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BASES PARA CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE

MONITORAMENTO SOCIOAMBIENTAL DAS UNIDADES


DE CONSERVAÇÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA
_______________________________________________________________

DOCUMENTO SÍNTESE
Seminário realizado nos dias 07 e 08/10/2009 no Centro Cultural Israel Pinheiro, Brasília-DF

Relatoria e Sistematização: Ana Beatriz Vianna Mendes (Consultora)

Supervisão e Revisão: Caê Marinelli

Realização Apoio

Programa Monitoramento de Áreas Protegidas

Instituto Socioambiental
Brasília, DF - 2010

______________
Para citar este documento: Marinelli,C.E. & A.B.V. Mendes, 2010. Bases para construção de um sistema de
monitoramento socioambiental das Unidades de Conservação da Amazônia Brasileira. Documento Síntese:
Seminário. Instituto Socioambiental. Brasília-DF. 21p.
LISTA DE PARTICIPANTES

NOME INSTITUIÇÃO
Adriana de Carvalho B. Ramos ISA
Alicia Rolla ISA
Allan Razera ICMBio
Ana Cristina Barros TNC
André A. Cunha GFA/GTZ
Andreina Valva MMA
Arnaldo Carneiro Filho ISA
Ana Beatriz Mendes Consultora
Caren Cristina Dalmolin ICMBio
Caê Marinelli ISA
Carlos Henrique V. Fernandes ICMBio
Caroline Jeanne Delelis Embaixada Francesa
Christian Silva UTFPR
Cristina Adams USP
Daniel Vieira Embrapa
Daniela Lerda Funbio
Davi Lima Pantoja UnB
Deborah de Magalhães Lima UFMG
Deisi C. Balensiefer ICMBio
Elaine P. Porfírio ISA
Érika Fernandes Pinto ICMBio
François Michel Le Torneau Embaixada Francesa
Gustavo Machado SFB/MMA
Gustavo Vieira ISA
Helena Boniatti Pavese UNEP
Helio Cunha MMA
Henyo Barreto IEB
Irene Garay UFRJ
Jorge Madeira UnB
Lucia Lima ICMBio
Manoel Cunha CNS
Marcelo Hercowitz ISA
Mariana Napolitano Ferreira WWF
Maura Silva MMA
Paulo Bretãs Salles UnB
Nurit Bensusan -

2
NOME INSTITUIÇÃO
Paulo Maier ICMBio
Petra Ascher GTZ
Ricardo Fraiz Vasques IBAMA
Rita Mesquita INPA
Saulo Andrade ISA
Sergio Borges FVA
Sylvia Bahvi -
Tatiany Barata MMA

3
LISTA DE SIGLAS

ARPA: Programa Áreas Protegidas da Amazônia


CDB: Convenção sobre a Diversidade Biológica
CNS: Conselho Nacional das Populações Extrativistas
FAUC: Ferramenta de Avaliação de Unidades de Conservação do Programa ARPA
Funbio: Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
FVA: Fundação Vitória Amazônica
GTZ: Cooperação Técnica Alemã
IABIN: do inglês Inter-American Biodiversity Information Network.
ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IEB: Instituto Internacional de Educação do Brasil
INPA: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
ISA: Instituto Socioambiental
IUCN: do ingles International Union for Conservation of Nature.
MMA: Ministério do Meio Ambiente
MUSA: Museu da Amazônia
Ong: Organização não-governamental
PNAP: Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas
ProBUC: Programa de Monitoramento da Biodiversidade e do Uso de Recursos Naturais
em Unidades de Conservação Estaduais do Amazonas
RAISG: Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georeferenciada
RAPPAM: do inglês Rapid Assessment and Priorization of Protected Area Management
TNC: The Nature Conservancy
UCs: Unidades de Conservação
UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais
UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro
UnB: Universidade de Brasília
UNEP: do ingflês United Nations Environment Programme
USP: Universidade de São Paulo
UTFPR: Universidade Tecnológica Federal do Paraná
WDPA: do inglês World Database on Protected Areas

4
INDICE

APRESENTAÇÃO

RELATÓRIO

DIA 07 DE OUTUBRO DE 2009

Mesa-Redonda 1. SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS: iniciativas


em andamento e a demanda pelo incremento do controle social em Unidades de
Conservação da Amazônia Legal

Mesa-Redonda 2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA: uma leitura das muitas amazônias numa
Amazônia só

Mesa-Redonda 3. DIMENSÕES SOCIOAMBIENTAIS DAS UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA: eixos estruturais em uma dinâmica de interações
complexas

DIA 08 DE OUTUBRO DE 2009

Mesa-Redonda 4. UM SISTEMA DE AVALIAÇÃO SOCIOAMBIENTAL PARA


UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA: princípios para uma
abordagem estratégica e complementar

Mesa-Redonda 5. SISTEMAS DE AVALIAÇÃO INTEGRADA: procedimentos e casos

Mesa-Redonda 6. DEMANDAS DA SOCIEDADE POR UM SISTEMA DE


AVALIAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA
AMAZÔNIA: aplicações, aportes e envolvimentos

CONCLUSÕES

5
SEMINÁRIO “BASES PARA CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE
MONITORAMENTO SOCIOAMBIENTAL DAS UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA”
07 e 08/10/2009, Centro Cultural Israel Pinheiro, Brasília-DF

APRESENTAÇÃO

Nos dias 07 e 08 de outubro de 2009, em Brasília, foram reunidos representantes de seis


ONGs, cinco órgãos do governo federal, de seis instituições de ensino superior/de
pesquisa e quatro de instituições internacionais, num total de 46 participantes,
representando 21 instituições. Este evento teve como objetivo complementar a base de
conhecimento acumulado pelo Programa Monitoramento de Áreas Protegidas do Instituto
Socioambiental (ISA) para a construção de um sistema de monitoramento socioambiental
das Unidades de Conservação (UCs) da Amazônia Legal.

No material de apoio distribuído aos participantes do seminário, constava um


documento que trazia parte dos resultados de um exercício de modelagem qualitativa. Esse
método foi adotado por permitir lidar com a incompletude de conhecimento sobre a
dinâmica socioambiental de UCs da Amazônia e os processos desencadeados pelas relações
causais entre diferentes dimensões do modelo: ambiental, social, econômica e cultural. A
representação formal dessas relações possibilitou disseminar parte dos conceitos práticos
envolvidos na dinâmica socioambiental de UCs, possibilitando sua apropriação e
aprimoramento pelo público presente e o recebimento de aportes a partir da visão dos
diferentes setores da sociedade sobre o modelo proposto.

