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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar o uso da internet pelo Núcleo Mata
Verde- Templo de Umbanda. O método de pesquisa foi bibliográfico, seguido da
análise das publicações apresentadas no site, no blog e da Web TV Sarava
Umbanda, organizado pelo Núcleo Mata Verde. A partir disso foi constatado que a
internet constitui em uma ferramenta, onde o espaço virtual corresponde aos
enfrentamentos, a busca pela identidade dos grupos sociais. Assim o virtual, não
pode ser percebido como algo dissociado do real, mas construção com uma
materialidade social. No ambiente virtual são estabelecidas novas formas de
interação e mediação social. Isso implica na maneira como são percebidas as
relações de poder, as relações políticas e simbólicas, as quais todos os sujeitos
devem ser percebidos como autores e não apenas como subordinados.

Palavras Chaves: Umbanda. Internet. Virtual. Realidade. Interação.


ABSTRACT

This study aims to analyze the internet use by Núcleo Mata Verde ± Templo de
Umbanda. The bibliographic research method was followed by the analysis
presented in the publications website, blog and web TV SaravaUmbanda, organized
by the Núcleo Mata Verde- Templo de Umbanda. From this it was found that the
internet is a tool where the virtual meets the clashes, the search for the identity of the
social groups. Thus the virtual, can not be perceived as something separate from the
actual construction but with a social materiality. In the virtual environment are
established new forms of social interaction and mediation. This implies in the way
they are perceived power relations, political relations and symbolic, which all subjects
should be perceived not only as perpetrators and as subordinates.

Keywords: Umbanda. Internet.Virtual.Reality. Interaction

]
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 05
2 O VIRTUAL COMO FORMA DE RESIGNIFICAÇÃO SOCIAL..................... 07
2.1 FORMAS DE INTERAÇÃO SOCIAL ............................................................. 08
2.2 A SOCIEDADE EM REDE E SUAS RELAÇÕES DE PODER....................... 12
2.2.1 Formas de Poder.......................................................................................... 15
2.2.2 A Comunicação e as Formas de Poder...................................................... 18
2.2.3 A internet como uma ferramenta que constitui novos significados e
formas de interação..................................................................................... 20
3 INTERNET E A SOCIABILIDADE ± UMA LEITURA ENTRE OS
ESPAÇOS DO VIRTUAL E DO REAL.......................................................... 22
3.1. COMUNIDADES VIRTUAIS ......................................................................... 23
3.1.1 A relação entre o virtual e o real ............................................................... 25
3.2. A ECONOMIA EM UMA SOCIEDADE EM REDE......................................... 25
3.2.1 Economia e trabalho em uma sociedade em rede.................................... 27
3.2 A INTERNET COMO PALCO DOS ENFRETAMENTOS E INQUITAÇÕES
DOS SUJEITOS SOCIAIS.............................................................................. 28
3.3 O CONCIETO DE MÍDIA ALTERNATIVA...................................................... 30
4 A UMBANDA E OS ENFRENTAMENTOS COM OUTRAS RELIGIÕES..... 32
4.1 A INTERNET E AS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS ................................. 34
4.2 O USO ESTRATÉGICO DA REDE PELO NÚCLEO DE ESTUDOS
ESPIRITUAIS MATA VERDE± TEMPLO DE UMBANDA.............................. 35
4.2.1 O site do Núcleo Mata Verde ± Templo de Umbanda................................ 36
4.2.2 Web TV Sarava Umbanda............................................................................ 36
4.3.3 Blog do Núcleo Mata Verde......................................................................... 37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 38
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 4
1 INTRODUÇÃO

A temática sobre o uso da internet como um instrumento estratégico do


Núcleo Mata Verde - Tempo de Umbanda é instigante na medida em que
observamos que essa organização social constitui em um segmento religioso
construído pelas diversidades existentes em nosso país. Visto que o Núcleo
representa uma organização social de praticantes da Umbanda.
Ao falarmos sobre a própria Umbanda nos obrigamos a considerar toda a
historicidade brasileira. Dado que estamos tratando de um segmento religioso que
foi constituído com elementos da cultura indígena, da cultura africana (cuja
ramificação, também, encontramos no candomblé), do espiritismo Francês de Alan
Kardec e do próprio catolicismo oriundos dos colonizadores.
Além desses fatores históricos na constituição da umbanda, que por muito
tempo ficou a margem da sociedade brasileira, por vezes considerada como uma
forma religiosa grotesca ou própria de atividades satânicas.
Encontramos na sociedade hodierna a utilização por de vários grupos
umbandistas da internet. Isso é interessante na medida em que consideramos a
existência de uma organização nacional denominada de rede umbandista
(http://www.rbu.com.br), onde várias linhas e diferentes grupos de umbanda
discutem sobre a doutrina e suas crenças.
O seguinte trabalho busca analisar o uso estratégico da internet pelo Núcleo
Mata-verde templo de Umbanda, que detém um site, um blog e uma Web TV.
Através dessas ferramentas o grupo divulga suas atividades e se comunica com
outros seguidores da Umbanda.
O desenvolvimento da pesquisa segue uma metodologia bibliográfica para em
seguida fazer a análise do site. Dessa forma, a pesquisa tem um caráter teórico,
para análise de caso, ou seja, o Núcleo Mata Verde- Templo de Umbanda, com
menor enfoque na pesquisa empírica.
A pesquisa bibliográfica tem grande importância na medida em que possibilita
o entendimento das várias representações sociais da atualidade. Dado que existe
uma enorme angústia sobre os efeitos da internet e do ambiente virtual sobre as
práticas sociais dos indivíduos. Desse modo, a pesquisa bibliografia constitui em
uma das ferramentas indispensáveis para a análise do fenômeno religioso
apresentado no ambiente virtual pelo Núcleo Mata Verde.
ϲ

Embora o presente estudo evidencie mais o caráter conceitual teórico do que


o elemento empírico não devemos desconsiderar a pertinência da seguinte análise.
Conforme Lopes (1994, p. 109), a análise teórica está relacionada com a relação de
conceitos constituídos de propriedades explicativas que possuem como função
preparar e demarcar a temática e a problematização. A partir disso, a pesquisa
teórica se apresenta com uma das possibilidades para observação do fenômeno da
internet e o uso dessas por determinados grupos sociais, principalmente quando se
tem em vista o aspecto religioso e suas estratégias comunicacionais no meio virtual.
Através da análise teórica pretende-se entender como ambiente virtual torna-
se um ambiente de possibilidades comunicacionais, de estratégias que podem ser
exploradas por uma instituição ou pelos mais variados grupos sociais.
Para tanto, será realizada a discussão com alguns referências teóricos. Não
temos a pretensão de apresentar uma pesquisa com caráter quantitativo no que se
refere aos autores, o que tornaria inviável e impossível o estudo. Além disso, o
presente estudo não tem a pretensão de constituir uma discussão totalizante sobre a
temática. Ao contrário, trata-se de uma pesquisa que não vê todas as possibilidades
esgotadas.
A organização do estudo apresenta, no segundo item, a discussão sobre o
modo de como o virtual influencia nas formas de significação, nas formas de relação
de poder, nas formas de interação, de mediação e as relações de poder com a
comunicação na atualidade.
No terceiro item, são discutidos os conceitos tradicionais como o de
comunidade, as relações espaço e tempo no contexto da internet, a relação entre o
que é real e virtual, a economia e as relações de trabalho na sociedade da
informação. Por fim, há uma discussão no item sobre o conceito de mídia alternativa.
No quarto item, temos a discussão sobre as formas de manifestações
religiosas através do uso dos meios de comunicação e da internet. Nesse item serão
apresentadas algumas características do site, do blog e da TV Sarava Umbanda do
núcleo Mata Verde.
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2 VIRTUAL COMO FORMA DE RESIGNIFICAÇÃO SOCIAL

O ser humano com a sua capacidade inventiva transforma o meio e a si


mesmo. A tecnologia é o resultado da criação humana. As consequências de uma
nova tecnologia levam a humanidade a uma transformação, no modo de organizar e
ver o seu universo social e cultural. Diante disso, é interessante observar as
transformações que o surgimento da impressa gerou nas formas de organização e
interação social. Nessa perspectiva Briggs e Burke (2006) desenvolvem uma
discussão que vai de Gutenberg, ou seja, o aparecimento da pressa gráfica, à
internet.
Briggs e Burke (2006), na obra uma história social da Mídia, mencionam que
o interesse pelo estudo da comunicação já vinha dos antigos, podemos citar o
estudo dos gregos sobre a retórica e as formas e os gêneros do discurso, mas o
termo mídia ou meios de comunicação, tal como empregamos hoje, aparece no
limiar século XX.
Assim, a partir do desenvolvimento das chamadas tecnologias da informação,
o ser humano passa desenvolver novas estruturas simbólicas, novas relações, que
antes dependiam exclusivamente do aspecto físico. A partir disso, temos a abertura
para uma discussão entre o universo espacial e temporal. Visto que a distância
espacial não implica mais, necessariamente, no distanciamento temporal. Vemos a
transformação do modo de encararmos o tempo e o espaço. O virtual acaba
resinificado a nossa percepção de tempo e lugar, na medida em que viabiliza as
relações sociais entre indivíduos em locais longínquos, mas que temporalmente
estabelecem uma comunicação simultânea.(PERUZZO, 2002).
As consequências, decorrentes das tecnologias da informação, para o
universo social, são muitas, pois a internet viabiliza um conjunto de ferramentas que
agrega várias formas de mídias. Além de tornar seu conteúdo socialmente produzido
e passível de questionamento. Dessa forma, as próprias instituições sociais são
impulsionadas, pela necessidade, de adequar-se, ou melhor, são levadas a uma
transformação do seu modo de gerir, de relacionar-se com os indivíduos envolvidos.
Por conseguinte, podemos afirmar que entre efeitos decorrentes das
tecnologias da informação temos a reorganização das instituições sociais,
nasformas de interação e relação entre os indivíduos.
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2.1 FORMAS DE INTERAÇÃO SOCIAL

