al., 1977; DA SILVA et al., 2003; SOUZA, 2006).

A Região urano-fosfática do Nordeste foi descoberta na década de 1940 e


explorada até meados da década de 1970, quando as jazidas de fosfato-uranífero
foram consideradas economicamente inviáveis. Entretanto, estudos acadêmicos
continuaram na década seguinte bem como os trabalhos de prospecção em várias
jazidas de fosfato-uranífero. Nas décadas de 1970 e 1980, alguns trabalhos sobre o
urânio foram realizados por SAAD (1974) e ALMEIDA (1974) que comprovaram que
a rocha fosfática apresentou teores de U3O8 que variam de 30 mg.kg-1 a 500 mg.kg-1
(teor médio de 150 mg.kg-1), um dos maiores teores de óxidos de urânio para este
tipo de rocha do mundo (DA SILVA et al., 2003; SOUZA, 2006).

DA SILVA (2003) observou que a região Urano-fosfática do Nordeste e muito


rica em recursos hídricos subterrâneos, sendo responsável por até 80%
abastecimento público, deste produto, para a RMR.
9

2.3 OS AQUÍFEROS E O FOSFATO-URANÍFERO

A faixa sedimentar costeira pernambucana está inserida na denominada,


modernamente, de Bacia da Paraíba e seus poços utilizados para captação das
águas minerais estão em sua quase totalidade distribuídos nas suas unidades
rochosas (LIMA FILHO,1998; SOUZA, 2006).

Na Figura 1, podem ser visualizados os dois principais aquíferos


subterrâneos. Na primeira camada, inferior, encontra-se o aquífero denominado
Beberibe, que é limitado, na base, pelo substrato cristalino, e no topo, por camadas
da Formação Itamaracá. A sua formação é dominantemente arenítica, com
granulometria variando de grossa a fina, apresentando níveis. E este é o melhor
aquífero da região (SOUZA, 2006). O segundo é denominado de Barreiras, é um
aquífero livre, e limitado unicamente na base pelas camadas calcárias da Formação
Gramame e Formação Maria Farinha. Este aquífero é constituído de arenitos, siltes
e argilas, formando camadas pouco consolidadas e com coloração variada. Ainda
forma extensas coberturas entre Recife e Goiana, ora como morros, distribuídos na
faixa centro-litorânea, ora como tabuleiros ou chãs, nas porções oeste da RMR.
Suas águas abastecem parte da necessidade urbana de toda região norte do Recife
(SOUZA, 2006).
10

FIGURA 1 - Coluna Estratigráfica da Bacia da Paraíba. Os aquíferos


Beberibe e Barreiras correspondem as formações de mesmo nome
FONTE: Souza (2006)
11

Em Paulista-PE, Souza (2006) relatou ocorrência de afloramentos de fosfato-


uranífero sobrepostos a zonas de recarga do aquífero Beberibe, (Figura 2), e o
urânio contido nestes afloramentos pode ser uma fonte de contaminação para os
aquíferos da região (DA SILVA et al., 2003; SILVA FILHO et al., 2012; CARVALHO
et al., 2008 ).

FIGURA 2 – Deposição do fosfato-uranífero diretamente sobre o aquífero Beberibe.


FONTE: Souza (2006)

2.4 PRODUÇÃO DE ÁGUA MINERAL

A produção nacional de água mineral e potável passou de 3.004.551 m3 em


1999 para 7.580.275 m3 em 2009 e, neste cenário, o estado de Pernambuco
desponta como o terceiro maior produtor com 1.291.910 m 3, ou seja, 17% da
produção de água mineral nacional (ENDO et al, 2009; BRASIL, 2010).

A água mineral é um dos principais veículos de entrada de emissores alfa e


beta no corpo humano e, devido ao uso crescente deste tipo de água para
preparação de alimentos para crianças, a monitoração de radionuclídeos é uma
questão relevante. No entanto, existem poucas informações sobre a distribuição de
12

radionuclídeos em águas minerais produzidas na região Nordeste como em todo


resto do Brasil (SOTO TORRES et al, 1992; DUEÑAS et al, 1997;. KOBYA et al,
2006; DESIDERE et al, 2007; CARVALHO et al, 2008).

