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O DESENHO UNIVERSAL E SUA PRÁTICA NA ARQUITETURA PARA

IDOSOS

FANTINI, Franciele (1);


ALMEIDA, Maristela Moraes de (2)
(1) Universidade Federal de Santa Catarina, Arquiteta
e-mail:franfantini@gmail.com
(2) Universidade Federal de Santa Catarina, Dr.
e-mail:mar@linhalivre.net

RESUMO

As dimensões corporais e as necessidades espaciais dos usuários são fatores de grande importância
para o projeto de arquitetura, pela sua relação com a adaptação ergonômica do ambiente ao usuário. O
espaço construído tem sido freqüentemente projetado para um homem padrão, jovem e saudável,
esquecendo-se que somente parte da população se enquadra nesse modelo. Esse artigo busca fazer
uma revisão dos principais aspectos a serem considerados para que as necessidades espaciais deste
grupo possam ser consideradas de modo a promover autonomia, segurança e conforto, estimulando o
usuário e aumentando suas competências existentes.

ABSTRACT

Body size and users spatial needs are important factors for Architecture and Urbanism design, because of
its relation with user ergonomic adaptation to the environment. The built spaces are often designed for a
standard man, young and healthy, forgetting that only part of the population fits this model. This article
aims to review the main aspects that must to be considered for the spatial needs of this group may be
considered to promote independence, safety and comfort, stimulating the user and increasing their
existing skills.

1. INTRODUÇÃO

A arquitetura como arte de saber organizar espaços, quando considera as características do


usuário e de seu meio nos condicionantes de projeto, traz uma série aspectos que devem ser
considerados a fim de que as demandas e dificuldades específicas sejam, respectivamente,
atendidas e minimizadas.
De acordo com Mahfuz (1995), o processo de projeto contemporâneo organiza o espaço que
circunda o homem levando em consideração todas as suas atividades físicas e psíquicas. A
arquitetura ordena o ambiente, controla e regula as relações entre o homem e seu habitat,
servindo assim a outras funções além das práticas.
Já Schwarz (1999) afirma a importância do ambiente arquitetônico como fator que influencia o
comportamento e a qualidade de vida. Segundo esse autor, a arquitetura pode propiciar ou
inibir a privacidade, a independência, o controle e a escolha. O objetivo dos ambientes para
idosos é buscar sua autonomia.
Na mesma linha de pensamento, Lehr (1999) destaca que o ambiente físico e o meio ambiente
interferem no comportamento de indivíduos com limitações, determinando sua autonomia. O
ambiente pode, então, contribuir para a dependência e restrição na realização das atividades de
vida diária ou pode ser favorável e adaptável, estimulando o usuário e aumentando suas
competências existentes.
Com o avançar da idade, o ser humano torna-se cada vez menos tolerante e adaptável a
transformações e baixos níveis de conforto. As alterações físicas, assim como as sociais e
psicológicas acarretam novas necessidades, as quais geram mudanças na maneira em que o
usuário lida com seu ambiente e com pessoas que o cercam.
Dessa forma, dentre as necessidades para que um ambiente favoreça a autonomia dos idosos,
as espaciais são aquelas relacionadas diretamente ao trabalho do arquiteto, sendo as primeiras
a serem levantadas.
Como as pessoas têm peculiaridades psicofísicas, garantir a acessibilidade para todos é uma
tarefa difícil, pois se deve abranger as necessidades espaciais de pessoas com as mais
diferentes restrições, ou seja, pessoas com limitações em desempenhar atividades devido as
suas condições físicas associadas às características dos ambientes (DISCHINGER; BINS
ELY,2006).

