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Nossas Riquezas

Nossas Riquezas

Textos de:
Glayson Ariel Bencke e Maria de Lourdes Abruzzi Aragão de Oliveira do
Museu de Ciências Naturais/ FZB/RS. Rogério Bastos, Liliane Inês Pappen,
Elisa Motta, Odila Paese Savaris, Márcia dos Santos Ramos Beretta - UCS e
Coordenadoria de Comunicação Social – Grupo CEEE. Ivo Benfatto, Paulo
Lindner e Companhia Riograndense de Mineração.
Expedição:
Realização: FUNDAÇÃO CULTURAL GAÚCHA
Coordenação Editorial: ODILA PAESE SAVARIS
Edição Geral: ROGÉRIO BASTOS
Projeto Gráfico e Diagramação: BASTOS PRODUÇÕES
Edição e Tratamento de Imagens: LILIANE PAPPEN
Revisão: SANDRA COIMBRA
Ano da Publicação: 2012
Impressão e Acabamento: EDELBRA - GRÁFICA
Informações: FUNDAÇÃO CULTURAL GAÚCHA
Fone: 51-3223-5194 / 3084-5193

Ficha Catalográfica:
F981n Fundação Cultural Gaúcha
Nossas riquezas. Organizado por Odila Paese Savaris.
Textos de Odila Paese Savaris, Maria de Lourdes Abruzzi
Aragão de Oliveira, Glayson Ariel Benke, Márcia dos Santos
Ramos Beretta, Eduardo Bueno, Paula Taitelbaum, Rogério
Pereira Bastos, Ivo Benfato, Liliane Inês Pappen, Elisa Motta,
Paulo Linder, Companhia Estadual de Energia Elétrica -
CEEE/Coordenadoria de Comunicação Social, Companhia
Riograndense de Mineração - CRM. Porto Alegre, 2012.

118 p. Il.

1. Fauna - Rio Grande do Sul. 2. Flora – Rio Grande do


Sul. 3. Hidrografia – Rio Grande do Sul. 4. Energia Elétrica –
Rio Grande do Sul. 5. Extrativismo - Rio Grande do Sul. 6.
Agricultura – Rio Grande do Sul. 7. Industrialização – Rio
Grande do Sul. 8. Comércio – Rio Grande do Sul. 9. Cultura
Gaúcha. 10. Revolução Farroupilha – Festejos. I. Savaris, Odila
Paese (Coord.). II. Oliveira, Maria de Lourdes Abruzzi Aragão
de. III. Benke, Glayson Ariel. IV. Beretta, Márcia dos Santos
Ramos. V. Bueno, Eduardo. VI. Taitelbaum, Paula. VII.
Bastos, Rogério Pereira. VIII. Benfato, Ivo. IX. Pappen, Liliane
Inês. X. Motta, Elisa. XI. Linder, Paulo. XII. Companhia Estadual
de Energia Elétrica – CEEE. XIII. Companhia Riograndense de
Mineração - CRM. XIV. Título.

CDU 918.65
981.65

Catalogação na fonte – Bibliotecária Maria Sílvia Robaina de Sousa Lessa


CRB-10/665
Índice

09 A Fauna e a Flora

25 As Nossas Águas

36 Energia

43 Extrativismo

59 Agricultura

69 Indústria

89 Comércio

95 Cultura
Introdução

Nossas Riquezas
O tema dos Festejos Farroupilhas para 2012 – Nossas Riquezas – tem por objetivo
despertar tradicionalistas, estudantes e sociedade em geral, o interesse pelo estudo
das nossas riquezas, partes fundamentais da constituição do estado. Esse interesse
aumentará ou despertará o orgulho que temos do nosso pago.
Propomos explorar a geografia e a história econômica do Rio Grande do Sul. Essa
é a forma de valorizar e preservar o legado que recebemos de todos aqueles que aqui
chegaram e contribuíram para a formação do gaúcho.
Estes bravos, vindos de muitos lugares, trouxeram consigo a determinação e a
vocação para o trabalho. Não encontram riquezas como o ouro e a prata, mas as be-
lezas naturais e agregaram a força e a garra às características do nosso estado e aqui
construíram a nossas riquezas.
Inúmeras são as riquezas do estado. Para o que nos propomos, as comemorações
farroupilhas, selecionamos algumas que apresentamos neste livro, em forma de capí-
tulos.
Os capítulos foram escritos por profissionais que conhecem os temas e, em nenhum
momento, há a pretensão de que o assunto se esgote e nem de que esta seja a única
visão.
Os assuntos abordados, não são estanques, não se encerram nos escritos deste li-
vro, são mais um incentivo, para pesquisas ou estudos, do que uma lição acabada.
Certamente, muitas riquezas foram deixadas de ser citadas, pois foram seleciona-
dos apenas alguns aspectos, o que não impede que outros aspectos sejam trabalhados,
especialmente os que são diretamente ligados e que fazem parte da realidade local.
O temário dos festejos 2012, NOSSAS RIQUEZAS, favorece para que todos co-
nheçam um pouco da historia e do espaço em que vivem.

Odila Paese Savaris


Pedagoga
Fauna e Flora
FLORA, FAUNA E ECOSSISTEMAS: PATRIMÔNIO
NATURAL E CULTURAL DO RIO GRANDE DO SUL
Maria de Lourdes Abruzzi Aragão de Oliveira (*)
Glayson Ariel Bencke (*)
Introdução sido estimado um total de 820 espécies. As
Pteridófitas, conhecidas popularmente como
O Rio Grande do Sul ocupa, biogeografi- samambaias, estão em torno de 12.000 a
camente, uma situação muito singular, por 15.000 no mundo.
ser região de encontro de distintos Domínios Balduino Rambo, eminente botânico
Biogeográficos. O Domínio Amazônico, que gaúcho, registrou, em 1956, a presença de
ocupa territórios na metade norte do Esta- 4.496 espécies de Angiospermas nativas do
do, está aqui representado pelas Províncias Rio Grande do Sul. O especialista em Pte-
Biogeográficas Atlântica e Paranaense; o ridófitas, Pe. Sehnem, em 1977, mencionou
Domínio Chaquenho distribui-se na metade a presença de 322 espécies deste grupo de
sul, com as distintas fácies das Províncias plantas e dentre as Gimnospermas temos
Pampeana e Espinhal. Cada uma destas pro- apenas quatro espécies conhecidas no Esta-
víncias contém elementos próprios e caracte- do: a Araucaria angustifolia (araucária ou
rísticos de fauna e de flora, conferindo signi- pinheiro-brasileiro) duas espécies do gênero
ficativos contrastes e rica biodiversidade às Podocarpus (pinheirinhos-bravos) e a efedra
paisagens típicas do sul do Brasil. (Ephedra tweediana).
As famílias de angiospermas, ou plantas
Os números da biodiversidade superiores, da flora sul-rio-grandense mais
ricas em espécies são as Gramíneas (Poace-
Em recente publicação da Lista de Espé- ae) seguidas pelas Leguminosas (Fabaceae)
cies da Flora do Brasil (2012) é reconhecida e Compostas (Asteraceae). Apesar de ainda
a presença de 42.920 espécies para a flora persistirem lacunas no conhecimento das
brasileira, sendo 4.422 de Fungos, 4.162 de espécies da flora nativa, diferentes autores
Algas, 1.527 de Briófitas, 1.199 de Pteridó- estimam e registram os seguintes números
fitas, 26 de Gimnospermas e 31.584 de An- de espécies para as mais numerosas famílias
giospermas. As estimativas para o número botânicas da flora gaúcha: as gramíneas es-
de espécies de Angiospermas, ou plantas su- tão representadas por 604 espécies, sendo a
periores, para o mundo é de cerca de 257.400. grande maioria campestres, com 400 espé-
As Gimnospermas, grupo do qual fazem par- cies; as Asteraceae campestres, também mui-
te os pinheiros e ciprestes, dentre outros, são to numerosas, são em torno de 600 espécies;
pouco numerosas em escala mundial, tendo as Fabaceae campestres são 250 espécies. A

(*) Pesquisador do Museu de Ciências Naturais, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande


do Sul

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família das orquídeas (Orchidaceae), plantas Estimativas, relativamente, precisas do
com grande interesse ornamental e encon- número de espécies presentes no Rio Grande
tradas especialmente nas florestas, também do Sul existem somente para alguns grupos
é bastante numerosa, tendo sido referidas, da fauna. Uma grande parcela dos grupos de
por vários autores, em torno de 400 espécies. animais menores ainda permanecem pouco
A fauna do Estado é particularmente va- conhecida no âmbito estadual, particular-
riada e rica em espécies, condição que resulta mente os invertebrados.
em grande parte da já aludida posição geo- Atualmente, são conhecidas para os limi-
gráfica do território sul-rio-grandense, situ- tes territoriais do Estado 94 espécies de an-
ado em uma zona de transição climática e fíbios (sapos, rãs, pererecas e cobras-cegas),
biogeográfica, onde se dá o encontro de con- 126 de répteis (lagartos, serpentes, tartaru-
tingentes faunísticos com centros de origem gas e jacarés), aproximadamente 660 de aves
distintos. Por conta disso, espécies represen- e cerca de 170 de mamíferos. Assim, apesar
tativas da Mata Atlântica do leste brasileiro de o Rio Grande do Sul corresponder a ape-
e das florestas tropicais do interior do Brasil, nas 3,3% do território nacional, aqui são en-
gradualmente, desaparecem em direção ao contrados 11% das espécies de anfíbios, 18%
sul do Estado, dando lugar a formas caracte- dos répteis, 36% das aves e 26% dos mamífe-
rísticas dos campos temperados da região do ros catalogados para o Brasil.
Pampa. As grandes extensões de áreas úmi- Ainda tomando-se por base a riqueza co-
das, concentradas nas depressões e planícies nhecida para o país, grupos de invertebrados
aluviais, dos principais rios da metade sul particularmente bem representados no Rio
do Estado e ao longo da ampla planície cos- Grande do Sul incluem as aranhas, os crus-
teira, contribuem, significativamente, para táceos (caranguejos e siris) e os moluscos em
a riqueza faunística regional, adicionando geral (lesmas, caramujos, caracóis e mexi-
numerosas espécies de animais que normal- lhões).
mente não são encontradas em ecossistemas Há que se destacar, também, que a fauna
florestais e campestres, sobretudo moluscos, do Estado, sobretudo a avifauna, é periodi-
anfíbios, aves aquáticas e mamíferos como a camente enriquecida pelo abundante influ-
capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), maior xo de espécies migratórias, que para cá se
roedor do planeta. deslocam em busca de alimento e de um cli-
ma mais ameno. A Planície Costeira do Rio
Grande do Sul, com destaque para a Lagoa
do Peixe e a praia oceânica ao sul de Cidrei-
ra, é reconhecida internacionalmente por
sua importância como área de invernagem
e do ganho de peso para aves migratórias,
provenientes do norte da América do Norte
e do Ártico. Anualmente, aves como o maça-
rico-de-sobre-branco (Calidris fuscicollis) e o
trinta-réis-boreal (Sterna hirundo) deslocam-
Capivara
Foto: Ricardo A. Ramos -se por dezenas de milhares de quilômetros,

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Xaxim, espécie ornamental.
Foto: Ricardo A. Ramos
Maçarico-de-sobre-branco
Foto: Glayson A. Bencke

para fugir do inverno rigoroso em suas áre-


as de reprodução, abrigando-se temporaria-
mente em nossas praias e lagoas costeiras,
onde completam seu ciclo anual.
As águas costeiras do Rio Grande do Sul
também se inserem na rota de migração de
mamíferos marinhos, destacando-se nesse Ramos frutificados de cancorosa
Foto: Ricardo A. Ramos
contexto os cetáceos (baleias e golfinhos) e os
pinípedes (lobos e leões-marinhos).

Espécies ameaçadas de extinção

A flora nativa tem sofrido sérios riscos,


tendo sido publicada em 2002 a Lista Oficial
das Espécies da Flora Ameaçadas de Extin-
ção no Rio Grande do Sul ( Decreto Estadual Laelia purpurata, espécie ameaçada
Foto: Ricardo A. Ramos
Nº 42.099). Nesta lista estão incluídas 607
espécies, consideradas como ameaçadas, in-
tegrando desde espécies em situação de Vul-
nerabilidade até as mais criticamente amea-
çadas, ou seja, em perigo de extinção, assim
como as espécies já consideradas extintas,
por não terem sido encontradas na natureza
pelo menos nos últimos 30 anos. O maior nú-
mero é de Angiospermas, e as famílias com
maior número de espécies ameaçadas são Parodia horstii , cacto ameaçado de extinção
Foto: Ricardo A. Ramos
as Bromeliáceas, Cactáceas e Orquidáceas,
cujas espécies foram muito exploradas pelo tam. Dentre as palmeiras, várias espécies
grande interesse ornamental que apresen- de butiás que ocorrem no Estado, o caran-

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serem raras ou endêmicas, isto é, serem res-
tritas a pequenas áreas, foram consideradas
como passíveis de desaparecerem, em decor-
rência dos usos inadequados do solo.
Também em 2002 foi publicada a primei-
ra lista oficial da fauna ameaçada de extin-
ção no Estado (Decreto Estadual No 41.672),
com a inclusão de 261 espécies, das quais 11
foram arroladas como já provavelmente ex-
tintas no território gaúcho. A lista contém
três espécies de esponjas de água doce, 17
de moluscos, 7 de crustáceos, 18 de insetos
(abelhas nativas, besouros e mariposas), 28
de peixes, 10 de anfíbios, 17 de répteis, 128
de aves e 33 de mamíferos.
Entre os animais que correm risco de de-
saparecerem do Estado estão alguns bem
conhecidos do público em geral, como o dou-
rado (Salminus brasiliensis), o papagaio cha-
Palmiteiros na Reserva Biológica da Serra Geral
Foto: Rosana M. Senna
rão (Amazona pretrei), o curió (Sporophila
angolensis), o tamanduá-bandeira (Myrme-
dá e o palmito fazem parte da lista. Espé- cophaga tridactyla), duas espécies de bugios
cies florestais que tiveram suas populações
drasticamente reduzidas devido sua impor-
tância econômica madeireira como a grápia,
a cabriúva, a imbuia, a canela-preta e a pró-
pria araucária, dentre outras, são também
consideradas como ameaçadas. Além destas,
muitas espécies de ervas e arbustos, especial-
mente campestres, como por exemplo o bo-
lão-de-ouro (Schlechtendalia luzulifolia), por
Bugio-ruivo (Alouatta guariba)
Foto: Glayson A. Bencke

(Alouatta spp.), o lobo-guará (Chrysocyon


brachyurus) e o veado-campeiro (Ozotoceros
bezoarticus). A principal razão para a acen-
tuada diminuição dessas espécies é a perda
e a degradação dos hábitats onde vivem, se-
guida da perseguição, caça e captura para o
Bolão-de-ouro, em Tapes comércio ilegal de animais silvestres.
Foto: Ricardo A. Ramos

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Símbolos naturais do Rio Grande clareiras no interior da floresta, sendo seu
do Sul cultivo bastante complexo e o processo de
industrialização muito trabalhoso. Árvore
Nas manifestações culturais sul-rio-gran- de até 15 metros de altura, de tronco curto e
denses sempre mereceram destaque a natu- copa densa, com folhas duras, verde-escuras
reza, suas paisagens e os elementos da fauna de margem denteada tem as partes aéreas,
e da flora. Exemplo disto foi, a escolha de principalmente as folhas, usadas como infu-
elementos da natureza estreitamente ligados são, possuindo atividades biológicas compro-
às tradições e ao dia a dia do povo gaúcho, vadas como estimulante do sistema nervoso
para cultuar a riqueza da fauna e da flora do central, vasodilatadora, diurética e antioxi-
Estado. dante. É cultivada como ornamental e for-
A erva-mate (Ilex paraguariensis), da nece substâncias para a indústria de alimen-
qual se fabrica a bebida indispensável em tos e cosmética. É também espécie frutífera
qualquer roda e ritual de boas-vindas ao para a avifauna, como sabiás e pombas.
visitante, foi instituída, pela sua importân- O uso da erva-mate, teria se iniciado de
cia cultural nas tradições do gaúcho como 10 mil anos AC. até o início da Era Cristã,
árvore-símbolo do Estado e Símbolo do com os indígenas Incas do Peru, ou com os
Sistema Florais do Sul, por meio da Lei Nº Quichuas, índios que habitavam o Peru após
7.439 de 1980. os Incas. Era utilizada como alimento bási-
co também pelos Guaranis. É hoje a bebida
estimulante provavelmente mais usada no
sul da América do Sul, tanto como infusão
quente (chimarrão) ou fria (tererê). A pala-
vra mate origina-se do termo mati, que na
língua quichua significa cuia. Na linguagem
guarani era denominada caiguá: caá (erva),
i (água) e gua (recipiente). O preparo e uso
do chimarrão, com cuia e bomba, já se tor-
Erva-mate , árvore-símbolo do RS nou verdadeira ciência, existindo, inclusive,
Foto: Ricardo A. Ramos literatura especializada sobre o assunto. O
porongo que é o fruto da espécie africana
A erva-mate pertence à família botâni- Lagenaria vulgaris , cultivada no Estado,
ca das Aquifoliáceas e distribui-se na Amé- é preparado e utilizado como cuia para o
rica do Sul desde o Equador até o Uruguai chimarrão.
e, no Brasil, do Mato Grosso ao Rio Gran- A flor símbolo é o brinco-de-princesa (Fu-
de do Sul, onde ocorre nas regiões do Alto chsia regia), espécie ameaçada de extinção
Uruguai, Missões, Campos de Cima de Serra, no Estado que é endêmica do sudeste e sul
Planalto Médio, Encosta Superior e Encosta do Brasil, distribuindo-se desde o sul do Rio
Inferior do Nordeste. Geralmente ocorre as- de Janeiro até o nordeste do Rio Grande do
sociada à araucária, cresce em densos agru- Sul. Neste ocorre nas regiões fisiográficas dos
pamentos, propagando-se naturalmente em Campos de Cima da Serra, Planalto Médio,

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rendo no Paraguai, Argentina e Uruguai, em
campos e locais abertos. É uma erva anual,
de flores amarelo-douradas, usada popular-
mente em infusões como analgésica, anti-
diarréica, digestiva, calmante e no combate
ao colesterol e triglicerídeos. A sua intensa
utilização, de forma extrativista, pode estar
colocando em risco esta espécie.

Ramos de macela, planta medicinal símbolo do RS


Foto: Ricardo A. Ramos

Brinco-de-princesa, flor-símbolo do RS
Foto: Ricardo A. Ramos

Encosta Superior e Encosta Inferior do Nor-


deste e Litoral. É uma trepadeira ou semi-
-trepadeira lenhosa, apoiante, com flores
vistosas, pendentes, com fruto roxo-escuro
quando maduro, florescendo e frutificando
O quero-quero (Vanellus chilensis) é,
na primavera e verão, mas também no outo-
desde 1980, a ave símbolo do Rio Grande do
no e até no inverno. É muito valorizada na
Sul, instituído pela Lei Estadual No 7.418.
Europa e nos Estados Unidos como orna-
Figura como um dos dois animais-símbolo
mental, porém ainda pouco cultivada entre
do Estado, ao lado do cavalo crioulo, este
nós, apesar do seu grande potencial. As flo-
pertencente a uma espécie que não faz parte
res são muito procuradas por beija-flores e,
da fauna regional nativa.
provavelmente, o fruto é comido por outras
O quero-quero é uma ave abundante nos
espécies de aves.
campos sul-rio-grandenses, onde sua presen-
Pelo seu difundido uso popular a marce-
ça marcante se faz notar tanto por seu gri-
la ou macela (Achyrocline satureioides) foi
to estridente, que lhe valeu o nome popular,
selecionada como a espécie símbolo entre as
como por seu comportamento intrépido e vi-
plantas mediciais. Segundo a tradição, deve
gilante, que lhe rendeu o título de “sentinela
ser colhida na madrugada da Sexta-Feira
dos pampas”.
Santa, antes dos primeiros raios de sol, a
Mede pouco mais de 30 cm da ponta do
fim de manter suas propriedades medicinais.
bico à cauda. Na cabeça destaca-se um pe-
Distribui-se desde o nordeste até o sul do
nacho de penas nucais afiladas, os olhos cor
Brasil, onde é mais freqüente, também ocor-

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cie nas paisagens campestres do Rio Grande
do Sul, justifica o lugar de destaque que este
ocupa na cultura e no folclore regionais. O
convívio secular e muito próximo do quero-
-quero com o homem do campo deu margem
não só para um conhecimento e respeito mú-
tuos, mas também para o surgimento de cer-
ta parceria entre ambos.
Vale destacar aqui um dos mitos que re-
sultam dessa relação harmoniosa, trazido
por Roberto Gonçalves de Oliveira, de que “o
quero-quero não é outro senão um piá que, já
taludo, não via hora de se meter numa refre-
ga! Quando isso ocorreu, foi mortalmente fe-
O Quero-Quero e seu ninho
Fotos: Glayson A. Bencke rido e não resistiu. Transmutado numa ave,
o quero-quero ainda hoje mantém a vigília
de rubi e uma placa dos campos, conservando a lança embaixo
frontal negra, que da asa”, lança essa cuja ponta se mostra sob
desce pela região da a forma do esporão que a espécie possui.
garganta e se alarga
na altura do peito. Ecossistemas sul-rio-grandenses e
Na dobra da asa os- sua flora e fauna
tenta um esporão avermelhado que normal-
mente permanece oculto sob a plumagem,
mas que é exibido a rivais ou inimigos com
um alçar de asa ou durante o voo.
Alimenta-se de larvas, minhocas, aranhas
e uma grande variedade de insetos. Faz seu
ninho no solo, em uma pequena depressão
no terreno, parcamente atapetada com tali-
nhos e folhas secas. Põe geralmente de três
a quatro ovos em forma de pera, que se con-
fundem perfeitamente com a vegetação ao
redor. Na defesa do ninho ou dos filhotes, os
quero-queros podem ser bastante agressivos,
inclusive atacando animais domésticos e até
seres humanos com voos rasantes.
A frequente exaltação dos traços compor-
tamentais do quero-quero em versos, poemas Mapa dos ecossistemas do Rio Grande do Sul
e canções que retratam a vida nos campos Fonte: Laboratório Geoprocessamento MCN/FZBRS
gaúchos, assim como a onipresença da espé-

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Em diferentes situações climáticas, de sidifolia). Nos estratos ou andares arbóre-
relevo e de solo, as espécies vegetais ocor- os intermediários e inferiores são abundan-
rem associadas, constituindo, com sua fau- tes as palmeiras como o palmiteiro (Euterpe
na característica, distintos ecossistemas. De edulis), o rabo-de-peixe e a guaricana (Geo-
modo geral, no território gaúcho, podem ser noma spp.), além de espécies da família das
distinguidos dois grupos de ecossistemas: o pitangas e camboins (Myrtaceae). Há gran-
florestal e o campestre. Formações especiais de variedade e densidade de epífitos, espécies
caracterizadas pela dominância de uma ou que desenvolvem-se sobre outras sem serem
poucas espécies, ou mosaicos de comunida- parasitas, destacando-se as bromélias, or-
des vegetais e animais, recebem denomina- quídeas, espécies de Gesneriaceae, Araceae e
ções específicas, como veremos a seguir: Piperaceae; no estrato herbáceo, bem desen-
volvido, são freqüentes o bico-de-papagaio
Ecossistemas Florestais (Heliconia sp.), espécies de araruta (Maran-
taceae) e muitas espécies de samambaias.
Mata Atlântica Destaca-se, nesta floresta, a abundância de
(Floresta Ombrófila Densa) lianas e cipós.
A Mata Atlântica no Rio Grande do Sul A fauna da Mata Atlântica possui grande
ocorre na região de Torres até Osório, onde diversidade de anfíbios, serpentes e aves. As
o clima é tropical úmido, com alta precipi- florestas de baixada do litoral norte gaúcho
tação pluviométrica, sem período seco e com formam um compartimento especial, por
temperatura média anual acima de 15ºC. abrigar um grande número de espécies de
A floresta é formada por árvores vigoro- distribuição costeira que não se dispersam
sas, atingindo até 30 m de altura, perenifo- para outros setores florestados do Estado.
liadas, ou seja, que não perdem as folhas,
com predomínio, no andar superior da mata, Mata com Araucária
de espécies de canela (Lauraceae) dos gêne- (Floresta Ombrófila Mista)
ros Nectandra e Ocotea, e de figueiras (Ficus Na região da floresta com araucária, o cli-
spp.), além do baguaçu ou pinho-do-brejo ma pluvial é superúmido, sem estação seca e
(Magnolia ovata) e o tapiá-açu (Alchornea caracterizado por um período frio com tem-
Mata Atlântica – Reserva Biológica da Serra Geral,
peratura média inferior a 15ºC durante até 8
Maquiné meses no ano.
Fotos: Glayson A. Bencke A araucária também conhecida como
pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia)
denomina esta tipologia florestal. Esta espé-
cie e suas acompanhantes encontram, no Rio
Grande do Sul, condições mais favoráveis
acima de 600 metros de altitude, na região
do Planalto Sul-Brasileiro. Na região do Es-
cudo Sul-Rio-grandense, na Serra do Sudes-
te, em menor altitude, são constatadas ocor-
rências de pequenos agrupamentos desta

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nordeste do Rio Grande do Sul, que recebem
os ventos úmidos do litoral, ecoa o grito es-
tridente da araponga, ou ferreiro (Procnias
nudicollis), outrora mais amplamente distri-
buída através do Estado.

Floresta Estacional
Decidual e Semidecidual
Na porção média e na superior do vale do
rio Uruguai e a maior parte da vertente sul
Mata com Araucária, Estação Ecológica de Aratinga do Planalto Sul-Brasileiro nas bacias dos rios
Foto: Ricardo A. Ramos
Ijuí, Jacuí e Ibicuí, desenvolve-se um tipo
espécie. Sob as copas emergentes das araucá- florestal vinculado a um clima com acentua-
rias, além do pinheirinho-bravo (Podocarpus da variação térmica, sem déficit hídrico, com
lambertii) e do xaxim (Dicksonia sellowiana) duas estações bem marcadas, o que determi-
observa-se um estrato contínuo de elemen- na a estacionalidade da floresta, com a perda
tos latifoliados no qual se destacam as cane- das folhas, no período do inverno, de mais de
las dos gêneros Ocotea, Nectandra e Crypto- 50% dos indivíduos das árvores dominantes
carya, a erva-mate (Ilex paraguariensis), as do estrato superior.
cascas-d’anta (Drimys brasiliensis e D. an- O dossel, ou cobertura da floresta, é ca-
gustifolia), o guaperê (Lamanonia ternata) e racterizado pela presença de espécies de le-
a gramimunha (Weinmannia paulliniifolia) guminosas como a grápia (Apuleia leiocar-
e espécies de mirtáceas dos gêneros Myrcia, pa), a canafístula (Peltophorum dubium), o
Myrceugenia e Eugenia. angico (Parapiptadenia rígida) e a cabriúva
As sementes da araucária constituem um (Myrocarpus frondosus), além de outras es-
recurso alimentar extremamente importan-
te, para várias espécies de aves e mamíferos
por estar disponível em abundância no perí-
odo que antecede o inverno. Mamíferos como
os cervídeos, a paca e a cutia, além de diver-
sas outras espécies menores de roedores, con-
somem os pinhões em grandes quantidades
durante esse período. Assim também aves
como os papagaios e a gralha-azul (Cyanoco-
rax caeruleus) fazem uso do recurso.
Animais bastante vinculados às florestas
com araucária incluem a serpente Bothrops
cotiara, o papagaio-de-peito-roxo (Amazona
vinacea) e o garimpeiro (Leptasthenura se-
taria), pequeno pássaro rabilongo que vive
exclusivamente entre as grimpas dos pinhei- Floresta Estacional , Parque Estadual do Turvo
ros. Nas matas que bordejam o Planalto no Foto: Vanessa Machado

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pécies decíduas, como por exemplo, o cedro Ecossistema campestre
(Cedrela fissilis), a guajuvira (Patagonula
americana), o louro (Cordia trichotoma), a Cabe mencionar a existência de discre-
canjerana (Cabralea canjerana) e o açoita- pâncias, entre distintos autores, quanto ao
-cavalo (Luehea divaricata), espécies de gran- enquadramento da vegetação campestre do
de interesse econômico. No sub-bosque são Estado, tanto ao nível nacional quanto re-
freqüentes o catiguá (Trichilia claussenii), o gional, sendo utilizados os termos Estepe,
branquilho (Sebastiania commersoniana), a Savana ou Savana Estépica, e seus subtipos,
laranjeira-do-mato (Gymnanthes concolor) e o ou simplesmente Campos.
cincho (Sorocea bonplandii) etc... Para muitos autores, o campo é a pai-
As florestas estacionais do norte do Es- sagem mais antiga no planalto meridional
tado estão entre as mais diversas do sul do brasileiro e a primeira camada de plantas
Brasil em termos de diversidade de fauna. superiores desenvolvida sobre os derrames
Nos remanescentes maiores, como o Parque de basalto, sobrepostos ao arenito Botucatu.
Estadual do Turvo, ainda persistem espécies Aparentando ser uma paisagem homogênea,
de grande porte há muito desaparecidas em estimativa feita por Boldrini, em 1997, re-
outras regiões, como a onça-pintada (Pan- vela a existência de cerca de 3.000 espécies
thera onca) e a anta (Tapirus terrestris). Ali de plantas campestres para o Rio Grande do
também é encontrado o jararacuçu (Bothrops Sul.
jararacussu), maior serpente peçonhenta do Em condições climáticas e geomorfoló-
Estado, além de várias aves hoje ameaçadas gicas distintas, distinguem-se duas grandes
no Rio Grande do Sul, como o araçari-bana- áreas de ocorrência de campos no Rio Gran-
na (Pteroglossus bailloni) e o pavó (Pyroderus de do Sul: os “campos do Brasil Central”,
scutatus). aos quais se integram os campos de Cima da
Em função de diferenças climáticas, em Serra, situados no planalto e, os “campos do
algumas regiões desenvolve-se a Floresta Uruguai e sul do Brasil”, correspondentes à
Estacional Semidecidual. Neste tipo flores- Província Pampeana.
tal, apenas entre 20% e 50% das árvores, Os primeiros ocorrem entremeados à flo-
no conjunto florestal, perdem suas folhas na resta, nas porções mais altas do planalto,
época desfavorável, atribuindo-se o reduzido compondo o mosaico campo/floresta com
percentual de indivíduos decíduos, ou seja, araucária e estão caracterizados pelo predo-
que as perdem, à ausência da grápia (Apu-
leia leiocarpa). Ocorre de forma disjunta, em
altitudes entre 30 e 680 metros, na bacia do
rio dos Sinos e na vertente leste do Planalto
sul-rio-grandense, na região fisiográfica da
Serra do Sudeste e acompanhando o curso
dos rios na Encosta do Sudeste. Assenta-se
também sobre a Coxilha das Lombas, na
porção oeste da Laguna dos Patos, na região
Campos de Cima da Serra, São Francisco de Paula
de Barra do Ribeiro e Tapes. Foto: Ricardo A. Ramos

19
mínio de gramíneas cespitosas, em touceiras,
e rústicas dos gêneros Andropogon, Aristida,
Schizachyrium, Elyonurus e Trachypogon; os
campos localizados na porção sul do Estado
são, de modo geral, também constituídos por
espécies de gramíneas cespitosas, conhecidas
como flechilhas, do gênero Stipa e cabelos-de-
-porco (Piptochaetium spp.) e capim-cola-de-

Ema ou nhandu
Foto: Glayson A. Bencke

distingue-se da maioria das outras aves pelo


fato de a incubação e os cuidados com a prole
ficarem a cargo exclusivamente dos machos.
Os ovos, que podem pesar mais de 600 g cada
um, são incubados por até 40 dias; às vezes
mais de 20 ovos são postos em um mesmo ni-
Campos da Campanha, em Santana do Livramento nho, por mais de uma fêmea.
Foto: Ricardo A. Ramos Outras aves campestres bem conhecidas
são a perdiz (Nothura maculosa), chamada
-lagarto (Coelorhachis selloana); gramíneas codorna em algumas regiões do país, a ca-
mais baixas como a grama-forquilha (Pas-
palum notatum) e a grama-tapete (Axonopus Perdiz
affinis) recobrem o solo; nos locais mais úmi- Foto: Glayson A. Bencke
dos ocorrem as gramas-boiadeiras (Leersia
hexandra e Luziola peruviana). Diferenças
fisionômicas, estruturais e florísticas, deter-
minadas por aspectos regionais relacionados
à temperatura, pluviometria, embasamento
geológico, relevo e solos, permitem distinguir
várias tipologias campestres nas diferentes
regiões fisiográficas do Estado, ou seja: os
campos da Campanha, dos Campos de Cima
da Serra, da Serra do Sudeste, da Depressão
Central, do Planalto Médio e Missões, como turrita (Myipsit-
já apontado por diferentes autores, estudio- ta monachus) e
sos dos campos sulinos. o joão-de-barro
Nos campos são encontrados alguns dos (Furnarius rufus),
animais mais populares e emblemáticos da único entre as aves
fauna do Rio Grande do Sul. A ema (Rhea por construir ni-
americana) é a maior ave das Américas e João-de-barro, sobre o ninho nhos de barro em
Foto: Glayson A. Bencke