2.5 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ALFA E BETA TOTAL EM ÁGUA

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou valores de referência


para potabilidade radioquímica em água, já na primeira edição do Guidelines for
Drinking-WaterQuality em 1984. Hoje, o este Guideline está em sua terceira edição,
lançada em 2011, e grande parte dos países já adotaram os valores de 500 mBq.L-1
e 1000 mBq.L-1, para concentração de atividade alfa e beta, respectivamente, como
padrão de potabilidade. O Brasil adotou os valores preconizados pela OMS, por
meio da Portaria nº2914 de 12 de dezembro de 2011do Ministério da Saúde do
Brasil (KOVÁCS et al., 2004; SILVA FILHO et al., 2012).

Um dos métodos mais utilizados para a determinação da atividade alfa e beta


total em água, por ser barato e rápido, é a evaporação da amostra em plaqueta de
aço inoxidável e posterior contagem em Contador Proporcional de Fluxo Gasoso de
baixa radiação de fundo (SANTOS, 2003).

2.6 CONTADOR PROPORCIONAL DE FLUXO GASOSO DE BAIXA RADIAÇÃO DE


FUNDO

2.6.1 Detectores gasosos de radiação

O detector gasoso de radiação é um dispositivo composto por uma câmara


contendo um gás, que é o meio ativo com o qual a radiação interage, e um sistema
coletando as cargas geradas. No interior deste tipo de dispositivo, existem eletrodos
de material condutor, ânodo e cátodo, que, quando polarizados dão origem a um
campo elétrico que guia os elétrons, gerados no gás, para o ânodo. Os íons
positivos gerados seguem para descarregar no cátodo, que, geralmente, é a própria
carcaça do detector, confeccionado em material condutor. Este tipo de detector pode
operar em várias faixas de diferença de potencial - ddp entre seus eletrodos; e suas
características de resposta são variáveis para cada faixa de operação (KNOL, 2010).
13

2.6.2 Regiões de operação de um detector gasoso de radiação

Existem vários tipos de detector gasoso de radiação, cada um operando com


características bem definidas e que dependem da amplitude da ddp de operação. A
Figura 3 mostra as regiões de funcionamento de cada tipo de detector gasoso
(KNOL, 2010).

FIGURA 3 – Regiões de operação de um detector gasoso.


FONTE: Adaptado de KNOL (2010)

Quando o detector é polarizado com tensões muito reduzidas como ocorre na


área A na Figura 3, o campo elétrico criado não é capaz de evitar a recombinação
dos pares íon-elétrons e, com isso, a carga colhida é inferior à inicial. Com tensões
um pouco maiores, passa-se para a zona de saturação iônica, cujo o campo é
suficiente para evitar a recombinação dos pares íon-elétrons, mas insuficiente para
desencadear novas ionizações dos átomos do meio. Com isso, para essa faixa de
tensões, o sinal detectado se mantem constante até a tensão de ionização do gás
ser atingida (KNOL, 2010).
Aumentando-se a tensão além deste valor, chega-se a região de
proporcionalidade. Na região proporcional os elétrons ganham energia cinética
suficiente para provocar ionizações secundárias durante seu trajeto até o ânodo e
14

inicia-se, assim, um processo multiplicativo de cargas, sendo, o número final de


cargas secundárias proporcional a energia da partícula incidente. Este fenômeno é
conhecido como “avalanche de Towsend” e o fator de multiplicação pode chegar a
106 partículas secundárias (KNOL, 2010).
Na região de proporcionalidade limitada, aparecem os efeitos não lineares e o
mais relevante é atribuído aos íons positivos, que surgem no processo de ionização
e tem sua concentração aumentada pelo incremento do campo elétrico. Estes íons
deslocam-se no sentido contrário ao dos elétrons, com velocidade muito mais baixa,
acumulando-se no gás e criando um campo contrário ao dos elétrons, limitando a
avalanche de Towsend (KNOL, 2010).
Na região Geiger-Mueller, O campo criado pelos íons positivos é suficiente
para anular a avalanche de Towsend, só sendo transferidos para o ânodo os
elétrons aí produzidos. O detector para de adquirir novos eventos até toda a carga
ser recolhida (KNOL, 2010).
A região proporcional é a mais importante para este trabalho, pois é nela que
opera o detector Proporcional de Fluxo Gasoso, que é o equipamento utilizado para
realizar a medição da atividade alfa e beta total em água.

