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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
BACHARELADO EM HISTÓRIA

Trabalho de Conclusão de Curso

Alupô!!!Bará:

Os mistérios dos cruzeiros do Mercado Central de Pelotas.

Éderson Motta Moreira

Pelotas, 2017
Éderson Motta Moreira

Monografia apresentada ao
Departamento de História da
Universidade Federal de Pelotas
como requisito parcial à obtenção do
título de Bacharel em História.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Cesar Borges

Pelotas, 2017.

2
Banca Examinadora:

Prof. Dr. Marcos Cesar Borges - Orientador (DH/ICH/UFPel)

Prof. Dr. Edgar Barbosa Netto – (UFMG)

3
Resumo

O presente trabalho tem por objetivo apresentar diferentes aspectos


dacontrovérsia gerada a partir da matéria publicada no jornal Diário da Manhã,
de junho de 2012, sobre um supostoritual de batismorealizado no interior do
Mercado Público Central de Pelotas (RS).As controvérsiasgeradas através da
imprensa e dasredes sociais, bem como seus desdobramentos jurídicos serão
abordados neste estudo. Os significados do rito realizados pelos pais de santo,
que acabaram relegados a um segundo plano em virtude das disputas e
polêmicas geradas através da imprensa, também serão objeto desta
monografia.

Palavras chaves: Religiões-Afro-brasileiras; Fundamento; Intolerância.

4
Sumário:

Introdução ................................................................................................6

Capítulo 1 –O assentamento do Bará do Mercado visto pela imprensa.


.................................................................................................10

Capítulo 2 – O assentamento do Orixá “Bará”.........................................21


2.1 – O Orixá Bará ..........................................................................21
2.2 –O passeio. ..............................................................................25
2.3 – Os Fundamentos. ...................................................................27
2.4 – O assentamento. .....................................................................32

Considerações Finais .............................................................................36

Referências ................................................................................................37

5
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo explorar diferentes dimensões de


uma controvérsia acerca do “Assentamento do Bará” no Mercado Público de
Pelotas (RS). Em junho de 2012, parte da imprensa local repercutiu este fato
denominando-o como um “ritual de batismo” – acompanhado por “sacrifícios de
animais” – realizado por adeptos de cultos afro-brasileiros no interior do
Mercado Central da cidade de Pelotas. Tal matéria ganhou destaque local
ensejando uma série de debates e posicionamentos por parte de cidadãos,
instituições e entre os próprios seguidores de religiões de matriz africanas.

Meu contato com o tema remonta a minha relação com a tradição


Cabinda na qual sou iniciado desde a década de 1990 e Pai de Santo desde
2012. Neste trabalho procuro conjugar minha experiência religiosa com o
instrumental teórico-metodológico apreendido durante a graduação em história.
Este texto marca o início de um diálogo que acredito que seja teoricamente
fecundo à medida que suscita o diálogo e a troca entre diferentes saberes.
No âmbito do curso de história da UFPel, minha participação no Grupo de
Estudos das Religiões afro-brasileiras, ligado ao Núcleo de Pesquisa em
História Regional (NPHR/UFPEL), coordenado pelo Profº Marcos Borges, criou
condições para a realização deste diálogo. Tal escolha implicou na mudança
da pesquisa que vinha desenvolvendo em benefício de um tema pelo qual
tenho afinidades e desejo de conhecer melhor.1

1
Já participando do grupo de estudos, entre uma leitura e outra me deparei com um artigo com
o título “Religiões de Matriz Africana e a Intolerância Religiosa” (2014),de Isabel Soares
Campos e Roseane Aparecida Rubert que tratou de vários casos de intolerância religiosa na
cidade de Pelotas e em outros municípios do sul do estado gaúcho. As autoras despertaram
minha atenção para o caso “Mãe Gisa e o caso do Bará do Mercado”, por retratar a intolerância
religiosa, proveniente do Assentamento do orixá Bará, na minha própria cidade, em detrimento
da forte presença negra e africana na sociedade local. Conforme as autoras: “Após este breve
resumo de casos de intolerância religiosa em relação às religiões afro-brasileiras que
acompanhei, apresento um episódio que ganhou grande visibilidade na cidade de Pelotas que
foi o caso do Bará do Mercado, no qual foi realizado um ritual de assentamento do Orixá Bará
por duas mães de santo, Mãe Gisa de Oxalá da Casa Espírita Assistencial Afro-brasileira
Cabloco Rompe Mato Reino de Xangô e Oxalá (CEAAB) de nação cabinda e Joice de Xangô
representante da Sociedade Beneficente São Jerônimo”. (CAMPOS, RUBERT,2014)

6
Além da análise dos debates suscitados pela imprensa local e seus
desdobramentos jurídicos e sociais, também busca-se realizar uma descrição
cuidadosa do rito do Assentamento do Bará. Neste caso, busca-se a produção
de uma narrativa próxima da experiência religiosa e que, por assim dizer, além
do valor em si, pode contribuir para desmistificar visões preconceituosas que,
vez por outra, são veiculadas por diferentes segmentos sociais.

Em junho de 2012, duas pequenas notas publicadas pelo jornal “Diário


da Manhã”2 obtiveram ampla repercussão na opinião pública gerando muitos
comentários, em sua maioria, favoráveis aos posicionamentos do articulista e
desqualificadores em relação ao rito e as religiões de matriz africanas.

Um dos objetivos deste estudo é descrever e analisar uma série de


ideias, em sua maioria carregadas de preconceito, que vieram a público nesta
ocasião. Neste sentido, a própria expressão “ritual de batismo”, utilizada pela
imprensa, revela desconhecimento e a persistência de uma visão negativa em
relação aos cultos de matriz africana no âmbito local, isto em que pese a forte
presença africana na cidade de Pelotas. O que o articulista do jornal Diário da
Manhã chamou de “ritual de batismo” trata-se, na verdade, do “Assentamento”
do Orixá Bará,” deus do panteão afro-brasileiro ligado aos lugares de comércio
e movimento, cuja descrição do ritual será objeto do segundo capitulo deste
trabalho.

As diferentes percepções e disputas que envolveram a cerimônia


revelam tensões latentes entre as comunidades de culto afro-brasileiro e certos
segmentos sociais que emergem durante situações que implicam numa maior
abertura da religiosidade afro em face ao contexto local.

Tal assunto, com ênfase na intolerância religiosa foi examinado por


Isabel Soares Campos e Rosane Aparecida Rubert no artigo “Religiões de
Matriz Africana e a Intolerância Religiosa” (2014). Contudo, acredito que dado

2
O jornal Diário da Manhã fundado em 1979, desde a sua fundação é um periódico de
circulação diária, ou seja, todos os dias há uma nova publicação de notícias referente aos
acontecimentos políticos, econômicos e sociais ocorridos na cidade de Pelotas Rs. Este por
sua vez é direcionado a todos os públicos, pois, a sua leitura é de fácil interpretação e objetiva
agradando aos leitores que o admiram.

7
sua relevância social e acadêmica, a realização de uma monografia que aborde
o fato e suas repercussões no contexto local continua sendo pertinente. Neste
sentido, abordar-se-á a seguintes questões: Quais os sentidos e significados
que nortearam a cobertura dada pela imprensa ao evento? Como esta matéria
repercutiu na opinião pública? Em relação as acusações de “maus tratos de
animais”, quais foram os argumentos mobilizados pelos envolvidos.

Tal tema, será abordado no primeiro capítulo, “O Assentamento do Bará


do mercado visto pela imprensa”. Dentre as fontes utilizadas para este estudo,
cumpre destacar o já referido jornal Diário da Manhã, mas também a página da
Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA)3. Dentre os meus
interlocutores, além do já citado artigo de Roseane Rubert e Isabel Campos
(2014), também recorre ao trabalho de Ari Oro, José Carlos dos Anjos e
Mateus Cunha (2007)4 e Jean Hendrix (2016) dentre outros. Chamo a atenção
para o fato de que as controvérsias envolvendo o “Assentamento do Bará” do
Mercado Público de Pelotas ultrapassaram os conflitos entre neopentecostais e
praticantes de religiões afro englobando outras clivagens de caráter social e
religioso, como aquela envolvendo “defensores dos direitos dos animais”
versos praticantes de “sacrifícios cruéis” identificados aos cultos de matriz
africana. Este capitulo assume a característica de análise histórica, não apenas
pela perspectiva diacrônica, mas principalmente pela utensilagem metodológica
própria ao historiador com destaque para o uso do método histórico de críticas
das fontes combinado ao uso de entrevistas realizadas com dois pais de santo
– Gisa de Oxalá e Paulo de Xangô - diretamente envolvidos nestas disputas.5

3
A página do ANDA (Agência de Notícias de Direitos Animais), destina-se a notificar a
sociedade em geral, sobre assuntos relacionados aos animais em geral. Estes assuntos
podem ser de caráter assistencial, ou seja, notificar se algum animal está em situação de
abandono precisando de um lar, medicamentos entre outros. Assim como ela tem esse
caráter assistencial a mesma também tem de informar quando ocorre maus tratos com os
mesmos.

