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CONSIDERAÇÕES BÁSICAS
PARA UM PROGRAMA
DE CONTROLE ESTRATÉGICO
DA VERMINOSE BOVINA
EM GADO DE CORTE NO BRASIL
.IOf)
(Ci)
~
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA
Vinculada ao Ministério da Agricultura
Centro Nac i onal de Pesquisa de Gado de Corte-CNPGC
Campo Grand e. HS .
Exemplares desta publicação podem ser solicitados ao :
CNPGC
Rodovia BR 262, km 4
Caixa Post::a 1 154
Telefone: (067) 382-3001
Telex: (067) 2153
79100 - ~ampo Grande. MS
Tiragem: '2.000 exemplares
COMITE DE PUBLICACOES
Kepler Euclides Filho - Presidente
Liana Jank - Secretária Executiva
Alberto Gomes
Cesar Heraclides Behling Miranda
Maria Antonla Ulhôa Cintra de Oliveira Santos
Jurandir Pereira de Oliveira
Valéria Pacheco Batista Euclides
'Zenith João de Arruda
Editoração: Rita Regina Rocha
Nonmallzação: Maria Antonia Ulhôa C.de O. Santos
Datilografia: Eurípcdcs Valéria Bittencourt
Desenho: Paulo Roberto Duarte Paes
1 INTRODUÇÃO •••••.••••....••••.•••••••••••••••••••. 7
12 ANTI-HELMTNTICOS 40
12.1 Resistência dos helmintos contra anti-hcl-
m i n t i co s ••••••••••.••••.••..••••••.••••••• 42
.,/ A-
<-(->b ~
•
•
•
1980
AlIO
8
-
'feito porque foramaplícadas em epoca~ erradas, em catc-
~orias de animais inapropriadas, ou ate mesmo contra es-
pec~es de helmintos insensíveis para o pnnClplo ativo
ldministrado. Mais tarde, Michel (1985) conclui que "hoje
p.m dia. nove de cada dez doses (de anti-helmínticos) são
d~das por razões profilát icas a animai s em boas condições".
Estas observações podem ser resumidas nas pala.vras "falta
de informação bâs ica". O segundo estudo American Assoe iat íon
of Veterinary Parasitologists 1983) foi mais alêm. mos-
trou que os produtores acreditavam nos novos produtos, os
quais, sendo de amplo espectro e praticamente sem toxici-
dade, seriam capazes de resolver de qualquer maneira o
problema das verminoses nos animais. O resuttado, segundo
esta Associação, foi grave devido à falta de pesquisas
epidemiológicas básicas durante diversos anos. não foram
elaboradas regras para o uso racional dos anti-helmínti-
coso Com isto, a maior parte das dosificações ficou sem
o efeito desejado.
A finalidade desta Circular T~(;nici:l é apL'cscutaL-
informações para a elaboração de um programa nac iona 1 de
tratamentos estratégicos, o qual poderia servir como base
para discussão e desenvolvimento de futuras linhas de pes-
qULsa.
9
simulação de infecções em geral (e não ~umente de helmin-
tos ou em animais), Esta nova visão reconhece a díterenca
fundamental entre a epidemiologia dos micro e macroparasi-
tas (na qual estão incluídos os helmintos) e entre as
duas fases principais no ciclo biológico de ambas as ca-
tegorias. A primeira fase (Fase 1) é da infecção do hos-
pedeiro propriamente dito (a carga de helmintos) e a se-
gunda (Fase 11) refere-se ã população de formas no meio
ambiente do hospedeiro, a qual representa infecções futu-
ras e que apresenta estratégias de sobrevi vênc ia e o.J.llpor-
tamento cuja finalidade ê o encontro com um novo hospe-
deiro,
Em quase todas as infecções estudadas ~oncluiu
se que a fase 11 é muito mais importante epidemiologica-
mente do que a Fase I e que os esforços de controle devem
ser concentrados nesta segunda fase. A finalidade de pro-
gramas nacionais de controle ê, portanto, interromper
o processo pelo qual a infecção potencial (Fase 11). no
meio ambiente, torne-se uma infecção no hospedeiro final
(Fase I), Este processo, que inclui as estratégias de so-
brevivência e comportamento, chama-se a translação da
infecção, Na de finiçào de Brunsdon (1980): "O controle
efetivo (dos hclmintos) deve basear-se na aplicação do
nos 50 conhec imento sobre os cie los biológicos, a ecologia
das larvas e a epidemiologia dos parasitas com as ativi-
dades de manejo (lato sensu) , a fim de eliminar ou dimi-
nuir o contato entre parasito e hospedeiro ,., o uso es-
tratêgico de anti-helminticos tem como finalidade pr1ma-
ria a eliminação ou redução da contaminação das pa3tagens
e nào a remoçào de helmintos (dos hospedeiros) ",", An-
derson & May (1985). trabalhando com doenças parasitárias
humanas, enfatizaram que "o efeito das medidas (de con-
trole) ê de reduzir a transmissão potencial e assim au-
mentar o impacto da quimioterapia".