2.6.3 Contador Proporcional de Fluxo Gasoso de baixa radiação de fundo

O Contador Proporcional de Fluxo Gasoso de baixo ruído de fundo, (Figura


4), é um instrumento que se opera baseado no princípio de que as partículas
radioativas, alfa e beta causam ionização no gás com multiplicação dos elétrons
resultantes, que são coletas no ânodo do detector. O pulso é proporcional à
voltagem registrada e ao número de pares de íons formado, originando o termo
contagem proporcional. As partículas alfa produzem um pulso muito maior que o das
partículas beta. Isso garante um meio de diferenciar as duas partículas (CLESCERI
et al.,1998).
15

FIGURA 4 – Contador Proporcional de Fluxo Gasoso.


FONTE: Do autor.

O detector deste equipamento é constituído de uma câmara fechada com um


ânodo axial, o cátodo é o próprio corpo da câmara e o sistema possui uma entrada e
saída para o gás, Figura 5. Este gás que se encontra entre as superfícies do cátodo
e do ânodo, é nele que se dá o processo de amplificação da carga pelo efeito de
avalanche. Para isso, o gás, ou a mistura de gases, deve ser inerte e suas
moléculas volumosas (KNOL, 2010).
Quando uma partícula alfa ou beta interage com o detector, um átomo ou uma
molécula do gás é ionizado e o elétron é direcionado e acelerado, pelo campo
elétrico, no sentido do ânodo. O campo aumenta no sentido do deslocamento dos
elétrons e, ao chegar a certo valor limite, estes elétrons adquirem energia suficiente
para ionizar novos átomos do meio, culminando com o processo de avalanche, que
é proporcional ao número de elétrons da nuvem primária e este processo gera um
pico de corrente mensurável em amplitude (KNOL, 2010).
16

FIGURA 5 – Detector do Contador Proporcional de Fluxo Gasoso.


FONTE: Do autor.

Vários gases possuem estas caraterísticas (por exemplo: gás inerte e massa
relativamente alta) e podem ser utilizados na operação do Contador Proporcional,
para partículas alfa, o argônio geralmente é utilizado com uma tensão relativamente
baixa (~ 1000 volts), mas para radiação beta, cuja multiplicação mais alta é
necessária, geralmente é utilizado o metano a uma tensão de 2000 volts. A mistura
de 10 % de metano e 90% de argônio, que é conhecida comercialmente com mistura
P10, é a mais utilizada, pois permite tanto determinação alfa como beta (KNOL,
2010; MAFRA, 1973). A Figura 6 mostra um cilindro com a mistura P10 utilizado nas
análises.
A janela de polipropileno permite que as partículas alfa e beta penetrem ao
seu interior com o menor nível de atenuação possível. Esse material é escolhido
17

pela sua baixa densidade e resistência, importante para manter o gás isolado no
interior da câmara.

FIGURA 6 – Cilindro de mistura P10, composta por 10% de metano e 90% de argônio.
FONTE: Do autor.

2.7 PLATÔ E EFICIÊNCIA DE CONTAGEM

2.7.1 Platô
Em sistemas de contagem de partículas, busca-se operar em condições cuja
a taxa de contagem da fonte de calibração seja insensível às mudanças em fatores
tais como pequenas variações na alta voltagem aplicada ao detector. Curvas de
taxa de contagem versus alta voltagem do detector que exibem região com estas,
18

características, possuem platô. O platô pode ser descrito pela sua inclinação
expressa em variação percentual da razão de contagem por unidade de tensão e
seu comprimento é medido em volts (KNOL, 2010; MAFRA, 1973).

2.7.2 Eficiência de contagem

As partículas alfa e beta, devido as suas características, interagem com o


meio que se encontra entre a amostra e o detector. Nesta interação, parte das
partículas que são emitidas pela fonte é blindada ou não chega até o detector. Para
corrigir este problema, utiliza-se de um fator de correção chamado de eficiência. A
eficiência é a razão entre a quantidade de radiação emitida pela amostra e aquela
que interage com o detector. Dividindo a eficiência pelo número de contagens do
detector, obtém-se o número real de emissões provenientes da amostra.

2.8 AUTO-ABSORÇÃO

Neste método, pode ocorrer perda de energia das partículas alfa e beta
dentro da própria amostra e este fenômeno é chamado de autoabsorção.
Dependendo da espessura da amostra, a autoabsorção pode ser significativa. A
autoabsorção é sempre muito maior para partículas carregadas pesadas do que
para partículas leves, portanto, as taxas de contagem obtidas para uma amostra são
afetadas por vários fatores, como a composição química, a espessura dos resíduos
sólidos e a energia das partículas incidentes. Por este motivo, modelos matemáticos
devem ser elaborados para corrigir as distorções causadas auto-absorção
(SANTOS, 2003).
19

3 METODOLOGIA

3.1 AMOSTRAGEM

A Figura 7 indica a localização de fontes de nove principais marcas de água


mineral no RMR investigadas neste estudo.