4
Estes autores abordaram diferentes situações envolvendo intolerância religiosa na sociedade
gaúcha, sobrelevando o antagonismo entre evangélicos, notadamente neopentecostais e
adeptos de cultos afro-brasileiros.
5
Segundo (PINSKY,2005) a partir da década de 60 e 70 do século XX, as fontes impressas e
orais passam a ganhar destaque no meio historiográfico. Esta revolução documental passou
por três gerações, cada uma apresentando certas particularidades, não cabe fazer uma
discussão historiográfica neste momento, apenas salientamos a contribuição destas gerações

8
O segundo capitulo, intitulado “Assentamento do Bará”, apresenta certa
inspiração etnográfica, nele busco a feitura de uma narrativa “refinada” do rito
supracitado. A principal fonte para essa empreitada advém do conhecimento
que tenho sobre a tradição Cabinda combinada com as conversas e entrevistas
realizadas com irmãos de religião. Na definição do meu campo de interlocução
cabe destacar Yá Joice de Xangô, nação Gegê, e, os já referidos, Mãe Gisa de
Oxalá e Paulo de Xangô, ambos da nação Cabinda. Tais pessoas foram meus
aliados nesta pesquisa contribuindo para esclarecer vários aspectos desta
cerimônia.

Outrossim, na trajetória da pesquisa recorri a outros intercessores que,


no seuconjunto, constituem uma literatura que, embora não esgote o tema, foi
fundamental para a realização desta pesquisa. Neste sentido, para a escrita
deste tópico também recorri ao estudo de Ari Pedro Oro, José Carlos do Anjos
e Mateus Cunha sobre a “Tradição do Bará do Mercado “de Porto Alegre.
(2007); ao livro de Paulo Tadeu Barbosa Ferreira sobre “Os Fundamentos
Religiosos da Nação dos Orixás” (1994); o livro do Norton Correa “O Batuque
no Rio Grande do Sul, (2006) e a tese de doutorado de Edgar Barbosa
Netto(2012), entre outros.

para a renovação das fontes de pesquisa e para a prática da interdisciplinaridade. No caso das
entrevistas), estás foram concebidas como fonte para a pesquisa histórica a partir do advento e
uso do gravador em 1970. Segundo Verena Alberti: “A História Oral é uma metodologia de
pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surgida em
meados do século XX, após a invenção do gravador a fita. Ela consiste na realização de
entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos
e conjunturas do passado e do presente. Tais entrevistas são produzidas no contexto de
projetos de pesquisa, que determinaram quantas e quais pessoas entrevistar, o que e como
perguntar, bem como que destino será dado ao material produzido”. (ALBERTI in PINSKI,
2005, pg.155).

9
1 .O
O Assentamento do Bará do mercado visto pela impre
imprensa

No dia 28 de junho de 2012, foi publicada na coluna “Linha Direta”, de


autoria do jornalista Hélio Freitag duas notas, sem título, referentes à cerimônia
religiosa denominada “ritual de Batismo”, realizada no interior do Mercado
Central da cidade de Pelotas Rs. Rs. Esta publicação gerou polemica no âmbito
local mobilizando pessoas e grupos que se manifestaram tanto contra como a
favor da realização do Assentamento do Bará no mercado público e, por
extensão, em relação as religiões de matriz africanas:

10
Aparentemente objetivas, factuais, as matérias comportam vários
equívocos em relação ao ritual em questão e, ao mesmo tempo, mobilizam um
subtexto bastante negativo em relação aos cultos de matriz africanos de modo
que deu ensejo, por assim dizer, há uma verdadeira onda de intolerância
religiosa na cidade de pelotas:

“1) O MERCADO central ainda não foi reaberto mas já recebeu um


ritual de batismo realizado pela Sociedade Beneficente São Jerônimo.
Numa cerimônia coordenada pela Yá Joice de Xangô, juntamente com
YáGisa de Oxalá, membros da religião afro restabeleceram o
bará(proteção) que havia sido removido por conta das obras de
restauro. 2) OS PARTICIPANTES da cerimônia religiosa africanista
sacrificaram um cabrito,três galos e um casal de pombos que segundo
eles, servira na proteção e para que o Mercado Central obtenha
sucesso..Estiveram presentes, como representantes das autoridades
locais, o vereador Ademar Ornel e o Engenheiro responsável pelo
restauro Ricardo Silveira” (JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ, Pelotas, 28 de
setembro de 2012).

A primeira nota divulgou que o Mercado Central - ainda fechado por


conta das obras de restauração - recebeu um ritual de batismo destinado ao
restabelecimento do bará(proteção). Ainda segundo o jornal, o batismo foi
realizado por duas Yás pertencentes a religiões de matriz afro-brasileira a
YáJoice de Xangô e Gisa de Oxalá.
A matéria questiona o uso do mercado para a realização do rito, pois,
por se tratar de um espaço público não deveria comportar manifestações
religiosas. De acordo com o jornalista, não seria adequado realizar um “ritual
de batismo” afro-religioso num ambiente público e laico. O autor não leva em
conta que o prédio do Mercado Público da cidade de Pelotas tem uma forte
representação histórica e cosmológica, para os seguidores das religiões de
matrizes africanas.
Seu significado histórico está ligado à contribuição dos negros que para
cá foram trazidos, escravizados, participando, ou melhor, suportando a
construção da cidade de Pelotas, O trabalho dos escravos, fator preponderante
na produção do charque, atividade responsável pelo enriquecimento da cidade
e de suas elites nos séculos XVIII e XIX, também ficou materializado nos
casarões e prédios que hoje são tombados pelo IPHAN, dentre estes prédios, o
mercado de Pelotas também foi construído à custa da exploração do braço do
negro escravizado.

11
Assim, nesta perspectiva, não parece ético separar o trabalho do negro,
incorporado à cidade, de suas crenças e tradições cultuadas e transmitidas
entre gerações. Em sua defesa, quando questionada pelo ministério público em
relação à pertinência ou não da realização do Assentamento do Bará, Mãe
Gisa de Oxalá, chamou a atenção para esse significado histórico, remetendo a
centralidade histórico-factual, simbólica e religiosa do mercado na história e na
memória dos negros de Pelotas:

Salienta-se que no Mercado Público do município ocorria a


comercialização de africanos escravizados durante o sistema
escravagista em Pelotas. É nesse contexto que foi realizada a
cerimônia Afro no Mercado Público, em respeito à memória dos
afrodescendentes que foram vendidos nesse espaço público.
(Trecho retirado do Manifesto).

De um ponto de vista religioso e cosmológico, o orixá Bará, conforme


capitulo anterior, tem uma forte ligação aos lugares de comércio e de
movimentação de pessoas, por isso, para os batuqueiros o Mercado é um elo
com o orixá constituindo-se, portanto, num importante lugar de culto. Neste
caso, para a realização do Fundamento do Passeio.

A matéria jornalística faz referência a um ritual de batismo, trata-se de


expressão equivocada, pois não se trata de batizar ninguém, embora o rito,
como dito antes, destine-se, também, a apresentação dos novos filhos de santo
para a comunidade. Tal expressão não contempla a natureza da Obrigação do
Assentamento do Orixá Bará voltada para a potencialização do movimento
identificado a promoção da vida. Neste caso, creio que se trata de uma opção
pela ignorância, numa atitude de fechamento, muitas vezes, deliberada em
relação a cultura afro-brasileira, simultaneamente, próxima e mantida a
distância.

No dia 28/06/12 sai no jornal Diário da Manhã uma nota cruel


com uma foto minha e de meu esposo e mais outros membros
da casa (CEAAB), (...) e ai começa uma briga, pela
manifestação do povo que desconhece a nossa religião(...).
Nós ouvimos, esta casa ouviu muitas humilhações, por causa
desta nota publicada. (Mãe Gisa de Oxalá(CEAAB) - Entrevista
realizada no dia 09/07/16)

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Outrossim, a expressão restabelecer o bará(proteção) também
demonstra desconhecimento das religiões de culto afro-brasileiro, pois, não
havia o Assentamento do orixá, não havendo, portanto, nada
parareestabelecer, e sim o Fundamento do Passeio.
Na sequência,em outra nota, é destacado que as Yás sacrificaram um
cabrito, três galos e um casal de pombos os quais serviram para a proteção do
prédio público. Além, da presença de representantes do poder público que
acompanharam o ritual de batismo, havia também os familiares consanguíneos
das Yalorixas e alguns dos seus filhos-de-santo que acompanharam a
cerimônia religiosa.
O vocábulo sacrificou remete a ideia de crueldade e barbárie perpetrada
contra os animais ofertados aos deuses africanos, em rituais, que de acordo
com vários comentários postados nas redes, constituiriam práticas de feitiçaria
e ou culto ao diabo. Esta leitura inicial, bastante negativa, foi ainda
potencializada pela matéria publicada na página do ANDA (Agência Nacional
dos Direitos dos Animais), sob o título “SACRIFÍCO CRUEL - Ritual usa
animais para ‘abençoar’ prédio público na cidade de Pelotas (RS)”.6 Além do
título a matéria traz uma fotografia onde se vê a família de santo da Mãe Gisa
de Oxalá com destaque para um homem negro portando uma enxada na mão.
No caso, o africanista Paulo de Xangô, esposo da YáGisa:

6
Esta página recebeu diversos acessos e comentários os quais exaltaram o preconceito religioso
implícito, pois, os mesmos utilizaram a causa em relação a defesa dos direitos dos animais para expor
suas ideias referentes aos sacrifícios ocorridos nas religiões de matriz africana, deixando claro que esta é
uma religião que não pertence a “Deus” e sim do “Diabo”. Destacaremos alguns dos comentários:
“A quem pode agradar animais mortos com tortura? se esse prédio público for efetivamente para o
bem, não precisa disso. Só precisa de pessoas de caráter e que não usam a corrupção como
instrumento. Certamente algum político pediu esses sacrifícios a troca de votos…GENTE NÃO
PERMITAM ISSO – ESSE RITUAL NÃO É PARA DEUS…MUITO MENOS PARA PROTEÇÃO DE PESSOAS DO
BEM…quem apoiou isso são verdadeiros CANALHAS, NOJENTOS fazem mal para os seres do bem. São
abortos da natureza…tanto quem pede como quem executa.” Maria Helena (30 de junho de 2012,
19:00).
“Santa ignorância, quem protege e abençoa é Deus, somente Deus. Porque não sacrificam um dos filhos
deles, quem sabe o sucesso seria maior…” Vera Lucia (30 de junho de 2012, 21:53).
Embora minoritários, também houve comentários questionando as premissas, bastante frágeis, dos
detratores dos cultos de matriz africana: “Quando matam animais para subsistência é coisa do capeta,
mas quando matam animais em massa e com requintes de tortura nos abatedouros ninguém comenta,
por que será? Ah sim, é fácil pagar para que matem animais por vocês né?” Marcelo (1 de julho de 2012,
00:13).

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Figura 1: Página do Anda com destaque para o Título da matéria onde se lê a palavra “Sacrifício cruel”, bem como
para a foto dos“batuqueiros” portanto enxadas que, erroneamente, sugerem o enterramento de animais.

Sacrifício Cruel, a palavra sacrifício nos leva a sentir e perceber


algo que não é bom, deste modo à mesma está ligada a imagem de um
homem negro, o que pensar? Ligando está expressão, sacrífico cruel, com
a cor do homem, negro, que veste branco, portando um colar de contas e
com uma trunfa na cabeça remete a um ritual de magia negra.

A Fotografia tem por objetivo registrar momentos na vida das


pessoas, os quais já passaram e nela fica ilustrada a imagem de alguma
situação positiva ou negativa. A imagem reforça uma leitura negativa do
rito africanista alimentando à polêmica referente ao ritual do Mercado e
oferecendo munição para aqueles que procuram abafar ou limitar estas
expressões religiosas.

Por se tratar de um Fundamento de culto afro-brasileiro o rito não


poderia ser fotografado ou filmado e, menos ainda, ter suas imagens
divulgadas. Entretanto, a fotografia foi feita e liberada para ser divulgada
no jornal Diário da Manhã e, consequentemente, nas redes sociais. Creio
que se faz necessário esclarecer as razões para certas atitudes contrárias
aos princípios religiosos considerados como Fundamento por parte de

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praticantes dos próprios cultos. Todavia, tal exame deverá ficar para um
próximo estudo.

Assim, gerada a polemica através da imagem o que ela transmite


para quem desconhece o seu verdadeiro propósito é que o ritual que fora
realizado tem ligação ao satanismo. O leigo, fazendo a ligação da palavra
Sacrifício e o contexto da imagem, pode ser induzido a está leitura. Os
termos e imagens utilizados remetem a uma série de significados
cristalizados na cultura dominante que, além de rebaixar a figura do negro
e batuqueiro, estabelecem ligações com noções de atraso, barbárie,
marginalidade, as trevas e ao “diabo”. Atualizações de concepções
construídas ainda na Idade Moderna sob o colonialismo e a escravidão
que Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio:

A cor negra, associada à escuridão e ao mal, remetia, no


inconsciente europeu, ao inferno e às criaturas das
sombras. O Diabo, nos tratados de demonologia, nos
contos moralistas e nas visões de feiticeiras perseguidas
pela inquisição, era, coincidentemente, quase sempre
negro. Etiópia, palavra grega que designava, em vários
textos e mapas, a parte do continente conhecida até
então, significava “face queimada”. Era, pois, a tez
particular que caracterizava os habitantes deste mundo
estranho e desconhecido. (MARY DEL PRIORE e
VENÂNCIO PINTO apud HENDRIX SILVEIRA, p.56,
2004)

Esta construção ainda vigora nos tempos atuais às vezes de forma


implícita, outras não, mas, independente da forma com ela é apresentada ela
traz consigo um retrocesso para o desenvolvimento das sociedades. Assim,
além do preconceito religioso o caso do ritual do mercado, retratou também um
caso de preconceito racial a imagem do batuqueiro Paulo de Xangô que se
encontra ao centro da fotografia.
De acordo com Hendrix Silveira (2016), e o teólogo africanista Jayro
Pereira de Jesus (2012) o que ocorre com estes animais é a sacralização e não
o sacrifício, pois, a primeira é de tornar sagrado o que for ofertado aos deuses
e a outra a práticas de crueldade. Conforme:
Para as tradições africanas a sacralização é seu elemento
central e está presente na maioria dos ritos, mas
principalmente nas três principais liturgias: o Bori (rito de
cosmologização, renascimento e fortalecimento do indivíduo

15
para o coletivo), o Osé (ritos anuais de regeneração do tempo8
e da aliança com as divindades) e o Isinku (ritos funerários
extremamente importantes para a escatologia e soteriologia
que se expressa na ancestralização do indivíduo e
fortalecimento da comunidade).(Silveira,2016)

A sacralização é feita por um Pai ou Mãe de santo, os quais já possuam


seus orixás devidamente assentados. Para a sacralização usa-se o obé,o
qualfoi preparado quando estava sendo realizada a obrigação de apronte. O
obé é do orixá Ogum, que representa o corte e através deste se dá a ligação
com o orixá, o qual está representado pelo ocutá. Os filhos do orixá ogum são
identificados pelo nome de Axogun, ou seja, são detentores da prática da
sacralização, devido à característica deste deus africano. Raramente isso
ocorre nas casas de religião de culto afro-brasileiro do Rio Grande do Sul,
tornando esta prática visível nos terreiros de Candomblé da Bahia e arredores,
mas pode ocorrer este ato conforme for à determinação do Pai ou Mãe de
santo, responsável pelo Ylê. Assim:
Duas divindades estão intimamente relacionadas aos ritos
imolatórios: os Orixás civilizatórios Ogun e Odé. Ogun é o Orixá
da tecnologia, da metalurgia. É Ele quem cria as ferramentas
que facilitam o trabalho dos seres humanos (BENISTE, 2006,
p. 127-132). Ele a cria e ensina como utilizá-las (PRANDI,
2001, p. 98). O Obé é a faca específica para cumprimento dos
rituais imolatórios e somente um sacerdote devidamente
preparado e consagrado pode manejá-la. (Silveira,2016, pg.7)

Os animais sacralizados nas obrigações de culto afro-brasileiro são


consumidos pelos próprios adeptos após a retirada dos miúdos7, para o orixá e
depois é servido nas festas de batuque, ou toque, expressão que muitos
Babalorixás e Yalorixás costumam usar para identificar a festividade aberta
para a comunidade em geral. Geralmente é preparado um Amalá8 das aves
entre outras oferendas e os animais de quatro patas são assados e com seus
miúdos é feito um sarrabulho.9Conforme:
As partes ou porções sagradas, que são separadas nos altares
(Kroxikama,ibás,assentamentos das divindades) Faz com que
possamos além de comungar daquele alimento especifico,
alimentar o nosso corpo,ouseja,nos nutrimos integralmente

7
No culto afro são denominadas inhelas.
8
Axé oferecido ao orixá Xangô.
9
Axé feito de Miúdos oferecido aos orixás.

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com respeito máximo e o mínimo de sofrimento possível para
os seres que usamos como refeição.Não é matar por
matar.(NGUNZETALA,2015,pg.23)

Portanto, o que as Yássacrificaram se tratou de uma obrigação a qual


ocorreu a sacralização onde os animais não sofreram, não foram torturados, ao
serem ofertados aos deuses africanos, tampouco se tratou de um ritual de
bruxaria, satanismo ou de magia negra.10
Igualmente, os animais sacralizados não foram enterrados, como sugere
a fotografia divulgada pelo jornal Diário da Manhã ao destacar a imagem do
esposo da Mãe Gisa, o sacerdote africanista Paulo de Xangô, segurando uma
enxada, induzindo os leitores a pensar que os animais poderiam ter sido
enterrados:
Porque assim: quando tu é de uma religião tradicional como a
nossa é, tu tens que saber falar e o que falar nós nunca
sacrificamos animal o que nós fazemos é a sacralização do
animal que vai ser ofertado ao orixá para o animal não sofrer e
tem mais ainda pensaram que enterramos os animais no
interior do mercado. (Paulo de Xangô-Entrevista realizada no
dia 09/07/16).