Num total de seis mesas redondas, diferentes temas ligados à dinâmica


socioambiental dessas áreas protegidas foram discutidos, voltados a três aspectos
principais: conceitos práticos, procedimentos para definição de indicadores e potencial de
envolvimento dos diferentes setores da sociedade. Cada mesa contou com a participação de
quatro especialistas que receberam previamente três perguntas orientadoras sobre as linhas
que deveriam abordar, de acordo com o tema central de cada mesa.

6
No primeiro dia foi abordado o estado da arte sobre sistemas de monitoramento e
avaliação de Áreas Protegidas; discutiu-se sobre o marco conceitual1 da proposta
apresentada, a partir de diferentes cenários amazônicos; e foram salientados alguns dos
processos orientadores relevantes para uma proposta de monitoramento socioambiental
sob visão sistêmica.

No segundo dia foi discutida a abordagem para que o sistema em construção tenha
um caráter de aplicação mais estratégico em relação aos sistemas atualmente em execução;
foram traçadas algumas orientações como referência para sua elaboração; e apresentadas
visões e expectativas dos diferentes setores da sociedade quanto a um sistema de
monitoramento socioambiental para UCs da Amazônia.

A opinião dos participantes e as considerações da plenária durante a sessão de


encerramento tiveram como principais destaques a qualidade dos debates propiciada pelos
conhecimentos e experiências reunidas pelos participantes das mesas redondas e a postura
de comprometimento da plenária em contribuir efetivamente com o debate. O pioneirismo
com que o tema do seminário vem sendo abordado pelo ISA e a forma de condução desse
processo diante do desafio que ele representa, também foram bastante valorizados.

Este relatório apresenta os principais aportes de cada mesa redonda e uma


sistematização geral das contribuições trazidas por cada palestrante. Não se trata de um
relatório exaustivo, incluindo todos os pontos da fala de cada palestrante ou da plenária,
nem tampouco do posicionamento do ISA com relação às mesmas. Trata-se de uma
sistematização das idéias, conceitos e contribuições trazidas no evento, e que serviram
como input para outros fóruns de discussão2 com o objetivo de elaborar um sistema de
monitoramento socioambiental de UCs da Amazônia.

1 O marco conceitual da proposta é pautado em três abordagens teórico-analíticas: 1. A noção de


desenvolvimento da sustentabilidade, em seus aspectos ambientais, sociais, econômicos, mas
também, culturais e espaciais (Sachs, 1986); 2. Manejo integrado dos recursos naturais (Holling,
1978; Sterman, 2000); e 3. Teorias ecológicas e de sistemas (Müller e Leupelt, 1998).
2 Nomeadamente, as Oficinas Regionais realizadas em Manaus e Belém, entre 19 e 23 de outubro

de 2009, que reuniram representantes de todos os estados da Amazônia brasileira e que


possibilitaram: a socialização de visões de realidades locais e regionais; a assimilação das demandas
por informações socioambientais de UCs da Amazônia; e por último, mas não menos importante, a
sugestão por parte dos participantes de variáveis e recortes para uma avaliação com tal abordagem.

7
RELATÓRIO
Dia 07 de outubro de 2009

SISTEMAS DE AVALIAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS:


iniciativas em andamento e a demanda pelo incremento do controle social em Unidades de
Conservação da Amazônia brasileira

Existem diversos mecanismos e iniciativas que se propõem a avaliar e a monitorar


áreas protegidas – cerca de 40 no mundo e mais de uma dezena só no Brasil. A PRIMEIRA
MESA REDONDA do seminário reuniu representantes de iniciativas em andamento, com
diferentes perfis: o World Database on Protected Areas (WDPA), coordenado pela
UNEP/ONU; o Rapid Assessment and Priorization of Protected Area Management (RAPPAM),
adotado pelo ICMBio/MMA; e a Ferramenta de Avaliação de Unidades de Conservação
(FAUC), aplicado no âmbito do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA)/MMA.
As iniciativas atualmente em curso são pontuais (avaliam parte das UCs) ou não se
voltam para questão socioambiental, concentrando-se em avaliações sobre gestão,
geralmente sob o ponto de vista do gestor e para apropriação/aplicação pelos próprios
órgãos gestores. Diante deste panorama, foi apontada a importância de que o sistema
proposto pelo ISA evite duplicar esforços, a partir de uma revisão dos indicadores já
disponíveis e que, ao mesmo tempo, minimize as lacunas, complementando as informações
e os bancos de dados já existentes3.
A Rede Interamericana de Informações sobre a Biodiversidade (IABIN)4, por
exemplo, deve ser considerada, já que visa criar mecanismos para o intercâmbio de
informações relevantes sobre a conservação e o uso sustentável da diversidade biológica,
além de propiciar a colaboração técnica e coordenação na coleta, compartilhamento e
utilização de informações sobre biodiversidade nos países americanos.
Helena Pavese destacou que o WDPA é o único inventário global de áreas
protegidas existente no mundo. O sistema de monitoramento que gera esses dados
apresenta alta viabilidade de aplicação, possibilita a continuidade de análises em séries
temporais e propicia comparações, apesar de gerar dados não muito aprofundados. Sua
base de dados está disponível na internet5 e pode ser alimentada e acessada pelos diferentes
setores da sociedade.