Figura 7–Localização dos pontos de coleta. 1 Diamante Azul, 2 Santa Joana, 3 Schincariol,
4 Villa, 5 Santa Clara, 6 Diamantina, 7 Indaiá, 8 Caxangá e 9 Frevo.
Fonte: Adaptado do Google Earth®

Três amostras de cerca de 1 litro, das nove marcas de águas minerais, foram
coletadas diretamente nos produtores ao longo de 2013. Para conservação, as
amostras foram acidificadas (pH< 2), utilizando-se ácido nítrico Merck® destilado
abaixo do seu ponto de ebulição (CLESCERI et al.,1998).

Os brancos, foram compostos por três amostras de 1 litro de água purificada


com resistividade maior que ≥ 18,2 MΩ.cm-1. Estes brancos foram preparados
paralelamente às amostras, utilizando-se do mesmo procedimento de conservação.
20

Sendo assim, foram sujeitos às mesmas fontes de interferências devido às


condições ambientais.

3.2 TRATAMENTO E QUANTIFICAÇÃO

Segundo CLESCERI et al.,(1998), foi transferido volume de amostra de água,


que contenha não mais de 100 mg de sólidos totais, para um béquer de 2 L. O
conjunto foi levado a uma placa de aquecimento a (100 ± 2) ºC, até que restassem
apenas 10 mL (Figura 8).

Foram adicionados, 5 mL de ácido nítrico P.A. e a mistura submetida à


evaporação até quase secura. Este procedimento foi repetido duas vezes a fim de
nitrificar a amostra.

FIGURA 8 – Evaporação da amostra em placa de aquecimento.


FONTE: Do autor

Após este procedimento, foram adicionados 10 mL de solução aquosa de


ácido nítrico 1 molar. A solução final foi cuidadosamente transferida para plaquetas
de aço inox de 20 cm2, previamente tarada, cuja amostra foi evaporada até a
secura, (Figura 9).
21

FIGURA 9 – Plaquetas de aço inox para evaporação da amostra.


FONTE: Do autor

As plaquetas, com o material depositado, foram transferidas para estufa e


secas à 100 °C por 60 minutos. Depois, foram levadas para dessecador com sílica
gel, até atingir o equilíbrio térmico com o ambiente. As plaquetas foram pesadas, já
com o material depositado e seco. Após este processo, foi calculada a massa de
sais depositada e, por conseguinte, calculada a eficiência alfa e beta das medições
em função da autoabsorção.

As atividades alfa e beta total foram contadas por 500 minutos no Contador
Proporcional de Fluxo Gasoso de baixa radiação de fundo do modelo S5-XLB,
Canberra® do Centro regional de Ciências Nucleares do Nordeste – CRCN-NE.

3.3 CALIBRAÇÃO DO CONTADOR PROPORCIONAL DE FLUXO GASOSO DE


BAIXA RADIAÇÃO DE FUNDO

Para calibração de eficiência foram utilizadas duas fontes padrão fornecidas


pelo IRD, (Figura 10). Uma do isótopo 241 do amerício com atividade de 579,82 Bq
alfa e outra composta pelos isótopos 90 do estrôncio junto com o isótopo 90 do ítrio
com atividade de 2026,12 Bq beta. A geometria das fontes utilizadas são iguais a 2
Π e a data de referência de ambas fontes são 30/03/2007.
22

FIGURA 10 – Fontes de calibração mista (90Sr + 90Y) e de 241Am para atividade


alfa e beta, respectivamente.
FONTE: Do autor

3.3.1 Determinação do platô de operação

Para obtenção dos platôs alfa e beta foram construídas curvas da contagem,
das fontes de calibração, versus tensão aplicada. Estas curvas foram iniciadas em
300 volts e acrescidas de 30 e 30 volts, num total de 45 passos. O tempo de
contagem em cada passo foi 60 segundos. Para o platô alfa, utilizou-se das fontes
de calibração do isótopo 241 do amerício, e, enquanto que para o beta, a fonte de
calibração utilizada foi composta pelos isótopos 90 do estrôncio e 90 do ítrio. A partir
da determinação dos platôs foi possível realizar as determinações radiométricas
conseguintes.

