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São Paulo
Dezembro de 2013
A partir da leitura aprofundada dos contos machadianos escolhidos, a saber
“Pai contra mãe” e “Conto de escola”, algumas características tipicamente
machadianas são claramente apercebidas. Após uma leitura superficial já pode
ser encontradas diversas críticas sociais sem que estas pareçam críticas em si.
Explico: Machado possui o dom de constatar fatos corriqueiros da vida na
sociedade brasileira como quem conta sem muita pretensão uma história
vulgar. Não toma partidos ou faz julgamento de valor perante as mais
horripilantes atrocidades que narra. Assim como a sociedade que o envolve
trata os fatos com uma ironia cruel.
Por sua vez “Conto de escola” narra parte de dois dias na vida de Pilar, um
estudante do que hoje chamamos de primário. Pilar não se dava muito às
atividades escolares e em determinado dia quer desistir de ir à aula, mas por
conta de se lembrar da surra que levara do pai da última vez que matara aula,
resolveu seguir para a escola. Chegando lá sentou-se ao lado do filho do
mestre que apresentava dificuldades com a lição. Como sabia que apanharia
do pai caso não soubesse a lição do dia pediu para Pilar lhe ajudar em troca de
uma moedinha. Diante disso, Pilar sede e dá aula ao colega. A figura do mestre
já havia sido apresentada de forma bastante severa e cruel. Enquanto Pilar
passa seus conhecimentos, um terceiro aluno se apercebe-se da situação e
querendo tirar vantagem de alguma forma delata-a ao mestre. O mestre,
furioso, castiga ambos e joga a moedinha pela janela. Pilar promete a si
mesmo se vingar no dia seguinte, mas neste decide seguir a fanfarra e acaba
nem se vingando, nem indo às aulas.
A temática da corrupção é claramente perceptível neste texto. Temos o
corrupto (aquele que procura obter algum ganho ou vantagem por formas
ilícitas), que se personifica na figura de Raimundo, filho do professor, o
corrompido (a pessoa que realiza o ato ilícito na maior parte das vezes em
troca de dinheiro), que é Pilar, e o delator (aquele que não ganha nada com a
situação de corrupção por isso busca uma forma de ganhar algo junto às
autoridades) que seria Curvelo.
Mais uma vez Machado discorre sobre temas universais com maestria os
trazendo para a atualidade de forma indiscutível. Ao tratar da questão do modo
como o fez, retira as características temporais imprimindo em toda a situação
somente a discussão concissa e coerente do tema em si. Não há nenhuma
forma de resumir o caso de corrupção brasileira denominado “Mensalão” com
melhores colocações. O autor como sempre consegue interiorizar o intrínseco
sentimento do brasileiro dentro da sociedade que o cerca e que este forma.
Conclui-sa portanto que Machado de Assis, mais uma vez com grande
maestria estabelece nos dois contos discutidos ao longo desse pequeno
estudo, uma análise precisa e profunda acerca das contradições da alma
humana em meio a sociedade que criamos apoiada nessa intrínsecas
contradições que gera indivíduos amorais, egoístas e sem compromisso para
com o futuro.