A percepção da importância da Fase II implica uma
análise da dinâmica do processo de translacão e a identi-
tlcação dos principais fatores epidemiolõgicos (Honer
1968), Estudos para este fim devem ser conduzidos durante
v~rios anos para obtençio de um modelo de primeira gera-
10
ção (modelo mais simples) baseado, em primeiro lugar, nas
análises multivariadas dos componentes. A verificação me-
diante simulação (por exemplo NEMAT. Callinan et .11. 1982
011 MATIX, Slltherst et aI. 1979) deve validar o modelo e
permitir modificações nas condições amhientais durante
muitos anos de simulação. A .:tplicação da anâlise de sen-
sibilidade (Sutherst et a!. 1979; Meek & l-Iorris 1981)
identifica os fatores chaves através de simulação para
posteriormente ser.em confirmados 110 campo.
A fi'na1idade deste processo ê a obtenção de um
programa estratégico flexível de tratamentoS. O conceito
de "tratamentos estratégicos" ou "traLamentos táticos" e
freqüentemente ma 1 interpt"Clado c, por isto, achamos im-
portante definir os diferentes tipos de tratamentos com
anti-helmínticos.
11
To~o <le jnfec~õo
Pre;uiS05
! custa/beneficia I
Car9CI
0%'< - - to
TEMPO
FIG . 2. Os quatro tipos principais de esquemas de tratamento com anti-helminti-
cos (para detalhes, veja texto). A eficiencia de cada tipo é relaciona-
da ã carga de helmintos presentes e com a razão custo/benefício.
retar o perigo da seleção de cepas resistentes. Também e
importante a presença de resíduos dos princlplos ativos
nos tecidos em se tratando de gado de corte ou leite.
13
identificação de épocas cr~t~cas para os tratamentos. Uni
programa estratégico ê um conceito estatístico baseado na
probabilidade da ocorrencia de certos eventos epidemiolõ-
gicos em certas épocas do ano, nas condicões usuais da
região. Por isto, em certas ârcas ou regiões, um programa
estrat~gico pode falhar, pelo menos parcialmente. devido
às variações clirnâticas locais. No entanto, um programa
estratégico a lungo pra:.:o ::>empre seria mais efetivo e eco-
nômico do que tratamentos curativos em áreas endêmicas.
Para contornar esta possibilidade de falhas lo-
cais. falamos de um programa "estratégico flexível" onde,
além dos tratamentos pré-determinados estrategicamente,
sempre poderiam ser incluídos um ou mais tratamentos tâ-
ticos adicionais, quando houver necessidade.
14
TABELA 1. Categorias de bovinos, nível de prejuízo e o número de tratamentos com
anti-helmínticos necessirio nas condic5es de cerrado.
Nível de
Categoria Tratamentos
Prejuízo
16
LARVA 1
LARVA 2
COMPORTAMENTO
SOBREVI VENCIA
MEIO - AMBIENTE
17
•
6 CONDI COES CLIMÁTICAS DO BRASIL
6.1 Temperatura
18
Na maioria das regiões do país, o uiveI da pre-
cipitação na época seca e menor do que a evapotranspira-
ção potencial (nível energético) o que implica um déficit
d'água que pode variar de um a oito meses, dependendo da
região geogrâfica e a topografia local.