A sociabilidade é constituída por formas de interação, que são reestruturadas


e reinventadas conforme os meios técnicos que a humanidade dispõe. Thompson
(2011), destaca dois tipos de interação social, promovidos pelos meios de
comunicação, os quais merecem uma atenção maior diante de uma sociedade que
estabelece uma intercalação entre os indivíduos através da internet. O primeiro tipo
de interação, descrita pelo autor mencionado, é denominada de interação mediada.
A principal característica dessa forma de interação é a utilização do meio técnico
como elemento para possibilitar a interação dos indivíduos. Esse meio técnico pode
ser, por exemplo, o telefone ou a internet.
2 RXWUR WLSR GH LQWHUDomR DSUHVHQWDGD SRU 7KRPSVRQ   p D ³LQWHUDomR
TXDVH PHGLDGD´ (VVD p UHDOL]DGD DWUDYpV GD UHODomR GRs indivíduos com livros,
jornais, rádio, televisão. A sua principal característica está no fato de que o
interlocutor não tem possibilidade de contribuir na formulação do conteúdo
desenvolvido, como é o caso de um livro.
As duas formas de interação descritas por Thompson (2011) são
essencialmente diferentes da forma de interação face a face. Essa por sua vez se
caracteriza pela presença dos sujeitos no mesmo espaço e tempo. Podemos afirmar
que essa é uma das formas mais antigas do homem interagir com o seu semelhante.
Entretanto, com a capacidade de inventar, o ser humano cria, primeiramente,
a escrita, o que resultou em uma transformação social gigantesca. Por meio dessa
invenção, o homem passou a ter preocupações sobreo modo de enviar mensagens,
o que levou as formas tradicionais dos correios, a necessidade de impressão em
maior escala de livros, de jornais, ou seja, impulsionou para o desenvolvimento do
WLSRGH³LQWHUDomRTXDVHPHGLDGD´
Por sua vez, a partir da internet, o ser humano passa ter possibilidades de
acesso e ao envio de informações com maior agilidade, o que tornou viável uma
forma de interação que transcendem a relação espacial.
Outro aspecto, que merece destaque, está no fato de que esses tipos de
interação, apresentadas por Thompson (2011), podem se intercruzar, como é o caso
das emissoras de televisão e rádio. Dado que esses meios, para obter maior grau de
legitimidade social dos seus produtos, necessitam fazer uso do universo da internet,
para estabelecer uma forma de interação e confiabilidade de seus produtos e, além
ϵ


disso, a possibilidade de um feedback. Dessa forma, um produto midiático, como


uma novela, um jornal, por exemplo, serão discutidos ou percebidos pelos sujeitos
na rede social.
A modificação promovida pela rede social tem implicações no universo
comportamental social, pois a internet possibilita relações entre os interlocutores, o
que acarreta na produção de formas de interação social, de solidariedade social, de
elos sociais,onde os signos e o universo simbólico não necessitam mais da
presença espacial dos membros de um determinado grupo social, mas necessitam
do contato temporal.
Pierre Lévy(2004), ao pensar a comunicação e as consequências das
tecnologias informacionais, traz um elemento muito interessante para o debate sobre
as formas de interação e ressignificação dos sentidos; trata-se da figura metafórica
do jogo, forjada no contexto da filosofia da linguagem, principalmente com as
discussões do filósofo Wittgenstein, na obra as investigações filosóficas. Nesse
caso, torna-se pertinente essa metáfora para a análise social. Visto que ao
pensarmos uma sociedade em rede, os sujeitos envolvidos desempenham funções e
jogam de acordo com determinadas regras ou valores. Assim, os indivíduos se
relacionam através da internet e estabelecem contatos e constroem valores
culturais, estruturando suas formas simbólicas, resinificando. Para entender esse
universo social é necessário não apenas saber que existe, mas participar do jogo.
Desse modo,

O jogo da comunicação consiste em, através de mensagens, precisar,


ajustar, transformar o contexto compartilhado pelos parceiros. Ao dizer que
o sentido de uma mensagem é uma "função" do contexto, não se define
nada, já que o contexto, longe de ser um dado estável, é algo que está em
jogo, um objeto perpetuamente reconstruído e negociado. Palavras, frases,
letras, sinais ou caretas interpretam, cada um à sua maneira, a rede das
mensagens anteriores e tentam influir sobre o significado das mensagens
futuras. O sentido emerge e se constrói no contexto, é sempre local, datado,
transitório. A cada instante, um novo comentário, uma nova interpretação,
um novo desenvolvimento podem modificar o sentido que havíamos dado a
uma proposição (por exemplo) quando ela foi emitida... Se estas idéias são
de alguma forma válidas, as modelizações sistêmicas e cibernéticas da
comunicação em uma organização são no mínimo insuficientes. Elas
consistem quase sempre em designar um certo número de agentes de
emissão e recepção, e depois em traçar o percurso defluxos informacionais,
com tantos anéis de retroação quanto se desejar. (LÉVY, 2004, p. 13).
ϭϬ


Seguindo essa perspectiva do jogo, os sujeitos envolvidos na rede devem ser


percebidos como atores, como sujeitos de ação, que reconstroem os sentidos, que
não são dados, mas negociados (LÈVY 2004).
Diante disso, devemos considerar que a tecnologia possibilita que os sujeitos
estabeleçam formas de interação sem depender do arcabouço espacial-temporal e,
assim, passam a adaptar novas formas de significar e interagir com seus
semelhantes. Essa tecnologia possibilita que os sujeitos tenham novas formas de
significação para universo social, o que implica em uma modificação no modo de
agir e interagir socialmente. Desse modo, podemos observa que:

[...] os meios de comunicação estão inextricavelmente ligados às formas de


ação e interação que os indivíduos criam e das quais participam ao usar
esses meios e nada ilustra esse ponto mais claramente que as formas
múltiplas da ação e interação que foram criadas, ou expandidas e
amplificadas pela comunicação mediada pelo computador que ocorre
online. Os sites de relacionamento social são um exemplo perfeito disso: no
Facebook e em outras redes os indivíduos desenvolvem ou dão
continuidade a relacionamentos sociais com pessoas distantes, algumas
das quais eles conhecem através de contextos de interação face a face,
mas muitas das quais eles só conhecem através do site de relacionamento
social. (THOMPSON, 2011, p. 11).

Por conseguinte, tecnologias e técnicas no universo da comunicação


implicam, necessariamente, na transformação do modo dos indivíduos se
relacionarem com outros, e com isso, são estabelecidas formas simbólicas e
valorativas.
Podemos observar que a mudança proporcionada pela mediação da internet
implica sobre as formas em que são constituídos e desenvolvidos os sentimentos de
identidade de indivíduo em relação a grupo social. Essas mudanças poderãoser
relacionadas com o universo social e virtual. Visto que o ser humano, ao pensar a si
e sua relação com outro, tem como mediação o virtual.
A partir disso, ao pensar a sociedade, os indivíduos, as instituições sociais,
somos levamos a um problema clássico da sociologia, descrito, por exemplo, por
Durkheim. Trata-se da questão da natureza e intensidade dos elos sociais, ou da
maneira como a sociedade se mantém ou como é constituída.
Assim, torna-se perceptível, ao analisarmos a maior parte das sociedades
hodiernamente, o fato de que os valores e as regras possuem naturezas distintas e
menos coercitivas, como eram nas sociedades medievais. Isso não quer dizer que
tais regras sejam inexistentes ou ineficazes.
ϭϭ

Entrementes, encontramos o problema sobre o modo como os grupos sociais


produzem e constituem as suas relações sociais e, assim, a sua existência social.
Essa problemática é interessante na medida em que passamos a refletir sobre a
natureza dos relacionamentos sociais estabelecidos pelos indivíduos em uma
sociedade mediatizada pela internet. Conforme Thompson (2011, p. 11):

[...] A natureza dos relacionamentos que eles formam e as interações que têm
FRP RV YiULRV ³DPLJRV´ TXH ID]HP QR )DFHERRN H RXWURV VLWHV VHPelhantes
são moldadas pelas propriedades dos meios de comunicação que estão
usando e pelo grau de ligação que esses relacionamentos e interações
tenham com esse meio (O relacionamento que temos com um amigo que
conhecemos apenas pelo Facebook é bem diferente do que temos com um
amigo com quem também interagimos face a face nos locais compartilhados
da vida cotidiana, por exemplo). Em outras palavras, o Facebook e outras
redes de relacionamento social facilitam uma forma específica de interação
social online, criando uma teia em constante expansão de relacionamento
sociais caracterizados por graus variáveis de familiaridade e profundidade e
pelo intercâmbio de informação. (THOMPSON, 2011, p. 11).

Os relacionamentos entre os indivíduos apresentam formas distintas de


profundidade e de identificação. Observamos que os conceitos amizade ou amigos
tornam-se diferentes se considerarmos uma interação face a face ou, então, uma
interação mediada pelos sites de relacionamentos.
A variedade de sentidos e valores depende do modo como os sujeitos
envolvidos interagem, ou, como diria Pierre Lévy (2004)jogam. O fato que essas
formas estabelecem novos modos de comunicação que são desenvolvidas no
contexto social. Diante disso, não podemos analisar separadamente os meios de
comunicação dos indivíduos. Como afirma Thompson (2011, p. 10):

O argumento principal da minha teoria social da mídia é que os meios de


comunicação estão inextricavelmente ligados às formas de ação e interação
que os indivíduos criam e das quais participam ao usar esses meios e nada
ilustra esse ponto mais claramente que as formas múltiplas da ação e
interação que foram criadas, ou expandidas e amplificadas, pela
comunicação mediada pelo computador que ocorre online.

Podemos perceber que não podemos mais pensar os meios de


comunicação, como a televisão e o rádio, desconsiderado o universo da internet.
Visto que esses canais somente estabelecem um processo de identificação, na
medida em que estejam socialmente envolvidas, o que não poderá ocorrer, se não
considerarem o universo da internet e dos sites de relacionamentos.
ϭϮ


Por conseguinte, há a necessidade, no processo de gestão dos meios


tradicionais, de considerar o universo da internet como uma ferramenta de interação
e visibilidade social. Contudo, oque se apresenta como um desafio para esses meios
é que o internauta tem a necessidade de interagir e jogar de uma forma distinta do
que convencionalmente, em outros contextos históricos, estávamos habituados.
O surgimento da internet implicou no fato de que o modo de jogar das
instituições foi peremptoriamente levado ao encontro com os sujeitos envolvidos na
rede social de computadores. Por esse motivo,

O diagrama dos fluxos de informação é apenas a imagem congelada de


uma configuração decomunicação em determinado instante, sendo
geralmente uma interpretação particular desta configuração, um "lance" no
jogo da comunicação. Ora, a situação deriva perpetuamente sob oefeito das
mudanças no ambiente e de um processo ininterrupto de interpretação
coletiva dasmudanças em questão. Identidade, composição e objetivos das
organizações são, portanto,periodicamente redefinidos, o que implica uma
revisão dos captadores e das informaçõespertinentes que eles devem
recolher, assim como dos mecanismos de regulagem que orientam
asdiferentes partes da organização rumo a seus objetivos. É nesta
metamorfose paralela daorganização e de seu ambiente que se baseia o
poder instituente da comunicação; vemos que ela estámal representada
pelos diagramas funcionais dos fluxos de informação. (LÉTY, 2004, p. 13-
14)

 As formas de interação características do nosso contexto histórico levam em


direção à modificação no modo dos indivíduos estabelecerem os seus contatos
socais e, consequentemente, temos a necessidade das instituições sociais
redefinirem seu modo de gerir e interagirem, pois,do contrário, tais organizações
deixaramde ter relevância social.

