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aprofundados sobre uma leitura, talvez épocas históricas, de inserir os povos indígenas
honestas e abertas. Não propomos verdades, viviam juntos, antes do contato com os
1 Lindomar Dias Padilha é licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), pós-graduado em Desenvolvimento e Relações
Sociais no Campo, Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais pela Universidade de Brasília (UnB), e mestrando em Direito pela
Universidade Católica de Petrópolis.
2Adoto este termo desde 2012, por ocasião da Rio+20, quando foi publicado o Dossiê Acre. A expressão surge após uma leitura comparativa dos
objetivos contidos no estatuto do Sebrae, e a forma e objetivos contidos na Lei 2.308, a chamada Lei Sisa do Acre. Ao comparar, notei que o
estatuto geral do Sebrae em seu capítulo 5S repete para todos os estados a mesma objetividade, acrescendo apenas as siglas referentes às
unidades da federação (TO-Tocantins; A C -A c re ), e que o mesmo ocorria com a lei acreana que era apenas adaptadas aos estados, repetindo
porém, os objetivos.
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A "SEBRAELIZAÇAO DO INDIGENISAAO" NA
AMAZÔNIA OCIDENTAL COMO ESTRATÉGIA
PARA A MERCANTILIZAÇÃO E A FINANCEIRIZAÇÃO
O texto de Terri Aquino e Marcelo pior, coloca os povos indígenas como meros
histórica para realizar o que chamo aqui de Os direitos passam a ser uma dádiva,
primeira adequação dos povos e comunidades um presente, uma concessão por parte dos
Vejamos como essa estrutura teórica justifica a oficial nos informa que a princesa Izabel
possuem um pensamento histórico linear. Esta No caso dos indígenas no Acre a ideia é
é uma forma de pensar do Ocidente europeu, a mesma: depois que os direitos lhes foram
colonialista e expansionista. Segundo Padilha dados por pura generosidade das autoridades
(PADILHA, 2016), "falar em tempos históricos do Governo da Floresta, a eles, os povos
uos povos indígenas nesta lógica é impor-lhes indígenas, restam apenas a eterna gratidão e
a lógica temporal colonizadora". É violar a subserviência. Destacamos que justamente a
lógica indígena e negar-lhe cientificidade; é partir do ano de 2002/2003, em pleno Governo
impor pela história, ainda, um modelo da Floresta, todos os processos de demarcação
desenvolvimentista e evolucionista linear, de Terras Indígenas no Estado do Acre foram
como se a verdadeira história indígena não paralisados. E raras foram as vozes que se
significasse nada e como se só fosse possível levantaram contra esse ataque aos direitos dos
significá-la a partir de uma "criação povos.
cronológica de sua história", sempre dos A falta de empenho para a demarcação
atores de fora, do colonizador. de novas terras, ou das terras que não foram
Admitindo estes tempos históricos, demarcadas, quer justificar a tese de que o
admitiremos, necessariamente, que no Acre se problema dos povos indígenas no Acre não é a
chegou a um tempo identificado como o falta de terra, mas sim, a falta de gestão. Os
"tempo dos direitos". Este ponto é indígenas, portanto, precisam aprender a
especialmente crítico porque enfraquece a serem gestores de suas terras e dos recursos
necessidade de seguir lutando por direitos e, o que também "recebem" do governo.
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A "SEBRAELIZAÇÃO DO INDIGENISMO" NA
AMAZÔNIA OCIDENTAL COMO ESTRATÉGIA
PARA A MERCANTILIZAÇÃO E A FINANCEIRIZAÇÃO
Entretanto, a representação tradicional gestão fica limitada aos seus escritórios, sem
dos povos indígenas supostamente não dá uma prática interna, local, nas comunidades. A
conta desta nova demanda, já que os caciques alternativa apresentada, então, é uma:
quase sempre são vistos como incapazes, transformar as comunidades ou setores dessas
organização sociopolítica dos povos. Por esta indígenas terem acesso a recursos, mas os
razão, se justifica a criação de setores governos, ONGs e empresas terem acesso aos
O fim da UNI deixa um enorme vazio na política indigenista como um todo, e principalmente, na política de atenção à saúde, terra e
educação. Há uma grande perplexidade sobre os caminhos a serem percorridos em relação ao movimento indígena. Passa a ser urgente a
criação de novos espaços para reflexão. Mas, esses espaços são negados e obscurecidos por força da ação político-partidária que ainda atua
de maneira decisiva e controla os recursos destinados à saúde e aos demais setores da vida indígena.
