Professional Documents
Culture Documents
Rio de Janeiro
2012
Natália Couto de Oliveira
Rio de Janeiro
2012
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/ CCSA
CDU 327(81)
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação.
___________________________ _________________________
Assinatura Data
Natália Couto de Oliveira
Rio de Janeiro
2012
AGRADECIMENTOS
Ao Prof.º Dr. Williams da Silva Gonçalves pelo ótimo trabalho de orientação que dedicou
a este projeto, sempre disponível e disposto a ajudar nas dificuldades encontradas no decorrer das
pesquisas.
Aos professores do PPGRI por me apresentarem às Relações Internacionais e me
proporcionaram um profundo aprendizado na área, o que me engrandeceu intelectualmente e
humanamente.
Aos grandes amigos que fiz nesses dois anos de intensa convivência e troca de
experiências. Afinal, o que levamos da vida são os amigos e são muitos os que quero levar
comigo depois dessa jornada.
Aos meus familiares por todo o suporte que me foi oferecido ao longo da vida e que me
levaram a galgar sempre degraus mais elevados sem temer o desamparo.
RESUMO
Gráfico 1 – Pontuação do índice EVI para todos os países (inclui países com dados
insuficientes)............................................................................................................. 98
Figura 1 – Índice DNA Brasil – Brasil Real ........................................................................... 109
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12
1 A EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: DE
ESTOCOLMO AOS DIAS ATUAIS ............................................................... 18
1.1 Panorama Histórico das Negociações Ambientais ......................................... 18
1.1.1 A década de 1970 e a Conferência de Estocolmo ............................................... 20
1.1.2 A década de 1980 e os altos e baixos da questão ambiental no sistema
internacional ........................................................................................................ 30
1.1.3 A década de 1990, a RIO-92 e os grandes acordos ambientais .......................... 35
1.1.3.1 A Agenda 21 ....................................................................................................... 42
1.1.3.2 A comissão de desenvolvimento sustentável e a Agenda 21 .............................. 46
1.1.4 Os anos 2000, Joanesburgo e a necessidade de um novo paradigma de
desenvolvimento ................................................................................................ 49
2 ABORDAGENS CONCEITUAIS E PRÁTICAS DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................................................... 56
2.1 Definição de desenvolvimento .......................................................................... 56
INTRODUÇÃO
1
Estado estacionário (steady state) está ligado ao ramo da Economia que trata do crescimento econômico. O estado estacionário,
teoria formulada por Robert Solow, é uma situação na Economia em que o investimento iguala a depreciação. Neste estágio, há a
saturação dos fatores produtivos da economia. Qualquer investimento adicional não provocará mais nenhum crescimento
econômico, pois será inteiramente corroído pela depreciação. Assim, não há mais possibilidade natural de crescimento. Fonte:
ELLERY Jr, Roberto, e GOMES, Victor. Modelo de Solow, Resíduo de Solow e Contabilidade do Crescimento. março de 2003.
Disponível em: http://www.victorgomes.com.br/docs/cursos/ecb1/solow_ecb.pdf. Acesso em 11/06/2011. 21 páginas.
2
SILVA, Guilherme A. e GONÇALVES, Williams. “Dicionário de Relações Internacionais” São Paulo: Editora Manole, 2010, p.
40.
3
Expressão utilizada para designar a realidade socioeconômica dos países subdesenvolvidos da Ásia, África, Oceania e América
Latina, em sua maioria tornados independentes após a Segunda Guerra Mundial. O sentido original da expressão emana
diretamente da estrutura bipolar do sistema internacional dos anos 1950. Os países do Terceiro Mundo são, portanto, aqueles que
não fazem parte do mundo dos países capitalistas desenvolvidos, tampouco pertencem ao mundo dos países socialistas. [...]
[Esses] países [eram] muito vulneráveis às flutuações dos mercados internacionais e [dependiam] de ajuda dos países
desenvolvidos e das politicas de proteção elaboradas pelos organismos internacionais. Fonte: SILVA, Guilherme A. e
GONÇALVES, Williams. 2010. “Dicionário de Relações Internacionais” Editora Manole. p. 280.
13
para que se barateassem os custos de produção, de forma que se firmassem indústrias em países
onde a economia era basicamente agrário-exportadora.
O desenvolvimento como o debatido nesta dissertação, só foi surgir anos mais tarde, com
a divulgação do Relatório Brundtland4, em 1987. Deste relatório provém a definição de
desenvolvimento sustentável: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Este tipo
de desenvolvimento abarca tanto a questão do crescimento econômico com distribuição de renda,
quanto a necessidade de preservação dos recursos escassos do planeta, além de seus ecossistemas.
Como o desenvolvimento sustentável envolve relações tanto nacionais como
transfronteiriças (ou ainda globais), não é possível estudá-lo isoladamente. É um tema que aborda
dois conceitos-chave que afetam as relações entre os países: a necessidade de desenvolvimento de
muitas nações que ainda não atingiram o patamar de riqueza dos países desenvolvidos e o
imperativo da sustentabilidade, que restringe a possibilidade do desenvolvimento econômico ao
interferir no processo produtivo das nações.
Dessa forma, torna-se necessário abordar o desenvolvimento sustentável na perspectiva
das Relações Internacionais. O principal objetivo da dissertação é dar um foco maior a questão
ambiental na perspectiva desenvolvimentista, o que significa a adoção de um conceito de
sustentabilidade em que é permitido o desenvolvimento econômico.
O arcabouço dessa dissertação se baseia em três acontecimentos históricos importantes
para a questão ambiental no mundo: a Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente,
ocorrida em 1972 na Suécia; a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, ocorrida em 1992 no Brasil; e a Conferência das Nações Unidas sobre
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em 2002 na África do Sul. É a partir desses
acontecimentos que a problemática ambiental é exposta dentro das Relações Internacionais, é
concebido o conceito de desenvolvimento sustentável e que as políticas adotadas pelos países em
torno do meio ambiente são avaliadas.
A Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, também conhecida
como Conferência de Estocolmo, acontece no período da détente entre as potências mundiais da
Guerra Fria: os Estados Unidos e União Soviética. O maior espaço dado às necessidades dos
4
Relatório Brundtland, também chamado Nosso Futuro Comum (Our Common Future) é o documento final da Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, promovida pela ONU, nos anos 80 e chefiada pela então primeira-ministra da
Noruega, Gro Harlen Brundtland. Disponível em: <http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/91> Acesso 11/06/2011.
14
países do Terceiro Mundo pode ser considerado efeito desta situação. O enfraquecimento
momentâneo das questões do eixo Leste/Oeste de negociação abriu espaço para que se
expusessem os conflitos do eixo Norte/Sul dentro da conferência.
A Conferência de Estocolmo ficou marcada pela questão do desenvolvimento como
centro de discussão entre os países do Norte e os países do Sul. Neste caso, o Sul menos
desenvolvido saiu vitorioso porque conseguiu pautar a defesa do meio ambiente em função do
desenvolvimento igualitário das nações. Esta conferência foi o primeiro marco ambiental em
termos globais, e as ideias plantadas na Conferência influenciaram o conceito de
desenvolvimento sustentável, anos mais tarde.
Já a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(CNUMAD), ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro, acontece sobre um contexto diferente, após a
queda do muro de Berlim e o fim da cortina de ferro. Este fato produz uma visão mais otimista
dos formuladores de política externa em torno do multilateralismo, algo fundamental para uma
grande Conferência sobre Meio Ambiente.
A RIO-92, como ficou conhecida a CNUMAD, foi um grande sucesso em termos da
disponibilidade das nações em prol de fomentar grandes acordos ambientais. É nesta Conferência
que se estabelecem os maiores acordos ambientais da história, como a Agenda 21. A CNUMAD
abre caminho também para que os países em desenvolvimento obtenham suas demandas em torno
da sustentabilidade e para a busca de financiamento ao novo modelo de desenvolvimento. A ideia
de um desenvolvimento baseado na sustentabilidade foi cunhada nesta Conferência.
Na década seguinte ocorre a Conferência de Joanesburgo, com o objetivo de averiguar o
que de fato tinha sido posto em prática dos acordos assinados no Rio de Janeiro. O que foi visto
nesta Conferência foi um atraso geral na implementação das convenções e uma indisposição,
principalmente por parte dos Estados Unidos, em prosseguir com os acordos e com a ajuda
financeira e tecnológica para a implementação de ferramentas que permitissem o
desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento.
Essa situação pode ser considerada um reflexo dos atentados terroristas de 11 de setembro
de 2001 no Sistema Internacional. Tal fato provocou o enfraquecimento da pauta ambiental nas
Relações Internacionais, ao colocar a segurança nacional novamente no centro da agenda dos
Estados. Além disso, a multilateralidade também se viu enfraquecida. A visão de um mundo
cooperativo caiu por terra e os países têm atuado mais individualmente que cooperativamente.
15
Acordos cooperativos em relação ao meio ambiente têm sido assinados muito mais como
forma de cooperação bilateral do que global. A mitigação dos efeitos do aquecimento global que
se tornou um fator premente na agenda, não consegue ser contemplada em nenhum acordo
multilateral, apesar do esforço envolvido para tanto.
Posto esse arcabouço, o contexto histórico nos leva a um ponto de inflexão no cenário
internacional que começa no ano de 2002 e vai até os dias atuais. Esse será o período analisado
por esta dissertação em termos da utilização dos indicadores de desenvolvimento sustentável.
Nesse início de século XXI, a convergência dos países ao desenvolvimento sustentável também
passa a ser analisada pelo esforço unilateral de cada nação, o que explicita o uso dos indicadores
e justifica sua análise.
A utilização dos indicadores de desenvolvimento sustentável como ferramenta indicativa
do progresso dos países em relação à sustentabilidade ganha força no cenário internacional atual.
A evolução do conceito de desenvolvimento sustentável, através do arcabouço histórico das
Conferências Internacionais, nos leva a um embasamento teórico que servirá para a análise do
período demarcado pela primeira década do século XXI. É neste período que se dará a análise da
economia brasileira, conforme proposto pela dissertação.
Primeiramente, a dissertação se propõe a fornecer uma visão histórica da questão
ambiental em nível internacional nos últimos quarenta anos. Paralelamente, o trabalho tentará
mostrar a evolução do conceito de desenvolvimento sustentável de acordo com as mudanças no
paradigma ambiental. Essa conceituação permitiu a elaboração dos indicadores de
desenvolvimento sustentável. É a partir do conhecimento desses indicadores que são formuladas
as políticas ambientais das nações e se permite a comparação entre o grau de desenvolvimento
sustentável das mesmas.
No primeiro capítulo da dissertação pretende-se realizar um histórico da questão
ambiental, abordando as três grandes Conferências do meio ambiente realizadas pelas Nações
Unidas e sua importância para a formulação oficial do conceito de desenvolvimento sustentável.
Esse histórico será descrito através de fontes primárias, tais como documentos oficiais das
conferências ambientais e fontes secundárias como livros que abordam o tema.
O segundo capítulo da dissertação se dedica à formulação dos conceitos de
desenvolvimento, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável e à formulação dos indicadores
de desenvolvimento sustentável que serão utilizados para a constituição de cenários que
16
consigam avaliar o desenvolvimento sustentável brasileiro. Para essa etapa foram utilizadas
fontes secundárias na obtenção das definições de conceitos, com o auxílio da opinião de
especialistas no assunto, além de analisada a metodologia dos indicadores de desenvolvimento
sustentável.
O terceiro capítulo da dissertação se baseia na exposição dos diferentes tipos de
indicadores criados pela comunidade internacional com o intuito de mensurar o desenvolvimento
sustentável. Neste capítulo é feita uma análise sobre as vantagens e desvantagens de cada um dos
indicadores. Além disso, são testados três diferentes indicadores para o caso brasileiro. Esse
capítulo se aprofunda no estudo das características de cada indicador, além da aplicação dos
mesmos no caso concreto do Brasil.
O capítulo também faz uma revisão bibliográfica a fim de descrever o desenvolvimento
sustentável brasileiro, através de fontes secundárias. O país foi escolhido para exemplificar o grau
de sustentabilidade fornecido pelos indicadores, pois o mesmo é visto como uma nação em
desenvolvimento com grande influência nos fóruns multilaterais sobre o tema ambiental e
também com grande potencial poluidor.
O Brasil é considerado um país emergente em termos econômicos, e que possui uma
elevada produção industrial voltada para o mercado interno e uma grande exportação de
commodities5 (tanto minerais quanto agrícolas). O país ainda apresenta o agravante da descoberta
do pré-sal, uma grande quantidade de petróleo (uma commodity altamente poluente) que pode
prejudicar o processo de desenvolvimento sustentável do país.
A partir da análise dos dados fornecidos pelos indicadores para a situação do
desenvolvimento sustentável no Brasil tem-se elaborada a questão central que esta dissertação
procurará responder: a efetividade no uso dos indicadores de desenvolvimento sustentável para o
direcionamento das políticas referentes à este tema nas nações. A dissertação procura refletir
sobre tais indicadores e o quanto eles são influenciados por conceitos e valores externos que não
podem ser expurgados do cálculo nem do desenvolvimento nem da sustentabilidade.
5
Commodity é um termo de língua inglesa que, como o seu plural commodities, significa mercadoria, e é utilizado nas transações
comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias. Usada como referência aos produtos de base em estado
bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes
quantidades e por diferentes produtores. Estes produtos "in natura", cultivados (soft commodity) ou de extração mineral (hard
commodity), podem ser estocados por determinado período sem perda significativa de qualidade. Definição disponível em:
<http://www.investorwords.com/975/commodity.html> Acesso em: 01/06/2011.
17
6
Para saber mais sobre a Conferência de Bandung ler SILVA, Guilherme A. e GONÇALVES, Williams. 2010. “Dicionário de
Relações Internacionais” Editora Manole. p. 27-29
7
Outra forma de classificar os países através da questão econômica, ou da desigualdade social existente. Considerando os
aspectos socioeconômicos, divide-se o mundo em países desenvolvidos, ou Norte, e subdesenvolvidos, ou Sul. Essa não é uma
divisão geográfica, mas podemos dizer que na América a linha divisória é a fronteira Estados Unidos - México; a Europa é
separada pelo Mediterrâneo; na Ásia, o Japão é o mais desenvolvido, tendo como os tigres Asiáticos como economias emergentes;
Oceania a Austrália e a Nova Zelândia se enquadram no clube dos ricos. Fonte:
http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/arlindojunior/geografia007.asp
19
No final da década de 1960, as questões ambientais eram uma preocupação quase que
exclusivamente do mundo ocidental. Em países comunistas, a destruição implacável do meio
ambiente em nome da industrialização continuava de forma incessante. Em países em
desenvolvimento, a preocupação com o meio ambiente era vista como um luxo do Ocidente.”
(2003, p. 2).
8
Conceito central na teoria elaborada por Raul Prebish para analisar o processo de desenvolvimento do capitalismo na América
Latina. Para a teoria cepalina, a caracterização dos países em "atrasados" decorre da relação do capitalismo mundial de
dependência entre países "centrais" e países "periféricos". A periferia mundial (países periféricos) se apresenta como aqueles
espaços onde os fluxos, o desenvolvimento da ciência, da técnica e da informação ocorram em menor escala e as interações em
relação ao centro se dão gradativamente. A dependência expressa subordinação, a ideia de que o desenvolvimento desses países
está submetido (ou limitado) pelo desenvolvimento de outros.
9
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
20
A partir deste fato se constrói um conflito demarcado pelo eixo Norte/Sul que irá culminar
na Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente humano, a Conferência de Estocolmo.
Seu contexto histórico se dá em um momento “marcado pelo forte questionamento tanto do
modelo ocidental de desenvolvimento quanto do modelo socialista.” (LAGO, 2007, p. 27). Era o
momento da détente entre os blocos comunista e capitalista, o que possibilitou o surgimento de
novos temas na agenda global. O aparecimento do meio ambiente nessa agenda foi, portanto,
consequência direta do período de arrefecimento da Guerra Fria e da ascensão do Terceiro
Mundo.
Segundo Carlos Milani, “Os anos 70 foram marcados pela aceleração, em diferentes
âmbitos (político, econômico, ecológico, cultural e científico), de um conjunto de fenômenos10
cujos resultados foram [...] um processo lento e descontínuo de transformações das relações entre
10
Entre os quais estão o crescimento demográfico, as migrações, o desperdício de energia, a urbanização acelerada, a pobreza, o
peso da dívida externa nos países em desenvolvimento, as políticas de eco desenvolvimento, o desflorestamento, os efeitos
transfronteiriços da poluição do ar e da água, as chuvas ácidas, o efeito estufa e a perda da biodiversidade.
21
[...] nações e governos a respeito do meio ambiente.” (1998, p. 306). Essa evolução contribuiu
para a internacionalização e a transnacionalização da questão ambiental. O quadro abaixo
explicita os principais eventos ocorridos desde a década de 1960 que contribuíram para esse
processo.
Consideração Dimensão da
Fases Temas principais* Planos de discussão
da problemática problemática
Da criação do termo
"ecologia" (1866) aos Não-científica fauna e flora local e nacional local
anos 50
Os anos que antecederam
águas/rios em regime de
a Conferência de Não-científica internacional regional
partilha e Antartica
Estocolmo
poluição do ar, nuclear,
De 1972 ao término dos Científica e
florestas, matérias-primas e internacional global
anos 70 conflitual
desertificação
Científica e clima mundial, camada de
De 1985 à Conferência
potencialmente ozônio, patrimônio genético, internacional global
do Rio de Janeiro
consensual florestas tropicais
Científica e aqueciemento global,
A partir de 1992 internacional global
política desenvolvimento sustentável
Quadro 1
As Fases Históricas da Internacionalização do Meio Ambiente
* Os temas de um período anterior são igualmente considerados nas etapas subsequentes, mesmo que não correspondam aos problemas centrais
dessa nova etapa
Fonte: M ILANI, Carlos. O meio ambiente e a regulação da Ordem M undial. P. 310
11
Foro de discussão concebido pelo industrial italiano Aurélio Peccei, e patrocinados por grandes empresas como a FIAT e a
Volkswagen, que reuniam cientistas, acadêmicos, economistas, industriais e membros de instituições públicas de países
desenvolvidos. Tal foro de discussão mostrou que a preocupação com o meio ambiente atingia grande parcela da sociedade e,
principalmente, alguns decision makers, conscientes das implicações políticas e econômicas de uma mudança de paradigma.
22
utilização dos recursos naturais. Essas considerações seguiam na direção contrária do processo de
desenvolvimento dos países em desenvolvimento, os quais o Clube considerava como uma
ameaça ao planeta. O argumento central era que os países industrializados poluíam e se outros
países se desenvolvessem, a escala de poluição seria muito maior.
Apesar deste estudo ter sido muito criticado por atender exclusivamente aos interesses dos
países desenvolvidos, um de seus pontos positivos foi tornar pública pela primeira vez a noção de
limites externos; ou seja, a ideia de que o desenvolvimento poderia ser limitado pelo tamanho
finito dos recursos terrestres.
Durante os anos 1970, a escala da problemática ecológica deslocou-se, gradualmente, do
nível regional e nacional em direção ao nível internacional. Essa década ficaria marcada por
várias teses catastrofistas sobre o meio ambiente e pela proliferação de teorias conservacionistas
neomalthusianas, tais como a do Clube de Roma. Além disso, essas teses teriam sido
aproveitadas e manipuladas por alguns países desenvolvidos, que passavam por uma crise12 em
seu modelo de crescimento econômico, para servir de acordo com seus interesses. Com relação a
este tema, Carlos Milani argumenta que:
Estas hipóteses [teses catastróficas] foram retomadas e manipuladas por alguns países
desenvolvidos que detinham poder decisivo na definição da agenda internacional, e que viam no
meio ambiente o bode expiatório da crise do modelo de desenvolvimento fundado exclusivamente
na competitividade e na expansão de mercados. Os países do Sul, nesse contexto, reagiram com
muita firmeza e reticência: a descolonização, o desarmamento e o desenvolvimento encontraram-
se à base da diplomacia multilateral dos países recentemente independentes, aliados aos outros
países em desenvolvimento. (1998, p. 313).
12
Declínio da “era de ouro keynesiana” (1950-1965), onde os países desenvolvidos conseguiram manter altas taxas de
crescimento no pós-Segunda Guerra. A década de 1970 ficou marcada pelas altas taxas de inflação e desemprego provocados
inicialmente pela crise do petróleo de 1973. Esse fenômeno ficou conhecido como estagflação nos países desenvolvidos.
23
na convocação da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, tornando
inevitável para os países em desenvolvimento estudar estratégias e posições que orientassem a
inserção do tema desenvolvimento econômico-social nas discussões internacionais, de maneira a
favorecer os seus principais interesses. Segundo André Aranha Corrêa do Lago,
A Conferência de Estocolmo constituiu etapa histórica para a evolução do tratamento das questões
ligadas ao meio ambiente no plano internacional e também no plano interno de grande número de
países. O tema, no entanto, ao ganhar crescente legitimidade internacional, passou a ser discutido
cada vez menos do ponto de vista científico, e cada vez mais no contexto político e econômico.
(2007, p. 32).
A posição dos países em desenvolvimento já pôde ser percebida nos preparativos para a
Conferência, com a formação de um comitê preparatório composto por 27 países, incluindo o
Brasil. Desde o início, houve a resistência dos países em desenvolvimento com os rumos em que
se desenhava a Conferência. Para esses países, a eliminação da pobreza deveria ser a prioridade
máxima do homem e o desenvolvimento econômico estava acima das preocupações ambientais.
“‘A pobreza é a pior forma de poluição’, afirmou a primeira-ministra da Índia, Indira Gandhi, que
desempenhou um papel importantíssimo no direcionamento da agenda da Conferência [...] [de]
Estocolmo [...], às questões dos países em desenvolvimento.” (STRONG, 1999, apud PNUMA,
2003, p. 2).
O fator determinante para a obtenção do apoio dos países em desenvolvimento à
Conferência foi a decisão de convocar o Grupo de Peritos sobre Desenvolvimento e Meio
Ambiente, que se reuniu em Founex, na Suíça, em junho de 1971. André Aranha Correia do Lago
afirma que o encontro em “Founex foi determinante para a definição do foco que teria a
Conferência [...] [mudando] o rumo das negociações do meio ambiente de um modo geral,
ampliando de forma significativa a relevância do debate ambiental para os países em
desenvolvimento.” (2007, p.37).
O relatório obtido em Founex articulava as relações essenciais entre meio ambiente e
desenvolvimento, fornecendo a base e o suporte intelectual para políticas com vistas à
Conferência de Estocolmo. Tal relatório é composto de cinco capítulos onde se discutem as
questões ambientais a serem tratadas naquela Conferência.