2.2 A SOCIEDADE EM REDE E AS RELAÇÕES DE PODER

O conceito de jogo, apresentado anteriormente, serve como importante


elemento para a análise das estruturas sociais no contexto da era das tecnologias
da informação. A partir disso, torna-se interessante observar que os grupos
humanos, as organizações sociais são constituídas de regras e valores.
Na constituição dos valores sociais poderíamos partir da perspectiva da
sociologia clássica, como, por exemplo,a obra de Durkheim. Inicialmente,
ϭϯ


poderíamos começar pela constatação de que as formas de reprodução dos


modelos sociais começam desde a infância. Nessa perspectiva, os indivíduos são
educados para viver de acordo com certas determinações sociais. Dado que o social
implica na constituição e obediência de certasregras, o que sugere os meios de
reprodução e de legitimação.
Por conseguinte,somos desafiados a compreender como são sustentados e
justificados os princípios reguladores da sociedade. Contudo, a construção ou
determinação das normas sociais, não envolve apenas criadores, na qualidade de
legisladores, ativos e subjugados passivos.
Os grupos sociais criam e recriam mecanismos para justificar as relações de
poder e tornar legítimos as diferenciações e as determinações. Nesse universo,
podemos observar os conflitos entre gerações, o que constitui o rompimento e a
construção de novas referências sociais.
Por sua vez, ao consideramos o universo do poder, não podemos ignorar a
relação entre legisladores (aqueles que buscam submeter, subjugar outros aos seus
interesses) e subjugados (que estão submetidos a vontade e interesses de outros),
faz-se necessário compreendermos na ótica metafórica do jogo, ou seja, o jogo do
poder ou do universo da política.
No jogo, todas as peças desempenham uma função importante. Caso o
jogador não observar detalhadamente cada movimento, por mais insignificante que
seja, poderá perder. No universo das relações de poder todos estão envolvidos e
não podem descurar das implicações dos seus atos, pois fazem parte do
emaranhado do poder, talvez ignorem, mas estão envolvidos na qualidade de
sujeitos. Se subjugados por ignorância ou pela força, os indivíduos têm força ativa,
por mais contraditório que pareça, no processo de sujeição. A compreensão
consciente desse processo é um grande desafio. Assim, autores, atores e a plateia,
no universo da política constituem uma unidade em que de alguma forma todos são
autores e atores, ou seja, a plateia desaparece e surge o sujeito político (HOBBES,
1979).
Nessa metáfora do jogo, podemos observar que os sujeitos são movidos por
fins e objetivos bem variados, que de acordo com os ensejos são conduzidos pelas
oportunidades e inclinações EHP YDULDGDV 'HVWDUWH ³(VWHV FRQMXQWRV GH
FLUFXQVWkQFLDV SRGHP VHU FRQFHLWXDGRV SRU FDPSRV GH LQWHUDomR´ 7+203621
ϭϰ


2011,p. 37). Em tais campos os sujeitos podem ocupar diferentes posições,


dependendo das possibilidades e recursos desenvolvidos para esses.
O espaço das disputas, dos interesses e das oportunidades em que os
indivíduos são atores, autores, é o das instituições sociais, dos grupos sociais.
Nessas disputas entra a questão do espaço, o status que um indivíduo ocupa em um
determinado grupo.
Deste modo, existe dentro das instituições sociais, uma tensão natural entre
os interesses dos indivíduos e do grupo. Isso ocorre dada a disputa pelo espaço
dentro do campo de interação. Todavia, as instituições sociais tendem e tem a
necessidade de manter determinadas regras. Isso pelo motivo que:

[...] As instituições sociais podem ser vistas como determinados conjuntos


de regras, recursos e relações com certo grau de durabilidade no tempo e
alguma extensão no espaço, e que se mantêm unidas com o propósito de
alcançar alguns objetivos globais. As instituições definem a configuração
dos campos de interação preexistentes e, ao mesmo tempo, criam novas
posições dentro deles, bem como novos conjuntos de trajetórias de vida
para os indivíduos que os ocupam. (THOMPSON, 2011, p. 37).

A instituição social sobrevive enquanto que os indivíduos que fazem parte,


mesmo que movidos pelos seus interesses pessoais, estejam impulsionados pelos
objetivos da instituição social.
Entrementes, a existência de disputa, entre os sujeitos de um determinado
grupo social é comum. Dado que a posição que os indivíduos ocupam está ligada ao
poder que desempenham. Nessa perspectiva a disputa torna-se algo presente nas
instituições. Diante disso, segue a questão sobre como podemos definir o poder, que
constitui em uma forma de impor a vontade de um sobre outros. Thompson (2011,
p.39) define poder da seguinte forma:

[...] No sentido mais geral, poder é a capacidade de agir para alcançar os


próprios objetivos ou interesses, a capacidade de intervir no curso dos
acontecimentos e suas consequências. No exercício do poder os indivíduos
empregam os recursos que lhe são disponíveis; recursos são os meios que
lhe possibilitam alcançar efetivamente seus objetivos e interesses. Ao
acumular recursos dos mais diversos tipos, os indivíduos podem controlar
economias pessoais como a finalidade de comprar uma propriedade. Há
recursos controlados pessoalmente, e há também recursos acumulados
dentro de organizações institucionais, que são bases importantes para o
exercício do poder. Indivíduos que ocupam posições dominantes dentro de
grandes instituições podem dispor de vastos recursos que os tornam
capazes de tomar decisões e perseguir objetivos que têm consequências de
longo alcance.
ϭϱ


O poder se constitui em uma forma de ação que está ligada com a


possibilidade de alcançar objetivos e interesses. Em determinadas circunstâncias ele
pode ser o resultado do empenho individual ou de um determinado grupo para obter
recursos com o objetivo de adquirir a relevância e as condições para alcançar os fins
almejados.
A partir dessa definição, é possível observar que o poder trata-se de um
fenômeno social presente nas mais variadas formas de relação e interação social,
ou seja, não está limitado a disputa por cargos públicos, que deve ser encarada
como uma forma específica do exercício do poder.
Portanto, as relações de poder estão presentes nas formas de ações que os
indivíduos exercem socialmente, desde ações comuns como no interior de uma
fábrica, na escola, na comunidade, no encontro entre indivíduos na rua. Isso sugere
que os indivíduos através das relações de poder ocupam posições sociais nos
campos de interação (THOMPSON, 2011).

2.2.1 Formas de Poder

Na história da sociologia e da ciência política encontramos vários autores que


fazem a distinção entre várias formas de poder. Essa distinção é pertinente diante
da discussão sobre formação das instituições sociais, bem como a relação com os
meios de comunicação.
Thompson (2011, p. 39) faz a distinção de quatro tipos de poder: econômico,
político, coercitivo e simbólico. Essa distinção torna-se importante para analisar os
diferentes tipos de atividades e o forma de como os indivíduos exercem o poder na
sociedade. O estabelecimento de determinadas categorias de poder viabilizam a
análise de um fenômeno que se apresenta de modo variado e complexo.
O poder econômico é resultante da atividade humana produtiva, que é
caracterizada pelo modo como o ser humano garante a subsistência. Assim, a
atividade econômica está ligada ao uso de instrumentos para produção material, de
bens de consumo e capital financeiro. Esses recursos poderão ser acumulados por
um determinado indivíduo ou por uma organização. Isso viabiliza o domínio de um
determinado setor, segmento da sociedade (THOMPSON, 2011, p.40).
O poder político é caracterizado através da forma de organização, pela
determinação de normas que fixam padrões de interação na sociedade. É
ϭϲ

importante destacar que todas as organizações necessitam de regras que


possibilitam a sobrevivência da mesma.
O Estado compõe uma forma de organização política que regulamenta os
padrões de uma determinada sociedade. Esses padrões e regras são constituídos
no universo das relações sociais, com enfrentamentos e disputas. Dessa forma, o
Estado constitui em uma forma de organização que pressupõe relações de poder e
autoridade.
A construção das normas, dos padrões tem uma historicidade que remonta a
antiguidade clássica, pois o que está em jogo são as regras que conduziram o modo
de agir dos indivíduos na sociedade e a sobrevivência da mesma. No poder político
existe o desafio do estado deter a autoridade política para promulgação das regras.
Conforme Thompson (2011, p. 41):

Contudo, como Max Weber entre outros observou, a capacidade do estado


de exercer a autoridade geralmente depende de sua capacidade de exercer
duas formas relacionadas, mas distintas de poder, que irei descrever como
poder coercitivo e poder simbólico. Fundamentalmente o estado pode
recorrer a várias formas de coerção ± isto é, ao uso real ou sob ameaça da
força física ± para garantir o exercício do poder político, tanto com relação
às ameaças ou invasões externas quanto com relação á agitação ou
desobediência interna. A autoridade do estado pode também se apoiar na
difusão de formas simbólicas que procuram cultivar e sustentar a crença na
legitimidade do poder político. Mas até que ponto as formas simbólicas
conseguem criar e sustentar a crença na legitimidade do poder? Até que
ponto tais crenças são realente compartilhadas pelos vários grupos e
membros de uma população vassala, e até que ponto a partilha de tais
crenças é necessária para o estável e efetivo exercício do poder político?
Não há respostas simples e completas para estas questões, e é a incerteza
(entre outras coisas) que torna o uso político do poder simbólico uma
aventura arriscada e sempre aberta.

A relação entre o poder político e simbólico demostra ser muito estreita. As


formas de poder estão interligadas. Embora Thompson tenha feito uma distinção
para análise entre quatro tipos ou formas de poder, isso não quer dizer que essas
formas não possam se entrecruzar e correlacionar uma com as outras ao mesmo
tempo. Visto que os indivíduos socialmente estão jogando e as estratégias estão
ligadas ao universo político, simbólico, coercitivo e econômico.
O poder coercitivo é definido pelo uso ou a simples ameaça da força física
para impor a um oponente a vontade ou interesse. O uso do poder coercitivo pode
variar de intensidade e forma. Conforme Thompson (2011, p. 41):
ϭϳ


[...] O poder coercitivo implica no uso, ou ameaça física para subjugar ou


conquistar um oponente. A força física se aplica de muitas maneiras, com
diferentes gruas de intensidade e diferentes resultados. Mas há uma
fundamental ligação entre a coerção e a lesão física ou a morte: o uso da
força física comporta o perigo de mutilar ou destruir o oponente. A força
física não consiste simplesmente na força bruta humana. Ela pode ser
aumentada pelo uso de armas e equipamentos, pelo treinamento e pelas
táticas, pela inteligência e pelo planejamento, etc. Historicamente as
instituições mais importantes acumuladoras de recostos deste tipo são as
instituições militares, e a forma mais importante de poder coercitivo é o o
poder militar (grifo do autor).