A Região Sul exibe uma regularidade no reBime
pluviométrica que resulta num excesso hídrico CIO todos os
meses, l"efletindo na inexisti;ncia ueuma "época seca" em
termos de um trimestre de menor contribuição para o total
pluviométrico anual. A mesma situação pode ser encontrada
em parte da área Norte do país. A Figura 4 apresenta di-
versas regiões do país com os seus padrões pluviométricos.
}1ota (1976)_ identificou 13 tipos bâslcos de ba-
lanco hídrico no Brasi.l, cada um com a sua localização
típica, mas concluiu que, na maior parte do pais, mesmo na
Região Amazônica, pode-se falar de uma estação seca, no
sentido de ter um período menos chuvoso.
19
FIG. 4. Distribuição da precipitação anual em alguns Es-
tados do Brasil; são identif icados os perÍodos
"secos" (5) quando ocorre a menor contribuição 30
cotai anual de precipitação.
20
TABELA 2. Análise dos dados de prec~pltação pluviométrica de 258 estações meteo-
rolõgicas brasileiras • .identificando os trimej>tres de menor contribui-
ção para o "período seco" ao total anual de precipitação e peTcentagem
rlas estações ~eteorolõgicas de acordo com o trimestre identificado.
Trimestre de menor
conr ribu ição JJA OND SON NDJ ASa JAS DFJ MJJ AMJ HAM JFM
PeTc e ntage~
de estaçoes
meteorológicas/trimestre 65,1 7,4 5,8 5,0 4,3 3,5 3,5 2,4 1,9 0,8 0,4
N
cação da Tabela 2. Foram eliminados as estações meteoro-
lógicas com uma estação seca em NDJ. DJF, MJJ. AMJ e MAM,
as quais são prím:ipalmellle estações na Região Su l porque
de fato nào hâ uma estação seca definida, mas sim condi-
ções locais, da topografia, responsãveis por modificaçoes
em áreas relativamente pequenas e contfguas.
A área geográfica incluída na estação sec.:a de ONO
(7,4%) inclui parte do Rio Grande do Nurte, Paraíba, Per-
nnmbuco e Alagoas, bem como algumas áreas na Região Sul.
A ârea geogrâfica incluída na estação seCa de
so~ (5,8%) inclui as regiaes do Norte do Maranh~o, Parã.
Amazonas e a parte Sul do Amapi. As áreas com a cstaçio
seca em Asa e JAS ocupam zonas entre a extensão ·da área
JJA e as áreas perifêricas, principalmente do litoral do
Norte e I.este do Brasil (Figura 5).
relevo.
.
çOlnplexo de tipos de trimestre seco, devido ao
23
dos animais submetidos a estas condições. O resultado e
uma interrupção no crescimento do s animais, que. podem per-
der atê 507. do peso ganho na estação chuvosa anterior, o
que de termina os baixo 8 í ndi ces de desempenho do s an ima i s .
Os es tudos de McGown (1980/81), mos t ram que a VI:! rda de pe-
so em bovinos nas áreas tropicais da Austrália é função
do Índice ue Crescimento (Growth Index, GI) da vegetação,
e que quando GI<O, 1 durante ,d uas semanas, o cresei mento
dos bovinos j~ est~ afetado. Lcvine et aI. (1981) descre-
veram condições semelhantes nos "llanos" da Colômbia.
A estação seca ê a época crítica para a criação
de bovinos em condições extensivas, quando uma combinação
de subnutrição e parasitismo deterntina o seu fraco desem-
penho.
Nêsta estação. como Ja vimos. a população de hel-
mínto.s é representada quase que exclusivamente pela Fase I
(cargas de hclminto$ dentro dos hospedeiros), e esta po-
pulacio'nio recebe grandes renovaçaes da Fase 11 da~ pas-
tagens. Neste sentido, a Fase I está numa situação criti-
ca porque, quando eliminada ou reduzida, o potencial para
á contaminação da pastagem na estação chuvosa seguinte
serâ extremamente baixa. Ao mesmo tempo, evidentemente, a
eliminação das populações de helmintos nos hospedeiros me-
lhorará as condições fisiológicas destes.