O Relatório Founex argumenta que os principais problemas ambientais dos países em
desenvolvimento são essencialmente diferentes dos problemas enfrentados pelos países
desenvolvidos e não deveriam ser colocados da mesma forma em Estocolmo. Em grande parte, o
tipo de problema ambiental que era enfrentado nos países em desenvolvimento é aquele que pode
24
ser superado pelo próprio processo de desenvolvimento. Para o relatório, o reconhecimento das
questões ambientais em países em desenvolvimento é um aspecto da ampliação do próprio
conceito de desenvolvimento. E a escolha entre o tipo de crescimento econômico só poderia ser
efetuada pelo próprio país, levando-se em conta sua estratégia desenvolvimentista, não podendo
ser determinada por qualquer regra estabelecida a priori.
O documento final apresentado em Founex refletia a linha de pensamento da CEPAL,
com um cunho muito mais desenvolvimentista. Para os países em desenvolvimento, o
subdesenvolvimento e a pobreza eram o pior tipo de poluição existente e seus problemas
ambientais eram, em sua grande maioria, causados pela perpetuação de ambos (como falta de
saneamento e habitação adequados, por exemplo). O desenvolvimento era apresentado como a
solução para o fim dos problemas ambientais nos países em desenvolvimento, invertendo a
equação dos países ricos onde o desenvolvimento era o causador dos problemas ambientais.
A Conferência de Estocolmo, a partir de então, deixava seu caráter pretensamente
científico e ganhava um perfil muito mais político, com os países em desenvolvimento muito
mais articulados. O Relatório de Founex propunha princípios e ações que se tornaram argumentos
clássicos nas negociações de meio ambiente, como as referências às principais ameaças que
podem surgir para as exportações de países em desenvolvimento, em consequência das
preocupações ambientais dos países desenvolvidos, ou a necessidade de monitorar a criação de
barreiras não tarifárias baseadas em preocupações ambientais. Mas o principal argumento do
relatório ficava por conta da necessidade de
fundos adicionais para subsidiar pesquisas sobre problemas ambientais de países em
desenvolvimento, para compensar grandes deslocamentos de exportações de países em
desenvolvimento, para cobrir importantes aumentos no custo de desenvolvimento de projetos
devido a padrões ambientais mais elevados e para financiar a reestruturação do investimento, da
produção ou do perfil das exportações, que se tornariam necessários pelas preocupações
ambientais dos países desenvolvidos. (LAGO, 2007 p. 39)
outro lado, os países desenvolvidos saíram vitoriosos, como nas questões de financiamento e
cooperação. A ideia de que o crescimento econômico não deveria seguir os padrões estabelecidos
pelos países desenvolvidos ficou arraigada nesta Conferência. O mundo já não via com bons
olhos o crescimento econômico e o padrão de consumo da época, e ficou estabelecido que os
países em desenvolvimento deveriam sim perseguir o crescimento, mas de uma forma menos
impactante ao meio ambiente.
O tema da discussão das responsabilidades ambientais foi algo que surgiu na Conferência
e perdurou ao longo dos anos. Os países em desenvolvimento concordaram que deveriam seguir
outros rumos de crescimento e padrões de consumo, mas não queriam arcar com as despesas
sozinhos, afinal não foi por responsabilidade deles que o mundo havia chegado naquele patamar
alarmante de poluição. Os países em desenvolvimento clamavam por ajuda financeira e
tecnológica para conseguir alcançar o desenvolvimento sem grandes impactos ambientais e, ao
mesmo tempo, não perder competitividade frente aos países desenvolvidos.
No final da Conferência, foram aprovados a Declaração da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente Humano, com 26 princípios (descritas no quadro abaixo), e o Plano
de Ação para o Meio Ambiente Humano, com 109 recomendações.
1. Os direitos humanos devem ser defendidos; o apartheid e o colonialismo devem ser condenados
2. Os recursos naturais devem ser preservados
3. A capacidade da Terra de produzir recursos renováveis deve ser mantida
4. A fauna e a flora silvestres devem ser preservadas
5. Os recursos não-renováveis devem ser compartilhados, não esgotados
6. A poluição não deve exceder a capacidade do meio ambiente de neutralizá-la
7. A poluição danosa aos oceanos deve ser evitada
8. O desenvolvimento é necessário à melhoria do meio ambiente
9. Os países em desenvolvimento requerem ajuda
10. Os países em desenvolvimento necessitam de preços justos para as suas exportações, para que realizem a
gestão do meio ambiente
11. As políticas ambientais não devem comprometer o desenvolvimento
12. Os países em desenvolvimento necessitam de recursos para desenvolver medidas de proteção ambiental
13. É necessário estabelecer um planejamento integrado para o desenvolvimento
14. Um planejamento racional deve resolver conflitos entre meio ambiente e desenvolvimento
15. Assentamentos humanos devem ser planejados de forma a eliminar problemas ambientais
16. Os governos devem planejar suas próprias políticas populacionais de maneira adequada
17. As instituições nacionais devem planejar o desenvolvimento dos recursos naturais dos Estados
18. A ciência e a tecnologia devem ser usadas para melhorar o meio ambiente
19. A educação ambiental é essencial
20. Deve-se promover pesquisas ambientais, principalmente em países em desenvolvimento
21. Os Estados podem explorar seus recursos como quiserem, desde que não causem danos a outros
22. Os Estados que sofrerem danos dessa forma devem ser indenizados
23. Cada país deve estabelecer suas próprias normas
24. Deve haver cooperação em questões internacionais
25. Organizações internacionais devem ajudar a melhorar o meio ambiente
26. Armas de destruição em massa devem ser eliminadas
Quadro 2
Princípios da Declaração de Estocolmo
Fonte: PNUMA, Integração entre o meio ambiente e o desenvolvimento: 1972–2002.
27
Além disso, as Nações Unidas, para muitos observadores, teriam saído fortalecidas de
Estocolmo,
não só porque o sucesso do modelo de Conferência acabou gerando uma série de outras
importantes Conferências nos anos seguintes, mas também porque, de certa maneira, o meio
ambiente dava uma nova raison d’être a uma organização acusada de não acompanhar as rápidas
mudanças do mundo moderno. (LAGO, 2007 p. 48).
A Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano e seus
princípios constituíram o primeiro conjunto de “soft law” (leis internacionais sem aplicação
prática) para questões ambientais internacionais. Somadas ao Plano de Ação para o Meio
Ambiente Humano, essas ações criaram as bases para todas as negociações sobre o meio
ambiente.
Apesar do sucesso da primeira Conferência da ONU sobre o meio ambiente, ela também
não deixou de sofrer críticas, principalmente por parte de algumas delegações que se sentiram
derrotadas no debate. Os países desenvolvidos acabaram sendo os mais críticos, justamente
porque não esperavam os rumos que a Conferência tomou, devido ao forte apelo ao
desenvolvimento dos países periféricos.
Essa situação só foi possível pela divisão existente dentro do grupo dos países
desenvolvidos, cujas prioridades não eram coincidentes em vários pontos da agenda. As
desavenças entre os países desenvolvidos iriam se acentuar ao longo dos anos. Em Estocolmo, a
maioria deles não demonstrou grande interesse no desenvolvimento da agenda ambientalista, com
28
exceção dos países nórdicos, onde se encontrava a Suécia, a anfitriã do evento. Estes queriam o
cumprimento da agenda ambiental crua, sem levar em conta a necessidade de desenvolvimento
de outros países.
A Conferência de Estocolmo também trouxe à tona mais diferenças do que soluções entre
as posições dos países em desenvolvimento e desenvolvidos. As questões financeiras e as bases
para estabelecer a divisão de responsabilidades e de custos entre os países foi o grande ponto de
interrogação de Estocolmo, e continua a ser até hoje. Na Conferência, ficou estabelecido o
repasse de 0,7% do PNB13 dos países desenvolvidos para o desenvolvimento, dentro dos padrões
ambientais de países em desenvolvimento, com um horizonte indefinido para o seu cumprimento.
Até hoje esse é um ponto de discussão não resolvido, uma vez que a maioria dos países
desenvolvidos não fez qualquer tipo de repasse estabelecido.
No contexto das profundas mudanças por que passaram as Relações Internacionais ao
longo do tempo, o meio ambiente foi adquirindo potencial importante de transformação das cenas
políticas e econômicas mundiais. Ainda na década de 1970, foi realizado um simpósio sob a
jurisdição do PNUMA e da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(UNCTAD) em Cocoyoc, no México. Tal simpósio verificou os fatores sociais e econômicos que
levam à deterioração ambiental. O relatório obtido no México (também conhecido como a
Declaração de Cocoyoc) influiu diretamente no pensamento ambiental, e suas palavras reafirmam
o caráter desenvolvimentista da década: “Os impactos destrutivos combinados de uma maioria
carente lutando para sobreviver e uma minoria rica consumindo a maior parte dos recursos
terrestres têm comprometido os próprios meios que permitem a todas as pessoas sobreviver e
prosperar.” (UNEP/UNCTAD, 1974, apud. PNUMA, 2003).
A conclusão do simpósio sobre a condição ambiental era de que o problema não era de
escassez material absoluta, mas sim de má distribuição e mau uso dos recursos, tanto do ponto de
vista econômico quanto social. A tarefa dos estadistas era a de orientar seus países em direção a
um novo sistema mais capaz de satisfazer os limites internos das necessidades humanas básicas
para todas as pessoas do mundo, e fazê-lo sem violar os limites externos dos recursos e do meio
ambiente do planeta. Estava sendo moldada, dessa forma, a primeira formulação de
desenvolvimento sustentável.
Os seres humanos têm necessidades básicas: alimentação, abrigo, vestimentas, saúde, educação.
Qualquer processo de crescimento que não leve à sua realização – ou pior, que a impeça – é uma
13
Produto Nacional Bruto
29
14
Bem comum é uma falha de mercado, pela qual são chamados os bens não-exclusivos e rivais, ou seja, não é possível excluir
um consumidor pela capacidade de pagar pelo consumo de um bem ou serviço, mas o consumo de um bem por uma pessoa
impede o consumo do mesmo bem por outra pessoa. Os exemplos mais claros e frequentes de bens comuns são os recursos
ambientais, onde não se pode excluir os consumidores, por não haver direito de propriedade sobre os bens, mas o consumo de um
causa externalidades para outros, como a poluição ambiental e a extinção de espécies animais, pela caça por exemplo.
32
como também naquelas que atingiam a esfera econômica do problema. Em 1988, o G-715 incluiu
pela primeira vez o tema ambiental como item importante na sua declaração final, mostrando a
crescente importância do tema no cenário econômico mundial. A relação de trocas nas
economias, principalmente a migração das empresas transnacionais para territórios onde havia
uma maior permissividade nos processos de proteção ambiental, estava no cerne da questão para
os países desenvolvidos.
Um passo definitivamente importante para a construção de um consenso ambiental
internacional foi a publicação do Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, conhecido como Relatório Brundtland16, em 1987. A Comissão Brundtland,
foi criada em 1983 para realizar audiências ao redor do mundo e produzir um relatório formal
com suas conclusões. Este processo possibilitou que diferentes grupos expressassem seus pontos
de vista em questões importantes, como agricultura, silvicultura, água, energia, transferência de
tecnologias e desenvolvimento sustentável em geral.
A partir do Relatório Brundtland, foi oficializada a definição de desenvolvimento
sustentável, que perdura até hoje como base nas discussões das questões ambientais.
Desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.” O
documento criado pela comissão foi intitulado Nosso Futuro Comum e aponta para a
incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo
vigentes.
As conclusões do Relatório não poupam os países desenvolvidos nem aqueles em
desenvolvimento, mas oferecem alternativas e apontam caminhos viáveis que não excluem o
desenvolvimento dos pobres e o questionamento dos padrões dos países mais ricos. Se há um
documento que se pode comparar ao Relatório Brundtland, este seria o Relatório de Founex:
ambos enfocam o meio ambiente no contexto do desenvolvimento e estabelecem a base conceitual
das Conferências de Estocolmo e do Rio de Janeiro. (LAGO, 2007, p. 65).
O relatório aponta uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países
industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, e ressalta os riscos do uso
excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. De
acordo com o relatório extraído do PNUMA,
15
O Grupo dos Sete e a Rússia, mais conhecido como G8, é um grupo internacional que reúne os sete países mais industrializados
(Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) e desenvolvidos economicamente do mundo, mais a
Rússia.
16
Homenagem à primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que chefiou a Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento.
33
O Relatório Brundtland apontava várias medidas que deveriam ser adotadas para a
conservação e utilização dos recursos naturais de forma sustentável. No plano internacional,
foram propostas metas como a adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável por órgãos e
instituições internacionais de financiamento ao desenvolvimento; proteção dos ecossistemas
supranacionais como a Antárctica e os oceanos; banimento das guerras; e implantação de um
programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Além da Comissão e do Relatório Brundtland, na década de 1980 foram assinados outros
acordos de extrema importância para o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Dentre
eles estão: a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), de 1982; o
Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, de 1987
(implementando a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, de 1985); e a
Convenção da Basiléia para o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos
e sua Eliminação, de 1989.
O protocolo de Montreal é um dos exemplos mais bem-sucedidos de cooperação
internacional sobre o meio ambiente. A conclusão do Protocolo foi considerada como um modelo
promissor de cooperação entre os hemisférios Norte e Sul, os governos e o setor empresarial no
tratamento de questões ambientais globais. Muito desse mérito está na utilização de um Fundo
Multilateral criado como um incentivo à participação de países em desenvolvimento. Porém, lidar
com o problema da camada de ozônio, e com um fundo específico para isso, se mostrou muito
mais satisfatório que lidar com outros problemas ambientais que se apresentariam na década de
1980.
O final da década de 1980 representou o declínio do sistema mundial conhecido desde a
Segunda Guerra Mundial e o início de uma incerteza quanto à “configuração de mundo” que iria
se impor dali por diante. Duas opções eram válidas naquele momento. A primeira seria um
domínio total de uma única potência no sistema internacional, onde os Estados Unidos eram o
candidato natural (e único) para assumir o papel, criando um mundo unipolar. A segunda seria de
34
A abertura dos anos 1990 era vista como um cenário de multilateralidade, onde o
liberalismo, tanto político quanto econômico ganhava contornos de “melhor política” a ser
seguida pelos países que buscavam o desenvolvimento. Nesse contexto, ganhava corpo também a
ideia de que se as fronteiras se tornassem mais fluidas e as economias mais interligadas, o mundo
seria globalizado. O esforço para obter resultados nas negociações multilaterais de rodadas
internacionais, como a Rodada Uruguai do GATT18, evidencia a tentativa de cooperação numa
nova configuração de mundo que se avizinhava.
Assim também aconteceu com a questão ambiental, em que a década de 1990
“caracterizou-se pela busca por uma melhor compreensão sobre o conceito e o significado do
desenvolvimento sustentável, paralelamente às tendências crescentes em direção à globalização,
especialmente no que diz respeito ao comércio e à tecnologia.” (PNUMA, 2003, p. 14). A
configuração das mudanças mundiais permitiu que a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento fosse um encontro onde os interesses multilaterais prevalecessem
sobre os individuais, apesar da persistente divergência entre o eixo Norte/Sul de negociação.
Desde o começo, a RIO-92 foi considerada o momento final de diversos processos de
negociações sobre aquecimento global, diversidade biológica e desflorestamento. O Relatório
Brundtland teve influência direta sobre a definição dos rumos da Conferência, fazendo com que o
meio ambiente na CNUMAD fosse interpretado em sentido mais amplo da perspectiva do
desenvolvimento sustentável. “A noção de que o desenvolvimento sustentável se baseia em três
pilares – o econômico, o social e o ambiental – favorece, nas discussões do Rio de Janeiro, tanto
as prioridades dos países desenvolvidos, quanto aquelas dos países em desenvolvimento.”
(LAGO, 2007, p. 56).
Uma série de negociações foi iniciada no âmbito da CNUMAD visando ultimar acordos
internacionais que seriam assinados durante a Conferência. No fim da década de 1980, já havia se
iniciado a discussão das duas Convenções que foram abertas para assinatura na Conferência do
Rio: a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima e a Convenção sobre Diversidade Biológica.
18
General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio)
36
Entretanto, essas duas convenções, foram negociadas fora do quadro institucional do Preparatory
Committee (PrepCom), o comitê preparatório da Convenção.
O amálgama de diferentes fóruns de negociação dentro da CNUMAD foi resultado do
interesse do grupo dos países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil, que preferiam ver essas
negociações apoiadas mais em questões políticas e econômicas do que sob um aspecto puramente
técnico e científico. Como o PNUMA tinha um aspecto mais cientifico, para as discussões sobre
mudanças climáticas foi criado um novo fórum de negociação no nível da Assembleia Geral das
Nações Unidas (AGNU), o que tornaria as discussões mais políticas. Essa atitude dos países em
desenvolvimento acabou se refletindo dentro da Conferência, que acolheu resoluções de vários
fóruns de decisão, englobando todos no mesmo grau de importância, sejam aqueles propostos
pelo próprio PrepCom, pelo PNUMA ou pela AGNU. Abaixo está relacionado um quadro que
explicita tais negociações.
Quadro 3
As negociações da CNUMAD
Fonte: MILANI, Carlos. O meio ambiente e a regulação da Ordem Mundial. P. 310
37
19
O Princípio do Poluidor Pagador obriga quem poluiu a pagar pela poluição causada ou que pode ser causada.
20
O Princípio da Precaução estabelece a vedação de intervenções no meio ambiente, salvo se houver a certeza que as alterações
não causaram reações adversas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade respostas conclusivas sobre a inocuidade
de determinados procedimentos.
38
de reunir as várias agências e órgãos das Nações Unidas que tratam das matérias relacionadas ao
desenvolvimento sustentável.” (apud. LAGO, 2007, p. 72).
A grande discussão na RIO-92 seria mesmo financeira. Além das demandas da Agenda
21, o grande fator de discórdia entre Norte/Sul ficou mesmo na situação dos financiamentos para
os projetos ambientais que estavam sendo desenvolvidos na Conferência. Diferentemente de
Estocolmo, a RIO-92 trazia implícita a questão do desenvolvimento, mas esse desenvolvimento
deveria se dar em moldes sustentáveis e o custo para se alcançá-lo foi o que pautou a divergência
entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento.
Uma das questões mais polêmicas foi a da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento, para a qual
os países em desenvolvimento desejavam obter um compromisso dos países ricos de
contribuírem com o patamar de 0,7% do seu PNB. Como fora abordado na Conferência de
Estocolmo, essa era uma promessa que não tinha sido cumprida até então. A necessidade de
financiamento nunca seria cumprida em sua totalidade, com os poucos países desenvolvidos
doadores diminuindo seu percentual gradualmente durante o passar dos anos.
Milani explicita muito bem o teor das negociações financeiras ao dizer que na RIO-92,
volta à tona o velho diálogo Norte/Sul, com uma roupagem nova, mas sem que o grande
problema dos fundos internacionais adicionais, num contexto de economia mais globalizada,
fosse resolvido. “Os debates sobre o desenvolvimento sustentável permaneceram sob o domínio
de fatores econômicos, demográficos e institucionais.” (1998, p. 321).
Com o fim das negociações da CNUMAD foi mencionada a necessidade de maior
transparência nos mecanismos de financiamento, como o Global Environmental Facility (GEF),
mecanismo de financiamento engendrado pelos países desenvolvidos no âmbito da Agenda 21.
Esses países também alteraram a meta de doação de 0,7% do PNB aos países em
desenvolvimento. O argumento corrobora o compromisso com essa cifra, dividindo os países em
desenvolvimento em dois grupos: os dos países que “aceitam ou já aceitaram atingir a meta [de
desenvolvimento sustentável] no ano 2000”, e países que “concordam em aumentar seus
programas de ajuda de forma a alcançar a meta tão cedo quanto possível” 21.
Ao invés de um fundo verde, que era a ideia central para o financiamento do
desenvolvimento sustentável elaborada nos comitês preparatórios da Conferência, a RIO-92
21
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Relatório da Delegação do Brasil: Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento. p. 56.
39
Apesar dos conflitos, em sua maioria gerados pela questão financeira, a CNUMAD foi um
sucesso em seu objetivo principal de pautar uma agenda comum para o desenvolvimento
sustentável. Em termos de acordos, tivemos a Agenda 21 como principal documento assinado e
também a Declaração do Rio, que institui princípios para a definição de desenvolvimento
sustentável. Além disso, foi na CNUMAD que se estabeleceu a Convenção Quadro sobre
Mudanças Climáticas, que iria ganhar importância ao longo da década e se tornaria o foco da
questão ambiental no início do século XXI.
A Declaração do Rio surge como resultado do trabalho do PrepCom que tinha como
objetivo central obter uma “Carta da Terra” (Earth Charter) dos membros da Conferência. Com
poucas páginas, a Declaração do Rio conseguira resumir muitas das mais importantes questões
que dividiram os interesses e preocupações dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Tal
documento representava um equilíbrio tão delicado entre as concessões e acordos entre os países
participantes que não sofreu alterações na própria Conferência e acabou formulado contendo os
27 princípios originais.
Desses princípios, alguns favoreciam claramente os países em desenvolvimento, ao
reiterar e fortalecer sua posição em Estocolmo. Tais princípios eram: a afirmação do direito
soberano dos países de explorar os próprios recursos segundo as próprias políticas de meio
ambiente e desenvolvimento (Princípio 2), o direito ao desenvolvimento (Princípio 3) e o fato de
normas ambientais aplicadas por alguns países serem inadequadas para outros (Princípio 11).
Outros “constituem franco progresso no arcabouço conceitual das negociações sobre meio
ambiente e desenvolvimento [como] o princípio das responsabilidades comuns, porém
22
International Development Association.
40
23
Os Estados deverão cooperar com o espírito de solidariedade mundial para conservar, proteger e restabelecer a saúde e a
integridade do ecossistema da Terra. Tendo em vista que tenham contribuído notadamente para a degradação do ambiente
mundial, os Estados têm responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade
que lhes cabe na busca internacional do desenvolvimento sustentável, em vista das pressões que suas sociedades exercem sobre o
meio ambiente mundial e das tecnologias e dos recursos financeiros de que dispõem. (Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, p. 1).
24
Com a finalidade de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério de precaução conforme suas
capacidades. Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada
como razão para que seja adiada a adoção de medidas eficazes em função dos custos para impedir a degradação ambiental.
(Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, p. 1).
41
1.1.3.1 A Agenda 21
25
Questões sociais e econômicas como a cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável, combater a
pobreza, mudar os padrões de consumo, as dinâmicas demográficas e a sustentabilidade, e proteger e promover a saúde humana.