3 FAUC, Rappam, Rede Interamericana de Informações sobre a Biodiversidade (IABIN).


4 Sítio eletrônico: http://www.iabin-us.org/greetings_translations/bemvindo.html.
5 Sítio eletrônico: www.wdpa.org

8
Segundo Carlos Fernandes (ICMBio), o Rappam gerou um banco de dados
importante, que inclui informações coletadas em 2006 sobre 246 UCs federais dos diversos
biomas do Brasil. A partir da aplicação de 140 perguntas, considerando o contexto,
insumos, processos e resultados, foi obtida uma avaliação da efetividade de gestão de cada
UC analisada6. Em 2009, o Rappam foi aplicado mais uma vez nas UCs federais da
Amazônia Legal, e agora também nas UCs estaduais, do Acre, Amapá e Mato Grosso7.
Originalmente, esse sistema de monitoramento foi desenhado para avaliar UCs de Proteção
Integral e, por isso, não incorpora questões relativas à presença humana, mesmo diante do
reconhecimento da ocupação dessas áreas, consequentemente, desconsiderando a
relevância desse aspecto também nas UCs de Uso Sustentável. No atual momento de
revisão do Rappam, existe a proposta de incluir questões sociais e de corrigir outros
desvios do sistema para possibilitar sua aplicação nas UCs de ambos os grupos de manejo.
Tatiany Barata afirmou que o FAUC é uma ferramenta que foi criada no âmbito do
Programa ARPA e que visa avaliar a gestão das UCs na Amazônia. Segundo ela, é uma
8
adaptação do Management Effectiveness Tracking Tool e inclui os macro-componentes do
9
RAPPAM , além de alguns aspectos de planejamento. Essa ferramenta vem sendo aplicada
pelo ARPA em UCs recém-criadas e naquelas consideradas “em fase de consolidação” que
são contempladas por este programa. Atualmente, uma metodologia vem sendo criada pelo
ARPA também para avaliar os Mosaicos de UCs.
O Rappam e o FAUC são ferramentas que fornecem muitos dados e com elevado
grau de detalhamento, mas que são de difícil aplicação e/ou continuidade ao longo do
tempo, além de não possibilitarem a geração de dados comparáveis. Essas duas ferramentas
estão voltadas à avaliação da efetividade da gestão, e não para avaliar a conservação da
biodiversidade e, muito menos, a qualidade de vida das populações locais. Em seu
conjunto, a experiência desses métodos aponta que eles não dão um retrato do que está

6 Para acessar os resultados da aplicação do método em 2006, nas 246 UCs federais, consultar:
http://assets.wwfbr.panda.org/downloads/efetividade_de_gestao_das_unidades_de_conservacao_
federais_do_brasil.pdf.
7 Para acessar os resultados da aplicação do método em 2009, em cada um desses Estados,

consultar: http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/arpa_pub/
8 O Tracking Tool é uma ferramenta de avaliação de efetividade de gestão em UCs baseada no

modelo desenvolvido pela Comissão Mundial de Área Protegida (CMAP) da UICN e proposta pela
Iniciativa Florestal, formada pela Rede WWF e Banco Mundial.
9 Para maiores informações sobre esta e outras metodologias de avaliação de áreas protegidas,

consultar: http://www.wdpa.org/ME/PDF/METT.pdf; http://www.wdpa.org/ME/tools.aspx.


Ou ainda: Leverington et al., 2008. Management Effectiveness evaluation in protected areas - a
global study. Supplementary. Report No1: Overview of approaches and methodologies. The
University of Queensland, Gatton, TNC, WWF, IUCN, WCPA, AUSTRALIA.

9
acontecendo de fato e nem dos efeitos da criação ou implementação das UCs sobre a
biodiversidade e sobre as populações locais.
O Programa Monitoramento de Áreas Protegidas do ISA tem como proposta a
construção de um sistema integrado, que possa monitorar a sustentabilidade
socioambiental das UCs e considerar as especificidades locais diante dos diferentes cenários
regionais da Amazônia. Para tanto, sob uma visão sistêmica, propõe uma abordagem mais
abrangente, que seja alimentada por fontes de informação e conhecimentos
complementares e que aborde as diferentes escalas territoriais: bacia hidrográfica, mosaicos
de UCs e TIs, conjunto de UCs e UCs individualmente. Tal sistema deve considerar o
conhecimento tradicional através do envolvimento efetivo das representações sociais locais,
na discussão, elaboração, análise, avaliação e aplicação dos resultados da ferramenta.
De um modo geral, parte-se da idéia de que o sucesso de uma UC pode ser
analisado por meio de um pequeno conjunto de indicadores, que pode até ter origem em
alguns dos componentes orientadores já identificados pelo exercício de modelagem
qualitativa (veja Mesa-Redonda 3), tais como: integridade ambiental, práticas tradicionais,
oportunidades de inclusão, gestão participativa, cadeias produtivas e eficiência econômica.
Entretanto, para que isso seja possível, essa ferramenta enfrentará alguns desafios
intrínsecos aos indicadores de processo, tais como: ajustar sua fundamentação teórica;
simplificar a definição de indicadores e dar visibilidade à sua aplicação.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO


NA AMAZÔNIA: uma leitura das muitas amazônias numa Amazônia só

Depois de problematizar o tema central do evento discutindo algumas experiências


acumuladas e os gargalos e desafios de ferramentas para avaliação e monitoramento de UCs
da Amazônia, a SEGUNDA MESA REDONDA teve uma abordagem mais política. Voltada ao
marco conceitual da proposta e sob uma leitura das muitas amazônias numa Amazônia só,
as regiões da Terra do Meio (PA) e do Baixo Rio Negro (AM) foram o pano de fundo para
uma rica discussão sobre as nuances a serem consideradas nas relações entre o
desenvolvimento da sustentabilidade e o papel das UCs num sistema de monitoramento
socioambiental.
Adriana Ramos (ISA) enfatizou que o formato de áreas protegidas no Brasil jamais
esteve associado ao desenvolvimento sustentável: ou as UCs foram criadas como “buffers”

10
para conter as frentes de expansão do desmatamento – caso do conjunto de UCs da Terra
do Meio -, ou foram criadas como parte de um ordenamento territorial mais amplo – caso
do conjunto de UCs do Baixo Rio Negro. Por isso, o sistema proposto deve partir da
constatação de que “a lei não reconhece a realidade social da Amazônia” e que, ao
contrário, “a lei é flagrantemente preconceituosa com relação a essa realidade”. Em
decorrência disso, é preciso refletir sobre como vão ser consideradas as questões político-
institucionais nesse novo sistema, tendo vista o não reconhecimento ou as limitações em
reconhecer uma série de experiências positivas já avançadas, como a gestão compartilhada
em mosaicos de UCs e TIs. Como fim último, o sistema proposto pelo ISA deve subsidiar
tomadas de decisão com vistas a mudar a realidade atual e gerar subsídios para pressionar a
criação, implementação e melhoria das políticas públicas voltadas ou que afetem as UCs.
De acordo com a Política Nacional da Biodiversidade10, é necessário que os
diferentes atores que compõem as políticas ambientais possam ter, gerar e fomentar
informações sobre as UCs brasileiras. A ferramenta proposta pelo ISA deve caminhar no
sentido de municiar populações locais, governos (nos diversos níveis) e entidades não-
governamentais com a possibilidade de gerar e obter essas informações. Se de um modo
geral os sistemas de avaliação em execução falam do ponto de vista dos gestores, o sistema
em referência deverá também trazer informações a partir do ponto de vista das populações
afetadas pelas UCs, além de possibilitar aos diversos setores da sociedade atuar em prol da
melhoria de sua efetividade, contribuindo com a conservação ambiental e com o uso
sustentável dos recursos naturais. Isso permitirá colocar em prática, princípios consagrados
pela Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB)11, pelo Programa Áreas Protegidas
da Amazônia (ARPA)12 e pelo Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP)13.