Pode - se, então ident í ficar a es tação seca como
crlt~ca tanto para os helmintos como também os hospedei-
ros. Sendo que, o interesse é a elaboração de um esquema
para diminuir a taxa de translação, ê evidente que a cnfa-
se do programa deve ser dada aos hospedeiros quando há
pouca (ou nenhuma) renovação do exterior.
2.5
ocorr~ncia de chuvas pesadas, que permiti,rio uma certa
translação. As observações no cerrado indicam que pelo me-
nos larvas infectantes do gênero Cooperia podem sobreviver
nestas condições (Bíanchin /lo Roner 1987), omeSTTlO ocorren-
do em outras ãreas do Brasil.
tratamento 3 (setembro): antes do começo da estação chu-
vosa. quando uma alta taxa de translação se.rá possível
mais uma vez. A remoçào dos adultos nos animais eliminará
grande parte da contaminação das pastagens.
Em diversos experimentos. este esquer.~ estratê-
gico resultou em ganhos de pesos mêdios por animal de 15
a 45 kg a mais do que em animais não tratados nas mesmas
condições. Comu já vimos. o [:anho de peso extra não é o
efeito desejado principal - o importante é a diminuição
no nível de contaminação das p3Rtacens a longo prazo. Os
estudos epidemiológicos principais que sustentam as obser-
vações sobre a distribuição da estação seca e a sua im-
portincia na dinirnica da translaçio na irea de JJA, s~o:
a) Mato Grosso do Sul: Bianchin & Melo (1985 - resumoS de
12 anos de observações), Bianchin (1986), HíanChin &
Roner (1987), Bianchin et a1. (1986), Catto (1979),
Catto & Ueno (1981) e Catto (1982) - estudos sobre a
situação no Pantanal sul-mato-grossense, onde as con-
dições diferem localmente.
b) Goiâs: Pereira (1973), Costa et aI. (1979)~ Carneiro &
Freitas (1977).
c) Minas Gerais: Guimarães (1972). Guimarães et aI.
(1983), Furlong et alo (1985).
d) Rondônia: Maciel (1978).
e) Rio de Janeiro: Pimentel Nelo (1976). Bianchin (1979).
Braga (1980), Duarte et aI. (1982), Paloschi (1981).
Soares (1980).
f) são Paulo: Silva et .1.1. (1974, 1975), Starkt! et aI.
(1983) - bubalinos, Zocoller er. .<lI. (1983).
Nas outras reci~es incluídas na distribuiçio da
estaçao seca em JJA não se encontraram informações pu-
26
blicauas referentes a bovinos que permitam visualizat" o
processu da translação.
27
ra outras re.g~oes. De fato, pode-se resumlr estes esque-
mas na fonna:
Região Sul
Diversas vezes foi feita a ressalva "com E!xceçao
da Região Sul". Isto porque esta Região apresenta em ge-
ral uma situação muito diferente elll termos de clima e
portanto do pro,cesso de transl ação.
Historicamente. os estudos epidemio16gicos dos
helmintos e o desenvolvimento de esquemas nacionais come-
çaram nesta Região, devido à nt:!ees~idade de cuntrolar as
infecções dentro da combinação do padrão climático, o ti-
po de bovino int~oduzido c os parasitas presentes.
Como jâ vimos, a RegIão Sul possui um excesso no
balanço hídrico praticamente em cada mês. Nimer (1977)
caracteriza a Região Sul como possuindo um excesso no ba-
lanço híl1rico mensal na seguinte forma:
"0 Sul do Rrasil é uma Região das mais uniformeH
e de maior grau de unidade climática. Sua uniformidade e
expressa pelo predomínio de clima mesotermico superúmido
sem estação seca~ e sua unidade, pelo ritmo característi-
co de regiões temperadas H • • • • ··0 Sul do Bras il é pr LV i-
legiado pela altura e regime anual da precipitação pluvi-
ométrica, uma vez que ele se constitui nU~3 d~s regiões
28
do mundo maIS b~m regadas por chuvas. Além de ser impor...,
tante o total anual, seu regime de distribuiç50 estacio-
nal se faz normalmente, de forma C'xtr:wrdinariamente equi-
tativa na maior parte de seu territõrio" (Nimer 1977).