20
forma de forno. O Parque do Espinilho ocorre, em peque-
Entre os mamíferos, o zorrilho (Conepa- na área, na porção sudoeste do Estado, onde
tus chinga) e o graxaim-do-campo ou “sorro” as precipitações, concentradas principal-
(Lycalopex gymnocercus) destacam-se pela mente no verão, estão em torno de 500 mm
abundância e pela facilidade com que são anuais. Trata-se de um prolongamento da
Província do Espinhal que se estende na Ar-
gentina desde o centro de Corrientes e norte
de Entre Rios, formando um arco irregular
até o sul de Buenos Aires. Compõe-se de um
estrato inferior graminóide estacional e um
estrato arbóreo decíduo, constituído predo-
minantemente por espécies de leguminosas
como o inhanduvá (Prosopis affinis), o algar-
robo (P. nigra), o espinilho (Vachellia caven),
Graxaim-do-campo a cina-cina (Parkinsonia aculeata), além do
Foto: Glayson A. Bencke quebracho-branco (Aspidosperma quebracho-
-blanco) e da sombra-de-touro (Acanthosyris
observados. O veado-campeiro (Ozotoceros spinescens).
bezoarticus), descrito como abundante nos Destaca-se, na fauna do parque de espi-
campos do Rio Grande do Sul por naturalis- nilho, a presença de várias espécies de aves
tas viajantes do passado, é hoje encontrado com distribuição essencialmente restrita
muito raramente, consequência da caça pre- a essa formação especial no Brasil, como
datória, da perda de hábitat e, provavelmen- o arapaçu-platino (Drymornis bridgesii), e
te, do efeito de doenças transmitidas pelo também a presença da formiga cortadeira
gado doméstico. Atta vollenweideri, cujos ninhos de terra, em
forma de murundu, podem chegar a ter oito
Outras formações naturais metros de diâmetro!
Parque de Espinilho (Savana Es-
tépica Parque)

Espinilho e algarrobo no Parque Estadual do


Arapaçu-platino
Espinilho, Barra do Quaraí Foto: Glayson A. Bencke
Foto: Ricardo A. Ramos

21
Palmar ou Butiazal Banhado e Restinga (Formações
Pioneiras)
Em distintas regiões do Estado verifica-
-se a ocorrência de uma formação particular, Compreendem diferentes tipos de forma-
do tipo savânico, constituída por um estra- ções vegetais, localizados em áreas que so-
to inferior, junto ao solo predominantemen- frem distintos níveis de influência flúvio-la-
te formado por ervas, e um estrato superior custre (pântanos ou banhados) ou marinha
constituído por palmeiras, denominada de (restinga).
palmar, butiazal ou parque de butiás. As várzeas ou planícies de inundação dos
Assentada sobre a Coxilha das Lombas, rios e as áreas de banhados encontram-se em
à margem oeste da Laguna dos Patos, nos terrenos recentes e constituem ambientes
municípios de Tapes e Barra do Ribeiro, muito dinâmicos, colonizadas por espécies
observa-se extensa área de butiazal adaptadas às flutuações d’água. Nestes lo-
apresentando, como elemento dominante e
quase exclusivo do estrato superior, o butia-
zeiro – Butia odorata. No litoral norte, na re-
gião de Torres, os palmares desenvolvendo-
-se em terrenos arenosos, são formados pela
espécie Butia catarinensis, com indivíduos de
porte menor. Na região do Planalto Médio,
Missões e Campos de Cima da Serra ocorre o
butiá-da-serra - Butia eriospatha. Nos muni-
cípios de São Francisco de Assis, Manoel Via-
na e Alegrete, observa-se nas coxilhas uma Banhado na Estação Ecológica do Taim, Rio Grande
espécie acaule, o butiá-anão Butia lalleman- Foto: Ricardo A. Ramos
tii. No sudoeste, no município de Quaraí, o cais geralmente encontram-se comunidades
butiazal de Coatepe é formado pela espécie vegetais, constituídas por poucas espécies,
Butia yatay (jataí), cujos indivíduos apresen- ocupando áreas muito extensas. Os aguapés
tam estipe bem desenvolvido. (Eicchornia crassipes e E. azurrea) formam
os camalotais e as gramas-boiadeiras (Leer-
Butiazal de Butia odorata, Tapes
Foto: Ricardo A. Ramos sia hexandra e Luziola peruviana) os campos
inundáveis a úmidos; a tiririca (Scirpus gi-
ganteus) caracteriza o tirirical; os juncais de
Schoenoplectus californicus ocupam as mar-
gens das lagoas e, agrupamentos de Cyperus
giganteus, vegetam nos banhados; os saran-
dizais são constituídos por várias espécies
de sarandis: o sarandi-branco (Cephalanthus
glabratus), o sarandi-vermelho (Sebastiania
schottiana) e o sarandi-amarelo (Phyllanthus
sellowianus).

22
Nas restingas litorâneas a natureza Comprometimento dos ecossiste-
cunhou um mosaico de ecossistemas de du- mas naturais
nas, lagunas, lagoas, pequenas lagoinhas,
campos arenosos e matinhas de restinga Na maior parte do território sul-rio-gran-
arenosas e paludosas e as espécies que aí se dense, constata-se que a paisagem natural,
desenvolvem estão adaptadas a condições ao longo do tempo, vem sendo descaracteri-
climáticas e edáficas extremas, suportando o zada pelas monoculturas de soja, de arroz,
soterramento pela areia e a dessecação pelo plantios de arbóreas exóticas e pastagens ar-
vento. tificiais.
As áreas úmidas do Rio Grande do Sul, Os resultados do levantamento do Atlas
incluindo banhados e também os arrozais, dos Remanescentes Naturais da Mata Atlân-
concentram uma avifauna aquática e pa- tica, divulgados em 2010, apontam uma for-
lustre muito abundante e variada, contendo te pressão e intervenção antrópica sobre a
em torno de 160 espécies. Numerosas espé- vegetação dessa floresta, ainda apresentando
cies são compartilhadas com outras regiões altos índices de desmatamento não compa-
de áreas úmidas do centro-sul da América tíveis com a intensa fragmentação existen-
do Sul, como o Pantanal mato-grossense, os te, comprovando o elevado grau de ameaça
Esteros del Iberá, na Argentina, e os Baña- desse bioma. O Rio Grande do Sul aumentou
dos del Este, no Uruguai. Os grupos mais a taxa de desmatamento anual: desflorestou
numerosos incluem as garças, as cegonhas, 83% a mais. Comparativamente ao período
os maçaricos, os anatídeos em geral (patos e de 2005-2008, no qual a taxa era de 1.039
marrecas) e os frangos-d’água, que formam hectares/ano, no período de 2008-2010, su-
concentrações ou dormitórios de milhares biu para 1.897 hectares. Para a área florestal
de indivíduos. O corpulento tachã (Chauna original do bioma no Estado, de 13.759.380
torquata), cujo nome onomatopeico é usu- hectares (48% do seu território) restam,
almente pronunciado como tahã, ainda que hoje, apenas 7,31% ou 1.006.247 hectares.
não forme grandes bandos, é uma presença Em relação ao Bioma Pampa, que ocupa
marcante nos banhados e alagados do Esta- 63% da área do Estado, os resultados do úl-
do. Macho e fêmea entoam seu dueto sonoro timo monitoramento de remanescentes por
ante a aproximação de estranhos, tal como o satélite, divulgado em 2010 pelo IBAMA e
quero-quero, tendo o macho a voz mais gra- Ministério do Meio Ambiente, indicam uma
ve. cobertura de 36,08% de vegetação nativa. A
avaliação também revelou uma taxa média
de supressão de vegetação natural de 363
km2/ano entre 2002 e 2008. Assim, embora
o Pampa esteja em melhor situação do que
a Mata Atlântica, as taxas anuais de supres-
são são alarmantes e a perda acumulada em
um período de apenas seis anos corresponde
a 1% da área total que resta do bioma.
Casal de tachãs
Foto: Ricardo A. Ramos A superfície total protegida no RS em

23
Unidades de Conservação corresponde a fauna, restando pequenas superfícies ocupa-
2,63% do Estado e apenas um terço da área é das por ecossistemas semi-naturais. Atual-
composta por unidades de proteção integral, mente, os ecossistemas litorâneos, também
ou seja 0,68% da superfície do Estado. As escassamente protegidos, estão sendo alvos
principais lacunas encontram-se nas regiões de intenso processo de degradação, pela es-
fisiográficas da Serra do Sudeste e na Cam- peculação imobiliária. Os Campos de Cima
panha, cujos remanescentes naturais neces- da Serra, de forma acelerada, são transfor-
sitam urgentemente de proteção. mados em sistemas florestais homogêneos,
Em algumas regiões do Estado, como a pelo cultivo de espécies exóticas ou ocupados
das Missões e Planalto Médio, o processo de por plantios de frutíferas ou culturas anuais,
fragmentação comprometeu irremediavel- alheias ao manejo tradicional do solo na re-
mente as populações naturais da flora e da gião.

Papel de Todos
Para conter a perda e degradação da biodiversidade e garantir o nosso próprio futuro é
necessária uma mudança comportamental. Faça a sua parte!
- Ame e respeite a natureza ! Preserve a fauna e flora nativa. Não desmate! Não coloque
fogo!
- Informe-se sobre as espécies em extinção de nosso estado, região ou município, e sobre as
causas de seu desaparecimento.
- Não compre animais silvestres retirados da natureza.
- Não plante, não corte, nem pode árvores sem autorização do órgão responsável.
- Faça uso responsável da água e da energia elétrica.
- Verifique a origem dos produtos da natureza que você consome.
- Evite o consumo desnecessário de material descartável
- Dê preferência a produtos agrícolas produzidos sem o uso de agrotóxicos e com respeito
ao meio ambiente.
- Separe o seu lixo e pratique a “Lei dos 3 Rs”: reduza, reutilize e recicle os seus resíduos
- Use o seu carro somente quando necessário e pratique o “transporte solidário” Opte
pelos coletivos e, se a distância permitir, vá de bicicleta ou faça uma caminhada! Faz bem
à saúde!
- Eleja políticos que se preocupem com o meio ambiente e cobre com ações das autoridades.
- Participe de ações na sua comunidade, discutindo com amigos sobre ações efetivas para
redução de impactos ambientais e melhoria da qualidade de vida na sua região.

Dicas de: Luiza Chomenko, Ricardo Ott, Geneci Pintos de Britto e Laura Maria Gomes Tavares

24
As Nossas
Águas
AS NOSSAS ÁGUAS
Professora Márcia dos Santos Ramos Beretta - UCS
AS NOSSAS ÁGUAS disponíveis.
Estimativas sobre a quantidade das
Segundo a UNESCO (1998) o nosso pla- águas superficiais no mundo , conforme os
neta possui um volume total de água de diferentes usos que a sociedade faz, apontam
1.386 milhões de km³. que 70% se destinam à produção de alimen-
Num gesto simbólico, se colocássemos tos, 22% à indústria e apenas 8% ao consu-
toda esta água numa garrafa de 1 litro (1.000 mo humano. No entanto, 900 milhões dos 7
ml), a maior parte deste litro seria de água bilhões da população mundial não têm atu-
salgada (97,5%), disponível nos oceanos e almente acesso ao mínimo diário para sua
mares (975 ml). O restante (25 ml) deste li- subsistência — que varia, conforme a região
tro seria preenchido com água doce (2,5%), e o clima, entre 20 e 50 litros. O Brasil pos-
originada das geleiras, dos lençóis subterrâ- sui cerca de 12% da disponibilidade hídrica
neos, dos rios e lagos e da atmosfera. superficial do planeta e 50% do total dos
recursos hídricos da América do Sul (TUC-
CI,2001). Cada brasileiro dispõe de 34.000
m3 de água por ano. Portanto é um País rico
de água doce, segundo os dados das Nações
Unidas (REBOUÇAS, 2003). Porém esta
distribuição não é igual em todos os estados
brasileiros. Em algumas regiões do Brasil há
abundancia hídrica, como no Amazonas, e
em outra escassez hídrica, como no semiári-
É importante entender que somente do do nordeste, chegando a 500 m³ /hab.ano.
0,009% da água existente no mundo ou Outra importante fonte são as águas
0,37% das águas doces, estão disponíveis subterrâneas, responsáveis por 22, 03% das
nos rios e lagos para que a sociedade e deter- águas doces. Estima-se que a totalidade
minados ecossistemas terrestres e aquáticos dos recursos subterrâneos de água doce no
possam sobreviver. Assim, dos 25 ml de água mundo seja de cerca de 10 000 000 km³. Isto
potável, 3,7 ml seriam as águas superficiais acontece porque a maior parte dos recursos
de água subterrânea se acumulou ao longo
de séculos, ou mesmo milênios. Em alguns
locais, eles são testemunho de climas mais
úmidos que existiram no passado. Atual-
mente, estes recursos únicos de água doce
podem mesmo ser encontrados em zonas de-
sertas.
O Brasil possui grande reserva de águas
subterrâneas. Mais da metade da água de

26
abastecimento público no País provém das Hidrográfica do rio Uruguai.
reservas subterrâneas. A preferência pelo
uso desses recursos hídricos, nos mais di-
versos tipos de usos, se deve ao fato de que,
em geral, eles apresentam excelente quali-
dade da água e menor custo de instalação.
Estima-se que exista mais de 200.000 poços
tubulares em atividade utilizados para a ir-
rigação, pecuária, abastecimento de indús-
trias, condomínios, etc., mas o maior volume
de água ainda é destinado ao abastecimento
público. No Rio Grande do Sul, 90% das ci-
dades são abastecidas total ou parcialmente
por águas subterrâneas (ANA, 2002).
O Rio Grande do Sul possui uma vasta
rede de drenagem que se espalha pelo terri-
tório gaúcho. Com 3,3% da área nacional, o
Estado dispõe de 12,3% das águas internas
do País. Alguns dos seus rios destacam-se Além das águas superficiais, o Estado
pela sua extensão, como o rio Uruguai, Ibi- também possui sua riqueza em águas sub-
cuí, Jacuí, Taquari-Antas, etc. Em decor- terrâneas. Segundo Freitas (s.d) o Sistema
rência do relevo, no planalto, existem cursos Aquífero Guarani ocorre em 55% da área do
d’água que lhe conferem um grande poten- estado do Rio Grande do Sul, apresentando-
cial para geração de usinas hidrelétricas. Ou- -se muito compartimentado o que leva à
tros, de planície apresentam uma boa nave- grande diversidade na potencialidade e qua-
gabilidade. lidade das águas. As principais ameaças às
águas subterrâneas tem sido:
a) Exploração intensiva ou descontrolada
de água;
b) Contaminação pelas fontes potenciais
de poluição, provenientes das atividades an-
trópicas; e a
c) Falta de cuidados na proteção dos po-
ços.
No Brasil, todos os corpos hídricos são de
domínio público, sendo que os que estão em
O Conselho Nacional de Recursos Hídri- terrenos da União ou banham mais de um
cos (CNRH), desde 2003, passou a dividir o estado ou país são de domínio da União. Já
Brasil em doze regiões hidrográficas, sendo os que estão exclusivamente em território
que duas estão localizadas no Estado: Re- estadual são de domínio deste, incluindo as
gião Hidrográfica do Atlântico Sul e Região águas subterrâneas.

27
Aquífero Guarani
Um imenso depósito de água embaixo de nossos pés. Com uma extensão de 1,2 milhão km2 e capa-
cidade para armazenar até 160 trilhões de litros de água, o Sistema Aquífero Guarani é o maior reserva-
tório transfronteiriço da América do Sul, situado entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A maior
parte está no Brasil, onde ocupa uma área subterrânea de 840 km2. Cerca de 15 milhões de pessoas
vivem sobre os locais de influência do aquífero. Pesquisas da Embrapa Meio Ambiente apontam que os
40 trilhões de litros utilizáveis do Guarani (porção que pode ser obtida com segurança e para a qual já
há tecnologia de extração disponível) seriam suficientes para abastecer, por um ano, duas vezes e meia
a população brasileira, a um consumo médio diário per capita de 250 litros d’água - dobro da quanti-
dade sugerida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O principal uso do Guarani atualmente é o
abastecimento das cidades. Mas alguns setores da indústria e da agricultura também têm o reservatório
como fonte de fornecimento, com a vantagem de que a água não precisa de tratamento. No Brasil, o
aquífero atinge os estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás.

Revista Globo Rural – Texto de Keila Cândido (22/03/2010).


http://revistagloborural.globo.com/GloboRural/0,6993,EEC1709439-2454,00.html

28
OS RIOS DO NOSSO ESTADO

O Estado “Rio Grande do Sul” já reflete em seu nome a grandeza das nossas águas. O
nome surgiu pelo entendimento dos cartógrafos da época que pensavam que a Laguna dos
Patos fosse um grande rio. Batizaram-no assim com o nome de Rio Grande de São Pedro.
Foi na foz deste rio que os portugueses fundaram a cidade de Rio Grande em 1737, capi-
tal da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul. Anos mais tarde, a Capitania passou a
ser conhecida como Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e, com a Proclamação da
Republica (1889), estado do Rio Grande do Sul.

Território da Colônia do Sacramento. Este mapa é de autoria do Marques de Abrantes de 1681, período
em que parte do território do Rio Grande do Sul estava sob o poder da Coroa Portuguesa e outra à
espanhola. Encontra-se figurada a Laguna dos Patos, conhecida na época como Rio Grande de São
Pedro e o rio Martim Afonso de Souza.
Fonte: A Cartografia do Brasil (1700-1822) nas Colecções da Biblioteca Nacional de Portugal. Acervo
digital disponível em: http://purl.pt/103/1/.

29
Além do rio Grande de São Pedro, o rio te os rios Canoas e Pelotas, que se juntam
Tramandaí e o rio Martim Afonso de Souza, para formar o rio Uruguai, separando-nos
que a partir de 1750 passou a ser chamado do território catarinense. A oeste, o rio Uru-
por rio Chuí, foram pontos naturais geográ- guai é um marco natural entre o Rio Grande
ficos assinalados nos primeiros mapas deta- do Sul e a Argentina. O rio Quaraí também
lhados da Região do Prata. servirá de fronteira entre estes dois países,
Além de servir como marcos geográfico, assim como a lagoa Jaguarão e a Mangueira.
os rios foram utilizados como caminhos para
penetração no território rio-grandense. Pa- A REDE HIDROGRÁFICA GAÚ-
ralelas às trilhas que iam sendo abertas nas CHA
matas, conhecidas como picadas, os primei-
ros colonizadores navegavam pelos rios em No Rio Grande do Sul distinguem-se, ba-
modestas embarcações. Os índios já domi- sicamente, dois grupos de cursos d’água: os
navam esses rios, inclusive denominando-os que deságuam no Rio Uruguai (Bacia Hi-
por nomes. Aos portugueses e aos espanhóis drográfica do Rio Uruguai) e os que correm
só restava adotar a toponímia indígena. para o Oceano Atlântico (Bacia Hidrográfi-
Como exemplo podemos citar rio Gravataí, ca do Atlântico Sul).
Ibicuí, Jacuí, Taquara, Caí, Taquara, Ibira-
puitã, etc.
As expedições providas pelos portugue-
ses partiam de leste para oeste, iniciando na
barra do Rio Grande para norte até o rio Ja-
cuí e seus afluentes. Já do oeste para leste, a
penetração foi promovida pelos jesuítas es-
panhóis, nos quais os conhecimentos foram
registrados e difundidos pelos cartógrafos
holandeses, franceses, alemães e ingleses.
Aos poucos os cursos d’água foram sendo
localizados e mapeados, o que significava o
domínio do conhecimento do espaço, trans-
formado em território.
Com o término do Tratado de Tordesilhas,
Fonte: http://www.turismo-rs.com/hidrografia.htm
em 1750, os portugueses aceleraram a pro-
dução de mapas, identificando a localização
das redes hidrográficas, garantindo a posse A Região Hidrográfica do rio Uruguai
permanente da Coroa Portuguesa. Assim, consiste no conjunto dos cursos d’água que
nosso estado com o passar dos séculos pas- convergem para o rio Uruguai.
sou do domínio espanhol para o português. O rio Uruguai serve como divisa entre os
A partir dos rios foram estabelecidas as estados do Rio Grande do Sul e Santa Ca-
fronteiras com as demais nações e estado vi- tarina. É responsável ainda, por delimitar a
zinho, Santa Catarina. Assim temos ao nor- fronteira entre Brasil, Argentina e Uruguai.

30
A bacia hidrográfica do rio Uruguai abrange uma área de aproximadamente 384.000 km², dos quais 176.000 km²
situam-se em território nacional, compreendendo 46.000Km² do Estado de Santa Catarina e 130.000Km² no Estado
do Rio Grande do Sul. Possui uma vazão média anual de 3.600m³/s, volume médio anual de 114 Km².

Fonte: http://www.aneel.gov.br/area.cfm?id_area=111

Esta bacia faz


parte das doze re-
giões hidrográficas
do País, abrangendo
384 municípios dos
estados do Rio Gran-
de do Sul e Santa
Catarina. Estende-se
também pelo terri-
tório da Argentina e do Uruguai. Cerca
de 3,8 milhões de pessoas vivem na parte
brasileira da bacia do Uruguai, com maior
concentração nas bacias hidrográficas de
Chapecó, Canoas, Ibicuí e Turvo.
Fonte: http://www.ana.gov.br/sprtew/1/1-ANA.swf

31
Seu curso principal inicia-se no rio Pelotas, na Serra Geral, a 65 km a oeste do Oceano
Atlântico. Posteriormente, seu curso se junta às águas do rio Canoas, passando então a ser
denominado rio Uruguai. No Brasil seus principais afluentes são os rios Canoas, Pelotas,
Passo Fundo, Chapecó, Ijuí, Ibicuí e Quaraí. Seu curso, com 2.200km² de extensão, é dividi-
do em três partes: 1) Alto rio Uruguai, onde se caracteriza por um forte gradiente topográ-
fico, o que propicia alto potencial de geração hidrelétrica; 2) Médio rio Uruguai, assumindo
a condição de fronteiriço. Economia local baseada em suinocultura e agricultura de soja e
milho; e 3) Médio baixo rio Uruguai, que se desenvolve pela Campanha Gaúcha, com apro-
veitamento de suas águas para irrigação da rizicultura.
Os impactos ambientais ocorridos na região da bacia estão relacionados ao lançamento
de esgotos in natura dos principais centros urbanos, tais como Lages, Chapecó, Uruguaiana,
Alegrete e Erechim. Nas áreas rurais, os impactos relacionam-se aos lançamentos dos deje-
tos da suinocultura e avicultura e dos efluentes das indústrias de celulose nos cursos d’águas.
Outra grande preocupação ambiental relaciona-se a contaminação pelo uso dos agrotóxicos
nas lavouras.
As áreas criticas, conforme a Agência Nacional das Águas, determinadas pelo tipo do
impacto ambiental, pode ser observada na figura abaixo:

Fonte: http://www.ana.gov.br/sprtew/1/1-ANA.swf

32
A Região Hidrográfica do Atlântico Sul abrange porções dos territórios do Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, ocupando uma área de 185,8 mil km², o que corresponde a
aproximadamente 2% da área total do País.

Esta região hidro-


gráfica é formada por
um conjunto de bacias
hidrográficas indepen-
dentes, vertendo para o
litoral.
A vazão média anu-
al da Bacia Atlântico
Sul responde por 2,6%
do total do país. Esses
rios fornecem água para
mais de 11,6 milhões de
pessoas, além de serem
de extrema importân-
cia para a realização de
atividades econômicas,
sobretudo a agricultura.
No Rio Grande do
Sul, as principais bacias
são as que compõem o
sistema Jacuí-Guaíba
(Alto Jacuí, Vacacaí, Ta-
quari-Antas, Caí, Sinos e
Gravataí) e Camaquã, que deságuam na Laguna dos Patos. A bacia do Piratini deságua no

33
canal São Gonçalo que une as lagoas Mirim e dos Patos. A do rio Jaguarão, fronteiriço com
o Uruguai, deságua na lagoa Mirim.
A maioria dos rios dessas bacias hidrográficas é de pequeno porte. O rio mais extenso é o
Jacuí, com extensão de 700 km. É um rio de planície, navegável por barcos de porte médio
e pequeno.
Os rios que deságuam diretamente para o Oceano Atlântico, oriundos do próprio litoral,
são poucos expressivos devido a sua pouca largura, ao fraco declive e à natureza dos areais.
O mais notável deles é o rio Chuí. De maior importância são as barras de Rio Grande e de
Tramandaí. O canal de Rio Grande é o escoadouro da Laguna dos Patos, que recebe a águas
de cerca da metade das bacias hidrográficas do Estado. O Tramandaí, de maneira semelhan-
te, embora em menor escala, recolhe as águas da vertente oceânica da Serra Geral, reunidas
antes em numerosas lagoas ligados entre si.
Os diferentes usos que a população faz das águas destes cursos d’água têm provocado vá-
rios problemas ambientais. Podemos citar a retirada da mata ciliar, a poluição dos rios pelos
efluentes das indústrias, dos esgotos domésticos; dos dejetos da suinocultura e mineração.
Salienta-se a poluição das lagoas litorâneas e a diminuição do seu volume de água devido às
irrigações.

Fonte: Áreas Criticas - http://www.ana.gov.br/sprtew/1/1-ANA.swf

34
A GESTÃO DAS ÁGUAS: COMO organizada e dos representantes de governos
PRESERVAR AS NOSSAS ÁGUAS? municipais, estaduais e federal. O objetivo
principal é a atuar como “parlamento das
Entre os anos 60 e 70 os movimentos águas”, pois é um fórum de decisão no âm-
ambientalistas e a sociedade gaúcha come- bito de cada bacia hidrográfica.
çaram a ter consciência de que a qualidade Os Comitês de Bacias Hidrográficas têm,
de vida, e sua própria sobrevivência corriam entre outras, as seguintes atribuições :
riscos se não fosse dada uma atenção maior a) Promover o debate das questões rela-
as suas águas. Com a preocupação de salvar cionadas aos recursos hídricos da bacia;
os rios, a sociedade foi se unindo, formando b) Articular a atuação das entidades que
grupos, e algumas lideranças se mobiliza- trabalham com este tema;
ram, principalmente, as dos vales dos Sinos c) Arbitrar, em primeira instância, os
e do Gravataí, rios que na época, apresenta- conflitos relacionados a recursos hídricos;
vam problemas graves de poluição. Devido d) Aprovar e acompanhar a execução do
esta forte mobilização surgiu os primeiros Plano de Recursos Hídricos da Bacia;
Comitês de Bacia Hidrográfica de rios esta- e) Estabelecer os mecanismos de cobran-
duais no Brasil: o Comitê Sinos - estrutura- ça pelo uso de recursos hídricos e sugerir os
do em 1987 e instituído em 1988, e o Comitê valores a serem cobrados;
Gravataí - 1988/1989. f) Estabelecer critérios e promover o ra-
Na busca de soluções para preservar a teio de custo das obras de uso múltiplo, de
água diante da crise ambiental, foi institu- interesse comum ou coletivo.
ído no Rio Grande do Sul o Sistema Esta- Podemos participar dos Comitês ou ainda
dual de Recursos Hídricos. Este sistema foi das ações promovidas por eles, como o En-
homologado através da Lei 10.350 em 30 de quadramento das Águas, onde a população
dezembro de 1994. da bacia escolhe o destino dos usos das águas
Através desta Lei, a rede hidrográfica do conforme a sua qualidade a ser alcançada
Estado passou a ser dividida em três regiões em um dado trecho do corpo d’água através
hidrográficas: Guaíba, Litorânea e Uruguai. de uma consulta pública.
Uma região hidrográfica é formada por di-
versas bacias que escorrem para um corpo
de água único: rio, lago ou laguna. As águas
da região do Guaíba deságuam no lago Gua-
íba, as águas da região Litorânea escoam
para a laguna dos Patos, e as águas da re-
gião do Uruguai seguem para o rio Uruguai.
Atualmente o Estado possui 25 bacias hi-
drográficas, organizados pelos seus respecti-
vos Comitês.
O comitê de bacia hidrográfica é um ór- Fonte: Consulta pública Bento Gonçalves para o
gão colegiado que conta com a participação enquadramento das águas da bacia hidrográfi-
dos usuários das águas, da sociedade civil ca do Taquari Antas. (22/03/2012). Acesso digital:
http://www.taquariantas.com.br/site/home/pagina/id/43

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Mas no nosso dia a dia, também podemos ajudar a preservar as águas dos nossos rios, la-
gos, lençóis subterrâneos, etc. Muitas pessoas acham que a preservação deve partir somente
do governo ou das empresas e indústrias, que são os maiores poluidores. Mas nós também
podemos ajudar. Ao utilizar sabão e detergentes biodegradáveis, que não poluem os rios;
descartar o óleo de cozinha no local adequado; não jogar o lixo em rios e lagos ou nas vias
públicas; separar e destinar os resíduos adequadamente; varrer a calçada ao invés da man-
gueira para limpá-la, etc. são atitudes que auxiliam a preservação da vida em nosso planeta.

