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PARECER Nº....

, de 1999

Da COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA


sobre o Projeto de Lei nº 918/99, que “dispõe sobre o
exame antidopping para estudante-atleta de escolas da
rede de ensino do Distrito Federal e dá outras
providências”.

AUTOR: Deputado Wilson Lima


RELATOR: Deputado Alírio Neto

I – RELATÓRIO

Submete-se a esta Comissão, para parecer, o Projeto de Lei nº 918/99, que “dispõe
sobre o exame antidopping para estudante-atleta de escolas da rede de ensino do Distrito
Federal, e dá outras providências.”
A referida proposição visa, nos termos do seu Art. 1º, a instituir o exame
antidopping para o estudante-atleta, nas competições esportivas escolares realizadas no
âmbito da rede educacional do Distrito Federal.
No projeto, considera-se estudante-atleta “o aluno com habilidades especiais na
prática esportiva, regularmente matriculado e participante da equipe de competições
desportivas da escola onde estuda.”
Define, ainda, a proposição que os mencionados exames deverão ter caráter
educativo e preventivo e que o estudante-atleta flagrado pelo uso de drogas prejudiciais à
saúde receberá da escola atenção educacional e esportiva especial, devendo ser punido, em
caso de reincidência, com suspensão de sua participação nas atividades desportivas ou
desligamento do quadro de desportistas da escola.
Na justificação, o autor reafirma o sentido preventivo da iniciativa, visando a educar
o atleta em direção à prática esportiva limpa e honesta, razão pela qual tais exames devam
ser precedidos por orientações técnicas ou médicas sobre a saúde do atleta, despertando-lhe
para os riscos do consumo de drogas já na juventude.
Por meio da sanção imposta ao infrator, espera-se uma correção de comportamento
compensatória. A sanção máxima, o desligamento do atleta-estudante do quadro de
desportistas do sistema educacional, visa a proteger os demais estudantes de possíveis
influências perniciosas. Atribui-se às famílias dos atletas-estudantes o dever de tomar
conhecimento dos problemas que estão ocorrendo com seus filhos e contribuir para sua
recuperação.
Não foram apresentadas emendas no prazo regimental.
É o relatório.

II – VOTO DO RELATOR

Primeiramente, a analise da matéria do ponto de vista de seu enquadramento


constitucional e legal remete aos artigos 22 e 24 da Carta Federal, que estabelecem:
“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
...........................................................................................................................
XXIV – diretrizes e bases da educação nacional;
...........................................................................................................................

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
...........................................................................................................................
IX – educação, cultura, ensino e desporto;” (Grifos do Relator).
A legislação federal pertinente à proposição está, basicamente, contida na Lei nº
9.394/96, que “ estabelece as diretrizes e bases da educação nacional” e na Lei n°
9.615/98, que “institui normas gerais sobre desporto, e dá outras providências”, com as
alterações impostas pela Lei nº 9.981/00 e as disposições regulamentadoras estabelecidas
pelo Decreto n° 2.574/98 .
A Lei n° 9.615/98, em redação mantida pela citada Lei nº 9.981/00, assim
estabelece:
“Art. 3° O desporto pode ser reconhecido em qualquer das seguintes
manifestações:
I – desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas
assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a
hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o
desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da
cidadania e a prática do lazer;
II – desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as
modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a
integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da
saúde e educação e na preservação do meio ambiente;
III – desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e
regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade
de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as
de outras nações.” (Grifos do Relator).
Assim, considerando-se que o objeto da presente proposição é, como já visto, nos
termos do seu Art. 1º, “instituir o exame antidopping para o estudante-atleta, nas
competições esportivas escolares realizadas no âmbito da rede educacional do Distrito
Federal” (grifos do Relator), e à luz do exposto acima, constante da norma federal, é
forçoso reconhecer que a matéria enquadra-se na categoria “desporto educacional”,
devendo portanto sua regulamentação obedecer às disposições legais correspondentes.
O citado Decreto n° 2.574/98, por sua vez, estabelece, com relação ao desporto
educacional:
“Art. 62. A organização e o funcionamento do desporto educacional
obedecerão aos princípios e às diretrizes referentes ao desporto e à
educação nacionais.
Art. 63. O desporto educacional terá estrutura específica, compreendendo
sistemas diferenciados para a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, acompanhando a organização descentralizada dos sistemas de
ensino.
...........................................................................................................................
Art. 66. O papel curricular do Desporto Educacional será definido em
cada Estado, no Distrito Federal e nos Municípios, pelos respectivos
sistemas de ensino.” (Grifos do Relator).
Verifica-se, assim, a necessidade de levar-se em conta, na normatização da matéria,
não somente as disposições legais e constitucionais referentes ao desporto, mas também as
referentes à educação.
Observando o disposto na Lei n° 9.394/96, vemos já devidamente contemplada uma
das preocupações do autor da proposição, prevista no Art. 4° da mesma, qual seja a de
manter-se “a família do estudante-atleta informada do trabalho de orientação especial a
que ele está sendo submetido, ou das decisões adotadas em relação a reincidência
comprovada do uso de drogas.” Assim estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional:
“Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as
do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
...........................................................................................................................
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de
integração da comunidade com a escola;
VII – informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e rendimento dos
alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.”
Do mesmo modo, a Lei n° 8.069/90, que “dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente, e dá outras providências”, estabelece, no parágrafo único de seu artigo 53
que: “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como
participar da definição das propostas educacionais.”.
A Lei n° 9.394/96 estabelece, ademais, no seu Art. 26:
“§ 3°. A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é
componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias
e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos
noturnos.” (Grifos do Relator).
Ainda no âmbito da Lei n° 9.394/96, encontramos as seguintes determinações para o
desporto educacional:
“Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda,
as seguintes diretrizes:
...........................................................................................................................
IV – promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não
formais.”
Finalmente, cumpre observar que a mesma Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional estabelece, no já citado Art. 12:
“Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as
do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica;”.
Portanto, considerando que a matéria apresentada por intermédio da Proposição
configura-se como relativa ao desporto educacional; que esse aspecto do ensino deve, em
conformidade com a legislação vigente, ser integrado à proposta pedagógica da escola e seu
papel curricular ser definido pelo sistema de ensino, respeitada a autonomia dos
estabelecimentos de elaborar e executar suas propostas pedagógicas, somos pela
inadmissibilidade da proposição, por configurar vício de iniciativa e invasão de
competência do Poder Executivo, a quem cabe normatizar a matéria.

É o parecer.

Sala das Comissões, em

Deputado Wilson Lima


Presidente

Deputado Alírio Neto


Relator

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