De fato. nesra Hegião hâ tambêm grande varlacao
no relevu, u que impõe temperaturas bem diversas (inclu-
sive temperaturas muito baixas no inverno e muito altas
no verão) e padrôes Locais de precipitações diferentes,
existindo regiões com uma estaçao menos chuvosa em JJA ou
OND.
A introd\lção do gado europeu com os seus parasi-
tas típicos das regiões temperadas, permitem a sobrcvi-
vência de algunas espécies raras ou ausentes em outras
Regiões, cumo Ostertagia spp., Diatyoaaulus vi V ipal"'--i S e
FascioZa hepQ~ica.
Desmame - 1 ano }*
1 ano - 2 anos +*
2.5 anos
29
censon et aI. (1985) em Santa Catarina. Nesta ar~a os
autores mostraram que as cargas de helmintos são altas na
primvareva, v~rào e Dutono e que oit o t r.:lt.1mento5 <l caua 45
dias depois do desmame) foi o esquema mais econômico da
região.
f claro que o regime hídrico/energético ua Região
Sul determina um padrão de tratamentus, completamente. di-
ferentes das outras Regiões e. que_ não há uma estação seca
para ser encaixada com um n~mero restrito de tratamentos,
u que seria possível em outras regiões.
Também é claro que a topografia sulina requer
estudos locais para determinar o tipo de clim.:t predomi-
nante a nIvel local, pois como j~ foi salientado, existem
regiões com uma estação menos chuvosa em JJA ou OND. Os
valores rel<ltivos da "estação seca" em relação a08 outros
meses c aos úesv los I Dl:als devem ser determinados "'in l l'i -
c'o". Nisto, os pesquisadores da Região tem bastante expe-
riência.
8 HIPOBIOSE
o (cnômeno da hipobiose foi referido em rel.:tçilo
ao esquema de lratamento proposto por pinheiro (1983) no
Rio Grande do Sul, onde as formas com desenvolvimentu in-
terronpido de Oste1"ta~la spp. são il1lIJOrtante<;. Nas outras
ire3s do Brasil n~o se acrcJ i ta que esta cstral~8ia ~eja
primária (I)ianchin (,; Ilonar 1987). embora Pimentel (1976)
tenha observado a ocorrência de farDas apsr'cntcuicnt<! hi-
poh i ót icas de HQcmonchl~~ <::OII t'Ol' tUG no Es lado do Rio de
Janeiro. li. litcrat:ul'a,' Illuntliul sugere que a hipohiosf' ê_mais
comum em regiões telllpet'i:ldas. Ll que expt i ('a sua ocorrência
na Região Sul.
30
9 CUSTO/BENEFICIO DE TRATAMENTOS COM ANTI-HELMTNTICOS EM
ESQUEMAS ESTRAT~GICOS
31
rem o peso de abate para os diferentes esquemas de trata-
mento utilizados (Ramos & Ramos 1978, Sorrenson et a1.
1985) .
Neste caso, embora o produtor deva investir no
1.nsumo "anti-helmíntico", a retorno não é somente em ter-
mos de ganho de peso direto, mas também na melhor utili-
zação do aninal e na diminuição no tempo necessário para
se manter o animal numa categoria de menor beneficio ao
produtor.
Uma análise interessante foi feita por Pinheiro
(1983), que expressou o ganho do produtor e o seu inves-
timento em unidades animais, neste caso, em termos de be-
zerros de 180 kg peso vivo, enfatizando que o oenef[cio
real do produtor é dado pelu equação:
Benefício real = (ganho de peso V1.VO + valor da reduçã.o
na mortalidade) - custo de investimento.
Em termos de unidades de bezerros. esta equação torna-se:
32
tempo quando extrapolado para a vida do animal. Especial-
mente no caso do Zebu, o ganho compensatõrio é um fator
importante e poderia ser melhor evidenciado em bovinos
mais ou menos livres de helmintos, aproveitando o cresci-
mento da pastagem no inicio do período chuvoso. Mesmoani-
mais predominantemente de raças européias podem compensar
rapidamente com as primeiras chuvas (McCown 1981), chegan-
do a ganhar 0,8 kg por dia depois 40 mm de precipita~ão.