ENERGIA E DESENVOLVIMENTO
Uma história que se confunde
Uma das principais impulsionadoras do
desenvolvimento, a energia elétrica passa
por um longo processo antes de chegar ao
destino – residências, indústrias, comércio,
ruas, etc. No Rio Grande do Sul, a história
deste bem, hoje essencial às pessoas, come-
çou ainda no início século XVIII, quando a
iluminação, em Porto Alegre, era toda feita
por candeiro de prato e lamparina a quero-
sene (vela de cera). Mais de um século de-
pois, um decreto provincial manda instalar a
iluminação pública em Porto Alegre . Ainda O mundo viu surgir, em 1879, a lâmpada
nos idos dos anos 1800, as ruas, salões e re- incandescente. O invento do norte-america-
sidências passaram a ser iluminadas a que- no Thomas Alva Edison ganhou adeptos e,
rosene. no mesmo ano, Dom Pedro II concedeu a ele
A primeira vez na história da humanida- o privilégio de introduzir no Brasil aparelhos
de de que se tem registro do uso da hidráu- e processos destinados à utilização da luz elé-
lica para produzir energia data de 1867, por trica. Em pouco tempo, uma experiência do
invento do francês Aristides Berges, que ins- francês Marcel Deprez permitiu levar a ener-
talou uma turbina movida por uma queda gia elétrica de um lugar para outro mais dis-
d’água. Cinco anos depois, começava a ser tante, possibilitando a utilização industrial
construída na Capital gaúcha a Usina do da energia elétrica e da lâmpada de Edison.
Gasômetro, que servia para “guardar” a Em 1887, Porto Alegre tornou-se a pri-
energia produzida a gás hidrogênio carbo- meira capital brasileira a ter um serviço per-
nado (sistema de reservatórios). Em 1874, manente de fornecimento de luz para suas
quando foi concluída a construção da Usina casas, indústrias e estabelecimentos comer-
do Gasômetro, também foi regulamentado o ciais, com a implantação da termoelétrica
serviço de iluminação com esse gás em Porto da Companhia Fiat Lux. O acervo históri-
Alegre, Pelotas e Rio Grande. co dessa empresa, mais tarde, foi comprado

36
pela Companhia de Energia Elétrica Rio- quais 90 eram térmicas e 35, hidrelétricas –,
-grandense (que viria a se tornar, no século e possuía 86 cidades e 39 vilas e povoados
seguinte, a CEEE). atendidos pelo serviço de eletricidade. Ape-
No ano da Proclamação da República nas dois anos depois o número de usinas ha-
(1889), a Fiat Lux foi autorizada a explo- via aumentando em quase 100%, chegando
rar, por vinte anos, o serviço de eletricidade a 249. No mesmo ano, foi criada a Diretoria
em todos os municípios gaúchos. Em 1898, de Eletricidade do Rio Grande do Sul, em-
a iluminação pública – até então a gás – foi brião da CEEE e, a partir deste momento,
substituída pelo sistema elétrico, considera- a história da eletricidade gaúcha passa a se
do mais econômico e mais eficiente. Dez anos confundir com a história da CEEE. O órgão
mais tarde, os poderes públicos, pela primei- encaminha os primeiros passos para um pla-
ra vez, intervieram de forma mais efetiva na no de eletrificação do Estado.
geração e distribuição de energia elétrica, A década seguinte foi marcada por uma
com a criação da Usina Municipal de Porto crise resultante do racionamento de óleo,
Alegre (na rua Voluntários da Pátria, onde em função da Segunda Guerra Mundial. O
hoje é o prédio do Instituto Federal de Edu- produto era o principal combustível para
cação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande geração térmica de energia no Rio Grande
do Sul, na esquina com a Coronel Vicente). do Sul. Foi um período, porém, em que se
Em 1923, foi constituída a Companhia seguiram as tratativas para melhorar o de-
Energia Elétrica Rio-grandense (CEERG), sempenho do setor no País. Em 1943, no
no Rio de Janeiro. A principal acionista foi dia 1º de fevereiro, foi criada a Comissão
Estadual de Energia Elétrica, que era a pri-
meira do gênero no Brasil, dirigida por téc-
nicos do governo estadual e assistido pelos
poderes federais. O objetivo era estudar os
problemas que se ligassem à produção indus-
trial, ao abastecimento de matérias-primas
e de força motriz e à solução da questão dos
transportes, setores que já estavam em crise
e tiveram sua situação piorada em função da
Guerra. Esta data, assim, marca também o
início da CEEE, sucessora da Comissão Es-
tadual de Energia Elétrica.
a Companhia Estrada de Ferro e Minas de Ainda em 1943, foi construída uma linha
São Jerônimo, empresa carioca de minera- de transmissão de emergência para trans-
ção de carvão, que atuava no Rio Grande portar o excedente de energia elétrica gerada
do Sul desde 1889. Anos mais tarde, na dé- pela usina da Companhia Frigoríficos Nacio-
cada de 1930, o Estado passou a ocupar a nais até a rede das cidades de São Leopoldo e
terceira posição entre os mais industrializa- Novo Hamburgo. Em maio, uma obra seme-
dos do Brasil. Em 1937, o Rio Grande do Sul lhante começou para atender Caxias do Sul.
registrava a existência de 125 usinas – das A situação de energia elétrica neste período

37
era crítica, com a suspensão do abasteci- são e distribuição de energia elétrica – que
mento às residências a partir das 23h. Ainda ainda hoje possibilita usufruirmos dela. No
em seu primeiro ano de existência, a CEEE final da década, o governador Leonel Brizo-
começou as tratativas para a construção da la conseguiu, junto ao presidente Juscelino
sua primeira hidrelétrica, Passo do Inferno, Kubistchek, a autorização para “comprar”,
no que veio a ser o Sistema Salto da CEEE, por Cr$ 1 (um cruzeiro), os contratos de
com sede em Canela. concessão declarados de utilidade pública
Em 1944, foi iniciada a obra, que deve- para fins de desapropriação da Companhia
ria garantir o volume de água para a Usina de Energia Elétrica Rio-grandense (capital
Toca (já existente), evitando a paralisação norte-americano). Foi a chamada encampa-
das indústrias de São Leopoldo. No ano se- ção. Com isso, o Estado assumiu o controle
guinte, tem início o Plano de Eletrificação, do setor de energia.
aprovado pelo governo federal, que permite Em 1960, ano em que foi criado o Minis-
ao estado explorar um conjunto de poten- tério de Minas e Energia, o setor energético
ciais hidráulicos. Esse plano regularizou as é considerado bem público e promotor do de-
águas, através de barragens, permitindo o senvolvimento nacional. Três anos mais tar-
uso controlado dos recursos hídricos vindos de, uma lei estadual transformou a antiga
das cheias, comuns na época. A construção Comissão Estadual de Energia Elétrica em
de grandes centrais hidrelétricas permitia uma sociedade de economia mista com a de-
ainda a preservação das matas gaúchas, cuja signação de Companhia Estadual de Energia
derrubada era acelerada pela voracidade de Elétrica e conservando a sigla CEEE, que
algumas usinas movidas à lenha. Como o in- se mantém até hoje. Esta década, marcada
terior tinha grande disponibilidade de ener- também pelo Golpe Militar, foi a precursora
gia elétrica, as indústrias passaram a se fixar de um período de 30 anos sem grandes mo-
também nos pequenos centros, contornando dificações estruturais em diversas áreas, in-
a tendência de formação de aglomerações clusive a de energia elétrica. Só no início dos
urbanas. anos 90, com a redemocratização e a eleição
Em 1947, a CEEE se tornou diretamente de Fernando Collor de Mello é que começou
subordinada ao governo do Estado e, no ano a haver movimentos de alteração no sistema
seguinte, foi inaugurada a primeira hidrelé- econômico nacional, inclusive com a tendên-
trica da Companhia, Passo do Inferno. No cia à redução do poderio do Estado sobre a
final de 1949, a Capital era abastecida ape- infraestrutura.
nas das 22h às 5h e das 12h às 18h, embora A ideia de minimização da influência do
a Comissão tivesse duplicado em dois anos a Estado em todos os setores da economia foi
potência instalada. consolidada no governo de Fernando Henri-
Em 1950, foi instituída a Taxa de Eletri- que Cardoso e, em âmbito estadual, com o
ficação ( percentual de 10% sobre todos os então governador Antônio Britto, que ini-
impostos, exceto o de exportações) que os ci- ciaram as privatizações. A primeira empresa
dadãos gaúchos pagavam. Os recursos foram de energia do País a passar por este processo
utilizados para permitir a construção da in- foi a Light, do Rio de Janeiro – na época,
fraestrutura necessária à geração, transmis- uma das maiores empresas do País. No Rio

38
Grande do Sul, o Programa de Reforma do
Estado foi instituído em 1995 e, em 1996 foi
sancionada a lei que permitiu a alienação de
até 49% do capital social da CEEE. Outra
legislação deste mesmo ano permite ao po-
der Executivo reestruturar a Companhia. O
resultado, em 1997, foi a divisão do Estado
em três partes para a área de distribuição
de energia. Uma delas permaneceu com a
CEEE e as outras duas foram privatizadas,
parte para a AES Sul e outra para a RGE.

Os caminhos da energia: Depois que “viaja” por essas redes, a


No Rio Grande do Sul, a energia gerada energia é levada à subestações. A subesta-
é, em sua maioria, hidrelétrica, que é aquela ção de transmissão vai “reduzir” a tensão da
que vem das águas. Para que ela seja pro- energia que chegou pelas linhas para que ela
duzida, são construídas barragens por onde fique apropriada para ser levada até a subes-
a água passa com força por uma turbina, tação de distribuição, que é de onde ela sai
que roda e aciona o gerador, nas usinas. Este para ir até as casas.
produz a eletricidade.

Existem outras formas de produção de Na casa da gente, o gasto varia de acordo


energia, como a termelétrica, a eólica e solar. com os aparelhos e o tempo que os mante-
Depois que passa pelos geradores, a ener- mos ligados. É importante ter cuidado não
gia precisa ser “levada” até as subestações só no manuseio – uma vez que a energia elé-
que vão distribuí-la para as casas, prédios, trica é perigosa – como também com o gasto
indústrias, escolas, hospitais, etc. Esse trans- desnecessário. Usar racionalmente é a me-
porte é chamado de transmissão de energia lhor maneira de garantir que o recurso não
e pode ser observado pelas torres existentes acabe (lembre-se de que a água é finita e a
em diversos pontos do Estado, mesmo nas maior parte da energia é produzida a partir
regiões mais distantes. dela) e também de pagar menos. Por exem-

39
O caminho da Energia -

40
- da geração ao consumo

41
plo, a televisão deve estar desligada quando no tempo debaixo do chuveiro, ele é grande
ninguém estiver assistindo. Dormir com o consumidor de energia e pode fazer a con-
aparelho ligado também é desperdício. Dei- ta ir lá pra cima. Quando estiver quente, só
xar ligadas lâmpadas de peças em que não deixe o ventilador ligado, se estiver na peça.
tem ninguém é outro custo desnecessário. Também não deixe o local aberto se o que es-
Avise a família para, na hora da compra, tiver ligado é o ar-condicionado ou a estufa.
preferir as fluorescentes compactas, que são O ar da rua vai atrapalhar que o ambiente
mais econômicas, iluminam melhor e duram permaneça com a temperatura desejada.
mais. Com a geladeira existem cuidados que Também é importante lembrar que a
você pode auxiliar os pais, em casa. Só abra energia elétrica precisa ser usada com segu-
quando for necessário e não deixe que a parte rança. Quando precisar mexer nos fios ou
traseira dela seja utilizada para secar roupas nas tomadas, um profissional capacitado
ou calçados. Durante o banho não exagere deve ser contratado para fazer o serviço.

Dicas de Segurança
• O uso da energia elétrica de forma segura e sem desperdício pode melhorar a qualidade de vida,
preservar o meio ambiente e reduzir a conta de luz.
• Ao fazer reparos nas instalações de sua casa, desligue os disjuntores ou a chave geral. Não ligue
muitos aparelhos na mesma tomada, com benjamins. Isso pode provocar aquecimento nos fios,
desperdiçando energia e podendo causar curtos-circuitos.
• Nunca mexa no interior do televisor, mesmo que ele esteja desligado.
• Nunca mexa em aparelhos com as mãos molhadas ou com os pés em lugares úmidos. Não coloque
facas, garfos ou qualquer objeto de metal dentro de aparelhos elétricos ligados.
• Se tiver crianças em casa, não deixe que elas mexam em aparelhos elétricos ligados ou que toquem
em fios e tomadas.
• Ao trocar a lâmpada, não toque na parte metálica.
• Fios mal isolados na instalação podem provocar incêndio, além de desperdiçar energia.
• Ao queimar um fusível, procure identificar a causa. Após solucionar o problema, substitua o fusível
por outro de igual capacidade ou rearme o disjuntor.
• Não faça “GATOS” na rede elétrica, além de ser crime, você coloca em risco sua vida e de seus
familiares.
• Mantenha em bom estado de conservação o acesso ao medidor de energia; mantenha sua conta de
energia em dia, e garanta a prestação desse serviço indispensável.
• A rede elétrica é projetada de modo a não oferecer riscos à população. Mas chuvas, ventos, galhos
de árvores, colisão em postes e outros acidentes podem partir um cabo e deixá-lo pendurado ou
caído no chão. Cuidado: mesmo que falte luz nas casas próximas, não significa que o cabo caído
esteja desenergizado.

42
EXTRATIVISMO
EXTRATIVISMO
Areia, Calcário, Carvão, Pedras e outros elementos
Odila Paese Savaris
Extrativismo No processo de extração em leito, a areia
é extraída diretamente do leito dos rios,
Extrativismo significa resumidamente, através de dragas flutuantes. O material ex-
todo tipo de atividade de coleta de produ- traído é, normalmente, armazenado junto
tos naturais, sejam estes produtos de origem às margens dos rios nos pátios de estocagem,
animal, vegetal ou mineral. É a mais antiga de onde é embarcada em algum meio de
atividade humana, antecedendo a agricultu- transporte para chegar ao seu destino.
ra, a pecuária e a indústria. Praticada mun-
dialmente através dos tempos por todas as
sociedades.

Extração de areia

A areia é um material de origem mi-


neral composta basicamente de dióxido de
silício. Forma-se pela fragmentação das ro-
chas por erosão, pela ação do vento ou da
água. Quando sedimentada pode ser trans-
formada em arenito.
A areia é grandemente utilizada nas Do ponto de vista econômico é o processo
obras da engenharia civil, em aterros, pre- mais simples e rentável, mas como todo pro-
paração de argamassas e concretos e é utili- cesso extrativista apresenta impactos am-
zada, também, na fabricação do vidro. bientais que devem ser analisados e, tanto
O tamanho dos grãos de areia (daí a quanto necessário, minimizados a fim de que
classificação em fina, média e grossa) é que o progresso e o conforto do ser humano não
determina a sua utilização para uma ou ou- represente ao mesmo tempo a destruição do
tra finalidade. De qualquer forma, a areia ambiente natural.
extraída do solo a muitos anos, tem papel Eventuais desmatamentos da mata ciliar
fundamental na atual tecnologia de constru- devem ser feitos cumprindo um plano de
ções que conhecemos genericamente como sustentabilidade aprovado pelos órgãos ofi-
“de alvenaria”. ciais de proteção do meio ambiente. Assim
Praticamente toda a areia extraída também as consequências para a biótica flu-
para fins de construção civil utiliza intensa- vial devem ser analisadas e pesadas.
mente a água em seus processos, que se pode Por se tratar de um processo que retira
dividir em 3 grandes grupos: Extração em material do leito dos rios, haverá alteração,
Leito, Extração em Cava e Desmonte Hi- mesmo que temporária, da profundidade e
dráulico de Solos Residuais. da quantidade de água acumulada entre as

44
margens. Isso pode ter influência na navega- bientais decorrentes desse tipo de empreen-
ção, quando aquele manancial for uma via dimento. A principal conclusão é que embora
de circulação hídrica de embarcações. a extração de areia seja necessária, ela deve
O processo de extração de areia em ser feita de maneira a minimizar os impactos
cava consiste na retirada do material de áre- ambientais, tais impactos causados ao meio
as profundas, utilizando-se da água subter- ambiente, podem ser recuperados por meio
rânea como veículo do processo. Por meio da revejetação de área degradadas, através
mecânico é atingido o lençol freático e daí a do plantio de mudas de árvores, preferen-
extração por sucção. cialmente, nativas no em torno das cavas de
Essa forma de obtenção de areia ten- areia. A vegetação é de suma importância,
de a ser mais cara e menos atrativa economi- pois protege o solo dos danos causados pela
camente. Em termos de impacto ambiental, exposição ao sol e às chuvas, evitando a sua
o maior problema ocorre depois do abando- degradação.
no da mina, pois que a cava é abandonada, Praticamente, toda a areia natural
e ali permanece um espelho d’água artificial extraída para fins de construção civil, utiliza
permanente ocorrendo a contínua evapora- intensamente a água em seus processos, que
ção na área da cava. Diante disso há a ne- se pode agregar em 3 grandes grupos: Extra-
cessidade de que a área seja recomposta de- ção em Leito, Extração em Cava e Desmon-
pois de extinto o processo de extração. te Hidráulico de Solos Residuais.
O terceiro tipo de processo de ex- Quando o processo de extração nos
tração de areia constitui-se no desmonte leitos é feito, a areia é extraída diretamente
hidráulico de solos residuais, também co- no leito dos rios, feito com dragas que flutu-
nhecido por “areia de barranco”. É a lava- am. Do ponto de vista ambiental, há a ne-
gem, sob pressão, dos finos (argila e silte) em cessidade de desmatamento junto à margem
bancadas de solos residuais, separando-os dos rios, com danos à mata ciliar e áreas de
da areia. Trata-se de um processo que exige proteção permanente. Nos corpos hídricos,
tecnologia mais aprimorada e causa grande há o revolvimento do material do fundo dos
impacto ambiental, de difícil recomposição. rios, com possíveis prejuízos à biótica fluvial,
É um processo que praticamente não é utili- além de modificações da dinâmica de sedi-
zado no Rio Grande do Sul. mentação, com movimentação dos finos e
deposição em outros locais. Pode ocorrer por
A destruição dos rios, das hidro- breves períodos o aprofundamento da calha
vias e da mata ciliar dos rios que leva ao rebaixamento do nível
d´água. Em alguns casos, esse rebaixamento
As atividades de extração de areia são de pode fazer com que as tomadas d´água dos
grande importância para o desenvolvimento pontos de captação a jusante fiquem fora
social, mas igualmente responsáveis por im- d´água. No entanto, com o passar do tempo
pactos ambientais negativos, alguns inclusi- haverá nova reposição de material nos locais
ve irreversíveis. de extração, devido ao aporte de sedimentos
Neste sentido o objetivo central é do próprio rio.
avaliar qualitativamente os impactos am- Já no processo de extração em cava, a

45
extração da areia se dá em um ciclo fechado mítico.
e progressivo em área e profundidade, utili-
zando-se da água subterrânea como veículo
do processo. O processo é iniciado mecanica-
mente, até atingir o lençol freático, momen-
to em que passa a ser controlado pela água
subterrânea .
Finalmente, ao esgotar o recurso a
extrair, seja por atingir os limites horizon-
tais e verticais, seja por atingir os limites de
rentabilidade econômica, a cava é simples-
mente abandonada, voltando o nível d’água,
permanecendo então um espelho d’água ar-
tificial permanente na área da cava. Neste
espelho d´água permanente ocorre perpétua
evaporação e, conseqüentemente, perpétuo Conta a história que após a 2ª guerra
uso da água. mundial, os industriais gaúchos A. J. Ren-
Conhecido com desmonte hidráulico ner e J. Plangg, em visita à Alemanha cons-
de solos residuais, ou “areia de barranco”, tataram que os agricultores sobreviventes
esse processo de extração consiste na lava- da guerra, coletavam restos de reboco nas
gem sob pressão dos finos que são argila e o ruínas e misturavam com pedra calcária.
silte, separando-os da areia. Os solos residu- Esta mistura, com a denominação de calcá-
ais são, normalmente, oriundos da ação do rio agrícola, era moída finamente e incorpo-
intemperismo em rochas graníticas, gnáissi- rada aos solos agricultados para correção da
cas, quartzíticas ou xistosas. acidez.
Como pode ver, a atividade de extra- A indústria Plangg produzia equipa-
ção de areia tem profundos impactos sobre mentos para mineração e a pedido de Ren-
os rios e mananciais, destruindo suas mar- ner copiou os moinhos alemães daquela épo-
gens, a mata ciliar, rebaixando o lençol freá- ca, fornecendo uma máquina em 1952 para
tico e alterando os canais de navegação. que ele montasse no Rio Grande do Sul a
primeira usina de moagem de calcário para
Fonte: Áreas Criticas - http://www.ana.gov.br/sprtew/1/1- a agricultura.
-ANA.swf Esta usina situava-se no município
de Cachoeira do Sul. A empresa com a de-
O Calcário nominação de Mineração Irapuá, moía 04
toneladas por hora de pedra calcária, forne-
Os calcários são produtos minerais, ro- cida pela mineração de Emílio Burger.
chas sedimentares, formadas por dolomita, Em 1954, foram instaladas três fábri-
com quantidades acima de 30% de carbo- cas de calcário agrícola no estado. uma na
nato de calcário (aragomita ou calcita). A Vila Ibaré, município de São Gabriel, outra
rocha calcária é denominada calcário dolo- em Pantano Grande, na época 5º Distrito do

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Município de Rio Pardo, e a última em Ca- gia, na fabricação de vidro e como pedra or-
choeira do Sul, às margens do rio Jacuí. namental. É a pureza (maior ou menor) do
Mais tarde, no ano de 1955, foi im- calcário que definirá o seu uso para uma ou
plantada a fábrica Calcários Camaquense, outra atividade.
instalada em Pantano Grande, junto ao cru- A utilização do calcário como cor-
zamento da BR 290, com rodovia Encruzi- retor do solo tem contribuído muito para o
lhada do Sul/Rio Pardo. Esta unidade foi nível de produtividade da terra. Antes da
posteriormente vendida e passou a denomi- aplicação do calcário é conveniente que seja
nar-se Raabe Calcáreos Ltda. feita análise do solo para que seja determi-
Nos anos seguintes, outras fábricas nada a quantidade de calcário a ser aplica-
foram implantadas, sempre na mesma re- da. O índice de acidez (pH) varia de 0 a 14.
gião do Estado (entre Pantano Grande e Quanto menor o pH, maior a acidez do solo e
Caçapava do Sul, notadamente próximo das maior a necessidade de aplicação de calcário.
rodovias ou dos rios navegáveis, o que facili-
ta muito o transporte. A madeira
No ano de 1974, foi realizada a pri-
meira reunião dos representantes das usinas Antes da chegada dos colonizadores por-
produtoras de calcário para agricultura, na tugueses as terras brasileiras estavam total-
sede da FIERGS. Com a participação de mente cobertas por florestas e matas (pra-
cerca de vinte indústrias, foi fundada a As- ticamente virgens). Os únicos homens que
sociação, a qual depois de consolidada con- habitavam esta área eram os Índios. Esses
verteu-se em 1979 no Sindicato da Indústria usufruíam do espaço de uma forma muito
e da Extração de Mármore, Calcário e Pe- diferente da Européia. A derrubada de ár-
dreiras no Estado do Rio Grande do Sul. vores, por exemplo se dava em escala mui-
Hoje estão instaladas e operando dez to pequena, e em áreas pequenas. Apenas o
usinas dedicadas à produção de calcário para espaço suficiente para montar uma aldeia e
a agricultura no Rio Grande do Sul, com ca- cultivar a terra. A madeira extraída era uti-
pacidade de produção superior a 5,3 milhões lizada nas edificações e nas fabricações dos
de toneladas por ano. meios de transportes. A enorme variedade
No Rio Grande do Sul predomina a de espécies “arbóreas” permitia inúmeros
extração de calcário de minas ao céu aberto, usos: tinta, canoas, vigas, pilares, armas de
mas este produto também pode ser retida do caça, instrumentos musicais, instrumentos
mar, de lagos, de rios ou de cavernas, pois de trabalho. Com a chegada dos portugueses
que, na maioria das vezes, é formado por a extração da madeira se tornou uma ativi-
acúmulo de organismos inferiores, como as dade econômica altamente rentável (já que
cianobactérias, ou pela precipitação de car- no início a colônia não descobriu as riquezas
bonato de cálcio na forma de bicarbonatos. minerais do Brasil) - a madeira se tornou o
Os principais usos do calcário são: produ- principal produto de exportação).
ção de cimento Portland, produção de cal, Além do valor econômico da madeira, a
correção do pH (nível de acidez) do solo para nova população utilizava-se dela para elevar
a agricultura, como fundente em metalur- suas cidades e construir seus meios de trans-

47
portes. A arquitetura inicial era basicamente No estado, uma das espécies mais procu-
feita com madeira, utilizando as técnicas in- radas e extraídas foi a Araucária (Pinheiro-
dígenas locais. Como os índios (muitos deles) -brasileiro ou Pinheiro-do-Paraná), não por
foram escravizados, pode-se compreender o ser uma “madeira de lei”, mas pela sua ma-
porque de tanta miscigenação arquitetôni- ciez, flexibilidade e facilidade de manejo,
ca no período colonial. Pois as formas eram especialmente na fabricação de tábuas para
praticamente européias, porém as técnicas construção de casas e móveis.
construtivas em madeira, e o vasto conhe-
cimento das possibilidades desta, era indíge- A origem do termo “madeira de lei” remonta ao
na. A colônia inseriu seus utensílios de traba- tempo da chegada da família real de Dom João
lho, suas crenças, seus formatos de cidades, VI ao Brasil. Foi baixada uma “lei” que reservava
mas manteve o material e as técnicas locais. a utilização de algumas espécies de madeiras
Os carros de boi, carroças, barcos maiores, para uso exclusivo da coroa, especialmente na
construção naval.
casas maiores, utensílios domésticos ferra-
mentas e armas eram elaborados de acordo
com os europeus. Com o tempo, a extração O crescimento da exploração madei-
da madeira além de servir como produto de reira no Estado, especialmente entre o final
exportação servia como matéria prima para do século XIX e meados do século XX, seja
a produção de energia. O que fez com que para abrir espaço para as lavouras, seja para
a devastação fosse bem mais acentuada. A exploração da madeira como matéria prima,
madeira deixou por um bom tempo de ser impulsiona o desenvolvimento econômico,
utilizada nas construções para ser queimada mas cria grandes áreas desmatadas, com as
nas embarcações que passavam pelo litoral consequências normais de dano ao meio am-
brasileiro. Na arquitetura ficou rebaixada à biente: erosão do solo, redução do volume de
estrutura, e as casas tendo o adobe e a taipa, água dos rios e riachos (destruição da mata
como revestimento. Como se pôde ver a ma- ciliar), redução de produção de clorofila, etc.
deira esteve sempre muito relacionada com Além disso, o crescimento da exploração
a colonização tanto que o nome do país se madeireira no Estado enfatiza o maior dos
deu por causa da madeira que produzia os problemas enfrentados pelos madeireiros e
pigmentos vermelhos exportados. colonos em geral: a precariedade do sistema
de transporte e de escoamento da produ-
ção do interior. Estradas, ferrovias e portos
eram um problema muito mais do que eram
caminhos para o enriquecimento dos produ-
tores. Reclamações e reivindicações acerca
do tema eram comuns em jornais, cartas e
pedidos dirigidos ao governo local e federal.
A partir da década de 1910, industriais li-
gados diretamente à exploração madeirei-
ra passam a se organizar para obter maior
apoio e melhorias estruturais no escoamento

48
da produção, além da redução das taxas do do, seja pela escassez de árvores, seja pelas
transporte pela via férrea. O que, a princí- imposições da lei. Destaca-se, no entanto a
pio, era uma atividade de pequeno porte, indústria do florestamento (implantação de
ligada à necessidade de limpar lotes para a florestas em áreas que originariamente não
produção agrícola e instalação dos imigran- eram florestadas) com o cultivo de espécies
tes inicia o século XX, como indústria de exóticas (com origem em outros lugares do
grande porte e responsável por boa parte mundo) como o Eucalipto (origem da Oce-
das exportações do estado do Rio Grande do ania, especialmente da Austrália), o Pinus
Sul, especialmente com a Primeira Guerra Elliottii (origem no Canadá e Estados Uni-
Mundial e a necessidade de abastecer a Eu- dos) e a Acácia-negra (origem principal na
ropa com madeiras de construção. Oceania e Venezuela).
À medida que se intensifica a exporta- A extração de madeira de espécies exóti-
ção de madeira, a questão do desmatamento cas, seja para a produção de celulose, madei-
vem à tona. Leis e decretos são instaurados ra para móveis, curtição de couro (o tanino
para regularizar o corte, transporte, expor- é retira da casca da acácia negra) e mesmo
tação e reflorestamento no Rio Grande do para exportação, tem crescido nos últimos
Sul, fato que se reproduz em todos os es- anos e, além de transformar a paisagem, es-
tados com uma indústria madeireira repre- pecialmente da região da campanha, está se
sentativa. A primeira metade do século XX tornando uma nova alternativa econômica.
testemunha o auge da indústria madeireira,
especialmente daquela baseada na explora- Pedras Preciosas
ção da araucária, nos estados do sul do Bra-
sil. Institutos e associações são criados por A importância das nossas gemas
produtores e pelo governo, ordenando e, na O Rio Grande do Sul é um dos maiores
medida do possível, controlando a explora- produtores brasileiros de pedras preciosas e
ção desse importante recurso nacional. um dos mais importantes produtores mun-
Não há dúvida de que a indústria ma- diais de duas delas, ágata e ametista. Se
deireira foi forte e muito presente no sul do você já ouviu falar em pedra semipreciosas,
Brasil, gerando, até meados do século pas- esqueça. A distinção preciosa/semiprecio-
sado, um grau considerável de crescimento sa é arbitrária, confusa, desnecessária, não
econômico. Esse desenvolvimento, contudo, tem fundamento científico ou econômico e,
solapou rapidamente sua própria base natu- para o Brasil, é até prejudicial. Hans Stern,
ral de sustentação. Pode-se argumentar que dono da H. Stern, empresa brasileira com
faltou uma política mais forte e efetiva de 90 joalherias no país e mais 85 espalhadas
reflorestamento que pudesse ter diminuido por quatorze países, diz que “ não existe
o grau de devastação das florestas locais e pedra semipreciosa como não existe mulher
dotasse a economia madeireira sulista de um semigrávida “. Segundo o IBGM (Instituto
mecanismo de auto-sustentabilidade econô- Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos), o
mico-ecológica. Rio Grande é o segundo maior exportador
Atualmente a extração de madeira de brasileiro de gemas brutas (US$ 10.175.000
plantas nativas é muito reduzida no esta- em 1997) e lapidadas ((US$ 18.622.000), só

49
perdendo para Minas Gerais. Com relação A ágata caracteriza-se por ter cores varia-
a obras feitas com pedras preciosas, ocupa- das, dispostas em faixas paralelas, retas e/
mos o primeiro lugar (US$ 5.863.000), bem ou concêntricas. As cores mais comuns são
à frente do Rio de Janeiro (US$ 2.070.000) e cinza e cinza-azulado, havendo também fai-
de Minas Gerais (US$ 1.568.000). xas de cores branca, preta, amarela, laranja,
bege, vermelha e marrom. Quando as cores
O que produzimos não são atraentes, limitando-se a tons de cin-
A produção gaúcha é grande, mas se za, por exemplo, pode-se aproveitar o fato de
apóia em apenas três gemas: ametista, citri- a ágata ser porosa e tingi-la. Surgem assim
no e ágata, todos variedade de quartzo. ágatas muito bonitas de cores verde, rosa,
A ametista é a mais valiosa das três pe- roxa e azul. Esse processo é usado em muitos
dras preciosas. É um quartzo de cor roxa, em países e até mais do que aqui. Nossas ágatas
tons que vão do bem claro ao roxo profundo. são consideradas as mais bonitas do mundo
De toda nossa grande produção, apenas 3% e só uns 40% delas são tingidas, enquanto
são adequadas para lapi- no Exterior o tingimento é usado em mais
dação, sendo o restante de 50% das ágatas. É importante frisar que
vendido como peças o fato de ser tingida não diminui em nada o
decorativas e/ou valor comercial dessa gema.
para coleção. Nosso Estado é também muito rico em
O citrino é madeira fóssil (xilólito), com a qual se po-
amarelo a la- dem obter belíssimos objetos decorativos,
ranja, excep- bijuterias e mesmo jóias. Atualmente, sua
cionalmente produção está suspensa por medida legal,
vermelho, caso aguardando-se uma avaliação do nosso po-
em que vale bem tencial para então se decidir onde pode ser
mais. É mais raro extraída e em que volume.
que a ametista, mas Outras gemas gaúchas, menos valiosas,
vale menos, provavelmente porque sua cor é são o cristal-de-rocha (quartzo incolor),
bem mais comum entre as pedras preciosas. abundante mas aproveitado apenas como
É importante salientar que citrino é extre- peça de coleção ou decorativa; jaspe (verde
mamente raro no Rio Grande do Sul e que ou vermelho); cornalina (alaranjada a ver-
nossa produção provêm do aquecimento da melha) e ônix (preto). Há ainda variedades
ametista, o que provoca oxidação do ferro de sílica de formas e arranjos exóticos, co-
nela existente e conseqüente mudança de nhecidas entre produtores e comerciantes
cor. Isso é feito quando a cor da ametista é por nomes populares: conchinha de ágata
muito fraca, impedindo-a de alcançar bom (ou medalha), pratinho, flor de ametista, ge-
preço no mercado. Nem sempre, porém, o odinhos, pedra d´água, etc.
tratamento térmico dá um produto de maior Por fim, merecem ser citadas a calcita e
valor. O que chamam, no comércio, de “ to- a selenita, que não são pedras preciosas mas
pázio Rio Grande “ nada mais é que esse ci- são produzidas comercialmente em nosso
trino. Estado para decoração e coleções. A seleni-

50
ta, aliás, forma cristais tão grandes e límpi- O melhor lugar para comprar é Sole-
dos como em nenhum outro país. dade, 190 km a Noroeste de Porto Alegre.
O município não é produtor de gemas (ao
Onde estão contrário do que muitos pensam), mas é o
A ametista gaúcha provém principal- maior centro de bene-
mente da região em torno de Ametista do ficiamento, comercia-
Sul, no Norte do Estado. Além desse muni- lização e exportação
cípio, produzem gemas Iraí, Frederico Wes- do Estado. Dezenas
tphalen, Rodeio Bonito, Cristal do Sul, Pla- de lojas e indústrias
nalto e, em menor quantidade, Trindade do oferecem enormes
Sul e Gramado dos Loureiros. É dessa região quantidade e va-
também que sai a selenita, os pratinhos, flo- riedade de gemas
res-de-ametista e belas ágatas (estas pouco e outros mine-
abundantes). rais, provenientes
A ágata provém principalmente de Sal- de vários estados
to do Jacuí, no centro do Estado. Mas brasileiros e até
é largamente produzida em mesmo do exte-
vários outros municípios, rior. Lá, encontra-
como Lagoão, Fontou- -se ametista bruta, em belos geodos, por
ra Xavier, Progresso e US$ 8,00 a 12,00 / kg. Citrino, ágata, cristal-
Nova Brescia. Além -de-rocha, quartzo róseo, quartzo verde, jas-
da ágata, gemas en- pe, sodalita, selenita e calcita são facilmente
contradas com mais encontradas, por preços menores que os da
freqüência são ame- ametista.
tista, cornalina, cris- Lajeado, a 90 km de Porto Alegre (no
tal-de-rocha e ônix. caminho para Soledade) já foi um grande
Em todas as áreas centro comercial nesse setor, mas hoje conta
produtoras de ametista com pouquíssimas lojas. Em Porto Alegre,
se faz sua transformação em há várias lojas que vendem pedras brutas e
citrino. lapidadas, mas ainda são poucas frente ao
O cristal-de-rocha é abundante em toda tamanho da cidade. Os preços, é claro, são
a metade norte do Estado, aparecendo em mais altos que em Soledade e a variedade,
menor quantidade na porção sul. bem menor.
A madeira fóssil ocorre principalmen-
te nos municípios de Mata e São Pedro do Carvão gaúcho: gerando energia e
Sul, mas pode ser vista em Pantano Grande, desenvolvimento social
Butiá, São Vicente do Sul, Santa Maria, e
vários outros, ao longo de uma faixa leste- A escassez de energia elétrica, aliada à
-oeste, no centro do Estado. menor disponibilidade de recursos hídricos
competitivos, faz com que a geração térmica
Onde comprar passe a ser um dos focos principais das possi-

51
bilidades de expansão do sistema elétrico nacional.
A geração de energia a partir do carvão mineral, com a aplicação de tecnologia atualiza-
da, é ambientalmente aceitável, além de ser
uma alternativa técnica e economicamente
viável. Principalmente na Jazida de Candio-
ta, que possui as condições geológicas mais
favoráveis do país.
Por isso o carvão tende a assumir um pa-
pel muito importante no contexto nacional,
tal como já ocorre no restante do planeta. De
acordo com dados da Agência Internacional
de Energia (IEA), o carvão é a fonte mais
utilizada para geração de energia elétrica no
mundo, respondendo por 41% da produção
total. A sua participação na produção global
de energia primária, que considera outros usos além da produção de energia elétrica, é de
26%. E aAgência também projeta que o minério manterá posição semelhante nos próximos
30 anos.