Na outra ponta do espectro, Mãe Gisa de Oxalá e seus familiares, tanto


a família de santo como a consanguínea, mas também a própria casa de
religião, o CEAAB, passaram a sofrer ameaças e represálias por parte de
diferentes setores organizados da sociedade a começar por alguns praticantes
de religiões de matriz afro-brasileira da cidade de Pelotas. Neste caso,
daqueles que não tiveram ou apoiaram a realização da Obrigação do Mercado
e assumiram uma posição de crítica aberta em relação ao Assentamento:

Ninguém veio falar comigo, até sair a nota, mas, no mesmo dia ao meio
dia veio aqui em casa um rapaz de religião me questionou e também
dizendo que iam me colocar na justiça e eu olhei para ele e disse: o
porque eu não fiz nada de errado, porque vão querer o meu sangue, eu
tenho tudo documentado registrado não tem o porquê ai ele disse: teve
uma reunião assim, assim, e vão pedi o teu sangue (...). (Mãe Gisa de
Oxalá (CEAAB) – Entrevista realizada no dia 09/07/16)

10
“No tocante as tradições de matriz africana se somam vários fatores: a sensibilidade ao fato da morte
do animal; o imaginário ou atrasado concebido por séculos sobre essas tradições; a ideia de uma
crueldade na prática. Todos esses fatores precisam ser desconstruídos, desmistificados, para que se
compreenda realmente a importância da imolação para essa tradição”. (SILVEIRA, 2016, pg.5)

17
Diferente do que ocorreu na cidade de Porto Alegre (RS), onde a união
dos batuqueiros da cidade de Porto Alegre demonstrou interesse em preservar
o Assentamento do orixá Bará, realizado pelo príncipe Custodio, na cidade de
Pelotas, os próprios sacerdotes de culto afro- brasileiro não apenas deixaram
de apoiara a iniciativa das Yás, demonstrando indiferença, mas manifestaram
contrariedade em relação a iniciativa das mães de santo. 11
O fato deflagrou um movimento de intolerância religiosa, pois, os
adeptos das religiões neopentecostais, defensores dos animais e pessoas
esclarecidas da comunidade, no passado dir-se-ia “homens bons”,
caracterizaram a obrigação do mercado, como “chinelagem da grossa”, após
divulgação do rito na página social do jornalista Hélio Freitagjr e posteriormente
pagina da ANDA.
O episódio passou a ter um caráter de intolerância quando o
Blog Amigos de Pelotas, por meio de reportagem assinada pelo
jornalista Rubens Filho, na época também candidato a
vereador pelo PCdoB, que caracterizou o ritual como uma
“chinelagem da grossa”..Segundo ele: “Os corpos dos animais
foram enterrados na área do MercadoMunicipal, que está
sendo restaurado.(...) Em postura de desaprovação do que
aconteceu, o jornalista prossegue:”Chinelagem (palavra boa
está para algumas coisas) é pouco para descrever o que se
passou, mas dá uma idéia da idade mental e cultural dos
realizadores da barbárie(trecho retirado do
blog).(CAMPOS,RUBERT,2014,pg.302)

Acusações das mais variadas, ignorância, crueldade, tortura, bruxaria


entre outras, provenientes de diferentes segmentos sociais, neopentecostais,
“defensores dos animais”, políticos, pessoas “esclarecidas”, veiculadas através

11
Em Porto Alegre, os casos de intolerância religiosa e a discriminação ao livre direito de culto dos orixás
levou a desencadear a criação de uma Comissão em Defesa das Religiões Afro-Brasileira(2002)
organizada por homens e mulheres que cultuam as religiões de matriz afro-brasileira a se posicionarem
em defesa dos seus direitos previstos em lei, pois, a banca que resguardava o Assentamento do orixá
Bará havia sido removida por conta das obras de restauração, o qual o culto deste orixá já era realizado
desde o século XIX. Assim: “A INTOLERANCIA RELIGIOSA e a forma discriminatória com que desde
sempre conviveram os Afrodescendentes desencadeou em 2002 a criação do movimento denominado
Comissão em Defesa das Religiões Afro-Brasileiras. Naquele momento um grupo de sacerdotes, homens
e mulheres, vivenciados das religiões de matriz africana mobilizaram-se para fazer prevalecer seus
direitos de liberdade de culto conforme prevê a Constituição Nacional [...]. Este caso resultou em uma
conquista pela então Congregação em Defesa das Religiões Afro – Brasileiras(CDRAB) a qual solicitou
que fosse colocado um cofre para os adeptos dos cultos afro-brasileiro jogarem as suas moedas quando
fossem realizar o Fundamento do Passeio. O centro do Mercado também foi revitalizado para que os
mesmos e a comunidade em geral reconheçam que ali é um lugar sagrado para os que seguem a
doutrina religiosa africana” (AUTOR, ANO, Página).

18
da imprensa, blogs e páginas sociais, atualizaram clivagens ancoradas em
aspectos étnicos, sociais e culturais cristalizando posições, “gente de bem”
versus a “canalha”, alimentando uma política reacionária que cresce no país.
A polêmica provocada pela divulgação das notas, juntamente com a
fotografia, levou a família de santo e consanguíneo da YáGisa de oxalá, bem
como a sua casa de religião, o CEAAB, a compareceremdiante do Ministério
Público para prestar esclarecimentos sobre o ritual e o sacrifico de animais nas
dependências do mercado público:

(...) quando se recebe aqui a notificação do promotor público Paulo


Roberto Gentil, promotor de Justiça. Usando as atribuições que lhe
conferem o artigo 129 §6 da Constituição Federal de 1981, artigo 15 §8
da lei complementar da federação sob o número 40/81 do artigo 32 §8 a
lei estadual 7669/81 lei orgânica do Ministério Público determina o srº
Secretário de diligencia a notificação do representante legal da entidade
denominada CEAAB, com endereço na rua 38 nº107 jardim Europa
para que compareça nesta promotoria de justiça especializada de
pelotas (...),no dia 10 de outubro de 2012(...), onde deverá prestar
informações(...),lá embaixo ao pé do Ofício nº000824/12(...). (Paulo de
Xangô – 09/07/16)

Assim, no dia e hora determinada estavam lá à família de santo da Mãe


Gisa para prestar os devidos esclarecimentos. Obtiveram sucesso nas suas
explicações sendo absolvidos do “crime” que por hora estavam respondendo
perante o Estado.
De acordo SILVEIRA (2016), a ascensão de políticos a cargos públicos
(Vereadores, deputados estaduais e federais etc.), ligados a religiões católicas,
evangélicas, evangélicas quadrangulares, entre outras, tem possibilitado
através do “poder”, advindo da posição ocupada, perseguir as religiões de
matriz africanas, seus sacerdotes no seu culto aos seus ancestrais e aos seus
deuses africanos. Assim:
Em todo o Brasil a ascensão de parlamentares
fundamentalistas tem cumprido uma agenda persecutória às
tradições de matriz africana. Ao longo do século XXI os
parlamentos brasileiros, tanto nas esferas municipais, quanto
nas estaduais e na nacional, têm se tornado palco de
implementação de leis que visam cercear as liberdades
religiosas do povo de terreiro, sobretudo quando se refere à
sacralização de animais. (SILVEIRA, 2016, pg.1)

19
O conceito de afroteofobia, desenvolvido pelo teólogo africanista Jayro
Pereira de Jesus, define a forma de perseguição a religiões de matrizes afro-
brasileiras ancorada na repressão aos cultos afro-brasileiros destacando os
atos de sacralização ao ligar estas práticas a rituais satânicos e a figura do
negro vinculada a inferioridade e como representação do “diabo”. A diferença
convertida em inferioridade se faz presente enquanto construção histórica
através da imposição dos valores europeus, brancos e cristãos transformados
em padrão hegemônicos relegando outras expressões étnicas e religiosas a
marginalidade política e social. Conforme o autor:
A história da afroteofobia tem, talvez suas origens nas
autorizações para a conquista e a escravidão de africanos
emitidos pela Igreja Católica fundamentados em argumentos
teológicos. Mais tarde, também argumentos científicos seriam
usados. Esses argumentos construíram na Europa uma
mentalidade sobre os africanos como pagãos pecadores e de
uma raça inferior, logo, promotores de uma cultura satânica
e/ou primitiva. (SILVEIRA, 2016, pg.2)

20
2 . O ASSENTAMENTO DO ORIXÁ BARÁ

2.1 – O ORIXÁ BARÁ

Na nação Cabinda12, são cultuados doze orixás: Bará, Ogum, Iansã,


Xangô, Odé, Otim, Obá, Ossanha, Xapanã, Oxum, Yemanjá e Oxalá. Cada
uma das divindades tem uma classificação especifica, ou seja, que vai dos
orixás novos aos velhos, trata-se de uma classificação análoga ao devir
humano. Neste caso, o Bará comporta passagens que abarcam desde os
velhos, BaráElegba e BaráLode, os adultos, BaráLanã e Adague, todas estas
passagens apresentam a natureza do epô (azeite de Dende). O único Bará do
mel é aquele identificado a criança que chamamos de BaráAgelú (FERREIRA,
1994).