Durante a história, o poder coercitivo militar desempenhou duas funções


principais: expansão e proteção de território e represou o controle interno. Assim,
podemos observar que o poder coercitivo tem uma função que está ligada,
principalmente, com os grupos ou grupo que desempenha uma função de controle
em um determinado Estado ou nação (THOMPSON. 2011).
O poder simbólico, que também pode ser descrito como poder cultural,
desempenha uma indispensável função na vida social. Através dos elementos
simbólicos são repassados os valores, os padrões de um determinado grupo social.
Sobre isso, os indivíduos são envolvidos com atividades de expressão que
representam uns para os outros as informações indispensáveis para a constituição
dos elos sociais. Nessa perspectiva Thompson (2011, p. 42) afirma que:

[...] Os indivíduos se ocupam constantemente com as atividades de


expressão de si mesmos em formas simbólicas ou de interpretação das
expressões usadas pelos outros; eles são continuamente envolvidos na
comunicação uns com os outros e na troca de informações de conteúdo
simbólico (que Bourdieu chama de capital cultural); e o prestígio acumulado,
o reconhecimento e o respeito tributados a alguns produtores ou instituições
(capital simbólico). Na produção de formas simbólicas, os indivíduos se
servem destas e de outras fontes para realizar ações que possam intervir no
curso dos acontecimentos com consequências as mais diversas.

A atividade simbólica está presente no interior da vida social. Através dessas


formas demos a percepção do certo, do errado, do belo, do feio. Podemos observar
com exemplos as formas simbólicas, as expressões que as instituições religiosas se
utilizaram durante a história para difundir uma forma de vida dos sujeitos, que
passavam a buscar a salvação. Para tanto, passa ter valor do elemento espiritual
VREUHRPDWHULDORXVHMDRVLQGLYtGXRVSDVVDPDYDORUL]DUPDLVD³VD~GH´GDDOPD
do que o próprio corpo, ou os bens terrenos, que passam ser administrados pela
igreja.
ϭϴ


Em contrapartida, podemos citar como exemplo, a necessidade da burguesia


nascente de se apropriar dos elementos simbólicos para justificar socialmente as
suas ações. Visto que temos por um lado a visão medieval alicerçada sobre o modo
de viver pautada em torno da igreja, que condenava a usura.
Para justificar e ter sobrevivência social, a burguesia nascente passa ter a
necessidade de absorver uma nova ética, novos valores, novas formas simbólicas.
Para tanto, a forma protestante de João Calvino, proporcionou, em um primeiro
momento, a possibilidade para o burguês acumular sem se sentir como um pecador,
mas alguém privilegiado com a graça divina, ou seja, buscar comercializar e lucrar
sem ser visto como um pecador.
Dessa forma,é possível observar que as transformações históricas não
ocorreram apenas pela força, pelo poder coercitivo de uma nação sobre as outras,
ou das estratégias políticas. As transformações perpassam pelo universo simbólico.
As quatro formas de poder descritas por Thompson não devem ser vistas de forma
dissociadas, ao contrário, como formas interligadas.

2.2.2 A Comunicação e as Formas de poder

A comunicação é objeto de discussão desde a antiguidade até os nossos


dias. Os gregos utilizavam a figura do deus Hermes como o mensageiro dos deuses.
Esse ser mitológico era visto como detentor de muitas habilidades capazes de
convencer os humanos e os outros deuses, capaz de conduzir o ser humano a
Hades (o deus dos mortos) ou ao Olimpo (o templo dos deuses).
Na filosofia clássica, a comunicação é objeto que ganha caráter
epistemológico, constituindo em problemas sobre a viabilidade da constituição de
técnicas que levasse o ser humano ao conhecimento. Disso resultou a preocupação
de Aristóteles em distinguir as diferentes formas de discurso para diferentes
finalidades.
Por outro lado, antes de Aristóteles, os sofistas tinham, na comunicação, uma
grande preocupação em vista da arte da oratória, como meio de disputa
indispensável para quem estivesse ligado ao jogo do poder, ou seja, os cidadãos.
Dessa forma, podemos observar que a comunicação está ligada com o
universo simbólico. Trata-se de uma atividade social em que são produzidas,
ϭϵ


transmitidas e recebidas formas simbólicas. Taís formas dão sentidos e formam


imagens sobre a realidade, sobre o que deve ser considerado importante ou não.
Para que isso ocorra, faz-se necessário a utilização de recursos, ou seja, são
utilizados meios técnicos para que a informação ou o conteúdo simbólico seja fixado
e transmitido por quem produz em relação ao que recebe as formas simbólicas.
Segundo Thompson (2011, p.44):

[...] Todos os processos de intercâmbio simbólico envolvem um meio técnico


de algum tipo. Mesmo o intercâmbio de afirmações linguísticas face a face
pressupõe alguns elementos materiais ± laringe, cordas vocais, ondas de
ar, ouvidos e tímpanos auditivos, etc. ± em virtude dos quais os sons
significativos são produzidos e recebidos. Mas a natureza do meio técnico
pode variar grandemente de um tipo de produção simbólica (e intercâmbio)
para outro, as propriedades dos diferentes meios técnicos facilitam e
circunscrevem os tipos de produção simbólica e de intercâmbio possíveis.

As formas de intercâmbio simbólico envolvem um modo de reprodução, de


expressão simbólica. Destarte, o meio técnico torna-se a condição para que haja a
fixação da forma ou modelo simbólico. Por isso, podemos pensar em uma variedade
de fixação do conteúdo simbólico. Visto que, por exemplo, numa conversação entre
um indivíduo e outro, a fixação do conteúdo dependerá da memória e corre o risco
de ser inexistente. Por sua vez o papel, a pintura, a filmagem, a gravação
apresentam um grau maior de fixação (THOMPSON, 2011).
Os meios técnicos, as informações e o conteúdo simbólico podem servir como
formas para o exercício do poder. Através das técnicas o ser humano é capaz de
utilizar várias estratégias para a sua atuação social. Conforme Thompson (2011,
p.45):

[...] o exercício do poder pelas autoridades políticas e religiosas andou


sempre estritamente ligado à verificação e à verificação e ao controle da
informação e da comunicação, tipificando no papel dos escribas de eras
mais remotas e das diversas agências ± dede organizações encarregadas
de compilar estatísticas oficiais aos funcionários de relações públicas ± das
nossas sociedades hodiernas.

Por conseguinte, a comunicação e a informação estiveram e estão ligadas por


relações de poder, que transcende o campo simbólico, ou seja, estão relacionadas
com as dimensões da política, do poder econômico e coercitivo, que perpassam pelo
universo da comunicação. Essa faz uso de meios técnicos para a difusão de ideias e
reprodução de formas simbólicas.
ϮϬ


Nesse universo se encontram os meios de comunicação, que viabiliza a


produtividade das formas simbólicas que estão na base da exploração comercial das
sociedades modernas e contemporâneasRXVHMD³as formas simbólicas podem ser
YHQGLGDVHFRPSUDGDVQRPHUFDGR´ 7+203621S

2.3.3 A internet como uma ferramenta que constitui novos significados e


formas de interação

Entre os períodos de 1993 e 1994 uma pesquisa acadêmica possibilitou uma


transformação que culminaria no desenvolvimento da internet. Segundo Briggs e
Burke (2006, p. 301):

O grande avanço aconteceu entre setembro de 1993 e março de 1994,


quando uma rede até então dedicada à pesquisa acadêmica se tornou a
rede das redes, abHUWDDWRGRV$UHGHHUD³IURX[D´HQmRWLQKDSURSULHWiULR
embora dependesse das agências de comunicação. No mesmo período, o
acesso público a um programa de navegação (Mosaico), descrito na seção
de negócios do New York Times GH GH]HPEUR GH  FRPR ³ D primeira
MDQHOD SDUD R FLEHUHVSDoR´ WRUQRX SRVVtYHO DWUDLU XVXiULRV ± na época
FKDPDGRV³DGDSWDGRUHV´± e provedores, os pioneiros em programas cujas
origens já forma descritas (grifo dos autores).

A internet trouxe muitas surpresas e transformações no universo das


comunicações, nos setores públicos e nas instituições privadas. Conforme Castells
(2005), as nossas gerações estão envolvidas em um processo de transformação que
está alicerçado sobre o universo das tecnologias de comunicação e informação.
Essas tecnologias são importantes para tais mudanças, mas em última instância é o
uso social dessas tecnologias que provoca modificações sociais, mudanças nas
formas de ser e agir das sociedades.
A internet constitui um conjunto de ferramentas técnicas para produção e
reprodução de formas simbólicas. Sobre isso Lévy (2004) afirma que a técnica
constitui um dos elementos mais presentes nas formas de organização das
sociedades contemporâneas. A técnica descrita pelo autor corresponde ao
desenvolvimento tecnológico em torno da mídia, das formas de reprodução e
produção de conteúdo midiático. As tecnologias da comunicação e da informação
atingem todos os segmentos da vida social humana. Por isso,
Ϯϭ


Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo


das telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o
trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose
incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura,
visão, audição, criação, aprendizagem são capturados por uma informática
cada vez mais avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa científica
sem uma aparelhagem complexaque redistribui as antigas divisões entre
experiência e teoria. Emerge, neste final do século XX, um conhecimento
por simulação que os epistemologistas ainda não inventariaram (LÉVY,
2004, p. 05).

As transformações sociais implicam em mudanças nos sistemas simbólicos,


culturais de um grupo social. Em nosso contexto tais mudanças ocorrem pelo
universo da rede mundial de computadores. O meio técnico mais utilizado está no
universo da internet e através dela constituímos novas formas de pensar e interagir.
Em outras palavras a técnica é o meio que possibilita a humanidade, na atualidade,
transcender os limites espaciais e constituir novas possibilidades de interação e
produção de conteúdo simbólico. Desse modo,

A experiência pode ser estruturada polo computador. Ora, a lista dos


objetos que são aomesmo tempo estruturas transcendentais é infinitamente
longa. O telégrafo e o telefone servirampara pensar a comunicação em
geral. Os novos mecanismos concretos e a teoria matemática dainformação
serviram como suporte para a visão cibernética do mundo, etc. Os produtos
da técnicamoderna, longe de adequarem-se apenas a um uso instrumental
e calculável, são importantes fontesde imaginário, entidades que participam
plenamente da instituição de mundos percebidos. (LÉVY, 2004, p. 14).