33
para o desenvolvimento da vegetação e a translação dos
helmintos gastrintestlnais. De fato o HR não identifica o
período de retenção da água no solo após a estação chuvo-
sa~ dando então um período por demais curto para a estação
agrícola propriamente dita. Como foi apontado por McCown
(1981), o período do crescimento das pastagens (e conse-
qüentemente dos bovinos e às vezes a translação dos seus
helmintos) é mais do que o período estritamente chuvoso.
No entanto, para uma primeira identificação, e sabendo al-
go sobre a êpoca da maior translação, o uso do índice MR
pode identificar os períodos mais indicados para a Ímplan-
tação de programas de controle. O valor da MAl ê calcula-
do na base da precipitacão e evapotranspiração (ETP) para
cada mes; em local idades onde não é possível obter-se os
valores da ETP, o cálculo do MR daria uma aproximação
uti 1.
Para a ut il iZilÇão dos valores do />lAr, pode-se in-
terpretar qualquer mês com um valor > 0,33 como scndD f~
vorável para a translação porque a armazenagem de Ilmídade
no solo estã incluída no cálculo. Este valor> 0,33 é vâ-
lido para pastagens nativas mas não necessariamente para
pastagens reformadas ou transitõrias (Hargreaves 1977).
Como um exemplo apresentam-se osdados climâticos
da estação meteorolôgica de Fernando de Noronha (Lat.
3,80); Long. 32'26"; Alt. 101 m) com oS diversos índices
(MAl, MR e DEP PREC) I todos recalculados dos dados de
Cochrane & Madeira Netto (1985)(Tabela 3).
.
A regressao dos valores do MR sobre os do MAl e
dada por:
y ~ 0,696 + 9,603 x (r=O,988; R2~ 98%)
sendo então, neste caso, qualquer valordoMR~3.9 uma. in-
dicação da possibi lidade de translação. PodE'-se verificar
que os meses de ASOND são os de menor prec ipítaçào em Fer-
nando de Noronha e se quisermos identificar o período
mais apropriado para '1m esquema de lratamentos. pode-se
observar que o trimestre mais seco (em termos da menor
contribu ição ao total anual de 130 /1 rnrn) ocorre nos meses
ONO. A local ização geográfica da Ilha de Fernando de No-
34.
•
1"AIlI::LA 3 . Aná l i s e do s da dos da ~:stação Heteorológica de Fe rn ando d e Nuronha .
- --
'r
_ .
Anua l
:-tês J F M A M J S O N D (x ou
E)
:-lAl 0,09 0 ,34 .0 ,55 1, 00 0,9 7 0 ,81 0,53 0 ,1 2 0,0 U,O 0,0 0,0
11 llMITACOES NA METODOLOGIA
É .llllpol- tantc lembrar que, qualquer que seja o
esquema de lratamentos cstratésicos elaborado com esta me-
todologia, sempr~ ~ possivel que alguns [atores interfi-
ram na eXeCllç30 011 interpretação.
J6
TABELA 4. Aná lise do s da dos da Estacão Me t eoroló gica de Campo Grande, MS .
Mês J F :1 A M J J A 5 O N D Tot al /x
Temp. x °c 24,3 24,2 23,8 22 ,0 20,3 19,3 ;9,1 2 1, I 22,8 23,5 24,0 24,5 ;<=22,4
Pr ec i pitacáo 229 199 140 101 81 50 36 29 62 162 164 191 1444
(nun)
DEP. PREC. 158 134 88 57 41 17 6 O 26 105 107 128
(mm)
MAl 1,01 0,09 O,5'! 0,46 0,33 0,18 0,06 0,0 0,20 0,68 0,68 0,84
MR 9,4 8 ,Z 4,6 4,6 4 ,0 2,6 1,\1 1,4 2,7 6,9 6,8 7,8
11.1 Modificações cl imãticas
38
de fazer um tratamento meramente curativo, quando os ani-
mais já estão prejudicados.