2. DESENHO UNIVERSAL E SUA PRÁTICA NA ARQUITETURA PARA IDOSOS

Tratando-se de arquitetura para idosos, as barreiras físico-espaciais, tanto das edificações


quanto de seu entorno, são as mais freqüentes e estão relacionadas à obstáculos naturais ou
construídos, que balizam ou evitam a prática das atividades esperadas. De acordo com seu
tempo de atuação e ação, Dischinger, Bins Ely e Piardi (2009) afirmam que essas barreiras
podem ser permanentes ou dinâmicas.
Elas podem ser evitadas desde que algumas medidas previstas em normas e legislações sejam
colocadas em prática. Contudo, apesar de possuir uma das legislações para promoção de
acessibilidade mais completas, o Brasil não traduz em sua prática essa atenção demonstrada
pela teoria.
O conceito de Desenho Universal está definido pelo Decreto-Lei 5296-2004 e pela norma
técnica NBR9050/2004 da ABNT. Em ambos os casos, as definições são importantes como
referenciais de soluções para uso dos elementos ambientais pelo maior número possível de
pessoas, independente de suas características físicas, habilidades e faixa etária. O conceito de
Desenho Universal compreende soluções de alta qualidade e amplos benefícios para todas as
pessoas. (GUIMARÃES, 2008).
No caso da residência do idoso, local de maior permanência desse grupo, podem-se destacar
como fundamentais para o atendimento das necessidades e conforto, os seguintes requisitos
de projeto arquitetônico, baseados em uma revisão bibliográfica e proposições resultantes da
prática e observação de projetos de arquitetura para idosos:

2.1. Áreas Externas

O terreno de implantação da residência deve ser preferencialmente plano, devido às alterações


nos sistemas músculo-esquelético, pulmonar, cardiovascular e de equilíbrio do idoso, os quais
afetam a capacidade de locomoção e a resistência física.
Além disso, é interessante utilizar referenciais e demarcações de setores do local de
implantação, visando facilitar a identificação e localização de espaços, com cores, texturas e
aromas, para aqueles que possuem deficiências no sistema cognitivo terem maior eficiência na
orientação espacial.
Outra questão que pode ser observada, tratando-se de deficiências no sistema cognitivo, é a
dificuldade que muitos idosos possuem em entender e ler equipamentos novos. Esse fato faz
com que o projetista deva propor tanto para a área externa quanto para a interna, objetos
compostos por formas simples e intuitivas, não gerando imposições para seu uso.
O piso, por sua vez, deve ser de fácil limpeza e conservação, sendo uniforme, para evitar
tropeços e barreiras, facilitando o uso por cadeirantes ou pessoas com equipamentos de apoio,
assim como antiderrapantes, com inclinação adequada, para impedir escorregões e quedas.
De acordo com a NBR9050/2004, recomenda-se evitar a utilização de padronagem na
superfície do piso que possa causar sensação de insegurança (como estampas que geram a
idéia de tridimensionalidade e movimento). Além disso, o uso de caminhos com limites bem
demarcados, com cores e iluminação. Em alguns casos sugere-se o uso do piso tátil ou
marcação para servir de guia aos que possuem deficiência visual. Sempre que possível deve-se
prever bancos com encosto, para maior conforto, apoio e momentos de banho de sol e
descanso ao ar livre.
Nos jardins deve-se evitar a utilização de plantas venenosas, que possuem espinhos ou raízes
que danifiquem os pisos das áreas de circulação. Além disso, sugere-se fazer podas regulares,
para impedir que ramos atrapalhem ou machuquem aqueles que circulam por esse espaço.
Plantas com diversos aromas e texturas estimulam os idosos e os demais usuários, tornando o
estar na área externa uma experiência mais agradável, além de servirem como referência de
orientação. Todavia, deve-se notar que os estímulos ambientais para aqueles que possuem
alterações no sistema sensorial devem ser ponderados, de maneira que não atuem
opostamente ao pretendido, que informem de modo claro e provoquem sensações agradáveis.
Já os locais destinados à jardinagem, como também as hortas, devem ser equipados com
canteiros elevados (altura da parte superior deve ser de 0,70m) para permitir o uso por pessoas
sentadas.
Figura 01. Horta elevada. Fonte: elaborado pela autora.

Por fim, recomenda-se o estímulo a tarefas com a terra, como lazer para os idosos, assim como
a produção de alimentos que podem posteriormente serem incluídos nas refeições, o que gera
uma sensação de reconhecimento do trabalho e satisfação por ter participado do processo de
fabricação do alimento que se terá na mesa.