A partir disso devemos pensar a sociedade envolvida em uma grande rede,


onde os sujeitos devem ser percebidos com atores e autores. A internet passa a ser
um universo estratégico, onde existem muitas possibilidades que podem ser
exploradas pelos sujeitos, que estabelecem novas formas de interação.
Desse modo, passamos por uma modificação social nas formas de interação.
Por conseguinte, somos levados a repensar os espaços sociais, como o caso das
comunidades e de grupo social, que no passado estavam restringidas a interação
face a face, em um determinado espaço e tempo.
ϮϮ


3 INTERNET E A SOCIABILIDADE ± UMA LEITURA ENTRE OS ESPAÇOS DO


VIRTUAL E DO REAL

Dado que o aparecimento do virtual viabiliza uma transformação no espaço


de formas simbólicas, que não estão presas ao espaço, temos a redefinição dos
conceitos tradicionais utilizados para descrever e analisar a sociedade. Entre tais
conceitos, encontramos o conceito de comunidade e grupo social.
A transformação desses conceitos está relacionada com as transformações
ocorridas no universo da comunicação. Conforme Peruzzo (2002, p. 5):

O novo modo de comunicação ao transformar radicalmente as dimensões


do espaço e do tempo, também possibilitou a vivência de eventos
simultâneos, sem a necessidade de se estar num mesmo lugar. Estão
nesse processo os mecanismos que aceleraram possibilidades de
surgimento de novos tipos de comunidades ou a transformação de
elementos básicos até, então, exigidos para a caracterização de uma
comunidade.

Outrora, o conceito de comunidade, entre várias características, era definido


pela localização geográfica, em que os indivíduos partilhavam de uma cultura
comum, com características que forneciam um sentimento de identidade, como
pertencentes a um determinado grupo social.
Não podemos afirmar que esse conceito de comunidade seja ultrapassado,
pois muitas comunidades ainda poderão ser caracterizadas dessa forma. Todavia,
com o surgimento das novas tecnologias de comunicação de massas temos novas
formas de relação. Diante disso, podemos falar do surgimento de comunidades
virtuais, que não necessitam de aprisionarem-se as demarcações territoriais. Desse
modo,

[...] a configuração de comunidade não precisa restringir-se a demarcações


territoriais geográficas, podendo as pessoasestarem cultivando
relacionamentos e compartilhando interesses, identidades etc. também
através das ondas eletromagnéticas, do ciberespaço ou rede de
computadores. (PERUZZO, 2002, p. 6)

Os impactos da internet sobre os indivíduos são grandes. Nesse universo


novos valores são constituídos, reconstruídos. Em uma sociedade em rede, as
formas de organização são modificadas drasticamente. Assim, como os elos sociais
Ϯϯ


entre os indivíduos. Na atualidade construímos e reconstruímos valores


constantemente através dos meios de comunicação.

3.1 COMUNIDADES VIRTUAIS

A utilização da internet implicou na criação e no desenvolvimento das


comunidades virtuais. Essas passam ser responsáveis pelo desenvolvimento de
valores que moldam o comportamento dos indivíduos. Conforme Castells (2003, p.
46):

[...] Os primeiros usuários de redes de computadores criaram comunidades


virtuais [...], e essas comunidades foram fontes de valores que moldaram
comportamento e organização social. Pessoas envolvidas nas redes da
Usenet News, na FIDONET, e no BBS, desenvolveram e difundiram formas
e usos na rede: envio de mensagens, lista de correspondência, salas de
chat, jogos para múltiplos usuários (expandindo os MUDs ± acrônimo de
multi-userdungeon ± pioneiros), conferências e sistemas de conferência
(grifo do autor).

Por sua vez as comunidades virtuais constituem um espaço de


relacionamento mediado por computadores e softwares. Elas são mantidas não pela
proximidade geográfica ou física dos indivíduos, o que não é suficiente para
caracterizar uma comunidade. Para tanto, faz-se necessário uma afinidade do
conjunto de interesses em comuns, que são apresentados no universo virtual.
Por outro lado, o desenvolvimento do espaço virtual implica na ressignificação
do espaço social, visto que a internet viabiliza, como um meio de comunicação,
novas formas de afirmação social, e processos de formas e buscas de identidades.
Assim,

A emergência da internet como um novo meio de comunicação esteve


associada a afirmações conflitantes sobre a ascensão de novos padrões de
interação social. Por um lado, a formação de comunidades virtuais,
baseadas sobretudo em comunicação on-line, foi interpretada com a
culminação de um processo histórico de desvinculação entre localidade e
sociabilidade na formação da comunidade: novos padrões, seletivos, de
relações sociais substituem as formas de interação humanas
territorialmente limitadas. Por outro lado, críticos da Internet, e reportagens
das mídias, por vezes baseando-se em estudos de pesquisadores
acadêmicos, sustentam que a difusão da internet está conduzindo ao
isolamento social, um colapso da comunicação social e da vida familiar, na
medida em que indivíduos sem face praticam uma sociabilidade aleatória,
abandonando ao mesmo tempo interações face a face em ambientes reais.
(CASTELLS, 2003, p. 98).
Ϯϰ


A internet possibilita o contato com muitas pessoas, formação e dinamização


na organização social que estava anteriormente restrita ao espaço físico. Por outro
lado, há quem afirme a acentuação do individualismo, da formação de uma cultura
voltada para o indivíduo e para o consumo.
Todavia, essas duas perspectivas apresentam defensores e críticos. Sobre
isso, Castells (2003) descreve, após analise de algumas pesquisas que não
necessariamente a internet possa ser vista como causa do individualismo. Dado
que:

[...] constatou-VH TXH RV PRUDGRUHV GH ³1HWYLOOH´ TXH HUam usuários da
internet tinham um número mais elevado de laços sociais do que os que
não tinham conexão com a internet. O uso da Internet aumentava mais a
par das notícias locais pelo acesso ao sistema de e-mail da comunidade
que servia como um instrumento de comunicação entre os vizinhos.
(CASTELLS, 2003, p. 103).

A pesquisa mostra que não podemos apresentar o uso ou não da internet


como causa do individualismo; pois essa tecnologia viabiliza a reorganização dos
indivíduos, ou seja, internet deve ser percebida como ferramenta técnica para
comunicação. O resultado dos usos decorrentes da sociabilidade não está
exclusivamente na internet, mas está atrelada ao seu uso social.
A tendência ao individualismo está presente na forma como os sujeitos
sociais constroem a sociabilidade. Isso está implicado com os valores que permeiam
o universo cultural, pois é um conjunto sistemático de valores e crenças que levam
ao comportamento e as ações dos indivíduos.
Assim, o individualismo é uma questão cultural se consideramos a cultura
FRPR ³XP VLVWHPD GH YDORUHV H FUHQoDV TXH LQIRUPD R FRPSRUWDPHQWR TXH p
HQUDL]DGR QDV FRQGLo}HV PDWHULDLV GH WUDEDOKR H VXEVLVWrQFLD GDV VRFLHGDGHV´
(CASTELLS, 2003, p.107).
Ademais, em muitas circunstâncias a internet é a ferramenta pela qual os
indivíduos mantêm relações e laços fortes, que seriam impossíveis pela
distância.Podemos citar, como exemplo, o fato que muitas famílias, que não podem
permanecer com elos sociais presenciais, por motivos como o de trabalho (que é
uma busca individual) estabelecem trocas de informações via e-mail (CASTELLS,
2003).
Ϯϱ


A internet é uma ferramenta técnica que viabiliza o contato, a organização,


reestruturando as relações sociais. Para isso, o internauta desempenha um papel
individual na busca de sua identificação e de espaço na rede. Isso não que dizer que
ele permaneça isoladamente, mas que terá uma conduta e posturas individuais para
que tenha seu espaço ou status social na rede.
A partir disso, podemos observar que o surgimento das comunidades virtuais
é uma demonstração de que a internet foi apropriada pelos indivíduos em sua
prática social. Entre os usos instrumentais utilizados, encontramos a referência ao
universo do trabalho, á família e ao cotidiano dos indivíduos. Podemos afirmar que a
internet e uma tecnologia, cujo uso e destino são sujeitos como autores sociais que
desenvolvem.

3.1.1 A relação entre o virtual e o real

Através da internet, temos grandes transformações no universo social. Diante


dessas transformações, encontramos o debate sobre a relação entre o real e o
virtual. Visto que os indivíduos estabelecem através das redes uma série de
relações e interações sociais, mas a questão que temos em debate, é, saber, até
que ponto o virtual transforma o real e o real o virtual.
Alguns autores, como Baudrillard (1997, p.71. apud. PRIMO, 1997), afirmam
que ³não pensamos o virtual somos pensados pelo virtual´. Ou seja, os seres
humanos cada vez mais se encontram envolvidos no virtual de tal forma que este
acaba moldando os comportamentos dos indivíduos e suas formas de pensar.
Em contrapartida, outros autores destacam que não necessariamente o
ciberespaço e as comunidades virtuais sejam uma forma desconectada da
realidade. Do contrário, a humanidade, ao fazer uso das tecnologias existentes, irá
se organizar de forma diferente transformado a sua maneira de interagir. Visto que
todos nesse sentido são atores, autores e agentes de um espaço onde são
desenvolvidos valores, formas de interação que diferem de outras épocas, mas isso
não quer dizer que estejam desconectas da realidade (LEMOS, apud. PRIMO,
1997).
Ϯϲ


3.2 A ECONOMIA EM UMA SOCIEDADE EM REDE

Segundo Castells (2003), a internet transformou-se na força propulsora para o


desenvolvimento de uma nova economia. Isso levou a transformação no modo de
pensar o sistema de produção e de administração. Um exemplo disso está no
processo de formação das companhias da internet no Vale do Silício. Neste
contexto, encontramos o cenário onde começou o desenvolvimento de uma nova
indústria, que está alicerçada sobre novas características na prática empresarial e
comercial. Essas empresas passam a ganhar dinheiro e visibilidade com ideias. Por
isso:

[...] a inovação empresarial, e não o capital,foi a força propulsora da


economia da Internet. O mais das vezes, esses empresários investiram o
próprio dinheiro. Não arriscaram muito, talvez apenas seus sonhos, ou o
dinheiro seminal que obtiveram de seus sonhos ± com exceção de algumas
hipotecas executadas. Quando fracassavam, podiam sempre voltar para
suas garagens, para suas escolas, ou para seus empregos bem
remunerados numa empresa ± e para um novo sonho. Não eram, portanto,
os empresários aventureiros do relato histórico de Sombart. Não eram
tampouco os inovadores tecnológicos da versão schumpeteriana da
atividade empresarial. Alguns eram, alguns não. Alguns eram excelentes
vendedores e não grandes engenheiros. Mas todos foram capazes de
transformar sua capacidade de imaginar em novos processos e novos
produtos em projetos comerciais adaptados ao mundo da internet ± um
mundo que não tinham imaginado, muito mentos inventado. (CASTELLS,
2003, p. 50).

