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O acrobata caiu. Sem pedir desculpas, matou o cantor e chamou o garçom. Tomou
boteco da Lapa ao Leme, antes de seguir para o Caju, na zona portuária do Rio de Janeiro,
num 7 de Setembro, Dia da Independência (quanta ironia!). No fogo alto, o gigante teuto-
brasileiro dos pampas de quase dois metros de altura, o cronista mais fiel do Brasil da
Faustin von Wolffenbüttel (Santo Ângelo -RS, 8 de julho de 1940 – Rio de Janeiro,
2008 com hemorragia digestiva, morreu por disfunção de múltiplos órgãos, no Rio de
Fausto Wolff era pseudônimo. Claro. Seria difícil sobreviver no Brasil com nome
legou a Wolff um título perdido no tempo e a honra, que essa não se pode deixar escapar.
Só.
começou a ganhar aos 14 anos, como repórter policial - “depois da crônica policial, só a
literatura”, dizia o poeta Ruy Barata -, e nunca mais do que o necessário para se manter
vivo (bom, é certo que sobrava algum para a cachaça, espécie de marca registrada, na vida e
Wolff adotou o jornalismo como missão. Talvez por isso, sua passagem pela grande
imprensa escrita tenha sido tão tumultuada. Havia incompatibilidade de gênios. Parcial no
estilo - dele também se dizia que era um doce temperamental na convivência -, pulou de
Livre de Fausto Wolff (L&PM, 278 páginas)”, debochava: “É uma defesa da imprensa
livre, mas também quer dizer que a imprensa está livre de mim, já que eu fui demitido de
todos os jornais em que trabalhei nos últimos tempos”. Todos, exceto um: ao morrer,
mais de 30 anos. Foi de lá que Fausto Wolff mergulhou na literatura. Escreveu pelo menos
duas dezenas de livros. Escreveu como viveu: com a raiva dos insurretos, com o humor
porém, jamais foram de quietude. Na vida real, acumulou casamentos e deixou duas filhas.
mitologia grega que tão bem conhecia as personagens adequadas para exaltar a beleza e o
pelas vozes de suas personagens: “Comi algumas das mulheres mais ricas do mundo e
Entender Fausto Wolff requer um pouco de tempo. Ler seus livros é bem mais
fácil. O texto escorre, as palavras caminham sem tropeções. Na resenha de sua seleção de
contos, o crítico André Seffrin avisa: “A literatura de Fausto Wolff é dura, contundente e
pessoais e sociais que, numa escala ascendente (ou descendente, quem sabe!), vão da ânsia
pela bebida à sem-vergonhice que domina a política do país. A maneira direta de afirmar,
sem papas na língua, como se dizia nos velhos tempos, fez de Fausto Wolff uma espécie de
escritor maldito, olhado meio de lado pelos bem-pensantes, talvez aqueles que as suas
farpas possam atingir. A repulsa de tal gente é quase uma consagração. Vale a pena
atitude radical, como é de gosto do autor. O importante é que ninguém sai de suas páginas
como entrou.”
Julio Cortázar disse, de Edgar Allan Poe, que se trata “de um dos grandes porta-
vozes do homem, pelas imagens dos pesadelos, pelas dimensões da natureza profunda do
homem e também pela busca de certos sonhos e ideais”. O mestre argentino sentencia:
“Há em nós uma presença obscura de Poe, uma latência de Poe”. O mesmo se pode
afirmar de Fausto Wolff. De deus ao diabo, do ministro corrupto devorado pelo povo
faminto aos generais da opressão, dos poderosos e dos tiranos sanguinários espalhados
pelo mundo afora, da política suja e dos políticos sujos, dos milionários esnobes aos
miseráveis das calçadas, dos colunistas hipócritas aos jornalistas lambeteiros, ninguém
O lobo deixou sua marca. Em cada artigo, conto, poema ou romance que escreveu.
Nos mundos paralelos que criou, Olympia e a Terra do Antes. E, sobretudo, neste nosso