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IDOSOS
RESUMO
As dimensões corporais e as necessidades espaciais dos usuários são fatores de grande importância
para o projeto de arquitetura, pela sua relação com a adaptação ergonômica do ambiente ao usuário. O
espaço construído tem sido freqüentemente projetado para um homem padrão, jovem e saudável,
esquecendo-se que somente parte da população se enquadra nesse modelo. Esse artigo busca fazer
uma revisão dos principais aspectos a serem considerados para que as necessidades espaciais deste
grupo possam ser consideradas de modo a promover autonomia, segurança e conforto, estimulando o
usuário e aumentando suas competências existentes.
ABSTRACT
Body size and users spatial needs are important factors for Architecture and Urbanism design, because of
its relation with user ergonomic adaptation to the environment. The built spaces are often designed for a
standard man, young and healthy, forgetting that only part of the population fits this model. This article
aims to review the main aspects that must to be considered for the spatial needs of this group may be
considered to promote independence, safety and comfort, stimulating the user and increasing their
existing skills.
1. INTRODUÇÃO
Por fim, recomenda-se o estímulo a tarefas com a terra, como lazer para os idosos, assim como
a produção de alimentos que podem posteriormente serem incluídos nas refeições, o que gera
uma sensação de reconhecimento do trabalho e satisfação por ter participado do processo de
fabricação do alimento que se terá na mesa.
A edificação destinada ao usuário idoso deve ser pensada de modo que a maioria de seus
freqüentadores possui grandes chances de sofrer acidentes, devido a alterações decorrentes
das mudanças biológicas geradas pelo envelhecimento.
Dessa forma, assim como o terreno deve ser preferencialmente plano, as edificações, sempre
quando possível, devem ser desenhadas para serem horizontais e térreas. Há ainda outros
aspectos fundamentais a serem considerados:
Acessos
O ideal é que o acesso à edificação seja de fácil reconhecimento, com escadas e rampas (ou
elevadores, plataformas elevatórias, entre outros) livres de obstáculos.
Ao invés de caminhos sinuosos, deve-se propor passagens que levem ao destino pretendido de
maneira fácil, retilínea, com cruzamentos de fácil identificação.
Além disso, segundo Stancati (2012) é importante lembrar que a pupila perde a capacidade de
se dilatar com a idade e é indispensável impedir o ofuscamento da visão gerado pela mudança
de luminosidade ocorrida entre o ambiente interno e externo, que é sentida por qualquer
indivíduo e mais intensa com o avançar da idade.
Rampas
Escadas
Item de extrema importância para gerar segurança em ambientes freqüentados por idosos ou
pessoas com deficiência, indica-se que corrimãos sejam construídos com materiais rígidos,
sendo firmemente presos às paredes, barras de suporte ou guarda-corpos, em ambos os lados
de escadas fixas e rampas.
De acordo com a norma brasileira NBR9050/2004, a largura deve estar entre 3,0 cm e 4,5 cm,
evitando arestas vivas. Para melhor encaixe das mãos, entre a parede e o corrimão, indica-se
um espaçamento de, no mínimo, 4,0 cm. Além disso, devem ser de forma tal que permitam boa
empunhadura e deslizamento, sendo preferencialmente de seção circular.
Outra forma de instalação é embutir na parede. Independente de serem embutidos ou externos
à parede, a norma recomenda que deve-se prolongar o corrimão pelo menos 30,0 cm antes do
início e após o término da rampa ou escada e sugere-se a fabricação em cores e materiais
contrastantes em relação à parede, para que permitam fácil e rápida identificação e utilização
por aqueles com deficiência visual.
Figura 02 e 03. Caminhos e conjunto corrimão/guarda corpo. Fonte: elaborado pela autora.
Guarda-corpo
As escadas e rampas que não possuírem paredes em seu perímetro, exceto no acesso, devem
ser providas de guarda corpo e corrimão, com 1,05m de altura (NBR9050/2004) para melhor
proteção e segurança dos usuários.