Essa nova cultura desenvolvida no setor empresarial, com o advento da


internet, está fundada sobre uma estratégia comum que consiste em ³mudar o
mundo´ através da internet e ganhar dinheiro e poder. Assim, podemos observar que
as relações de poder e as relações econômicas se descolocam para o universo
virtual que passa ser cada vez mais destacado com grandes cifras.
Por conseguinte, podemos afirmar que novas relações de trabalho passam a
ser estabelecidas, pois não se trata mais de apenas da produção resultante do
aparato mecânico e braçal. Agora a relação social das corporações passa investir e
ter a necessidade de colaboradores que venham apresentar ideias que possam ser
vendidas e investidas.
Conforme Castells (2003, p. 51), a nova cultura empresarial desenvolvida com
a internet é uma cultura do ³dinheiro e do trabalho compulsivo e incessante´. Por
consequência, temos uma modificação na postura ética, no modo de perceber
determinados valores. Visto que a compensação não está mais, como afirmaria Max
Ϯϳ


Weber, em fatores internos (conforme a ética calvinista puritana). Ao contrário, a


valorização passa ser considerada pelos resultados externos, ou seja, pelos bens,
pelo lucro obtido.
Por consequência, temos o desenvolvimento de novos valores, de uma nova
cultura, de uma nova ética que preconiza não meramente o guardar, como
buscavam os primeiros burgueses. Nesse cenário, cada vez mais aparece as ideias
de satisfação imediata e de futuro. Tal cultura é:

[...] uma cultura do dinheiro. E de dinheiro em qualidades tão assombrosas


(assim reza o mito empresarial) que qualquer esforço vale a pena. Mas é
também uma cultura do trabalho, trabalho compulsivo e incessante. Nesse
sentido, vincula-se à ética do trabalho dos empresários industriais
tradicionais. No entanto, o fato de a compensação ser externa (dinheiro) e
não interna (ética puritana do atuo-aperfeiçoamento por meio do trabalho
honesto) tem consequências consideráveis para a cultura. Poupanças
pessoais são menos importantes que investimento em ações, de tal modo
que ideias, trabalho e acumulação pessoal de riqueza tendem a ser
associados no mesmo movimento. É a fabricação do futuro, e não sua troca
por poupanças preventivas, que fornece segurança para a vida. Nessas
condições, o consumo é organizado em torno de um padrão de gratificação
imediata, em vez do padrão de gratificação a posteriori da cultura
empresarial burguesa. (³estude, meu filho, continue trabalhando, meu filho,
a vida o recompensará na velhice´ . Esse padrão de gratificação imediata
materializa-se em bens e serviços inacessíveis á maioria dos mortais. Em
vez de consumo conspícuo, observamos um padrão de consumo supérfluo;
trata-se da aquisição de itens de consumo que têm pouco uso para seu
dono, mas fornecem satisfação nos breves momentos de sua vida útil.
(CASTELLS, 2003, p. 51).

Castells (2003) descreve que o desenvolvimento dessa nova cultura


empresarial, tecida diante das inovações tecnológicas, está centrada em um modelo
de trabalho que tem como características a competição ea busca de novas ideias
que possam ser assimiladas, vendidas no mercado. Assim, o investimento é um fator
necessário para pensar a ideia de sucesso e de status social.

3.2.1 Economia e trabalho em uma sociedade em rede

Com o desenvolvimento das tecnologias da informação, temos uma


modificação sobre o perfil do mundo do trabalho e do trabalhador. O desempenho de
uma companhia depende muito da sua capacidade de produtividade, inovação e
competitividade. Ocorre que, para atingir isso, se faz necessário investimento e uma
grande jornada de trabalho. Nesse sentido, podemos citar como exemplo o fato de
que os profissionais na região do Vale do Silício trabalham mais de 65 horas
Ϯϴ


semanais e na entrega de um projeto muitos perdem noites de sono (CASTELLS,


2003, p. 79).
Hodiernamente as relações de trabalho obedecem às regras da flexibilidade,
ou seja, na forma de gerir os negócios, na capacidade do trabalhador e para as
empresas trabalhar on-line. Nesse cenário, existe a necessidade de indivíduos que
possam pensar e organizarem as informações pertinentes.
Além disso, para o trabalhador não há plano de carreira ou padrão garantido.
Ou seja, não basta que os indivíduos estejam trabalhando para a empresa. Exige-se
que ele seja produtivo, capaz de construir e apresentar ideias. Conforme Castells
(2003, p. 81):

Uma transformação fundamental das relações de trabalho é comum à mão-


de-obra autoprogramável quanto à genérica: a flexibilidade. A forma
interconectada dos negócios, o ritmo acelerado da economia global e a
capacidade tecnológica para trabalhar on-line, para indivíduos e para firmas,
levam o surgimento de um padrão flexível de emprego. A idéia de um
padrão de carreira previsível, com trabalho em tempo integral numa firma ou
no setor público, por um longo período de tempo, e sob definição contratual,
precisa, de direitos e obrigações comuns a toda força de trabalho, está
desaparecendo da prática empresarial- embora persista em mercados de
trabalho extremamente regulados e no cada vez mais reduzido no setor
publico.

A partir dessa nova postura e exigências do universo do trabalho, podemos


observar a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre os efeitos sobre o
trabalhador submetido à concorrência constante e a necessidade de criar algo novo
para que possa ser vendido.
O novo trabalhador passa ter a necessidade de ter instrução e iniciativa. A
valorização do trabalhador não é dada pelos anos de estudo, mas pela qualidade de
educação, pelas habilidades desenvolvidas, pela capacidade e pensamento em
atividades mutáveis. Em uma economia eletrônica faz necessário que o trabalhador
tenha a capacidade de aprender a aprender, ou seja, tenha capacidade de ver o que
é novoe a partir dele construir novas estratégias (CASTELLS, 2003).

3.2 A INTERNET COMO PALCO DOS ENFRETAMENTOS E INQUITAÇÕES DOS


SUJEITOS SOCIAIS

A internet constitui em um ambiente de comunicação, onde os sujeitos


desenvolvem suas atividades. Castells (2003) denominou o ambiente virtual, onde
Ϯϵ


as relações sociais são estabelecidas pela mediação da rede de internautas como a


galáxia da internet. O autor definiu esse ambiente como um novo ambiente de
comunicação. Nele, os sujeitos desenvolvem suas atividades e por consequência
domínios da vida social que estão construídos e constituídos sobre novas formas.
As relações de poder, que são estabelecidas socialmente, também, aparecem
no universo virtual e material de uma sociedade conectada por uma rede de
computadores. Em contrapartida, nem sempre essas relações estão tão
evidentes,pelo motivo de que as relações de poder são, por vezes,mascarada pela
afirmação de que a internet se apresenta como uma tecnologia da liberdade. Sobre
isso Castells (2003, p. 225) afirma que:

A Internet é de fato uma tecnologia da liberdade - mas pode liberar os


poderosos para oprimir os desinformados, pode levar à exclusão dos
desvalorizados pelos conquistadores do valor. Nesse sentido geral, a
sociedade não mudou muito. Mas nossas vidas não são determinadas por
verdades transcendentes, e sim pelos modos concretos como vivemos,
trabalhamos, prosperamos, sofremos e sonhamos. Assim, para agirmos
sobre nós mesmo, individual e coletivamente, para sermos capazes de
utilizar as maravilhas da tecnologia que criamos, encontrar sentido em
nossas vidas, melhorar a sociedade e respeitar a natureza, precisamos
situar nossa ação no contexto específico de dominação e libertação em que
vivemos: a sociedade de rede, construída em torno das redes de
comunicação da internet.

A partir disso a liberdade possibilitada pelo uso da internet depende das


capacidades e habilidades dos sujeitos que estão envolvidos nessa teia global.
Ocorre que os processos e as relações de domínio não se reduzem a subjugação
resultante da força física. Em nosso contexto as disputas são travadas no universo
simbólico e virtual, que implica nas condições materiais da existência dos indivíduos.
Nessa teia social a consciência dos processos e do jogo econômico-político
envolvidos nas tecnologias da comunicação torna-se uma ferramenta indispensável
para os sujeitos compreenderem a si e a sociedade que está sua volta, que por
vezes, parece muito complexa na medida em que o jogo simbólico do poder está
sedimentado na teia virtual e global.
Diante disso, no universo do trabalho as relações de poder reproduzidas com
a utilização da internet despertam nos sujeitos sociais inquietações sobre o
emprego, a educação. Castells (2003, p. 226) destaca que o índice de desigualdade
social cresceu durante toda a década de 90 na região do Vale do Silício, ou seja, a
ϯϬ


rede mensal cresceu para as famílias mais favorecidas e declinou em relação a


grande parte das famílias daquela região.
Dessa forma, o conceito de liberdade apresentado ou aparentemente
vislumbrado pela tecnologia está condicionado por muitos fatores. Entre eles, é
importante questionar que se de um lado as redes da internet propiciam uma
comunicação global livre, por outro devemos questionar sobre quem está a frente e
detém o monopólio da infraestrutura que viabiliza a relação social em uma economia
cada vez mais impulsionada no universo virtual.
Podemos observar que as relações de domínio presentes no universo virtual
estão sedimentadas nas relações concretas da sociedade. Não podemos separar o
virtual do real. Ambos estão conectados por relações sociais.
Sobre as oportunidades e liberdades dos sujeitos devemos considerar a
estrutura social de cada geração. Dessa forma, em uma sociedade em que as
informações são produzidas constantemente e em grande velocidade,aparece a
necessidade dos sujeitos desenvolverem a capacidade de processar a informação.
Aqui podemos observar a existência de um grande desafio para a educação na
atualidade. (CASTELLS, 2003).

3.3 CONCEITO DE MÍDIA ALTERNATIVA

Diante disso, ao pensar a mídia e seus formatos, como essa pode ou poderá
ser desenvolvida leva a necessidade de definir e pensar a comunicação e suas
formas alternativas, ou seja, podemos pensar em uma mídia alternativa. Visto que a
web viabiliza repensar a forma de apresentação e de interação dos indivíduos com o
conteúdo, com os produtos produzidos no universo online. Na frente dos suportes
comunicacionais existentes, a internet tem se apresentado como a alternativa mais
utilizada na veiculação de conteúdos, sejam informativos, publicitários, conceituais,
entre outros, dos mais variados e diversificados, um espaço para diferentes
manifestações e ideologias, aproveitada pelos usuários.
O conceito de mídia alternativa é complexo e polêmico. Inicialmente, o título
pode sugerir que mídia alternativa está delimitada ao universo da internet. Visto que
essa possibilitou uma variedade sobre os modos de interação e construção do
conteúdo midiático. Todavia, se analisarmos o conceito mídia alternativa, é possível
ϯϭ


resgatar a ideia de uma forma de construir e elaborar um determinado conteúdo


midiático que não está preso a ummodelo considerado convencional.
Sobre o conceito de mídia alternativa, Peruzzo (2006) afirma que o tema vem
desde os anos de 1970 e a autora define mídia alternativa como um fenômeno em
que a comunicação é desenvolvida a partir dos grupos populares.
Nesse caso, popular faz menção ao inverso das elites que estavam no poder,
ou seja, os militares. Assim, torna-se compreensível o fato de que essa designação
tenha surgido em virtude da grande parte da mídia dos anos 70 estar subordinada a
censura do regime militar. Tal circunstância histórica, também, impulsionava uma
maneira de fazer comunicação que não estava presa aos moldes da chamada mídia
tradicional. A mídia alternativa:

[...] surgiu para designar tanto a comunicação popular, tal como foi
anteriormente explicitada, como para caracterizar o tipo de imprensa não
alinhada às posturas da mídia tradicional, então sob a batuta da censura do
regime militar no Brasil. Nesse caso, denomina-se imprensa alternativa. Ou
seja, era uma época em que a maioria dos grandes jornais se alinhava à
visão oficial do governo, sob a força da censura. A imprensa alternativa
representada pelos pequenos jornais, em geral com formato tabloide,
ousava analisar criticamente a realidade e contestar um tipo de
desenvolvimento. (PERUZZO, 2006, p. 54).