39
12 ANTI-HELMíNTICOS
A evolução dus produtos anti-helmínticos é apre-
sen lada esquematicamente na Figura 1. Pode-se ver que o
numero de helminto8 sensíveis aos princípios at ivos atuais
aumentou muito durante os ultimos anos; ao mesmo tempo a
toxícidade baixou no sentido que a razão uose terapêutical
dose lóxica para o hospedeiro ficou muito mais amp1a. Es-
ta evolução pode ser vista claramente dentro da "família"
dos produtos bcnzimidozõlicos. Os últimos membros desta
família têm um espectro de ação muito mais amplo do que o
primeiro c, em alguns casos (co~o por exemplo.fenbendazo-
le) é quase impossível administrar uma dose tóxica ao ani-
mal. O grupo das avecmec:tinas tem uma ação sistêmica com-
batendo diversas categorias de parasitos. incluindo ar-
trõpodes. Michel (1985) reconhece somente três grupos de
prodU t os de amp lo cs pec t ro: os bcnz imi dozó 1 i cos • lcva~ni
sole· e morantel. e as avermectinas.
g importante lembrar que o desenvolvimento da
epide~iologia e dos anti-helmínticos sno processos para-
lelos e que muitos esquemas ue tratamentos foram desen-
volviuos para produtos específicos. A literaLura contém
inúmeros trahalhos sobre novos produtos e sua aeão contra
diversos parasitos, e âs vezes o produtor (ou os seus as-
sessores) acham dificuldade na escolha de um produto en-
tre tantos.
EDl ter.mos de gado de corte a facilidade de manu-
::i€lO sempre e uma consideração fundamenLal e as formula-
çoes injelâveis foram desenvo 1 v idas visando especialmente
as condições de manejo destes animais. Vara o produtor o
preço tamhém é um fator chave, além do resultado espera-
do.
As diferentes condições encontTadas no Brasil não
permitem a ind icação de "o ant i-hclmínt: ico" , porque as
espécies ue helmintos, o manejo c a época pudem requerer
produtos diferentes.
Na Tabela 5 sao apresentados os principais hcl-
mintas dos bovinos e a efetividade dos produtos malS co-
muns no mercado (adaptauo ue Beck 1986).
40
TABELA 5. Efet iv idade de al guns dos principais anti-helmincicos contra helmintos
de bovinos .
Cf)
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lhiabendazole (66) A BB C B A
A C A B A B C CID B C O oral
Parbendazole ( 39) A B A B B C A B A B B B B C II O O oral
Heb endazole ( 15 ) A A A A A A A C A C A C A D A B D oral
Albendazole (7 , 5) A A A A A A A A A A B C A D A A C oral
Tetramlzo l e ( 15) A C A B/C A B A A A II C O B D A A C subcutânea
Levamisole ( 10) A B A B A A A A A B C O A D A A B subcutânea
Fenotiazina ( 16) A O B O A O B B B O O O A O B O O oral
Disofeno l ( 16) A B D O O O O O O O O O A O C O O subcutânea
Ivermectin(20Omcg) A A A A A /lo. B A A A A A A A subcutânea
Modif ica do de Beck ( 1986 )
Efetividade: A :95-1007.; B s85-95%; C: 60-857.; D : <60~; O = sem ~fetividade.
12.1 Resistência dos helmintos contra anti-helmínticos
42
Vamos supor que um produtor quer tratar 3ú7 ani-
mais c acredita que o peso médio destes seja de 100 kg.
Utilizando um produto injetâvel, ele calibra a seringa pa-
ra administrar o volume de produto apropriado para este
peso. Suponhamos que a dose do principio ativo nao ria
formulação) seja 12 mg kg- 1 peso vivo. Neste caso, cada
animal receberâ 100 x 12 mg, ou 1200 mg tolal.
De fato, os 367 animais sio de diversas catego-
rias com pesos diferentes embora todos recebam 1200 mg. O
resultado é a seguinte tabela:
Limites NQ de Limites de
Cate-
de peso .1.n1.- dosagem Resultados
goria
(kg) mal.S (mg kg- 1 )
367 100,0
4)
des). Notou-se que 22 destes animais não apresentaram o
OPG negativo após o período de disponibilidade do anti-
-helmíntico. Verificou-se que estes animais eram os mais
fraCDS e pequenos. Em outras palavras t não tiveram a opor-
tunidade de consumir o sal no cocho e subseqüentemente não
foram tratados (Honer et aI. 1986).