3.3.2 Determinação da eficiência de contagem

Da mesma maneira, para determinação da eficiência de contagem, também


foram utilizadas as fontes de calibração do isótopo 241 do amerício e a fonte de
calibração composta pelos isótopos 90 do estrôncio e 90 do ítrio. O tempo de
contagem foi 5 minutos para alfa e 5 para o beta.
23

3.4 MODELOS MATEMÁTICOS PARA CORREÇÃO DA AUTOABSORÇÃO.

Para determinar os modelos matemáticos para a correção da blindagem


causada pela auto absorção da radiação alfa e beta, foram utilizadas soluções
aquosas com atividade de 4 Bq . mL-1 , do isótopo 241 do amerício e do isótopo 137
do césio, fornecidas pelo Instituto de Radioproteção e Dosimetria - IRD.
Para montar o modelo de auto absorção de partículas alfa em função da
massa de sais, foram preparadas 8 amostras de um litro cada, nas quais adicionou-
se 1 mL (equivalente a 4 Bq) da solução do isótopo 241 do Amerício e quantidades
crescentes de carbonato de sódio P.A. de forma que foram obtidas soluções com as
concentrações de sais variando de 0 a 200 mg por amostra. Depois de
homogeneizadas, as concentrações das atividades das soluções foram
determinadas da mesma forma que as amostras. O mesmo procedimento foi
seguido para montar o modelo de autoabsorção para partículas beta em função da
massa de sais, só que neste caso, a solução de amerício foi trocada pelo mesmo
volume da solução de césio, também equivalente a 4 Bq.
Utilizando-se do programa de computador Orange®, foram determinados os
modelos para eficiência de contagem da atividade alfa e beta em função da massa
de sais nas plaquetas.

3.5 CÁLCULO DA CONCENTRAÇÂO DE ATIVIDADE

As determinações das concentrações das atividades alfa e beta total foram


realizadas a partir da (Equação 1).

A1 = (Rc-Ro)/(60xExV) (EQUAÇÃO 1)

Na qual,
A1 Atividade (Bq.L-1)
Rc Taxa de contagem bruta da amostra (cpm);
Ro Taxa de contagem bruta do branco (cpm);
E Eficiência em função da massa de sais;
V Volume de amostra (L);
24

3.6 CÁLCULO DO INCERTEZA DA CONCENTRAÇÃO DE ATIVIDADE

A incerteza de contagem foi calculada por meio da equação 2:

e1 = (t.σ)/(60xE) (EQUAÇÂO 2)

Na qual:
e1 Erro de contagem em Bequerel;
σ Incerteza da taxa de contagem (extraído do relatório do equipamento)
t em nível de 95% de confiança e para n graus de liberdade

3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS

Para avaliar a qualidade do procedimento analítico, foram analisadas


soluções aquosa de alfa e beta total, fornecida pelo IRD, protocolo: 4839-FJ17/1212,
com atividades de 0,620 Bq.L-1 e 2,060 Bq.L-1 para as concentrações de atividade
alfa e beta total, respectivamente. Foram calculados o valores recuperados e os
coeficientes de variação. Para comprovar a qualidade, foram levados em
consideração os resultados obtidos em sete rodadas no período de dezembro de
2008 até junho de 2013, nas participações no Programa Nacional de
Intercomparação do Instituto Nacional de Dosimetria - IRD. Para tal, as incertezas
foram expandidas ao nível de 95% de confiança, utilizou-se do número En,
(Equação 3).

(EQUAÇÃO 3)
√( ) ( )
25

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O platô alfa aconteceu em 600 volts, como mostra a Figura11. Deste modo,
todas as determinações alfa foram realizadas nessa voltagem. Da mesma maneira,
o platô beta acorreu em 1470 volts, (Figura 12)

FIGURA 11–Relatório de análise referente ao platô alfa.


FONTE: Do Autor

O platô beta ocorreu em 1470 volts, figura 12.

FIGURA 12– Relatório de análise referente ao platô alfa.