Cabe ressaltar que caso o guarda corpo seja vazado, o espaçamento deve ser projetado de
modo que não prenda os pés caso o idoso ou usuário se aproxime ou apóie o membro.
Circulações internas
Portas
Janelas
Assim como as portas, as janelas possuem alguns pontos que merecem atenção, quando se
busca promover acessibilidade irrestrita no ambiente o qual se está projetando.
Segundo Palazzo (2013), o peitoril, normalmente entre 0,90 e 1,00m, para melhor visibilidade,
deve ser mais baixo, com 0,70m, permitindo a cadeirantes ou pessoas sentadas, a
possibilidade de observação do exterior sem dificuldades. A instalação de um corrimão
suplementar, a 20 cm acima do peitoril é interessante a medida que proporciona maior
segurança ao usuário, além de servir de apoio para abertura das folhas.
O comando de abertura, pelos mesmos motivos das maçanetas de portas, deve ser de
alavanca, permitindo o uso por apenas uma das mãos em um único movimento. Outro ponto
com os mesmos princípios, que cabe ser destacado, é o uso de cores contrastantes pisos,
equipamentos e mobiliário, em relação à parede, para facilitar a identificação.
Figura 04 e 05- Peitoril mais baixo permite visibilidade mesmo que a pessoa esteja sentada e
prateleiras baixas permitem acesso aos livros, evitando acidentes, facilitando a visualização e
escolha dos objetos, demandando menor esforço do usuário . Fonte: Elaborado pela autora
A arquitetura, seja de uma residência, seja de uma instituição de cuidado ao idoso, deve ser
pensada para melhorar e estimular a socialização dos usuários, também prevendo espaços que
respeitem a privacidade dos indivíduos, possibilitando vivências em separado e contato mais
íntimo com a família.
Nas salas de estar, deve-se pensar de que forma pessoas com cadeira de rodas, muletas,
andadores e bengalas possam se acomodar de modo que facilite a comunicação com os
demais usuários sentados em poltronas e cadeiras, os quais devem possuir assento com
densidade moderada e altura com média de 55 cm para facilitar o sentar e o levantar.
Além disso, é fundamental observar a fixação e nivelação dos tapetes no piso, para evitar que
esses se amontoem e causem tropeços.
Já em relação ao mobiliário, devido à diminuição da estatura em decorrência do
envelhecimento, recomenda-se que os mesmos devem estar dispostos em alturas diferentes,
para que permitam o acesso sem esforço.
Quanto aos espaços de descanso, de acordo com a Cartilha do Idoso Cidadão, a cama para os
idosos deve ter altura entre 50 e 55 centímetros para que o usuário não possua dificuldades em
levar os pés ao chão. Além disso, recomenda-se locá-las de modo que a circulação em volta
fique livre para fluxo sem barreiras.
Em dormitórios mais espaçosos, a colocação de uma poltrona facilita o vestir-se e um sensor de
presença de luz no quarto, evita que o usuário circule no escuro à noite, assim como um
interruptor ao lado da cabeceira facilita acender as luzes enquanto o idoso está deitado.
Segundo Tomasi e Prates (2010), a previsão de ponto de telefone na cabeceira, sempre que
possível, é recomendada, para situações de emergência.
Quanto aos armários, indica-se a disposição de luz interna e altura compatível aos usuários,
para que não seja necessária a utilização de escadas ou cadeiras para alcance de objetos mais
altos. De acordo com a NBR9050/2004, a altura de utilização de armários deve estar entre 0,40
m e 1,20 m do piso acabado. Já a de fixação dos puxadores e fechaduras entre 0,80 m e 1,20
m.
Cozinha
Como muitos idosos, devido à dificuldade de deslocamento, fazem suas refeições em casa,
algumas determinações deverão ser levadas em conta na hora de projetar espaços que
envolvem fogo, gás e trabalho em bancadas.