10 Promulgada pelo Decreto 4.339, de 22 de agosto de 2002, está em conformidade com os


compromissos assumidos com a ratificação da Convensão sobre a Diversidade Biológica, com o
artigo 225 da Constituição Federal e com a Política Nacional do Meio Ambiente, e diz, em seu
art. 1o: “Ficam instituídos, conforme o disposto no Anexo a este Decreto, princípios e diretrizes
para a implementação, na forma da lei, da Política Nacional da Biodiversidade, com a participação
dos governos federal, distrital, estaduais e municipais, e da sociedade civil”.
11 Assinada em 1992, a CDB foi ratificada em 1994 e promulgada em 1998 no Brasil, pelo Decreto

n° 2.519, de 16 de março de 1998. Ela tem como objetivos: a conservação da diversidade biológica,
a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios
derivados da utilização dos recursos genéticos.
12 No decreto de criação do ARPA, art. 2°, são declarados como objetivos do programa: assegurar a

conservação da biodiversidade e contribuir para o desenvolvimento sustentável de forma


descentralizada e participativa. Segundo Henyo Barreto, a segunda dimensão, que envolve
descentralização e participação para contribuir com o desenvolvimento sustentável, não foi muito
trabalhada no âmbito do ARPA. A presente ferramenta pretende avançar nessa direção.
13 No decreto que institui o PNAP (Decreto n° 5.758, de 13 de abril de 2006), o art. 2o determina

que a implementação do Plano “será coordenada por comissão instituída no âmbito do Ministério

11
Marcelo Hercowitz (ISA) destacou que tal sistema deve se basear em análises
multicriteriais, que permitam reconhecer e comparar variáveis que perpassem minimamente
por todas as categorias de UCs e cenários regionais, e que compreendam as dinâmicas
socioeconômicas que influenciam os processos e a riqueza de contextos amazônicos.
Sérgio Borges (FVA) , o terceiro palestrante da mesa, afirmou que a ferramenta
proposta deve considerar: os instrumentos de gestão que já existem (Plano de Manejo e
conselhos); as categorias das UCs; a capacidade de gerar informação; a interação com os
gestores e parceiros de gestão com as comunidades do interior e entorno das UCs; os
conflitos e os aportes gerados pela gestão das UCs; e os impactos das UCs sobre os
indicadores sociais, econômicos e ecológicos. Além disso, espera-se que seja simples, de
fácil operacionalização e que permita comunicação rápida entre os diversos atores
participantes (comunidades, gestores, conselho etc), gerando dados de maneira contínua.
Para tanto, é necessário que se defina explicitamente o papel de cada ator participante do
sistema: Quem gera dado? Quem analisa os dados? Quem disponibiliza a informação?
Quem tem acesso aos dados?
Em termos potenciais futuros, as contribuições da segunda mesa destacaram que
novas formas de produção e consumo merecem investimentos, dentre elas, podemos citar
os serviços ambientais nas áreas protegidas e a crescente importância dada à origem dos
produtos consumidos. Trata-se de iniciativas que exigem a revisão do sistema político,
jurídico e legal e que indicam mudanças nos padrões de produção em direção a um futuro
mais sustentável.

DIMENSÕES SOCIOAMBIENTAIS DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA


AMAZÔNIA: eixos estruturais em uma dinâmica de interações complexas

Na TERCEIRA MESA REDONDA, a discussão esteve centrada em torno de conceitos


práticos e metodológicos envolvendo eixos estruturais que configuram a complexa
dinâmica socioambiental das UCs da Amazônia. Os temas tratados diziam respeito: à
conservação da biodiversidade e suas pressões; sociedade e interculturalidade; cadeias
produtivas e suas oportunidades; e economia e gestão.

do Meio Ambiente e contará com participação e colaboração de representantes dos governos


federal, distrital, estaduais e municipais, de povos indígenas, de comunidades quilombolas e de
comunidades extrativistas, do setor empresarial e da sociedade civil”.

12
Com relação à biodiversidade, Nurit Bensusan sugeriu a adoção do conceito de
“biodiversidade na prática”14, segundo o qual a paisagem a ser conservada é considerada
uma construção cultural. De acordo com essa perspectiva, é preciso considerar o papel
gerador e transformador das populações humanas sobre a biodiversidade, o que inclui
transformações em seus processos, composição, funções e estruturas. A palestrante
destacou também que a conservação da biodiversidade perpassa, mas extrapola as UCs, e
que para adotar uma visão inclusiva de biodiversidade num sistema de avaliação
socioambiental, deve-se compreender como os usos dos recursos naturais adotados pelas
populações locais influenciam os processos geradores e mantenedores de biodiversidade.
Complementarmente, ressaltou a importância de que o sistema reconheça os
conhecimentos que essas populações têm sobre esses processos. Sob tal prisma, a melhoria
na qualidade de vida das populações locais não deve ser pensada de forma dissociada da
conservação da biodiversidade e vice-versa.
O antropólogo Henyo Barreto (IEB) destacou a importância de reconhecer as UCs
como parte de um contexto cultural mais amplo, permeado por equações de poder
complexas, e não como causa absoluta dos processos sociais e políticos. “As UCs são um
artefato criado por nós e, como tal, é preciso entendê-las como parte e parcela de uma
ampla equação de poder”. Dentre as configurações dessa equação de poder, há um
processo de generalização e de simplificação da sociodiversidade do ponto de vista das
políticas públicas e dos gestores, e que normalmente é reforçado em contextos de UCs.
Ressaltou a importância de ouvir “o que as populações locais têm a dizer, já que não têm
sido abordadas nas metodologias em execução”. Além disso, considera relevante avaliar
como elas se posicionam em relação às UCs e como isso se reflete nos instrumentos de
participação e controle existentes nessas áreas protegidas. Afirmou que o sistema proposto
deve incluir aspectos como a “vitalidade comunitária”15 e “bem estar psicológico”16 dentre
suas variáveis.
Cristina Adams (USP) destacou o desafio de lidar com uma imensa lacuna de dados
e informações científicas sobre os impactos/efeitos da economia de mercado na qualidade
de vida das populações que vivem em UCs. Segundo Cristina, não há resultados

14 Conforme proposto por Thomas Lewinsohn. Para referência, ver LEWINSOHN, T. M. (Org.).
Avaliação do Estado do Conhecimento da Diversidade Biológica Brasileira. Brasília: Ministério do
Meio Ambiente, 2006. v. 2. 526 p.
15 Conforme o índice que mede a Felicidade Interna Bruta, FIB. Para maiores informações,

consultar: http://www.felicidadeinternabruta.org.br/.
16 Conforme o índice que mede a Felicidade Interna Bruta, FIB. Para maiores informações,

consultar: http://www.felicidadeinternabruta.org.br/.