Conservação e manejo dos recursos visando o desenvolvimento, como a proteção da atmosfera, o combate ao desmatamento, o
combate à desertificação e à seca, a promoção da agricultura sustentável e do desenvolvimento rural, a conservação da diversidade
biológica, a proteção dos recursos de água doce e dos oceanos e o manejo racional de produtos químicos tóxicos e de resíduos
perigosos. Fortalecimento do papel de grandes grupos, incluindo mulheres, crianças e jovens, povos indígenas e suas
comunidades, ONGs, iniciativas de autoridades locais em apoio à Agenda 21, trabalhadores e seus sindicatos, comércio e
indústria, a comunidade científica e tecnológica e agricultores. Meios de implementação do programa, incluindo mecanismos e
recursos financeiros, transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis, promoção da educação, conscientização pública e
capacitação, arranjos de instituições internacionais, mecanismos e instrumentos legais internacionais e informações para o
processo de tomada de decisões. (PNUMA, 2003, p. 16).
43
sem qualquer articulação com os países em desenvolvimento. Esse passaria a ser o fundo global
reservado às questões ambientais mundiais. De acordo com o PNUMA,
O Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) foi criado em 1991 como uma parceria
experimental entre o PNUMA, o PNUD e o Banco Mundial para gerar dividendos ecológicos a
partir do desenvolvimento local e regional, fornecendo subvenções e empréstimos a juros baixos
para países em desenvolvimento e economias em transição. Após a Rio-92, intencionava-se que
funcionasse como o mecanismo de financiamento da Agenda 21 e que mobilizasse os recursos
necessários. O Fundo ajuda a financiar projetos de desenvolvimento em âmbito regional, nacional
e global que beneficiem o meio ambiente mundial em quatro áreas básicas – mudanças climáticas,
biodiversidade, camada de ozônio e águas internacionais – e também economias e sociedades
locais. (2003, p. 18)
Além disso, o GEF só apoiaria projetos cujos resultados fossem benefícios globais, ou
seja, os países desenvolvidos só financiariam projetos em países em desenvolvimento que
beneficiassem a eles próprios. A diferença entre as promessas feitas pelos doadores e suas
contribuições efetivas ao GEF causou uma justificada preocupação nos países em
desenvolvimento. “Embora o compromisso dos países desenvolvidos fosse o de contribuir com
0,7% do seu PNB para a ODA anualmente, esta só recebeu 0,29% em 1995, o nível mais baixo
alcançado desde 1973”. (GEF, 1997, apud. PNUMA, 2003, p. 19).
O conflito Norte/Sul, no âmbito da Agenda 21 estava acirrado devido a esta questão
financeira. Os países desenvolvidos insistiam na globalização dos fenômenos ambientais,
excluindo processos de efeito localizado, enquanto os países em desenvolvimento defendiam
convergência desses processos e a não distinção entre “benefícios globais” e “benefícios
nacionais ou locais”. Por baixo desse conflito estava mesmo a questão dos financiamentos de
projetos ambientais e a necessidade de obtenção de tecnologias limpas.
45
Mesmo com todas as questões financeiras, a criação da Agenda 21 foi um avanço para a
construção do desenvolvimento sustentável. Foi a partir de seus preceitos que toda uma pauta
substancial de ações foi tomada na década de 1990 tanto no terreno nacional quanto no
internacional. A Agenda 21 se constituiu num poderoso instrumento de reconversão da sociedade
capitalista industrial rumo a um novo paradigma, que exige a reinterpretação do conceito de
progresso para algo que promova a qualidade de vida, não apenas o crescimento econômico
quantitativo.
O mais importante ponto das ações prioritárias da Agenda é o planejamento de sistemas
de produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício. A Agenda 21 é um plano de
ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do sistema das Nações
Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio
ambiente.
O documento referente a Agenda 21, assinado na RIO-92, deu frutos a partir de um
estreito acompanhamento feito na década de 1990 no qual foram elaborados ajustes e revisões.
Primeiro, com a conferência Rio+5; posteriormente com a adoção de uma agenda
complementária denominada Metas do Desenvolvimento do Milênio (Millenium Development
Goals), com ênfase particular nas políticas de globalização e na erradicação da pobreza e da
fome; e mais recentemente, a Cúpula de Joanesburgo, em 2002, terceira e última grande
Conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento promovida pelas Nações Unidas.
Seu papel é examinar a implementação da Agenda 21, nos níveis nacional, regional e
internacional, guiada explicitamente pelos princípios da Declaração do Rio de Janeiro.
A Comissão monitora a integração dos objetivos desenvolvimentistas e ambientais que
permeiam todo o sistema das Nações Unidas, coordena o processo decisório entre governos
nessas matérias e faz recomendações sobre quaisquer medidas necessárias para a promoção do
desenvolvimento sustentável. Ela tem também a função de rever os compromissos financeiros
assumidos na Agenda 21. Em todas essas matérias a Comissão pode formular recomendações,
através do Comitê Econômico e Social da ONU, à Assembleia Geral.
Na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento –
CNUMAD levantou-se a necessidade de desenvolver indicadores capazes de avaliar a
sustentabilidade, já que os instrumentos disponíveis, entre eles o PIB, não forneciam dados
suficientes para análise.
O documento final da Conferência, a Agenda 21, em seu capítulo 40, destaca:
Os indicadores comumente utilizados, como o Produto Nacional Bruto (PNB) ou as medições das
correntes individuais de contaminação ou de recursos, não dão indicações precisas de
sustentabilidade. Os métodos de avaliação da interação entre diversos parâmetros setoriais do meio
ambiente e do desenvolvimento são imperfeitos ou se aplicam deficientemente. É preciso elaborar
indicadores do desenvolvimento sustentável que sirvam de base sólida para adotar decisões em
todos os níveis e que contribuam para uma sustentabilidade autorregulada dos sistemas integrados
do meio ambiente e o desenvolvimento. (United Nations, 1992).
Desde a assinatura da Agenda 21, 178 países concordaram em corrigir distorções geradas
por uma avaliação exclusivamente econômica do PIB. Para tanto, deve-se somar a esse cálculo
dados sobre recursos socioambientais e subtrair os dados de atividades predatórias e o
desperdício de recursos, dentre outras distorções. Só assim seria possível definir padrões de
sustentabilidade e desenvolvimento que incluíssem aspectos econômicos, sociais, éticos e
culturais.
A CDS avalia os progressos em direção ao desenvolvimento sustentável através de
relatórios apresentados anualmente pelos governos. Em meados de 1996, aproximadamente 75
governos anunciaram que haviam estabelecido comissões nacionais de desenvolvimento
sustentável ou outros órgãos de coordenação. Entre as questões examinadas pela CDS, cabe
incluir: o comércio e o meio ambiente, os modos de produção e de consumo, a luta contra a
pobreza, a dinâmica demográfica, os recursos e mecanismos financeiros, a educação, a ciência, a
transferência de tecnologia ecologicamente racional, a cooperação técnica, o fomento à
capacitação, e a adoção das decisões e das atividades dos principais grupos.
47
Para ajudar os países a formular suas normas sobre a sustentabilidade e a controlar seus
efeitos, a Agenda 21 reconhece a necessidade de se estabelecer uma série de indicadores de
desenvolvimento sustentável com aceitação internacional. A transferência de tecnologia
ecologicamente racional é outra questão sobre a qual a Comissão aprovou um programa de
trabalho, promovendo formas de produção industrial menos poluentes. Impulsionados pelas
discussões e pelos resultados da CNUMAD, e seguindo a Agenda 21 Global, governos e
sociedade deram início a um conjunto de ações de construção de “Agendas 21”, nos âmbitos
nacional, regional e local.
Cinco anos depois da RIO-92, a ONU fez uma avaliação crítica dos resultados daquele
encontro e da aplicação prática do desenvolvimento sustentável. A sessão resultou em um
relatório e um programa para prosseguir a implementação da Agenda 21. A Assembleia
reconheceu o processo de globalização acelerada, bem como as intensas interações que vêm
ocorrendo nas relações comerciais entre os países. Também reconheceu o crescimento de
mercados de capitais e do investimento externo direto26.
Entretanto, houve tendências negativas generalizadas. A operacionalização do
desenvolvimento sustentável continuou insuficiente e com muitas dificuldades para superar
interesses estabelecidos. Nos cinco anos desde a Rio 92, a pobreza e os padrões de consumo e
produção permaneceram insustentavelmente altos. As desigualdades de renda se ampliaram entre
e dentro de nações, e houve deterioração continuada do meio ambiente global.
O investimento externo direto está substituindo a assistência externa ao desenvolvimento,
levando a benefícios seletivos, porque está baseado em objetivos econômicos e não sociais. A
Assembleia demonstrou preocupação com a falta de progressos na implementação da Agenda 21,
especialmente nos países menos desenvolvidos, devido à falta de vontade política dos governos
para catalisar as mudanças.
Assim, embora a RIO-92 tenha sido o mais importante acordo de cúpula de todos os
tempos, reunindo os Chefes de Estado de 179 países, a maioria deles não cumpriu os acordos nela
firmados. Embora um número razoável de países tenha tomado algumas iniciativas, a maioria dos
Governos não tem feito muito esforço para a construção da Agenda 21.
A CDS é responsável por acompanhar o processo de implementação da Agenda 21 e da
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Além disso, busca prover um
26
Fonte: http://www.agenda21local.com.br/con3b.htm Site visitado em 30 de outubro de 2011.
48
melhor direcionamento para que se acompanhe o Plano de Aplicação de Joanesburgo nos âmbitos
local, regional e internacional (conhecida, também, como Joanesburgo 2002, Rio+10 ou Cúpula
da Terra II, pois foi realizada dez anos depois da Rio-92 para avaliar a implementação da Agenda
21 e dos demais acordos da primeira Cúpula da Terra).
O Plano de Execução de Joanesburgo (Capítulo X) e a Comissão sobre Desenvolvimento
Sustentável (CDS), na sua 11a e 13a sessões, incentivaram a continuação dos trabalhos sobre
indicadores de desenvolvimento sustentável dos países, em consonância com as suas condições
específicas e prioridades. A CDS-13 convidou a comunidade internacional a apoiar os esforços
dos países em desenvolvimento nesse aspecto.
A terceira revisão de indicadores da CDS foi finalizada em 200627, por um grupo de
peritos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento e organizações internacionais. A nova
edição contém 96 indicadores, incluindo um subconjunto de 50 indicadores básicos28. O conjunto
de indicadores da CDS baseia-se nas duas edições anteriores (1996 e 2001), que têm sido
desenvolvidas, melhoradas e extensivamente testadas como parte da implementação do Programa
de Trabalho sobre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável.
27
Fonte: www.un.org/esa/sustdev/natlinfo/indicators/guidelines.pdf
28
Fonte: www.un.org/esa/sustdev/natlinfo/indicators/methodologysheets.pdf
49
objetivo maior era verificar os avanços obtidos pela Agenda 21 após dez anos de sua
implementação.
Embora o otimismo com a Agenda na época, os resultados não pareciam muito
animadores. Segundo disse o próprio Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan,
The record in the decade since the Earth Summit is largely one of painfully slow progress and a
deepening global environmental crisis. (O registro da década desde a Cúpula da Terra é
principalmente uma demonstração de progresso penosamente lento e de uma crise ambiental que
se aprofunda). (Apud, LAGO, 2007, p. 87).
29
É nessa época que surge o Consenso de Washington, o grande exemplo de “orientação” econômica para os países latino
americanos, que viveram a década perdida nos anos 1980 e necessitavam refinanciar suas dividas frente aos investidores
internacionais. Do ponto de vista dos países em desenvolvimento, a adoção dos princípios do Consenso de Washington –
austeridade fiscal, privatizações e abertura de mercados – não traria os resultados esperados, lançando-os em um período de
incerteza econômica, elevado desemprego e aumento da pobreza.
50
30
Fundo Monetário Internacional
51
A nova era de cooperação multilateral, imaginada no começo dos anos 1990 com o fim da
Guerra Fria, se encerrava no fim de 2001 ao ser proclamada a guerra ao terror. E a Cúpula
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, marcada para 2002 já estava direcionada ao
fracasso mesmo antes de começar. Ela acontecia em um momento descendente da curva
cooperação internacional.
Os problemas de Joanesburgo começaram já nas reuniões preliminares da Conferência,
com os conflitos se estendendo não somente nos eixos Norte/Sul, mas também ao longo dos eixos
52
31
O Grupo dos 77 nas Nações Unidas é uma coalizão de nações em desenvolvimento, que visa promover os interesses
econômicos coletivos de seus membros e criar uma maior capacidade de negociação conjunta na Organização das Nações Unidas.
Havia 77 membros fundadores da organização, mas a organização, desde então, expandiu para 131 países membros. O grupo foi
fundado em 15 de junho de 1964 pela "Declaração Conjunta dos Setenta e Sete Países" emitida na Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
53
efeito estufa assegurava certa flexibilidade a seus projetos de desenvolvimento, o que era
economicamente interessante para eles.
O processo preparatório para a Cúpula de Joanesburgo foi menos ambicioso que o do Rio
já que não havia processos de negociação para Convenções a serem assinadas na Conferência,
nem se pretendia elaborar um documento da complexidade e abrangência da Agenda 21. O que se
objetivava era progredir onde se havia verificado impasse ou não se lograra cumprimento das
metas. Ou seja, encontrar caminhos mais práticos para que o acordado no Rio fosse
implementado. Nesse sentido, a Conferência foi planejada para dar especial importância às
contribuições que demonstrassem a viabilidade do desenvolvimento sustentável nos níveis local,
regional, nacional e internacional.
Mas ainda nas negociações preparatórias havia a clara impressão de que os principais
atores na questão climática – Estados Unidos, União Europeia e o Grupo dos 77 e China – não
estavam dispostos a fazer concessões para que se avançassem os temas acordados no Rio de
Janeiro. De acordo com André Aranha Corrêa do Lago,
O impasse provocado pela radicalização das posições dos países desenvolvidos e em
desenvolvimento no processo preparatório levou a que temas como a reiteração de princípios
acordados no Rio, a globalização, os meios de implementação – no contexto dos quais era dada
especial atenção à questão de comércio – e a governança tivessem de ser negociados, sob forte
pressão, durante a própria Cúpula. Importantes temas, no entanto, dividiam os países
desenvolvidos. Estados Unidos e União Europeia enfrentaram-se em diversos momentos, como
nas questões de energias renováveis, de mudança do clima, de acompanhamento das iniciativas de
Tipo 232 ou, ainda, de responsabilidade corporativa33. (2007, p. 108).
Estiveram presentes na Cúpula mais de cem chefes de Estado e de Governo, com exceção
do Presidente George W. Bush. Apesar do grande número de participantes, para muitos, a
fórmula de Conferência das Nações Unidas, inaugurada em Estocolmo e repetida para os mais
diversos temas, pareceu esgotada com Joanesburgo, onde os resultados não teriam sido atingidos.
Olhando de outra perspectiva, porém, a prioridade política que o meio ambiente adquiriu no
período da Conferência do Rio não se repetiria, mas o patamar atingido teria sido preservado pelo
envolvimento dos atores.
A Conferência de Joanesburgo conseguiu angariar alguns resultados positivos tais como:
a fixação ou a reafirmação de metas para a erradicação da pobreza, água e saneamento, saúde,
produtos químicos perigosos, pesca e biodiversidade; a inclusão de dois temas de difícil progresso
em inúmeras negociações anteriores (energias renováveis e responsabilidade corporativa); a
decisão política de criação de fundo mundial de solidariedade para erradicação da pobreza; e o
32
Projetos ambientais que independem de entendimentos entre governos e que estimulam a relação direta entre governos locais,
comunidades, entidades e empresas ou ONGs.
33
A responsabilidade corporativa tem por objetivo gerenciar os impactos ambientais e sociais e econômicos de uma empresa.
54
As críticas à Conferência foram muito maiores que seus resultados de fato. O Plano de
Implementação da Cúpula, principal documento produzido pelos participantes, no qual os países
prometem lutar contra a pobreza, foi considerado letra morta, afinal esse preceito consta desde a
Conferência de Estocolmo como objetivo a ser perseguido para o desenvolvimento sustentável.
Tal plano é composto de dez seções, sendo as principais sobre os Pequenos Estados
Insulares em Desenvolvimento; a África; erradicação da pobreza; alteração dos padrões
insustentáveis de produção e consumo; proteção e gestão das bases de recursos naturais para o
desenvolvimento econômico e social; desenvolvimento sustentável em um mundo voltado para a
globalização; e governança. O texto acrescentava pouco ao que já tinha sido discutido na RIO-92.
A principal diferença estava na introdução do tema da globalização.
O que Joanesburgo oferece a questão ambiental é uma forma mais pragmática de lidar
com o desenvolvimento sustentável. Enquanto a Conferência do Rio havia estabelecido um
diálogo entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos que permitiu a aceitação
universal do conceito de desenvolvimento sustentável, a Cúpula de Joanesburgo procurou
traduzir o conceito em ações concretas.
Não se pode negar as falhas ocorridas nesta Conferência, mas ela deixou de cumprir muito
do seu papel mais por culpa das divergências entre os países, num contexto mundial em que as
relações multilaterais estavam enfraquecidas. A configuração de mundo hoje, quase dez anos
após a última Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, mostra que as ações unilaterais
ainda são predominantes.
Existindo a necessidade urgente de um novo consenso a respeito da questão ambiental,
sobretudo em função das mudanças climáticas, resta aos países tentar um novo esforço para que
se chegue a um acordo com parâmetros claros e responsabilidades definidas entre os
participantes, alcançando com isso um novo patamar dentro da produção capitalista. Enquanto
isso não é possível, tem-se como base as ações unilaterais em prol do meio ambiente, aonde os
países vão buscando se adequar à nova condição de desenvolvimento por indicadores e modelos
de sustentabilidade.
55
crise sistêmica cuja raiz está na financeirização34 da economia mundial. O capital produtivo foi
substituído pelo capital financeiro na obtenção da riqueza, gerando como efeito colateral a
intensificação das desigualdades sociais.
O desenvolvimento sustentável aparece nesse cenário como uma forma diferente de se
pensar o desenvolvimento, no qual estão inseridas as noções de desenvolvimento somadas às
questões da sustentabilidade, tanto a sustentabilidade ambiental quanto a social, a econômica e a
institucional. A faceta ambiental ganha um peso importante no conceito desenvolvimento, ao
mesmo tempo em que não é conflitante com o crescimento econômico, o primeiro conceito de
desenvolvimento adotado pelos especialistas.
Durante muito tempo o desenvolvimento foi tratado como sinônimo de crescimento
econômico. Esse continua a ser um dos equívocos mais constantes na busca para uma definição
de desenvolvimento. A adoção desse conceito simplifica o estudo do desenvolvimento, que fica
resumido à análise de indicadores consolidados conceitualmente, como a evolução do PIB. Tal
análise pode ser considerada parte do estudo do desenvolvimento, mas não deveria ser tomada
como conceito completo. Nas palavras de José Eli da Veiga,
Este amálgama das duas ideias [desenvolvimento e crescimento econômico] simplifica bastante a
necessidade de se encontrar uma maneira de medir o desenvolvimento, pois basta considerar a
evolução de indicadores bem tradicionais, como, por exemplo, o Produto Interno Bruto per capta.
(2008, p. 17).
34
vigência de um padrão de crescimento econômico onde a acumulação de riquezas desenvolve-se predominantemente através de
canais financeiros, reduzindo significativamente as imobilizações de capital nos setores diretamente produtivos.
(http://desafios.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=5080).
57
Muito dos países que obtiveram grandes êxitos econômicos durante o século XX não
conseguiram transferir melhorias efetivas a suas populações como acesso à educação e à saúde e
tal fato não podia ser explicado apenas com a medição do PIB. Dessa forma, começou um intenso
debate internacional sobre o sentido do desenvolvimento. De um lado estavam os que viam o
desenvolvimento apenas como crescimento econômico, cuja ideia era que, a partir deste, a
distribuição da renda viria de forma natural e todos teriam acesso ao bem-estar. Do outro,
estavam os que acreditavam na intervenção estatal como forma de condicionar o crescimento
econômico a melhorias sociais.
Olhando a questão do desenvolvimento econômico da perspectiva dos países em
desenvolvimento, a intervenção estatal era tida como a saída para o desenvolvimento,
principalmente nos países latino-americanos. Essas intervenções foram feitas ao longo do século
passado em grande parte desses países, em maior ou menor grau. Para essas nações os processos
para se chegar a um patamar elevado de desenvolvimento não estavam condicionados apenas à
questão econômica, mas também a questões estruturais. Já em outros países, como os asiáticos, a
intervenção estatal ocorreu de forma diferente, às vezes levando à adoção do socialismo e outras
fazendo uso do próprio capitalismo, mas sempre com forte presença do Estado como mola
propulsora do desenvolvimento.
Ainda assim, muitas nações não viram seu desenvolvimento decolar nas décadas passadas,
ficando estagnadas e elevando o nível de pobreza. Segundo alguns teóricos, a inviabilidade
econômica dessas nações está diretamente ligada à sua pobreza científico-tecnológica. Com um
histórico de pouca produção científica, tais nações ficam defasadas diante dos países
desenvolvidos e perdem competitividade. Se levarmos em conta o fato de muitas dessas nações
terem aberto suas economias na década de 1990 sem o suporte do Estado, o que se vê é o
aumento da importação de produtos altamente industrializados, e com maior valor agregado, e a
exportação de matérias primas. Esse é o caso típico da América Latina.
De acordo com a teoria cepalina, os países latino-americanos foram inseridos no sistema
econômico mundial de uma forma desfavorável. O pensamento estruturalista opõe os países
desenvolvidos e em desenvolvimento em centro e periferia. A periferia seria absorvedora de
padrões de consumo e tecnologia adequados ao centro, mas frequentemente inadequados à
disponibilidade de recursos e ao nível de renda dela mesma.
58
Nesse contexto, a liberdade de participar dos mercados mundiais, a começar pelo mercado
de trabalho, é uma contribuição importante para o desenvolvimento, independentemente do que
os mecanismos de mercado fazem para promover o crescimento econômico ou a industrialização.
As barreiras existentes entre os mercados distorcem o desenvolvimento. Sobre esse ponto, José
Eli da Veiga comenta que “a negação de acesso aos mercados de produtos frequentemente está
entre as privações enfrentadas por muitos produtores sujeitos a organização e restrições
tradicionais. A liberdade de participar do intercambio econômico tem um papel básico na vida
social.” (2008, p. 35).