A partir disso, o conceito de mídia alternativa tem como pressuposto de que


seja desenvolvida e elaborada por meios não convencionais e compreende uma
forma de expressão que não está presente ou presa aos conceitos ou formatos
convencionais.
Em uma sociedade conectada através da internet temos a possiblidade de
criação e adaptações dos sujeitos interconectados. A internet tornasse em um meio
que pode se apresentar como alternativo e ser uma forma de identificação de
determinados grupos sociais ou instituições.
Ademais, o universo virtual tornou-se não apenas uma opção das instituições
sociais. Ao contrário, tornou-se uma forma estratégica de visibilidade. Nas redes
sociais, nos sites encontrasse o caminho que os internautas observam, questionam
e interagem com as mais variadas instituições.
Por conseguinte, o termo mídia alternativa ganhou nova ressignificação a
partir de 1990. As novas tecnologias da informação possibilitaram o uso de uma
comunicação mais interativa e passou significar o uso de sites, redes sociais para
tornar visíveis empresas, religiões e outras organizações sociais.
ϯϮ


4 A UMBANDA E OS ENFRENTAMENTOS COM OUTRAS RELIGIÕES

A umbanda é considerada como uma religião tipicamente brasileira. Na sua


constituição encontramos características da cultura africana que foram modificados
diante da estrutura social brasileira, seguida da contribuição da cultura indígena,
com influências do romantismo europeu do século XVIII. Além disso, é possível
verificar características do espiritismo kardecista e do catolicismo. Todos esses
elementos contribuíram para formação dos rituais e das crenças do espiritismo
Umbandista (ORTIZ, 1999).
A Umbanda foi e ainda é percebida sob uma forma mistificada, permeada de
preconceitos, que em geral estão ligados aos preconceitos relacionados à cultura
afro-brasileira e sua historicidade na busca de reconhecimento. Aliás, não é raro a
Umbanda ser associada aos cultos satânicos, o que não corresponde a sua
cosmologia e doutrina religiosa (ORTIZ, 1999).
Existe uma disputa e contradições entre os praticantes da Umbanda e do
Candomblé com as igrejas Pentecostais, que consideram seus rituais como
manifestações do demônio. Sobre isso Prandi (2004, p. 229) afirma que:

΀͘͘͘΁ Era tudo de que precisava um certo pentecostalismo: agora o diabo


estava ali bem à mão, nos terreiros adversários, visível e palpável, pronto
para ser humilhado e vencido. O neopentecostalismo leva ao pé da letra a
idéia de que o diabo está entre nós, incitando seus seguidores a divisá-lo
nos transes rituais dos terreiros de candomblé e umbanda. Pastores da
Igreja Universal do Reino de Deus, em cerimônias fartamente veiculadas
pela televisão, submetem desertores da umbanda e do candomblé, em
estado de transe, a rituais de exorcismo, que têm por fim humilhar e
escorraçar as entidades espirituais afro-brasileiras incorporadas, que eles
consideram manifestações do demônio.

A acusação de práticas satânicas aparece como guerra de publicidade no


mercado religioso que é difundido pela mídia tradicional e também pela utilização
das redes sociais. Desse modo, a disputa entre pentecostais, praticantes de
umbanda, candomblé, catolicismo e outras religiões é absorvida no universo da
internet que aparece como uma ferramenta para disseminação e discussões sobre a
fé e as crenças.
Para os umbandistas a internet aparece como uma forma de desmistificação
dos conceitos e dos preconceitos construídos historicamente na sociedade
brasileira.
ϯϯ


4.1 A INTERNET E AS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS

Pereira e Herschmann (2002) afirmam que o campo da comunicação é o


ambiente onde são apresentados a multiplicidade de contextos, de identidades, de
interesses e de valores. É no campo da comunicação que ocorrem os
enfrentamentos, as disputas, as identificações e solidificação de valores
empreendidos e almejados pelas mais variadas organizações. Entre essas
organizações encontramos as instituições religiosas e as manifestações religiosas
dos indivíduos.
A sobrevivência de uma determinada instituição religiosa ou grupo religioso
dependem do campo da comunicação, da busca e conquista de seguidores que
venham dar manutenção e sustentação para essas organizações. O aparecimento
dos meios de comunicação de massa levou muitas instituições religiosas investirem
muito em programas de televisão e rádio. Essa afirmação não é uma grande
novidade, pois muitas instituições religiosas mostram a preocupação com
acomunicação para que detivessemvisibilidade. Conforme Marques (2001, p. 39)

A ação comunicacional da Igreja Católica atravessa os séculos.Na


realidade, ela é tão antiga quanto a própria Instituição. De fato, como definiu
a Conferência Episcopal de Puebla, evangelizar - razão de ser da Igreja - é
comunicar. Esta tem sido, atualmente, a premissa de todas as iniciativas da
Igreja Católica ± bem como das demais igrejas cristãs ± que envolvem o
uso dos meios de comunicação de massa. Aprópria expressão "evangelho"
(originária do grego cujo significado é "boa nova, boa notícia") já revela uma
vocação cristã ao anúncio da mensagem do Cristo.

O universo religioso é estruturado pelo universo simbólico, pelos rituais. As


divergências culturais, as diferentes formas de pensar e de entender a si mesmo
diante do cosmo que faz parte da humanidade.
Contudo, com o domínio da igreja católica durante a idade média muitas
formas de representações religiosas passaram a ser percebidas na margem, como
formas rudimentares ou até mesmo profanas. Ou seja, o elemento religioso depende
da disseminação de valores que estruturam o modo de ver dos indivíduos. Para que
a religião católica garantisse seu domínio ela teve que absorver muitos elementos da
cultura grega e romana para sua justificação e sistematização enquanto instituição
religiosa.
ϯϰ


No século XVI com as divisões do cristianismo encontramos a divergência e a


busca constante por adeptos. Assim encontramos o empate entre protestantes e
católicos. Esse embate não era apenas religioso, mas estava atrelado a uma relação
de poder que envolvia o desejo das instituições religiosas pela manutenção da
hegemonia e pela sua conquista. Para tanto, a divulgação e a disseminação de
valores precisava de estratégias de divulgação e de comunicação.
O universo social é constituído por uma multiplicidade de elementos
religiosos. Essa multiplicidade foi por muitas vezes sufocada pela hegemonia da
religião católica, que fez uso, no decorrer da história, da força, das estratégias para
continuar mantendo sua hegemonia. Nesse sentido Miranda (2005, p. 150) afirma
que:

A multiplicidade das religiões, tão antiga como a própria humanidade,


constitui um dado histórico que, somente em nossos dias, atinge realmente
o nosso País. De fato, num passado não muito remoto, a hegemonia do
catolicismo, frequentemente apoiada nos governantes, anulava a incidência
social das outras religiões minoritárias, mantendo os católicos, de certo
modo, imunes à sua influência. Hoje, contudo, a moderna sociedade
pluralista é tolerante com relação às crenças religiosas e o Estado dispensa
a legitimação religiosa para garantir sua aceitação e estabilidade. O
catolicismo se vê então rodeado de concorrentes, numa incômoda situação
já caracterizada como a de um mercado de bens religiosos.

Atualmente podemos observar que a relação entre as diferentes religiões


ocorre como relação de mercado de bens religiosos. A disputa não está mais presa
a relação com o estado, mas ao mercado de bens simbólicos. Desse modo, as
religiões disputam entre si, são concorrentes na sua busca por adeptos.
Em nosso contexto a disputa entre as diferentes religiões ocorre através da
publicidade. Sobre isso Marques (2005) descreve que, no Brasil, as igrejas
evangélicas Pentecostais e Neopentecostais travaram uma corrida pelos meios de
comunicação. Essa situação obrigou a própria igreja católica, até então com sua
hegemonia não abalada, a investir e aprimorar a suas práticas comunicacionais.
Além das igrejas evangélicas e católicas encontramos outras manifestações
religiosas que fazem uso de diferentes meios para divulgação de suas crenças. Para
tanto, a internet tornou-se o cenário de divulgação e expressão das mais variadas
formas de manifestações religiosas.
As instituições ou grupos religiosos absorveram a internet como uma forma
estratégica. Isso é compreensível se considerarmos que as redes, na perspectiva de
ϯϱ


Castells (1999, 497), possibilitaram uma nova morfologia da sociedade, novas


relações, diferentes experiências, novas formas de relações de poder e propagação
de valores. Nesse caso, as redes possibilitam novas formas de propagação e
manifestação de correntes religiosas.