O carvão e o desenvolvimento econômico


• O carvão produz 41% da eletricidade mundial - duas vezes mais do que a segunda maior
fonte de produtora de energia.
• O carvão é importante para a produção de cimento, outros processos industriais, e pode
também ser utilizado como produtor de energia líquida.
• A demanda global pelo carvão irá aumentar de 69% em 2002 para 78% no ano de 2030.
• O carvão é uma valiosa fonte natural de energia para muitos países em desenvolvimen-
to, como a Índia, China, Indonésia e África do Sul.
• Um bilhão e 600 mil pessoas em países em desenvolvimento não têm acesso à eletricida-
de. Em muitos países o carvão será o caminho para a eletrificação e uma vida melhor.
• Nas últimas duas décadas, cerca de 1 bilhão de pessoas tiveram acesso à eletricidade
através do carvão.
• O setor carbonífero fornece 7 milhões de empregos diretos em todo o mundo e a produ-
ção de carvão é principal atividade econômica em muitos países.

Seqüência das atividades de mineração do carvão


A mineração do carvão pode ser subterrânea ou a céu aberto. Isto depende, basicamente,
da profundidade e do tipo de solo sob o qual o minério se encontra. Se a camada que recobre
o carvão é estreita ou o solo não é apropriado à perfuração de túneis (por exemplo, areia ou
cascalho), a opção é a mineração a céu aberto. Se, pelo contrário, o mineral está em camadas
profundas ou se apresenta como veios de rocha, há a necessidade da construção de túneis.
Neste último caso, a lavra pode ser manual, semimecanizada ou mecanizada. A produtivi-

52
dade das minas a céu aberto é superior a das lavras subterrâneas. No Brasil, a maior parte
do carvão mineral é explorado desta forma, com rigorosos cuidados visando causar o menor
impacto possível ao meio ambiente.
Assim, o processo de extração do mineral se dá da seguinte forma:
1. Retirada da terra vegetal
Definido o planejamento de lavra e delimitada a área a ser minerada,
a terra vegetal que cobre este setor é retirada através de escavadeira
e caminhões de pequeno porte para que a mesma não seja misturada
e perdida durante as demais operações de lavra.

2. Descobertura do carvão
Nesta etapa, o material que cobre as camadas de carvão é retirado
e depositado lateralmente, formando pilhas com formato cônico que
passam a ocupar os locais já minerados.

3. Extração do carvão
As camadas de carvão, agora expostas, são extraídas com a utilização
de explosivos e carregadas por escavadeiras em caminhões fora-de-
-estrada de grande porte.

4. Terraplenagem das pilhas de estéril


Tratores de esteiras aplainam os cones de estéril formados pelos ma-
teriais da descobertura, retornando a configuração topográfica do
terreno mais próxima possível da original, conforme estava antes da
mineração do carvão.
5. Integração ambiental da área
Concluída a recuperação ambiental, e estando a área estabilizada, a
mesma pode ser devolvida a seus proprietários, voltando a desempe-
nhar seu papel econômico.

6. Espalhamento da terra vegetal


O solo orgânico, retirado das frentes de mineração, é depositado e
espalhado sobre o terreno terraplenado com o auxílio de trator de
lâmina.

7. Correção, adubação e plantio


O solo é preparado com a adição de calcário e adubo, recebendo um co-
quetel de sementes de gramíneas para iniciar a revegetação do mesmo.
O controle da erosão é fundamental nesta etapa.

8. Monitoramento
Os efluentes líquidos da área de mineração são constantemente anali-
sados para verificar a qualidade e o pH (acidez). O mesmo ocorre com
o solo, cuja fertilidade deve retornar aos padrões da região.

53
Companhia Riograndense de Mi- tir da área São Vicente Norte, localizada no
neração Km 181 da BR-290, a três quilômetros do
poço P1. A área possui uma reserva de 6 mi-
História lhões de toneladas, também passíveis de mi-
A CRM é oriunda do Departamento Au- neração a céu aberto.
tônomo de Carvão Mineral (DACM), criado No local a CRM produz mensalmente
em 1947, visando a exploração industrial e cerca de 30 mil toneladas de carvão ROM,
comercial, e o beneficiamento de carvão mi- empregando equipamentos tradicionais de
neral para abastecer a viação férrea do Rio terraplanagem em seus trabalhos. O carvão
Grande do Sul. Em outubro de 1969, a ne- extraído é transportado até o lavador Eng.
cessidade de maior flexibilidade operacional Eurico Rômulo Machado, para sofrer o pro-
frente às perspectivas de expansão da produ- cesso de beneficiamento. Esta planta tem ca-
ção, o DACM transformou-se na Companhia pacidade de beneficiar até 120 t/h de carvão
Riograndense de Mineração (CRM), socieda- bruto.
de de economia mista vinculada à Secretaria
de Infraestrutura e Logística do Estado do Mina do Leão II
Rio Grande do Sul. Também localizada no município de Mi-
nas do Leão, a seis quilômetros ao norte da
Minas Mina do Leão I, a obra recebeu investimen-
As unidades mineiras da CRM em ativi- tos no valor de US$ 70 milhões na década
dade estão situadas nos municípios de Minas de 80.
do Leão e Candiota, com exploração a céu A infra-estrutura existente no local cons-
aberto. Também possui a jazida do Iruí, na titui-se de dois túneis inclinados de acesso à
região de Cachoeira do Sul, sobre a qual são camada de carvão; seis quilômetros de ga-
desenvolvidos estudos visando avaliar a via- lerias no subsolo; silos subterrâneos para
bilidade financeira de retomar a mineração carvão; poço de ventilação com 220 metros
no local. de profundidade; prédios com 10 mil metros
quadrados de área útil e equipamentos di-
Mina do Leão I versos para a lavra e beneficiamento do car-
Situa-se no município de Minas do Leão, vão.
a 90 quilômetros de Porto Alegre, próximo Em 2002, a CRM assinou contrato de ar-
à BR-290. A Mina do Leão I teve sua ope- rendamento dessa mina com a Carbonífera
ração iniciada em 1963, através do poço P1, Criciúma S.A. por um prazo de 30 anos, sen-
com 125 metros de profundidade. Os tra- do que a CRM terá direito a royalties decor-
balhos de subsolo foram interrompidos em rentes da venda do carvão produzido.
2002, principalmente devido aos altos custos
da mineração. A partir disso, a CRM passou Mina de Candiota
a explorar a área da Boa Vista, passível de Localizada no município de Candiota, a
mineração a céu aberto, que se exauriu em 400 quilômetros ao sul de Porto Alegre, está
2008. inserida na maior jazida de carvão mineral
Atualmente, a produção acontece a par- do Brasil. As reservas de carvão são de 1 bi-

54
lhão de toneladas passíveis de serem mine- ção ambiental.
radas a céu aberto, em profundidades de até Mesmo antes do surgimento das leis am-
50 metros. bientais, a CRM já iniciava os primeiros tra-
A CRM vem trabalhando nessa região balhos de recuperação de solos em áreas de
desde 1961, objetivando em especial a pro- mineração de carvão.
dução de carvão termelétrico. Em 2004, a A área da Boa Vista, em Minas do Leão,
empresa iniciou as tratativas para o projeto incorporou a recuperação do solo em sua
de duplicação da capacidade instalada desta operação de mineração a céu aberto já antes
unidade, que passou de 2 para 5 milhões de da década de 80.
toneladas de carvão a fim de atender a Fase Em 1981, a Mina do Iruí, em Cachoeira
C- Candiota III da Usina Termelétrica Pre- do Sul, já operava com recuperação conco-
sidente Médici (Eletrobrás CGTEE) a partir mitante do solo, uma das experiências mais
de 2011. bem sucedidas da empresa.
Os primeiros experimentos de revegeta-
Jazida do Iruí ção de áreas mineradas em Candiota ocorre-
Localizadas na Bacia Sedimentar do Bai- ram em 1980.
xo Jacuí, as concessões da CRM na Jazida
do Iruí têm início no Km 240 da BR-290 e RECUPERAÇÃO DE ÁREAS MI-
seguem até o Km 265, abrangendo os mu- NERADAS
nicípios de Cachoeira do Sul, Rio Pardo e
Encruzilhada do Sul. Nessa jazida já foram Concluída a mineração do carvão, a céu
realizadas 594 sondagens profundas, perfa- aberto, as etapas de recuperação compreen-
zendo 26.642 metros perfurados com recu- dem os seguintes passos:
peração de testemunhos, possibilitando a - Recomposição topográfica;
determinação das reservas. - Espalhamento do solo vegetal;
A CRM explorou parte desta jazida na - Correção e adubação do solo;
década de 80. Atualmente, após serem fir- - Revegetação.
mados protocolos de intenção, estão sendo Na recomposição topográfica, procura-se
desenvolvidos projetos no intuito de avaliar fazer com que o aspecto visual do terreno
a viabilidade financeira de retomar a mine- ganhe contornos muito próximos ou pareci-
ração na área. dos com os que tinha originalmente. Isso é
realizado durante a deposição dos materiais
Política Ambiental que serviam de cobertura para o carvão e
A CRM considera o meio ambiente um com o auxílio de tratores de esteiras.
fator relevante em todas as etapas de pro- Estando o terreno devidamente confor-
dução de suas unidades mineiras, conside- mado, espalha-se as camadas mais férteis
rando-se comprometida com a preservação de solo, comumente chamadas de terra ve-
e o equilíbrio ambiental. Para tanto, procu- getal - e que foram retiradas das frentes de
ra associar a produção de um bem mineral mineração antes da descobertura do carvão,
essencial para o desenvolvimento humano sobre estes materiais.
com as mais modernas técnicas de preserva- Devidamente analisado, este solo será

55
corrigido com a adição de calcário e aduba- monitoramento da CRM, composto por aná-
do para receber o primeiro plantio. lises quantitativas, realizadas mensalmente,
tendo como alvo os parâmetros: vazão, pH,
alcalinidade, dureza, turbidez, condutivida-
de elétrica, DQO, sólidos totais, sólidos fixos
e sólidos voláteis, além de elementos meno-
res.
Minimiza-se os impactos no solo preven-
do-se, no próprio projeto de lavra, operações
que possibilitem a recuperação concomitan-
te do mesmo.
Nas águas, procura-se mantê-las o míni-
mo possível em contato com o carvão, dre-
nado-se constantemente as cavas de minera-
Faz-se, finalmente, a implantação da ve- ção. Bacias de sedimentação e neutralização
getação. O usual, mesmo em áreas que re- completam o tratamento antes de jogá-las
ceberão a implantação de arbóreas é que, nas drenagens naturais.
primeiramente, proceda-se ao plantio de
gramíneas, propícia para aquela estação do PASSIVOS AMBIENTAIS
ano e de crescimento rápido, inibindo qual- Áreas que sofreram mineração antes do
quer possível erosão e perda do solo vegetal. advento das leis e regulamentos que hoje
norteiam as operações de lavra não recebe-
MONITORAMENTO AMBIEN- ram, salvo raras exceções, os cuidados neces-
TAL sários para assegurar a efetiva recuperação
ambiental das mesmas. Muitas delas, prin-
Os maiores impactos gerados pela mine- cipalmente as que sofreram mineração a céu
ração de carvão se fazem sentir no solo e nas aberto, tornaram-se passivos ambientais
águas. Para um completo controle das áreas que hoje em dia também merecem a atenção
impactadas e das emissões de efluentes con- da empresa.
taminados, a CRM conta com o auxílio de
um completo levantamento topográfico das Ações na Mina do Leão
áreas afetadas e tem implantada uma rede As áreas de mineração a céu aberto São
de monitoramento de qualidade do solo e da Vicente Sul, Taquara I, Taquara II e Boa
água (tanto superficial como subterrânea). Vista, sofreram processos de mineração, seja
O tratamento ou a neutralização das a céu aberto seja em subsolo, em décadas
drenagens das áreas mineradas visa, basica- passadas. Todas apresentavam ,em menor
mente, a correção da acidez da mesma (pH), ou maior grau, degradação ambiental de-
com a utilização de cal e calcário. Corrigido vido a estas operações. Visando solucionar
o pH, há a remoção de sólidos e drástica re- estes problemas, a CRM idealizou processos
dução de metais dissolvidos. O controle de de mineração das reservas ainda existentes
efluentes líquidos faz parte do programa de nestas áreas agregados com projetos de re-

56
cuperação ambiental das mesmas. da de 80. A mineração foi retomada recente-
mente, em 2002, comprometendo-se, a CRM,
Área São Vicente Sul: a devolvê-la ambientalmente recuperada. A
Após minerada até início da década de 90, mineração foi encerrada em 2008 e continu-
teve sua recuperação ambiental concluída am os trabalhos de recuperação ambiental.
em 1997.
Ações na Mina de Candiota
Área Taquara I: A área denominada Malha I, cuja mine-
Com trabalhos de mineração concluídos ração a céu aberto iniciou na década de 60
em 1998, foi totalmente recuperada. e abasteceu a primeira usina implantada na
região (Candiota I), não sofreu, na época,
Área Taquara II: nenhum trabalho de recuperação ambiental.
Antigo depósito de rejeitos, foi reminera- Em 2003, a CRM iniciou a recuperação de
da até início de 2002; um parque poliespor- seus 65 hectares, e que se prolongam até os
tivo, para utilização pela comunidade local, dias de hoje.
está em final de implantação. A Malha II, minerada até 1989, não pre-
via trabalhos de recuperação ambiental con-
Área Boa Vista: comitante em seu projeto original de lavra a
Com processos de mineração registrados céu aberto. Desde o início da década de 90
ainda na primeira metade do século passa- estamos realizando trabalhos de recupera-
do, havia sofrido trabalhos de recuperação ção ambiental em 300 hectares, objetivando
ambiental durante a campanha de minera- reduzir os impactos negativos advindos des-
ção ocorrida no final de década de 70 e início ta operação.

Mina de Candiota completou 50 anos em 2011


Foto: Fernando Dias

57
Ações na Mina do Iruí
Minerada entre 1981 e 1987, a cava
da antiga mina permanece aberta até
os dias de hoje. Visando a recuperação
da mesma, a CRM desenvolveu projetos
para implantar na área um aterro con-
trolado de resíduos sólidos urbanos. Com
mais de um milhão de metros cúbicos
disponíveis, o empreendimento poderá
atender os municípios da região central
do Estado. Na foto ao lado, a Mina de
Iruí atualmente.

Localização das
Minas

58
AGRICULTURA
O CELEIRO DO BRASIL
A produção agrícola no Rio Grande do Sul
Paulo Lindner
Características: Principais Rios: Uruguai, Taquari, Ijuí,
Localização: o Rio Grande do Sul, estado Jacuí, Ibicuí, Pelotas, Camaquã
brasileiro, fica no extremo sul da região Sul Os rios que banham o estado pertencem à
As fronteiras: Norte - Santa Catarina; Sul bacia do Prata e o principal deles é o rio Uru-
- Uruguai; Leste - Oceano Atlântico; Oeste - guai, formado pela junção dos rios Canoas e
Argentina. Pelotas, na divisa do estado do Rio Grande
Extensão Territorial (km²): 282.062 do Sul com o estado de Santa Catarina
Relevo: planície litorânea com restingas e Vegetação: campos (campanha gaúcha) a
areias, planaltos a Oeste e Nordeste, depres- Sul e Oeste, floresta tropical a Leste, matas
sões no centro. das araucárias a Norte, mangues litorâneos
Seu relevo apresenta três regiões natu-
rais, que podem ser facilmente identifica- Clima: subtropical
das: o planalto Serrano, o pampa e a região Predomina no estado do Rio Grande do
lagunar. O planalto Serrano ocupa mais da Sul o clima subtropical, sendo que na região
metade do território do estado, estendendo- do planalto Serrano o clima é subtropical
-se por toda a parte setentrional em direção de altitude, com temperaturas médias in-
ao sudoeste. Na região serrana, localizada feriores a 20º C e chuvas abundantes, regu-
a nordeste, encontram-se altitudes de 900 larmente distribuídas. Devido à latitude, na
a 1.000 metros, chegando a apenas 100 me- região do pampa gaúcho as médias térmicas
tros no vale médio do rio Uruguai. Na parte são inferiores a 18ºC e as chuvas são relativa-
meridional apresenta escarpas de cuestas, mente escassas. A região lagunar do litoral
designadas pelo nome genérico de Coxilha caracteriza-se pela escassez de chuvas.
Grande, que caem para a depressão Central. Esses dados são importantes para o de-
Nessa parte do relevo do estado podem ser senvolvimento agrário adequado.
encontradas extensas campinas e também A agricultura compõe a economia do Rio
regiões de florestas, onde predominam as Grande do Sul, junto com outros setores,
araucárias e a vegetação da mata atlântica. conhecido tradicionalmente como “Celei-
O pampa gaúcho localiza-se na parte centro- ro do Brasil”, a produção agrícola inclui as
-meridional do estado e corresponde a um culturas de soja, arroz, feijão, milho, trigo e
planalto de ondulações suaves, com altitu- demais (Amendoim, Aveia, Canola, Centeio,
des inferiores a 500 metros. A região lagunar Cevada, Girassol, Sorgo, Caroço de Algodão,
na costa atlântica apresenta paisagem de Mamona e Triticale).
praias com dunas e restingas, além de enor- O Rio Grande do Sul, situado fora do eixo
me quantidade de lagunas, destacando-se de comércio do Brasil com Portugal, limi-
entre as maiores, as lagoas dos Patos, Mirim tou-se a fornecer, muares, gado e charque,
e Mangueira alimento básico de escravos e população de

60
baixa renda. No início do século XX, o Rio legumes e verduras. A influência cultural do
Grande se torna responsável por uma gran- imigrante também é notável.
de fatia da produção agrícola nacional, assu- A da agricultura, trazida pelos imigran-
mindo a função de “celeiro do Brasil. tes, primeiramente, alemães e italianos e
Os nativos, no período conhecido com outros que vieram se juntar, colaborou na
pré-colombiano, não plantavam, eram nô- riqueza da culinária gaúcha e na grande di-
mades, aproveitando o que a natureza ofe- versidade cultural que atrai diversos turistas
recia em determinado local até seu esgota- ao nosso estado.
mento. As matas foram dando lugar as lavouras,
A evolução histórica mostra que os índios, tornando o estado um dos principais produ-
estabelecidos no território que viria a ser o tores de grãos do Brasil. As dificuldades fo-
Rio Grande do Sul, exceto os Pampeanos, ram vencidas com a dedicação dos colonos,
plantavam mandioca, milho, feijão, abóbo- muito trabalho com técnicas rústicas, utili-
ra, fumo, batata-doce, erva-mate e algodão, zando arados de madeira com tração animal
para sua subsistência. e por vezes puxados pelos próprio plantado-
O aldeamento dos indígenas possibilitou res.
a introdução de técnicas de cultivo e apro- As festas realizadas em diversos municí-
veitamento do solo. Na segunda fase das pios são originadas nos produtos principais
Missões, a produção agrícola era comerciada da agricultura local: Festa do moranguinho,
em Buenos Aires, entretanto, a agricultura da bergamota, da amora, das rosas, da erva-
sul-riograndense se desenvolveria com a che- -mate, pêssego, arroz e polenta, apenas para
gada dos colonos europeus. citar algumas.
Os açorianos receberam terras para plan- O Rio Grande do sul é destaque na pro-
tar trigo e videiras. A adaptação a vida cam- dução de alimentos no Brasil e os gaúchos
peira transformou agricultores em criadores migraram para outros estados e ajudaram
de gado, dividindo a atividade econômica no desenvolvimento agrário de outros esta-
com o cultivo da terra e logo se afirmando a dos brasileiros.
pecuária como atividade principal. Não sig- A soja é a cultura agrícola brasileira que
nificando que a agricultura fosse abandona- mais cresceu nas últimas três décadas e cor-
da, o trigo ocupou lugar de destaque na eco- responde a 49% da área plantada em grãos
nomia colonial, conforme Dante de Laytano
(1984), nossas origens foram pastoris.
Com a chegada dos alemães e mais tarde
dos italianos as atividades agrícolas seriam
retomadas com mais intensidade. As colô-
nias se multiplicaram e com elas a diversifi-
cação das plantações. A criação das colônias
estimulou o trabalho rural. Deve-se aos imi-
grantes a implantação de novas e melhores
técnicas agrícolas, como a rotação de cultu-
ras, assim como o hábito de consumir mais

61
do país. O aumento da produtividade está associado aos avanços tecnológicos, ao manejo e
eficiência dos produtores. O grão é componente essencial na fabricação de rações animais e
com uso crescente na alimentação humana encontra-se em franco crescimento.
Cultivada especialmente nas regiões Centro Oeste e Sul do país, a soja se firmou como um
dos produtos mais destacados da agricultura nacional e na balança comercial.

MERCADO INTERNO EXPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO


IMPORTAÇÃO
A previsão da O complexo de soja
taxa de crescimento (grão, farelo e óleo) é o Brasil é autosuficiente na
anual de produção de principal gerador de divisas produção de soja, abastecendo
soja é de 2,43% até cambiais do Brasil, com o mercado interno e enviando o
2019, próxima da taxa negociações anuais que excedente ao mercado externo.
mundial, estimada em ultrapassam US$ 20 bilhões. O consumo interno está em
2,56% para os próximos Em 2019, a produção constante ascensão e a previsão
dez anos. Estima-se nacional deve representar é de que 45% do aumento da
a produção de 80,9 40% do comércio mundial do produção seja destinado ao
milhões de toneladas. grão e 73% do óleo de soja. mercado interno em 2019.

O arroz está entre os cereais mais consumi-


dos do mundo. O Brasil é o nono maior produtor
mundial e colheu 11,26 milhões de toneladas na
safra 2009/2010. A produção está distribuída nos
estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Mato Grosso
O cultivo de arroz irrigado, praticado na re-
gião Sul do Brasil contribui, em média, com 54%
da produção nacional, sendo o Rio Grande do Sul
o maior produtor brasileiro. Em Santa Catarina,
o plantio por meio do sistema pré-germinado res-
ponde pelo segundo lugar na produção do grão
irrigado, com 800 mil toneladas anuais.
As projeções de produção e consumo de arroz, avaliadas pela Assessoria de Gestão Es-
tratégica do Mapa, mostram que o Brasil vai colher 14,12 milhões de toneladas de arroz na
safra 2019/2020. Equivale ao aumento anual da produção de 1,15% nos próximos dez anos.
O consumo deverá crescer a uma taxa média anual de 0,86%, alcançando 14,37 milhões de
toneladas em 2019/2020. Assim, a importação projetada para o final do período é de 652,85
mil toneladas. A taxa anual projetada para o consumo de arroz nos próximos anos, de
0,86%, está pouco abaixo da expectativa de crescimento da população brasileira.
O Rio Grande do Sul apresenta vocação para as pequenas propriedades agrícolas fami-
liares, nas quais a mandioca sempre foi uma cultura de importância, servindo tanto para

62
alimentação humana quanto para a alimen- garina, xarope de glicose e flocos para cere-
tação animal. A cultura da mandioca (ai- ais matinais.
pim) envolve hoje cerca de 30 mil famílias, A viticultura brasileira ocupa, atualmen-
70 agroindústrias e mais de 1,5 mil pessoas. te, área de 81 mil hectares, com vinhedos
A mandioca já era plantada pelos nativos desde o extremo Sul até regiões próximas
habitantes do sul do brasileiro. à Linha do Equador. Duas regiões se desta-
cam: o Rio Grande do Sul por contribuir, em
média, com 777 milhões de quilos de uva por
ano, e os polos de frutas de Petrolina/ PE
e de Juazeiro/BA, no Submédio do Vale do
São Francisco, responsável por 95% das ex-
portações nacionais de uvas finas de mesa.
Embora a produção de vinhos, suco de
uva e derivados da uva e do vinho também
ocorra em outras regiões, a maior concen-
tração está no Rio Grande do Sul, onde são
elaborados, em média anual, 330 milhões
de litros de vinhos e mostos (sumo de uvas
O Brasil é o terceiro maior produtor frescas que ainda não tenham passado pelo
mundial de milho, totalizando 53,2 milhões processo de fermentação).
de toneladas na safra 2009/2010. A primei-
ra ideia é o cultivo do grão para atender ao
consumo na mesa dos brasileiros, mas essa é
a parte menor da produção. O principal des-
tino da safra são as indústrias de rações para
animais.
Cultivado em diferentes sistemas produti-
vos, o milho é plantado principalmente nas
regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. O grão é
transformado em óleo, farinha, amido, mar-

Além dos fatores naturais da Serra Gaú-


cha, que permitem a obtenção de uvas com
elevado teor de acidez, a estrutura agroin-
dustrial existente também é favorável para
a produção de destilados de vinho, como o
conhaque. Apenas uma pequena parte das
uvas cultivadas no sul do País é destinada ao
consumo in natura. A fruta é utilizada, em

63
sua maioria, na elaboração de vinhos con- Catarina, responde por 95,26% da produção
centrando mais de 90% da produção nacio- brasileira.
nal. A região dos Campos de Cima da Serra
O Rio Grande do Sul é o maior produ- é a maior produtora com 67,7% do total
tor nacional de uva, sendo responsável por produzido, 221.347 toneladas. Destacam-se
51,1% da produção nacional. Produção esta os municípios de Vacaria, que responde por
que vem aumentando: passou de 461.290 to- 43,45% da produção (142.113 toneladas),
neladas na média 1998 a 2000 para 519.138 juntamente com os municípios de Caxias do
toneladas em 2001 a 2003 e alcançou em Sul com 66.773 toneladas e Muitos Capões
2004 a 2006 a marca de 644.115 toneladas. com 29.000 toneladas.
A região da Serra é a maior produtora O Estado possui a oitava produção de
com 80,86% do total produzido, ou seja, feijão do país, com 109.624 toneladas. Sua
520.823 toneladas. Todos os municípios com participação na produção nacional baixou
produção superior 10.000 toneladas locali- de 5,2% para 4,8% e de 4,8 para 3,5%, con-
zam-se nesta região, destacando-se Bento siderando a média dos períodos1998 a 2000,
Gonçalves com 114.780 toneladas (17,82% 2001 a 2003 e 2004 a 2006.
da produção estadual), Flores da Cunha com A produção de feijão no Estado está nor-
82.040 toneladas, Caxias do Sul com 49.727 malmente associada às áreas de pequena
toneladas, Farroupilha com 48.736 tonela- propriedade e a produção aparece diluída
das, e Garibaldi com 41.940 toneladas. Cabe em vários municípios. Os que apresentam
salientar que recentemente, municípios situ- maior produção são: Vicente Dutra com
ados nas regiões da Fronteira Oeste (Santa- 5.046 toneladas, Canguçu com 3.480 tonela-
na do Livramento) e Campanha (Bagé), vêm das, Planalto com 3.223 toneladas e Caiçara
aumentando sua participação na produção com 3.141 toneladas.
de uva, como resultado do desenvolvimento Do ponto de vista da distribuição regio-
da vitivinicultura nestas regiões. nal, a produção se concentra nas regiões do
O Rio Grande do Sul é o segundo maior Médio Alto Uruguai com 24.234 toneladas,
produtor nacional de maçã com 327.068 to- Norte com 10.594 toneladas, Vale do Rio
neladas que representam 36,42% do total Pardo com 10.339 toneladas, Central com
produzido no país, e, juntamente com Santa 9.655 toneladas, Sul com 8.111 toneladas.
Estas regiões respondem por 57,4% da pro-
dução de feijão do Estado.
Na produção de mandioca, o Estado é
o quinto maior produtor brasileiro, pro-
duzindo um total de 1.220.412 toneladas.
Destacam-se os municípios de Rio Pardo
com 36.667 toneladas, Venâncio Aires com
33.121 toneladas, Triunfo com 29.000 tone-
ladas, São Pedro do Sul com 25.472 tonela-
das, Frederico Westphalen com 21.750 tone-
ladas e Santa Maria com 21.240 toneladas

64
Diversidade produtiva decrescendo desde o acompanhamento das
Na estrutura econômica, outros produtos análises médias por triênios: caiu 11,4% de
tradicionais da lavoura podem ser destaca- 1998 a 2000 para 2001 a 2003 e 5,22% de
dos, pois representam a diversidade produti- 2001 a 2003 para 2004 a 2006. A cebola é
va do Estado: cana-de-açúcar, batata-doce, produzida em maior quantidade na região
amendoim, sorgo, melancia, melão, pêsse- Sul, que representa 52,33% (76.864 tonela-
go, alho, cebola, centeio, cevada, tangerina, das) das 146.878 toneladas produzidas no
pêra e noz. Além destes, pode-se destacar Estado. Em segundo lugar, aparece a região
também a silvicultura com acácia, carvão da Serra com 22,4% (32.904 toneladas) do
vegetal, folha de eucalipto, lenha, madeira total. O três maiores produtores encontram-
em tora para celulose e resina e a extração -se na região Sul: São José do Norte com
vegetal, principalmente com erva-mate. 38.400 toneladas, seguido de Rio Gran-
Por outro lado, algumas áreas já indicam de com 14.220 toneladas e de Tavares com
alterações no quadro da produção tradi- 10.500 toneladas. Já a região da Serra fica
cional ao incorporar novos produtos, espe- bem representada pelos municípios de An-
cialmente na área dos hortifrutigranjeiros, tônio Prado (8.204 toneladas) e Nova Pádua
mas também na reestruturação de formas (6.987 toneladas), quarto e quinto maiores
produtores, respectivamente.
O Rio Grande do sul é o sétimo maior
produtor com 5.581 toneladas que represen-
tam apenas 2,9% da produção nacional. Os
municípios produtores acima de 100 tonela-
das são: Dom Pedro de Alcântara com 140
toneladas, Santa Clara do Sul com 136 to-
neladas, Paraíso do Sul com 133 toneladas,
Cruzeiro do Sul com 115 toneladas e Cangu-
çu com 108 toneladas.
Apesar de ter uma produção pouco sig-
nificativa em nível nacional, a produção de
cana-de-açúcar no Estado tem importân-
cia por estar associada às atividades desen-
volvidas em áreas de pequena propriedade,
relacionadas à criação de gado e ao proces-
samento artesanal de subprodutos como o
melado, a rapadura, o açúcar mascavo e a
de produção de alguns produtos tradicio- cachaça. Destacam-se as regiões das Missões
nais. Pode-se destacar a produção de kiwi, e Médio Alto Uruguai, juntas contribuem
morango, tomate, alcachofra, a produção de com pouco mais de um terço da produção
sementes para plantio e a produção de ali- gaúcha. Os maiores municípios produtores
mentos orgânicos. são Roque Gonzales com 74.067 toneladas e
A produção de cebola no Estado vem Porto Xavier com 52.067 toneladas.

