Professional Documents
Culture Documents
A
infância é considerada uma faixa etária prioritária pela sua fragilidade e
condição, na qual é relevante proporcionar oportunidades para seu de-
senvolvimento adequado (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE
LA SALUD, 2005). Com este propósito, deve-se ter atenção às várias situações
que podem comprometer a sua saúde, dentre elas as doenças crônicas não trans-
missíveis (DCNT) principalmente o excesso de peso infantil (BRASIL, 2006).
Neste sentido, é preocupante o aumento do consumo de produtos
gordurosos, ricos em açúcares simples, sódio, conservantes e diminuição de
fibras e micronutrientes, destacando-se os alimentos prontos para consumo ou
processados (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
2011). Concomitante, tem-se a tendência de atingir, cada vez menos, o número
mínimo de porções de legumes, frutas, grãos e produtos lácteos recomendados
(BIRCH; SAVAGE; VENTURA, 2007). 601
Como consequência, o Ministério da Saúde (MS) tem investido em políticas e
programas, dentre eles, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) que
institui diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas escolas, uma vez que
este ambiente é um espaço privilegiado para promoção da saúde e precisa favorecer a
escolha por alimentos saudáveis (BRASIL, 2007), bem como transmitir conhecimentos
que promovam o autocuidado em relação à saúde, cooperando para prevenir o desen-
volvimento de doenças relacionadas à nutrição (BRASIL, 2006).
Complementando as formas de intervenção nutricional nas escolas, tem-se a
contínua criação de portarias que regulamentam o funcionamento das cantinas (venda
de alimentos no ambiente escolar), como a Portaria Interministerial n° 1010, de 8 de
maio de 2006, que restringe o comércio e à promoção comercial no ambiente escolar
de produtos com teor elevado de gordura saturada e trans, açúcar, sódio e incentivo ao
consumo de vegetais (BRASIL,2006) e a criação de programas integrados com ações
educativas e modificações dos alimentos comercializados (DANELON; DANELON;
SILVA, 2006).
De acordo com Murguero (2009), 90% dos alunos da escola privada compram seus
lanches na cantina. Porém, em muitas delas, a oferta não pressupõe alimentos saudáveis
(BRASIL, 2007). Um estudo realizado por Zancul (2004) relata que, nas escolas particu-
lares, os alimentos mais comprados são salgados (69,7%), sucos (30,3%), refrigerantes
(26,6%), balas (22%) e chicletes (1,8%).
Nesta contextualização faz-se necessário o constante estudo dos lanches dos es-
colares, a fim de planejar ações de educação alimentar e nutricional com as crianças,
para que as mesmas tenham condições de se beneficiar com o conhecimento de uma
alimentação saudável, promovendo assim, bons hábitos alimentares e uma melhor
qualidade de vida (BRASIL, 2006). Assim, este estudo teve como objetivo descrever
o perfil de lanches consumidos por escolares de uma escola particular e comparar com
seus conhecimentos sobre alimentação saudável.
estudos, Goiânia, v. 39, n. 4, p. 601-609, out./dez. 2012.
METODOLOGIA
RESULTADOS
na cantina da escola, sendo o lanche mais consumido a associação entre salgado e suco
industrializado (n=87; 47,8%), seguidos de refrigerante (n=28; 15,4%) e salgadinhos
de pacote (n=16; 8,8%).
Os lanches restantes (n=181; 49,9%) foram trazidos de casa, onde 80,7% (n=146)
destes continham, pelo menos, um alimento industrializado. Da mesma forma, dos
lanches trazidos de casa, os mais presentes foram sucos industrializados (n=92; 50,8%),
bolos, bolinhos e bolachas de doce, com e sem recheio (n=50; 27,6%) e sanduíches
(sendo os mais comuns pão com queijo mussarela e presunto e pão com requeijão)
(n=20; 11%).
Na Tabela 1 estão dispostas as quantidades de calorias, carboidratos, proteínas
e lipídios dos lanches, expressos em média, desvio padrão e coeficiente de variação.