2.2. Ambiente Construído

A edificação destinada ao usuário idoso deve ser pensada de modo que a maioria de seus
freqüentadores possui grandes chances de sofrer acidentes, devido a alterações decorrentes
das mudanças biológicas geradas pelo envelhecimento.
Dessa forma, assim como o terreno deve ser preferencialmente plano, as edificações, sempre
quando possível, devem ser desenhadas para serem horizontais e térreas. Há ainda outros
aspectos fundamentais a serem considerados:
Acessos

O ideal é que o acesso à edificação seja de fácil reconhecimento, com escadas e rampas (ou
elevadores, plataformas elevatórias, entre outros) livres de obstáculos.
Ao invés de caminhos sinuosos, deve-se propor passagens que levem ao destino pretendido de
maneira fácil, retilínea, com cruzamentos de fácil identificação.
Além disso, segundo Stancati (2012) é importante lembrar que a pupila perde a capacidade de
se dilatar com a idade e é indispensável impedir o ofuscamento da visão gerado pela mudança
de luminosidade ocorrida entre o ambiente interno e externo, que é sentida por qualquer
indivíduo e mais intensa com o avançar da idade.

Rampas

As rampas são elementos fundamentais no projeto de arquitetura para idosos, principalmente


devido aos problemas decorrentes da degeneração do sistema músculo-esquelético, como
também do menor condicionamento físico. Existem larguras e inclinações específicas para
serem seguras e confortáveis ao usuário. A largura indicada para as rampas em rotas
acessíveis deve ser de acordo com o fluxo. O padrão indicado pela NBR9050/2004 é de 1,50
metros, sendo o mínimo admissível 1,20 metros. No caso dos idosos, indica-se a inclinação de
5%, por tornar a subida menos desgastante e cansativa. Quanto à inclinação transversal,
aconselha-se ser inferior a 2%.
Quando não existirem paredes nas laterais,a norma também recomenda que as rampas devem
ser construídas com guias de balizamento com altura mínima de 0,05 m, instaladas ou
construídas nas bordas da rampa e na projeção dos guarda-corpos.
Tanto no começo, quanto no fim de cada rampa, é interessante prever patamares os quais são
fundamentais para um pequeno descanso dos idosos que, por motivo de problemas
cardiovasculares e pulmonares, podem sentir a necessidade de uma pausa no meio do trajeto.

Escadas

Para evitar o sentimento de exclusão ou isolamento, devido às dificuldades de locomoção, as


escadas devem ser locadas de modo que fiquem próximas as rampas ou alternativas de vencer
desníveis. Segundo a NBR9050/2004, a largura deve ser estabelecida de acordo com o fluxo
de pessoas, sendo indicado a de 1,50 m, para ser acessível. Quando vencerem mais de 3,20m
de desnível, ou mudarem de direção, deve-se incluir um patamar na mesma dimensão da
escada.
Mesmo para aqueles idosos que conseguem utilizar as escadas, recomenda-se a adequação
de sua estrutura para evitar acidentes e permitir maior conforto e segurança. Alguns aspectos
importantes ressaltados pela norma de acessibilidade e que devem ser levados em conta
durante o projeto são: projetar degraus com espelhos fechados, de estrutura firme, com piso
antiderrapante e sinalização adequada de seu início e fim. Além disso, pode-se fazer uso de
iluminação para facilitar a visibilidade dos degraus e deixar uma distancia de no mínimo 0,30 m
da área de circulação.
Corrimão