65
ção são Mariana Pimentel com uma produ-
ção de 6.915 toneladas, São Lourenço do Sul
com 4.800 toneladas, Vale do Sol com 4.373
toneladas, Santa Maria com 4.233 tonela-
das, Camaquã com 4.125 toneladas e Can-
guçu com uma produção de 4.000 toneladas.
O Rio Grande do Sul é o quarto maior
produtor nacional de batata-inglesa com
304.754 toneladas, 9,8% da produção nacio-
nal.

O Rio Grande do Sul é responsável por


mais da metade da produção brasileira de
kiwi, que se concentra nas regiões de maior
altitude do Estado. O município de Farrou-
pilha é o maior produtor com 45,9% da pro-
dução do Estado.
A produção de alcachofra, introduzida
recentemente na agricultura gaúcha, já faz
do Estado o segundo maior produtor nacio-
nal com 14% do total produzido, superado
somente por São Paulo. Sua produção esta
concentrada na região Norte do Estado que Entre os municípios que possuem maior
responde por 82,33% da produção estadu- produção, destacam-se São Francisco de
al, destacando-se os municípios de Getúlio Paula, pertencente à região das Hortênsias,
Vargas com 69 toneladas, Barão do Cotegipe com 52.783 toneladas, São José dos Ausen-
com 68 toneladas, Campinas do Sul com 56 tes, situado nos Campos de Cima da Serra,
toneladas, Erechim com 46 toneladas, Três com 40.833 toneladas e São Lourenço do Sul,
Arroios com 34 toneladas e Jacutinga com na Região Sul, que produz 20.200 toneladas.
30 toneladas. O Rio Grande do Sul é o sexto produtor
O Rio Grande do Sul, permanece como brasileiro de laranja com 335.969 toneladas,
maior produtor nacional de batata doce com apenas 1,9% da produção nacional.
uma produção de 148.420 toneladas que re- A região do Vale do Caí é tradicionalmen-
presentam 28,35% da produção nacional te a maior produtora de laranja com 87.602
que é de 523.563 toneladas. toneladas, concentrando 26,1% da produ-
Os municípios que possuem maior produ- ção estadual. Destaca-se o município de São

66
Sebastião do Caí no país ou 9.643,98 toneladas, conforme da-
com 9,2% da pro- dos do último Censo Agropecuário de 95/96.
dução estadual. Considerando a produção média 2004 a
O Estado é o 2006, o Estado possui uma produção pouco
maior produtor significativa de tomate em termos nacionais,
de pêssego do importando a maior parte do que é consu-
país, com 49% mido. Entre os estados brasileiros é o décimo
da produção ou primeiro produtor com apenas 2,8% do total
109.569 tonela- produzido no país. A região da Serra gaúcha
das. No Estado, é a maior produtora de tomate do Estado
destacam-se as com 52,1% da produção gaúcha (50.131 to-
regiões Sul com neladas), seguida pela região Sul com 13,7%
38,8% da produ- do total produzido (13.206 toneladas). O
ção gaúcha e Ser- município de Caxias do Sul é o maior pro-
ra com 36,6%. Os dutor gaúcho com 24.150 toneladas, ou seja
municípios que 25% da produção gaúcha.
apresentam produção superior a 10.000 to- A produção de melancia do Estado é a
neladas são Bento Gonçalves, Pelotas e Can- maior do país, respondendo por 27% da pro-
guçu. Juntos, estes municípios contribuem dução brasileira ou 476.249 toneladas, con-
com 35,5% da produção total do Estado. siderando a média 2004 a 2006. Destacam-se
O Rio Grande do Sul possui apenas 1,6% as regiões do Vale do Rio Pardo, Metropoli-
da produção nacional de banana. No Es- tano Delta do Jacuí e Centro Sul juntas con-
tado, a produção é de 107.234 toneladas e tribuem com 62,9% da produção gaúcha. Os
concentra-se na região do Litoral do Estado municípios de Triunfo com 85.000 toneladas
com 89,2% do total. Os municípios de Três e de Encruzilhada do Sul com 62.667 tonela-
Cachoeiras com 37.277 toneladas, Morri- das são os maiores produtores.
nhos do Sul com 22.770 toneladas e Mam-
pituba com 16.082 toneladas são os maiores
produtores, contribuindo com 71% da pro-
dução gaúcha.
O Rio Grande do Sul é, de acordo com o
Censo Agropecuário de 95/96, o maior pro-
dutor nacional de sementes para plantio
produzindo 71% da produção nacional. Os
municípios da região da Campanha são os
principais produtores, destacando-se Can-
diota, Hulha Negra, Bagé e Pinheiro Ma-
chado.
O Rio Grande do Sul é o segundo maior
produtor nacional de morango e sua produ-
ção equivale a 25, 65% do total produzido

67
A produção de orgânicos vem crescen- máquinas que executam o serviço em um
do no Estado, principalmente vinculada tempo muito menos, as plantadeiras manu-
a pequenas unidades de produção, devido ais deram lugar as plantadeiras industria-
ao crescente consumo interno e a deman- lizadas e a colheita manual perdeu o lugar
da de mercados como o da União Européia para as máquinas colheitadeiras,
e do Japão. Deve-se destacar que a valori- A erva-mate já foi uma das mais impor-
zação superior ao preço pago pelo produto tantes fontes de renda. Em seu ciclo, a erva
tradicional também tem colaborado para nativa, que já era utilizada pelos índios, caiu
o desenvolvimento de projetos, visando es- no gosto da população sul americana por to-
pecialmente a produção de soja, açúcar, hor- das as suas propriedade estimulantes e diges-
tigranjeiros, frutas, frango, ovos e leite. tivas, primeiramente, a exploração da mata
Os dados apresentados servem para ilus- natural e após desenvolvendo-se plantações
trar a capacidade da para atender a deman-
produção agrária do da e até hoje é uma das
Rio Grande do Sul. fontes de renda rural.
A Longa trajetória, Chimarrão O costume de tomar chi-
do que podemos considerar Amargo doce que eu sorvo marrão é muito apreciado,
a “Revolução Agrária”, Num beijo em lábios de prata. e as ervateiras desenvol-
passou pela produção de Tens o perfume da mata
vem produtos considerados
forma precária, com o cres- tradicionais para atender
Molhada pelo sereno.
cimento da atividade surgi- aos consumidores e outras
ram as técnicas de plantio, E a cuia, seio moreno, variações para conquistar
aproveitamento do solo, Que passa de mão em mão mais adeptos do mate, a
irrigação, rotatividade de Traduz, no meu chimarrão, qualidade muito apurada
culturas até a industriali- para o produto chegar com
Em sua simplicidade,
zação da agricultura, utili- qualidade.
zando máquinas para arar, A velha hospitalidade Para contextualizar com
irrigar e na colheita. A Da gente do meu rincão. os alunos, neste capítulo
fabricação de máqui- destinado a agricultu-
nas para agricultura ra, podemos utilizar a
é outro ramo forte do planta símbolo do Rio
estado a ser tratado na indústria. Grande do Sul, a erva-mate, e todo
A evolução tecnológica trouxe o cres- manancial literário que a envolve: trabalhar
cimento da produção da agricultura. As a lenda da erva-mate, criando peças tea-
grandes propriedades aumentaram a produ- trais, estimular a declamação com as poe-
tividade, substituindo a mão-de-obra pelas sias sobre o tema, um exemplo é de Glaucus
máquinas embora no Rio Grande do Sul, a Saraiva, Chimarrão, fazer um paralelo da
agricultura familiar tem boa contribuição maneira de namorar do passado com a da
para a produção do estado. Antigos arados atualidade através da linguagem poética do
de madeira, conduzidos por animais e por mate, utilizando a grande criatividade dos
vezes por pessoas, foram substituídos por professores gaúchos.

68
Indústria
INDÚSTRIA DE PONTA
Uma História da Industrialização do Rio Grande do Sul

Elisa Motta
Terra e Trabalho nos primórdios nicas, esculturas, partituras, experimentos
do Rio Grande (1494 – 1835) agrícolas, estâncias, curtumes, pomares, er-
vais, vinhedos) só o charque missioneiro não
Em 07/06/1494, duas nações desfral- foi bem sucedido.
davam-se em firmar o Tratado de Tordesi- Para os jesuítas erva do diabo, para
lhas, onde se dispunham a tornar zona livre os índios erva sagrados, centro de conflitos
para conquista e comércio o espaço demar- religiosos, políticos e econômicos, a erva
cado, Portugal e Espanha. Com os anos esse mate encantou os conquistadores por seus
acordo acabou desrespeitado por ambas as poderes energéticos, digestivos, desinto-
partes. xicantes e afrodisíacos, por volta de 1630,
Sonhando com riquezas do Prata, transformou-se no produto mais lucrativo
Martim Afonso de Sousa veio para o Brasil, das Missões gauchas. Aproveitando os co-
ao cruzar pelo que julgou ser a foz de um rio nhecimentos e mão de obra nativa, os mis-
batizou de “Rio de São Pedro” (1531), a atu- sionários produziam uma erva de qualidade
al barra da Lagoa dos Patos iria ecoar assim tão superior que nenhuma outra era capaz
como o primeiro nome europeu a designar o de concorrer com ela, virando líder de mer-
território que se tornou o Rio Grande. cado. No século 21, a industrialização da
Foram os temerários jesuítas espa- erva mate mesmo tendo sido mecanizada,
nhóis que partindo de Assunção, cruzaram ainda passa pelo mesmo processo de sapeco,
o rio Uruguai e penetraram na Província secagem e cacheamento das missões, fazen-
do Tape, fundando um rosário de povoados. do com que 70% das ervateiras sejam ainda
Padre Roque Gonzáles de Santa Cruz foi o de micro e pequeno porte.
pioneiro fundando São Nicolau. Após veio Ser gaúcho é um estado de espírito
Padre Pedro Romero e Cristovão de Men- conforme o escritor Jorge Luis Borges. Seu
donza que introduziram o gado no RS. Os destino foi forjado com sangue (seu e de ad-
bandeirantes paulistas atacaram e destru- versários), com carne e couro do gado, apro-
íram as missões, deixando para trás ruínas priou-se e transmutou inúmeros costumes
e gado que se tornaria xucro esparramando indígenas (mate no porunga, vestir chiripá,
pelas coxilhas e serras, dando origem as es- laçar com boleadeira, cantar triste e não ter
tâncias e charqueadas sulinas e ao próprio senhor). Trocava serviços eventuais por pon-
gaucho. As reduções jesuíticas só ressurgi- chos, trago, sal ou pólvora. A cidade de Rio
ram no final do século 17, mesmo reduzido Grande foi fundada por causa da riqueza
a Sete foi mais pujante e teve o pioneirismo do couro, pois ali haveria de se estabelecer
como marca, berço do empreendedorismo curtumes. Com o advento da era do couro, o
gaucho (fundição de ferro, obras arquitetô- gaucho fez a carne, e a terra de ninguém até

70
então, atraiu inúmeros. Em 1779 o charque traídas as mantas de carne, as carcaças eram
passa a dominar e os guascas se emprega- abandonadas no campo, mas começou-se a
riam nas charqueadas. utilizar sebo e graxa bovina como matéria
prima, e assim, em 1841, originou a Fábrica
de Velas, Sabões e Colas.
A Guerra dos Farrapos foi basica-
mente uma luta contra o centralismo rapi-
nante do império, a corrupção desenfreada
e os desmandos de uma corte frívola e ine-
ficiente. Mesmo travada para defender uma
causa justa em nome de um ideal igualitário,
no campo de batalha a guerra foi como to-
das, suja e sórdida, durando 10 anos, e tendo
muitos heróis e alguns vilões e ainda quem
desempenhasse os dois papéis. Mas acima de
A primeira indústria gaúcha jamais tudo, a Revolução Farroupilha fez o Brasil e
chegou a ser indústria no sentido da palavra, o Rio Grande redescobrirem que o gaúcho ti-
mas as charqueadas produziram o principal nha sangue nas veias e era osso duro de roer.
produto de exportação sulista, aqueceram
a economia ao longo da Colônia, império Os Imigrantes produzem um Novo
e República, geraram elite econômica que Tempo (1752 – 1888)
se tornou elite política, atraíram escravos,
ferramentaram uma guerra civil e transfor- Expulsos de suas ilhas atlânticas pela
maram a sociedade patriarcal da campanha seca e fome de terra dos latifúndios, os aço-
numa espécie de “casa grande e senzala” rianos desembarcaram no sul do Brasil para
em versão gaúcha, assim o charque jamais cumprir dois objetivos estabelecidos pela
desfrutaria do mesmo prestigio do café e do Coroa: plantar trigo e ocupar os Sete Povos
açúcar, mas estes dois jamais teriam a lucra- das Missões, tão logo os guaranis e jesuítas
tividade se seus escravos não fossem alimen- se retirassem de lá. Com a resistência indí-
tados pelo charque gaúcho. Mas os impostos gena, estourou a Guerra Guaranítica man-
eram salgados demais, o porto de Rio Gran- tendo os açorianos retidos em Rio Grande,
de obsoleto e as ferrovias defasadas, gerando mas para ajudar na construção dos barcos
problemas para expansão do charque, sem que conduziriam as tropas lusas para guerra
contar que como alimentava também as clas- missioneira foram transferidos para o “Por-
ses menos favorecidas o governo achatava os to do Dorneles” no final de 1952 com mulhe-
preços. O ciclo do charque durou dois sécu- res e filhos ficaram abandonados à própria
los, pode-se dizer que toda aventura empre- sorte, mas os açorianos trataram de reinven-
endedora e industrial gaúcha teve naquelas tar suas vidas, com fabricação de barcaças,
oficinas de salgar carne o seu embrião. Por lanchões e cultivo de trigo que avançava da
mais de meio século, a indústria do charque praça da matriz até a colina, onde girariam
foi também a indústria do desperdício. Ex- os primeiros “moinhos de vento”, que aca-

71
bou por batizar o bairro. Cofres Berta resistiam ao fogo e os demais
Trazidos com a promessa de terras, não. Dedicou-se a sua Granja Progresso em
gado, ferramentas, sementes, além do auxílio Gravataí na cultura de arroz e alfafa, plan-
financeiro nos dois primeiros anos e isenção tando eucaliptos para proteger os vinhedos
de impostos por 10 anos, os alemães abriam e depois como fonte de combustível. Lá pro-
mão de sua cidadania e partiam para o Bra- duziu elogiados vinhos finos de mesa.
sil em 1824, sendo levados de lanchões para Carlos Guilherme Rheingantz criava
São Leopoldo, onde esperavam em condições ovelhas de raças nobres para garantir uma lã
precárias a demarcação das terras. Em 1830 superior em sua tecelagem. Em razão da Re-
a primeira etapa da imigração oficial no sul volução Federalista, de 1893, onde abatiam
do Brasil encerrou-se em meio a denuncias os rebanhos, ele acabou abandonando o pas-
de corrupção e desordem. Reinicia após a toril e rebatizou a empresa de Companhia
Revolução Farroupilha, em 1874 mais de 30 União Fabril, onde trabalhavam operários
indústrias já eram dirigidas por alemães não brasileiros, portugueses, italianos, alemães,
só na zona colonial, como Pelotas, Rio Gran- norte-americanos e espanhóis com a fiação e
de e Porto Alegre. Os imigrantes alemães es- tecelagem de lã, indústria de tecidos de algo-
tabeleceram estreita ligação com o transpor- dão e de chapéus, chegando a outros estados
te fluvial no RS, pelas correntezas dos rios e países.
dos Sinos, Caí, Taquari e Jacuí chegavam e
partiam mercadorias e pessoas, a partir de
1856.
“Eu me chamo Manoel da Silva, só”
repetia o português Manoel, de tanto falar
virou sobrenome, passando a ser adotado
por toda família e virar empresa a Só & Cia
(1850), uma fundição de bronze, que fundia
ferros de engomar a vapor, sinos de igreja,
tachos de cobre, pregos e rebites de embar-
cação, tendo seu crescimento real na Guer-
ra do Paraguai. Fabricou o primeiro motor
a querosene, embarcações de grande porte
menor porte. Em 1995 acaba por decretar Manoel Py abriu uma pequena loja
sua falência. de tecidos que se tornou um grande estabe-
Alberto Bins foi um industrial e po- lecimento e o encorajou a investir na indús-
lítico preocupado em promover a indústria, tria, assim em 1891, constituiu-se a Com-
a agricultura, aviação, urbanismo e o espor- panhia Fiação e Tecidos Porto-Alegrense
te, sendo também primoroso fabricante de (FIATECI). Importou motores e caldeiras,
cofres produzidos pela sua Fundição Ber- ficou a frente da empresa até sua morte, em
ta, 1873. Modernizou a fábrica com novos 2009, muda para Canoas e atua em três li-
métodos e máquinas importadas. Alguns nhas, cobertores e mantas, tecidos para ves-
episódios de incêndio comprovaram que os tuário e o principal tecido para revestimento

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de móveis destinados a áreas comerciais e de e mais tarde Endler – Indústria de Carnes e
entretenimento, sendo a maior fabricante de Derivados Ltda, em 1978 uma nova e mo-
tecidos de lã cardados. derna unidade foi instalada em Sapucaia do
Em 1921, a Chaves & Irmãos ergue Sul, onde está até hoje, abocanhando ainda
um moinho de trigo em Porto Alegre, porém, boa fatia do mercado de embutidos.
há anos atrás este sonho dourado açoriano já Ao chegar à Colônia de São Leopoldo,
havia sido concretizado por Albino José da em 1874, o pastor protestante Dr. Wilhelm
Cunha em 1894 mudando os rumos do agro- Rotermund deparou-se com falta de livros
negócio no RS e montando um império mo- didáticos, escolas e professores mal prepara-
ageiro, adquirindo moinhos concorrentes, dos, métodos de ensino nulos, uma realidade
modernizando os estabelecimentos, com- intelectual precária. Assim abriu uma livra-
prando maquinas e instalações moageiras. A ria, em 1877, e mais adiante lançou o Correio
troca de Rio Grande por Porto Alegre teve Alemão. Faleceu em 1925, e sua indústria
vantagem significante para Albino Cunha, a sob comando da família atravessa o século
proximidade capital com a zona colonial ita- como a mais antiga gráfica privada do país.
liana que produzia trigo. Mais tarde vendeu Frederico Mentz criou uma rede de
seus moinhos para multinacional Bunge & negócios que englobava mais de 10 empre-
Born, mas compra outros formando a pode- sas, o grupo foi um dos primeiros conglome-
rosa S.A Moinhos Rio-Grandense ou Samrig. rados empresariais do RS, modelo de como
Já na serra em Caxias do Sul, a partir o capital se transferiu do comércio para a
de 1885, Aristides Germani arrendou o moi- indústria, cresceu e se expandiu através do
nho de Antonio Corsetti, instalou a turbina estabelecimento de laços familiares.
hidráulica, um moderno sistema de moa- No RS pelo menos três das maiores
gem, na década de 1980 foi adquirido pela indústrias tem sua origem ligada a indus-
família Tondo que hoje segue líder no setor trialização da banha, Frederico Mentz, Ren-
moageiro do RS. ner e Oderich, que também colaborou no
Graças à imigração alemã, Porto Ale- crescimento do cultivo do milho. Foi criada
gre veria surgir cerca de 15 cervejarias que uma espécie de sindicato que deu certo, e as-
estouraram. Em 1924, quatro das mais des- sim tornou-se o 2º produto mais exportado
tacadas uniram-se e impulsionaram o ramo só perdendo para o charque. Porém a produ-
cervejeiro, porém em 1946 foram absorvidos ção passa a cair em 1928, em 30, São Paulo
por um grupo ainda maior vindo de fora do passa a fazer óleos vegetais, de algodão e de
estado, já no século 21, volta-se a fermentar coco de custo ínfimo se comparado a criação
outra vez as microcervejarias, talvez como de porcos, assim os suinocultores gaúchos
fórmula para combater ou ao menos enfren- substituíram o “porco banha” por “porco
tar o gigantismo, sendo uma das mais desta- carne”.
cadas a Dado Bier. Por cerca de meio século, a cidade de
O alemão José Endler em 1878, abriu São Sebastião do Caí teve um cais bem mo-
oficialmente uma fábrica. Em 1934, com seu vimentado, embora pequeno, o porto foi um
falecimento os herdeiros assumiram e a em- dos mais dinâmicos. Cedo se transformam
presa passou a chamar Irmãos Endler Ltda, em berço de sólidas empresas germânicas, o

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rio dos Sinos que os conduziu aos novos la-
res, logo se tornou a via de escoamento de
suas produções, assim como os vapores que
transportavam os produtos que os italia-
nos traziam das montanhas. As associações
através de ligações familiares acorriam pelos
matrimônios, logo Michalsen, Trein, Mentz,
Renner, Ritter e Oderich estavam ligados.
Quando o trem chega a Caxias em 1910, co-
meça a projetar-se a decadência de São Se-
bastião do Caí e Montenegro, iniciando uma
nova era para os imigrantes italianos, que Irmãos Salton
traria a vitória da indústria gaucha.
Os italianos ao chegarem a Porto mãos Salton Ltda e em 67 para Vinhos Sal-
Alegre em 1875, foram jogados em hospe- ton S/A, tornando-se uma grande indústria,
darias dos imigrantes, dali seguiam em lan- conquistando mercados com vinhos e espu-
chões até o Caí ou Montenegro, onde subiam mantes, sempre na busca da qualificação dos
a serra em direção ao Campo dos Bugres, D. vinhedos e produtos.
Isabel e Conde D’Eu (Caxias do Sul, Bento Fundada em julho de 1929, a Cia. Vi-
Gonçalves e Garibaldi) em busca de seus lo- nícola Rio-Grandense foi a responsável pelos
tes no meio da mata ou do nada, onde reini- primeiros varietais, entre eles o Riesling e o
ciariam suas vidas, nem sempre com as fer- Cabernet Sauvignon, tornando-se a maior
ramentas e sementes prometidas. Iniciavam potencia brasileira de vinho, era ligada ao
em ranchos de pau a pique, mas em semanas Sindicato do Vinho. O negócio deu tão cer-
erguiam casas de madeira e de pedra, en- to que os fundadores tornaram-se Barões do
frentavam desafios como bugres e terrenos Vinho. Foi ainda uma das forças por trás da
acidentados para semear, transformavam Festa da Uva e do Instituto Rio-Grandense
pedras em bigornas, fogueiras em fundições, do Vinho, sendo a primeira potencia viníco-
carroções em carrocerias, florestas em serra- la nacional, sob o rótulo de Granja União.
rias, domavam cachoeiras para mover seus No inicio de 1931, (ano que teve ini-
moinhos e gerar luz. cio a Festa da Uva) despontaram as Coo-
Em 1878, o italiano Antônio Do- perativas Vinícolas Garibaldi e Aurora. A
menico Salton partiu de Gênova rumo ao Garibaldi destacou sua cidade, levando-a ao
Brasil, em 1910 com a morte do patriarca, reconhecimento de capital nacional do espu-
o filho Paulo Salton assumiu o empreendi- mante, tanto que recentemente seu Garibal-
mento que comercializava tecidos, vinhos, di Moscatel ganhou medalha de ouro no re-
queijos, salames e banha, e aos poucos os nomado concurso Effervescents du Monde,
demais irmãos do segundo casamento foram na França. A Aurora era um pouco menor,
se agregando, e concentrando o negócio em mas tinha seus trunfos como o vinho Sangue
vinhos e conhaques. Quando Paulo faleceu de Boi vinho consumido aqui e importado,
em 43, a empresa alterou o nome para Ir- com o tempo passaram a produzir vinhos fi-
nos como o Cabernet Sauvignon Marcus Ja-

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mes, produziu o Keep Cooler, e tornou-se a tiva a vapor entre Carlos Barbosa e Bento
mais premiada vinícola do Brasil. Gonçalves.
O Vale dos Vinhedos é o resultado da Os primeiros curtumes surgiram em
junção de pequenas vinícolas para dar ori- São Leopoldo e Novo Hamburgo por volta
gem a um selo de qualidade. Em 1995 a Mio- de 1835. Os artigos de montaria foram pio-
lo, Don Laurindo, Casa Valduga, Cordelier, neiros da indústria coureira gaúcha. Embora
Don Cândido e Família Frizzo uniram-se e alguns curtidores e artesões fizessem botas,
criaram a Aprovale (Associação Produtora botinas e sapatos, até a república, o Brasil
de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos), as era o império dos descalços. Assim o advento
garrafas vindas das 31 vinícolas associadas do calçado se dá só no próximo século. Pe-
do Vale do Vinhedo tem transito livre nos dro Adams Filho foi o pioneiro do polo cal-
países da Europa são os vinhos da “4ª Gera- çadista do vale dos Sinos, além de agente do
ção”. Banco da Província em NH e da seguradora
Desde o inicio, o objetivo de Manoel Previdência do Sul, fundou ainda a Energia
Peterlongo era fabricar um champanhe de Elétrica Hamburguesa e em 1901 a Fábrica
padrão europeu, fundada oficialmente em de Calçados Sul Rio-Grandense um marco
1915 a vinícola Peterlongo foi a primeira a na industrialização gaúcha com máquinas
produzir champanhe em (sub) solo brasilei- modernas, muitos funcionários e moldes di-
ro. Em 1970 produz o filtrado doce Espuma ferentes. Insatisfeito com o couro que rece-
de Prata um espumante popular, em 2003 se bia em 1916 criou o Curtume Hamburguês o
obriga a vender a vinícola para a Ouropar mais moderno da região.
devido à crise financeira que os acometeu.
Carlos Dreher Filho, em 1910, mon- Da República ao Império de Ren-
ta sua vinícola, que num primeiro momento ner (1889 – 1916)
não alcança o sucesso desejado, então viaja
para Europa para aprimorar seus conheci- Júlio de Castilhos usava as palavras
mentos, volta a Bento e ganha medalha de como arma, tão logo se proclamou a Repú-
ouro em todas as exposições com o vinho blica, houve estrondo no Sul, pela queda de
Rheno Rio-Grandense Dreher. Após sua Gaspar Silveira Martins, pois este era con-
morte, seus filhos fazem o Conhaque Dreher, siderado dono da província. Após fraudes
destaque de sucesso da vinícola e que mesmo escandalosas e uma sucessão de assassinatos
após a venda desta para a Heublein e depois políticos, Castilhos assume a presidência do
Aurora seguem a produção até hoje. RS, em 1893, ano da revolução federalista,
O trem chega tardiamente ao RS, po- com o fim desta estava firme no poder, e dis-
rém ele trouxe uma nova era, onde a mais posto a modernizar o Rio Grande se vincula
beneficiada foi a serra gaúcha, que até en- aos industriais do charque, vinho e banha.
tão dependia dos portos e atravessadores, Foi vítima de câncer, mas seu projeto conti-
tornando a via de escoamento mais direta, nuou com Borges de Medeiros. O homem que
barata e eficiente. Na década de 80 o trem seus adversários ridicularizaram ao apelidar
começou a parar de vez e hoje em dia resta de “Chimango” reformulou o cais de Porto
apenas um trecho turístico feito por locomo- Alegre, e estatizou as linhas férreas e o porto

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de Rio Grande, atraindo também frigoríficos mem distinto que andasse sem chapéu pelas
estrangeiros. Enfraqueceu-se com a crise da ruas, entre as marcas que adornavam as ca-
pecuária e do leite, mas enfrentou e venceu beças nacionais estava uma empresa gaucha
Assis Brasil, na Revolução de 1923. a Grande Fabrica de Chapéus Oscar Teich-
Em outubro de 1889, a empresa por- mann e Cia, que além do chapéus fabricava
tuguesa Leal, Santos e Companhia estabele- fitas, cordões e outros acabamentos.
cera-se no Brasil, na cidade de Rio Grande, Abramo Eberle foi um gigante de
local propício para novas conquistas porque ferro, bronze, prata e até aço, por quase um
possuía frutas, legumes, peixes e camarões século sua metalúrgica Eberle (1896) foi si-
em larga escala. Mas quem veio para solo nônimo de qualidade, eficiência e inovação.
gaúcho foi Henrique Marques Leal Pan- Ainda assim foi perdendo vigor até se fun-
cada, filho de Francisco, e inaugurou a pe- dir ao grupo paulista Lupo, mas em julho
quena fábrica de conservas. Em 1906, pas- de 1985 foi vendida ao grupo Zivi-Hércules
sou a fabricar biscoitos, tendo como carro voltando a ser gaúcha. E a partir de 1994,
chefe as bolachas Maria e Água & Sal que passa a constituir o grupo Mundial S/A. O
vinham em latas produzidas pela própria alemão Paul Zivi desembarcou em Porto
indústria. Produziam fruta e legumes para Alegre decidido a criar uma fábrica de fa-
conservas, enlatado de peixes, e no final da cas, assim junto com mais dois irmãos em
década de 1951, centralizou seus esforços no agosto de 1931 nasce a Zivi. Além das facas,
setor de pescados. Em 1968, associou-se ao a empresa passou a fazer, em 1935, as me-
grupo Ipiranga tornando a maior empresa lhores e mais famosas tesouras do Brasil.
nacional de pescados, em 1994, se desfez a No ano seguinte sob a marca Hércules lança
parceria e atualmente pertence à espanhola os primeiros talheres em aço inoxidável, em
Actemsa com 6 barcos pesqueiros, e mão de 39 passa a fazer motores elétricos, em 40 foi
obra predominantemente feminina expor- criada as marcas Mundial e Mundial 4 Ases
tam para Israel e Espanha. (especializada em tesouras finas e alicates de
Em 1891, tem-se a inauguração da manicure).
Neugebauer a mais antiga indústria de cho- Elisa Tramontina, assumiu a peque-
colate do Brasil pelos irmãos Franz e Max na ferraria após o falecimento do marido
Neugebauer e o sócio Fritz Gerhardt, em Valentin Tramontina, até o caçula Ivo Tra-
1896 com a saída de Fritz, chega mais um montina ter idade para assumir. Abriram
irmão Ernest que trouxe novas técnicas con- bem no centro da vila em Bento Gonçalves,
feiteiras, a produção foi ampliada, a distri- próximo a estação ferroviária, em 1911.
buição expandida e o nome da empresa alte- No início, sua principal fonte era a empre-
rado para Neugebauer & Irmãos. A pioneira sa Arthur Renner & Cia. Em 1944, Ivo com
do chocolate esteve sob comando da família 19 anos teve a idéia de comprar uma pren-
até 1982, quando foi comprada pelo grupo sa excêntrica que acelerou o corte das lâ-
Fenícia, em 1998 adquirida pela Parmalat, minas e pediu auxílio a Ruy J. Scomazzon
em 2002 pela Florestal e por último em 2010 para organizar o escritório. Ruy virou sócio,
pelo grupo Vonpar. juntos transformaram a produção de facas
Até o inicio de 1950, não havia ho- em processo industrial, as instalações foram

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modernizadas, máquinas automáticas vie- cedida trajetória na siderurgia. A direção de
ram. Hoje produz mais de 16 mil itens entre Curt nos negócios foi decisiva na moderni-
utilidades domésticas, ferramentas, móveis, zação e impulso profissional. Trouxe para a
materiais elétricos e até artigos de madeira. Gerdau os valores familiares, mostrando que
José Gazola funda em 1932 em Ca- o respeito às pessoas é um dos fatores essen-
xias do Sul a Gazola, Travi & Cia Ltda, uma ciais para o sucesso. Atualmente, a Gerdau
fábrica de granadas e artefatos bélicos, pro- é a 14º maior produtor de aço do mundo e
duz ainda espoletas de caça, graças ao apo- líder no segmento de aços longos nas Améri-
jeu vende a empresa e abre outra. Desta vez cas, estando esparramada por diversos paí-
de armas brancas (facas), mas durante a 2ª ses.
Guerra mundial volta as origens bélicas. Em Pedro Wallig em 1904 fundou a fá-
1943, uma grande explosão reduziu a fabri- brica Wallig, com sua morte em 1912, João
ca cinzas e matou operarias, com a ajuda do Wallig assumiu os negócios do pai, em 19
governo de Vargas passou a investir em ta- trouxe da Europa uma instalação completa
lheres, faqueiros, tesouras, baixelas, panelas de fundição onde gerava camas, fogões e co-
e peças agricolas, segmento que foi lider até fres. Já em 1927 montou a primeira esmalta-
ser ultrapassada pela Tramontina. Em 2005 ria. Em 1954 Werner Pedro Wallig assumiu a
passaram a direção para Lincoln Reginaldo presidência e formou a Máquinas e Lavande-
que dá novo brilho a prataria. rias Wallig S.A, fabricando produtos domés-
O Grupo Gerdau nasceu da visão ticos, cozinhas e lavanderias industriais. Em
empresarial e da capacidade de trabalho de 1981 após problemas a empresa que sempre
Johann Heinrich Kaspar Gerdau, ou, sim- foi um orgulho gaúcho, encerra suas ativida-
plesmente, João Gerdau, o alemão, emigrou des.
para o Sul do Brasil, em 1869, instalou-se Foi por mãos alemãs que a lavoura de
na Colônia de Santo Ângelo (atual cidade de fumo chegou ao RS, encontrando em San-
Agudo), inicialmente investiu no comércio, ta Cruz o solo fértil que se esparramou. Em
transporte e loteamento de terras. Em 1884 1916, surgiram várias indústrias ligadas ao
fundou uma casa comercial em Cachoeira do ramo fumageiro, em 1917 a Cia Brasileira
Sul. Em Porto Alegre, comprou a Fábrica de Fumo instalou uma usina de beneficia-
de Pregos Pontas de Paris, em 1901, marco mento, já em 1918 nascia a Companhia de
da origem do Grupo Gerdau. Em seguida o Fumos Santa Cruz, fruto da fusão das 6 in-
negócio passou a ser administrado pelo filho dústrias fumageiras locais e de cuja ação se
Hugo, em 1933 a Fábrica de Pregos expan- originaria a prática do fumo de forno, que
diu a produção com a construção de uma acabou colocando o estado entre os maiores
nova unidade, em Passo Fundo. Em 1946, produtores de fumo para cigarros do país.
Curt Johannpeter, genro de Hugo, assumiu Entre 1920 e 1925, a Bahia (fumos escuros
a direção da Gerdau e comandou uma fase para charuto) e RS (fumos claros) juntos
decisiva de expansão dos negócios. Dois eram responsáveis por mais da metade da
anos após a sua entrada, a Fábrica de Pre- produção nacional, porém o RS se destaca
gos Hugo Gerdau comprou a Siderúrgica pela qualidade do seu produto fruto da espe-
Rio-grandense e o grupo iniciou sua bem su- cialização na secagem em estufa.