Apesar de vivermos em um mundo globalizado, onde as fronteiras dos Estados nacionais
estão mais abertas e onde as trocas entre as nações são cada vez mais difundidas, muitas das
liberdades elementares são negadas a uma grande parcela da população. Essa ausência de
liberdade relaciona-se diretamente com a pobreza econômica e com a ausência do Estado como
fornecedor de serviços públicos e assistência social. Ou ainda a violação da liberdade pode ser
resultado direto da falta de liberdades políticas, imposta por regimes autoritários que cerceiam a
vida social, política e econômica de uma dada comunidade.
A garantia da liberdade é obtida através da participação estatal como provedora de um
sistema de bem-estar social que proporcione uma maior proteção individual dentro das nações. O
desenvolvimento pode então ser conduzido através do custeio público. A viabilidade desse
processo reside no fato de que os serviços sociais mais relevantes são altamente trabalho-
intensivos e, portanto, relativamente baratos nas economias em desenvolvimento, nas quais os
salários são baixos. De acordo com José Eli da Veiga, “uma economia pobre pode ter menos
dinheiro para despender em serviços de saúde e educação, mas também precisa gastar menos
dinheiro para fornecer os mesmos serviços, que em países ricos custariam muito mais.” (2008, p.
40)
Diante do custeio do desenvolvimento pelo Estado, um país não precisa esperar pelo
longo período de crescimento econômico. A qualidade de vida pode ser beneficiada, sem que os
baixos níveis de renda se transformem em empecilho, através de um programa adequado de
serviços sociais. José Eli da Veiga argumenta que
a qualidade de vida pode ser muito melhorada, a despeito dos baixos níveis de renda, mediante um
programa adequado de serviços sociais. O fato de a educação e os serviços de saúde também
serem produtivos para o aumento do crescimento econômico corrobora o argumento em favor de
dar-se mais ênfase a essas disposições sociais nas economias pobres, sem ter de esperar “ficar
rico” primeiro. (2008, p. 41)
61
elevadas taxas de concentração de renda. A diversidade permite com que a riqueza se perpetue
por todo o sistema, fazendo com que as diferenças de renda sejam atenuadas e que o
desenvolvimento seja atingido.
Essa tese corrobora o pensamento cepalino de que é preciso se industrializar para se
desenvolver. Tal teoria foi dominante nos países em desenvolvimento durante boa parte do século
XX, ficando em segundo plano a partir da década de 1980 quando as ideias neoliberais ganharam
força por todo mundo.
A ideia de desenvolvimento que se destaca atualmente, leva em conta a combinação de
sustentabilidade e respeito às instituições e acordos multilaterais, além da participação estatal de
uma forma diferente daquela empregada na América Latina do século XX, o Estado deve ser
provedor das condições para que as instituições privadas se desenvolvam e também prover a
proteção social necessária para sua população. Ou seja, o Estado deve ser o principal defensor do
desenvolvimento econômico do seu país, devendo direcioná-lo para padrões que respeitem o
meio-ambiente, já que os recursos são escassos e necessários ao futuro das outras gerações.
Jose Eli da Veiga argumenta que
continuam a existir muitas incógnitas sobre alguns elementos essenciais do crescimento
econômico de longo prazo: população, tecnologia, relação com a distribuição e natureza das
variações do crescimento. Todavia, apesar dessas incógnitas, houve recentemente um duplo
avanço teórico: ênfase generalizada na importância das instituições e maior abertura para um
resgate da antiga economia política. (2008, p. 76).
North considera que o surgimento da agricultura pode ter sido um acelerador do progresso
material mais importante até do que o surgimento da grande indústria. O que ele denomina como
primeira revolução econômica acelerou o crescimento principalmente porque o direito de
propriedade trouxe o incentivo essencial ao avanço do conhecimento e do aprendizado
tecnológico. E ela deu origem ao Estado, condição essencial da especialização e da divisão do
trabalho.
A Revolução Industrial seria o grande momento da segunda revolução econômica, ou o
auge de uma série de eventos anteriores que geraram uma verdadeira revolução ao promoverem a
fusão entre ciência e tecnologia. De acordo com José Eli da Veiga, “muito mais importante que o
feixe de inovações normalmente associado à ideia de revolução industrial foi a ampliação da
oferta de novos conhecimentos que se tornou possível com a mudança do direito de propriedade,
iniciada na Grã-Bretanha, em 1624, com a primeira lei de patentes.” (2008, p. 77).
64
O desenvolvimento tem sido exceção histórica e não regra geral. Ele não é o resultado espontâneo
da livre interação das forças de mercado. Os mercados são tão somente uma entre as varias
instituições que participam do processo de desenvolvimento. E os únicos países da periferia a se
saírem razoavelmente bem durante a ultima década do século XX foram exatamente aqueles que
se recusaram a aplicar ao pé da letra as prescrições cultuadas no chamado Consenso de
Washington. (VEIGA, 2008, p. 80).
meio ambiente até um determinado patamar de riqueza auferida pela renda per capita. A partir
desse patamar o crescimento econômico seria positivo para a qualidade ambiental.
Essa hipótese só seria comprovada se um grande número de países tivesse indicadores
confiáveis sobre um amplo leque de variáveis ecológicas, porém o mais provável é que se
constatem os diversos estilos de crescimento e as circunstâncias em que ele ocorre, rejeitando a
ideia de uma relação linear entre qualidade ambiental e renda per capita. Aliás, já existem bons
indicadores que mostram políticas de preservação ambiental desastrosas em países
desenvolvidos.
Do lado oposto aos otimistas do crescimento econômico estão aqueles que defendem que
a sustentabilidade ambiental só seria possível na chamada condição estacionária, ou seja, com
nenhum crescimento econômico. De acordo com essa teoria, a economia continuaria a melhorar
em termos qualitativos, substituindo, por exemplo, energia fóssil por energia limpa. Mas nas
sociedades mais avançadas seria abolida a obsessão pelo crescimento do PIB.
Para fins dessa dissertação, o caminho escolhido para definir a sustentabilidade é o
caminho do meio entre esses dois pensamentos. Ou seja, uma forma de desenvolvimento
econômico, que contempla o crescimento e que contribua para a preservação ambiental. A
conciliação entre desenvolvimento econômico e conservação da natureza é algo que demanda
tempo e participação da sociedade, não podendo ocorrer no curto prazo nem de forma isolada.
De acordo com Goldsmit (1972, apud. BELLEN, 2005, p. 23), “uma sociedade pode ser
considerada sustentável quando todos os seus propósitos e intenções podem ser atendidos
indefinidamente, fornecendo satisfação ótima para seus membros”. Dentro do conceito de
sustentabilidade, Pearce (1993, apud. BELLEN, 2005, p. 25) afirma que existem dois extremos
ideológicos: o tecnocentrismo e o ecocentrismo, e dentro destes extremos ainda existem mais
duas variantes distintas.
A tendência tecnocêntrica acredita que a sustentabilidade se refere à manutenção do
capital total disponível no planeta e que ela pode ser alcançada pela substituição de capital natural
pelo capital gerado pela capacidade humana. Já na outra ponta, o ecocentrismo ratifica a
importância do capital natural e da necessidade de conservá-lo não apenas pelo seu valor
financeiro, mas pelo seu valor substantivo.
Esses dois extremos ressaltam a noção de sustentabilidade fraca e forte. Na concepção de
sustentabilidade fraca não existem limites para o desenvolvimento. Já na concepção de
67
Economia verde,
Economia verde Economia verde
mercado verde
profunda. Economia muito profunda,
Economia antiverde, livre conduzido por Tipo de
steady-state, forte regulação
mercado. instrumentos de economia
regulação para minimizar a
incentivos
macroambiental. tomada de recursos.
economicos.
Objetivo econômico,
Crescimento
maximização do
econômico nulo, Reduzida escala da
crescimento econômico. Modificação do
crescimento economia e da
Considera que o crescimento
populacional nulo. população.
mercado livre em econômico, norma do Estratégia de
Perspectiva sistêmica, Imperativa
conjunção com o capital constante, gestão
saúde do todo mudança de escala,
progresso técnico deve alguma mudança de
(ecossistema), interpretação literal
possibilitar a eliminação escala.
hipótese de Gaia e de Gaia.
das restrições relativas
suas implicações.
aos limites e à escassez.
Equidade intra e Interesse coletivo
Bioética (direitos e
intergeracional sobrepuja o interesse
Direitos e interesses dos interesses
(pobres individual, valor
indivíduos conferidos a todas
contemporâneos e primário dos Ética
contemporâneos, valor as espécies), valor
gerações futuras), ecossistemas e valor
instrumental na natureza. intrínseco da
valor instrumental na secundário para suas
natureza.
natureza. funções e serviços.
Quadro 4
Dimensões do Ambientalismo
Fonte: BELLEN, Hans M ichael van. Indicadores de sustentabilidade - Uma análise comparativa. P. 26
por capital. Mas se tratando de bens finitos e escassos, no longo prazo a tendência é que esses
recursos desapareçam, uma vez que a capacidade humana não pode substituí-los indefinidamente.
A ideia central seria então preservar para desenvolver, isto é, a atividade humana não
pode ultrapassar a capacidade de renovação da natureza. Esse fato nos leva ao dilema da troca do
crescimento econômico quantitativo pelo qualitativo, algo a ser adotado pelos países mais
desenvolvidos. Para os países em desenvolvimento, a margem superior de crescimento
econômico ainda deve ser atingida.
De acordo com a noção de que nenhum sistema é sustentável havendo bolsões de pobreza
em seu interior, os países em desenvolvimento devem alimentar o desenvolvimento econômico,
que implica não somente em crescimento econômico, mas principalmente em maior qualidade de
vida para suas populações. Assim, deve-se perseguir uma nova forma de desenvolvimento que
abarque a questão ambiental em seu interior. Portanto, a sustentabilidade é uma questão muito
mais crítica para os países desenvolvidos que para os em desenvolvimento. Ela precisa antes de
tudo ser atingida no ponto em que o nível de uso dos recursos é simultaneamente suficiente para
permitir qualidade de vida à população e compatível com a capacidade de suporte ambiental.
Podemos dizer que um sistema sustentável é composto de duas partes: o sistema
ambiental e o sistema social. O sistema social está inserido no sistema ambiental e depende deste
para se manter. Sem os recursos extraídos da natureza, a sociedade não consegue produzir o
necessário para sua existência. Além disso, é no sistema ambiental que a sociedade elimina os
resíduos gerados pelo seu processo produtivo. Sobre esse assunto, Bossel afirma que:
A sustentabilidade da sociedade humana nunca esteve seriamente ameaçada, uma vez que a carga
provocada pela atividade humana sobre o sistema era de escala reduzida, o que permitia uma
resposta adequada e uma adaptação suficiente. As ameaças sobre a sustentabilidade de um sistema
começam a requerer atenção mais urgente na sociedade à medida que o sistema ambiental não é
capaz de responder adequadamente à carga que recebe. Se a taxa de mudança ultrapassa a
habilidade do sistema de responder, ele acaba deixando de ser viável. (1999, apud. BELLEN,
2005, p. 28).
planejamento, nas políticas e nas ações [econômicas] de longo prazo aspectos não monetários,
demográficos, sociais e ambientais para realmente se alcançar a sustentabilidade.” (2005, p. 36).
Na perspectiva social, a sustentabilidade é vista como um processo de desenvolvimento
que leve a um crescimento estável com distribuição equitativa de renda, ocasionando a
diminuição das diferenças entre os vários níveis de classes e a melhoria das condições de vida da
população de um país. O problema em se olhar a sustentabilidade somente pela ótica social está
no fato de que o desenvolvimento com distribuição de renda pode ser alcançado, sem que com
isso haja a preservação ambiental necessária. É o caso dos países desenvolvidos, onde o alto grau
de desenvolvimento alcançado foi obtido através de um modelo de produção extremamente
poluidor e intensivo no uso dos recursos naturais.
Pela perspectiva da sustentabilidade ambiental, a principal preocupação é a dos impactos
sobre o meio ambiente decorridos da atividade humana. A sustentabilidade seria alcançada pela
utilização dos recursos naturais, mantendo sua deterioração em um nível mínimo. “Deve-se
reduzir a utilização de combustíveis fósseis, diminuir a emissão de substâncias poluentes, adotar
políticas de conservação de energia e de recursos, substituir recursos não renováveis e aumentar a
eficiência em relação aos recursos utilizados.” (SACHS, 1997, apud. BELLEN, 2005, p. 37).
A sustentabilidade ambiental está diretamente ligada ao conceito de sustentabilidade forte
e muito forte. O problema em se adotar somente a ótica ambiental, é que esta não se preocupa
com o bem-estar imediato da sociedade. É uma visão do crescimento econômico zero, como a
elaborada antes da Conferência de Estocolmo. Esse conceito não permitiria aos países em
desenvolvimento alcançarem o patamar de progresso do grupo de países desenvolvidos e
imputaria à periferia a condenação de sempre conviver com bolsões de pobreza, o que vai contra
o conceito de sustentabilidade social.
Além da distinção entre sustentabilidade forte e fraca e das dimensões que esta assume no
nível ambiental, social e econômico, existe o debate sobre o caráter objetivo ou subjetivo do
conceito de sustentabilidade. Na verdade, nos últimos anos, a palavra sustentabilidade passou a
ser usada com sentidos tão diferentes que se distanciou da sua origem, bem anterior à atual
aplicação no conceito de desenvolvimento. A fraqueza, a imprecisão e a ambivalência que o
conceito de sustentabilidade ganhou ao longo do tempo, foram as razões de sua força e aceitação
quase total. Sobre isto Bellen afirma que,
Todas as definições e ferramentas relacionadas à sustentabilidade devem considerar o fato de que
não se conhece totalmente como o sistema [ecológico] opera. Pode-se apenas descobrir os
71
Apesar de toda a discussão sobre sustentabilidade, ainda não se sabe qual o seu verdadeiro
poder de alcance, apenas se sabe que é necessário manter o nível de capital natural para que as
futuras gerações possam se desenvolver. Para isso é importante que se aumente a produtividade
dos recursos naturais, tanto renováveis quanto não-renováveis. A definição de sustentabilidade
atualmente estaria no uso racional dos recursos escassos e no processo de reaproveitamento
desses recursos. Aumentar a produtividade de um recurso pode ser um bom substituto para a
utilização de maior quantidade desse recurso. A questão central da sustentabilidade residiria
então no fato de que o investimento deve ser feito no fator limitante, no caso o capital natural.
Segundo José Eli da Veiga,
quanto mais escasso se torna o capital natural remanescente, mais complementar ele se mostra. A
captura de peixes, por exemplo, não é limitada pelo número de embarcações cada vez mais
eficientes, mas sim pelos cardumes que restam. Também não é o numero de serrarias que restringe
o corte de madeira, mas as florestas que continuam de pé. O óleo cru bombeado não se limita pela
capacidade construída de extração, mas pelos estoques de petróleo remanescentes. E a capacidade
da atmosfera em continuar servindo como depósito de dióxido de carbono talvez ainda venha a ser
mais limitante que os próprios estoques de combustíveis fósseis. (2008, p. 143)
Esse movimento de uso mais consciente dos recursos passa pela inversão da lógica
comercial do mundo globalizado. O que se propõe é sair da ideologia da integração econômica
global do livre comércio, do livre movimento de capitais e do crescimento promovido por
exportações a uma direção mais nacionalista que busque desenvolver a produção doméstica para
mercados internos como primeira opção, recorrendo ao comércio internacional apenas quando
este for mais eficiente. (VEIGA, 2008, p. 144)
O globalismo não contribui, em geral, para um real aumento da produtividade dos
recursos naturais. O que se tem é a dilapidação desses recursos que são exportados em grande
quantidade pelos países em desenvolvimento e entram como ganhos no PIB desses países, mas
que na verdade podem ser configurados como uma perda de riqueza para a nação. A globalização
até o momento proporcionou uma competição que reduz padrões salariais e externaliza custos
sociais e ambientais mediante exportação de capital natural a preços baixos, enquanto os
classifica como renda.
Para se chegar a um consenso sobre o que é a sustentabilidade em termos globais, deve-se
levar em consideração a força de interesses que serão contrariados, principalmente nos países
mais ricos. Contrariamente às projeções e às previsões quantitativas, a sustentabilidade deve ser
72
analisada de forma qualitativa, procurando lidar com as mais prováveis mudanças de rumo no
planeta.
A sustentabilidade é o carro-chefe do processo de institucionalização que insere o meio
ambiente na agenda política internacional, além de fazer com que esta dimensão passe a permear
a formulação e a implantação de políticas públicas em todos os níveis nos Estados nacionais e
nos órgãos multilaterais de caráter supranacional.
José Eli da Veiga acrescenta que,
Sendo uma questão primordialmente ética, só se pode louvar o fato da ideia de sustentabilidade ter
adquirido tanta importância nos últimos vinte anos, mesmo que ela não possa ser entendida como
conceito científico. A sustentabilidade não é, e nunca será, uma noção de natureza precisa,
discreta, analítica ou aritmética, como qualquer positivista gostaria que fosse. Tanto quanto a ideia
de democracia – entre muitas outras ideias tão fundamentais para a evolução da humanidade –, ela
sempre será contraditória, pois nunca poderá ser encontrada em estado puro. (2008, p. 165)
36
GOODLAND, Robert & LEDOC, G. "Neoclassical Economics and Principles of Sustainable Development". Ecological
Modelling, 38, 1987.
37
MARKANDYA, Anil & PEARCE, David. "Natural Environments and the social rate of discount". Project APPRAISAL, 3(1),
1988.
76
38
PEZZEY, John. Economic Analysis of Sustainable Growth and Sustainable Development. Washington, DC, Banco Mundial,
Departamento de Meio Ambiente, relatório de trabalho nº 15, maio, 1989.
77
A nova ética que surge com o conceito de desenvolvimento sustentável baseia-se, por um
lado na noção de convivialidade e, por outro, no abandono da perspectiva antropocêntrica para
uma perspectiva mais global, biocêntrica. Novos paradigmas sociais que se confrontam com os
atuais estariam em curso através da implementação do desenvolvimento sustentável. O quadro a
seguir mostra a diferença entre os dois paradigmas.
Para se orientar uma economia, canalizando seus esforços produtivos a fim de que se
consiga obter os resultados esperados, é necessário construir instrumentos de avaliação desses
resultados. Muitas vezes os resultados produtivos alcançados pelos países não refletem o real
aumento de riqueza e bem-estar de sua população. Um exemplo claro deste fenômeno é a
medição da exportação de recursos naturais, que aparece como aumento do PIB nas contas
nacionais, mas que na realidade, mostra a venda de recursos naturais herdados, que o país não
teve de produzir e que não vai poder repor, e, portanto, pode ser considerada como
descapitalização, ou aumento da riqueza imediata à custa das dificuldades futuras.
Indicadores nada mais são do que uma forma quantitativa de informar sobre o progresso
em direção a uma meta específica. Eles também podem ser entendidos como um recurso que
deixa mais perceptível um fenômeno que não seja detectável de imediato. Segundo Gallopin,
A mais importante característica do indicador, quando comparado com os outros tipos ou formas
de informação, é a sua relevância para a política e para o processo de tomada de decisão. Para ser
representativo, o indicador tem de ser considerado importante tanto pelos tomadores de decisão
quanto pelo público. (1996, apud. BELLEN, 2005, p. 42).
82
Existe uma grande dificuldade em se tentar monetizar os bens públicos, tais como a água
e o ar, o esgotamento de recursos naturais pela exploração predatória, e a degradação do meio
ambiente por meio de processos produtivos poluidores (externalidades negativas que atinjam
meios como solo, ar e água). Tal tarefa é imprescindível para que seja possível planejar um
desenvolvimento que não vise restritamente à dimensão econômica. Portanto, trata-se da tentativa
de evidenciar a interdependência de variáveis econômicas e socioambientais no modelo produtivo
e de desenvolvimento econômico adotado.
83
Índices
Indicadores
Dados Analisados
Dados Primários
Quadro 6
Pirâmide de informações
Fonte: BELLEN, Hans Michael van. Indicadores de sustentabilidade: Uma
análise comparativa. p. 44
Os índices nada mais são do que a agregação de indicadores de vários tipos, apresentados
de forma simplificada. Os problemas complexos do desenvolvimento sustentável requerem
sistemas interligados, indicadores inter-relacionados ou a agregação de diferentes indicadores.
Daí, explicam-se o surgimento de índices que meçam a sustentabilidade. Devido a essa
complexidade, existem poucos indicadores que lidam especificamente com o desenvolvimento
sustentável, geralmente desenvolvidos com o propósito de entender melhor os fenômenos
relacionados à sustentabilidade.
85
modelo de desenvolvimento para uma sociedade futura, bem como relatar onde estão
acontecendo progressos em direção à sustentabilidade e em que taxa.
Além disso, devem-se levar em conta valores qualitativos específicos que estão embutidos
dentro dos indicadores. Eles podem ser implícitos ou explícitos. Os explícitos são aqueles
tomados conscientemente e correspondem a uma parte importante na formulação de um
indicador, mas os valores implícitos também estão incluídos nesse processo de criação. Segundo
Bellen,
Os julgamentos de valor implícitos decorrem de aspectos que não são facilmente observáveis e que
são, na sua maioria, inconscientes e relacionados com as características pessoais e de uma
determinada sociedade (cultura). A sua mensuração afeta de qualquer maneira o processo de
formulação dos indicadores. Existe uma grande diferença entre as diversas esferas em que se mede
a sustentabilidade – mundial ou global, nacional, regional, local ou comunitária –, resultado dos
mais diversos fatores culturais e históricos, que implicam os valores que predominam nessas
esferas. Muito embora não se possa evitar esse aspecto, deve-se reconhecer que ele está sempre
presente e procurar torna-lo o mais explícito possível. (2005, p. 47).
Para Gallopin,
a função básica e principal dos indicadores de desenvolvimento sustentável é apoiar e melhorar a
política ambiental e o processo de tomada de decisão em diferentes níveis. O maior nível é o
global ou internacional. As convenções internacionais referentes a temas específicos como clima,
biodiversidade, desertificação, são extremamente importantes e os indicadores podem auxiliar e
influenciar no processo decisório, legitimando as próprias convenções. Está mais ou menos claro
que sem indicadores que revelem a necessidade de políticas globais em temas específicos, a
adoção de protocolos internacionais fica muito prejudicada. As agências internacionais têm a
função não apenas de identificar e desenvolver indicadores apropriados, mas também de torná-los
acessíveis perante a comunidade internacional. (1996, apud BELLEN, 2005, p. 58).
utilizados, ou ainda baseados em modelos não confiáveis. Daí a necessidade de se trabalhar com
indicadores reconhecidos internacionalmente e que tenham um aval da comunidade científica.
Bellen ainda afirma que “outra questão importante a ser observada é a ausência de
indicadores não triviais na dimensão institucional do desenvolvimento sustentável. Esse aspecto
pode ser considerado atualmente um dos maiores problemas nos projetos relativos à indicadores
de sustentabilidade.” (2005, p. 70).