13
conclusivos sobre essas questões. Como decorrência, o sistema proposto deve permitir
acompanhar ao longo do tempo como os benefícios e os custos sociais são incorporados
por essas populações. No caso da análise de cadeias produtivas dentro de UCs, a
palestrante afirmou que a grande dificuldade encontrada está nos elos entre a produção e o
consumidor, pois eles não existem ou estão quebrados. Propôs que o sistema crie índices
que considerem: características demográficas; saúde; crescimento e status nutricional;
saneamento; educação; inclusão digital; estoques existentes e taxa de retirada.
Jorge Nogueira (UnB) discutiu sobre economia e gestão de UCs e ressaltou que as
UCs têm um custo social que não deve ser subjugado. Apesar desses custos serem
elevados, os benefícios à humanidade são imensamente maiores. Sugere que o sistema
permita acompanhar ao longo do tempo como os benefícios e os custos17 sociais são
incorporados. Além disso, Jorge destacou a importância de avaliar o custo de oportunidade
da terra, que será tanto maior quanto mais rentável o uso do solo. O sistema deve, também,
segundo o palestrante, contemplar aspectos econômicos relacionados à demanda, oferta,
equidade, externalidade, custos sociais e benefícios sociais.

Dia 08 de outubro de 2009


UM SISTEMA DE AVALIAÇÃO SOCIOAMBIENTAL PARA UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA:
princípios para uma abordagem estratégica e complementar

Iniciando as discussões de ordem mais prática, a QUARTA MESA REDONDA teve


como objetivo enfocar alguns dos princípios orientadores propostos e discuti-los de modo
a fazer com que o sistema tenha uma abordagem temática estratégica, que seja
complementar às iniciativas de monitoramento e avaliação de UC existentes.
Irene Garay (UFRJ) apontou que o quadro conceitual clássico da biologia da
conservação não é adequado para resolver os problemas de conservação e gestão diante
dos desafios atuais, por propor regras discutíveis e com alcance prático reduzido ou
insuficiente. Sugeriu que a abordagem ecológica seja da ordem da ecologia da paisagem e de
amplitude geográfica, destacando a questão das escalas como um problema de diversas
dimensões e essencial para a elaboração de princípios relacionados à gestão e avaliação de
UCs. Além disso, propôs uma ruptura epistemológica estratégica que: 1. amplie o espectro

17Há uma iniciativa em andamento de construção de uma metodologia de impactos sociais de áreas
protegidas no Brasil. Consultar: http://aisaps.ning.com/.

14
espacial e temporal das abordagens utilizadas; 2. ligue saber teórico e saber prático numa
perspectiva de desenvolvimento sustentável; e 3. conceba conjuntamente as dimensões
humanas da biodiversidade. Acrescentou que o modelo proposto deve ser transitório e
dinâmico, e que vai ser útil na medida em que responda às demandas das pessoas na base.
Ela acredita que os dados científicos não têm muito a contribuir para a construção dos
indicadores desse modelo porque eles não foram construídos para isso. Destacou também,
a importância de desenvolver intercâmbios e parcerias entre pesquisadores, gestores e
usuários, e de inserir tanto no nível da reflexão quanto no da ação, uma perspectiva de
desenvolvimento sustentável.
Em seguida, Deborah Lima (UFMG) sugeriu eleger economia e demografia como
temas centrais para abordar as relações e correlações entre os aspectos ambientais e
socioeconômicos no sistema proposto. Segundo a antropóloga, o modelo econômico
contribui para pensar a caracterização dos tipos de pressão sobre o ambiente e as unidades
de exploração; e a demografia é uma abordagem adequada para avaliar a distribuição
espacial e a intensidade de cada uma das formas de exploração, permitindo integrar
dimensões ambientais e socioeconômicas. A antropóloga apontou ainda a possibilidade da
criação de indicadores polissêmicos para viabilizar a metodologia proposta e sugeriu a
constituição de indicadores próprios para cada escala territorial, que sejam generalizáveis,
passíveis de serem somados, sucintos, baratos e relevantes.
Segundo Deborah, a integração das questões ambientais e socioeconômicas tem
que ser norteada por critérios de sustentabilidade socioambiental que incluam: medidas de
integridade ambiental (processos ecossistêmicos, densidade e distribuição de espécies etc.);
medidas de interação ambiente – sociedade (incluindo indicadores de qualidade de vida da
população local); e medidas relacionadas à gestão da unidade de conservação
(principalmente implementação de sistemas de manejo, vigilância e fiscalização – “os
freios”).
Rita Mesquita (INPA) abordou a questão da integração dos conhecimentos
tradicionais e científicos. Partindo da constatação de que são as populações locais que
sabem como têm sido manejados os recursos naturais nas áreas protegidas e em seu
entorno, a interação entre o etnoconhecimento, as demandas das populações locais e o
conhecimento científico é estratégica, pois diminui a fragilidade do manejo e permite
identificar prioridades. É necessária a criação de indicadores que detectem a disposição ao
diálogo entre esses conhecimentos, embora a integração entre eles possa acontecer
independentemente de convivência ou de encontros entre os atores que os detêm. Os

15
critérios que devem balizar a tomada de decisões em contextos de integração entre esses
dois conjuntos de conhecimentos são: o respeito a motivações distintas (ética); o
compromisso para resolver problemas; e a compreensão de que a conservação pode ser
tanto um objetivo como uma conseqüência.
Finalmente, na quarta palestra desta mesa, Arnaldo Carneiro (ISA) afirmou que a
sistematização e análise de dados obtidos in situ, somados aos dados de monitoramento
remoto, permitem compreender melhor o patrimônio protegido e elaborar previsões e
perspectivas sobre desenvolvimento, ameaças e impactos futuros em áreas protegidas, de
forma clara e sucinta, através de mapas, relatórios, cômputos e outros produtos. Informou
também que é possível abrir múltiplas janelas de monitoramento, com múltiplas variáveis -
incluindo as de pressão indireta - e definir estratégias para ampliar a capacidade de gestão e
controle. Arnaldo afirmou ainda que a manutenção da integridade física das áreas
protegidas pode ser garantida quando entendermos as pressões atuais e futuras, diretas e
indiretas e a importância de que essas pressões sejam informadas através das entradas do
sistema e que informem as comunidades através dos produtos gerados na sua saída.
Dentre os aportes da plenária, destacou-se a idéia de que a conservação deve ser
vista como uma conseqüência e não como um objetivo, principalmente pensando na
realidade amazônica, onde as pessoas já vivem integradas aos recursos naturais. A melhoria
de qualidade de vida das populações locais foi reforçada como aspecto prioritário diante
das perspectivas deste sistema.