A iluminação deve ser intensa e eficaz e de acordo com o Manual de Segurança Sanitária para
instituições de longa permanência para idosos, não devem ser aplicados revestimentos que
causem brilhos e reflexos, a fim de evitar desorientação e confusão visual, comuns quando o
sistema visual sofre perdas. Em todo o ambiente, deve-se deixar espaço adequado para a
circulação e trabalho, assim como, instalar corrimãos.
Tratando-se do mobiliário, deve-se prestar maior atenção nas bancadas. Nesse caso, o ideal é
projetar um espaço com duas alturas. A superfície mais alta seria disponibilizada para idosos
trabalharem sem terem que se curvar. Já a mais baixa seria para aqueles que estão em
cadeiras de roda e/ou sentados. No primeiro caso, não é necessário se ter um vão livre de 0,73
m recomendado pela NBR9050/2004, para acomodação da cadeira..
Ainda segundo a norma brasileira de acessibilidade, a altura na parte superior deve ser no
máximo de 0,85 m e os registros monocomando são os mais indicados, sendo seu modo de
acionamento por alavanca ou células fotoelétricas os que permitem melhor uso.
O fogão deve possuir tampo dos dois lados do fogão, de modo a possibilitar o apoio de panelas
e objetos quentes recém tirados do fogo. Sempre que possível, a instalação de detector de
fumaça e gás ou controladores automáticos de gás quando a chama se apaga, garantem mais
segurança para pessoas com deficiências no sistema cognitivo, o que pode gerar uma demora
na percepção de uma situação anormal.
Tratando-se de acabamentos do mobiliário e de bancadas, os cantos devem ser arredondados
para evitar machucados em caso de choque. Assim como nos espaços de descanso, deve-se
prever armários com luz e altura compatível ao alcance dos idosos. Por fim, puxadores das
portas e gavetas dos armários em modelo tipo “D”, que permitem fácil empunhadura.
Banheiros
Os banheiros, juntamente com o trajeto do quarto até esse local, são os ambientes onde ocorre
a maior parte dos acidentes com lesões em idosos. Para evitar esse cenário e promover maior
conforto, alguns critérios retirados da norma NBR9050/1994 e Portaria nº 73 devem ser levados
em conta, tais como:
Prever iluminação intensa e eficaz, tanto no caminho até o banheiro, quanto no mesmo. Assim
como citado no item cozinha, deve-se evitar revestimentos que reflitam a luz, produzindo um
brilho excessivo, o que pode levar a desorientação e confusão visual. Além disso, indica-se a
utilização de luz de vigília sobre a porta, externa e internamente.
Os pisos devem ser sempre antiderrapantes, para evitar que os idosos não sofram escorregões,
principalmente quando estiverem sem calçado.
Deve-se tomar cuidado com tapetes, entre outros acessórios, que não estão fixados ao chão,
podendo facilitar a queda ou tropeço do usuário que não está atento ou possui restrições que o
fazem perder a capacidade de responder rapidamente a um desequilíbrio.
O mesmo vale para soleiras, presentes quando entre o corredor e o banheiro existe mudança
de piso. Essas devem estar no mesmo nível para evitar tropeços, travamento da bengala ou
muletas, assim como propiciar maior facilidade de passagem do usuário com cadeira de roda.
Para sanitários que não serão utilizados por cadeirantes, indica-se a largura mínima de 0,80 m.
Nesse caso, o vaso sanitário deverá estar sobre um sóculo de 0,15 m, a fim de permitir maior
facilidade no ato de sentar e levantar. Por outro lado, para os sanitários acessíveis, de acordo
com a NBR9050/2004, além da área de transferência e a instalação de barras, indica-se que as
bacias sanitárias estejam a uma altura entre 0,43 m e 0,45 m do piso acabado a borda superior.
Com o assento, esta altura deve ser de no máximo 0,46 m, de modo que facilitem o uso.