Apesar de todos os problemas na mensuração dos indicadores, existem diversas tentativas
para avaliar o desenvolvimento sustentável dentro de suas várias dimensões. Seguindo esse
raciocínio, foram elaborados alguns sistemas para integrar as diversas dimensões da
sustentabilidade.
Esses tipos de sistema são de suma importância para a avaliação correta do
desenvolvimento de uma região e também para se obter uma analise confiável do estágio de
desenvolvimento sustentável de cada nação. A formulação de uma boa política para o
desenvolvimento passa pela escolha de um sistema de indicadores que congregue as quatro
dimensões do desenvolvimento sustentável: social, econômica, ambiental e institucional.
Para se colocar em prática o conceito de desenvolvimento sustentável, deve-se
compreender melhor os processos humanos e naturais que estão relacionados com os problemas
ambientais, econômicos e sociais. Assim, a mensuração de um indicador deve estar focada nas
atividades que criam problemas tanto no ecossistema local quanto no ambiente global, na
economia nacional e nos indivíduos.
Além disso, deve-se levar em conta as mudanças resultantes no ecossistema, na economia
e na sociedade tanto a curto quanto a longo prazos, sejam elas reversíveis ou não, e as respostas
do sistema político, sua extensão e seu impacto. De acordo com Bellen,
a agregação e a utilização de índices compostos são elementos importantes para realizar
julgamentos de valor e comparações entre as principais tendências políticas de desenvolvimento
sustentável. O problema da agregação dos dados está relacionado a como juntar variáveis que são
expressas em diferentes unidades de mensuração. [...] Em princípio, a agregação não é uma média
de dados individuais combinados. A ponderação consiste num julgamento de valor que atribui
importância diferente a elementos distintos da ferramenta. Os princípios da ponderação devem ser
justificados apropriadamente. [...] Índices compostos são necessários devido à abordagem
integrativa do conceito de desenvolvimento sustentável; o problema desses índices é que a sua
combinação é muitas vezes arbitrária. (2005, p. 77).
de mudanças. “As tendências dos índices podem se mostrar contraditórias: diferentes valores
levam a diferentes ponderações e interpretações alternativas dos mesmos dados.” (BELLEN,
2005, p. 78).
Assim, um modelo conceitual é necessário para organizar os diferentes tipos de
indicadores existentes, relevantes ao desenvolvimento sustentável. Sobre essa necessidade,
Bellen afirma que
o sistema é a referência direta ao conceito subjacente de desenvolvimento sustentável que define o
processo de avaliação [de um indicador]. Um sistema é um modelo conceitual que ajuda a
selecionar e organizar questões que vão definir o que vai ser medido pelos indicadores. Modelos
conceituais, mesmo não capturando o mundo real e sua complexidade, que estão além de todo o
conhecimento, fornecem um retrato de como o mundo real funciona e ensinam, assim, a melhor
forma de lidar com ele. (2005, p. 78).
Esse sistema ao qual o autor se refere pode ser classificado de duas formas: pelos meios
que estes identificam as dimensões mensuráveis e selecionam e agrupam as questões a serem
mensuradas; ou pelos conceitos que são utilizados para justificar os procedimentos de
identificação e seleção de indicadores. O sistema efetivo serve como base para ser revisado de
tempos em tempos e nos testes das prioridades atuais.
O conceito de desenvolvimento sustentável é normalmente abordado de forma
multidimensional. Para se conhecer melhor uma ferramenta de avaliação deve-se observar quais
dimensões são utilizadas e de que forma. Além disso, é necessário que se saiba qual o campo de
aplicação da ferramenta, onde esta pode e deve ser aplicada, já que existem diferentes esferas de
utilização de um sistema de indicadores e o uso dessas ferramentas em um nível não
correspondente ao seu potencial pode levar a um resultado viesado da realidade.
A classificação da dimensão da ferramenta, ou seu escopo, fundamenta-se no que é
efetivamente medido. A classificação mais comum é a de três escopos: econômico, ecológico e
social. De acordo com Bellen,
A dimensão ecológica ou biofísica se refere a informações sobre as condições e as mudanças nos
recursos naturais como solo, atmosfera, incluindo clima e qualidade do ar, qualidade e quantidade
de água, vida selvagem e vegetação, reservas naturais e hábitats naturais, bem como recursos não
renováveis como minerais, metais e combustíveis fósseis. O escopo econômico se caracteriza por
indicadores sobre as condições e as mudanças referentes à produção, comércio e serviços, dados
fiscais e monetários, (bancos, finanças, inflação, balança de comércio, orçamento) e recursos
humanos (emprego, trabalho e rendimentos). O escopo social é caracterizado por medidas
referentes a condições e mudanças na demografia, saúde pública, situação das comunidades
indígenas, satisfação pessoal e recursos arqueológicos e históricos. (2005, p. 85)
usado para medir o desenvolvimento sustentável a nível local, não pode ser generalizado e
utilizado em nível global, pois não terá recursos suficientes para tal esfera.
Quanto aos dados utilizados pelo sistema, estes podem ser classificados tanto pela
tipologia quanto por seu grau de agregação. Essa primeira característica refere-se à ênfase
metodológica dos dados, ou ainda ao uso de informações qualitativas e/ou quantitativas e em qual
proporção, desde sistemas de informações totalmente qualitativos aos totalmente quantitativos.
Além disso, o sistema pode ser classificado de acordo com a orientação em termos de
participação, abrangendo desde uma abordagem top-down, ou orientada prioritariamente por
especialistas, até uma abordagem bottom-up, na qual existem pesos para todos os atores
envolvidos no processo.
Dentro dessas classificações estão inseridos os conceitos de desenvolvimento e
sustentabilidade que irão formar a base dos indicadores. Como estes são conceitos
eminentemente políticos adotados pelos países, cada nação pode ter sua própria interpretação de
desenvolvimento sustentável e sua própria formulação de indicador. Dependendo do conceito
adotado, o indicador pode agregar mais dados qualitativos ou ter uma maior participação dos
atores no processo. Isso tornará o indicador mais ou menos viesado na formulação de uma
tendência da sociedade examinada naquele momento.
Deve-se ter cuidado na interpretação de tais indicadores, pois não há um indicador 100%
confiável, eles servem como parâmetros que apontam uma tendência e não podem ser utilizados
como única ferramenta de análise do desenvolvimento sustentável na sociedade.
É necessário atualmente compreender melhor o conceito de desenvolvimento sustentável,
suas características e limitações, para que ele possa ser mais bem usado como orientação geral da
sociedade. Para isso, as ferramentas existentes devem ser conhecidas quanto à avaliação de
sustentabilidade. No capitulo a seguir serão explicitados alguns tipos de indicadores e será feita
uma avaliação pratica do desenvolvimento sustentável para o caso brasileiro através da aplicação
dos indicadores de desenvolvimento sustentável.
92
Dentro desse contexto, alguns países começaram a desenvolver seus próprios indicadores
e o que temos atualmente é um compêndio de índices e classificações nos quais cada nação
atribui seus valores e necessidades na formulação dos mesmos. Esse movimento não permite que
se equalize ou torne a noção de desenvolvimento sustentável homogênea, prejudicando sua
avaliação. Sobre isso a autora Anne Louette afirma que,
apesar de todas essas iniciativas, nenhuma medida pessoal e nenhum conjunto de indicadores goza
de amplo reconhecimento dentro do contexto do debate político e para o público em geral. Talvez
devido à existência de divergências no que diz respeito aos fundamentos conceituais, ou pela falta
da simplicidade analítica que havia assegurado o sucesso do PIB. (2009, p. 13)
39
Ser guiado por uma visão clara do desenvolvimento sustentável e metas que definem essa visão.
94
40
Incluir visão do sistema todo e de suas partes; considerar o bem-estar social, bem-estar ecológico e bem-estar econômico dos
subsistemas; seu estado atual, tendência e taxa de mudança tanto dos componentes das partes como da interação entre as partes;
considerar as consequências positivas e negativas da atividade humana de forma a refletir os custos e benefícios para os sistemas
humano e ecológico, em termos monetários e não monetários.
41
Adotar um horizonte de tempo suficientemente longo para capturar as escalas de tempo humano e dos ecossistemas, atendendo
às necessidades das futuras gerações, bem como da geração atual em termos de processo de tomada de decisão no curto prazo;
definir o espaço de estudo para abranger não apenas impactos locais, mas também o impacto de longa distância sobre pessoas e
ecossistemas; construir um histórico das condições presentes e passadas para antecipar futuras condições.
42
Um sistema de categorias explícitas ou um sistema organizado que conecte a visão e as metas com os indicadores e os critérios
de avaliação; um número limitado de questões-chave para análise; um número de indicadores ou combinações de indicadores que
sinalizem claramente o progresso; um padrão de medidas para permitir a comparação, quando possível; comparação de valores
dos indicadores com suas metas, valores de referência, limites ou direção da mudança.
43
Tornar os métodos e dados usados acessíveis a todos; deixar explícitos todos os julgamentos, suposições e incertezas de dados.
44
Ser projetado para atender às necessidades do público e do grupo de usuários; ser feito de forma que os indicadores e as
ferramentas estimulem e engajem os tomadores de decisão; procurar a simplicidade na estrutura do sistema e utilizar linguagem
clara e simples.
45
Obter ampla representação do público profissional, técnico e comunitário, incluindo participação de jovens, mulheres e
indígenas para garantir o reconhecimento dos valores, que são diversos e dinâmicos; garantir a participação dos tomadores de
decisão para assegurar uma forte ligação com a adoção de políticas e os resultados da ação.
46
Desenvolver a capacidade de repetidas medidas para determinar tendências; ser interativa, adaptativa e responsiva às mudanças
e incertezas, porque os sistemas são complexos e estão em frequente mudança; ajustar as metas, sistemas e indicadores com as
novas descobertas decorrentes do processo; promover o desenvolvimento do aprendizado coletivo e o feedback necessário para a
tomada de decisão.
47
Definir clara responsabilidade e apoiar constantemente o processo de tomada de decisão; assegurar capacidade institucional para
a coleta de dados, sua manutenção e documentação; apoiar o desenvolvimento da capacitação local de avaliação.
48
Fonte: Brunvoll et al. 2002, apud. Louette, Anne. 2009, p. 29.
95
49
O IPH mede as carências no desenvolvimento humano básico em termos do percentual de pessoas cuja expectativa de vida não
atinge os 40 anos, do percentual de adultos analfabetos e do estabelecimento de condições econômicas para um padrão de vida
aceitável em termos do percentual de pessoas sem acesso a serviços de saúde e água potável e do percentual de crianças menores
de 5 anos com peso insuficiente. Fonte: LOUETTE, Anne. Indicadores de Nações: uma contribuição ao diálogo da
Sustentabilidade. Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de Nações. 1.ª ed. WHH – Willis Harman House, 2007. Vários
Colaboradores.
96
50
O Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Gênero (IDG) leva em conta as mesmas dimensões do IDH, mas penaliza as
desigualdades entre homens e mulheres. Quanto maior a disparidade entre os sexos no desenvolvimento humano básico, menor o
IDG de um país, comparado com o seu IDH. O IDG é simplesmente o IDH descontado ou ajustado para baixo pela desigualdade
entre os sexos. Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de Nações. 1.ª ed. WHH – Willis Harman House, 2007. Vários
Colaboradores.
51
A Medida de Participação Segundo o Gênero (MPG) revela se as mulheres tomam parte ativa na vida econômica e política.
Incide nas desigualdades entre homens e mulheres em áreas-chave da participação econômica e política, bem como na tomada de
decisões. Verifica a quota de assentos no parlamento ocupados por mulheres, de legisladores femininos, de funcionários
superiores e gestores e de profissionais liberais e técnicos femininos. Também inclui a disparidade entre homens e mulheres em
matéria de rendimentos, refletindo a independência econômica. Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de Nações. 1.ª ed.
WHH – Willis Harman House, 2007. Vários Colaboradores.
97
simultaneamente na forma de um único índice. Além disso, apresenta uma gama de sub-índices
temáticos importantes para os processos decisórios e um perfil que mostra os resultados para cada
indicador. Segundo Anne Louette “médias simples foram usadas nos indicadores porque são de
entendimento mais fácil e porque modelos mais complexos não parecem oferecer vantagens para
a expressão ou utilidade do índice”. (2009, p. 62).
Dentre os sub-índices utilizados pelo EVI estão: mudanças climáticas, biodiversidade,
água, agricultura e pesca, aspectos de saúde humana, desertificação e exposição a desastres
naturais. Esses sub-índices podem ser usados também individualmente pelos países para detectar
áreas em que possam melhorar e direcionar suas políticas.
Ao todo 235 países receberam uma pontuação, de acordo com o grau de
vulnerabilidade/resiliência ambiental calculado com o EVI, constituindo um ranking mundial. As
pontuações consideradas válidas foram as de países que forneceram dados para mais de oitenta
por cento dos cinquenta indicadores. Cada país é classificado em quatro categorias diferentes:
extremamente vulnerável, altamente vulnerável, vulnerável, em risco ou resiliente. Abaixo
apresentamos um gráfico que demonstra a distribuição dos países de acordo com esta
classificação.
98
De acordo com os criadores do EFM, uma das chaves para alcançar a sustentabilidade
seria o acompanhamento do efeito acumulado do consumo humano de recursos naturais e da
geração de resíduos. Ainda segundo os criadores do indicador, as contas relativas aos últimos
quarenta anos mostram uma tendência de crescimento ao longo de 25 anos além da quantidade de
biocapacidade renovável. Com este resultado, pode-se concluir que a pegada ecológica da
humanidade parece ter rompido os limites ecológicos e é, portanto, insustentável.
A Pegada Ecológica pode ser aplicada em escalas que vão desde produtos isolados até
famílias, organizações, regiões, nações e a humanidade como um todo. Para calculá-la é
necessário estimar o consumo de bens e serviços e a produção de resíduos da unidade de
população em estudo. Esses bens e serviços englobam categorias como alimentos, vestuário,
transporte, energia, lazer, habitação, etc. Após essa estimação, faz-se o cálculo da área necessária
para a obtenção desses bens dividindo-se a média anual de consumo desse item pela média da sua
produtividade.
Cada uma dessas áreas é considerada equivalente a um tipo de área biologicamente
produtiva, e a sua soma constitui a Pegada Ecológica. A pegada ecológica é formada por um
101
A maior parte das informações que estão no banco de dados do sistema do DS foi obtida
através de instituições internacionais públicas, como o Banco Mundial, o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento, a Organização Internacional do Trabalho, o World Resources
Institute, etc. Ainda assim, uma área considerada particularmente sensível e onde muitos esforços
devem ser feitos refere-se à fonte de dados dos países em desenvolvimento para enriquecer as
medidas sobre sustentabilidade.
Uma das desvantagens do DS é que ele pode mascarar a sustentabilidade efetiva do
desenvolvimento. Dentro do conceito de diferentes dimensões que o DS apresenta, é possível que
a dificuldade em avaliar o desenvolvimento surja não pela falta de parâmetros, mas sim pela
abundância de indicadores potenciais que seriam úteis. O que deve ou não ser medido depende da
visão sobre sustentabilidade dentro de cada país, ou de um consenso existente na esfera
104
internacional. Como esse consenso parece longe de acontecer, os indicadores como o DS, por
mais completos que sejam nos trarão a noção de sustentabilidade individualizada das nações,
podendo um país ser mais bem avaliado que outro dependendo das variáveis utilizadas e de suas
ponderações.
O último indicador apontado por Hans Michael van Bellen em sua pesquisa é o Barometer
of Sustainability. O BS é uma metodologia que serve para avaliar e relatar o progresso em direção
a sociedades sustentáveis, combinando diversos indicadores sociais e ambientais e fornecendo
uma avaliação por meio de uma escala de índices.
Ele foi elaborado no Canadá por diversos especialistas ligados, principalmente, aos
institutos The World Conservation Union e The International Development Research Centre. O
BS compara o bem-estar humano e o do ecossistema dentro das sociedades, a velocidade e o
sentido da mudança para uma sociedade sustentável e os principais pontos fortes e fracos da
mesma. Segundo seus formuladores, esse indicador é direcionado às agências governamentais e
não governamentais, a gestores e pessoas envolvidas com questões relativas ao desenvolvimento
sustentável, em qualquer âmbito do sistema, do local ao global.
De acordo com Anne Louette, o BS é
a única escala de desempenho destinada a medir o bem-estar humano e do ecossistema
conjuntamente, sem sobrepor um ao outro. Seus dois eixos – um para o bem-estar humano, outro
para o do ecossistema – permitem que indicadores socioeconômicos e ambientais sejam
combinados independentemente, mantendo-os separados, possibilitando análises de interações
pessoas-ecossistemas. (2009, p. 44)
A definição dos indicadores a serem escolhidos pela ferramenta passa pela aceitação do
conceito de que as pessoas e os ecossistemas devem ser tratados conjuntamente e com igual
importância. Isto demonstra a visão do BS da existência de um caminho lógico para transformar
os conceitos gerais do desenvolvimento sustentável, bem-estar e progresso em um grupo de
condições humanas e ecológicas concretas. O desafio da ferramenta é identificar as características
que revelem mais sobre o estado geral do sistema, utilizando um número mínimo de indicadores.
A medição da sustentabilidade feita pela ferramenta consiste no cálculo de índices para o
bem-estar social e para a ecosfera. Os indicadores para a formulação desses índices são
escolhidos apenas se puderem ser definidos numericamente. Indicadores puramente descritivos
são ignorados, já que são partes do contexto e não podem ser modificados. Essa predileção por
índices numéricos acaba sendo prejudicial por não levar em consideração questões qualitativas da
sustentabilidade, prejudicando a ferramenta nesse ponto de vista.
O índice de bem-estar do ecossistema identifica tendências da função ecológica no tempo.
É uma função da água, da terra, do ar, da biodiversidade e da utilização dos recursos. O índice de
bem-estar humano representa o nível geral de bem-estar da sociedade e é uma função do bem-
estar individual, saúde, educação, desemprego, pobreza, rendimentos, crime, bem como negócios
e atividades humanas.
A representação gráfica do BS é feita através de um gráfico bidimensional que relaciona
o bem-estar humano e o bem-estar do ecossistema, que são colocados em escalas relativas, indo
de 0 a 100, e indicam uma situação ruim até uma boa em termos de sustentabilidade. Tal escala
está dividida em cinco setores de 20 pontos cada um, mais sua base, equivalente a 0. A
localização do ponto de interseção definido por esses dois eixos, dentro do gráfico bidimensional,
fornece uma medida de sustentabilidade do sistema. As tendências podem representar o progresso
ou não de uma determinada cidade, estado ou nação. Quanto a divisão da escala em cinco setores,
ou dimensões, Bellen argumenta que
Um sistema comum de dimensões permite que a avaliação seja ajustada às condições e às
necessidades locais, ao mesmo tempo em que permite a comparação com outras iniciativas. O
sistema foi projetado para comportar um grande número de questões dentro de um pequeno grupo
principal. As dimensões são amplas o suficiente para acomodar a maioria das preocupações das
sociedades atuais, sendo que qualquer questão considerada importante para o bem-estar da
sociedade e do meio ambiente tem seu lugar dentro de uma das dimensões. Essas dimensões
representam conceitos que não são puramente técnicos, que são igualmente importantes e
facilmente combináveis dentro de índices de bem-estar. (2005, p. 151)
do ecossistema e que ambos devem ser tratados conjuntamente e com igual importância; o
levantamento de questões, já que não há muito conhecimento sobre a relação das pessoas com o
ecossistema; as instituições reflexivas, ou grupos de pessoas atuando em conjunto para questionar
e aprender coletivamente; e o foco nas pessoas, que são tanto problema como solução.
O índice considera os pesos do meio ambiente e da sociedade em um sistema com
diferentes dimensões. Num sistema com três dimensões como o DS, o peso atribuído à sociedade
é duas vezes maior que o do meio ambiente, enquanto num sistema de quatro dimensões, o peso é
três vezes maior. No BS, as duas dimensões (humana e ecológica) têm peso igual e são
mensuradas separadamente. Essa divisão entre pessoas e ecossistemas permite a comparação dos
progressos nos sistemas e possibilita avaliar seus custos. Porém, a questão dos pesos, ou de como
dividir a escala de performance, faz com que o método utilizado pelo BS não seja considerado
científico para muitos autores.
A avaliação de um determinado sistema, considerando o desenvolvimento sustentável,
envolve julgamentos de valor tanto para a ferramenta de avaliação quanto para suas metas,
passando pelas decisões dos indicadores, sua agregação e interpretação. Por esse motivo, o BS
não é um sistema absoluto e sim uma abordagem relativa. A partir dos processos deve-se decidir
quais indicadores ou índices devem ser abordados pela ferramenta. Esse fato dá um peso mais
político para a ferramenta, já que o usuário pode escolher os indicadores como ele achar
conveniente.
Uma das desvantagens do BS é que ele ainda não foi testado para medir a saúde de
ecossistemas em condições culturais e ecológicas bastante diferentes. Seu campo de testes
envolve um processo conhecido como “comunidade sentinela”, que representa uma combinação
de técnicas de medição quantitativas e qualitativas. Mas seu sistema só está disponível para 37
países, o que deixa um grande escopo de nações fora das medições e enfraquece a confiabilidade
da ferramenta.
de medir a sustentabilidade no plano nacional. Dentre eles, podemos destacar o DNA Brasil,
elaborado pela Unicamp e o IDS, elaborado pelo IBGE.
O DNA Brasil é um índice que tem como objetivo medir o progresso real e a qualidade de
vida dentro do país, em relação a uma situação ideal, projetada para ocorrer em 2029. Para tal, ele
busca visualizar a realidade brasileira por meio de indicadores, integrando diversas dimensões.
Além disso, o DNA Brasil tem o intuito de comparar a realidade brasileira com expectativas de
futuro e a situação de outros países e balizar a mobilização de atores, públicos e privados,
envolvidos em projetos de desenvolvimento.
O índice calculado pela ferramenta possui como base sete dimensões sociais e econômicas
da realidade brasileira. São elas: bem-estar econômico55, competição econômica56, condições
socioambientais57, educação58, saúde59, proteção social básica60 e coesão social61. Para sintetizar a
comparação dessas variáveis, foi definida uma forma geométrica baseada nas projeções feitas
pelos participantes de uma reunião organizada pelo Instituto DNA Brasil em outubro de 2004, às
quais foi atribuído o valor 1. Situações piores para um mesmo indicador brasileiro definem
valores inferiores a 1, enquanto que situações melhores são definidas com valores acima de 1.