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Gustavo Poock abriu uma fábrica Quando se pensa em arroz fala-se em
de charutos em Rio Grande, Companhia de Pedro Osório que foi o grande pioneiro do
Charutos Poock em 1881. Em 1911, a fábri- beneficiamento no RS, nunca teve escravos
ca além de ser primeira era a maior do Bra- e plantava eucaliptos para evitar desmata-
sil e se transformou em sociedade anônima. mento de árvores nativas, em 1909, já era
Os charutos eram exportados para os países considerado o Rei do Arroz, em 1912 montou
do Prata, Portugal, Suíça, Inglaterra, Ale- seu grande Engenho São Gonçalo, o maior
manha, sendo sucesso também a bordo dos da América Latina. O próximo a prosperar
transatlânticos. foi Joaquim de Oliveira, que em 1944 com-
No passado, viveram e prosperaram prou a fábrica Rio-Grandense de Adubos e
os xaropes feitos de ervas, os tônicos de in- Produtos Químicos e com o irmão mais ve-
gredientes secretos e os elixires de promessas lho João comprou terras para plantar e be-
miraculosas. A cidade de Pelotas era a que neficiar arroz, sua marca Tio João ganhou
concentrava maior número de laboratórios o mercado, e atualmente o grupo Joaquim
farmacêuticos, em 1893, foi inaugurado o de Oliveira / Josapar é o maior beneficiador
Estabelecimento Agrico-Industrial do Par- de arroz do continente e a 3ª maior empresa
que Pelotense, que abrigava o Laboratório no seu segmento. Ainda tem a trajetória de
Rio-Grandense. Em 1911 foi fundado o La- João Dalbem, em Camaquã e ali fundou a
boratório Leivas Leite que além de remédios indústria Santalucia, nascendo o arroz Blue
foi pioneiro na fabricação de medicamentos Ville tipo parboilizado, em menos de 30 anos
contra carrapatos e outras pragas da pecu- a Blue Ville se espalhou pelo Brasil com pro-
ária. Porém as grandes conquistas vieram dutos exclusivos.
com a chegada dos químicos em 1930, sobre- Nascida em Cachoeira do Sul em
vivendo os laboratórios que se adaptaram. 1912, a Mernak foi a primeira e única em-
João Wesp era figura conhecida quan- presa das Américas, a fazer as legendárias
do em 1919 foi detido sob acusação de curan- locomóveis. Na década de 1940, já figurava
deiro, desde 1916 em um laboratório caseiro,
ele produzia a “Essência de Vida”, remédio
que como por encanto resolvia indisposições
estomacais. Assim após ser detido registrou
o produto para que pudesse comercializar
tranquilamente como Olina. A fábrica mo-
dernizou-se e até hoje lidera a venda de re-
médios líquidos no RS.
Fundada em 1949 a Memphis (rebati-
zada em 1950), possuía um moderno maqui-
nário e marcas já consagradas no mercado,
a Memphis é a única industria brasileira do
seu segmento que cria seus perfumes, uma
fabrica própria de embalagens, faz sabone-
tes, desodorantes , talcos e águas de colônia.

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entre as grandes indústrias de máquinas do lou lazer com atividades lúdicas, esporte e
país. Porém a partir da década de 1950 o uso cultura, fundou o grêmio esportivo Renner
da locomóvel cai devido à oferta de motores com sede e estádio próprios, criou o serviço
a diesel e a geração e distribuição de energia de assistência médica. Era reconhecido na
elétrica. Em 1997, a empresa fecha suas por- classe política e industrial se tornando líder,
tas. vinculou-se a Cinfa, se impôs para criação
A Bromerg, a partir de 1887, se tor- da FIERGS e contribuiu para elaboração
na a maior distribuidora de maquinário ale- da legislação trabalhista. Foi deputado, um
mão, na América do Sul, financiando até crítico do que chamava de demagogia eleito-
mesmo a criação de outras indústrias. Além reira dos políticos profissionais. Morreu em
da mecanização do arroz, instalou as pri- 1966 aos 82 anos em Porto Alegre.
meiras olarias de forno contínuo no estado
(Triunfo e Caí) e vinculou-se a construção de Da I Guerra à Primeira Crise Glo-
ferrovias, importou locomotivas e construiu bal (1917 – 1929)
pontes férreas.
Graças à visão do patriarca Adol- A I Guerra foi benéfica para a in-
fo Kepler, os filhos Otto e Adolpho Jr evo- dústria em especial a gaúcha, pois com o
luíram, e em 1925 juntaram os martelos e bloqueio das importações, a ausência das
bigornas e instalaram a ferraria Kepler Ir- matérias-primas, e os incentivos do governo
mãos em Panambí, em 1929 os irmãos con- para atividades industriais, favoreceram os
vidaram o alemão Paulo Otto Weber para empreendedores nacionais. Porém antes do
sócio, nascendo a Kepler Irmãos & Weber final do conflito os industriais gaúchos se de-
em 1939, que em menos de duas décadas já pararam com outra revolta e bem mais pró-
era uma potência. Em 1956, já fabricava os xima, as reivindicações da classe operária em
maiores engenhos de arroz do Brasil. Em 1917. Pois houve aumento de custo de vida,
1996, já exportadora e bem estruturada foi a onda grevista chegou a Porto Alegre lide-
vendida para instituições financeiras, mas rada por calçadistas, os operários saíram às
com as secas no RS seus negócios são drena- ruas pleiteando redução das tarifas dos bon-
dos, só voltando a tomar fôlego após 2007. des e jornada de 8 horas de trabalho. Bor-
Mediante a coragem e astúcia de An- ges agindo de forma incomum não reprimiu
tônio Jacob Renner nasceu à firma A J Ren- e até apoiou algumas bandeiras, em agosto
ner & Cia em 1912, tornando-se esse o maior nova onda, e a cidade fica sem luz, bonde,
industrial gaúcho de todos os tempos. De- leite e pão, Borges faz novas concessões e
pois de transferir sua fábrica de São Sebas- aumenta o piso salarial forçando a iniciativa
tião do Caí para Porto Alegre o conglomera- privada fazer também. Em outubro, estoura
do de empresas só prospera. Dentro do seu em Santa Maria e tem como alvo a Viação
conglomerado A J Renner criou a jornada de Férrea Rio-Grandense, Borges então leva
8 horas de trabalho, creche, tinha a melhor seu projeto adiante de estatização das linhas
política salarial com prêmios e bonificações, férreas do RS, concretizando em 1920.
instituiu cursos de alfabetização e nutrição, Para que Porto Alegre acompanhasse
incorporou cooperativas de crédito, estimu- o desenvolvimento, seu porto teria que me-

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lhorar, e foi o que Borges de Medeiros se pro- sede hoje é na cidade de Viamão, e integra a
pôs em 1904, mas por questões burocráticas Vonpar Alimentos.
e políticas o projeto não deslanchou, assim, Em outubro de 1993, Wilson Zanatta
o porto foi inaugurado por Borges em 1921, deu início a sua produção de queijos na ci-
em 1935 ganhou armazém frigorífico. Nos dade de Tapejara, transformando sua indús-
anos de 1940 com oito mil metros de cais, tria a Bom Gosto, em um negócio bilionário,
Porto Alegre tornou-se o maior porto fluvial comprou a Parmalat, Da Matta e Muriaé,
do pais, porém com o abandono da malha Nutrilat e Coorlac. Hoje é a quarta maior
hidroviária, o descaso das políticas públicas indústria de laticínios do Brasil, atrás ape-
e a incompetência dos governos deixaram o nas de Nestlé, Perdigão e Itambé.
porto na decadência. No ano de 1916, foi aberto em Pelo-
A União Colonial nasceu em 1912 tas o primeiro frigorífico gaúcho, a Compa-
quando os 17 sócios da Latteria Santa Chia- nhia Frigorífica Rio Grande, mas por causa
ra se uniram a outros 14 agricultores, a par- do pouco capital e instalações modestas só
tir dai a cooperativa não parou mais, a sua começou a funcionar, em 1920, quando já
razão social foi alterada para Cooperativa havia passado o boom da carne congelada
Santa Clara Ltda, a mais antiga cooperativa provocado pela I Guerra, além disso, seus
de laticínios do Brasil com sede em Carlos funcionários não dominavam as técnicas de
Barbosa. refrigeração, porém foi vendido para a tam-
Em 1919 foi fundada a fábrica de bém inglesa Vesley Brothers em 1924 trans-
alimentos Ritter, em Cachoeirinha, uma pe- formando-se no famoso Frigorífico Anglo e
quena indústria de queijos, manteiga, nata fechou suas portas no inicio dos anos 80.
e creme de leite, que pertencia a Frederico Da paixão de Arthur Herrmann pela
Augusto Ritter. Ao longo dos anos foram di- química, pois recolhia terra e minérios da
versificando a produção com molho inglês, volta de sua casa, nasce a proposta aos pa-
cogumelos, conservas salgadas, balas de trões e amigos Felipe e Waldemar Renner
malte, biscoitos, até que vieram as geleias, de investir em uma pequena manufatura
marmeladas, frutas cristalizadas e doces em de tintas em pó, assim em 1927 fundaram a
calda. Renner Koepke & Cia. Em 1945 transferem-
O primeiro doce de leite industrializa- -se para a Av. Assis Brasil, no final dos anos
do do Brasil foi fabricado em 1945, quando 80 para Gravataí, se consolidando como lí-
um dos irmãos Vontobel abriu uma fábrica der absoluta de tintas automotivas. Hoje
de guloseimas artesanais em Porto Alegre, ainda, sob comando da família Herrmann a
com ajuda de outro irmão. Em 1963, já ti- Tintas Renner é uma potencia multicolorida
nham separado seus negócios, João com dis- que espalha suas matizes pelo mundo.
tribuidora de bebidas (mais tarde Vonpar) A energia elétrica chegou cedo ao RS,
e Henrique e Arno com a fábrica de doces em 1889 nasce a Empreza de Luz Electrica
que começou a produzir o doce de leite em Fiat Lux, que três anos após seria Fiat Lux.
1967, MUMU acabou se tornando nome da Com o crescimento impôs a demanda maior
fabrica, além se ser associado a fácil e sinô- de energia que somada à iluminação de lares
nimo de doce de leite para os gaúchos. Sua impulsionou a criação da usina Municipal

80
e em 1906 inaugura a Cia Força e Luz. Em a missiva de “Pai dos Pobres”. Criou o Mi-
1928 é criada a Companhia de Energia Elé- nistério do Trabalho, entregando a pasta
trica Rio-Grandense (CEERG) que perten- à Lindolfo Collor, em 31 veio a Carteira de
cia a um grupo norte-americano, e incorpo- Trabalho.
rou as três menores. Porem a necessidade de Os produtores rurais tinham a Farsul,
mais eletricidade exigia mais investimentos, os comerciantes a Federasul, e os industriais
em 1943, criou-se a CEEE (Comissão Esta- nenhuma entidade que os representasse, por
dual de Energia Elétrica), em 97 desdobrou- isso em novembro de 1930, vinte e seis em-
-se em varias empresas, em 2006 CEEE Par presários atenderam o chamado de Renner
e 2007 CEEE-D e CEEE-GT. e seus companheiros, e assinaram a ata de
A Usina termelétrica do Gasômetro fundação do Centro da Indústria Fabril do
foi inaugurada no dia 11 de novembro 1928, RS, o Cinfa, Renner foi o presidente e Bins
produzindo energia de carvão vegetal. Em honorário. Ao final do primeiro ano o Cin-
74 com a crise do petróleo e a falta de força fa já contava com 63 empresas associadas,
para suprir a energia de uma Porto Alegre que mais tarde adotou a atual denominação:
crescida, a Usina do Gasômetro foi desati- Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul
vada, em 1982 é tombada pelo Patrimônio (CIERGS). Sete anos depois, foi fundada a
Histórico Cultural. Federação das Indústrias do Rio Grande do
A Copelmi é descendente da Cia. Mi- Sul (FIERGS) como entidade de representa-
nas de Carvão do Arroio dos Ratos, quan- ção sindical, criada dia 14 de agosto de 1937.
do a mineração do carvão mineral ainda era Atualmente, a FIERGS tem 113 sindicatos
uma atividade desenvolvida com poucos filiados e o CIERGS, mais de 2 mil associa-
recursos tecnológicos. Desde 1920 pertence dos. Ambas têm o mesmo presidente, como
à família Faria. Tem um projeto ambiental marca de sua origem baseada na união. E,
transformando os campos de extração em juntas, representam as 41 mil fábricas em
campos verdejantes. atividade no Rio Grande do Sul, que empre-
gam diretamente 600 mil pessoas.
A Era Vargas e a Locomotiva Gaú- Fundada em 1893 por Laudelino Bar-
cha (1930 - 1954) cellos, a Livraria Globo se tornou um ponto
de encontro e referência cultural no sul, não
Em outubro de 1930, Getúlio Vargas a toa foi o lugar onde nasceu o Cinfa. Em
faz sua entrada triunfal no Rio de Janeiro, 1986 foi comprada pela Rio Gráfica Editora,
porém os gaúchos ainda eram vistos com das Organizações Globo de Roberto Mari-
desconfiança no centro do país, seu modelo nho, e passou a se chamar Editora Globo S/
político era baseado no republicanismo po- A sediada em SP.
sitivista, que perdurou por ¼ de século até A necessidade de uma empresa que ge-
o suicídio de Vargas. O Trabalhismo de Var- rasse derivados de petróleo para os gaúchos
gas incorporava as reivindicações salariais, foi criada em 1934 a Destilaria Rio-granden-
condições de trabalho, direitos previdenci- se de Petróleo, na margem brasileira do rio
ários, harmonia entre classes e atrelamento Uruguai, produzindo em escala industrial
dos sindicatos ao estado, articulando assim pela primeira vez, gasolina, querosene, óleo

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diesel e óleo comestível. Em 1936 empresá- aos mercados passa a dificultar a exportação
rios brasileiros, argentinos e uruguaios for- nacional. Foi então que Getúlio Vargas ofe-
malizaram a constituição da Ipiranga S. A. receu incentivo aos que se dedicassem a in-
Companhia Brasileira de Petróleo. Com a II dustrialização da borracha. Com a chegada
Guerra Mundial a Ipiranga passou por difi- do plástico e a entrada das multinacionais
culdades, em 1953 foram inauguradas novas no mercado as estruturas foram abaladas,
instalações, mas com a criação da Petrobrás depois da morte do seu fundador e também
por Vargas, resolveu apostar na distribuição do genro dele, a Borbonite vendeu sua linha
e comércio de produtos derivados do petró- de produção para a Vipal, de Nova Prata.
leo, em 57 criou a Distribuidora de Produtos Em 1889, Rossi fundou em Caxias do
Ipiranga S/A, e deu certo. Sul a Amadeo Rossi & Filhos, uma indústria
Em 1937 em Guaporé, através de de selaria, correaria, ourivesaria, funilaria,
uma sociedade nasce o embrião da empresa fundição de ferro e espoletas. Transfere a
destinada a ser uma das principais do setor sede para São Leopoldo atrás da energia elé-
metal-mecânico no Brasil, a Zamprogna trica. Com a chegada da II Guerra e já pro-
S/A, transforma-se na maior distribuidora duzindo armamento em escala industrial,
independente de aço no país. No final de a empresa passa a suprir o exército, tendo
2008 a empresa foi incorporada pela podero- tanto lucro que ergue um grande parque in-
sa Usiminas. dustrial. Mas em 1964, o Golpe Militar faz
Em 1924, fundou-se a Hoelzel Ir- os negócios diminuírem e perderem o espaço,
mãos, futura Mercur, trazem equipamentos para a concorrente Taurus. A Forjas Taurus
da Europa e em Santa Cruz do Sul passam a Ltda teve seu embrião em 1937, mas forma-
manufaturar além de outros produtos, saltos lizou-se apenas em 1939, tendo que fabri-
de borracha para indústria calçadista, após car suas próprias máquinas que acabaram
em 1938 produziu bolas de tênis, tornando- sendo fornecidas a outras indústrias. Em
-se o primeiro produtor da América do Sul. 1979, incorporou os equipamentos de ferra-
No final dos anos 50 com a borracha sinté- mentas IFESTEEL e deu origem a Taurus
tica no Brasil, a Mercur passa a trabalhar Ferramentas Ltda em São Leopoldo. A pro-
também com plástico aumentando ainda ximidade com a Rossi acabou por salvá-la,
mais sua linha de produtos. Em 1991, tor- com pagamento das dívidas dela, a linha de
na-se sociedade anônima, e atualmente sua revólveres Rossi passou toda para Taurus,
borracha estende-se a mais de 30 países. assim como a fabricação das armas de cano
Leopoldo Freyre em 1937, funda com longo e das armas de caça.
mais 16 sócios a Sociedade Manufacturada Em 1938, o RS tinha a segunda
de Artefactos de Borracha Ebonite Ltda, pior rede de estradas do país, assim surge o
a Bornonite “mãe das Havaianas”. Com a DAER. Lança-se a pedra fundamental da
guerra, a indústria de emborrachados viu BR – 116 em Caxias do Sul, e em 1942 Var-
seus negócios ir às alturas, o Brasil se tornou gas retorna para inaugurar a rodovia que
o maior produtor de borracha do mundo, naquele trecho levaria seu nome. A rodovia
até que na década seguinte, a Ásia com sua tem papel fundamental na evolução indus-
borracha mais barata e mais fácil de chegar trial da região.

82
A BR – 116 fez emergir às margens de Caxias do Sul uma linha de indústrias do setor
metal mecânico, entre elas a Guerra S.A, que foi fundada em Caxias, tornando-se a segunda
maior fabricante de implementos rodoviários da América Latina. Mas em 2008, momento
do auge de sua lucratividade foi vendida para o Axxon Grouo de origem francesa.
A Marcopolo iniciou pequena com o nome de Nicola & Cia em 1949, em 1968 lança
o modelo Marcopolo que logo em seguida passa a ser sua razão social. A indústria hoje é a
maior fabricante nacional de ônibus, com fábricas espalhadas por várias partes do mundo.
A Randon iniciou suas atividades em 1949, quando os irmãos, Hercílio e Raul Randon,
que trabalhavam na fabricação de ferramentas agrícolas, decidem abrir uma oficina para
reforma de motores industriais em Caxias do Sul. Nos anos 50, deram início à fabricação
de freios a ar para reboques, que foram
desenvolvidos para enfrentar os acentu-
ados declives da região da Serra Gaúcha,
além da fabricação do 3º eixo para ca-
minhões. A empresa foi pioneira no seg-
mento de veículos rebocados (reboques
e semirreboques) e atualmente é uma
referência global, com a mais completa
linha de equipamentos para o transpor-
te de carga terrestre, com seus veículos
rebocados, vagões ferroviários e veículos
especiais. Atuam, ainda, nos segmentos
de autopeças e sistemas automotivos,

83
além dos serviços de consórcio e de banco. referência no mercado de toda a América do
Mantém uma rede internacional de vendas e Sul e fora dela também, tornando-se a quin-
de serviços, atendendo a mais de 100 países. ta maior patenteadora do Brasil graças aos
Em outubro de 1954, forma-se a seus múltiplos modelos de semeadoras.
Francisco Stedile & Cia, com a marca Fran- Fundada por Charles Springer em
-le, fizeram estágio na Finnaf em Milão e 1934, a gaúcha Springer & Cia começou o
com algumas máquinas de produção própria negócio com representação e fixação de re-
e outras importadas liberaram o primeiro frigeradores, produziu refrigeradores co-
lote de lonas de freios. Em 69 já com nome merciais, geladeiras domésticas, geladeiras
Fras-le começaram a exportar. Em meados retangulares, em 1958 produz o primeiro ar
dos anos 90, Stedile dedica-se ao seu outro condicionado de janela. E em 1983, a par-
negócio a Agrale vendendo a Fras-le para tir de uma união com a Carrier Corporation
Randon. torna-se Springer Carrier S.A, sendo a maior
Fundada em 1962, a Agrisa fabri- fabricante de condicionadores de ar do Bra-
cava micro tratores de duas rodas para la- sil.
voura, comprada em 1965 por Stedile passa Criado em 1942, o SENAI surgiu para
chamar-se Agrale, com produção de veículos atender a uma necessidade da formação de
agrícolas. Em 1980, produz motocicletas e profissionais qualificados para a incipien-
ciclomotores, mais adiante tratores pesados te indústria de base. As primeiras escolas
e caminhões. abriam suas portas em Porto Alegre, Caxias
Em 1945, nasce a Schmeider Loge- do Sul, Novo Hamburgo e Rio Grande, mas
mann & Cia para suprir o povoado de Ho- atualmente 55 municípios gaúchos abrigam
rizontina de ferraria, serraria e moinhos de centros do SENAI, que atendem todos os
trigo e milho, sendo esse o inicio do grupo 496 municípios do Estado, onde participam
SLC, hoje constituido de cinco empresas de jovens de 14 a 24 anos em cursos técnicos,
enorme prestigio e valor internacional. Em superiores, pós-graduação e de qualificação
1979 SLC e John Deere iniciaram inédita
parceria de 20 anos que a tornou a maior
fabricante de colheitadeiras e tratores da
América Latina, em 1999 vende a fábrica
para a John Deere e entra para o agronegó-
cio, tornando-se o maior plantador de algo-
dão do país e um dos primeiros produtores
de grão, e em 2007 abre capital e vira a única
empresa exclusivamente agrícola do Brasil
com ações na bolsa.
Fundada em 1965, a Semeato de Pas-
so Fundo, lançaria os primeiros implemen-
tos agrícolas feitos no Brasil, que implantou
no país o inédito e revolucionário sistema de Antigo Prédio do SENAI
plantio direto. Suas máquinas tornaram-se Foto: Antônio Viera da Costa. 1961

84
e aperfeiçoamento profissional. po Bettanin, que virou o número um do país
Em 1946, nasceu efetivamente o em produtos de limpeza doméstica.
SESI (Serviço Social da Indústria), uma Em 1947, Ricardo Albarus abriu a
entidade de direito privado, mantida e ad- Albarus & Cia na zona norte de Porto Ale-
ministrada pela indústria, com o objetivo de gre, fabricando motores de automóveis e pe-
melhorar a qualidade de vida do industriário quenas peças domésticas, injetores para mo-
e seus dependentes, suas atividades sempre tores de navios e submarinos, cruzetas para
incluíram a prestação de serviços em saúde, utilitários Jeep. Em 1955, assina contrato de
educação, lazer, cultura, nutrição e promo- assistência técnica com a norte americana
ção da cidadania. Dana Coporation, líder mundial em autope-
Fundadas no RS mais ou menos na ças, em 1966, a Dana passa a ser controlada
mesma época Intral, Stemac e Trafo produ- pela Albarus tornando-se sócia majoritária.
zem transformadores e equipamentos elétri- A DHB foi fundada em 1967, em
cos quem mantém acesas indústrias e lares Porto Alegre, e se consolidaria como a maior
brasileiros, sendo bem posicionadas no mer- fábrica de sistemas de direção de toda a
cado. América Latina, sendo reconhecida no mun-
do todo como uma empresa de ponta.
A Indústria Gaúcha no Brasil em Em 1949 João Vontobel se dedicou ao
transformação (1955 – 1980) ramo de bebidas, construindo em Santo Ân-
gelo uma nova fábrica em 53 para produção
Com a posse de Jucelino Kubitschek da bebida Laranjinha e distribuição de cer-
em 1956, o país sorria, época do plano de veja, organizaram uma frota de caminhões
metas de JK, porém este não contemplava o e tronaram-se também franqueados da Gra-
RS colaborando como causa e consequência pette, adquirindo também a Águas Minerais
da crise econômica, e da falta de força políti- Minuano, enfrentando a Charrua. Fabricava
ca do estado deixado para trás. Em abril de a Coca-Cola, lançou o Minuano Limão. Em
1959, Jânio Quadros com discurso populista 1992 a razão social é alterada para Vonpar –
e moralista elege-se presidente em 1960, mas Vontobel.
João “Jango” Goulart elegeu-se vice. Após Já em 1954, na cidade de Bento Gon-
sete meses Jânio renuncia. A crise e a eclo- çalves foi fundada a Massas Alimentícias
são do movimento leva Jango a tomar pos- Ltda, em 1965 passa a se chamar Isabela
se, em setembro de 1961, mas suas recaídas Produtos Alimentícios. Em 1910, fundou-se
esquerdistas e vertigens estatizantes acaba- a Weidmann que era única fornecedora de
ram por colaborar com o golpe de 64, os mi- pão preto para hotéis e restaurantes em Por-
litares tomam o poder, e a história do Brasil to Alegre, em 2004 foi comprada pela Vital.
e sua indústria tomariam outro rumo. Em 1973, a Nutrella vira indústria de verda-
A vassoura foi o ponto de partida de e torna-se líder na região sul do país. Os
para os irmãos Nilo e Cezar Bettanin, que biscoitos se destacam com as marcas Coroa,
em 1947 comercializavam nos fundos de casa Filler, Pli-Plac, Zezé, Pastelina e Stoffel.
em um atacado que abriram com o dinheiro Devido aos altos e baixos, o porco ba-
emprestado pela mãe, assim surgiria o Gru- nha foi substituído pelo porco carne, impul-

85
sionando a indústrias de derivados suínos. para crianças, e a Ortopé (Gramado, Canela,
Destacou-se a Rizzo S.A, Dália, Languiru. São Francisco de Paula e Santa Rita na Pa-
Entra também o mercado o frango, desta- raíba) esta sendo um fenômeno de mídia nos
-ca-se Perdigão, Penasul (Pena Branca), Mi- anos 70 e 80 e hoje liderada pela Paquetá.
nuano, Avipal, Doux Frangosul. O grupo Paquetá fundado em 1945,
O RS é pioneiro na indústria de fer- tem hoje a maior rede varejista do país, e
tilizantes, exportando esses produtos indus- agrupada a rede Gaston. Já sua concorren-
trializados para vários países do Mercosul. te Azaléia é maior fabricante de calçados fe-
Destacaram-se as empresas Adubos Trevo / mininos da América Latina e uma das cinco
Yara, Adubos Pampa Ltda / Unifertil. maiores do mundo, agrega a marca esportiva
Em meados dos anos 70, os pequenos Olympikus, em 2007, o grupo Vulcabras se
e dourados grãos chineses invadiram o RS, a associa e as duas grandes marcas agora afi-
soja gaúcha ajudou a semear uma nova era nam o ritmo.
na economia do país, de exótico grão passou A serra gaúcha tem uma indústria
a principal cultura. Sobressaíram-se a Socie- tão pujante que o RS é hoje o 2º maior pro-
dade Refinadora de Óleos Vegetais (Sorol), dutor de móveis do Brasil, e o centro mais
Fábrica Merlin de Óleos Vegetais, Indubras bem equipado, as empresas adotam técnicas
/ Igol e Olvebra S/A Indústria e Comércio de gerenciais modernas, investem em treina-
Óleos Vegetais (Olvebra de Lajeado, Rizóleo mento e tecnologia e usam madeira certifica-
de Alegrete e a Sorol de Pelotas). da. Existem várias empresas como a Móveis
A Strassburger & Cia, entrou para a Carraro S.A, Pozza S.A Industrial Move-
história como a primeira empresa a exportar leira, Florense, Thornart Móveis Vergados,
calçados gaúchos, as sandálias Franciscanos desatacando-se a Saccaro e a Todeschini.
não foram os primeiros calçados a serem ex- A Jackwal é fundada em 1949, com
portados para o exterior, mas com ruidosa sede da cidade de Gravataí, indústria do se-
campanha de marketing, faixas e buzinaços guimentos de metais, também, produz pro-
no momento em que a 1ª carga era embarca- dutos para cozinha e camping. A Meber que
da para a Inglaterra. é a maior fábrica de metais sanitários do Es-
A rivalidade entre São Leopoldo e tado, foi fundada em 1961, somando mais de
Novo Hamburgo sempre levou as cidades a 6.000 itens com linhas completas de metais
correrem juntas no setor calçadista, por fora para cozinhas e banheiros, hoje é considera-
vinha à cidade de Campo Bom que conseguiu da uma grife em metais.
alcançar. O baile do calçado, deu origem a Com início modesto em 1967, em uma
Festa do Calçado, esta por sua vez embrião serralheria, a produção de janelas bascu-
do da Festa Nacional do Calçado, a FENAC lantes, o fundador da Medabil, Attilio Bili-
realizada em Novo Hamburgo, que foi quem bio, transformou sua empresa em umas das
patrocinou a vinda de importadores de cal- maiores fabricantes mundiais de estruturas
çados e couro de todo o mundo. metálicas. A Medabil, que também atua no
No setor calçadista infantil desata- segmentos de plásticos, atende supermerca-
cou-se a Calçados Bibi (Parobé), sendo a pri- dos e shoppings, além de produzir imensos
meira indústria a se dedicar só a sapatinhos depósitos e silos.

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Até meados dos anos 60, a viagem dos gaúchos para as praias era um tormento, de
tal forma que em 1970, o então presidente da FIERGS Plínio Kroeff convidou o Ministro
dos Transportes Mário Andreazza para visitar Torres, sendo este conduzido pela RS 030,
ficou horrorizado e ao chegar a Brasília liberou verba para a construção da BR 290, a free-
-way dos gaúchos, porque afinal não era só o lazer que “atolava” mas também as indústrias
contando apenas com a BR 116 perdiam em competitividade.
No ano de 1967 temos a fundação da Aeromot que decolou fabricando componentes
e peças, como poltronas e instrumentos, enquanto alimentava o desejo de desenvolver pe-
quenos aviões. Hoje atua também em mercados como China e Emirados Árabes.