Item de extrema importância para gerar segurança em ambientes freqüentados por idosos ou
pessoas com deficiência, indica-se que corrimãos sejam construídos com materiais rígidos,
sendo firmemente presos às paredes, barras de suporte ou guarda-corpos, em ambos os lados
de escadas fixas e rampas.
De acordo com a norma brasileira NBR9050/2004, a largura deve estar entre 3,0 cm e 4,5 cm,
evitando arestas vivas. Para melhor encaixe das mãos, entre a parede e o corrimão, indica-se
um espaçamento de, no mínimo, 4,0 cm. Além disso, devem ser de forma tal que permitam boa
empunhadura e deslizamento, sendo preferencialmente de seção circular.
Outra forma de instalação é embutir na parede. Independente de serem embutidos ou externos
à parede, a norma recomenda que deve-se prolongar o corrimão pelo menos 30,0 cm antes do
início e após o término da rampa ou escada e sugere-se a fabricação em cores e materiais
contrastantes em relação à parede, para que permitam fácil e rápida identificação e utilização
por aqueles com deficiência visual.

Figura 02 e 03. Caminhos e conjunto corrimão/guarda corpo. Fonte: elaborado pela autora.

Guarda-corpo

As escadas e rampas que não possuírem paredes em seu perímetro, exceto no acesso, devem
ser providas de guarda corpo e corrimão, com 1,05m de altura (NBR9050/2004) para melhor
proteção e segurança dos usuários.
Cabe ressaltar que caso o guarda corpo seja vazado, o espaçamento deve ser projetado de
modo que não prenda os pés caso o idoso ou usuário se aproxime ou apóie o membro.
Circulações internas

Os corredores, elementos fundamentais na organização do layout e direcionamento dos


diferentes fluxos da edificação, quando estão em um projeto com usuários idosos e/ou com
deficiência, devem seguir uma série de especificações, para que cumpram sua função de
permitir a circulação de maneira simples e intuitiva, sem se tornarem cansativos ou difíceis de
percorrer.
Deve-se instalar corrimão em ambos os lados e propor áreas de descanso intermediárias, para
uma pequena pausa caso sejam com maior comprimento. Além disso, a variação de
revestimento e cor, nas paredes e portas, facilita a identificação, pelo idoso, de acessos e
demais possibilidades de trajeto.
Corredores também precisam de iluminação artificial e natural adequadas. Os interruptores e
tomadas devem possuir iluminação própria, além da possibilidade de comando da variação da
intensidade da luz.
Quanto à natural, segundo as Normas de Funcionamento de Serviços de Atenção ao idoso no
Brasil (Portaria n. 73), deve-se ponderar que a luz solar pode causar deslumbramentos e
sombras muito marcadas. Já ambientes com iluminação difusa são mais agradáveis, sendo
necessário, como complemento, a luz direta para locais de trabalho e leitura.
Quando tratamos de edificações institucionais, essas circulações, assim como todas as áreas
internas, precisam de largura adequada de acordo com o fluxo, além de luz de vigília,
campainhas para emergência e sistema de segurança/prevenção de incêndio e detectores de
fumaça, com previsão de rápido e seguro escoamento de todos os usuários. Além disso, deve-
se garantir uma faixa livre, sem barreiras e obstáculos, como o mobiliário e vegetação.
Para a pintura das paredes e forro, utilizar tintas laváveis e cores claras, sendo sugerida pela
Portaria n. 73 a utilização de protetores nas paredes e portas até a altura de 0,40m do piso,
com materiais resistentes a batidas e arranhões, que podem ser gerados por bengalas, muletas
e cadeiras de roda, retardando a deterioração desses espaços.

Portas

As portas, independente do tipo de abertura, devem ser pensadas de modo a: facilitar o


reconhecimento por pessoas com deficiência visual; permitir o uso por aqueles que já não
possuem a mesma firmeza nas mãos, o que gera dificuldade de giro de uma superfície lisa ou
arredondada; não impedir a passagem do usuário de cadeira de roda.
Para apurar o reconhecimento por aqueles com visibilidade baixa, indica-se a pintura em cores
contrastantes em relação à parede, assim como o uso de diferentes materiais e texturas, que
indiquem a passagem ali existente.
Já para os que não possuem a mesma força nas mãos, por debilidades nos sistemas músculo-
esquelético, como alguns idosos, a NBR9050/2004 indica o uso de maçanetas de alavanca,
instaladas entre 0,90m e 1,10m. por serem de fácil manuseio, não necessitando força e giro
para abertura de portas.
Quanto ao usuário de cadeiras de rodas, deve-se observar principalmente, as portas de
sanitários, assim como trilhos embutidos na soleira e no piso, no caso de portas de correr, para
permitir a passagem sem obstáculos.