O conjunto de pontos definidos pelos indicadores brasileiros forma uma área que se
aproxima de um círculo, o qual foi adotado para facilitar a visualização gráfica. Os extremos do
gráfico apontam os valores ideais para as projeções de 2029, tais valores foram obtidos através de
apontamentos dos participantes da formulação da ferramenta, que indicaram uma situação
desejável e realista a ser alcançada no referido ano, a partir da situação real brasileira retratada
com base em informações de 2002.
55
Renda per capita e sua distribuição inter-regional; relação entre as remunerações médias das mulheres e dos homens; relação
entre as remunerações médias de negros e de brancos; taxa de ocupação formal.
56
Exportações mundiais: evolução da participação do Brasil, com destaque para produtos ou setores de média e alta intensidade
tecnológica.
57
Instalações adequadas de esgotamento sanitário; destino adequado do lixo urbano; tratamento do esgoto sanitário.
58
Taxa de escolarização líquida no ensino médio; concluintes do ensino médio na idade esperada; desempenho do aluno no PISA
(Programa Internacional para Avaliação do Estudante).
59
Anos potenciais de vida perdidos (APVP); mortalidade infantil; coeficientes de mortalidade por acidentes cardiovasculares
(ACVs) e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
60
Cobertura previdenciária para maiores de 65 Anos; financiamento da atenção à saúde.
61
Distribuição de renda interpessoal; morte por homicídio em homens, na faixa de 15 a 24 anos; percentual de adolescentes que
são mães; justiça tributária.
108
Figura 1
Índice DNA Brasil – Brasil Real
Fonte: LOUETTE, Anne. Indicadores de Nações: uma contribuição ao diálogo da Sustentabilidade.
Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de Nações. 1.ª ed. WHH – Willis Harman House, 2007.
Vários Colaboradores. P. 50
109
Figura 2
Índice DNA Brasil – Comparação 2004/2005
Fonte: LOUETTE, Anne. Indicadores de Nações: uma contribuição ao diálogo da
Sustentabilidade. Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de Nações. 1.ª ed. WHH –
Willis Harman House, 2007. Vários Colaboradores. P. 50
O Brasil é ator central nas discussões das questões ambientais, não só por sua política
externa bastante ativa nos fóruns sobre o tema, mas principalmente por ser um país rico em
recursos naturais e constituir a maior biodiversidade do planeta. O país é um exemplo singular do
modelo de desenvolvimento por substituição de importações. Em algumas áreas do país o
desenvolvimento alcançado o coloca entre os países ricos – que em relação ao meio ambiente
111
formar a agenda do país na RIO-92, deixando o debate ambiental mais rico. Para André Aranha
Corrêa do Lago,
Estes temas, provenientes muitas vezes da agenda internacional, e introduzidos de maneira parcial
e ‘de cima para baixo’ na agenda interna, passaram a ser discutidos ‘de baixo para cima’, graças à
maior participação da sociedade civil nos planos político, social e econômico. Assim, o meio
ambiente conquistou, progressivamente, maior legitimidade nos países em desenvolvimento.
(2007, p.55)
O Brasil sempre esteve longe de ter uma posição de alinhamento aos países
desenvolvidos. O pensamento brasileiro sempre foi o de que os países ricos eram os principais
responsáveis pelas ameaças globais ao meio ambiente. Todavia, com a redemocratização, o Brasil
assumia perante sua sociedade civil a parcela de responsabilidade que lhe cabia em relação aos
problemas ambientais e a forma de combatê-los. Ainda assim, o país continuaria a defender que
“o desenvolvimento econômico era o melhor caminho para lidar com os problemas ambientais e
que a soberania sobre seus recursos naturais era indiscutível62” (LAGO, 2007, p.153).
Para o Brasil, a Conferência do Rio era de extrema importância, pois era uma forma de
resguardar os princípios pelos quais o país havia lutado em Estocolmo. Como anfitrião, o Brasil
deveria manter posições firmes, mas sem perder o foco de que sua atuação deveria levar em conta
a necessidade de se chegar a um consenso. Esse consenso significaria o sucesso da Conferência e,
sobretudo, do Brasil, melhorando a imagem externa do país.
A participação brasileira na Conferência foi bem sucedida. De acordo com Lílian C. B.
Duarte, “Para o Brasil a Conferência do Rio permanece como um marco das relações
multilaterais e um êxito diplomático que correspondeu às expectativas e aos objetivos.” (2003,
p.43) O Brasil atuou em defesa do desenvolvimento e da soberania nacional e buscou articular
posições em prol de consensos. Mas o seu maior êxito foi ter conseguido modificar sua imagem
no exterior, passando de grande vilão ambiental à grande defensor do desenvolvimento
sustentável.
Após a Conferência, a posição Brasileira continuou a ser a da defesa do desenvolvimento
para os países mais pobres e a mudança no padrão de consumo dos países mais ricos. A
Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS),
trabalhou na criação do documento da Agenda 21 Brasileira, em resposta à Conferência do Rio
62
A posição do Brasil em relação a sua soberania ficou evidenciada na questão das florestas. A posição dos países desenvolvidos
era de transformar as florestas tropicais em bens comuns globais, o que prejudicaria diretamente a soberania nacional em relação à
Amazônia. O argumento era de que os países em desenvolvimento não tinham condições de cuidar de tais bens, que possuíam
uma grande biodiversidade a ser explorada e cuja destruição provocaria quantidades preocupantes de emissões de gases do efeito
estufa. O Brasil contra argumentava que as florestas não eram capazes de absorver a quantidade de gases lançados na atmosfera
pelos países desenvolvidos e ainda que esse argumento ia contra todos os princípios de soberania acordados em Estocolmo.
113
de 1992. A CPDS é presidida pelo Ministro do Meio Ambiente, e é composta por representantes
do Ministério do Planejamento, do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Ciência e
Tecnologia, do Gabinete Civil e membros da sociedade civil, incluindo as ONGs.
O documento foi assinado em julho de 2002 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso,
como preparação para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em
Joanesburgo no mesmo ano. Esta estratégia abrangente não é classificada como um documento
oficial do governo. Pelo contrário, a Agenda 21 Brasileira foi criada através de anos de ampla
consulta em todos os setores da sociedade e por isso é classificada como um "pacto social".
Embora a Agenda 21 Brasileira não seja considerada uma estratégia de desenvolvimento
sustentável nacional, ela observa que o objetivo comum a ser alcançado não é restrito à
preservação do meio ambiente por si só, mas a um progressivo e ampliado desenvolvimento
sustentável, que traz para discussão a busca de equilíbrio entre crescimento econômico, equidade
social e preservação ambiental. Ela expande o conceito de desenvolvimento sustentável e como a
situação do Brasil se encaixa no contexto internacional.
A maior parte da Agenda 21 Brasileira define objetivos, incluindo ações e
recomendações. Estes são organizados nas seguintes áreas prioritárias: a economia na sociedade
do conhecimento; inclusão social para uma sociedade solidária; estratégia para a sustentabilidade
urbana e rural; estratégia para os recursos naturais: água, biodiversidade e florestas; e
governabilidade e ética para a promoção da sustentabilidade. Os componentes finais da Agenda
incluem uma discussão sobre mecanismos de implementação e instrumentos, acompanhado por
uma visão geral das realizações já concebidas no país.
O documento procurou estabelecer uma negociação balanceada entre seus objetivos, as
políticas ambientais e as estratégias de desenvolvimento econômico e social na intenção de
consolidá-los dentro do processo de desenvolvimento sustentável. Ela também identificou
algumas medidas que deveriam ser tomadas com o objetivo de superar as restrições econômicas,
políticas, institucionais e culturais como o aumento da consciência ambiental, abrindo a estrutura
do sistema político nacional para políticas direcionadas para a redução das desigualdades e
redução da pobreza e identificando fontes viáveis de recursos financeiros.
A cada quatro anos, o governo brasileiro promove seu Plano Plurianual – PPA, onde são
incluídos programas que recebem fundos da União. Em sua versão para os anos de 2000-2003, o
114
plano incorporou informações sobre consultas realizadas e documentos escritos até aquele
momento que se referiam à temas básicos da Agenda 21 Brasileira.
Esperava-se que, incorporando estes temas ao nível do planejamento nacional
eventualmente, eles fossem incorporados também às políticas públicas. Entre os anos de 2004-
2007, o PPA previu um maior corte orçamental para o setor ambiental. Ao mesmo tempo, o novo
PPA promoveu a inserção da dimensão ambiental na estratégia de desenvolvimento nacional. Isso
demonstra a disponibilidade do governo em integrar as questões ambientais com a política de
desenvolvimento do Brasil.
O Brasil também está envolvido ativamente com outros países latino-americanos em uma
variedade de iniciativas de desenvolvimento sustentável, como a Iniciativa da América Latina e
Caribe. O país também assinou a "Declaração Presidencial sobre a Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável", que foi apresentada conjuntamente em julho de 2002 pelos
Presidentes da América do Sul. Esta declaração reiterou o compromisso desses países para a
implementação da Agenda 21. De acordo com as Nações Unidas,
President Lula is also demonstrating commitment to Latin American relations in an effort to
ensure that South American countries can gain a respectable and competitive position in a
globalized world. (O Presidente Lula também tem demonstrado compromisso para as relações da
América Latina num esforço para assegurar que os países da América do Sul possam obter uma
posição respeitável e competitiva num mundo globalizado.) (JICA 2003, p.2, apud. UN, 2004,
p.4).
Iniciativa Resumo
A CPDS foi criada em 1997. Esta Comissão é presidida pelo Ministro do Meio
Ambiente. Tem representantes da Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão, do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Ciência e
Comissão de Políticas de
Tecnologia, do Gabinete Civil, e membros da sociedade civil, incluindo ONGs e
Desenvolvimento Sustentável
academia (Socioambiental 2002, p. 1). Esta Comissão criada com êxito da
e daAgenda 21 Nacional (CPDS)
Agenda 21 Brasileira, com a entrada de mais de 40.000 pessoas. Foram
realizadas consultas com todos os setores da sociedade, e em todos os níveis de
governo.
Quadro 8
Iniciativas de Desenvolvimento Sustentável Selecionadas – Brasil
Fonte: UNITED NATIONS. Brazil Case Study: Analysis of National Strategies for Sustainable Development. In: National Strategies for
Sustainable Development: Challenges, Approaches, and Innovations Based on a 19-country Analysis – 2004. Disponível em: <
http://www.iisd.org/ measure/capacity/sdsip.asp >
No início do século XXI, o Brasil buscava ganhar espaço de maneira mais independente
dentro do tema ambiental e afastado dos interesses dos países desenvolvidos. Na Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em Joanesburgo no ano de 2002, o país defendeu a
assinatura do Protocolo de Quioto por todos os países, cobrou o fim do protecionismo dos países
ricos e argumentou em favor das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”.
A grande preocupação brasileira em Joanesburgo foi tentar manter o compromisso da
transferência de 0,7% do PNB dos países desenvolvidos para o desenvolvimento dos demais e a
reafirmação do principio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. Mesmo
116
reconhecendo que houve poucas vitórias ao fim da Conferência, o país contabilizou como êxito a
manutenção desse princípio da RIO-92.
Dentro da Cúpula, a “Proposta Brasileira de Energia” teve um papel relevante nas
negociações. Ela sugeria que os países aumentassem suas matrizes energéticas renováveis para
pelo menos 10% de seus totais, mas não foi aceita. Nesse caso ficou decidido que cada país
ficaria livre para atingir uma meta, sem qualquer prazo, para adoção de fontes de energia
renováveis.
O Brasil saiu fortalecido de Joanesburgo, apesar de a Conferência ser considerada por
muitos um fracasso em termos de avanço nas questões ambientais. O país se fez presente através
de uma diplomacia forte que tinha o intuito de utilizar as vantagens de sua posição como potência
média para a projeção do país como uma “potência verde” conseguindo maior espaço no cenário
internacional. Sua posição em torno do desenvolvimento foi mantida, mas direcionada ao
desenvolvimento sustentável e com um tom válido tanto para países do Norte como para países
do Sul.
Atualmente, o país vive um momento político-econômico favorável para um
desenvolvimento ambientalmente sustentável e socialmente justo. A renda per capita dos
brasileiros no ano de 2009 foi de R$ 16.416,00; isto significa que tivemos um PIB de 3,14
trilhões de reais, para uma população de 191 milhões de habitantes. De acordo com a publicação
do CONFEA, Propostas para o Desenvolvimento Sustentável Brasileiro,
Felizmente, há, hoje, a percepção de que a sociedade em geral entende que as questões associadas
à ocupação e integração do território nacional, necessárias para garantir o desenvolvimento que é
sinalizado e desejado por todos, devem ser efetivadas com a garantia dos pressupostos da
sustentabilidade plena: justa distribuição de riquezas; redução das desigualdades sociais e
regionais; e respeito ao meio ambiente. (2010, p.5).
A sustentabilidade da economia brasileira deve ser composta por vários temas setoriais
que formam a base do desenvolvimento do país. Dentre os quais podemos citar o direcionamento
do setor de energia para a obtenção de uma matriz energética cada vez mais limpa, investindo em
combustíveis oriundos de fontes renováveis. A matriz energética brasileira apresentou em 2009
uma proporção de energia renovável ainda maior que aquela observada nos anos recentes,
atingindo 47,3%. Segundo o CONFEA,
A oferta interna bruta de energia em 2007, produzida a partir de fontes renováveis, foi equivalente
a 46% – biomassa = 31,1%; e hidráulica = 14,9%. Para se estabelecer a comparação, em todo o
mundo a participação das fontes renováveis é limitada a 12,9%; nos países da OCDE atinge, no
máximo, 6,7%. (2010, p. 15).
A hidroeletricidade tem sido a vocação histórica do Brasil e ainda é possível, pelo menos,
triplicar a atual capacidade instalada, respeitando os modernos princípios de preservação
ambiental e os direitos dos residentes nas áreas atingidas pelas barragens. O Brasil é o terceiro
país do mundo com maior potencial hidroelétrico ainda aproveitável, ficando abaixo apenas da
China e dos EUA. Todavia, hoje, sem prejuízo à expansão da hidroeletricidade, deve-se dar
crescente ênfase a outras formas de energia renováveis.
Para diversificar as suas fontes de energia renovável, o Brasil tenta aumentar o uso de
biomassa proveniente da cana-de-açúcar. Os investimentos na área são em função do aumento de
produtividade e diminuição dos gargalos nos insumos de produção da lavoura canavieira;
Eliminação das queimadas na fase da colheita; aumento do aproveitamento da biomassa sólida
(bagaço e palhas) na produção de etanol (hidrólise) e energia elétrica (cadeiras de maior pressão e
118
O Brasil se encontra numa posição altamente privilegiada. É um país com grande mercado
consumidor, matriz energética diversificada, sólido parque industrial, alta tecnologia petrolífera,
além de estabilidade institucional, econômica e jurídica. Graças às descobertas no Pré-Sal,
continuará autossuficiente por muitos anos e, futuramente, será um importante ator no cenário
petroleiro mundial, como exportador de derivados e de petróleo bruto.
Para o Brasil, esse cenário aponta: segurança energética e blindagem quanto a eventuais
crises energéticas mundiais; geração de divisas com exportação, aumentando o superávit da
balança comercial; diversificação da economia, incluindo a aplicação de mais recursos em saúde,
educação, habitação, pesquisa tecnológica e infraestrutura, apenas com as receitas geradas pela
renda petrolífera governamental; criação e desenvolvimento de tecnologia de ponta, consolidando
a liderança em exploração e produção (E&P) off-shore; e aumento da importância econômica e
geopolítica no cenário latino-americano e mundial.
Um dos pontos centrais do desenvolvimento sustentável, além da questão energética é o
setor de transportes. Hoje, o transporte é um fator preponderante para a integração entre nações
do mundo globalizado. O custo de transporte representa a maior parte do custo logístico total das
empresas e o desempenho em custo da logística de transporte está relacionado à qualidade e à
oferta de infraestrutura viária, de veículos e de terminais.
A questão dos transportes também pode ser pensada em termo sustentáveis ao se fazer um
esforço na mudança da base hoje eminentemente rodoviária, com a construção de mais ferrovias
e hidrovias, inclusive como elementos de integração continental, além da melhoria dos portos
para resgatar o potencial marítimo, visando à redução do consumo de energia e de emissões.
Seria necessário priorizar o transporte coletivo, assegurando modos adequados à realidade das
cidades, em contraponto a ótica vigente de se financiar o transporte individual motorizado.
Atualmente, o Brasil conta com uma rede de infraestrutura que não opera de forma
eficiente os modais em todas as regiões, o que leva a um grave desequilíbrio na matriz de
transporte. A falta de políticas direcionadas para o transporte urbano e o incentivo cada vez maior
do uso de transporte individual gera um aumento significativo do número de veículos nas
avenidas e ruas dos grandes centros gerando congestionamentos e poluição. Com isso aumentam
o tempo e os custos das viagens. De acordo com o CONFEA,
O pífio investimento estatal em transportes – média de 0,2% do PIB ao longo dos últimos anos –
tem se concentrado no modal rodoviário, ultrapassando 4/5 do total, o que tende a manter e
reproduzir o quadro atual. A malha ferroviária apresenta uma série de gargalos físicos e logísticos.
Esses entraves comprometem a competitividade, a eficiência e a capacidade da malha nacional e
120
dos corredores de transporte ferroviários. [...] O modal aquaviário é pouco competitivo. A bandeira
brasileira é cada vez menos significativa na navegação internacional, com o sucateamento da
marinha mercante, impulsionado pelo processo de privatização, acarretando maior dispêndio de
divisas para pagamento de fretes no comércio exterior – cerca de R$ 6,5 bilhões por ano. Já a
navegação de cabotagem, que deve ser fundamental para os transportes de cargas no Brasil e na
América do Sul, é pouco utilizada e se ocupa essencialmente de granéis líquidos e sólidos. Os
portos brasileiros enfrentam uma série de problemas de curto, médio e longo prazo para a operação
eficiente. O setor privado não reúne condições ou interesse de realizar os investimentos
necessários. (2010, p. 45)
de água, da coleta, tratamento e destinação dos esgotos e resíduos sólidos e da drenagem nas
cidades brasileiras, um dos objetivos do milênio, exigirão o investimento mínimo de nove bilhões
de reais ao ano, durante os próximos 20 anos.
Segundo o CONFEA, as primeiras análises realizadas a partir dos dados da PNAD 2007 –
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, conclui que há muitas desigualdades regionais,
setoriais (urbano x rural), raciais e socioeconômicas nos serviços de abastecimento de água; as
mesmas conclusões se aplicam ao esgotamento sanitário, onde as desigualdades são mais
profundas. (2010, p. 86). Diferentemente das outras políticas públicas, o Brasil não conseguiu
estabelecer um Sistema de Saneamento, dificultando a atuação dessa política.
Esses números analisados não dizem respeito a uma questão bem mais grave que é a perda
em torno de 40% da água produzida, a ausência de tratamento de esgotos que atinge no máximo
30% da população, e ausência de tratamento adequado dos resíduos sólidos coletados que ficam
expostos nos lixões presentes na grande maioria dos municípios brasileiros.
A questão ambiental também passa transversalmente pela questão agrária. O setor
agropecuário tem um forte peso na economia brasileira, seja representado pelo agronegócio, pela
exportação de commodities ou pela agricultura familiar que abastece as famílias brasileiras. O
Brasil necessita de uma transformação profunda na estrutura agrária, no sentido de abrir enormes
espaços de manobra para a produção de alimentos, não como prioridade para a exportação de
commodities, mas para suprir a mesa dos brasileiros. O apoio a agricultura familiar entra nesse
contexto não só pela aplicação dos recursos de forma racional, mas também como fixação das
famílias no campo, possibilitando o desenvolvimento igualitário entre o campo e a cidade.
O agronegócio brasileiro é, sem dúvida, de suma importância para a geração de divisas e
para o desenvolvimento da sociedade e um dos principais responsáveis pelo saldo positivo da
balança comercial brasileira. A produção nacional de grãos cresceu mais de 105% na última
década e meia. O Agronegócio Brasileiro representava em 2007, segundo a Organização Mundial
do Comércio, 6,0% do comércio mundial de exportações, enquanto somando todas as
exportações brasileiras, o país atingia 1,6% do total mundial.64
A capacidade da atuação do Estado Brasileiro na área ambiental baseia-se na ideia de
responsabilidades compartilhadas entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios e entre
esses e os demais setores da sociedade. Vários sistemas e entidades foram criados nas últimas
64
Fonte: CONFEA; CREA. Propostas para o Desenvolvimento Sustentável Brasileiro. Agosto de 2010, p. 96.
122
duas décadas para articular e dar suporte institucional e técnico para a gestão ambiental no País.
Mesmo assim, a falta de capilaridade, isto é da capacidade de fazer chegar suas ações o mais
próximo possível dos cidadãos, a escassez de recursos financeiros e de pessoal, assim como a
falta de uma base legal revisada, consolidada e implementada constituem os principais problemas
enfrentados pelo segmento ambiental brasileiro.
Dentre estes, o principal problema repousa na inexistência dos órgãos locais. Em 2002
somente 5,86% dos municípios brasileiros possuíam instâncias municipais dedicadas
exclusivamente às ações ambientais, tais como secretarias de meio ambiente. Já em 2009, ocorreu
uma expansão no setor. Do total das cidades brasileiras, 56,3% já contavam com conselhos de
meio ambiente e 84,5% com algum órgão que exercia ações voltadas para o controle ambiental.
O fato de, pela primeira vez, mais de 50% dos municípios constituírem conselhos de meio
ambiente mostra que a questão está sendo tratada de forma mais integrada65.
Em dezembro de 2009, foi instituída a Política Nacional sobre Mudança do Clima –
PNMC – que estabeleceu cinco instrumentos institucionais para a sua execução: o Comitê
Interministerial sobre Mudança do Clima, a Comissão Interministerial de Mudança Global do
Clima, o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças
Climáticas Globais (Rede Clima) e a Comissão de Coordenação das Atividades de Meteorologia,
Climatologia e Hidrologia.
O Brasil tem um perfil de emissões de gases de efeito estufa (GEE) muito singular,
destoando do perfil mundial, geralmente caracterizado por altas emissões no setor de energia. No
nosso perfil, as questões do desflorestamento e da agropecuária – principalmente a pecuária – têm
importância inusitada devido ao fato de o Brasil ter a maior reserva de floresta tropical mundial, à
importância da agropecuária e ao perfil energético extraordinariamente limpo do Brasil.
Apesar de o Brasil ter resistido durante muito tempo à fixação de metas de redução de
emissões, em 13 de novembro de 2009, um pouco antes da Conferência das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima – COP15, o Brasil anunciou sua meta de redução, na faixa entre 36,1% e
38,9% de suas emissões projetadas até 2020.
