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0 Bra conferéncias LEITURAS RECOMENDADAS SANTOS, Norma Breda dos. A dimenséo multilateral da politica ex- terna brasileira. Revista Brasileira de Politica Internacional, n. 45 (2), 2002, p. 26-45. ALMEIDA, Paulo Roberto de. O Brasil ¢ o multilate- ralismo econémico. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. ALBI QUERQUE, José Augusto Guilhon. (Org). Crescimento, moderniza- fe politica externa. Sessenta Anos de Politica Externa Brasileira. Sa0 Paulo: Cultura Editores Asociados, 1996. v. I. ALVES, José Augusto Lindgren. Relagées internacionais e temas sociais: a Década das Confe~ réncias. Brasflia: IBRI, 2001. DUPAS, Gilberto. Hegemonia, Estado governabilidade: perplexidades e alternativas no centro e na periferia, Sio Paulo: Senac, 2002. LAFER, Celso. Comércio, desarmamento, di- reitos humanos. Sio Paulo: Paze Terra, 1999. BRASIL-MRE. A palavra do Brasil nas Nagdes Unidas. Brastlia: Funag, 1995. FONSECA, Gel- son. © Brasil no Conselho de Seguranca. Brasilia: Funag: 2002. OBA. 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O envolvimento intenso na aco multilateral global e regional perpassa tempo e encontra no presente trés razes a seu favor: expecta- tivas criadas acerca de seu alcance para realizar interesses do desenvolvi- mento e das relacdes internacionais do pais; padrdo de qualidade da politica multilateral formulada pelos governos brasileiros; e experiéncia continua da diplomacia nos érgios multilaterais. O estudo do multilateralismo brasileiro sugere o aprofundamento de al- gumas questées correspondentes aos rumos que ele tomou desde a Segunda Guerra Mundial, com o fim de avaliar seus resultados em fungio dos objeti- vos e da qualidade da acio externa nessa rea, Com efeito, as fases do mul- tilateralismo brasileiro mostram que houve objetivos ¢ resultados distintos ligados as expectativas criadas a seu respeito. Quatro fases recentes nessa frente de ago externa 0 comprovam: em primeiro lugar, a contribuigio do Brasil 4 construgio do sistema internacional do pés-guerra, entre 1944 1949; em segundo, o esforco despendido para reformar a ordem internacio- nal, dos anos 1960 aos 1980; em terceiro, a perspectiva de atuar no sistema em vez de reformé-lo, que se vislumbra entre 1990 e 2002; enfim, o objetivo de estabelecer a reciprocidade entre estruturas hegem@nicas e paises emer- gentes, de 2003 ao presente Essas quatro fases da politica multilateral revelam que no houve, no pen- samento e na prética dos dirigentes brasileiros, apreciagao uniforme nem li- nearidade de conduta acerca do alcance do multilateral e da politica a seguir. Prevalece, por certo, ao longo do tempo, a avaliacao positiva, ou seja, a idéia de ordenamento universal necessério e conveniente, porém, esse modo de ver 0 multilateralismo foi afetado pela percepcio de que dois desvios com- prometeram sua utilidade para o Pats. Por um lado, a bipolaridade subme- teu 0 multilateralismo a seu jogo desde o fim dos anos 1940, com a diviséo ideol6gica e o combate a0 comunismo, sem que tal ascendéncia trouxesse vantagens ao desenvolvimento, como ocorrera com a divisio do mundo em blocos antagénicos no contexto da Segunda Guerra Mundial. A reagio da inteligéncia politica brasileira a essa frustracdo diante dos resultados do mul- (Beast ouwre 08 ony € 08 ome, ns conrenENciAs wreRNACIONNS, DE OUTROS Onchos... 95 tilateralismo foi a assungao da visio cepalina do mundo dual, centro-peri- feria, e a adogio de estratégin externa concebida para produzir efeitos fora do ordenamento sistémico global inerente & Guerra Fria. O segundo desvio foi percebido quando se constatou que efeitos assimétricos de distribuicéo de beneficios estavam sendo promovidos pelo ordenamento global em cons- trugio desde o fim da bipolaridade. Nesse contexto, a reacéo veio sob a forma de critica & chamada globalizagdo assimétrica formulada pelo proprio Fernando Henrique Cardoso e, depois, no embalo da vitéria eleitoral da opo- sigio, por meio da nova estratégia de acio multilateral durante © governo de Luiz Inicio Lula da Silva, com o fim de realizar a reciprocidade real nas relagées internacionais 4.2 Contribuigao do Brasil a construgao do sistema multilateral do pés-guerra Os estudos de Gerson Moura sobre a transigio do primeiro governo de Getilio Vargas para 0 governo de Eurico Gaspar Dutra descrevem o ambien- te politico criado no Brasil apés a Segunda Guerra Mundial. A colaboracao de guerra e a alianca militar com os Estados Unidos, sobretudo a vit6ria alcan- ada pela democracia face ao totalitarismo, haviam produzido o sentimento de que a nacio dispunha de um capital politico de grande envergadura. Esse sentimento impregnou a diplomacia que nio soube evitar seu superdimen- sionamento. Um erro de cilculo dessa natureza se verifica, por vezes, entre poténcias médias ou pequenas, que fazem de si uma idéia desmesurada do préprio papel no cenério internacional e fogem, ento, do realismo de con- duta. Por aquela época, trés governos latino-americanos exibiam ambicées desmedidas, pondo em descompasso a capacidade de poder sobre 0 cenério internacional e a auto-imagem: a crenga de que o Brasil tornara-se indispen- savel aos Estados Unidos na fixacio dos parimetros da nova ordem global do p6s-guerra; de que a Argentina de Juan Domingo Perén e sua Tercera Posi- cin itiam consertar de pronto essa mesma ordem logo depois de definida; de que a Venezuela de Pérez Jiménez com sua presungio de superioridade advinda da riqueza do petréleo iria comandar o sistema interamericano. Alguns diplomatas brasileiros acreditavam, ento, que o Brasil seria con- sultado sobre as grandes questdes internacionais e que sua palavra exerceria capacidade de determinacio sobre o tracado da nova ordem do pés-guerra Da mesma forma como o governo de Carlos Sail Menem supés que as re-

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