Verifica-se que a média das calorias está próximo do recomendado, assim como os
carboidratos. Diferentemente, as proteínas estão aquém e os lipídios acima do reco-
mendado. 603
Tabela 1: Média, desvio padrão, coeficiente de variação das calorias, carboidratos, proteínas e lipídios
referentes a 363 lanches de 77 escolares, com idades de 6,7,8,9 e 10 anos, do ensino fundamental de
uma Escola Particular em Goiânia
Carboidratos Proteínas
Calorias Lipídios
Idade X ± DP (g) X ± DP (g)
X ± DP (kcal) X ± DP(g)
(anos) (CV) (CV)
(CV) (CV)
248,1*±99,3 42,3 ± 11,0 3,5 ± 3,0 7,2* ± 7,0
6 (40,03) (25,9) (85,2) (96,9)
(n=14)
7 345,8*±183,4 59,0 ± 31,2 5,5 ± 3,7 10,0 ± 7,6
(n=49) (53,05) (52,9) (67,4) (76,2)
Legenda - X: média; DP: desvio padrão; CV: coeficiente de variação; g: gramas; * médias iguais ao recomendado,
de acordo com Teste de Student (p<0,05).
Figura1: Valores percentuais dos lanches adequados, abaixo do recomendado e acima do recomendado, referentes
aos 363 lanches, analisados em relação a calorias, carboidratos, proteínas e lipídios dos escolares de uma Escola
604 Particular em Goiânia, Goiás
Em relação ao questionário aplicado para avaliar os conhecimentos dos escolares
sobre uma alimentação saudável, obteve-se uma média de acertos de 66,6%. Do total
de alunos, 46,7% obtiveram uma adequação satisfatória (acertaram 70% ou mais do
questionário), como consta na Figura 2.
Figura 2: Percentual de alunos com percentual de adequação satisfatório (≥70% de acertos) e insatisfatório (≤70%
de acertos) em relação ao questionário sobre alimentação saudável respondido pelos escolares, com idades de 6,7,8,9
e 10 anos, do ensino fundamental de uma Escola Particular em Goiânia, Goiás
DISCUSSÃO
estudos, Goiânia, v. 39, n. 4, p. 601-609, out./dez. 2012.
trazem valores médios por idade, fato justificado diante a recomendação por faixa
etária, 6 a 10 anos.
Neste estudo percebeu-se a presença de altos valores de inadequação, em relação ao
recomendado, para proteínas, carboidratos e lipídios, como constatado pela última Pes-
quisa de Orçamentos Familiares (POF) (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA, 2011). Ao avaliarem o consumo alimentar diário de escolares, antes e
após intervenção, observou-se que, na fase de diagnóstico, o único valor inadequado foi
o dos lipídios, com 44% dos valores abaixo ou acima do recomendado (GONZALÉZ;
WICHMANN, 2007-2012, p. 6), de acordo com a DRI (INSTITUTE OF MEDICINE/
FOOD AND NUTRITION BOARD, 2002).
A adequação satisfatória acerca do conhecimento sobre alimentação e nutrição foi de
46,75% dos escolares. Gonzaléz e Wichmann (2007-2012, p. 8) relataram que, de acordo
com o teste de conhecimento aplicado, 60% dos escolares acertaram mais que 70% do
606 questionário, sendo considerados como tendo conhecimento adequado. Classificou-se
16% como bom (87,5-100% das questões certas), 50% como médio (50-75% das questões
certas) e 34% como pouco (<50% das questões certas) o conhecimento geral de escolares
relacionados à alimentação saudável, mediante aplicação de questionário (PIOLTINE;
SPINELLI, 2010, p. 65).
A idade dos escolares apresentou correlação positiva significativa (p<0,05) com
o percentual de acerto, contrário ao estudo de Triches e Giugliani (2005, p. 544), que
não mostrou associação. Neste, foram avaliados escolares de com uma menor variação
de idade (8 a 10 anos).
Sugere-se, então, diante da importância da promoção da alimentação saudável para
a saúde infantil, a implementação de estratégias de educação alimentar e nutricional
eficazes nas escolas, direcionadas para alunos e cantineiros, com ênfase na escolha ade-
quada dos alimentos, objetivando hábitos alimentares saudáveis e, consequentemente,
promoção de saúde.
CONCLUSÃO
Abstract: the objective this article was relate snacks eaten consumed by students at a
private school were profiled and compared with the students’ knowledge about a healthy
diet. The calories, carbohydrates, proteins and lipids were calculated and compared
to recommendations and a questionnaire about diet and nutrition was administered.
In conclusion, a large percentage of the snacks were made up of processed foods and
most of them were inadequate.
Referências
608
estudos, Goiânia, v. 39, n. 4, p. 601-609, out./dez. 2012.