Destaca-se que, diferentemente das metas dos países desenvolvidos – estabelecidas em
Quioto – que têm como referência a emissão no passado – 1990 – as metas dos países em
desenvolvimento se referem a valores futuros, no caso do Brasil o cenário tendencial é o de 2020.
65
Fonte: CONFEA; CREA. Propostas para o Desenvolvimento Sustentável Brasileiro. Agosto de 2010, p. 102.
123
Essa diferença seria atribuída ao discurso de que os países em desenvolvimento teriam o direito
de alcançar o desenvolvimento pleno, permitindo-lhes certo nível de emissão.
Dentro da questão hidrográfica, o Brasil tem uma posição privilegiada perante a maioria
dos países quanto ao seu volume de recursos hídricos, alcançando uma vazão media superficial
de 179 mil m3/s, aproximadamente 12% da disponibilidade mundial. Porém, mais de 73% da
água doce disponível do País encontra-se na bacia Amazônica. Hoje, o Brasil, conta com uma
população de 191 milhões de habitantes, dentre os quais 18 milhões estão na Amazônia, ou seja,
cerca de 10% da população. A conclusão que se chega é de que apenas 27% dos recursos hídricos
estão disponíveis para 90% da população.
No País, os estados de Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e
Distrito Federal contam com stress hídrico periódico e regular enquanto Rio de Janeiro, Ceará,
São Paulo e Bahia somente ocasionalmente tenderão a sofrer problemas de falta de água. Nas
outras unidades não há observação sobre stress hídrico.
Como as questões ambientais são solucionadas, em sua maioria, através de processos
longos de pesquisa e monitoramento, é importante que a nação cuja intenção seja despontar como
referência na área ambiental invista em ciência, tecnologia e inovação (C,T&I). Seguindo essa
lógica, o Brasil se prepara para, finalmente, consolidar uma política de Estado em C,T&I capaz
de contribuir com o desenvolvimento sustentável, do ponto de vista econômico e socioambiental.
Os investimentos dos anos recentes em Educação e em C,T&I começam a promover uma
inflexão de tendências, pelos recentes resultados do Ideb – Índice de Desenvolvimento do Ensino
Básico, pelos novos campi, Universidades e Institutos Federais de Educação Tecnológica - IFES,
pela melhoria das condições das universidades públicas e pela ampliação substancial do número
de vagas no ensino superior, inclusive na pós-graduação. Dados atuais mostram que os recursos
aplicados em Ciência e Tecnologia no Brasil dobraram na última década. Entretanto, o
investimento privado na pesquisa e desenvolvimento tecnológico ainda é incipiente no país,
comparado com outros.
Em qualquer que seja a atividade científica, tecnologias, produtos e processos devem ser
desenvolvidos dentro de uma ótica de sustentabilidade, assegurando respeito ao meio ambiente.
O Brasil tem vantagens comparativas inequívocas para estar na linha de frente dessa discussão e
tornar-se uma potência no desafiante paradigma do desenvolvimento sustentável. Além de ser
uma das maiores economias em ascensão no mundo, o país possui reconhecido capital intelectual
124
científico e exerce protagonismo em questões básicas tais como uma matriz energética limpa, a
repartição dos benefícios da biodiversidade e as medidas de enfrentamento das mudanças
climáticas.
Assim ao analisar esse indicador não vamos obter um número que possa servir de
comparação com uma escala de desenvolvimento ou mesmo comparação entre países. O que ele
nos fornece é uma ampla visão do desenvolvimento sustentável através de quatro dimensões:
ambiental, social, econômica e institucional. Cada dimensão se subdivide em certo número de
indicadores. São cinquenta e dois indicadores divididos entre essas dimensões.
A dimensão ambiental do IDS diz respeito ao uso dos recursos naturais e à degradação
ambiental, e está relacionada aos objetivos de preservação e conservação do meio ambiente. Estas
questões aparecem organizadas nos temas atmosfera; terra; água doce; oceanos, mares e áreas
costeiras; de biodiversidade e saneamento. O tema saneamento foi adicionado à lista original da
CDS e reúne os indicadores relacionados ao abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta
e destino de lixo, os quais igualmente expressam pressões sobre os recursos naturais e envolvem
questões pertinentes à política ambiental, além de terem forte influência na saúde e na qualidade
de vida da população.
A dimensão social dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável corresponde,
especialmente, aos objetivos ligados à satisfação das necessidades humanas, melhoria da
qualidade de vida e justiça social. Os indicadores incluídos nesta dimensão abrangem os temas
população; trabalho e rendimento; saúde; educação; habitação e segurança, e procuram retratar o
nível educacional, a distribuição da renda, as questões ligadas à equidade e às condições de vida
da população, apontando o sentido de sua evolução recente.
A dimensão econômica dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável trata do
desempenho macroeconômico e financeiro do país e dos impactos no consumo de recursos
materiais, na produção e gerenciamento de resíduos e uso de energia. É a dimensão que se ocupa
da eficiência dos processos produtivos e das alterações nas estruturas de consumo orientadas a
uma reprodução econômica sustentável a longo prazo.
A dimensão institucional diz respeito à orientação política, capacidade e esforço
despendido por governos e pela sociedade na implementação das mudanças requeridas para uma
efetiva execução do desenvolvimento sustentável. Pode-se mencionar que esta dimensão aborda
temas de difícil conceituação e mensuração, carecendo de mais estudos para o seu
aprimoramento.
Dentro da dimensão ambiental, o indicador de atmosfera se subdivide em emissões de
origem antrópica dos gases associados ao efeito estufa que apresenta a estimativa das emissões de
126
origem antrópica líquidas (emissões menos remoções) dos principais gases causadores do efeito
estufa, por setor de atividade responsável pela emissão. Atualmente, o Brasil emite entre 2 e 2,5
milhões de Gq CO2 eq66 ante a emissão de 1,5 milhões em 1990, sendo a maior quantidade
provocada pela mudança no uso da terra e florestas .
Ainda no subitem atmosfera, temos a medição do consumo industrial de substâncias
destruidoras da camada de ozônio que expressa o consumo industrial anual dos tipos de
substâncias constantes nos anexos do Protocolo de Montreal (1987). O consumo de tais
substâncias vem caindo exponencialmente no país, baixando de 12 mil toneladas PDO67 de
consumo do gás CFC combinado com outros gases em 1999, para menos de dois mil em 2008.
No item atmosfera também é medida a concentração de poluentes no ar em áreas urbanas.
Este expressa a qualidade do ar e fornece uma medida da exposição da população à poluição
atmosférica nos grandes centros urbanos. A poluição do ar nessas áreas é um dos grandes
problemas ambientais da atualidade, com implicações graves na saúde da população. A
concentração de poluentes no ar é o resultado das emissões provenientes de fontes estacionárias
(indústrias, incineradores, etc.) e móveis (veículos automotores) conjugadas a outros fatores, tais
como: clima; geografia; uso do solo; distribuição e tipologia das fontes; condições de emissão; e
dispersão local dos poluentes.
O padrão nacional primário68 de qualidade do ar recomenda uma concentração de
partículas totais na faixa de 240 µg/m³69 num tempo de amostragem de 24h. A máxima
concentração anual observada de alguns poluentes nas regiões metropolitanas brasileiras (Belo
Horizonte, Curitiba, Distrito Federal, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Recife e
Vitória) apresentou partículas totais em suspensão no ar concentradas na faixa de mil µg/m³ em
2008.
A dimensão ambiental também congrega o item terra. Dentro deste, encontra-se o subitem
do uso de fertilizantes, o qual demonstra a intensidade de uso de fertilizantes na produção
66
Medida correspondente a gás carbônico equivalente.
67
Potencial de destruição da camada de ozônio.
68
Padrões primários de qualidade do ar são as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, podem afetar direta e imediatamente
a saúde da população. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes atmosféricos,
constituindo-se em metas de controle da qualidade do ar de curto e médio prazos. São valores de referência definidos pela
legislação pertinente que levam em consideração as emissões, as concentrações média e máxima permitidas, as condições e os
limites de saturação de cada poluente atmosférico. Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável: Brasil 2010. Estudos e Pesquisas Informação Geográfica nº 7. Rio de Janeiro: 2010, p. 30.
69
Micrograma por metro cúbico
127
Quando comparamos a área total dessas terras nos Censos Agropecuários 1995-1996 e
2006, verifica-se uma redução de 19,9 milhões de hectares (-5,6%) em 2006, ressaltando-se que
as áreas transformadas em unidades de conservação ou em terras indígenas no período
70
Fenômeno causado pelo excesso de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio) numa massa de água,
provocando um aumento excessivo de algas.
128
intercensitário estão incluídas nessa análise. Para a área de pastagens plantadas observa-se um
aumento em relação ao total de 2,7 milhões de hectares (2,7%), ocorrendo uma grande
movimentação entre os estados, com deslocamento de áreas de pastagens para o Norte do país.
Assim, observa-se um aumento nas lavouras de 10,4 milhões de hectares (20,9%), distribuídos
por todas as regiões do país.
O período entre meados das décadas de 1990 e 2000 revela uma dinâmica socioeconômica
onde convivem complexos sistemas agroindustriais e cadeias produtivas altamente articuladas à
produção de commodities para o mercado mundial, com sistemas agrícolas simples, muitas vezes,
com discreta inserção no comércio local. Estes resultados têm importantes implicações sobre a
sustentabilidade da atividade agropastoril. Se por um lado a intensificação representa aumento de
produção por unidade de área, o que reduz a pressão sobre o recurso solo, por outro também
significa o aumento no uso de fertilizantes e agrotóxicos, e dos riscos de contaminação ambiental.
O subitem queimadas e incêndios florestais, expressa a ocorrência dos mesmos em um
determinado território. Além de provocar danos à biodiversidade, a exposição do solo à ação de
processos erosivos e o comprometimento dos recursos hídricos, as queimadas provocam a
geração e a transferência para a atmosfera de grandes quantidades de gases de efeito estufa,
especialmente CO2. Estima-se que a destruição da vegetação nativa e as queimadas sejam
responsáveis por 75% das emissões brasileiras de CO2 para a atmosfera.71 No Brasil, as
queimadas têm sido a forma mais usada para a conversão da floresta amazônica e do cerrado em
áreas agropastoris. A espacialização dos focos de calor evidencia a sua concentração em algumas
regiões do país. A mais extensa e recorrente corresponde ao chamado “Arco do Desflorestamento
e das Queimadas”, que abrange o sul e o leste da Amazônia Legal. De uma forma geral, os focos
de calor diminuíram ao longo da última década. Entre os anos de 2001 e 2005, a média de focos
estava acima de 200 mil enquanto que no fim da década esse número caiu para menos de 100 mil.
No item água doce da dimensão ambiental é medida a qualidade de águas interiores,
expressa pela Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO e pelo Índice de Qualidade da Água -
IQA. A falta de saneamento básico é um dos maiores problemas ambientais e sociais do país. O
baixo percentual de tratamento dos esgotos coletados e lançados em corpos d’água se reflete no
71
Além da medição das queimadas, o Indicador de Desenvolvimento Sustentável leva em consideração outros subitens como o
Desflorestamento da Amazônia Legal, a Área remanescente e desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações vegetais
litorâneas e a Área remanescente e desmatamento no Cerrado.
129
alto valor de DBO e baixo IQA observado nos trechos dos rios que cortam grandes áreas urbanas,
atravessam zonas industrializadas, ou passam por muitas cidades de médio e grande portes.
A contaminação de rios por efluentes doméstico e industrial e resíduos sólidos encarece o
tratamento de água para abastecimento público e começa a gerar situações de escassez de
disponibilidade de água de qualidade em áreas com abundantes recursos hídricos. A expansão do
saneamento básico, especialmente da coleta e tratamento de esgotos, e a proteção de nascentes,
mananciais, várzeas e áreas no entorno dos rios, são ações urgentes e necessárias para a
conservação dos recursos hídricos das regiões mais densamente povoadas do Brasil. O limite
máximo de DBO estabelecido pelo CONAMA72 é de 5 mg/l. A média anual de DBO, em corpos
d'água selecionados (Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul) entre os anos
de 1992 e 2009, ficou abaixo do limite máximo estabelecido.
Na questão dos mares brasileiros, o indicador de balneabilidade apresenta o estado da
qualidade da água para fins de recreação em algumas praias do litoral num determinado período
de tempo. Além disso, ainda é medida a produção de pescado marítima e continental,
apresentando o volume de produção de pescado por modalidade, em um determinado território e
período de tempo.
A produção atual de pescado no Brasil ultrapassa as mil toneladas, sendo divida entre o
cultivo marítimo e continental e a pesca extrativa. A médio e longo prazos, a aquicultura deve
superar a pesca extrativa, passando a dominar a produção de pescado no país. Embora aquela
alivie a pressão sobre os estoques pesqueiro, marinho e continental, a atividade também gera
impactos ambientais, que vão desde a destruição de mangues e de outras formas de vegetação
nativa (para a instalação dos tanques de criação de peixes e camarões) até a poluição orgânica de
rios e estuários (descarte de efluentes dos criatórios).
Outro indicador utilizado é o que mede a população residente em áreas costeiras,
apresentando a proporção da população residente na zona costeira em relação ao total de
população de um determinado território (densidade populacional da zona costeira). A população
brasileira se concentra nas proximidades da costa. Vários problemas ambientais como o impacto
ambiental decorrente da poluição das águas, da contaminação do solo, da pressão populacional e
da especulação imobiliária, são especialmente verificados nesta região. Nas últimas décadas, tem
havido um movimento de interiorização, embora os percentuais na zona costeira ainda sejam
72
Conselho Nacional do Meio Ambiente
130
altos, entre 20% e 25% do total da população, e tenham se mantido estáveis desde os anos de
1990.
Dentro da dimensão ambiental, um indicador importante é o que mede a biodiversidade
existente. Nesse contexto estão explicitadas as medições do volume de espécies extintas e
ameaçadas de extinção, que apresenta o estado e as variações da biodiversidade, expressos pelo
número estimado de espécies nativas e número de espécies ameaçadas de extinção, nos principais
biomas brasileiros. O Brasil está incluído entre os países dotados da chamada megadiversidade,
grupo de 12 nações que abrigam 70% da biodiversidade total do planeta. Dentre as espécies
animais, o Brasil apresenta mais de seiscentas espécies em risco de extinção. Das espécies
vegetais, 29,7% estão ameaçadas de extinção.
O indicador de áreas protegidas expressa a dimensão e a distribuição dos espaços
territoriais que estão sob estatuto especial de proteção. Estes espaços são destinados à proteção do
meio ambiente, onde a exploração dos recursos naturais é proibida ou controlada por legislação
específica. O desenvolvimento sustentável abrange a preservação do meio ambiente, o que
implica na conservação dos biomas brasileiros. Para alcançar estas metas, a delimitação de áreas
protegidas é fundamental. O Brasil detém em seu território a maior biodiversidade do planeta.
Para proteger este patrimônio, o país destina uma área de mais de 750 000 km² a UCs73 federais,
aproximadamente 9% do Território Nacional. Dentre os biomas brasileiros, a Amazônia detém a
maior área protegida, com quase 17% de sua área total em UCs federais, das quais 7,9% são áreas
de proteção integral. A Caatinga, os Pampas, a Mata Atlântica e o Pantanal apresentam áreas
protegidas em unidades de proteção integral federais em torno ou abaixo de 1%. Para o Cerrado,
este percentual é de 2,2%.
Nos últimos anos, tem havido um forte crescimento do número e da área das Unidades de
Conservação federais, especialmente daquelas de uso sustentável. Este resultado revela dois
aspectos importantes: reflete tanto o esforço que o país tem feito para proteger seus recursos
naturais quanto uma mudança significativa na concepção e na implantação de áreas protegidas. O
aumento do número de área de unidades de uso sustentável, que hoje superam as de proteção
integral, representam o reconhecimento do Estado do fato das populações tradicionais serem
aliadas naturais, e não um obstáculo à conservação da biodiversidade.74
73
Unidades de Conservação
74
Ainda dentro do item biodiversidade temos o subitem de espécies invasoras que apresenta o número de espécies invasoras no
Brasil, informando os locais de origem e as principais formas e consequências da invasão.
131
A partir de 1970, com a contínua queda da mortalidade associada a uma queda acentuada
das taxas de fecundidade, a taxa média de crescimento anual da população brasileira diminui
consideravelmente, chegando a 1,64% ao ano entre 1991 e 2000. A taxa de fecundidade para o
ano de 2000 era de 2,37 filhos por mulher. Ao utilizar um conjunto de estimativas para projetar o
nível da fecundidade, a taxa estimada e correspondente ao ano de 2008 é de 1,86 filho por
mulher. Essa projeção aponta que em 2040 a população brasileira chegará ao nível máximo e
depois decrescerá. Seu nível máximo será de aproximadamente 200 milhões de habitantes.75
Dentro da dimensão social, temos a medição do Índice de Gini que mostra o grau de
concentração na distribuição da renda da população. O índice de Gini é um dos indicadores mais
utilizados com a finalidade de saber se uma sociedade é equitativa através do seu nível de
rendimentos. O combate à desigualdade é fundamental para assegurar a redução da pobreza, um
dos principais desafios do desenvolvimento sustentável. O grau de desigualdade na distribuição
da renda tendeu a redução no período observado, embora ainda seja considerado elevado (0,531
em 2008), apesar do crescimento do PIB. Observa-se que entre 1995 e 2008 a queda tem ocorrido
em ritmo lento, sendo de 0,97% ao ano em média, inferior ao incremento médio anual do PIB per
capita. Entre 1996 e 2006, por exemplo, o PIB per capita aumentou 11,2%, enquanto o índice de
Gini reduziu em apenas 7,1%.
Na dimensão social existe ainda a medição da taxa de desocupação que expressa a
proporção da população de 10 anos ou mais de idade que não estava trabalhando, mas procurou
trabalho no período de referência. Essa taxa vem diminuindo ao longo dos anos saindo de 12,3%
no ano de 2003 para 3,5% em 2009. Outro índice medido é o rendimento familiar per capita que
apresenta a distribuição percentual de famílias por classes de rendimento médio mensal per
capita. A desigualdade na distribuição da renda também pode ser visualizada neste indicador, em
termos de apropriação de salários mínimos.
Enquanto 26,4% das famílias residentes em domicílios particulares recebiam um
rendimento mensal familiar per capita de meio a um salário mínimo em 2008, somente 5,5%
ganhavam mais de cinco salários mínimos. A proporção de famílias com rendimento familiar per
capita de até meio salário mínimo apresentou uma queda nos últimos anos, passando de 31,6%,
em 2004, para 22,8%, em 2008. No ano de 2008, o rendimento médio mensal das pessoas de 10
75
Ainda dentro do item população há a medição de população e terras indígenas. Este indicador expressa o tamanho da população
indígena e a quantidade de parques e terras indígenas com processo de reconhecimento oficial finalizado.
133
76
Organização mundial de saúde
134
significa dizer que 10,0% da população de 15 anos ou mais de idade ainda é formada por
analfabetos, correspondendo aproximadamente a 14,2 milhões de pessoas.
O indicador de escolaridade apresenta a média de anos de estudo da população de 25 anos
ou mais de idade. Idealmente as pessoas de 25 anos ou mais de idade deveriam ter no mínimo 11
anos de estudo, que corresponde ao ensino médio completo. A análise da escolaridade no Brasil,
no período de 1992 a 2008, revela médias inferiores a 8 anos de estudo, ou seja, mostra que a
media da população não tem sequer a conclusão do ensino fundamental. Em 2008, a escolaridade
média do brasileiro alcançou apenas sete anos de estudo, e a evolução tem sido lenta, pois em dez
anos (1998-2008) ocorreu um incremento de apenas 1,4 ano. Se continuar neste ritmo, o Brasil
levará cerca de 30 anos para alcançar o indicador esperado.
Em relação à dimensão social, ainda constam como indicadores a habitação onde se
verifica a adequação de moradia, através da proporção de domicílios com condições mínimas de
habitabilidade. Um domicílio pode ser considerado satisfatório quando apresenta um padrão
mínimo de aceitabilidade dos serviços de infraestrutura básica, além de espaço físico suficiente
para seus moradores. Considera-se como adequado o domicílio particular permanente com
abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede coletora ou fossa séptica,
coleta de lixo direta ou indireta e com no máximo dois moradores por dormitório.
O número de domicílios adequados para moradia vem crescendo no Brasil nos últimos
anos, tendo alcançado 57% dos domicílios particulares permanentes em 2008. Este, porém, não é
um percentual satisfatório, pois significa que o país possuía neste ano aproximadamente 25
milhões de domicílios inadequados.
Na questão da segurança, é medido o coeficiente de mortalidade por homicídios,
representando as mortes por causas violentas. Observa-se um incremento em termos absolutos de
6,2 óbitos por homicídios em 100 mil habitantes entre 1992 e 2007, sendo mais acentuado para o
sexo masculino. Entre 1992 e 2003, ocorreu um aumento no coeficiente e a partir de 2004
observa-se uma tendência de queda. Os homens apresentam valores consideravelmente superiores
às mulheres (10 vezes maiores em média). As mortes por homicídios afetam a esperança de vida,
que não é superior devido às mortes prematuras, sobretudo de jovens do sexo masculino.
O coeficiente de mortalidade por acidentes de transporte representa o número de óbitos
neste tipo de acidente. O indicador é a relação entre mortalidade por acidentes de transporte e a
136
população considerada (total, homens e mulheres), expressa em óbitos por 100 000 habitantes. O
Brasil possui uma média de 21 óbitos por cem mil habitantes.
Após expressa a dimensão social, é explicitada a dimensão econômica onde é medido o
PIB per capita. Este indica o nível médio de renda da população em um país ou território. Ele é
normalmente utilizado como um indicador do ritmo de crescimento da economia. Na perspectiva
do desenvolvimento sustentável, costuma ser tratado como uma informação associada à pressão
que a produção exerce sobre o meio ambiente, em consumo de recursos não renováveis e
contaminação. O crescimento do produto, porém, também pode ser condição para minorar
problemas sociais. Entre os países mais pobres ou em desenvolvimento é desejável que estejam
presentes taxas elevadas de crescimento econômico.
Nos últimos 14 anos, o PIB per capita do Brasil, tomado a preços de 1995, passou de R$
4441,00 para R$ 5405,00 (incremento de 21,7%), alternando taxas de crescimento baixas com
situações de queda em alguns anos, com maiores crescimentos verificados nos anos finais da
série, com exceção do ano de 2009, no qual os efeitos da crise internacional também foram
verificados na economia brasileira.