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empresas transnacionais do norte, trazendo posse das terras a que se refere este
a tiracolo os governos de seus países, com artigo, ou a exploração das riquezas
propostas "ecologicamente corretas" e naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
carregando em seu bojo a subordinação ainda existentes, ressalvado relevante
maior dos povos do sul. A terra, lastro do interesse público da União, segundo o
capital natural, está sendo comercializada em que dispuser lei com plem entar, não
bolsas de valores. Tal sanha tam bém se gerando a nulidade e a extinção do direito
estende aos outros elementos da natureza, a indenização ou a ações contra a União,
como o ar, a biodiversidade, a cultura, o sa lv o , na fo rm a da le i, q u a n to às
carbono - patrimônios da humanidade, (grifo benfeitorias derivadas da ocupação de
nosso) boa-fé.
Art. 232. Os índios, suas comunidades e
organizações são partes legítimas para
ingressar em juízo em defesa de seus
A Constituição Federal brasileira, em d ire ito s e in te re s s e s , in t e rv in d o o
Ministério Público em todos os atos do
seu artigo 231, é clara quanto ao processo (BRASIL, CF Art. 231 e 232).
(grifo nosso)
reconhecimento dos direitos dos povos
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Jutta Kill é bióloga, ativista e pesquisadora. Sua pesquisa é orientada à ação e apoio aos movimentos sociais e comunidades tradicionais, na
análise de novas tendências na conservação da natureza e proteção ambiental e seu impacto sobre as comunidades. Desde 2000, vem
documentando os impactos locais de inúmeros projetos de carbono florestal e biodiversidade, em particular os que comercializam compensação
de carbono. Combinando pesquisa de campo e análise crítica com fundamento teórico, seu trabalho vem apoiando fortemente a formulação de
argumentos contrários aos esquemas de mercantilização e financeirização da natureza, assim como denunciando as violações aos direitos das
comunidades indígenas e tradicionais na África e América Latina.
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AMAZÔNIA OCIDENTAL COMO ESTRATÉGIA
PARA A MERCANTILIZAÇÃO E A FINANCEIRIZAÇÃO
indicar o ponto onde paramos neste ano de dados por um governante bonzinho que olha
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AMAZÔNIA OCIDENTAL COMO ESTRATÉGIA
PARA A MERCANTILIZAÇÃO E A FINANCEIRIZAÇÃO
para os povos da floresta e vela por seus sonhos, f) Hipoteca das Terras Indígenas e áreas de
d) Contratação de ONGs que prestam conservação com discurso inversamente oposto
consultoria ao governo na formulação de leis e na para confundir.
aplicação de mecanismos ligados aos interesses g) E, por fim, controle absoluto pelo capital
mercadológicos. sobre os bens naturais comuns a todos nós, por
é) Desqualificação e desautorização das meio da mercantilização e financeirização da
lideranças tradicionais em benefício de novas natureza.
lideranças que melhor "dialogam" com essas
n o v a s f o r m a s do v e l h o c a p i t a l i s m o ,
"empreendedorismo" e desenvolvimentismo.
Referências bibliográficas
KFW. 2017.
NUN ES, R o sen ilda Padilha. (Org.) Indígenas em espaços urbanos no acre. Acre: Ed. M e n s a g e iro (Cim i), 2011.
NUNES, R o sen ilda P adilh a. Entre o Português e o Jaminawa: o b ilin g u ism o e o e n sin o da língua o ficia l. D isse rta çã o d e M e s tra d o em
PADILHA, L in d o m a r D. e ta l. Dossiê Acre: O A cre que os m ercadores da natureza e sco n d e m . DF: C im i, 2012.
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SUMÁRIO
& Balanço dos 3 0 anos sem Chico M endes (Dercy Teles de Carvalho) 7
TRINTA ANOS
POS-AS3ASS1NATO DE
CHICO MENDES
E DESTRUIÇÃO OCULTA DE
FLORESTAS E VIDAS NO ACRE
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