O problema é o mesmo e a solução seria de agrupar
tanto quanto possível os anirnaisem categorias iguais pa-
ra o tratamento, e.vitando-se reclamações posteriores so-
bre o desempenho do produto, e diminuindo-sc os custos de
aplicação.
44
tação de um programa estrateg1co f Lexíve L, devido à es t ru-
tura inerente ao sistema de produção. Nestes casos a de-
cisão sobre o programa a ser seguidu (se houver) é indivi~
dual. Enfatiza-se que, quando existe a possihilidade da
implantação de um programa estratégico, esta será feita
devido aos próprios méritos.
Será também importante ressaltar que os efeitos
da implantação do programa não serão imediatos, os animais
podem ganhar muita pesn nu primeiro ano, mas isto deve ser
visto como Um benefício a mais. A finalidade principal dn
programa é a redução da contaminaçâo das pastagens a lon-
go prazo, com, uma melhoria subseqüente na produtividade
do rebanho e da propriedade. Também não funcionará se o
programa for seguido durante alguns anos e interrompido em
out ros. quando apa rentement e "não for neces sâr ia"" A re-
dução da contaminação 9as pastagens deve ser contínua pa-
ra alcançar ns benefícios finais.
45
- controle biológico;
- produtos de liberação lenta;
- estudos imunológicos locais (futuras vacinas);
- lotação.
46
ANUÁRIO ESTATATÍSTICO DO BRASIL. Rio de Janeiro. FIBGE,
v.46, 1985. p.365.
BECK. A.A.H. Anti-helmínticos em bovinos. In: CURSO SOBRE
DOENÇAS PARASITÁRlAS DOS RUMINANTES, 1986. Nova Ode s sa.
Instituto de Zootecnia, 1986. 7p.
47 (--
1./
CATTO, J.B. Desenvolvimento e sobrevivênci~ de larvas in-
fectantes de nematódeos gastrintestinais de bovinos,
durante a estação seca t no Pantanal mato-grossense.
Pesq.Agropec.Bras., Brasília, lL(6):923-7, 1982.
48
CUIMARÃES, M.r.; LIMA, W.S.; LEITE, A.C.IL & COSTA. J.O.
Gastr-ointestinal nernatodc infection in bcef cattle fram
savannah region (cerrado) of Erazi1. Arq.Bras.Med.Vet.
Zootec., 12(6):845-51, 1983.
KENT. J.S. In: LANGER, R.S. & WISE, D.L. Medical Applíca-
tions Df controled release. Boca &aton, eRC, 1984.
so
PIMENTEL )fETO, M. Epizootiologia da hemoncosc em bezerros
de gado de leite no Estado do Rio de Janei co. Rio de
Janeiro, UFRRJ, 1976. 48p. Tese Hestrado.
51
SOULSBY, E.J.L. Chairman's upening remarks. Parasitology,
90(4):613-721,1985.
S2
· ANEXO I
REGIÕES REGIÕES
Norte 5.946.755
Sudeste 34.987.624
Rondônia 693.663
Acre 514 . 653 ~ínas Gera i s 19.901.557
Amazonas 473.2\6 Espíri to Santo 1.759.889
Pará 3 . 933.128 Rio de J aneiro 1.838.668
Amapá ')'.8RO são Paulo 11. 487.510
Nordeste 21.692.937 Sul 24.272.484
Maranhão 3.307.9\0 Paraná 7.934.29 4
Piauí 1.588.631 Santa Cata rina 2.790.606
Ceará 2.1 3 7.524 Rio Grande do Sul 13 . 947.584
Rio Grande do Norte 68 , .923
Centro-Oeste 40.754.797
Pa raíba 1. \28.276
Pernambuco 1 .5S7 . 887 Mato Grosso do Sul · 13.882.717
Alagoas 879.607 Mato GrOSSLl D.7a7.575
Seq;ipe 663 .4 84 Goiás 20.003.725
Bahia 9.747.695 Distrito Federal 80.780