O vocábulo Bará é utilizado aqui no Rio Grande do Sul, mas, é chamado


no dialeto Yorubá por Esú o senhor dos caminhos e das encruzilhas.Bará ou
Esú são a mesma divindade do panteão dos orixás. Portanto, aqui no sul o Esú
com “s”não é comum de ser utilizado e sim com “x” Exu a qual acredito ser uma
construção cultural da língua. Conforme:
Os/as adeptos/as da Religião de Matriz Africana e/ ou Afro-
Umbandista do Sul para fugir –acredito - da idéia de Exu com “x”
onde tem cabido todas as incongruência, a Tradição do Batuque, faz
referência a Bará ao invés de Èsú.”Bara = Oba + ara” (Rei do Corpo)
A sentença diz “(...) que todos os seres sem exceção (...), todos os
seres do òrun ou do àiyé, todas as porções de existência
diferenciada, só podem existir e expressar-se por possuir, por estar
‘acompanhado’, por seu “Èsú, seu princípio de vida individual, seu
elemento dinâmico; o rei do corpo”. Èsú é o primogênito do universo.
(JESUS,2012)

Exu13 é um espírito inferior ao do orixá ele é cultuado na Umbanda e


Quimbanda. O mesmo também possui a sua casa vermelha na frente das
casas de religião. Na sua oferenda é oferecida bebida alcoólica e charuto tudo
da melhor qualidade possível, pois, é considerado interesseiro. Por isso, as
suas características as confundem com as do orixá Bará, mas, na hora do ritual
um é diferente do outro.

O Exu tem a sua mulher que é a Pomba-Gira que trabalha junto com ele,
por isso que geralmente quando o Exu se materializa nos seus cavalos14 ele
procura uma senhora para beber e fumar. O cavalo que recebe a manifestação
do Exu quase sempre terá a manifestação dela também. Tanto Exu quanto a

12
Nação de religião afro-brasileira a qual o seu culto difere das outras nações, pois, ela inicia quando as
outras terminam no cemitério.
13
É um espírito de alguém que já desencarnou.
14
Refere-se a incorporação.

21
Pomba-gira são procurados para trabalhos diversos abertura de caminhos e
assuntos relacionados ao amor.

Neste contexto, desataco um Bará cuja característica é mais próxima a


do Exu. Este Bará é o BaráLodê o qual a sua casa está na frente das casas de
religião também pintada da cor vermelha. O BaráLodê é temido e respeitado,
pela a sua força e a rapidez de resolver os problemas quando é chamado, por
isso que muitos o consideram quase um Exu: Assim:

Voltemos agora ao BaráLodê com o qual começamos. De um lado, ele


come o torrado e o cru, de outro, apenas o cru. A presença da
cachaça acrescenta outro ingrediente feiticeiro àquele axé. Lodê é
um orixá, mas é mais um exu; a cachaça, contudo, não é
indiscriminadamente oferecida a ele, ao contrário do que acontece
com os exus, para os quais ela está invariavelmente presente.
(BARBOSA NETO, 2012).

Conforme Mateus Cunha, no livro “A Tradição do Bará do Mercado”


(2007), o Bará é primeiro orixá do panteão da Cabinda, é a divindade mais
próxima dos humanos, pois as suas características estão ligadas diretamente
ao dia-dia das pessoas, ou seja, todos nós precisamos nos descolar para um
lugar e outro e é assim o orixá Bará que está sempre em movimento. O
movimento se refere à dinâmica da vida, pois, sem ele as coisas não
acontecem. Conforme:

O Bará é quem abre e fecha os caminhos, facilitando ou dificultando a


vida das pessoas. É o mais humano dos orixás, pois o seu caráter
lembra o do ser humano, de um modo geral, muito instável em suas
ações e atitudes. (CUNHA, 2007, pg.12)

Quando iniciei a minha trajetória religiosa, em meados dos anos 90, na


casa da Yá Joana da Yansã, na cidade de Pelotas (RS). O Bará foi um dos
primeiros orixás com que tive um contato direto, pois, dentro do culto afro-
brasileiro, este orixá é o primeiro a ser cultuado, sem sua licença nada pode
ser realizado. O Assentamento, feito na frente das casas de religião, é
chamado “casa do Bará”. A casa costuma despertar curiosidade, pois, é
pintada de vermelho, cor do Bará. A casa pintada de vermelho é, muitas vezes,
relacionada como a “casa do diabo” por parte de pessoas que desconhecem e
ou nutrem preconceito em relação às religiões de culto afro-brasileiro.

O Bará é identificado com a segunda – feira, quando são despachados15


os seus axés (comidas) e seus ecós16. Durantes os rituais, realizados a noite,
os Barás da casa são mobilizados com o objetivo de movimentar o axé em
benefício da casa e de seu público (pai de santo, filhos, amigos e clientes). Do

15
Ato de entregar oferendas ou similares na Natureza
16
São vasilhas de barro geralmente de tamanho médio que é colocado água, após dependendo para
qual orixá será oferecido, levara mel ou azeite de Dendê.

22
movimento do Bará, advém o movimento da casa que é feito objetivando
potencializar a vida das pessoas conforme suas necessidades e desejos (por
exemplo, saúde, emprego, prosperidade). Dono dos caminhos, interessado no
mundo humano, o Bará é mobilizado através da troca: Assim:

Como o Bará é conhecido por abrir e fechar os caminhos, um de seus


símbolos é a chave, que abre não apenas os caminhos, mas tudo que
se possa imaginar em relação a dinheiro (outro símbolo do Bará),
tendo assim uma forte ligação com o comércio e por conseqüência
com os mercados. (CUNHA, 2007, pg.12)

. De acordo FERREIRA (1994), cada Bará tem o seu axé17 próprio, ou


seja, a sua oferenda o seu alimento. Na classe dos Barás há os que comem,
na sua oferenda, azeite de dendê e somente um que aceita mel. Nesta
percepção os que são do epô são os de frente os que trabalham, ou seja,
através dos seus axés trazem o movimento para a casa de religião. O Bará do
mel é o Agelú, por ele ser criança e de dentro do quarto-de-santo não tem por
finalidade trabalhar para o movimento, não que ele não possa, mas isso ficara
para uma próxima discussão.
Bará (Elegba) – Milho torrado, amendoim torrado, feijão preto torrado,
miamiã gordo, farinha de mandioca com azeite-de-dendé, 7(sete)
bifes com azeite-de-dendé,7(sete) cachimbos de taquara recheados
com pimenta verde ao invés de fumo.

Bará (Lode) – Milho torrado, pipoca, 7(sete) batatas inglesas


assadas, 7(sete) opetés de batatas inglesas cozidas e amassadas
sem casca.

Bará (Lanã, Adague) – Milho torrado, pipoca, 7(sete) batatas inglesas


assadas.

Bará (Agelú) – Milho torrado claro com mel, pipoca, 7(sete) batatas
inglesas assadas, milho cozido (axoxô), 7(sete) tiras de coco (fruta).
(FERREIRA,1994, pg.132)

O culto para o orixá Bará pode ser realizado na mata e nas


encruzilhadas com exceção do BaráAgelú que é cultuado na beira da praia, por
ele ser criança. Por isso que, geralmente, encontramos oferendas nas
encruzilhadas, pois, as mesmas foram entregues ao orixá. Mas, esta entrega
pode ser confundida com as oferendas entregues para Exu, pois, o mesmo
também trabalha na encruzilhada.

Toda a segunda-feira, na casa da Yá Joana d´Iansã, era comum os


homens serem escalados para despachar os Barás18. Utilizo o termo Barás
(plural) por se tratar de diferentes orixás, cada qual com atributos particulares:
uma diferença importante ocorre entre o Bará da rua, o Lodê, que fica na frente
da casa de religião e os Barás da casa, o Lanã, Adaguê e Agelú. Também em
17
Há várias interpretações para a palavra axé uma destas é relacionada ao alimento que é oferecido
para o Orixá outra advêm da força do Orixá que é transmitida através do axé.
18
Utilizei o termo Barás, por se tratar também de realizar o culto aos Exus, após, os orixás Barás.

23
relação ao gênero existem diferenças importantes entre os Barás. Assim, por
exemplo, O BaráLodê, diferentemente dos demais, não aceita a presença de
mulheres no seu ritual, por isso, os homens são encarregados de realizar a sua
obrigação19.

No Ylê20 da Ya Joana o responsável em cutuar o BaráLodê era o seu


filho carnal, um rapaz que deveria ter em torno de 25(vinte e cinco) anos de
idade. A escolha de um homem se deve ao fato de se tratar de um Bará que
não gosta da presença de mulheres e crianças ao seu redor. Então, o seu filho
fora aprontado para cuidar da obrigação do BaráLode. Esta obrigação era
dívida entre todos os filhos homens da casa os quais também estão incluídos
os homossexuais.

Nas outras duas casas que freqüentei a obrigação para BaráLodê já era
realizada pelos dois Pais-de-santo, Pai Paulo e Pai Ailton, ambos
homossexuais, o tema do gênero e da homossexualidade, apesar de
importantes, não constituem objeto deste estudo, embora possam ser
trabalhados em um próximo estudo, o que interessa, neste momento, é
discorrer sobre o orixá Bará.