SISTEMAS DE AVALIAÇÃO INTEGRADOS: procedimentos e casos

A QUINTA MESA REDONDA trouxe aportes sobre a construção e implementação de


sistemas de monitoramento, apresentando metodologias e estudos de caso que destacaram
as limitações, lições aprendidas e potencialidades de iniciativas de caráter integrado.
François Le Torneau (CNRS-CREDAL/CDS-UnB) apresentou o projeto
DURAMAZ18, um sistema de avaliação e monitoramento da sustentabilidade que é
aplicado à escala de comunidades, baseado em uma visão integrada, original e de longo
prazo, fundamentada nas percepções e representações das populações locais. Trata-se de

18 O projeto DURAMAZ é financiado pela agência nacional de pesquisa da França (ANR-France) e

visa analisar em detalhe, os determinantes geográficos, demográficos e socio-econômicos de várias


experiências de desenvolvimento sustentável na Amazônia brasileira, com a finalidade de elaborar
uma síntese sobre a sustentabilidade no contexto da floresta tropical.

16
um sistema composto por 45 indicadores com 14 dimensões, se aplicado às políticas
públicas, e com 4 dimensões, se voltado para avaliação da sustentabilidade.
Segundo François, indicadores são parâmetros que permitem monitorar um
fenômeno. No caso de observações qualitativas, é preciso então elaborar uma codificação.
Ele comentou que é possível transformar indicadores em índices (números), os quais, por
serem numéricos, podem ser somados, misturados etc., mas advertiu que essa operação
pode apresentar riscos. A apresentação dos resultados em eixos ortogonais (radiografias)
reduz esses riscos, pois não empacota variáveis tão diferentes sob uma mesma rubrica.
Acrescentou que a questão das escalas dos indicadores também é muito importante, já que
indicadores válidos na escala de um país ou de uma região podem não o ser na escala de
uma comunidade.
Ficou bastante claro na fala de François, a importância de definir indicadores que
sejam realistas, isto é, que sejam aplicáveis e que tenham ligação com os dados do campo.
Segundo o pesquisador, é necessário definir com muito cuidado os elementos e as
dimensões que são realmente importantes de serem mensuradas, evitando enfocar
dimensões que já são contempladas por outros sistemas, e adotar uma forma consensual
para interpretação dos indicadores (é bom ou ruim, cada indicador).
Christian Silva (ETFPR), o segundo palestrante dessa mesa, destacou a importância
de qualificar os indicadores e de definir um método para sua validação. Além disso, dentre
os elementos que devem orientar a elaboração de um sistema de indicadores para avaliação
da sustentabilidade, Christian destacou os seguintes: o conhecimento da realidade local; a
garantia de visão interdisciplinar nos grupos de ação e acompanhamento; e a visão
integrada (socioambiental e econômica) por espaço, considerando a cultura local. Destacou
ainda alguns passos metodológicos mais específicos para elaboração e aplicação do sistema,
tais como: levantar dados secundários existentes nos diferentes institutos ou instituições
locais, definindo a qualidade da informação e sua periodicidade; definir prioridades locais
para avaliação; verificar o que pode ser acompanhado com os dados locais e o que precisa
ser gerado de informação; e definir o indicador a partir da ação ou meta estabelecida.
Para garantir o pressuposto da adaptabilidade ao sistema, Christian sugere entre
outros: partir das prioridades, ações e metas definidas localmente e definir grupos temáticos
que mantenham um vínculo comparativo; fazer benchmarking19 para permitir maior
comparabilidade entre os dados qualitativos coletados; e expor os indicadores ou índices de
acompanhamento com visual gráfico de fácil identificação e compreensão.

19Benchmarking é a procura dos melhores processos e procedimentos mais eficazes para otimização
de desempenho.

17
Na terceira fala da mesa, Petra Ascher reiterou a importância do interesse e da
motivação dos atores envolvidos com a implementação de sistemas de monitoramento e a
utilização de seus resultados. Tal motivação está relacionada com a garantia de que as
demandas e as necessidades de informação de cada grupo sejam consideradas, mas
pressupõe que a lista de aspectos que se pretende monitorar não seja extensa demais. Para
cada aspecto que se pretende monitorar, as seguintes perguntas devem ser respondidas:
para quem servirão essas informações? Para que queremos essa informação? Como vamos
utilizar essa informação? E em que formato?
Em linhas gerais, Petra afirmou que um monitoramento requer: certa estrutura
organizacional; pessoal qualificado (no sistema proposto pelo ISA, será necessário
terceirizar a coleta de dados, o que exige treinamento); recursos financeiros; disposição de
ser autocrítico e de tempo para reflexão dos resultados. Destacou a importância de ter
clareza do tipo de indicadores que se quer: se são indicadores de estado (que avalia
características) ou de processos (que avalia dinâmica) e a importância de existirem
indicadores locais definidos pelas comunidades, pois eles garantem a adaptabilidade do
modelo e a aderência local ao sistema, que por influenciar as políticas públicas proporciona
sua continuidade ao longo do tempo.
Para selecionar indicadores, é importante considerar: que sejam simples e viáveis
financeira e operacionalmente; que não exijam muito em termos financeiros e operacionais
para a produção e/ou aquisição de informações (pesquisas, levantamento, etc.); que sejam
indicadores sensíveis, podendo captar mudanças a curto e médio prazo; que propiciem
transparência metodológica e confiabilidade quanto ao tipo de informação; e que permitam
comunicabilidade ampla – informações claras e compreensíveis, sintéticas e relevantes para
públicos diversificados.