FONTE: Do Autor

As eficiências de contagem foram de 49,5 % para partículas alfa e 46,6 % para


partículas beta.
26

FIGURA 13 – Relatório de Eficiências de contagem alfa e beta


FONTE: Do autor

Na Figura 14, observa-se o modelo obtido para determinação da


autoabsorção em função da massa de sais na plaqueta. Nota-se que dependendo
da espessura da camada de sais, a autoabsorção pode ser significativa. Como a
autoabsorção é sempre muito maior para partículas carregadas pesadas do que
para partículas leves, as taxas de contagem obtidas para uma amostra são afetadas
pela composição química, pela espessura dos resíduos sólidos e pela energia das
partículas incidentes. Como a massa da partícula alfa é 4, a perda de energia por
unidade de comprimento de caminho é grande, resultando em um pequeno poder de
penetração. Assim, as partículas alfa perdem toda sua energia em poucos
miligramas de massa de sais e sua eficiência de contagem cai exponencialmente.

FIGURA 14 - Modelo para determinação da eficiência de contagem para emissões alfa


(241Am). As barras de erros são referentes aos desvios padrão.
FONTE: Do Autor
27

No entanto, a passagem das partículas beta através da matéria é diferente do


caso de partículas alfa, Figura 15. As diferenças são causadas pela menor massa e
menor carga das partículas beta. Para deter partículas beta com energia da ordem
de alguns MeV são necessárias camadas de sais de vários miligramas. Com isso
elas possuem um maior poder de penetração e sua eficiência decai lentamente com
relação ao aumento da camada de sais.

FIGURA 15 - Modelo para determinação da eficiência de contagem para emissões beta (137
Cs). As barras de erro são referentes aos desvios padrão
FONTE: Do autor.

Os valores da estatística de ajuste do modelo R fora bastante elevados,


0,9977 para o modelo da autoabsorção alfa e 0,9982 para o beta, que mostram a
confiabilidade dos modelos.
A metodologia analítica e os modelos mostraram-se satisfatórios quando
aplicados ao material de referência de alfa e beta total em água do IRD, protocolo:
4839-FJ17/1212, com teores de recuperação do analito superiores a 80 %, (Tabela
1). Porém, o coeficiente de variação de 30 % para o teor de atividade alfa total,
reflete necessidade de melhor homogeneização da massa de sais sobre a plaqueta
na hora de efetuar as determinações, já que as partículas alfa são mais blindadas.
Os limites de detecção, calculados segundo CURRIE (1969), foram de 30
mBq.L-1 e 60 mBq.L-1 para as atividades alfa e beta, respectivamente.

TABELA 1 . Resultados do desempenho da metodologia.


Análise Valor de Valor Coeficiente de Recuperado
referência encontrado variação (%)
(Bq.L-1) (Bq.L-1) (%)
Alfa total 0,620 0,617 30 99,52

Beta total 2,060 1,757 5 85,29


28

O desempenho do laboratório foi demostrado por meio do cálculo do


Ennumber para os resultados obtidos em rodadas de intercomparação promovidas,
nacionalmente, pelo Instituto de Radioproteção e Dosimetria – IRD, Figura 16.

2
2

6
1
En number (Beta)

5
1 4
0 7

-1

-2

-3
-3 -2 -1 0 1 2 3

En num ber(Alpha)
FIGURA 16 – Resultados do teste Ennumber para determinações dos teores das atividades
alfa e beta total das rodadas do Programa Nacional de intercomparação do Instituto de
Radioproteção e Dosimetria.
FONTE: Do autor
Apesar da ligeira tendência dos valores positivos do E nnumber, a maioria das
determinações alfa e beta estão de acordo com os valores de referência fornecidos
pelo IRD, já que no teste Ennumber, valores entre 1 e -1 indicam que os resultados
estão aceitos em nível de 95% de confiança, com exceção das análises 2 e 6. Que
durante a evaporação da amostra fornecida pelo IRD, a distribuição dos sais, no final
da evaporação, não foi homogênea sobre a plaqueta. Desde que estes problemas
foram identificados, o processo de homogeneização dos sais sobre a plaqueta
passou a ser executado com mais rigor.

Pormenorizando-se os procedimentos analíticos, os resultados das águas


minerais quanto às atividades alfa e beta total, estão compiladas na Tabela 2.
29

TABELA 2. Concentração das atividades alfa e beta total nas amostras de águas
minerais da RMR. Incertezas expandidas para 95% de confiança.