As obrigações para os Barás são realizadas de acordo com a sua


característica, pois, há os de dentro do quarto-de-santo, os quais são
BaráLanã, BaráAdague e BaráAgelú e o da rua, BaráLode, que está assentado
juntamente com Ogum Avagã. A obrigação é realizada no salão do Ylê, para os
de dentro de casa, diferente do BaráLodê, cultuado apenas por homens, as
mulheres também participam dos rituais dedicados aos demais barás.

Segundo CORRÊA (2006), o Batuque, identificado ao culto de doze


orixás, é uma religião própria do Rio Grande do Sul. Ele é divido em lados ou
nações de acordo com as formas particulares de culto a um mesmo panteão de
orixás. Os sacerdotes destas religiões são titulados de batuqueiros, ou seja,
aqueles que a praticam.

Nos batuques21 - que são as festas para os orixás - todos dançam em


uma roda no sentido horário e em escala por orixá, numa corrente com todas
as divindades. Cabe aos tamboreiros saudarem o Bará e solicitarem sua
permissão para começar a festa. Os primeiros toques são para o BaráElegba e
o BaráLode, neste momento, somente os homens dançam para estes orixás,
somente após os toques destes Barás é que as mulheres e crianças entram,
por escala de seus orixás, para dançarem.

19
Os batuqueiros utilizam o termo obrigação para designar a ação de despachar as suas oferendas e
cuidar do seu ritual.
20
Refere-se as casas que cultuam os orixás.
21
São as festas as quais tocam os tambores para reverenciar os orixás.

24
O Bará é o orixá da vida, dos caminhos, da virilidade, da fartura e do
movimento. Assim, ele é o acerto e o desconcerto ao mesmo tempo, ou seja,
há coisas na vida que já estão prontas para acontecer e do nada simplesmente
deixam de acontecer, por isso que o culto ao orixá Bará se torna importante,
para que ele sempre possa estar com a sua chave abrindo os caminhos de
quem o solicita.

2.2 - O Passeio

“[...] diziam que os Orixás estavam proibidos, mas dentro do mercado é como se não houvesse
22
proibição alguma, talvez o mercado fosse o refúgio dos Orixas”. (Antonio Olinto)

Em Pelotas o Mercado Público foi edificado no século XIX e por esta


razão compreendemos que a presença do negro, oriundo da África ou nascido
na América, trazido para o Sul escravizado para trabalhar nas Charqueadas,
contribuiu, com seu trabalho e também com sua cultura, para a construção da
sociedade pelotense. Diante destes fatos indiscutíveis, os cultos das religiões
de matriz afro-brasileira, os quais têm por princípio cultuar a ancestralidade, se
fazem presentes nos diferentes espaços sociais locais, inclusive no mercado:
No Brasil, em se tratando das monumentais edificações construídas
na colônia e no Império, indubitavelmente a mão de obra dos
africanos escravizados foi a utilizada e compulsoriamente nas
construções referidas. Dentre os empreendimentos arquitetônicos
estão os grandes Mercados existentes em todo o país, inclusive no
Estado do Rio Grande do Sul, especialmente, os Mercados Públicos
respectivamente de Pelotas construído em 1848 e o de Porto Alegre,
que data de 1868. (Trecho retirado do texto- Oóoja-Senhor, Dono Do
Mercado: Considerações, Sociológicas, Filosóficas e Teológicas
Acerca da Concepção Africana de Mercado)

Ari Pedro Oro (2007), no estudo sobre o Mercado Público de Porto


Alegre, enfatiza a concentração e o trânsito de pessoas comprando, vendendo
e trocando produtos de diversas qualidades e é nesta concentração e no
movimento, de pessoas, mercadorias, animais, afetos, que os batuqueiros
identificam a presença do Orixá Bará. Em Pelotas, o Mercado Público está
localizado na área central da cidade, por ali isto circula diariamente um grande
número de pessoas e riquezas, pois, o mesmo também dispõe de espaço para
o lazer e comércio. Estes espaços, os mercados públicos, são considerados
sagrados para as comunidades religiosas de culto afro-brasileiro, não apenas

22
Antonio Olinto citado por Arno Vogel, Marco Antonio da Silva Mello e José Flávio Pessoa de Saudosa
memória.

25
pela história de sua edificação que remete a história do cativeiro, mas,
principalmente, pelo axé do orixá Bará.

O Fundamento do Passeio é realizado pelos batuqueiros ao final de


suas obrigações para os orixás. Conforme Corrêa, (2006) o Passeio consagra
o final da obrigação realizada pelo sacerdote ao seu orixá de cabeça e
passagens a qual também pode ser considera de Apronte23. Este Apronte
consiste entre outros no Assentamento do Orixá.

Este Passeio poderá sofrer alterações pelo Pai ou Mãe-de santo


aos lugares visitados, conforme a necessidade do Pai ou da Mãe-de-santo. Os
locais geralmente são a Praia, Igreja, casa de outro Pai ou Mãe-de-santo e no
Mercado Público, se houver na cidade. No caso de inexistência ou dificuldades
de acesso ao mercado público, o ritual poderá ser realizado em outro lugar de
comércio, como, por exemplo, uma feira, desde que apresente um grande fluxo
de pessoas, entrando e saindo, ao realizar suas compras.

Para os iniciados e prontos na religião, a chegada ao Mercado,


geralmente na abertura do ritual do Passeio, propicia reverenciar a tradição
ancestral e o orixá Bara. Esta reverencia ao Bará procede através do
Fundamento do jogo das 7(sete) moedas, através desta troca os Batuqueiros
pedem ao Orixá pela abertura dos caminhos:
Quando um religioso realiza o seu “passeio” no mercado público,
pede ao Bará boa sorte em suas caminhadas. Não é à toa que é
justamente esta a tradição escolhida para sustentar a identidade afro-
religiosa como patrimônio cultural que deve ser reconhecido e
valorizado. (MARQUES, 2013)

Quando realizei o meu primeiro “passeio” na década de 90, minha


Yalorixá na época Joana da Yansã, na noite anterior lembrou-me se eu tinha
moedas. Fiquei pensando para que moedas? Então cheguei perto da sala onde
ela se encontrava e perguntei Mãe para que a senhora pediu as moedas? Ela
me respondeu meu filho estas moedas são para jogar e ofertar o Bará do
Mercado.

Então, ela sentou pegou o seu chimarrão e começou a falar sobre o


Passeio explicando cada lugar que iríamos pela parte da manhã a Igreja, Praia
na casa do Padrinho ou madrinha quando estes já possuíam suas casas de
religião abertas e no Mercado. O Mercado foi o primeiro lugar que fomos, pois,
a Yá decidiu por causa da rota que iríamos realizar. Conforme foi dito antes,
esta ordem de visitação pode sofrer alterações de acordo com o costume ou as
intenções de outros chefes de culto.

23
Palavra que designa que o batuqueiro já possui Obrigação de 4(quatro) patas e pode ser considerado
pronto dentro dos Fundamentos das Religiões de Matriz Africana.

26
Amanheceu, fizemos a higiene diária e partimos para o “Fundamento do
Passeio”. Chegando ao centro próximo as redondezas do Mercado descemos
do carro do meu tio de santo. Ao desembarcar as pessoas pararam para nos
olhar, pois, estávamos de branco da cabeça aos pés e um grupo todo
aparamentado chama a atenção das pessoas. Ao entrar no mercado, minha Yá
fez uma chamada24 a todos os Barás para pedir licença e seguimos em direção
ao cruzeiro central e lá foram jogadas as moedas para o orixá. Neste momento,
as pessoas que ali circulavam pararam para assistir o Fundamento. Foi um
momento único para mim, pois, nunca havia saído de branco, trunfa na cabeça
e guias no pescoço para o centro da cidade. Acredito que o Passeio serve
também como uma forma de apresentar os iniciados que foi o meu caso a
sociedade em geral e a religiosa, em particular, foi acima de tudo reafirmar a
minha identidade como batuqueiro.

2.3 -Os Fundamentos.

Sou Pai-de-santo de Fundamento de dentro de


Quarto-de-santo e de cozinha,não sou Pai-de-santo
de livro nunca li livro e nem vou ler porque minha
Mãe-de-santo proibia a gente de lê, ela ensinava
um serviço e proibia a gente de escreve. O
Fundamento religioso a pessoa aprende a religião é
dentro do Quarto-de-santo,trabalhando com o Pai-
de-santo,primeiro tem que ir para a
Cozinha,prepara a comida do orixá e depois vir pra
dentro do Quarto-de-santo,a religião é transmitida
só na prática(...). (Pai Cleon de Oxalá –
Documentário TVE – Caminhos da Religiosidade-
Programa 1 – 03/06/13)

Durante minha caminhada no batuque tanto a minha primeira Yalorixá,


Joana de Yansã, como os Babalorixás, Paulo de Oxalá e Ailton de Oxum, todos
da nação de Cabinda, costumavam alertar para tudo o que ocorria dentro da
casa de religião. Entre tantos cuidados, era importante estar atento ao que
acontecia na cozinha durante o preparo das comidas dedicadas aos orixas.
Cada Orixá constitui uma particularidade e uma das formas de diferenciação
ocorre através dos axés que são ofertados a cada um dos deuses. Neste tópico

24
Ato de convocar pelo nome o orixá.

27
apresentarei o preparo do axé do Bará que, por assim dizer, precede o ritual do
Assentamento.