O Rio Grande na Era da Globalização, de 1980 para o futuro

Agosto de 1975 marca a criação do Polo de Triunfo e em 1976 nascia a Copesul em-
presa que coordenaria a implantação do Polo Petroquímico do Sul, sendo inaugurado em
1983. Em 1992, veio à privatização, a Braskem assume em 2008.
A Petropar é fundada em 1988, em Porto Alegre, e congrega quatro empresas Crown
Embalagens, Fitesa, América Tampas e Petropar Agroflorestal.
Fundada pelos irmãos Alexandre e Pedro Grandene, em 1971, a Grandene S.A come-
çou fazendo telas de plástico para garrafões de vinho, mas entrou para o mundo do calçado
em 1979, ao lançar a Melissa Aranha, em 1980 lançam linha para crianças, a Melissinha,
que ainda vinha com um brinde, veio também Grendha, Rider, Ipanema. Em 2004 abre seu
capital e passa a ter ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo. Assim a Grendene
é uma das maiores produtoras de calçados sintéticos do mundo.
O IEL começou a nascer, em 1968, sua missão ia além de cooptar os universitários,
era preciso educar os industriais para abrir-lhes espaço em suas empresas. Tornou-se o ar-
ticulador das soluções das demandas da indústria junto aos centros de conhecimento, ofe-
recendo produtos e serviços focados em desenvolvimento empresarial, educação executiva,
promoção do empreendedorismo e da inovação por meio de estágios e bolsas.
No final dos anos 60, surge o CPD (Centro de Processamento de Dados) da UFR-
GS, com a missão de difundir a utilização do computador na instituição, foi à tela para a
criação da indústria gaúcha de tecnologia. O pioneirismo na área da computação rendeu
muitas janelas ao RS, em 77 é criada a Edisa – Eletrônica Digital S/A, assumida pela norte-
-americana Hewlett-Packard (HP). Desenvolveu-se também a Digicon, Digitel, Altus S.A,
TecnoPUC, Polo de Informática da Unisinos, Feevale, UCS, FURG, UFPEL e UCPEL,
Dell e Ceitec.
Em 1929 foi fundada por imigrantes a Cordoaria São Leopoldo, recentemente foi
dividida em Cordoaria São Leopoldo S.A que faz cabos de navios e a Lupatech S.A Unidade
CSL que produz cabos para ancoragem, sendo líder nesse segmento e possuindo máquinas
de testes únicas no mundo. A beira dos 30 anos, a Lupatech investe nos segmentos de gás,
petróleo, válvulas para aplicações críticas e sólidos cabos para ancoragem de plataformas de
petróleo marítimas.

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Para quem acompanha o crescimento tima geração, garante a segurança das mer-
do Polo Naval de Rio Grande resta a certeza cadorias, conta com a presença de órgãos
que se abriu um mar de possibilidades. Com públicos no terminal e oferece interiorização
grandiosos investimentos e intenso traba- com três modais (Ferroviário, hidroviário e
lho, o polo naval é coisa de primeiro mun- rodoviário), tudo para que a indústria gaú-
do, tanto que a P-53 plataforma petrolífera cha possa aumentar sua competitividade e
da Petrobras foi construída no Porto de Rio prosseguir como indústria de ponta.
Grande, gerando emprego aos gaúchos e de- Os imensos molhes do Porto de Rio
senvolvimento das empresas na cidade. Grande domaram a “barra diabólica”,
Em março de 1997, uma associação abrindo a porta de entrada – e de saída para
de empresas representadas através da Tecon produtos exportados e importados pela in-
Rio Grande S.A, arrenda o terminal do por- dústria gaúcha, uma indústria de ponta.
to de Rio Grande por 25 anos. Atualmente Construído na cidade onde o estado nasceu,
recebe todas as principais linhas que fazem as vésperas de completar seu primeiro sécu-
escala no Brasil, além de ter mais de 2.500 lo de existência, é um dos mais modernos e
importadores e exportadores cadastrados movimentados terminais portuários do Bra-
em sua carteira, opera 24 horas por dia, 7 sil. É a partir dele que a indústria gaúcha se
dias por semana, possui equipamentos de úl- abre para um mundo ainda mais global.

88
Comércio
COMÉRCIO
Conceito, História e Evolução

Rogério Pereira Bastos e Liliane Inês Pappen


Comércio mércio da província, trazendo elementos de
seus países de origem. Os judeus, com certe-
Comércio é toda ação que tem como ob- za, em muito colaboraram para a pujança
jetivo principal a compra e revenda de mer- comercial, fazendo a venda de porta em por-
cadorias. Comércio é, portanto, o conjunto ta, um tipo de negócio diferenciado.
de atividades necessárias para tornar um Também temos os registros dos Caixei-
produto disponível aos consumidores, em ros-viajantes. O Caixeiro-Viajante é uma
determinado lugar, no tempo solicitado e em profissão bastante antiga, de quem vende
quantidades e preços especificados. produtos fora da localidade onde são pro-
duzidos. No período em que as estradas não
Um pouco de história... eram boas, os grandes centros eram distan-
tes, quando não havia a facilidade do trans-
O Rio Grande, como um todo, viveu o porte entre cidades, os caixeiros-viajantes
crescimento do comércio acompanhando o eram a única forma de transportar produtos
desenvolvimento proporcionado pela evolu- entre diferentes regiões. O Caixeiro-Viajante
ção que sofria o “continente”. Desde o perí- assemelha-se a função do mascate, que tem
odo da Courama (comércio de couro, e sebo, a profissão de mercador ambulante percor-
retirado dos vacuns selvagens) até o forte das rendo as ruas e estradas a vender objetos
Charqueadas, em Pelotas, o comércio no RS manufaturados, e produtos de toda ordem.
manteve-se sempre ligado ao
campo, ou na agricultura ou na
pecuária. Ao final do Sec XVII
surge a atividade do TROPEI-
RISMO: O gado era conduzido
para o corte e, para o transpor-
te na região das minas eram
conduzidos os muar(mulas) ori-
ginarias das criações no territó-
rio Argentino.
Em 1752, chegaram os aço-
rianos e com eles a produção do
trigo: surgindo assim os “MOI-
NHOS DE VENTO”. A chega-
da dos imigrantes influenciou
diretamente na indústria e co-

90
“A Rua da Praia, que é a única comercial, é extre-
mamente movimentada. Nela se encontram numero-
sas pessoas a pé e a cavalo, marinheiros e muitos ne-
gros carregando volumes diversos. É dotada de lojas
muito bem instaladas, de vendas bem sortidas e de
oficinas de diversas profissões. Quase na metade desta
rua existe um grande cais dirigido ao lago, e ao qual
se vai por uma ponte de madeira de cerca de cem pas-
sos de comprimento, guarnecida de parapeito e man-
tida sobre pilares de alvenaria. As mercadorias que aí
se descarregam são recebidas na extremidade dessa
ponte, sob um armazém de 23 passos de largura por
30 de comprimento, construído sobre oito pilastras de
pedra em que se apoiam outras de madeira. (...) Após
minha chegada, já contei cerca de 20 a 30 embarca-
ções no porto, e, segundo me informaram, é frequente
esse número elevar-se a 50. O porto dá calado para
sumacas, brigues e galeras de três mastros. Demoran-
do-se sobre a margem de um lago que se estende até
o mar, podendo ao mesmo tempo comunicar-se com
o interior por meio de vários rios navegáveis, cujas
embocaduras ficam diante de seu porto, Porto Alegre
está fadada a se tornar rica e florescente em futuro
muito próximo.”

Auguste Saint-Hilaire

Trecho do livro Viagem ao Rio Grande do Sul (1820-1821),


escrito pelo francês em sua passagem pela Porto Alegre de
1820

91
Em 1740, o governo português concedeu a Jerônimo de Ornelas a sesmaria de Morro
Santana, entre Viamão e uma península que avançava sobre o Guaíba. Em 20 anos, Ornelas
implantou uma fazenda, mas não se preocupou com a povoação do lugar.
Em 1750, o Tratado de Madri garantia o território do Continente de São Pedro para
Portugal, que tratou de enviar famílias, principalmente das ilhas dos Açores, para iniciar
a ocupação definitiva do Rio Grande do Sul. O projeto era de, primeiro, garantir para o
domínio português os Sete Povos das Missões. Mas os açorianos, entre eles muitos casais,
nunca chegaram à região, desenvolvida havia quase um século pelos padres jesuítas e índios
guaranis aculturados.
Abandonados no meio do caminho, os açorianos ficaram nas terras de Ornelas, entre-
gues à própria sorte. Improvisaram chácaras na beira do rio, construíram um casario na
que depois, viria a ser chamada de Rua da Praia. A
movimentação no lugar dava a impressão de que ali
havia um alegre povoamento. Barbosa Lessa, no livro, “Rio
Desgostoso com a presença dos açorianos, Orne- Grande do Sul, Prazer em Conhecê-
las vendeu suas terras para outro fazendeiro por- -lo”, conta:
tuguês. Não demorou para a sesmaria ser desapro-
priada. No dia 26 de março de 1772, o Porto dos “Nesse meio-tempo, os índios mis-
Casais foi desmembrado da freguesia de Viamão, sionistas reagiam às determinações
capital do Continente. Em 25 de julho de 1773, a do Tratado de Madri, recusando-se
capital foi transferida para a freguesia de Nossa Se- a obedecer ao governador de Buenos
nhora da Mãe de Deus de Porto Alegre, que só se Aires no tocante à entrega de suas
tornaria vila em 23 de agosto de 1808. Logo depois terras. E pouco depois estourava a
de proclamada a independência do Brasil, a car- Guerra Guaranítica. Em função des-
ta de lei de 14 de novembro de 1822, assinada por sa guerra, os casais açorianos não pu-
Dom Pedro l, elevou a vila à categoria de cidade. deram seguir para o pretendido desti-
Em Porto Alegre, no século XIX, as atividades no e ficaram retidos - praticamente ao
comerciais estavam concentradas no Mercado Pú- deus-dará - no Porto de Viamão. Que
blico (que sofreu com o incêndio de 1912 e a en- recebeu, a essa altura, o nome de Por-
chente de 1941). Na década de 60, a capital, que to dos Casais (futura Porto Alegre)”.
possuía em torno de, pouco mais de meio milhão
de habitantes, vivia uma década de desafios, e de
fortes turbulências, como a queda do governo de Jânio Quadros, o golpe militar, os gaúchos
se interessando mais pela televisão com a chegada da TV Piratini, canal 5, a TV Gaúcha, em
1962. A inauguração de Brasília havia transformado as campanhas publicitárias para atrair
mais clientes aos magazines das cidades.
Na primeira semana farroupilha, José Bertado, da Livraria O Globo, propôs que as lojas
fossem fechadas no 20 de setembro. Somente a Globo fez feriado, pois os demais somente fe-
charam depois do meio dia. Os lojistas não fechavam suas lojas no feriado, somente a Livra-
ria do Globo respeitava a data, fazendo feriado em homenagem à Revolução Farroupilha.
Em Porto Alegre, 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cida-

92
de, era feriado. Em setem-
bro de 1966 foi proposta O Mercado
NA TELINHA DA TV
a troca do dia 8 de dezem- Público
bro pela data farroupilha,
A televisão se tornou, para
pois interessava abrir no Inaugurado em 3
o comércio, um forte aliado. A
período de vendas de Na- transmissão era ao vivo, e garotas de outubro de 1869, o
tal. Não foi dequela vez. propagandas ofereciam o que os Mercado Público é uma
Apenas em 1978 o Dia de telespectadores encontravam nas das maiores atrações
Nossa Senhora da Concei- melhores casas do ramo. Redes de do Centro Histórico de
ção deixou de ser feriado lojas como a Colombo, sediada em Porto Alegre, ponto
na Capital. Mas a mudan- Farroupilha, teve sua expansão de visitação obrigató-
ça foi por outro dia santo: graças à chegada da televisão. Para ria para turistas inte-
a Câmara de Vereadores incrementar a venda de aparelhos ressados em descobrir
aprovou a troca pela data receptores, um sistema de aquisição os encantos da capital
de Corpus Christi, fora da por consórcio estimulou os clientes que gaúcha. Ao lado da
queriam acompanhar a programação
época natalina. A partir Prefeitura Municipal,
dos canais que estavam se instalando.
de 1979, 2 de fevereiro na frente da Praça XV,
passou a ser feriado mu- é local de compras e de
nicipal em homenagem encontro. Conforme es-
a Nossa Senhora dos Na- tatísticas oficiais, uma
vegantes. E o dia 20 de setembro se tornou média diária de 150 mil pessoas percorre os
o único feriado estadual do Rio Grande do corredores que levam às bancas e lojas. Em
Sul, de acordo com o decreto 36.80 de 1995, épocas de grandes vendas, como Semana
sancionado pelo governador Antônio Britto. Santa e Natal, o número de frequentadores
sobe para 250 mil por dia. Primeira constru-
Supermercados ção de alvenaria a ocupar um quarteirão na
Nos tempos mais antigos
o forte do comércio eram
os armazéns de secos e mo-
lhados. Tipo “Bolichão” de
campanha, onde tinha de
tudo para a venda. Em 1953
se instala o conceito de su-
permercado no Rio Grande
do Sul, com a abertura da
Campal e do Real, inspirada
no modelo norte-americano.
Nos anos 50, em São Paulo já
se experimentava o modelo
de abolir o balcão e o cliente
poder servir-se.

93
cidade, o prédio térreo deve-
ria ter uma praça arboriza-
da no pátio central, substi-
tuída por quatro chalés de
madeira. Em 1979 tornou-
-se patrimônio da cidade.
Na foto ao lado a vis-
ta atual de um dos pontos
mais conhecidos do centro
da capital gaúcha.

MOEDAS NO BRASIL

CRUZEIRO Nov 42 a Fev 67

CRUZEIRO NOVO Fev 67 a Mai 70

CRUZEIRO Mai 70 a Fev 86

CRUZADO Fev 86 a Jan 89

CRUZADO NOVO Jan 89 a Mar 90

CRUZEIRO Mar 90 a Jul 93

CRUZEIRO REAL Ago 93 a Jun 94

REAL a partir de 1º de julho de 94

94
Cultura
NOSSA CULTURA
Povoadores, a diversidade na cultura gaúcha:
a maior riqueza!
Ivo Benfatto
Um dos pontos focais para o estabeleci- com a participação de múltiplas etnias, quer
mento de políticas públicas para a cultura a dos imigrantes - de além mar e de outras
está no reconhecimento da importância da terras do Brasil - seja do branco voluntário
diversidade das expressões culturais, tan- ou do negro forçado, ou ainda, precedendo a
to que a UNESCO, em 2005, promoveu a essas, a dos indígenas autóctones. A rique-
construção da Convenção sobre a Proteção za do patrimônio cultural sul-rio-grandense
e Promoção da Diversidade das Expressões tem origem na contribuição que cada um
Culturais, ratificada pelo Brasil em 2007. dos povoadores ofereceu ao conjunto, cons-
Esse documento orienta, para os países sig- truindo, no seu somatório, valiosa escala de
natários, a elaboração de conceitos, metas e valores, idéias e crenças que caracterizam
políticas em favor da diversidade cultural, o todo. O patrimônio cultural herdado vem
com ênfase no pluralismo e no diálogo entre sendo destacado como componente essencial
as culturas e os diversos credos e nas políti- para o fortalecimento das identidades cul-
cas de desenvolvimento. turais sul-rio-grandenses, cujo conjunto se
Inseridos em um contexto de valorização estabelece como valioso tesouro para o de-
da diversidade, os saberes e fazeres culturais senvolvimento de uma economia geradora
e artísticos, que marcam as culturas popula- de emprego e renda.
res tradicionais, tem despertado o interesse Deseja-se, aqui, ressaltar a importância
da academia e dos gestores públicos e pri- das contribuições culturais dos povoadores
vados, que aprofundam estudos, que criam do Rio Grande, em sua diversidade étnica,
legislação específica, que projetam novos abordando tão somente, a superfície dessas
tempos. colaborações, ficando a cargo do leitor seu
Entre portadores e fazedores de culturas aprofundamento.
populares tradicionais, mas também entre
gestores e mediadores, vem sendo fortaleci- Os indígenas e os jesuítas: o gado
da a certeza da sua importância como agen- e o chimarrão
te econômico. É consenso que a cultura tam-
bém deve ser vista e aproveitada como fonte O Rio Grande do Sul tomou personalida-
de oportunidades de geração de ocupações de no cenário nacional brasileiro somente a
produtivas e de renda e, como tal, protegida partir da fundação do Forte Jesus-Maria-Jo-
e promovida pelos meios ao alcance do Es- sé, precursor da atual cidade de Rio Grande,
tado. em 1737. E o Brasil já possuía 237 anos de
Em se tratando de Rio Grande do Sul, história... mas, desde há muito, indígenas
cabe destaque à forma como foi povoado, já construíam cultura, cujas manifestações

96
contribuíram sobremodo para a formação É no período das reduções que se encontra
social e econômica do Rio Grande do Sul. a introdução do primeiro e principal tesouro
Conforme nos conta Savaris (2008), até econômico e cultural do Rio Grande do Sul: o
a chegada dos padres jesuítas espanhóis às gado. Coube aos padres jesuítas Cristovão de
margens do Rio Uruguai, nossos indíge- Mendonça e Pedro Romero, em 1634, para
nas eram, em sua maioria, semi-nômades e aproveitar as excelentes pastagens existen-
formaram três grandes grupos. Os Gês, ou tes e fixar os índios, dando-lhes condições
Tapuias, que habitavam o norte e o nordes- de sobrevivência. Em 1640, com o abando-
te do hoje território do Rio Grane do Sul, no da região das reduções pelos jesuítas, ali
dedicavam-se à agricultura e a cestaria com também foi abandonado o gado introduzido
fibras vegetais, o que ainda hoje vemos se- anos antes, que soltos, foram formar a Va-
rem vendidas por Caigangues nas margens caria do Mar, primeiro grande patrimônio
de estradas e em feiras de artesanatos. Já os econômico do Rio Grande do Sul.
Pampeanos ocupavam a região da Campa- Com o retorno dos jesuítas espanhóis em
nha e a Serra do Herval. Caracterizavam-se 1682, foram criados sete povoados urbaniza-
por serem nômades, coletores, caçadores e dos. No povoamento ficavam as moradias, a
pescadores. Com a introdução dos cavalos e igreja e a administração. Já no setor rural,
gado na região, pelos jesuítas espanhóis, tor- organizaram-se estâncias de gado, currais,
naram-se grandes cavaleiros e caçadores de ervais e lavouras. Para essas estâncias eram
gado fugido, usando tanto o laço como a bo- conduzidos o gado xucro, ou chimarrão, tra-
leadeira, trazida da caça de emas e veados.

O terceiro grupo, os Guaranis, distribu-


íam-se do leste do rio Uruguai às planícies
litorâneas, passando pela região das serras. Vacaria do Mar
Foi o principal grupo aldeado pelos jesuítas
em suas duas incursões: as reduções no perí- zidos das Vacarias dos Pinhais e da Vacaria
odo de 1626 a 1640, e o período da missões, do Mar.
de 1682 a 1767. Cabe destaque à outra grande contri-

97
buição cultural indígena na formação dos como habitação, desde os rudimentares abri-
hábitos e costumes do gaúcho: o chimar- gos, barracas e mesmo como material utili-
rão. O cultivo da erva-mate constitui-se em tário na construção de casas (portas, jane-
importante elemento da economia sul-rio- las, dobradiças, etc., também no mobiliário.
-grandense como produto indispensável na Destacou-se como material para a feitura de
cesta base da quase totalidade das famílias peças do arreamento dos animais, mas tam-
gaúchas. O chimarrão é símbolo da hospita- bém como instrumentos de trabalho como
lidade do gaúcho, que promove a igualdade laços, boleadeiras, fundas e canhões retova-
ao passar a cuia de mão em mão. dos e ainda como componente de meios de
A criação extensiva do gado e o hábito transporte e no vestuário.
de tomar chimarrão são importantes contri- Assim como nos tempos idos, ainda hoje
buições indígena missioneiras ao patrimônio o couro é importantíssimo como matéria
econômico-cultural do homem gaúcho. prima na indústria coureiro calçadista da
A presença do gado no território gaúcho, modernidade, mas impõem-se que se pre-
introduzido pelos padres jesuítas nos Sete serve e fomente a utilização do couro como
Povos das Missões, ofereceu a primeira gran- componente fundamental para promoção do
de alavanca para a economia regional, atra- artesanato regional tradicional.
vés da comercialização do couro, da graxa e
da carne como alimento. O gado também foi O açoriano: semeador de cidades
o indutor de manifestações de cultura popu-
lar tradicional originada do seu manejo que Em decorrência do Tratado de Madri, ce-
necessitava do cavalo para vencer distância lebrado entre portugueses e espanhóis em
e para os grandes rodeios. 1750, o território dos Sete Povos das Missões
O couro foi, e ainda o é, matéria prima foi trocado pelo da Colônia do Sacramen-
para multiuso dos primeiros povoadores do to. Por esse tratado, os índios missioneiros,
Rio Grande do Sul, de tal forma importante com suas famílias e seus pertences, deveriam
que, historiadores como Gustavo Barroso, ser transladados para a margem direita do
Oliveira Viana, Aurélio Porto e Capistrano Rio Uruguai, com destino à Colônia do Sa-
de Abreu denominam esses tempos como a cramento, localizada às margens do Rio da
Idade do Couro. Seu registro histórico inicia Prata, frente à Buenos Aires, o que não foi
em princípios do século XVII com a insta- aceito. Dessa desobediência missioneira re-
lação dos Sete Povos das Missões e, segun- sultou na Guerra Guaranítica (1753-1756),
do registra a História, “os guaicurus do sul estabelecida pela união de tropas espanho-
(charruas, minuanos, etc.) seriam os cria- las e portuguesas, contra os indígenas mis-
dores da idade do couro no Rio Grande do sioneiros de Sepé Tiaraju para fazer valer o
Sul (Mariante, 1979). No extenso pampa sul tratado assinado que previa a retirada com-
– que não conhecia o arame para demarcar pleta de índios e padres jesuítas da região
propriedade – o gado chimarrão era abun- das missões.
dante e vagava pelos sem fins das terras sem Por uma decisão do governo brasileiro,
dono. O couro teve mil e uma utilidades no caberia aos imigrantes açorianos substituir
Rio Grande de ontem, sendo empregado os índios missioneiros, para povoar aquela

98
tarde, a Taquari, Santo Antônio da Patru-
lha, Mostardas e Cachoeira. Em 1809 foram
criados os quatro primeiros municípios sul-
rio-grandenses, onde foi expressivo o povoa-
mento açoriano: Rio Grande, Porto Alegre,
Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha. So-
mente originários de Santo Antônio da Pa-
trulha, descendem 77 municípios gaúchos,
que aponta os açorianos e seus descendentes
como verdadeiros semeadores de cidades.
A contribuição açoriana para o desenvol-
vimento da economia fundamentou-se na
experiência da sua vocação agrícola, intro-
A chegada dos Casais Açorianos duzindo a lavoura canavieira, o engenho de
Augusto Luiz de Freitas , 1923 açúcar, a vitivinicultura e a cultura do trigo.
Tão logo os açorianos venceram os primei-
região, agora sob domínio português. Com
ros desafios da nova terra, foram natural-
início em 1748, começaram a chegar os imi-
mente miscigenar com moradores mais an-
grantes açorianos, inicialmente para a Ilha
tigos, de procedência lusitana do continente,
do Desterro, atual Florianópolis, em San-
mesclando-se com caboclos oriundos de São
ta Catarina. Para o Rio Grande do Sul, até
Vicente, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Per-
1754, vieram 585 casais açorianos que so-
nambuco e Bahia. Nesse caldeamento étnico
mavam 2278 pessoas, enquanto a população
proporcionou a troca de fazeres e saberes,
total no território sul-rio-grandense de en-
fazendo com que muitos açorianos trocas-
tão era, aproximadamente, de 3.000 pessoas
sem agricultura e pesca pela vida castrense,
(SAVARIS, 2008).
e desta para o trabalho com a pecuária, quer
Com o surgimento da Guerra Guaraníti-
no estanciamento de bovinos e muares, quer
ca e posterior tomada de Rio Grande pelos
no de conduzir tropas para o norte do país
espanhóis, os açorianos não alcançaram à
(RAMIRES, 2005) em direção a Sorocaba
região das Missões, pois seu trajeto, inicia-
ou para os acampamentos de garimpeiros
do na ilha do Desterro, foi marcado por pa-
em Minas Gerais.
radas motivadas por dificuldades adminis-
Mas não é somente nessa economia que
trativas, o que determinou o adiamento do
encontramos os traços da cultura trazida
povoamento planejado. Em cada parada fo-
pelos açorianos. Há também manifestações
ram se acomodando, fixando-se. Assim sur-
culturais, de origem açoriana que integram
giram Viamão, Porto Alegre, Triunfo, San-
o rico patrimônio cultural gaúcho. Elas es-
to Amaro, Rio Pardo, Rio Grande. Quando
tão presentes no linguajar, nos costumes e
da invasão espanhola em 1763, muitos dos
em manifestações de religiosidade. A tradi-
açorianos que para ali haviam se dirigido fo-
ção açoriana pode ser vista nas primeiras
ram obrigados, pelas circunstâncias, a aban-
moradias de alvenaria que construíram. Ali
donar o povoado, espalhando-se por vários
estão nas janelas de guilhotina e nas telhas
lugares do Rio Grande, dando origem, mais

99
produzidas em olarias rudimentares. Estão a fundação de Laguna em 1676, em Santa
nos ditos e adágios da literatura oral como Catarina, de onde passaram a sair muitas
“O que arde, cura”, “Tal Pai, tal filho”, das expedições ao Continente de São Pedro,
“Cautela e caldo de galinha não fazem mal a como era chamado o Rio Grande do Sul.
ninguém”. No rol das crendices como “nun- Primeiro para prear gado chimarrão e, de-
ca varrer a casa à noite”, “apontar o dedo pois, para ocupar o território.
para as estrelas traz verrugas”, etc. A rica Já em 1680, Manoel Lobo trouxe 60 ne-
culinária encontram-se a açorda, o feijão, a gros escravos para a fundação da Colônia de
carne de porco, a morcilha, os torresmos, os Sacramento, a expedição comandada por
peixes, crustáceos, fervidos de legumes, mi- Manoel Lobo trazia escravos negros. Conta
lho preparado de várias formas, moranga, a história que também as expedições poste-
batata doce, bacalhoada, dentre outros pra- riores que se dirigiram à Colônia de Sacra-
tos. A doçaria de origem açoriana apresen- mento levavam mais negros.
ta as massas sovadas, o pão-de-ló, o papo de
anjo, arroz doce, doce de leite, claras neva-
das, ovos moles, suspiros, rosquinhas fervi-
das, sonhos, etc.
Na religiosidade destaca-se a devoção ao
Divino Espírito Santo, a Festa de São João
Batista com fogueiras, os Ternos de Reis.

Os negros: trabalho, bravura, ale-


gria, bondade, tolerância e amor à
paz
Lanceiros Negros
Quando o assunto é a história da ocupa-
ção do espaço sul-rio-grandense, cabe des- Em 1737, O Brigadeiro Silva Pais contou
taque para a participação dos negros, que com inúmeros negros para a fundação ofi-
estão presentes no Rio Grande do Sul desde cial do presídio Jesus-Maria-José, que mais
o início da construção da sua história, em- tarde daria origem à cidade de Rio Grande.
bora sejam pouco lembrados, não obstante Com o desenvolvimento das charquea-
sua importante participação nas atividades das, na região de Pelotas, a partir de 1780
desenvolvidas pelos brancos portugueses: na o tráfico negreiro se intensifica para ofere-
terra, na casa, “na luta, ele se assemelhava cer mão de obra cativa para a produção do
à argamassa que, escondida entre os tijolos, charque. Há registros que afirmam haver,
mantinha a estrutura, mas que não era nun- naquele ano, 3.280 escravos, o que represen-
ca levado em conta” ( RS VITUAL, 2012). tava 29% da população total do Rio Grande
O bandeirante Raposo Tavares, no final do Sul, e se distribuiam ao longo da estrada
de 1635, que explorou os vales dos rios Ta- dos tropeiros, que ligava o extremo sul do
quari e Jacuí contou com escravos negros Rio Grande ao resto do país, pelo roteiro Rio
entre seus membros. Marco importante foi Grande - Mostardas - Porto Alegre Grava-

100
taí - Santo Antônio da Patrulha - Vacaria, monstrações de religiosidade dos povos de
ao longo do qual se localizavam as maiores terreiro, que se apresentam no sicretismo,
estâncias. criado no passado, com os rituais e os santos
Os negros estiveram entre os primeiros da Igreja Católica. Manifestações religiosas
tropeiros, peões e charqueadores e as marcas de origem afro são encontradas em todo o
dessa participação, está presente em expres- território sul-rio-grandense, até mesmo em
sivo número de manifestações de cultura po- cidades colonizadas por alemães, italianos,
pular tradicional, em várias áreas culturais. poloneses, dentre outras sabidamente cató-
Também militares, participando de eventos licas ou protestantes. Cabe destacar, ainda,
em defesa do território ou de ideias, como na a expressiva devoção dos afrodescendentes
Revolução Farroupilha e na Guerra do Pa- à Nossa Senhora do Rosário, demonstrada
raguai. pelos negros nas congadas, nos quicumbis e
Ao longo do tempo, na música regional nos maçambiques. Também são alvo de de-
nativista sul-rio-grandense, sua percussão voção à Santa Bárbara, São Benedito e São
assimilou a influência do ritmo africano. A Domingos.
“vanera”, dança de origem cubana, foi le- Na culinária, estão presentes o doce de
vada à Espanha, e, chegando ao Rio Gran- coco, a canjica, o quibebe e a pipoca, entre
de do Sul, transformou-se em “vanerão”; a outras, como o mocotó e a feijoada. Nesses
“polca”, de origem polonesa também se dei- há sempre alguma coisa mística, considera-
xou influenciar pelo ritmo africano. Segundo das comidas de santos.
Antônio Machado Pain afirma em seu artigo São muitas as contribuições dos negros
“Negros no Rio Grande do Sul”, milonga, para a construção da cultura gaúcha, mas
tem sua nomenclatura originada no verbo a alegria, a bondade, a tolerância, o amor à
“milonguear”, que significava “falar” para paz e a bravura são influências que marcam
os negros que formaram a cultura gaúcha.”. o caráter do gaúcho.
Dante de Laytano aponta africanismos
lingüísticos de origem negra em palavras Os alemães: agricultores e artí-
ainda hoje correntes no liguajar, como “an- fices – trabalho, técnica e alegria
gico” (árvore), “banzo” (tristonho, pensa- (1824)
tivo), “bocó” (pessoa tola), “bugiganga”
(coisa pequena, insignificante), “caçula” (fi- A Alemanha, como hoje se conhece, já foi
lho mais moço), “cafundó” (lugar distante), formada por mais de uma centena de esta-
“cambada” (corja de desordeiros), “japona” dos, de vários tamanhos e expressões. Em
(casaco de pano grosso) e “marimbondo” decorrência do Congresso de Viena (1815),
(inseto), dentre outros. que havia remodelado a configuração da Eu-
A prática de religiões de origem africana ropa, as potências vencedoras de Napoleão,
no estado, como a Umbanda, a Quimbanda, a Áustria, a Rússia e a Prússia, desencadea-
o Batuque ou Nação são uma importan- ram o processo de unificação da Alemanha.
te herança negra à religiosidade praticada A imigração de colonos alemães para o
por significativo número de gaúchos. Suas Brasil teve como antecedentes o desloca-
divindades estão presentes nos ritos e de- mento da família real portuguesa para o

101
sipiente sistema colonial brasileiro.
Dentre os imigrantes não havia somente
soldados e agricultores, mas grande número
tinha ofício definido, tal como marceneiros,
moleiros, ferreiros, alfaiates, pedreiros, etc.
Os soldados alemães recebidos para com-
por o novo exército imperial eram distribuí-
dos de acordo com a suas características físi-
cas nos Batalhões de Estrangeiros, se-diados
no Rio de Janeiro.. Os colonos alemães se-
riam, primeiramente, deslocados para o
Rio Grande do Sul, com destino planejado
Contribuição Alemã - Casa estilo Enxaimel
para ficarem, inicialmente, apenas em Porto
Brasil colônia, em 1808 fugindo da Europa Alegre e Santo Antônio da Patrulha. Nessa
para escapar da invasão das tropas france- oportunidade, o Rio Grande do Sul possuía
sas de Napoleão. Portugal que se negara, em cerca de 100.000 habitantes, distribuídos e
apoio à Inglaterra, a continuar com o Blo- quatro municípios criados em 1809: Santo
queio Continental imposto a todos os paí- Antônio da Patrulha, Rio Pardo, Rio Gran-
ses europeus pelo imperador francês. Com a de e Porto Alegre.
corte portuguesa no Brasil, cria-se o Reino Em 1824 chegam, em Porto Alegre, os
Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Com primeiros colonos alemães e suas famílias,
a derrota de Napoleão na célebre batalha de os quais foram, de imediato, encaminhados
Waterloo, em junho de 1815, era iminente o pelo governo provincial para a colônia alemã
regresso de D. João VI a Portugal, o que efe- de São Leopoldo, fundada no local onde se
tivamente ocorreu em 24 de abril de 1821, localizava a antiga “Real Feitoria do Linho
restando ao Brasil, retornar à condição de Cânhamo”. Novos grupos de alemães chega-
Colônia. As divergências acabaram por colo- ram ao Rio Grande do Sul em datas poste-
car D. Pedro em oposição ao seu pai, D. João riores, localizando-se, inicialmente, em São
VI, proclamando a Independência do Brasil Leopoldo, mas também em Santo Antônio
em 7 de setembro de 1822. Esse ato de D. da Patrulha (Torres e Três Forquilhas).
Pedro, agora D. Pedro I, encontrou resistên- A região colonial de origem alemã está
cia entre os portugueses residentes no Brasil dispersa, na atualidade, pelos vales do rio
fiéis a Portugal, o que forçou o imperador dos Sinos e do rio Caí. Houve, a princípio,
a formar um novo exército para garantir a um retardamento de aculturação. Segundo
independência. Por influência de D. Leopol- Egon Schade, (Apud Trespach, in “Passagei-
dina, Arquiduquesa da Áustria, com quem ros no Kranich” – 2007) “A pequena pro-
D. Pedro se casara em 1817, foi decidido que priedade, baseada no trabalho familiar, sem
deveriam ser trazidos da Europa, de regiões a necessidade de emprego da mão-de-obra
de língua alemã, seus patrícios, não só solda- nacional, foi responsável pela impermeabili-
dos mas também colonos, pois o novo país dade da sociedade teuta.”
precisava desenvolver economicamente o in- Os imigrantes alemães em muito contri-