DEMANDAS DA SOCIEDADE POR UM SISTEMA DE AVALIAÇÃO


SOCIOAMBIENTAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA:
aplicações, aportes e envolvimentos

A SEXTA E ÚLTIMA MESA REDONDA teve como objetivo ouvir representantes de


instituições dos diferentes setores da sociedade sobre suas expectativas e interesses de
envolvimento com o sistema de monitoramento socioambiental proposto. Para tanto,
foram convidados representantes de ONGs, do movimento social de base, de governo e

18
financiadores. De um modo geral, as instituições dos diferentes setores reconheceram o
desafio da proposta e valorizam a iniciativa que, mesmo não sendo inédita, nunca foi levada
adiante.
Maria Cecília Wey de Brito (MMA) ressaltou que o melhor sistema para avaliar a
sustentabilidade é aquele que nos dê as melhores condições para tomada de decisões. Além
disso, ressaltou a importância de que o sistema possibilite comparações, o que implica
aplicar as mesmas métricas ainda que sob diferentes contextos e cenários. Maria Cecília
acrescentou que as decisões podem ter interpretações distintas para os diferentes atores e
que uma das dificuldades com relação às demandas do governo para um sistema como este,
é sua necessidade de dados automáticos. Ressaltou ainda, que a transparência dos dados é
um ganho objetivo, atual e possível de ser buscado.
Como representante do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS),
instituição ligada ao movimento social, Manuel Cunha ressaltou que: o sistema deve
enfatizar o envolvimento dos atores locais; confrontar o modelo com a realidade; elaborar
estudos que levem em consideração a biodiversidade e as pessoas no mesmo nível de
importância; medir a produção, a preservação, o monitoramento, e a melhoria da qualidade
de vida das pessoas; e ter uma modelagem específica para cada grupo de manejo de UC
(uso sustentável e proteção integral). Para que o sistema seja participativo de fato, sugere
contar com o envolvimento das lideranças de cada UC, com o intuito de que se possa ouvir
e transmitir para fora o que há por dentro dessas áreas protegidas.
Ana Cristina Barros (TNC) foi convidada para falar como representante de uma
ONG, e afirmou que é preciso cuidado especial para que esse sistema não gere disputas,
pois ele envolve uma institucionalidade muito complexa, que prescinde da criação de canais
de entrada e de saída entre os diversos sistemas existentes. Como alerta principal, enfatiza a
importância de não disputar a autoria do dado: que ele seja transparente, disponível, e que
responda para a Amazônia, em ampla escala.
Sob o ponto de vista das instituições envolvidas com financiamento, Daniela Lerda
Klohck (Funbio) afirmou que dentre as informações que auxiliam na decisão do investidor
em aportar recursos para as UCs, é importante conhecer onde se quer e onde se pode
investir, destacando três grupos temáticos principais: biodiversidade, serviços
ecossistêmicos e diversidade sociocultural. Além disso, é importante saber se as UCs da
região possuem estratégias e metas pré-definidas e qual é o custo envolvido com a gestão
da UC. Do ponto de vista dos aportes do sistema para o setor de financiadores, espera-se
que ele oriente os doadores e executores de projetos na melhor alocação de recursos e

19
esforços de conservação, indicando a melhor forma de gestão e os fluxos de investimentos
existentes na região.

CONCLUSÕES

Em linhas gerais, é inegável a importância de um sistema que monitore a


contribuição das UCs para o desenvolvimento da sustentabilidade socioambiental e para
melhoria da qualidade de vida das populações que vivem nessas áreas, bem como sua
influência sobre as populações que residem no entorno.
Dentre os desafios a serem enfrentados está à valorização dos diferentes
conhecimentos - um dos princípios mais importantes desse sistema - por meio da inclusão
das populações locais enquanto atores-chave para geração e apropriação dos dados e
informações. Essa tarefa implica integrar conhecimentos tradicionais e conhecimentos
científicos de uma forma interdisciplinar, com o intuito de mensurar processos
relacionados ao manejo dos recursos naturais, à qualidade de vida e também para analisar,
sob as múltiplas escalas territoriais, os processos que determinam a dinâmica
socioambiental das UCs da Amazônia.
O seminário deixou claro que o processo de comunicação e de parceria com
entidades que já coletam e mantém bancos de dados sobre essas UCs é um ponto
fundamental. Isso permite não só evitar a duplicação de esforços como também aprimorar
os procedimentos para coleta de dados, além de propiciar o acesso a diferentes visões sobre
questões complementares. Uma vez que a ferramenta possibilitaria uma maior sinergia
entre os diferentes atores envolvidos, a divulgação dos seus resultados daria força às
propostas e sugestões formuladas, subsidiando estratégias e alternativas às políticas
públicas, de modo a se tornarem mais condizentes com as reais necessidades da sociedade.
O seminário findou por homologar o marco conceitual, os princípios e a
abordagem para o sistema proposto, e permitiu discutir e assimilar novas questões
conceituais. Os outputs do seminário possibilitaram despertar para algumas premissas
fundamentais na construção, implementação e acompanhamento do sistema em
elaboração, e construir referências sobre a aplicabilidade e a apropriação dos resultados do
sistema. Isso contribuiu para uma melhor compreensão para os fóruns subseqüentes de
construção desse sistema, e assim, um melhor direcionamento do roteiro metodológico
adotado nas oficinas regionais e das questões principais a serem tratadas no workshop.

20
As oficinas regionais foram realizadas em Manaus e Belém, no período de 19 a 23
de outubro de 2009, e tiveram como objetivo a assimilação das visões, demandas e uma
primeira aproximação sobre os alvos de monitoramento socioambiental das UCs da
Amazônia. Foi reunido um total de 35 participantes, entre gestores, técnicos e especialistas
de instituições dos diferentes setores da sociedade atuantes junto ao tema.
O workshop a ser realizado em Brasília-DF e previsto para novembro de 2009,
teria como objetivo traduzir o conhecimento acumulado nos fóruns anteriores (visitas aos
estados da Amazônia e DF, seminário e oficinas regionais) numa primeira proposta de set
de indicadores. Porém, o grande volume de aportes recebidos nesse processo demandou
mais tempo para o tratamento das informações, e posteriormente, evidenciou que diante
das perspectivas da aplicação e apropriação do sistema, principalmente por parte da
sociedade civil organizada, seria necessário dar capilaridade a proposta para que ela
chegasse até o chão e circulasse multilateralmente junto ao movimento social de base, antes
que ela se desdobrasse tecnicamente numa proposta de set de indicadores.
Para isso, o workshop foi transferido para o final de março de 2010, e antes dele
houve uma reunião com algumas das principais instituições da sociedade civil organizada
atuantes junto ao tema UCs na Amazônia, com a finalidade de ouvir comentários e
contribuições sobre o funcionamento do sistema e consultá-los sobre o interesse dessas
instituições na execução desse monitoramento.
O último passo antes da elaboração da primeira proposta do set de indicadores
socioambientais para o monitoramento de UCs da Amazônia será a aplicação piloto de um
conjunto de indicadores obtidos nesse workshop em UCs do Baixo Rio Negro (AM) e da
região da Terra do Meio (PA): de Proteção Integral e de Uso Sustentável.