Destaco que os Fundamentos, tanto do quarto-de-santo como da


cozinha, variam de casa para casa, ou seja, cada nação tem as suas
particularidades, mas, dentro de uma mesma nação, cada casa também
apresenta uma “singularidade”, ou um “estilo”, quando comparado com outras
casas de religião. Como sublinha Edgar Rodrigues Barbosa Neto, em sua tese
“A Máquina do Mundo Variações sobre o Politeísmo em Coletivos Afro-
Brasileiros”:“Cada casa é um Caso”:25

O estilo ritual de cada casa é o resultado de um conjunto


complexo de cruzamentos em que tomam parte a história ritual
dos próprios chefes, a vida pessoal e social de cada um e a
agência dos seres sobrenaturais.Se cada casa é um caso é
também porque cada chefe é um chefe, cada deus é um
deus,cada lado é um lado, e também porque, de tudo isso, não
resultam seres indivisíveis, mas formas atravessadas por
forças variadas, simultaneamente diferentes e inseparáveis, e
que fazem de toda individuação ritual uma maneira singular de
compor com a multiplicidade. O que chamo de estilo é
precisamente essa singularidade, isto é, esse modo de
composição com uma matéria que é fundamentalmente força e
cuja textura é sempre heterogênea..O chefe de cada casa é
um artesão politeísta.(BARBOSA NETO,2012,p.23)

Este processo de individuação ritual principia na cozinha da casa de


religião durante o preparo dos alimentos para os Orixas, Presente em todos os
rituais voltados para o Bará na Cabinda, preparado do mesmo modo,
escolhidos os melhores grãos, o milho é colocado numa panela de ferro
aquecida até torrar. O movimento é feito em sentido horário, convoca-se o orixá
para que este de o pronto. O milho deve ficar levemente torrado, semelhante
ao milho pipoca estalado.

Logo segue o preparo do Opeté, alimento feito com batatas inglesas


descascadas e cozido. Após cozidas, as batatas são amassadas até formar
uma massa com a qual é confeccionado um bolo em formato triangular. O

25
Esta frase já foi utilizada na tese de doutorado do professor Dr. Edgar Rodrigues Barbosa Neto. A
mesma usada do autor Eduardo Viveiros de Castro em 1986.

28
importante deste preparo é que a massa de batatas deve estar quente para
obter o ligamento para formar o bolo.

Na sequência são assadas batatas inglesas miúdas (pequenas), em


número de 7 (sete), que é a conta deste orixá. Estas devem ser escolhidas,
pois, não podem estar machucadas ou podres. As mesmas são lavadas e
colocadas em uma forma para assar. Quando começam a murchar e a
tonalidade da pele fica escura é sinal de que estão prontas. Por fim, são
estalados os milhos de pipoca, representante da fartura e da clareza que
almejamos obter em nossos caminhos. O milho de pipoca está presente na
maioria dos axés. Como a pipoca, que ao estalar se transforma aumentando
sua quantidade, espera-se multiplicar os axés. Pronto o axé do Bará, todos os
ingredientes são colocados numa vasilha de barro chamada de alguidar. Na
preparação da “frente”26 postos obedecem a uma ordem especifica: primeiro
uma camada de milho torrado, após uma de pipoca até chegar ao topo da
vasilha, depois são colocadas as batatas miúdas assadas em sentido horário e,
por último, o bolo de batata inglesa, o opeté que é regado com azeite de
dendê, uma gota em cada batata e também no opeté. Destaquei o preparo do
axé do Bará para demonstrar que, nas casas de religião, não se aprende
sozinho, tampouco através de um conhecimento livresco, mas a partir da
prática e dos ensinamentos passados pelos babalorixás ao longo de anos de
religião. Na Cabinda, como em outras nações, aprende-se no dia-a-dia através
dos cuidados cotidianos exigidos pela prática.

Os Fundamentos são importantíssimos, para nós religiosos, pois, sem


eles não há como fazer religião, ou melhor, ela não vai existir. Tudo depende
do preparo dos alimentos a partir dos quais é realizado o que chamamos de
“serviço”. Tanto aqueles que realizamos para nós mesmos como aquilo que é
feito para outras pessoas (clientes). Há Babolorixás e Yalorixás que chamam
os Fundamentos de “segredos”, pois muitos transmitem e ensinam os seus
filhos e os alertam para o futuro que estes mesmos devem permanecer
guardados nas suas lembranças e só devem ser repassados aos filhos de

26
Axé (comida), para o orixá.

29
confiança, pois, hoje são filhos amanhã podem ser “inimigos”. Assim, recordo a
fala do Pai Cleon de Oxalá:

Eu sempre digo para os meus filhos, vocês aproveitem o máximo que


vocês puderem, porque os Fundamentos estão indo embora, cada
um antigo que vai leva um pouco. Os antigos diziam que a gente não
se dá todos os Fundamentos de uma vez só, sempre fica um
pouquinho para o Pai-de-santo (...). (Pai Cleon de Oxalá- Entrevista
publicada em 8 de jul de 2016/Documentário De Babalaô para
Babalaô.)

Todos os meus Pais e a minha primeira Mãe - de- santos já faleceram e,


cada um deles, levou consigo algum Fundamento que não foi repassado para
mim e ou para meus irmãos de santo. Embora acredite que um importante
cabedal deste saber tenha sido passado para mim, isto graças à confiança que
se ganha do Pai ou da Mãe–de–santo durante os anos de convívio. Foram
dias, noites e madrugas, não importava se frio ou calor, as ocasiões em que
sucederam os ensinamentos. Cada um dos chefes de casa tinha a sua forma
particular de transmitir os ensinamentos da Cabinda.

Mãe Joana da Iansã27 adorava


conversar sobre os fundamentos pela manhã
bem cedo, preparava o seu chimarrão o qual
não podia faltar e aguardava eu chegar para
fazer os “carretos” (compra de materiais),
após, começava os preparos dos axés do

Figura 2 Arquivo pessoal dia. Neste caso eram os serviços para as


pessoas que a procuravam no dia anterior
através de consultas com a sua preta velha que se chamava Tia Maria do Balaio ou dos
jogos de Cartas e Búzios.

27
Seu apronte na Nação se deu através de varias naçõesdentro do culto afro-brasileiro.

30
Pai Paulo de Oxalá de nação Cabinda,seu apronte foi realizado pelo Pai
João Carlos28 de Oxalá. Com ele aprendi os Fundamentos da nação cabinda.
Todo o dia aprendia um Fundamento diferente dentro do rito. Sobre o
Fundamento do Passeio e o Assentamento do Bará ele nunca chegou a
comentar sobre a existência do Assentamento e sim sobre o Passeio o qual é
realizado no cruzeiro central do Mercado Público.

Por último, Pai Ailton de Oxum filho


de santo do Pai João Carlos de Oxalá
vindo da mesma bacia29 do Pai Cleon de
Oxalá, o qual está vivo até os dias de hoje,
é o mais antigo da Bacia da Cabinda no
Rio Grande do Sul, o mesmo já tem mais
de 50 (cinqüenta), anos de feitura do seu
orixá. Na sua casa continuei os
ensinamentos que iniciei na casa de Pai
Paulo e Yá Joana. Foi nesta casa que em
2009 fui ordenado a condição de Babalorixá, após a obrigação de
Assentamento de meu orumalé (África dos orixás).

Neste texto procurei descrever, de forma sucinta, como adquiri os


Fundamentos ao longo de anos de batuque, as casas pelas quais passei e os
sacerdotes que tive. Também procurei destacar a importância da tradição oral,
forma de comunicação que permeia a religião enquanto modo de conviver com
os pais e mães de santo, mas também com os orixás e os ancestrais, bem
como o respeito que tenho por todos, inclusive por aqueles que não estão mais
entre nós.

28
Considerado uns dos primeiros a trazer a Nação de Cabinda, para a cidade de Pelotas(RS).
29
Refere-se a mesma Nação de culto afro-brasileiro.

31
2.4- O Assentamento.

Para se assentar um orixá é preciso sabedoria advinda dos anos os


quais se passam junto com o Pai ou Mãe-de-Santo, ou seja, são os
Fundamentos os quais, como foi exposto anteriormente, não são adquiridos do
dia para noite, mas ao longo de anos de aprendizado. O Assentamento é um
dos Fundamentos mais importantes das religiões de culto afro-brasileiro
independente de nação ou casa de religião. Não existe Assentamento sem
Fundamento.

O Assentamento é realizado, para o orixá através de uma obrigação de


quatro patas, isto implica na sacralização de animais de médio porte, cabritos
(as), ovelhas, carneiros entre outros. Através do axoró (sangue) o orixá é ligado
a uma pedra, que conhecemos pelo nome de ocutá, encontrada na natureza
próxima a rios ou afins. Esta pedra tem que ter na sua formação a
característica do orixá, que vai ser Assentado, por exemplo, no caso do orixá
Bará esta pedra terá ser de formato triangular.