O chuveiro deve ser instalado em compartimento com dimensões internas que permitam um
banho em posição assentada. As dimensões mínimas são: 0,90 m por 0,95 m. Quando o
usuário estiver em cadeira de rodas, de acordo com a norma brasileira, uma área de
transferência externa deve ser prevista, permitindo a aproximação paralela, estendendo-se no
mínimo 0,30 m para fora da parede onde o banco está fixado, sendo livre de barreiras ou
obstáculos.
Caso esse espaço de banho seja fechado, o acesso não deve atrapalhar a transferência da
cadeira de rodas para o banco, sendo o material empregado de boa resistência ao impacto.
Já o banco utilizado, que propicia maior conforto e segurança ao banho, é articulado ou
removível, com cantos arredondados e superfície antiderrapante impermeável, com
profundidade mínima de 0,45 m, altura de 0,46 m do piso acabado e comprimento mínimo de
0,70 m.
O chuveiro deve possuir ducha manual, misturadores alavanca, monocomando e indica-se que
todas as áreas de chuveiro possuam barras de apoio para facilitar o banho nos momentos que
exigiriam maior equilíbrio. Registros na entrada permitem regular a temperatura da água de
fora do box.
Figura 06 a 08 - Dimensionamento de espaços para banho. Fonte: elaborado pela autora com
base na NBR9050/1994.
A área do lavatório exige tanta atenção quanto a do sanitário para permitir o uso de usuários
com mobilidade reduzida e em cadeira de rodas.
As torneiras de lavatórios devem ser com alavanca, sensor eletrônico, entre outros, facilitando o
uso, pelo mesmo motivo dos registros e maçanetas, exemplificados anteriormente.
Quando empregar misturadores, dar preferência aos de monocomando, instalando-o a no
máximo a 0,50 m da face externa frontal do lavatório. Barras de apoio também são
fundamentais para esse local. No caso de lavatórios embutidos em bancadas, fixar as barras
nas paredes laterais.
Em caso de instalação de um mictório, de acordo com a norma, deve ser prevista área de
aproximação frontal em mictório para pessoas com mobilidade reduzida e cadeirantes, estando
a uma altura de 0,60 m a 0,65 m. Quando for empregado acionamento da descarga, a altura de
seu eixo será de 1,00 m, sendo do tipo alavanca ou com mecanismos automáticos. As barras
também são fundamentais e destacadas na norma.
3. CONCLUSÃO
São poucas as iniciativas que levam em consideração integralmente as demandas dos idosos e
pessoas com restrição, mesmo se sabendo que quanto mais confortáveis forem os espaços,
melhor será o bem-estar físico e mental, assim como a resposta comportamental de um usuário
Em função do grande crescimento da população idosa, no Brasil e no mundo, é fundamental
que se compreenda as necessidades espaciais desse grupo, ao se projetar quaisquer espaços
que os atenderão.
Para isso, esse artigo teve como objetivo revisar bibliograficamente os principais tópicos a
respeito de desenho universal voltado para a arquitetura para idosos, permitindo a esse usuário
tão especial, a possibilidade de sentir-se incluído e confortável nos ambientes nos quais vive e
freqüenta, assim como promover maior tranqüilidade aos familiares e amigos.
Como conclusão geral, pode-se afirmar que as ferramentas e fontes de pesquisa aqui adotadas
foram instrumentos satisfatórios para a criação do embasamento teórico apresentado, o qual
permitiu uma apresentação de diretrizes, diante das novas perspectivas para a arquitetura
voltada aos idosos.
Todavia, como todo estudo, é impossível considerá-lo finalizado, principalmente devido à
complexidade do tema e do usuário, os quais ainda possuem muitos aspectos a serem
explorados e aprofundados.
Como uma perspectiva de pesquisa, tem-se o aprofundamento no campo da antropometria,
apresentando dados claros e detalhados a respeito dos idosos. Esses servirão como base para
elaboração e complementação de critérios relacionados à ergonomia e demandas desse
usuário tão especial.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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