4.2 O USO ESTRATÉGICO DA REDE PELO NÚCLEO DE ESTUDOS ESPIRITUAIS


MATA VERDE± TEMPLO DE UMBANDA

No caso da Umbanda, é possível encontrar na rede uma enorme


manifestação cultural e religiosa desenvolvidas por praticantes e por simpatizantes
da Umbanda. Entre esses encontramos o Núcleo de Estudos Espirituais Mata
Verde- Templo de Umbanda.
O Núcleo de Estudos Espirituais Mata Verde está localizado na cidade de
Santos em São Paulo. Conforme disposto no site o - Tempo de Umbanda foi
fundado em 2005. O grupo faz uso de muitas ferramentas da internet, encontramos
um blog (http://www.blog.mataverde.org/archives/898), um site
(http://www.mataverde.org), uma webtv (http://tvsu.com.br). Essa rede mantém uma
atividade bastante intensa com a produção de vídeos, material, divulgação de
músicas relacionadas com a religião umbandista.
A produção do conteúdo ocorre de acordo com as atividades do núcleo em
São Paulo. As atividades são gravadas em áudio e vídeo e divulgadas pela internet.
O conteúdo é atualizado semanalmente. Entre os principais organizadores
encontramos o nome de Manoel Lopes, que é o dirigente do Núcleo de Estudo Mata
Verde.
Além disso, os sites de relacionamentos também são explorados como uma
forma de divulgação dos cursos e das atividades que ocorrem no Núcleo Mata Verde
- Tempo de Umbanda. Entre os sites encontramos a utilização do Facebook pelo
EAD mata verde. Além disso, o site possui um gerenciador de e-mails, pelo qual são
comunicados aos interessados sobre as atividades do site e da Web TV..
A preocupação com a legitimidade social da umbanda pode ser visualizada já
QRWtWXORSULQFLSDOGRVLWHHGDZHEWYVDUDYDXPEDQGDTXHp³XPEDQGDpFRLVDVpULD
para gente séULD´. Aqui encontramos a preocupação em desmistificar os conceitos e
preconceitos produzidos no decorrer da história em relação às manifestações
religiosas afrodescendentes e indígenas.
ϯϲ


4.2.1 O site do Núcleo Mata Verde - Tempo de Umbanda

O site no Núcleo Mata Verde- Templo de Umbanda


(http://www.mataverde.org) apresenta as atividades recentes desenvolvidas pelo
Núcleo de Umbanda, a programação, as atividades que serão desenvolvidas
durante o mês no site e no terreiro de Umbanda em São Paulo, a localização, os
horários de atendimentos, fotos, registros dos eventos realizados, cursos que serão
desenvolvidos pelo EAD e cursos presenciais, textos, boletins informativos, vídeos.
As atualizações do site ocorrem semanalmente. Ele está ligado com os
demais espaços virtuais explorados pelo Núcleo Mata Verde. O modo como é
apresentado o conteúdo ocorre através do uso de áudio, vídeo e textos. O site
constitui, conforme a descrição apresentada no início da página da web, em um das
primeiras formas de divulgação da umbanda utilizada pelo núcleo Mata Verde, que
em seguida passou a pensar na estratégia da Web TV Umbanda.

4.2.2 Web TV Sarava Umbanda

Segundo a descrição presente na apresentação da Web TV Umbanda


(http://tvsu.com.br), as atividades da Web TV começaram em novembro de 2006. Na
divulgação fica claro o fato que o desenvolvimento técnico da internet foi a condição
para manutenção e divulgação da umbanda através desse canal de comunicação.
O principal objetivo descrito tanto no site como na Web TV Umbanda é de
divulgar, incentivar a forma de espiritualidade umbandista. Para tanto, existe debates
e apresentações sistematizadas. O canal de TV não apresenta o conteúdo ao vivo
24 horas por dia, apenas as atividades consideradas mais pertinentes pelos seus
idealizadores. Trata-se de um site com disponibilização ao vivo de algumas
atividades desenvolvidas no terreiro.

4.3.3 Blog do Núcleo Mata Verde

O blog do Núcleo Mata Verde-Templo de Umbanda


(http://www.blog.mataverde.org) segue um padrão com características semelhantes
do site e da Web TV Sarava Umbanda. Nele é apresenta a doutrina espírita
umbandista com um conteúdo bem diversificado. A finalidade do blog é a de
ϯϳ


estabelecer um espaço para o estudo, para a discussão e problematizações dos


internautas sobre as questões da crença umbandista. Nesse caso é estabelecido um
ambiente de interação e discussão com iniciantes e pessoas que já atuam em outros
terreiros de umbanda no país.
Além disso, há postagens de textos que buscam explicar a doutrina espírita
umbandista, contextualizado seu surgimento, mostrado as principais crenças
umbandistas.
ϯϴ

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tecnologia da informação constitui em uma ferramenta técnica capaz de


possibilitar os meios de mediação. A internet possibilitou a inserção de uma
variedade enorme de conteúdos, de divulgação de ideias e valores. Não podemos
considerar a internet apenas como um meio técnico, mas um meio que possibilita a
inserção de valores constituídos socialmente.
Dessa forma, a internet constitui em uma ferramenta que amplia as
possibilidades de comunicação no contexto virtual. Esse possibilita formas de
interação entre os sujeitos. Essas formas de interação mediadas pela internet
implicam na ressignificação do espaço social.
Contudo, esse fenômeno não deve ser percebido com alheio aos indivíduos,
mas como consequência das suas ações enquanto sujeitos sociais capazes de
jogarem e estabelecerem formas de poder, de valores.
O universo religioso é influenciado pelas inovações tecnológicas e, por isso,
os indivíduos constroem novas formas de manifestação religiosa, mas também,
como uma nova forma onde o mercado de bens simbólicos para ser disputado, ou
seja, no ambiente virtual.
As relações humanas são determinadas por relações de poder, que envolve o
universo simbólico. A partir disso, torna-se interessante observar como a internet,
como meio técnico, transformou-se uma ferramenta de divulgação, um meio
estratégico por vários setores da sociedade. Entre esses setores da sociedade
encontramos o segmento religioso. Ignorar essa ferramenta é o mesmo que
sentenciar a instituição social ou grupo social ao esquecimento.
A manifestação da religiosidade sempre esteve presente em todas as
sociedades. Na antiguidade, antes da invenção da escrita, as verdades ditas
religiosas eram repassadas pela via oral, de geração para geração.
A partir do aparecimento da escrita novas formas foram ordenadas e
organizadas para possibilitar à humanidade a disseminação de ideias e valores.
Nesses contextos, o elemento religioso, também aparece com estratégias, com a
utilização de livros, revistas, publicações para disseminar culturalmente valores.
Em determinados contextos históricos a maneira mais fácil de estabelecer
hegemonia era coligar ou fazer parte do Estado. Essa estratégia foi a marca do
período medieval e início da modernidade.
ϯϵ

O aparecimento das mídias de massa, como as emissoras de rádio e de


televisão, encontramos estratégias que levam o universo religioso explorar os meios
de comunicação para influenciar e garantir a inserção de valores sociais.
A partir da utilização da internet encontramos uma ferramenta técnica que
pode ser constituída por vários indivíduos. O que leva a novas formas de pensar as
estratégias para disseminação de ideias e construção de valores sociais e culturais.
A transformação social implica diretamente na forma de pensar e agir dos
indivíduos, que em nosso contexto não buscam mais por uma solução ou uma
verdade absoluta das coisas, ou ainda, pela satisfação plena em outra vida. Essa
transformação no modo de pensar e ver o mundo dos indivíduos levou os vários
segmentos religiosos a repensarem a sua forma de atuação. Essas novas formas
passam ser condicionadas não mais por uma verdade a ser ouvida, mas existe a
necessidade de visão de verdade ser constituída como uma forma de interação e
mediação entre o indivíduo e o veículo de comunicação. Nesse caso, encontrasse a
internet como um meio onde os indivíduos vivenciam e discutem suas crenças e
formas de religiosidade.
O espaço virtual e a religiosidade constituem em fenômenos complexos e
abstratos. Contudo, essa complexidade está intimamente ligada com a atividade
criativa humana, que cria e dá significados e formas de relações que exigem para
seu entendimento uma analise aprofundada desses fenômenos.
Ao analisar o site do Núcleo Mata Verde - Tempo de Umbanda é possível
observar uma mudança na maneira de construir a programação, aprópria confecção
do site leva em consideração as formas de interação entre os indivíduos. Nesse
caso, a internet aparece como uma forma de sociabilidade, como um espaço de
divulgação da doutrina espirita umbandista.
A umbanda como uma religião tipicamente brasileira tem na sua constituição
valores que impulsionam a origem histórica, levando ao encontro como a identidade
indígena, africana e europeia do brasileiro. Todos esses valores podem constituir em
forma de identificação e de simpatia. Por outro lado, levando em consideração a
competição entre os vários segmentos religiosos da atualidade, pode ser percebida
como elemento de repulsa.
A partir disso, o site, o blog e o que se apresenta como Web TV Sarava
umbanda deixam bem claro a preocupação em desmistificar a forma de religiosidade
ϰϬ


da umbanda e, ao mesmo tempo, possibilitar um canal de comunicação com


praticantes de umbanda de todo o país.
Embora seja possível encontrar mensagens no site, no programa do EAD do
Núcleo Mata Verde - Tempo de Umbanda sobre o fato da instituição não ter fins
lucrativos (assim, como poderíamos encontrar em outros segmentos religiosos), a
própria sobrevivência do grupo e de qualquer religião depende de uma relação
econômica. Desse modo, a estratégia do espaço virtual é uma estratégia de
sobrevivência social, econômica e sem dúvida política.
A organização do ambiente virtual promovido pelo núcleo Mata Verde-
Templo de Umbanda demonstra ter um grande grau de sistematização e
organização. A produção dos vídeos, do áudio, boletins do terreiro, do blog, do site e
dos cursos EAD é realizada de modo ordenado e como uma produção bem
complexa.
A partir disso, é possível afirma que o espaço promovido pela internet torna-
se em uma forma de mídia alternativa explorada pelo Núcleo Mata Verde- Templo
de Umbanda. Através desse espaço os mais diversos umbandistas e pessoas que
simpatizam com a umbanda divulgam as suas crenças, explicam e desmistificam
muitos rituais.
A necessidade de desmitificação de muitos rituais é oriunda da própria
concorrência existente entre os vários grupos religiosos. Principalmente, se
considerarmos o ataque e as divergências entre os praticantes de umbanda em
relação aos pentecostais e neopentecostais.
Portanto, o espaço virtual constitui em um ambiente dos enfrentamentos entre
as diversas formas de religiosidades, que por muitas vezes não é nada amistosa.
Como a internet constitui em uma ferramenta dinâmica torna-se uma estratégia
interessante pelos espiritas de umbanda para divulgar e explicar seus rituais e suas
crenças. Para tanto, faz-se necessária toda uma sistematização institucional voltada
para estratégias de comunicação e divulgação, ou seja, no enfrentamento, entre os
grupos sociais, a internet aparece como uma ferramenta estratégica para a
divulgação de doutrina espírita umbandista.
A pesquisa sobre o uso estratégico da Internet pelo Núcleo Mata Verde-
Templo de Umbanda apresenta algumas características importantes para a
percepção das possibilidades que a internet pode oferecer para a gestão de
informações. Nesse estudo foi possível observar como uma organização religiosa
ϰϭ

pode gerir e interligar os seus membros, viabilizado a interação entre os sujeitos


sociais.
A interação deve ser considerada imprescindível nas formas de gestão das
organizações ou instituições atuais. Desse modo, o curso de Gestão da
comunicação tornou possível a visualização e problematização sob o modo de
perceber os fenômenos da gestão e da comunicação.
O estudo sobre as formas de gestão das organizações não podem mais
descurar do elemento comunicativo e, assim, apresenta-se como uma necessidade
de apresentar propostas e planos estratégicos que venham explorar mais o uso
alternativo que a internet viabiliza.
ϰϮ

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