O ritual do Assentamento de orixá, só pode ser realizado, por um


sacerdote religioso devidamente pronto com toda a sua África senta30, ou seja,
com todo o panteão de orixás, que, como dito antes, são 12 (doze) no caso da
Cabinda, assentados com o seu axé de faca e búzios. Só depois deste ritual
um sacerdote pode der considerado Pai ou Mãe – de santo.

A faca tem uma função especial dentro do culto das religiões de matriz
africana, pois, sem ela não há culto. O obé (faca) é do orixá Ogum senhor da
guerra e da forja, dono do corte e é através deste que se dá o assentamento
dos orixás e o preparo de novos sacerdotes. Assim, como o orixá Bará, o
senhor da chave e dos caminhos, ao qual pedimos a licença para iniciar

30
Termo utilizado pelo Pai Cleon de Oxalá para designar que os doze orixás da Nação Cabinda já foram
assentados conforme a tradição religiosa o qual utilizei também para me referir ao Orumalé.

32
qualquer rito, pedimos ao orixá Ogum o seu Agô (licença), para sacralizar
animais quando necessário.

De acordo com os praticantes de cultos afro-brasileiros mais antigos da


cidade de Pelotas, o Assentamento do orixá Bará, nunca havia sido objeto de
discussão pela comunidade de culto afro-brasileiro. No entanto, acreditava-se
que o orixá Bará estava assentado no cruzeiro central do Mercado Central,
onde, inclusive eu realizei inúmeros “passeios”, ofertando moedas ao orixá e
almejando prosperidade. Para minha surpresa. O Assentamento, segundo Mãe
Gisa de Oxalá, não se encontra naquele local. Assim:

A sacralização e a obrigação do Bará do Mercado em Pelotas


já eram uma coisa estudada minha há muitos e muitos anos eu
ia falar com meu Pai (Cleon de Oxalá) e o meu Pai dizia: -
Dona Gisa porque a senhora não fez ainda e ai comecei a dá
uma pesquisa na história de Pelotas e não existia a Obrigação
do Bará do Mercado. (Mãe Gisa de Oxalá, Pelotas, 09/07/16).

A descoberta de que não existia o Bará sento no cruzeiro central do


Mercado, mas sim uma caixa d água ali instalada, que, mesmo o Bará não
estando assentado neste local, o que realmenteimporta é o Fundamento, a
forma de como cultuamos o orixá. Hoje ainda há seguidores doscultos de
religião de matriz africana pelotense que realizam o Fundamento do Passeio
dirigindo-se até este cruzeiro para jogar moedas. Contudo, o fato de haver uma
caixa d’água no cruzeiro destinado ao “passeio” não deixa de criar uma
incongruência com os fundamentos da religião à medida que o Bará é um orixá
do fogo e não da água:

O que existe no cruzeiro central do Mercado central é uma caixa d água e o


orixá Bará não combina com água até vieram pergunta para nós se queríamos
que ela fosse removida, mas, seria muita pretensão da nossa parte querer
remover ela dali, pois, ela é muito antiga(...) os batuqueiros que atiram as
moedas para saudar o Bará desconhecem ainda o seu assentamento o qual foi
realizado em 2012 o que eles realizam é o Fundamento do Passeio. (Mãe Gisa
de Oxalá – Entrevista realiza 09/07/16)

33
(Caixa d´agua do cruzeiro central doMercado Central de Pelotas - Arquivo Pessoal – 08/09/16)

O Assentamento do Orixá Bará no Mercado Central da cidade de


Pelotas foi realizado no dia 04 de junho de 2012, conforme a publicação do
Jornal Diário da Manhã. Julgo aqui, que não é caráter deste trabalho afirmar se
antes deste período havia o Assentamento do orixá, pois, não há indícios deste
Assentamento nem por fonte e muito menos relato oral.

O lugar no interior do Mercado onde está assentado o orixá ainda é


desconhecido pela comunidade de Pelotas. A visibilidade dirigida ao ritual foi
somente negativa pela à sacralização dos animais ofertados ao orixá. Portanto,
o Assentamento e o seu local,sãoaindaemboa medida, ignorados pelo público
e mesmo pelacomunidade religiosa afro-pelotense. O que se sabe é que, após
a cerimônia, existi um Bará sento no do Mercado Central de Pelotas.
Conforme:

Sim! Agora eles têm um Bará para atirar moedas que não é caixa
d´agua, pois o Mercado nosso tem seis cruzeiros e ele tá assentado
num destes cruzeiros, quando a gente entra no Mercado para saudar
o Bará passa pelo cruzeiro do centro e sai nas quatro portas, numa
das quatro portas está assentado o Bará da cidade de Pelotas e,
agora, tem Bará lá! (Pai Paulo de Xangô – Entrevista realizada
09/07/16)

Este Assentamento está no Mercado no portão da Banca de Peixe,


pela Rua: Andrades dentro do Mercado e não na rua. (Mãe Gisa de
Oxalá – Entrevista realizada 09/07/16)

Após, saber o local do assentamento do orixá fui até o cruzeiro e não


encontrei qualquer reverencia ao Bará,diferentemente do assentamento do
orixá em Porto Alegre, onde o cruzeiro em que está o assentamento é notável
pelas tijoletas decoradas com seu símbolo que é a chave.

34
Figura 3: Cruzeiro
ruzeiro do Mercado, em frente a Andrades Neves(Arquivo Pessoal 14/07/16).

Como o Bará não responde em lugares em que há presença de Água,


foi necessário fazer a obrigação do Assentamento do Orixá Bará no cruzeiro
junto as bancas de peixe. “O movimento de pessoas de um lugar para outro
comprando e vendendo é o Bará”. (Mãe Gisa de Oxalá – 09/07/16).Na
Na imagem
acima mostra que não há alguma placa
placa ou algum tipo de referência que
permita a identificação do Assentamento para a comunidade em geral e,
principalmente, a religiosa para a realização dos seus cultos.

Por fim, visando fornece uma melhor compreensão entre as noções de


Fundamento e o Assentamento,
amento, convém lembrar que O Fundamento é
imaterial, ou seja, ele é o ensinamento o qual é transmitido pela oralidade dos
mais velhos para os novos e caracteriza o saber fazer, preparar é a prática do
dia-dia.
dia. O Assentamento é físico, ou seja, é o ocutá (pedra),
(pedra), o aço, as
ferramentas as quais fazem parte da característica do orixá. Contudo, alerto
para o fato de que não há Assentamento sem Fundamento, é preciso saber
fazer, saber preparar um Assentamento de orixá, pois, uma má preparação
pode trazer sérios problemas.

35
Conclusão

A pesquisa teve por finalidade discutir a polemica que marcou o


Assentamento do orixá Bará no Mercado Central da cidade de Pelotas RS.
Assim, não foi pretensão julgar os envolvidos tendo em vista, que os mesmos
já foram julgados e absolvidos da denúncia que foram submetidos com os
batuqueiros obtendo êxito nas suas argumentações frente ao Ministério
Público. Neste sentido, os esclarecimentos prestados junto ao MP tornaram-se
referência para outros casos de intolerância religiosa.

O ritual, como foi apresentado pela imprensa tratou de uma obrigação de


Assentamento do orixá o qual ainda não havia sido assentado por nenhum Pai
ou Mãe de santo desta cidade. Por esta razão gerou, por parte da comunidade
religiosa de culto afro-brasileiro um desconforto, pois, através da entrevista
realizada com Mãe Gisa de Oxalá, podemos perceber claramente esta disputa
entre os pares religiosos. Esta discussão ficará para um próximo trabalho.
Importa, neste momento, afirmar que, a partir de 2012, há um Barásento no
Mercado.

O Assentamento permite aos batuqueiros prestigiar, ao final de suas


obrigações, através do Fundamento do Passeio, o orixá Bará, a quem é
ofertado moedas, lançadas no cruzeiro do Mercado. O presente trabalho
chamou atenção para a existência de uma contrariedade entre o antigo lugar
de culto, o cruzeiro central do prédio, onde encontra-se uma caixa d água, em
relação ao culto do Bará. Em tese este orixá não poderia ser assentado num
sítio junto a água. Todavia, caberá a comunidade religiosa definir-se pela
continuidade ou mudança do local, cruzeiro, destinado ao culto. Casa
comunidade, casa de religião fará sua opção em função de seus “lados”.

A contribuição dos Pais de Santo – Mãe Gisa e Paulo de Xangô – foi,


além de ter enfrentado uma situação de intolerância estabelecendo um
patamar positivo de entendimento face os cultos de matriz africana, também
definir com mais exatidão o local destinado ao culto do Bará do Mercado.

Por fim, a descrição sobre o ritual oferece ao leitor, notadamente


aquelas pessoas que não são membros da cultos afro-brasileiros, uma versão
mais próxima desta experiência religiosa. Assim, neste trabalho busquei
ampliar a discussão sobre a temática objetivando alinhavar um campo de
interlocução e sistematizar conhecimentos de diferentesnaturezas visando a
construção de referências que me permitam avançar nos estudos sobre as
religiões de matriz africanas, de forma geral, e da tradição cabinda de modo
particular.

36
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