102
buíram para imprimir estilo arquitetônico dito, “aportuguesaram” o que ouviam e pas-
próprio nas casas e igrejas, empregando, saram a nomear a nova peça como serigote.
muitas vezes, a técnica enxaimel existente
na Europa, mobiliando-as com móveis mui- Os italianos: terra, trabalho, reli-
to simples, de fabricação caseira e usando giosidade, alegria, família (1875)
o estritamente necessário. Uma das carac-
terísticas da colonização alemã foi dotar o Em 1870, o governo provincial do Rio
povoado primeiramente de uma igreja e de Grande do Sul criou novas colônias na re-
uma escola. O entretenimento esteve sempre gião das serras gaúchas, para onde esperava
presente com ações lúdicas. Criaram bandas atrair cerca de 40 imigrantes alemães. Hou-
de música, associações de canto coral, de es- ve dificuldades para atingir esse intento, pois
portes, de tiro-ao-alvo, de bolão, dentre ou- corria na Europa notícias de que os alemães
tras. A festa popular é outra característica imigrantes estavam enfrentando problemas
ainda presente nas comunidades de origem no Rio Grande do Sul, o que resultou na di-
alemã, como os Kerbs, Oktoberfest e Rei minuição do fluxo imigratório alemão, obri-
do Tiro, ou ainda no aculturado Festival do gando o governo provincial a procurar por
Chopp. Na culinária alemã imigrante, tem uma nova fonte de imigrantes: os italianos.
destaque pratos com base na carne suína e A imigração de alemães e de italianos
na batata. O hábito do café servido nas ca- tiveram como uma das causas comuns a o
sas dos colonos alemães, composto de vários grande crescimento demográfico experimen-
tipos de pães, cucas, tortas, salgadinhos, tado na Europa entre 1815 e 1914, o que fez
embutidos, schmier, mel, queijos, Käsesch- a população do velho continente saltar de
mier, nata, etc. deu origem ao hoje conheci- 180 para 450 milhões de habitantes. Esse
do café colonial, existente nas cidades com fato provocou a emigração para outros con-
origem na imigração alemã. Algumas con- tinentes de 40 milhões de pessoas, 85% das
tribuições alemãs foram tão assimiladas que quais para as Américas. A segunda foi o pro-
fazem parte dos costumes nacionais, como o cesso de unificação em ambos os países: em
uso da árvore de natal e do ninho de páscoa, 1870 na Itália, em 1871 na Alemanha.
sem que as pessoas saibam suas origens. A Itália de 1870, período em que começa
A gaita ponto ou de botão, verdadeiro a emigração maciça, vivia graves problemas
símbolo gaúcho, tão presente ao fazer mu- econômicos ainda decorrentes da unifica-
sical tradicionalista, também é uma contri- ção do seu território, provocados pelos de-
buição dos imigrantes alemães, assim como sequilíbrios regionais. Os pequenos agricul-
o foi seu rico artesanato. Conta-se que a pa- tores tiveram transformadas suas vidas em
lavra serigote tem origem na frase em ale- verdadeiro caos, pois a pequena indústria
mão “das ist sehr got”, ou seja, “este é muito artesanal, que complementava a sua renda
bom, este produto é de boa qualidade”. Essa não resistiram, fechando as portas. Com os
frase era utilizada pelos artesãos que ofere- impostos elevados, os minifúndios cada vez
ciam um tipo de peça de arreio para cavalos menores pela divisão para atender a uma po-
feita de forma artesanal, em couro. Como os pulação crescente fez com que aumentasse
gaúchos não entendiam o que estava sendo o consumo de pratos à base de milho, como

103
a polenta, e a passarinhada como fonte de nos.
proteínas. Os camponeses se tornaram sub- No período de 1875 a 1914, foram intro-
nutridos e fracos, pois a dieta a que tinham duzidos no Rio Grande do Sul aproxima-
acesso era desequilibrada, formada apenas damente 100.000 imigrantes italianos para
com base no milho. Fome e caos estão na ocupar o alto das serras, onde criaram vila-
origem da emigração Os homens do vinho rejos que transformaram-se em progressis-
ficaram nas terras altas. A alternativa foi tas cidades.
emigrar. Os colonos italianos plantaram trigo e
A partir de 1875 chegaram os primeiros milho, mas as novas variedades de videira
grupos, vindos de Piemonte, Lombardia e trazidas da velha Itália transformaram a
depois do Vêneto. Foram encaminhados às vitivinicultura na base da sua economia a
colonias localizadas na Encosta Superior tal ponto que, hoje, através das cooperativas
vinícolas que criaram, a produção
foi crescendo e melhorando, trans-
formando o Rio Grande do Sul no
principal produtor de vinhos finos
do Brasil.
A contribuição italiana para a
construção da cultura gaúcha foi
magnífica, onde cabe destaque a
valorização que os imigrantes ita-
lianos davam ao trabalho, à ho-
nestidade e à poupança, mas tam-
bém, em igual medida, à ética e a
solidariedade à família, os valores
morais, a força da religiosidade e
a grande percentual de iniciativa
Imigrantes italianos em Caxias do Sul para seus próprios negócios. O tra-
balho visto como a forma de reco-
do Nordeste e se instalaram nas colônias de nhecimento social é outro item importante
Conde D’Eu, atualmente a cidade de Gari- apontado.
baldi, de Dona Isabel, hoje, Bento Gonçal- Nos contam pesquisadores da Comissão
ves e de Caxias, criada no local chamado pe- Gaúcha de Folclore, em seu livro “Rio Gran-
los tropeiros que subiam a serra em direção a de do Sul – Aspectos do Folclore”, que “en-
Bom Jesus de “Campo dos Bugres”. Esta co- quanto as casas estavam em fase de constru-
lônia limitava-se com Nova Petrópolis, São ção, as famílias permaneciam num barracão
Francisco de Paula, o rio das Antas e Conde coletivo. Construíram suas amplas casas nas
D’Eu e Dona Isabel. encostas com um grande porão, utilizado
Em 1877, foi criada, em terras de mato para depósito e cantina. Na parte superior,
próximas de Santa Maria, a Colônia de Sil- ficava a residência; no sótão, guardavam-se
veira Martins para receber imigrantes italia- o cereais e mantimentos, protegidos das in-

104
tempéries. A cozinha, construía-se separa-
da da casa, a fim de se evitarem incêndios.
Ligava-se a esta por um alpendre. Faziam
cobertura com “aduelas” ou “scandolas”
(tabuinhas) e os beirais, enfeitados por
“lambrequins” artisticamente recortados.”
Como artesãos, destacam-se na confecção
de gaitas, garrafões de vidro e trabalhos
em vime. Trouxeram da Itália a fé católi-
ca, conservando fervorosamente seus hábi-
tos religiosos de rezar o terço, assistir missa,
Filó Italiano
acompanhar procissões, etc. e por esse moti-
vo, suas festa possuem caráter religioso: pro- esportivas. Torneios de bocha, mora, morina
cissão de Corpus Christi, Romaria de Nossa e inúmeros jogos de baralho como a “bisca”,
Senhora do Caravaggio, Festa da Colheita, o “trissete”, o “quatrilho”, o “cinquilho”, a
essa última animada por corais familiares. “escova”, acompanhados por vinho e canto-
Nas estradas da região colonial, encontram- ria fazem a alegria das tardes festivas e do-
-se inúmeros capitéis (capelinhas) em home- mingueiras. Na literatura oral, corrente na
nagem aos mais diversos padroeiros; grutas, colônia, aparece o Sanguanel, “homenzinho
que com imagens de santos enfeitam os jar- vermelho que rouba crianças, alimentando-
dins das residências. Uma característica dos -as durante alguns dias, com mel e frutas
colonos italianos é o gosto pela mesa farta, silvestres, desenvolvendo-as incólumes sem-
onde estão presentes as massas com espes- pre em lugares inacessíveis, como o alto de
sos molhos como o spaghetti, agnolini, um pinheiro, moita de gravatás ou no sótão,
tortei, gnochi, capelleti e outros, ao lado da dentro de uma caixa.”
tradicional polenta, acompanhados de car-
ne lessa, brodo (caldo de galinha), carne de Poloneses: trabalho e desenvolvi-
porco. O galeto, segundo Paula Simon Ri- mento (1875)
beiro afirma no livro “Rio Grande do Sul
– Aspectos do Folclore”, “o galeto, foi cria- Durante muito tempo, os poloneses vive-
do pelos colonos italianos para substituir a ram sob o domínio da Prússia, da Rússia e
passarinhada, tão ao seu gosto”. Diz ainda da Áustria, e, para literalmente sobrevive-
Paula Simon Ribeiro: “Entre os seus costu- rem usaram de rebeldia e de luta contra os
mes, observam-se os “filós” – espécie de se- dominadores. Ficando a situação interna
rões para a realização de tarefas conjuntas, insustentável, poloneses começaram a imi-
para a comemoração de alguma data ou fato grar para outros países, chegando ao Rio
importante como nascimento, batizado, ani- Grande do Sul, em 1875. Foi um grupo de
versário, etc. As boas safras e colheitas sem- 26 famílias provenientes do norte do país, da
pre forneceram motivo para festas que, inva- região de Gdansk, Czersk e Lag, província
riavelmente, se iniciam com missa. Os bailes de Marienver-den, então Pomerânia prussa.
foram substituídos pelos jogos e competições Esse grupo fixou-se na localidade de Azeve-

105
do Castro, Colônia Conde D’Eu, posterior-
mente Garibaldi, e hoje município de Carlos
Barbosa. Muitos desses colonos poloneses
reemigraram para outras colônias da Pro-
víncia sul-rio-grandense, a procura de mais
terras para plantar.
A partir de 1888 novas levas de imigran-
tes aportaram no Rio Grande do Sul, iludi-
dos por falsas promessas de benefícios. Esta-
vam mal informados, não traziam dinheiro e
não contavam com qualquer apoio, sequer do qual faz parte do grupo musical a figura
se fizeram acompanhar de um padre que do “diabinho”, que se encarrega de atrapa-
lhes reforçasse a fé, pois eram católicos fer- lhar a atividade dos músicos. É interessante
vorosos. Foi uma época de muitas agruras. registrar que o ovo de Páscoa é patrimônio
De 1890 em diante, sob o influxo da “febre cultural genuinamente polonês, incorpora-
imigratória”, novas colônias foram formal- do definitivamente às tradições do Brasil.
mente fundadas. Algumas dessas receberam Os descendentes poloneses utilizam ovos de
percentual expressivo de imigrantes polone- galinha cozidos, decoram-nos com pinturas
ses, como Guarani das Missões, Carlos Go- diversas. Esses ovos (Pisanki) são oferecidos
mes, Mariana Pimentel, Dom Feliciano, etc. por ocasião da Páscoa, simbolizando bons
Como vieram de diversas regiões, possuíam desejos para a vida de quem os recebe: amor,
hábitos e costumes próprios e falavam diale- felicidade e paz.
tos diferentes, com variados sotaques, o que, O casamento, nos primeiros tempos,
a princípio, dificultou a agregação interna acontecia somente entre descendentes po-
nas colônias. loneses e (wesele: bodas) constituía-se em
Os imigrantes poloneses encontraram um grande acontecimento social. A festa
muitas dificuldades para adaptação, no en- realizava-se na casa dos pais da noiva com
tanto, com o tempo, eles conseguiram se muitos comes e bebes. A mesa era provida
adaptar e prosperar. Hoje, seus descendentes de leitões e frangos abatidos na véspera, com
estão perfeitamente integrados, desempe- muito pão doce, cucas, tortas e bolachas.
nhando as mais diversas profissões, contri- Mais tarde, teve inicio a miscegenação com
buindo de forma expressiva para a cultura seus vizinhos italianos.
regional e o desenvolvimento econômico e Inicialmente, o folclore polonês se de-
social do Rio Grande do Sul. senvolveu entre os camponeses poloneses,
São inúmeras as manifestações culturais formando, em cada comunidade, tradições
de origem polonesa, trazidas ao Rio Gran- próprias, características de cada grupo. Com
de do Sul pelos imigrantes. Uma delas é a os movimentos migratórios, os povos repas-
forma de comemorar-se a Páscoa. Antes a savam os seus conhecimentos, deste modo,
tradição portuguesa - brasileira realizava so- estas influências repercutiram no folclore
mente as Festas dos Reis, onde se manifes- das regiões de imigração, através de canções,
tam os Ternos de Reis, cantados em polonês, danças e trajes poloneses. Essas manifesta-

106
ções vieram na lembrança dos imigrantes e cidades com imagens decorativas a Jesus
hoje são preservadas por grupos folclóricos Cristo, Nossa Senhora, a Santa Ceia e outras
formados pelos gaúchos seus descendentes. imagens sacras.
É um folclore rico em músicas regionais e
canções populares da Polônia. As danças Os japoneses: terra, trabalho e
mais apreciadas são: poska, mazurka, obe- discrição (1966)
rek, kujawiak, trojak, krakowiak... Os prin-
A alimentação do gaúcho sempre se ba-
seou na carne. Com a chegada dos imigrantes
alemães, novos hábitos foram introduzidos:
o churrasco ganhou o acompanhamento da
cerveja. Com a vinda dos italianos, a polenta
entrou na mesa. Mas o consumo sistemático
de verduras, as mais variadas e diversifica-
das, dependeu de uma outra imigração, que
atingiu o estado bem mais tarde. Foram os
japoneses, que, com exceção de algumas fa-
mílias pioneiras, vieram para o Rio Grande
só a partir de 1956, e introduziram o hábito
do consumo cotidiano de hortigranjeiros.
Terno de Reis Polonês “Orzeł Biały” A imigração japonesa para o Rio Grande
Dom Feliciano RS difere daquela que ocorreu no resto do país
em um aspecto essencial: a decisão de per-
cipais pratos típicos da cultura polonesa são: manecer no país. As primeiras levas de imi-
o Barszcz Zabielany; sopa a base de farinha grantes japoneses que vieram para o Brasil
de centeio, Pierogui; semelhante ao pastel, a partir de 1908 tinham a intenção de fazer
recheado com requeijão doce e canela, que um “pé de meia”, para depois voltarem para
pode ser assado ou cozido, Bigos; crazy: o Japão. Com isto, não procuravam estabele-
prato feito basicamente de repolho; zarni- cer raízes na nova terra. Já aqueles que vie-
na: bolinho de carne; sopa de carne de pato ram no período do pós-guerra pretendiam se
engrossada com o sangue do mesmo animal, estabelecer definitivamente no país. É esse
de origem russa, mas muito apreciada pelos o caso dos japoneses que vieram para o Rio
poloneses. A bebida preferencial é a wódka, Grande, onde o período de imigração durou
também é substituída por licores de frutas de 1956 a 1963, havendo se fixado no nosso
naturais. estado e em Santa Catarina entre 2 mil e 2,5
Católicos praticantes por devoção e fiéis mil indivíduos.
a Nossa Senhora de Czestochowa (Nossa Se- Os primeiros 26 casais de imigrantes ja-
nhora do Monte Claro), o povo polonês rea- ponenes chegaram ao Rio Grande do Sul em
liza inúmeras celebrações e procissões, entre 1966, distribuindo-se pela região metropoli-
elas, a Celebração de Corpus Christi, onde tana de Porto Alegre.
são montados inúmeros tapetes nas ruas das Os imigrantes mais recentes contaram

107
com um apoio muito importante, do próprio Espanhóis: nossos vizinhos à ca-
governo do Japão, que procurou orientar e valo
apoiar a emigração, fazendo com que os ja-
poneses tivessem condições de se estabelecer As terra do Rio Grande do Sul já foram de
satisfatoriamente no Brasil. Espanha. O Tratado de Tordesilhas, acordo
Exemplo disto foi o núcleo de Ivoti, que assinado em 1494, entre o rei de Portugal,
foi criado pelo governo em 1970. As terras D. João II, e os Reis Católicos, Isabel e Fer-
foram compradas pelo órgão de emigraçào nando de Castela e Aragão, estabeleceu que
do governo japonês, que as repassou, através seriam de propriedade de Portugal as terras
de financiamentos, para os imigrantes que descobertas e a descobrir situadas a leste de
estavam dispersos por outras áreas. Inicial- um meridiano, traçado de pólo a pólo, a 370
mente esses imigrantes começavam a vida léguas das ilhas de Cabo Verde, enquanto
no novo país como parceiros ou meeiros agrí- as terras situadas a oeste desse meridiano
colas. Aos poucos procuravam comprar sua pertenceriam à Espanha. No Brasil, esse
propriedade, e se organizavam em núcleos. meridiano passa pela cidade de Belém, ao
Isto ocorreu não só em Ivoti, mas também norte, e por Laguna, ao sul. Portanto, pelo
em Itapuã (Viamão) e em Terra de Areia, Tratado, o território do Rio Grande do Sul
onde surgiram grupos significativos de agri- pertencia à Espanha, pois ficava a oeste da
cultores japoneses, dedicados ao cultivo de linha divisória. Por consequência, desde o
hortifrutigranjeiros. A presença de imigran- início da sua formação, das definições do seu
tes japoneses em Ivoti, por seu trabalho e espaço geográfico, do seu povoamento, o Rio
contribuição cultural, é tão significativa que Grande do Sul foi influenciado pelos seus
a municipalidade adotou o cultivo de flores vizinhos espanhóis, com quem continham
como sua adjetivação: “Ivoti, a Cidade das contato direto e permanente na disputa so-
Flores”. bre território, sua ocupação e guarda, na
definição das linhas de fronteira. No século
XVII todo o atual estado estava em mãos
espanholas; já no seguinte a situação se in-
verteu com o Brasil incorporando o Uruguai
ao seu território como Província Cisplatina.
Portanto, não poderia ser diferente: a in-
fluencia espanhola na formação do povo sul-
-rio-grandense foi e é uma realidade. Pode se
afirmar que a principal contribuição espa-
nhola ao Rio Grande do Sul foi a introdução
do gado bovino no seu território, através da
ação dos jesuítas. Com o processo de redução
dos índios guaranis, os jesuítas formaram
grandes rebanhos de gado para alimentação
dos residentes nos povoados. Ao abandona-
rem a região, deixaram o gado nos campos,

108
que proliferou em decorrência da pastagem “Tirana do Lenço” e “Chamarrita”, entre
farta, tornando-se a busca desse gado, cha- outras.
mado chimarrão, um objetivo econômico A influência espanhola no desenvolvi-
para os paulistas das bandeiras e os lagu- mento de manifestações culturais do Rio
nenses que penetraram em território gaúcho Grande do Sul são intensas e muito eviden-
para sua caça. tes nos mais variados segmentos de cultura
A influência cultural ainda hoje está pre- popular tradicional. Não há, no Rio Grande
sente nos hábitos e costumes do homem à do Sul, nenhuma cidade com características
cavalo existente nos dois lados da zona de predominantemente espanholas, mas pode-
fronteira, na campanha. As situações do dia -se afirmar que, em toda, encontraremos
a dia na lida campeira são parecidas e de- traços da sua influência, principalmente nas
correm de atividades econômicas idênticas. regiões de fronteira.
Isso é refletido nas indumentárias campei-
ras muito semelhantes, onde se destacam as Judeus: para o campo ou para a
botas, a bombacha e o lenço. Também nas cidade, para viver em paz.(1904)
peças das encilhas encontra-se grande seme-
lhança entre as utilizadas pelos “gauchos” e Açorianos, alemães e italianos vieram
o pelos gaúchos. Como não poderia ser dife- para o Rio Grande do Sul para fugir de si-
rente, a gastronomia, com base carne, está tuação econômica precária em seus lugares
presente nos dois lados da fronteira, o chur- de origem, em busca de terra para reiniciar
rasco ou parijada. suas vidas e sobreviver com dignidade. Já
A influência espanhola no linguajar é tão os judeus, que além de terem os mesmos ob-
intensa, que vocábulos espanhois estão pre- jetivos dos imigrantes que os antecederam,
sentes na fala dos gaúchos da fronteira com também viram, na emigração, oportunida-
o Uruguai e a Argentina, numa mescla de de para fugir da humilhante discriminação
termos castelhanos e portugueses, o que deu racial a que eram submetidos em seus países
origem conhecido “portunhol”. Também de origem. Queriam viver em paz, com dig-
nas artes há influência espanhola, princi- nidade.
palmente na poesia gauchesca escrita e nos A imigração judaica no Rio Grande do
versos de improviso das pajadas, comum aos Sul aconteceu em duas direções: uma rural
três países do Cone Sul. Na música, a influ- e outra urbana. A corrente rural destinava
ência está nos instrumentos utilizados, com imigrantes para colônias agrícolas especial-
destaque para o violão, entre outros. mente criadas para recebê-los, e a corren-
Muitas manifestações de cultura popu- te urbana, posterior, foi composta por imi-
lar tradicional podem ser apontadas como grantes que se dirigiam diretamente para as
contribuições espanholas. Como exemplos, cidades especialmente para Porto Alegre,
citam-se os festivais de pandorgas, também concentrando-se no bairro Bom Fim.
conhecidas como pipas ou papagaios, reali- O Barão Maurício de Hirsch, homem de
zado na Sexta-feira Santa na zona de fron- posses e banqueiro em Bruxelas, com o obje-
teira do Rio Grande do Sul, ou ainda nas tivo de auxiliar os judeus russos, alvos de in-
dança tradicionais gaúchas como “Anú”, tensa discriminação, resolveu criar, em 1891,

109
a Jewish Colonization Associa-
tion, uma organização para a cria-
ção de colônias agrícolas em di-
versos países, dentre eles o Brasil,
para receber, como imigrantes, os
judeus discriminados na Europa.
Em 1903 foi adquirida uma área
de 5.767 hectares em Santa Maria,
para estabelecer a primeira colô-
nia brasileira que recebeu o nome
de Philipson, integrante desta-
cado da JCA, que atuava no Rio
Grande do Sul. A partir de 1904,
começaram a chegar os primeiros
imigrantes judeus russos vindos
da Bessarábia.
Conta-nos Cristine Fortes Lia que, na nova terra, os imigrantes receberam lotes de 25 a
30 hectares, com uma residência, instrumentos agrícolas, duas juntas de bois, duas vacas,
carroça, cavalo e sementes, a um preço de cerca de cinco contos de réis, a serem pagos em
prazos de 10 a 15 anos.” Em 1909, foi adquirida a fazenda Quatro Irmãos, de mais de 93
mil hectares, localizada em Passo Fundo, em área hoje pertencente a Erechim e a Getúlio
Vargas. Ali se instalou nova colônia, a semelhança da Philipson. Mais tarde, foram criados
outros núcleos de colonização na mesma região: Barão Hirsch (1926), Baronesa Clara (1927)
e, mais tarde, Rio Padre e Pampa. No correr do tempo, a grande maioria dos colonos judeus
abandonaram às colônias, indo para as cidades próximas, como Passo Fundo, Santa Maria
e mesmo para Porto Alegre, Erechim, em busca de segurança, Outra motivação para a ida
dos colonos judeus para as cidades foi o fato de haver escolas primárias na colônias e terem
que encaminhar seus filhos para as cidades, o que lhes causava grande dificuldade pois não
tinham como sustentá-los nas cidades. O mais fácil foi, então, eles migrarem para se junta-
rem aos filho estudantes
Nas cidades, os judeus imigrantes exerceram profissões que são registradas na memória
das cidades, principalmente em Porto Alegre: o klienteltshik e o gravatnike.
O klienteltshik foi um vendedor ambulante que se utilizava da venda direta ao consu-
midor. em prestações, primeiro de tecidos, mas depois de peças de vestuário pronta. Os
gravatnike, pessoas que não tinham uma profissão definida, ou que estavam começando a
trabalhar, vendiam gravatas aos passantes. Os judeus imigrantes detentores de habilidades
artesanais, tratavam logo de se estabelecer em local fixo, como foi o caso de marceneiros,
que começaram com suas pequenas oficinas e terminaram transformando a Oswaldo Ara-
nha em uma sequência de lojas de móveis; ou de alfaiates, que se tornaram donos de gran-
des confecções. (Fortes Lia, 2011).

110
FESTEJOS FARROUPILHAS
A evolução da maior festa popular do Rio Grande do Sul
Rogério Bastos
Ao longo dos anos entendemos que a história deve deixar rastros na memória. Registros
de atas, documentos, materiais diversos mostram como as sociedades se formam, como pen-
sam, como agem. O tradicionalismo gaúcho viveu fases em sua história e, principalmente, a
semana farroupilha que marcaram época. Aqui vamos mostrar um pouco do por quê desta
paixão.
Inicialmente a semana farroupilha foi a Ronda Gaúcha de 1947 com acendimento de
chama crioula, um rito que se perpetuou nas imagens do “Grupo dos Oito”, liderados por
Paixão Cortes. Em 1964 foi oficializada pelo governo do estado com desfiles e pompas, re-
lembrando os feitos dos farroupilhas. Nas comemorações do sesquicentenário da Revolução
Farroupilha um olhar diferenciado surge sobre a epopeia, novos escritos, acontecimentos
e um novo reconhecimento. Chega o novo milênio e, com ele, a profecia de Barbosa Lessa
começa a se cumprir. Vejam o que dizia Lessa sobre os novos tempos, no livro: “Nativismo
– Um fenômeno social gaúcho”:

“..no entanto, aquela etapa é essencial para a compreensão do que vem ocorrendo
com a cultura desde os anos 90 do século XIX. Ou seja: ciclicamente, de trinta em
trinta anos, ao ensejo de alguma rebordosa mundial ou nacional, e havendo clima
de abertura para as indagações do espírito, termina surgindo algum “ismo” rela-
cionado com a Tradição. Assim foi com o gauchismo dos anos 90 (1890). Com o
regionalismo dos anos 20 (1920). Com o tradicionalismo dos anos 50 (1947...). Com
o nativismo de 1970. E sou capaz de jurar que lá pelo ano 2010 surgirá uma espécie
de telurismo antinuclear ou cibernético, resultante da inquietação de analistas de
sistemas em conluio com artistas plásticos, incluindo cartunistas e comunicadores
visuais. É claro que, de acordo com cada época, modifica-se a dinâmica e o campo
de ação. Mas, no fundo, é tudo a mesma coisa: expressão de amor à gleba e respeito
ao homem rural”.

Em 1999 o acendimento da Chama Crioula foi realizado em Pelotas, numa homenagem


ao centenário da União Gaúcha Simões Lopes Neto. Em 2000 o acendimento ocorreu em
Alegrete, na “Capela Queimada”. Os dois eventos foram prestigiados pela direção do MTG,
mas tiveram muita pouca participação das coordenadorias regionais. Foram eventos locais,
sem grandes repercussões.
Manoelito Savaris, ex-presidente do MTG, lembra de uma reunião em 2000: “Numa reu-
nião do Conselho Diretor do MTG, o assunto predominante dizia respeito à Semana Farrou-

111
pilha. A maior queixa era a falta de apoio da grande mídia e a dificuldade de envolvimento
dos poderes públicos, estadual e municipais.” – confidenciou o Presidente. Até 2002 o desfile
farroupilha da capital tinha uma pequena arquibancada e o palanque oficial era montado
com caminhões cedidos pelo Exército, que por vezes, era sobra do desfile de 7 de setembro.
No interior eram raros os acampamentos e poucas cidades realizavam desfiles com temática,
mas cada um criava seu motivo. “Nenhuma cidade do interior recebia recursos através da
Comissão Estadual. Aliás, a Comissão Estadual, mesmo que prevista em lei, desde 1964, não
se reunia e não cumpria qualquer função.” – Lembra Savaris.
Hoje, no Acampamento Farroupilha de Porto Alegre o espaço de mídia (jornal, rádio e
televisão) rivaliza com o espaço ocupado pela Expointer. Não somente na capital, mas em
todo o Estado. Os acampamentos farroupilhas crescem a cada ano, seja em número, seja em
qualidade. São mais de 50 cidades que realizam este tipo de atividade.
Os desfiles temáticos, criados em 2003, com muita resistência, se transformaram em atra-
ção na maioria dos municípios. Em Porto Alegre transformou-se em espetáculo noturno
com milhares de pessoas assistindo e centenas desfilando. Os carros temáticos são uma atra-
ção especial, pela beleza, pela criatividade e principalmente porque contam a nossa história
do tema anual. “O acendimento da chama crioula se transformou num grande evento (o
primeiro no formato atual foi realizado em 2001 em Guaíba) com participação das 30 RTs.
As cavalgadas de condução das centelhas da Chama Crioula cortam o Estado de ponta a
ponta.” – Completou Savaris.
Dos anos 2000 os festejos farroupilhas receberam o que, hoje, na linguagem da tec-
nologia da informação, chamamos de “Up Grade” como a
Chama Crioula tematização do evento, dos desfiles, inclusão nas escolas e
Locais de acendimento participação de alunos, lojas tematizadas, com a inclusão
2001 - Guaíba, na fazenda de Gomes
Jardim de homenageados, locais específicos, com sítios históricos
2002 - Santa Maria, no centro do esta- para acendimento da chama crioula, valorizando o interior
do
do estado e provendo o turis-
2003 - Camaquã, no sítio Água Grande,
de Barbosa Lessa Temas dos Festejos mo no Rio Grande do Sul.
2004 - Erechim, no Recanto dos Tauras
2005 - Viamão, cidade fundamental na 2001 - A República
história do RS 2002 - A mulher
Homenageados dos Festejos
2006 - São Gabriel, na Sanga da Bica, 2003 – Soldado Farrapo: O herói anô-
onde tombou Sepé Tiarayú Farroupilhas do RS
nimo
2007 - São Nicolau, 1ª redução e um dos 2004 – Os Ideais Farroupilhas
7 povos das missões 2005 – O Gaúcho: Usos e Costumes 2005 – Luiz Alberto de Menezes
2008 - São Leopoldo, Terra de Coloni- 2006 – Assim se fez o Gaucho 2006 – João Carlos Paixão Cortes
zação Alemã 2007 – Antonio Augusto Fagundes
2007 – Assim se movimentou o Gaucho
2009 - São Lourenço, no casarão de 2008 – Wilmar Winck de Souza
Ana, irmã de Bento Gonçalves 2008 – Nossos símbolos: Nosso Orgulho
2009 – Os farroupilhas e suas façanhas 2009 – Telmo de Lima Freitas
2010 - Itaqui, o acendimento volta para
a fronteira 2010 – Farroupilhas: Ideais, cidadania 2010 – Rodi Pedro Borghetti
2011 - Taquara, cinquentenário da Car- e revolução 2011 – Alcy José de Vargas Cheuiche
ta de Princípios 2011 – Nossas raízes 2012 – Nilza Lessa
2012 - Venâncio Aires - Capital Nacio- 2012 – Nossas riquezas
nal do Chimarrão

112
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FOTOS E IMAGENS:

Google Imagens e Acervo dos Colaboradores

FONTES:

Museu da Eletricidade do Rio Grande do Sul

COLABORADORES:

Coordenadoria de Comunicação Social – Grupo CEEE – Texto e Imagens


CRM – Companhia Riograndense de Mineração – Texto e Imagens
BASTOS PRODUÇÕES
Produção, promoção, assessoria e organização de eventos. Produção gráfica e diagramação
de jornais, livros e outros materiais.
Fone: 51 8186 4262 - E-mail: bastosproducoes1@gmail.com

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201

FUNDAÇÃO CULTURAL GAÚCHA - MTG/RS

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