Programa Monitoramento de Áreas Protegidas


INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL-ISA

21
ANEXO

Parte integrante do material de apoio distribuído a todos os


participantes do Seminário

22
SEMINÁRIO “BASES PARA CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE
MONITORAMENTO SOCIOAMBIENTAL DAS UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA”
07 e 08 de outubro, Brasília – DF

Apoio: Fundação MOORE

_____________________________________________________________

MODELAGEM ANÁLITICA CONCEITUAL DA DINÂMICA DE UNIDADES


DE CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA LEGAL: apoio ao debate e aprendizado
para elaboração de um sistema de monitoramento socioambiental
Carlos Eduardo Marinelli
Programa Monitoramento de Áreas Protegidas
Instituto Socioambiental - ISA

Este documento tem como objetivo o nivelamento dos participantes deste seminário
sobre um modelo analítico-conceitual e de simulação (cf. Karplus, 1977) sobre a dinâmica
socioambiental de Unidades de Conservação na Amazônia Legal. Partindo do princípio de
incompletude que envolve qualquer modelagem, esse exercício possibilitou duas coisas:
uma representação de parte do conhecimento sobre as relações causais multidimensionais
(ambientais, sociais, econômicas e culturais) e a identificação de alguns componentes
orientadores dos processos que regem esse sistema, sendo eles: integridade ambiental,
práticas tradicionais, oportunidades de inclusão, manejo participativo, cadeias produtivas e
eficiência econômica.

Para essa modelagem, utilizando o software simulador Garp3 (Bredeweg 1992;


Bredeweg et al. 2006) adotou-se a abordagem do raciocínio qualitativo de processos,
por três motivos principais: incipiência de conhecimento formal sobre a dinâmica
socioambiental das Unidades de Conservação na Amazônia; possibilidade de formalização
de relações causais que permitam a difusão e avaliação dos modelos resultantes (v. Salles et
al, 1995); e por que essa abordagem não necessita da atribuição de valores para as variáveis
consideradas (v. Salles et al, 1995).

Conceitualmente, foram representados os objetivos gerais das Unidades de


Conservação da natureza no Brasil (proteção da biodiversidade, uso sustentável de recursos
naturais e manutenção dos modos de vida das populações tradicionais) e os princípios-
chave do desenvolvimento sustentável (prudência ecológica, eficiência econômica e
equidade social).

23
Até aqui, os resultados dessa primeira versão do modelo geraram dois aportes a
esse seminário: primeiro, serviram como base de debate para decisões sobre quais e como
os temas das mesas redondas seriam abordados, direcionando as perguntas orientadoras
encaminhadas a cada palestrante e; segundo, possibilitou a disponibilização de um gráfico
de dependências (segue abaixo) que representa o modelo conceitual obtido, que é um dos
produtos dessa modelagem. A partir disso, esperamos que os debates deste seminário
permitam complementar esse modelo com outros conceitos relevantes e, que seu ajuste
numa nova versão, sirva como base aos debates regionais pela Amazônia, onde serão
assimiladas as visões e experiências dos diferentes setores da sociedade e novos ajustes
serão propostos.

Num novo patamar de informações acumuladas ao longo desses fóruns, uma


versão final do modelo, menos incompleta e mais compatível, deverá contribuir para
identificação dos agentes e variáveis mais relevantes à dinâmica socioambiental das
Unidades de Conservação na Amazônia, facilitando a identificação de alvos prioritários e
sua viabilidade como indicadores para o monitoramento dessas áreas protegidas.

O gráfico de dependências (abaixo) ilustra o modelo conceitual obtido para


um cenário positivo, onde as relações causais propagadas pelo aumento das atividades de
exploração sustentável de recursos naturais e das oportunidades de inclusão social
influenciam, respectivamente, na manutenção da integridade ambiental e no acesso à
informação, desencadeando processos como a conservação da biodiversidade e a
consciência social.

Buscando um balanço entre a abrangência e a granularidade do modelo, segue


alguns exemplos das variáveis e seus respectivos componentes considerados nas
diferentes dimensões que envolvem a dinâmica socioambiental das Unidades de
Conservação na Amazônia:

1. DIMENSÃO AMBIENTAL
- Variáveis do Componente Biodiversidade: número de espécies, abundância de indivíduos,
saúde das populações, ocorrência de espécies ameaçadas...
- Variáveis do Componente Integridade Ambiental: cobertura florestal, conversão de
paisagens, estrutura de habitats e ecossistemas, paisagens cultivadas...

24
2. DIMENSÃO SOCIAL
- Variáveis do Componente Inclusão Social: acesso aos serviços públicos básicos,
representação social, oportunidades de treinamento e qualificação profissional...
- Variáveis do Componente Acesso à Informação: agenda de atividades participativas,
conhecimento dos projetos/programas, participação em reuniões comunitárias...

3. DIMENSÃO ECONÔMICA
- Variáveis do Componente Eficiência Econômica: distribuição de renda, produção per capita,
bens de consumo, produção, produtividade, condições de mercado...
- Variáveis do Componente Cadeias Produtivas: estrutura, sustentabilidade, mercado, valor
agregado aos produtos, sistema de crédito e subsídios...

4. DIMENSÃO CULTURAL
- Variáveis do Componente Atividades Tradicionais: atividades praticadas, número de
praticantes, práticas familiares agregadas, repasse do conhecimento...
- Variáveis do Componente Categoria Social: número de categorias, auto-reconhecimento,
estrutura, reconhecimento social, diversidade...

Mesmo que as propostas de sistema de avaliação de áreas naturais protegidas não


sejam escassas, a abordagem integrada de Unidades de Conservação na Amazônia ainda é
um tema bastante inexplorado. Assim, a consideração das muitas influências entre as
diferentes dimensões torna-se um desafio, diante do grau de complexidade de cada uma
delas e dos condicionantes ligados às suas relações de causalidade. Por isso, ainda que
tenham sido consideradas as experiências práticas, o marco legal, conceitos de ecologia e
sistemas complexos e a abordagem qualitativa tenha facilitado a representação do
conhecimento sobre o tema, esse modelo deve ser aperfeiçoado para que o objetivo final
de sua aplicação possa ser alcançado em sua totalidade.

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