Janelas

Assim como as portas, as janelas possuem alguns pontos que merecem atenção, quando se
busca promover acessibilidade irrestrita no ambiente o qual se está projetando.
Segundo Palazzo (2013), o peitoril, normalmente entre 0,90 e 1,00m, para melhor visibilidade,
deve ser mais baixo, com 0,70m, permitindo a cadeirantes ou pessoas sentadas, a
possibilidade de observação do exterior sem dificuldades. A instalação de um corrimão
suplementar, a 20 cm acima do peitoril é interessante a medida que proporciona maior
segurança ao usuário, além de servir de apoio para abertura das folhas.
O comando de abertura, pelos mesmos motivos das maçanetas de portas, deve ser de
alavanca, permitindo o uso por apenas uma das mãos em um único movimento. Outro ponto
com os mesmos princípios, que cabe ser destacado, é o uso de cores contrastantes pisos,
equipamentos e mobiliário, em relação à parede, para facilitar a identificação.

Figura 04 e 05- Peitoril mais baixo permite visibilidade mesmo que a pessoa esteja sentada e
prateleiras baixas permitem acesso aos livros, evitando acidentes, facilitando a visualização e
escolha dos objetos, demandando menor esforço do usuário . Fonte: Elaborado pela autora

Ambientes de estar e descanso

A arquitetura, seja de uma residência, seja de uma instituição de cuidado ao idoso, deve ser
pensada para melhorar e estimular a socialização dos usuários, também prevendo espaços que
respeitem a privacidade dos indivíduos, possibilitando vivências em separado e contato mais
íntimo com a família.
Nas salas de estar, deve-se pensar de que forma pessoas com cadeira de rodas, muletas,
andadores e bengalas possam se acomodar de modo que facilite a comunicação com os
demais usuários sentados em poltronas e cadeiras, os quais devem possuir assento com
densidade moderada e altura com média de 55 cm para facilitar o sentar e o levantar.
Além disso, é fundamental observar a fixação e nivelação dos tapetes no piso, para evitar que
esses se amontoem e causem tropeços.
Já em relação ao mobiliário, devido à diminuição da estatura em decorrência do
envelhecimento, recomenda-se que os mesmos devem estar dispostos em alturas diferentes,
para que permitam o acesso sem esforço.
Quanto aos espaços de descanso, de acordo com a Cartilha do Idoso Cidadão, a cama para os
idosos deve ter altura entre 50 e 55 centímetros para que o usuário não possua dificuldades em
levar os pés ao chão. Além disso, recomenda-se locá-las de modo que a circulação em volta
fique livre para fluxo sem barreiras.
Em dormitórios mais espaçosos, a colocação de uma poltrona facilita o vestir-se e um sensor de
presença de luz no quarto, evita que o usuário circule no escuro à noite, assim como um
interruptor ao lado da cabeceira facilita acender as luzes enquanto o idoso está deitado.
Segundo Tomasi e Prates (2010), a previsão de ponto de telefone na cabeceira, sempre que
possível, é recomendada, para situações de emergência.
Quanto aos armários, indica-se a disposição de luz interna e altura compatível aos usuários,
para que não seja necessária a utilização de escadas ou cadeiras para alcance de objetos mais
altos. De acordo com a NBR9050/2004, a altura de utilização de armários deve estar entre 0,40
m e 1,20 m do piso acabado. Já a de fixação dos puxadores e fechaduras entre 0,80 m e 1,20
m.

