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À fragilidade da vida humana Foi nácar reduzido ao macilento

Oculto ali nos medos transformado,


Esse baixel nas praias derrotado Mortalha a gala, a casa monumento.
Foi nas ondas narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido Sóror Violante do Céu, Orbe Celeste, 1742
Foi do monte libré, gala do prado.

Esse nácar em cinzas desatado


Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse Estio em vesúvios incendido Inimiga cruel, despiedosa,
Foi zéfiro suave, em doce agrado. Injusta, cega, vã, néscia, atrevida,
Falsa, vil, lisonjeira e fementida,
Se a nau, o Sol, a rosa, a Primavera Intratável, soberba e rigorosa.
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago, Pródiga, avara, pobre, cobiçosa,
Rica, inconstante, firme e repartida,
Olha, cego mortal, e considera Arrogante, cobarde e destemida,
Que é rosa, Primavera, Sol, baixel, Acanhada, insolente e invejosa.
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.
Ventura, ou sem-razão, que à natureza
Francisco de Vasconcelos – In: Fénix Renascida Tiras o ser, o preço, a honra e a glória,
Que queres a esta vida, se inda dura?

A uma caveira pintada em um painel que foi retrato Ou me mata, ou me deixa, ou me despreza,
Perde-me já de vista, ou de memória,
Este que vês de sombras colorido Mas ai! Que o que te eu peço era ventura!
E invejas deu na Primavera às flores,
Do pincel transformados os primores, Francisco Rodrigues Lobo (1579?-1621),
Desengano horroroso é do sentido.

Ídolo foi do engano pretendido,


A que cega ilusão votou louvores,
Estrago já do tempo, e seus rigores,
O que então foi, ao que é já reduzido.

Foi um vão artifício do cuidado,


Foi luz exposta ao combater do vento,
Emprego dos perigos mal guardado;

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