A taxa de investimento mede o incremento da capacidade produtiva da economia em
determinado período como participação do PIB. Ela mede o estímulo ao desenvolvimento
econômico, ao refletir o aporte de bens de capital destinado a ampliar a capacidade de produção
do país. A participação dos investimentos no PIB revela um importante componente da
aceleração do ritmo de crescimento e desenvolvimento econômico. Para países em
desenvolvimento, os economistas preconizam taxas de investimento bem mais altas que as que
têm sido observadas no Brasil. Em nosso país, elas têm flutuado em torno de valores inferiores a
20% e mostraram uma tendência de declínio no período compreendido entre 1995 e 2003, com
uma ligeira recuperação nos anos subsequentes.
A balança comercial mostra a relação de uma economia com outras economias no mundo,
através do saldo das importações e exportações do país, em um determinado período. Os
componentes do indicador refletem as mudanças nos termos de troca e competitividade
internacional, sendo, também, capazes de mostrar dependência econômica e vulnerabilidade
frente ao mercado financeiro internacional.
A Agenda 21 reconhece expressamente que, em geral, o comércio internacional promove
uma alocação mais eficiente dos recursos em nível nacional e mundial, e estimula a transferência
137
77
Esta avaliação foi retirada do trabalho “Desenvolvimento sustentável no Brasil: uma análise a partir da aplicação do barômetro
da sustentabilidade”, de Denise Maria Penna Kronemberger, Judicael Clevelario Junior, José Antônio Sena do Nascimento, José
Enilcio Rocha Collares e Luiz Carlos Dutra da Silva. 2008.
78
KRONEMBERGER, Denise Maria Penna; CLEVELARIO Jr., Judicael; NASCIMENTO, José Antônio Sena do; COLLARES,
José Enilcio Rocha; SILVA, Luiz Carlos Dutra da. Desenvolvimento sustentável no Brasil: uma análise a partir da aplicação do
barômetro da sustentabilidade. Uberlândia: Revista Sociedade & Natureza, 20 (1): 25-50, jun. 2008.
139
Figura 3
Posição do Brasil no Barômetro de Sustentabilidade
Fonte: “Desenvolvimento sustentável no Brasil: uma análise a partir da aplicação do
barômetro da sustentabilidade”, Denise Maria Penna Kronemberger, Judicael Clevelario
Junior, José Antônio Sena do Nascimento, José Enilcio Rocha Collares e Luiz Carlos
Dutra da Silva. 2008, p. 39
Social Intermediária
55,0
Pontencialmente
Econômica Bem-Estar Humano 44,0 Intermediária
38,0 Insustentável
Pontencialmente
Institucional
40,0 Insustentável
Quadro 9
Situação do Brasil Relativa ao Desenvolvimento Sustentável, segundo Dimensões e Subsistemas
Fonte: Desenvolvimento sustentável no Brasil: uma análise a partir da aplicação do barômetro da sustentabilidade”, de Denise Maria Penna
Kronemberger, Judicael Clevelario Junior, José Antônio Sena do Nascimento, José Enilcio Rocha Collares e Luiz Carlos Dutra da Silva. 2008, p.
39
O Brasil tem um grande capital natural, mas o uso destes recursos é, de forma geral,
insustentável, ou seja, vem sendo rapidamente dilapidado sem trazer expressivos ganhos sociais
ou econômicos. Em 2002 a dimensão ambiental se encontrava numa posição intermediária
141
79
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior/ Secretaria de Desenvolvimento da Produção
(MDIC/SDP, s/d).
80
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
142
para outra, e existem questões ocultas, resultantes dos relacionamentos entre os fatores do
desenvolvimento.
De acordo com Kronemberger,
Para que o Brasil avance na direção da sustentabilidade (social, econômica e ambiental) os
maiores investimentos deverão ser feitos nos setores de proteção aos estoques pesqueiros,
ampliação de áreas protegidas e saneamento (dimensão ambiental), distribuição de renda,
condições de habitação e segurança (dimensão social), aumento do investimento e mudança nos
padrões de consumo (dimensão econômica) e aumento dos gastos com pesquisa e
desenvolvimento (dimensão institucional). (2008, p. 48)
está diluída em alguns itens da ODM, enquanto a dimensão social compõe o cerne dos outros seis
itens analisados.
Dessa forma, ao se pensar o desenvolvimento sustentável como um todo, o DS não chega
a ser a ferramenta mais completa, apesar do mesmo considerar as complexas interações entre as
quatro dimensões do desenvolvimento sustentável. Com ele conseguiremos ter uma ótima
avaliação do desenvolvimento social, mas como o peso dessa dimensão é demasiado, as outras
dimensões ficam prejudicadas.
O DS tem a propriedade de agregar vários indicadores dentro de cada item do ODM. E
esses indicadores (primeira esfera de análise) são obtidos a partir da agregação de outro conjunto
de indicadores (segunda esfera de análise). Dessa forma fica evidenciada a complexidade do
cálculo elaborado para a obtenção de uma medida do desenvolvimento sustentável. Para fins
dessa dissertação, serão considerados para a análise os oito itens que compõem o ODM e os
indicadores que os constituem, não sendo aprofundado o estudo para a segunda esfera de análise
que dão forma aos primeiros indicadores.
De acordo com Krama,
O desempenho do sistema é apresentado por meio de uma escala de cores que varia do vermelho-
escuro (crítico), passando pelo amarelo (médio), até o verde-escuro (positivo) [como ilustrado no
quadro abaixo]. [...] Para transformar esses dados em informações, foi construído um algoritmo de
agregação e de apresentação gráfica. Este software utiliza um sistema de pontos de 0, pior caso,
até 1000, melhor experiência existente para cada um dos indicadores de cada uma das dimensões.
Todos os outros valores são calculados através de interpolação linear entre estes extremos e, em
alguns casos onde não existam dados suficientes, utilizam-se esquemas de correção. (2009, p. 74).
começo da aferição da série, acima dos 90%. Mas quando olhamos proporção delas no nível
médio e no nível superior vemos que são a grande maioria dos estudantes. Para cada 100 homens
estudando no ensino médio e superior temos 111 e 129 mulheres respectivamente.
Ao analisar os indicadores que compõem esse quesito, é possível ver que o país vem
melhorando. O indicador de biodiversidade vem crescendo desde 1991 e passou de 245 para 555
pontos nível em que permanece desde 2006. O indicador de políticas de desenvolvimento
sustentável e recursos naturais vem oscilando entre altos e baixos ao longo da série. No ano de
2008 estava com 685 pontos e seu maior valor foi em 1997: 721 pontos. Já o índice de habitação
digna vem crescendo ao longo da série e numa velocidade maior a partir de 2005, atingindo 820
pontos em 2008 e o nível de muito bom na escala do DS.
redobrar os esforços com o intuito de estancar a queda e se possível promover uma curva
ascendente em direção ao maior desenvolvimento.
Após a análise dos indicadores, com seus diferentes pontos positivos e negativos, é
possível obter uma visão ampliada do país e das áreas em que é necessário investir para que se
possa convergir não só a economia, mas a sociedade ao desenvolvimento sustentável. Os
diferentes aspectos os indicadores apresentaram mostram um país na direção correta, mas com
pouco investimento na sustentabilidade ambiental.
A aplicação dos indicadores é importante pois nos fornece a direção das políticas
aplicadas, tanto interna quanto externa, necessárias ao alcance dos objetivos definidos pelo
Estado. Um país que busca uma inserção externa baseada na figura de uma potência preocupada
com a sustentabilidade necessita de investimentos maiores nas áreas ambiental e tecnológica, sem
descuidar do bem-estar da população. O estudo acima demonstrado, apesar de tratar de questões
internas é de suma importância na elaboração da política externa, ao expor um perfil de sociedade
que somos e ao indicar o que queremos como nação.
153
4 CONCLUSÃO
No contexto das profundas mudanças por que passaram as Relações Internacionais ao longo do
tempo, o meio ambiente foi adquirindo potencial importante de transformação das cenas políticas
e econômicas mundiais.
O primeiro consenso em torno da questão ambiental era o de que o problema central a ser
resolvido pela comunidade internacional era a má distribuição e mau uso dos recursos, do ponto
de vista econômico e social. A tarefa dos estadistas seria a de orientar seus países em direção a
um sistema produtivo capaz de satisfazer as necessidades humanas básicas sem violar os limites
externos dos recursos e do meio ambiente do planeta. Era o primeiro sinal da formulação do
conceito de desenvolvimento sustentável.
Um passo definitivamente importante para a construção de um consenso ambiental
internacional foi a publicação do Relatório Brundtland. A partir desta publicação, o conceito de
desenvolvimento sustentável ganhou sua mais famosa definição: “o desenvolvimento que satisfaz
as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades.” Essa definição é abrangente a abarca as mais variadas visões e os mais
variados critérios para a aplicação de uma política efetiva em torno da preservação ambiental.
A nível internacional, o relatório foi capaz de movimentar a vontade política da
comunidade internacional que propôs metas como a adoção da estratégia de desenvolvimento
sustentável por órgãos e instituições internacionais de financiamento ao desenvolvimento. O
financiamento ao desenvolvimento sustentável porém nunca saiu do papel. Entre a década de
1970 e 1990 pouca coisa foi feita nesse sentido, ressaltando que os acordos internacionais sobre o
tema sempre foram abrangentes, permitindo diversas interpretações. Dessa forma era possível
abarcar vários interesses conflitantes dentro de poucas resoluções que efetivamente não surtiam
efeito algum.
A retomada do tema ambiental pela comunidade internacional surgiria na década de 1990
com a CNUMAD. Tal evento caracterizou-se pela busca por uma melhor compreensão sobre o
conceito e o significado do desenvolvimento sustentável, paralelamente às tendências crescentes
em direção à globalização, especialmente no que diz respeito ao comércio e à tecnologia. Foi
nesse período que o conceito de desenvolvimento sustentável passou a ser definido com base em
três pilares: o econômico, o social e o ambiental.
O conceito de desenvolvimento sustentável sempre foi definido por uma abordagem mais
política e essa noção não mudou ao longo do tempo. A adoção dos três pilares só confirmaria
155
econômico seria uma versão do desenvolvimento natural. O interesse prático dessa ideia está na
necessidade de entender que o desenvolvimento não é um conjunto de coisas, mas um processo
que produz essas coisas.
O conceito de desenvolvimento que preenche melhor a necessidade da preservação
ambiental leva em conta a combinação de sustentabilidade e respeito às instituições e acordos
multilaterais, além da participação estatal como provedor das condições para que as instituições
privadas se desenvolvam e também provedor da proteção social necessária para sua população.
Como a organização econômica é basicamente condicionada pelo Estado, o desenvolvimento
seria promovido pela vontade do mesmo, de acordo com sua ideologia, levando em conta sua
própria noção de desenvolvimento e respeitando as instituições, tanto aquelas em âmbito
nacional, quanto as regras internacionais ao qual o próprio Estado se dispôs a seguir.
Esse processo impede que seja elaborada uma noção fixa para o desenvolvimento, que
dependeria da formação histórica cultural e institucional de cada região. Tal fato nos leva a uma
definição ampla para o desenvolvimento, com algumas diretrizes que podem ser consideradas
padrão pelas nações, mas o caminho a percorrer para alcançar o objetivo é dinâmico, não sendo
possível configurar uma conceituação estática do mesmo. Só por esta afirmação já não se torna
mais possível criar um conceito estático de algo que deriva da idéia de desenvolvimento como o
desenvolvimento sustentável, cabendo aos formuladores de políticas se adaptar as noções
existentes.
A segunda conceituação chave para o desenvolvimento sustentável é a noção de
sustentabilidade, algo muito mais complexo de ser definido que o próprio desenvolvimento. Não
se pode pensar o desenvolvimento sem levar em consideração a questão da sustentabilidade do
ambiente em que esse desenvolvimento está inserido. Para tal, é necessário conhecer a noção de
sustentabilidade que é adotada nas mais diferentes regiões. Sendo esta uma noção mais política
que científica, o desenvolvimento sustentável fica condicionado a duas vertentes de escolhas
normativas financiadas pela política adotada em cada região.
A concepção de sustentabilidade pode abarcar desde a total preservação ambiental, onde o
homem seria refém do meio, não podendo modificá-lo e enfrentando uma situação que
prejudicaria seu bem-estar até a noção de que o ambiente pode ser utilizado a exaustão desde que
o homem consiga fornecer novos níveis tecnológicos que possam dar uso a elementos antes
considerados descartáveis. Neste caso não existiria limites para o desenvolvimento.
159
econômica, espaço geográfico, entre outros diferem muito de país para país. Para países em
desenvolvimento, a pesquisa em torno dos indicadores ainda é incipiente. Os estudos sobre
sustentabilidade ainda ocorrem em âmbito nacional e a comparabilidade das nações é reduzida e
prejudicada pelas disparidades entre os países. Nesse caso é grande a heterogeneidade entre os
diversos países em relação a alguns elementos essenciais específicos, como nível de
industrialização, estrutura econômica, espaço geográfico e outros.
A utilização de indicadores é indispensável para que o conceito de desenvolvimento
sustentável se torne operacional. São eles que ajudam os tomadores de decisão e a sociedade em
geral a definirem suas metas de desenvolvimento e permitem avaliar o alcance dos objetivos
traçados. Os indicadores também auxiliam na escolha entre alternativas políticas e na correção da
direção de uma política, em resposta a uma realidade dinâmica.
Apesar de toda a importância dos indicadores para medir a extensão da evolução de uma
região ao desenvolvimento sustentável, estes possuem várias limitações. Uma das principais é a
perda de informação vital ao se agregar inúmeros dados distintos. No mundo real seria necessário
mais do que um indicador para capturar os aspectos mais importantes de um fato ocorrido. Desse
modo o indicador faz uma simplificação da realidade que é útil como medida, mas que deve ser
acompanhada de outras informações para uma análise mais precisa da realidade.
Os indicadores podem ser importantes e perigosos ao mesmo tempo, já que funcionam
como ferramenta e estão simultaneamente no centro do processo decisório. O indicador não mede
precisamente um sistema, apenas faz uma aproximação do mesmo, utilizando informações
passadas e projetando um cenário aproximado. É difícil apurar sua tendência, por isso o indicador
pode ser deliberada ou acidentalmente desviado. Os indicadores também podem levar a sociedade
a uma percepção falsamente positiva da realidade quando são mal formulados ou mal utilizados,
ou ainda baseados em modelos não confiáveis. Daí a necessidade de se trabalhar com indicadores
reconhecidos internacionalmente e que tenham um aval da comunidade científica.
Quando um indicador de desenvolvimento sustentável é formulado, este pode ter um viés
que influencia no seu resultado devido à arbitrariedade dos valores de sua ponderação. Assim,
permanece o desafio de interpretar os dados e apontar as necessidades reais de mudanças. As
tendências dos índices podem se mostrar contraditórias: diferentes valores levam a diferentes
ponderações e interpretações alternativas dos mesmos dados. Assim, um modelo conceitual é
necessário para organizar os diferentes tipos de indicadores existentes, relevantes ao
164
O BS não é considerado um sistema absoluto e sim uma abordagem relativa. A partir dos
processos deve-se decidir quais indicadores ou índices devem ser abordados pela ferramenta.
Esse fato dá um peso mais político para a ferramenta, já que o usuário pode escolher os
indicadores como ele achar conveniente. Uma de suas desvantagens é que a ferramenta ainda não
foi testada para medir a sustentabilidade em condições culturais e ecológica diferentes. Seu
sistema só está disponível para 37 países, o que deixa um grande escopo de nações fora das
medições e enfraquece a confiabilidade da ferramenta.
Além dessas três ferramentas de medição do desenvolvimento sustentável, a dissertação
procurou dar ênfase as ferramentas criadas pelo Brasil já que o país era o nosso objeto de estudo
central. Sendo um país em desenvolvimento empenhado em demonstrar seu comprometimento
com o desenvolvimento sustentável, o Brasil desenvolveu índices com o objetivo de medir a
sustentabilidade no plano nacional. Dentre eles, podemos destacar o DNA Brasil, elaborado pela
Unicamp e o IDS, elaborado pelo IBGE.
O DNA Brasil tem o intuito de comparar a realidade brasileira com expectativas de futuro
e a situação de outros países e balizar a mobilização de atores, públicos e privados, envolvidos
em projetos de desenvolvimento. Ele se dedica mais aos indicadores sociais do que os
propriamente ambientais, constando nele apenas dados sobre saneamento básico, o que não o
qualifica como bom estimador para o desenvolvimento sustentável.
O país possui como indicador de desenvolvimento sustentável oficial o IDE formulado
pelo IBGE. Ele possui informações sobre a realidade brasileira que integram as dimensões social,
ambiental, econômica e institucional. O IDS nada mais é do que um compêndio de indicadores de
várias dimensões. Isso traz vantagens e desvantagens para a análise. A principal vantagem está na
possibilidade de se olhar mais a fundo os problemas que prejudicam a obtenção do grau desejado
de desenvolvimento sustentável por cada setor analisado, vendo com mais clareza o que precisa
ser modificado e aprimorado. A desvantagem desse tipo de abordagem de indicador é que ele não
nos fornece um índice para que possa ser medido o desenvolvimento sustentável em si, mas
apenas resultados de suas dimensões que possuem diferentes aspectos e escalas.
O Brasil se encontra numa posição altamente privilegiada. É um país com grande mercado
consumidor, matriz energética diversificada, sólido parque industrial, alta tecnologia petrolífera,
além de estabilidade institucional, econômica e jurídica. O país está incluído entre os países
dotados da chamada megadiversidade, grupo de 12 nações que abrigam 70% da biodiversidade
167
total do planeta. O Brasil tem grande potencial em direcionar sua economia para o
desenvolvimento sustentável e tem buscado ativamente ser um expoente nessa área dentro da
comunidade internacional.
A capacidade da atuação do Estado Brasileiro na área ambiental baseia-se na ideia de
responsabilidades compartilhadas entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios e entre
esses e os demais setores da sociedade. Vários sistemas e entidades foram criados nas últimas
duas décadas para articular e dar suporte institucional e técnico para a gestão ambiental no país.
Mesmo assim, a falta de capilaridade, isto é da capacidade de fazer chegar suas ações o mais
próximo possível dos cidadãos, a escassez de recursos financeiros e de pessoal, assim como a
falta de uma base legal revisada, consolidada e implementada constituem os principais problemas
enfrentados pelo segmento ambiental brasileiro.
Através dos dados analisados pelo IDS nessa dissertação é possível constatar que a
situação brasileira é típica de um país em desenvolvimento. Em muitas áreas vê-se uma melhora
expressiva em termos de desenvolvimento sustentável, em outras porém o país se apresenta
estagnado ou com uma evolução bastante lenta. As principais mudanças ocorreram nas
dimensões sociais e econômicas com significativas melhoras, mas com um longo caminho a
percorrer. Ainda assim é difícil analisar o grau de desenvolvimento sustentável do país com os
dados abertos como os fornecidos pelo IDS. O ideal seria ter um índice que condensasse essas
informações e apontasse as falhas dentro de cada dimensão do desenvolvimento sustentável e a
direção a ser seguida para que o objetivo da sustentabilidade brasileira fosse alcançado.
A análise do caso brasileiro pelo BS nos fornece uma amostra sintética dos índices
referentes ao desenvolvimento sustentável que estão explícitos nos IDS. Ele produz um valor
numérico com as informações que utilizam e, quando comparado a uma escala padrão, fornecem
um critério para avaliar a sustentabilidade. Infelizmente, por falta de dados para a ferramenta, só
foi possível analisar o ano de 2002, o que nos deixa com uma defasagem de dez anos e não
conseguimos absorver a verdadeira realidade brasileira pela ferramenta. O que foi possível foi
observar o processo da ferramenta utilizada na prática. As conclusões retiradas do BS é que o
país era potencialmente insustentável no ano de 2002, possuindo uma situação intermediária
limítrofe. O estudo, no entanto, aponta que os indicadores sociais e econômicos apresentam
melhores resultados que os ambientais, embora exista ainda um grande passivo social no Brasil.
168
A aplicação dos indicadores é importante pois eles fornecem a direção das políticas
aplicadas, tanto interna quanto externa, necessárias ao alcance dos objetivos definidos pelo
Estado. Mas não podemos nos apoiar apenas nos indicadores como ponto central de uma política
direcionada ao desenvolvimento. Eles servem para apontar a direção correta e expor as falhas das
políticas adotadas.
Um país que busca uma inserção externa baseada na figura de uma potência preocupada
com a sustentabilidade necessita de grandes investimentos nas áreas ambiental e tecnológica, sem
descuidar do bem-estar da população. O esforço para se alcançar o objetivo do desenvolvimento
sustentável passa pela consolidação de conceitos, formulação de políticas positivas e,
posteriormente, consenso entre as nações da melhor prática a ser adotada. Esse consenso parece
longe de ser alcançado, apesar de todo o esforço expendido para tal. Cabe as nações definirem
suas posições e buscarem seu espaço dentro do campo do desenvolvimento sustentável, algo que
irá, cedo ou tarde, intervir no crescimento e na projeção de todas os países do globo.
170
REFERÊNCIAS
BELLEN, Hans Michal van. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de
Janeiro: FGV, 2005.
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Relatório da delegação do Brasil: conferência das
nações unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento.
COOPER, Helene. Leaders Will Delay Deal on Climate Change. New York Times.
Disponível em <http://www.nytimes.com/2009/11/15/world/asia/15prexy.html?_r=2> Pesquisado
em 24 de fevereiro de 2011.
DUARTE, Lílian C. B. Política externa e meio ambiente. Rio de janeiro: Zahar, 2003.
FOUNEX REPORT. The Founex report on development and environment – 1971. Disponível
em:<http://www.stakeholderforum.org/fileadmin/files/Earth%20Summit%202012new/Publicatio
ns%20and%20Reports/founex%20report%201972.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2011.
LAGO, André Aranha Corrêa do. Estocolmo, Rio, Joanesburgo: o Brasil e as três conferências
ambientais das Nações Unidas. Brasília: FUNAG, 2007.
MILANI, Carlos. O meio ambiente e a regulação da ordem mundial. Contexto internacional, Rio
de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 303-347, jul./dez. 1998.
UNITED NATIONS. General Assembly 44/228. United Nations Conference on Environment and
Development – 1989. Disponível em: < http://www.un.org/documents/ga/res/44/ares44-228.htm>
UNITED NATIONS. Brazil Case Study: analysis of national strategies for sustainable
development. National Strategies for Sustainable Development: Challenges, Approaches, and
Innovations Based on a 19-country Analysis – 2004. Disponível em: < http://www.iisd.org/
measure/capacity/sdsip.asp >
VEIGA, José Eli da. Indicadores para a Governança Ambiental. Artigo publicado. In:
ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ECOLÓGICA, 7, Fortaleza
2007.
VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro:
Garamond Ed, 2008.