Cozinha

Como muitos idosos, devido à dificuldade de deslocamento, fazem suas refeições em casa,
algumas determinações deverão ser levadas em conta na hora de projetar espaços que
envolvem fogo, gás e trabalho em bancadas.
A iluminação deve ser intensa e eficaz e de acordo com o Manual de Segurança Sanitária para
instituições de longa permanência para idosos, não devem ser aplicados revestimentos que
causem brilhos e reflexos, a fim de evitar desorientação e confusão visual, comuns quando o
sistema visual sofre perdas. Em todo o ambiente, deve-se deixar espaço adequado para a
circulação e trabalho, assim como, instalar corrimãos.
Tratando-se do mobiliário, deve-se prestar maior atenção nas bancadas. Nesse caso, o ideal é
projetar um espaço com duas alturas. A superfície mais alta seria disponibilizada para idosos
trabalharem sem terem que se curvar. Já a mais baixa seria para aqueles que estão em
cadeiras de roda e/ou sentados. No primeiro caso, não é necessário se ter um vão livre de 0,73
m recomendado pela NBR9050/2004, para acomodação da cadeira..
Ainda segundo a norma brasileira de acessibilidade, a altura na parte superior deve ser no
máximo de 0,85 m e os registros monocomando são os mais indicados, sendo seu modo de
acionamento por alavanca ou células fotoelétricas os que permitem melhor uso.
O fogão deve possuir tampo dos dois lados do fogão, de modo a possibilitar o apoio de panelas
e objetos quentes recém tirados do fogo. Sempre que possível, a instalação de detector de
fumaça e gás ou controladores automáticos de gás quando a chama se apaga, garantem mais
segurança para pessoas com deficiências no sistema cognitivo, o que pode gerar uma demora
na percepção de uma situação anormal.
Tratando-se de acabamentos do mobiliário e de bancadas, os cantos devem ser arredondados
para evitar machucados em caso de choque. Assim como nos espaços de descanso, deve-se
prever armários com luz e altura compatível ao alcance dos idosos. Por fim, puxadores das
portas e gavetas dos armários em modelo tipo “D”, que permitem fácil empunhadura.

Banheiros

Os banheiros, juntamente com o trajeto do quarto até esse local, são os ambientes onde ocorre
a maior parte dos acidentes com lesões em idosos. Para evitar esse cenário e promover maior
conforto, alguns critérios retirados da norma NBR9050/1994 e Portaria nº 73 devem ser levados
em conta, tais como:
Prever iluminação intensa e eficaz, tanto no caminho até o banheiro, quanto no mesmo. Assim
como citado no item cozinha, deve-se evitar revestimentos que reflitam a luz, produzindo um
brilho excessivo, o que pode levar a desorientação e confusão visual. Além disso, indica-se a
utilização de luz de vigília sobre a porta, externa e internamente.
Os pisos devem ser sempre antiderrapantes, para evitar que os idosos não sofram escorregões,
principalmente quando estiverem sem calçado.
Deve-se tomar cuidado com tapetes, entre outros acessórios, que não estão fixados ao chão,
podendo facilitar a queda ou tropeço do usuário que não está atento ou possui restrições que o
fazem perder a capacidade de responder rapidamente a um desequilíbrio.
O mesmo vale para soleiras, presentes quando entre o corredor e o banheiro existe mudança
de piso. Essas devem estar no mesmo nível para evitar tropeços, travamento da bengala ou
muletas, assim como propiciar maior facilidade de passagem do usuário com cadeira de roda.
Para sanitários que não serão utilizados por cadeirantes, indica-se a largura mínima de 0,80 m.
Nesse caso, o vaso sanitário deverá estar sobre um sóculo de 0,15 m, a fim de permitir maior
facilidade no ato de sentar e levantar. Por outro lado, para os sanitários acessíveis, de acordo
com a NBR9050/2004, além da área de transferência e a instalação de barras, indica-se que as
bacias sanitárias estejam a uma altura entre 0,43 m e 0,45 m do piso acabado a borda superior.
Com o assento, esta altura deve ser de no máximo 0,46 m, de modo que facilitem o uso.
O chuveiro deve ser instalado em compartimento com dimensões internas que permitam um
banho em posição assentada. As dimensões mínimas são: 0,90 m por 0,95 m. Quando o
usuário estiver em cadeira de rodas, de acordo com a norma brasileira, uma área de
transferência externa deve ser prevista, permitindo a aproximação paralela, estendendo-se no
mínimo 0,30 m para fora da parede onde o banco está fixado, sendo livre de barreiras ou
obstáculos.
Caso esse espaço de banho seja fechado, o acesso não deve atrapalhar a transferência da
cadeira de rodas para o banco, sendo o material empregado de boa resistência ao impacto.
Já o banco utilizado, que propicia maior conforto e segurança ao banho, é articulado ou
removível, com cantos arredondados e superfície antiderrapante impermeável, com
profundidade mínima de 0,45 m, altura de 0,46 m do piso acabado e comprimento mínimo de
0,70 m.
O chuveiro deve possuir ducha manual, misturadores alavanca, monocomando e indica-se que
todas as áreas de chuveiro possuam barras de apoio para facilitar o banho nos momentos que
exigiriam maior equilíbrio. Registros na entrada permitem regular a temperatura da água de
fora do box.