Características fisico-químicas* Teor de atividade (mBq.L-1)


Amostras de água
mineral Resíduo após evaporação
Alpha Beta
(mg.L-1)
1 Diamante Azul 5.22 65.8 85 ± 10 238 ± 16
2 Santa Joana 5.50 113 32 ± 5 200 ± 18
3 Schincariol 5.59 89.5 71 ± 10 300 ± 4
4 Villa 5.03 83.5 35 ± 6 290 ± 10
5 Santa Clara 5.49 77.6 55 ± 14 323 ± 18
6 Diamantina 5.45 84.0 51 ± 4 330 ± 16
7 Indaiá 4.10 40.2 <LD <60
8 Caxangá 4.40 78.8 ± 54 ± 8 ± 290 ± 6
9 Frevo 4.51 35.0 <LD <60
-1
± mBq.L-1
LD para atividade alfa = 30 mBq.L , LD para atividade beta = 60 ±
* Resultados obtidos dos rótulos das embalagens.

Para fins comparação, algumas características físico-químicas (pH e resíduo


após evaporação) obtidas pelo procedimento também podem ser vistas na Tabela 2.
Evidência de consideráveis concentrações de atividade alfa e beta total foram
observadas para as fontes águas minerais (número das amostras 1, 3, 4, 5, 6 e 8)
localizadas perto da região fosfática de Pernambuco, com atividades de (59 ± 17)
mBq.L-1 e (295 ± 33) mBq.L-1 para alfa e beta, respectivamente. Ao passo que as
fontes 7 e 9 consideradas distantes da região fosfática de Pernambuco,
apresentaram teores de atividade de alfa e beta total abaixo do limite de detecção.

Comportamento diferente foi observado para as amostras 2 e 4, que


apresentaram considerada concentração de atividade beta de ordem de 200 mBq.L-1
, enquanto que a concentração da atividade alfa total ficou perto do limite de
40 228
detecção (Tabela 2). Como o K e, particularmente o Ra são considerados os
principais responsáveis pela atividade beta total na água, é possível presumir que
estas fontes de água possam estar sobre a influência de rochas urano-fosfáticas ou
40
de um local de enriquecimento de K. Por outro lado, as atividades de alfa total
foram as menores das nove amostras analisadas (Tabela 2). A ocorrência de
afloramentos de fosfato-uranífero diretamente sobre as zonas de recarga do
Beberibe pode ser uma fonte de contaminação de radionuclídeos para este aquífero.
Este fato enfatiza a necessidade de estudos das águas superficiais e subterrâneas
para avaliar provável risco de contaminação nesta região.
30

Apesar da falta de um banco de dados mundial sobre atividades alfa e beta


total em água mineral, a comparação entre os maiores níveis de teores de atividade
alfa e beta total ao longo do mundo, está presente na Figura 17.

FIGURA 17–Comparação entre os maiores níveis de teor de atividade alfa e beta total
(mBq.L-1) ao redor do mundo.
FONTE: SILVA FILHO et al, 2012.

Foram observadas grandes diferenças para os teores de atividade alfa e beta


total dependendo do país e do local de amostragem, com o incrível valor de quase
20 Bq.L-1 para fontes localizadas Ciudad Rodrigo, Espanha (SOTO TORRES et al,
1992) e Nova York (KITTO et al, 2005). As águas minerais da RMR estão coerentes
com os níveis máximos de 500 mBq.L-1 e 1000 mBq.L-1, para alfa e beta
respectivamente, estipulados pela Portaria MS Nº 2914 DE 12/12/2011. Tal
resultado também pode ser visto na Itália (DAMLA et al., 2006) e Turkia (DESIDERI
et al., 2007). Sendo assim, assume-se como baixo o risco de contaminação das
águas minerais estudadas.
31

5 CONCLUSÃO

As concentrações de atividade das amostras das águas minerais estudadas


na Região Metropolitana do Recife variaram de (35 ± 3) mBq.L-1 até (85 ± 5) mBq.L-
1
, e (200 ± 9) mBq.L-1 até (330 ± 8) mBq.L-1, para alfa e beta, respectivamente. A
metodologia analítica e os modelos para correção da autoabsorção mostraram-se
satisfatórios, obtendo um bom desempenho na determinação de material de
referência certificado. O risco da contaminação radioativa foi considerado baixo por
que as concentrações de atividade alfa e beta total encontradas na RMR está de
acordo com o padrão estabelecido pela Portaria MS Nº 2914 DE 12/12/2011, que é
500 mBq.L-1 para alfa e 1000 mBq.L-1 para beta.
32

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