Figura 06 a 08 - Dimensionamento de espaços para banho. Fonte: elaborado pela autora com
base na NBR9050/1994.

A área do lavatório exige tanta atenção quanto a do sanitário para permitir o uso de usuários
com mobilidade reduzida e em cadeira de rodas.
As torneiras de lavatórios devem ser com alavanca, sensor eletrônico, entre outros, facilitando o
uso, pelo mesmo motivo dos registros e maçanetas, exemplificados anteriormente.
Quando empregar misturadores, dar preferência aos de monocomando, instalando-o a no
máximo a 0,50 m da face externa frontal do lavatório. Barras de apoio também são
fundamentais para esse local. No caso de lavatórios embutidos em bancadas, fixar as barras
nas paredes laterais.
Em caso de instalação de um mictório, de acordo com a norma, deve ser prevista área de
aproximação frontal em mictório para pessoas com mobilidade reduzida e cadeirantes, estando
a uma altura de 0,60 m a 0,65 m. Quando for empregado acionamento da descarga, a altura de
seu eixo será de 1,00 m, sendo do tipo alavanca ou com mecanismos automáticos. As barras
também são fundamentais e destacadas na norma.
3. CONCLUSÃO

São poucas as iniciativas que levam em consideração integralmente as demandas dos idosos e
pessoas com restrição, mesmo se sabendo que quanto mais confortáveis forem os espaços,
melhor será o bem-estar físico e mental, assim como a resposta comportamental de um usuário
Em função do grande crescimento da população idosa, no Brasil e no mundo, é fundamental
que se compreenda as necessidades espaciais desse grupo, ao se projetar quaisquer espaços
que os atenderão.
Para isso, esse artigo teve como objetivo revisar bibliograficamente os principais tópicos a
respeito de desenho universal voltado para a arquitetura para idosos, permitindo a esse usuário
tão especial, a possibilidade de sentir-se incluído e confortável nos ambientes nos quais vive e
freqüenta, assim como promover maior tranqüilidade aos familiares e amigos.
Como conclusão geral, pode-se afirmar que as ferramentas e fontes de pesquisa aqui adotadas
foram instrumentos satisfatórios para a criação do embasamento teórico apresentado, o qual
permitiu uma apresentação de diretrizes, diante das novas perspectivas para a arquitetura
voltada aos idosos.
Todavia, como todo estudo, é impossível considerá-lo finalizado, principalmente devido à
complexidade do tema e do usuário, os quais ainda possuem muitos aspectos a serem
explorados e aprofundados.
Como uma perspectiva de pesquisa, tem-se o aprofundamento no campo da antropometria,
apresentando dados claros e detalhados a respeito dos idosos. Esses servirão como base para
elaboração e complementação de critérios relacionados à ergonomia e demandas desse
usuário tão especial.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TOMASI, Ana Luiza; PRATES, Natália Moneró. Ergonomia aplicada à arquitetura. Disponível em:
http://www.arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2010-2/ergonomia-II.pdf. Acesso em 02/03/2013.

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