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05/06/2019 Ex-ministros da Educação e da Justiça se unem contra planos de Bolsonaro | Brasil | EL PAÍS Brasil

BRASIL

Ex-ministros da Educação e da Justiça se unem contra


planos de Bolsonaro
Antecessores de Moro, de Governos de siglas distintas, alertam para o
retrocesso que representa o decreto que libera o porte de armas. Os que
precederam Weintraub expressam preocupação com Fundeb e autonomia
universitária

Os ex-ministros da Educação José Goldemberg (1991-1992), Fernando Haddad (2005-2012), Renato Janine
(2015), Murilio Hingel (1992-1995), Cristovam Buarque (2003-2004) e Aloizio Mercadante (2015-2016).
SEBASTIÃO MOREIRA (EFE)

FELIPE BETIM

Jornalista | Periodista - El País

São Paulo - 4 JUN 2019 - 19:44 BRT

Não são poucas as vozes que pedem uma frente democrática suprapartidária para
conter o que consideram ser ameaças à democracia promovidas pelo presidente Jair
Bolsonaro (PSL). Diante da inação dos partidos e lideranças políticas, ex-ministros de

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/04/politica/1559673726_486013.html#?id_externo_nwl=newsletter_brasil_diaria20190605 1/7
05/06/2019 Ex-ministros da Educação e da Justiça se unem contra planos de Bolsonaro | Brasil | EL PAÍS Brasil

vários Governos e vários espectros políticos vêm se unindo para alertar sobre o
desmonte institucional e de políticas públicas em suas áreas. Nesta terça-feira foi a vez
de onze encarregados da pasta de Justiça e seis da pasta de Educação. Os primeiros
publicaram uma carta aberta na Folha de S. Paulo defendendo o controle de armas e
munições e alertando para os "retrocessos" que o decreto assinado no dia 7 de maio,
que facilita a compra e o porte nas ruas para diversas categorias, representa. Já os
últimos se reuniram na Universidade de São Paulo (USP) de manhã e assinaram um
comunicado no qual expressam preocupações urgentes, como a renovação do Fundeb
(Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação) em 2020 e a escalada retórica contra as liberdades e a
autonomia universitária. Há cerca de um mês, oito ex-ministros do Meio Ambiente
também se reuniram na USP para denunciar o desmonte promovido na área.

Os autores da carta na Folha são Aloysio Nunes Ferreira, Eugênio


MAIS INFORMAÇÕES
Aragão, José Carlos Dias, José Eduardo Cardozo, José Gregori, Luiz
Paulo Barreto, Miguel Reale Jr., Milton Seligman, Raul Jungmann,
Tarso Genro e Torquato Jardim. Muitos estão vinculados a partidos
adversários, como o PT e o PSDB, e formaram parte dos últimos
quatro Governos: Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz
Inácio Lula da Silva (2003-2010), Dilma Rousseff (2011-2016) e
Uma inédita frente
Michel Temer (2016-2018). Para que se tenha dimensão dessa união,
de ex-ministros do
Meio Ambiente Reale Jr. foi um dos autores do pedido de impeachment de Rousseff,
contra o desmonte que tinha Cardozo como ministro Justiça, substituído em seguida
de Bolsonaro
por Jungmann na gestão Temer. Apesar de suas diferenças
ideológicas e atritos recentes, decidiram destacar seus pontos em
comum: "Cada um de nós trabalhou para que fosse estabelecida no
país uma política de regulação responsável de armas e munições",
escreveram. "Independentemente dos partidos que estavam no
poder e da orientação dos governos dos quais fazíamos parte, nosso

“Absoluto desastre”:
compromisso sempre foi o de fortalecer avanços que consolidassem
Bolsonaro libera o Brasil como uma referência de regulação responsável de armas e
porte de armas para
munições para a América Latina e para o mundo", acrescentaram
mais de 19 milhões
de pessoas mais adiante.

Corte ou
contingenciamento, Os ex-ministros, responsáveis pela área de Segurança Pública,
quem está certo na
explicaram que "a efetividade das políticas públicas depende de sua
guerra de narrativas
da educação? continuidade, monitoramento e avaliação constantes para que

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possamos aperfeiçoá-las e dar respostas a seus novos desafios".


Eles acreditam que "o controle de armas e munições no Brasil é uma
agenda central para o enfrentamento do crime organizado e para a
redução dos homicídios", cujos índices continuam altíssimos mesmo
com as políticas públicas vigentes —foram cerca de 64.000 em
2017. Por isso, demandam o "fortalecimento" dessas políticas postas
em prática ao longo das últimas duas décadas, impedindo o que
consideram ser "retrocessos".

Ao longo da campanha eleitoral de 2018, o então candidato


Bolsonaro prometeu reiteradas vezes que seu Governo acabaria com
O Brasil por trás do o Estatuto do Desarmamento, aprovado pelo Congresso Nacional em
cartaz de uma
2003. A legislação proíbe que civis circulem com armas e munições
manifestação
pelas ruas e estabelece normas e restrições para a posse em casa,
além de estabelecer mecanismos de controle de produção,
circulação e comercialização. "De acordo com o Mapa da Violência, na década seguinte à
sua aprovação, o Estatuto do Desarmamento ajudou a salvar a vida de cerca de 133.000
brasileiros", escreveram. "Apesar desses avanços, agora se articula o desmantelamento
de uma lei largamente discutida, democraticamente votada e universalmente executada
por diferentes governos", alertaram.

Eles terminam a carta fazendo um apelo. "Como ex-ministros e cidadãos, estamos


convencidos de que ampliar o acesso às armas e o número de cidadãos armados nas
ruas, propostas centrais dos decretos publicados pelo Executivo federal, não é a solução
para a garantia de nossa segurança, de nosso desenvolvimento e de nossa democracia",
argumentaram. "Ao invés de flexibilizar os principais pilares do controle de armas e
munições de nosso país, precisamos proteger o legado das conquistas que
protagonizamos e concentrar nossos esforços na função primordial do Estado: garantir
o direito à vida e a segurança para todos", finalizaram.

Unidos pela Educação


Diante dos duros contingenciamentos —que podem se tornar cortes irreversíveis— na
Educação e a escalada retórica contra professores e universidades, tida como uma
ameaça a autonomia pedagógica e universitária, seis ex-ministros se reuniram também
nesta terça para lançar um comunicado em conjunto. "O Brasil perdeu todo o século XX
na educação, que o Constituinte colocou no alto das prioridades. E os indicadores
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começaram a mudar para melhor. O que exige da nossa parte um compromisso com as
políticas de Estado construidas nos últimos 30 anos", afirmou Fernando Haddad (PT),
que dirigiu a pasta de Educação entre 2005 e 2012 durante os Governos Lula e Dilma
Rousseff.

Além do petista, adversário de Bolsonaro nas últimas eleições, estiveram presentes José
Goldemberg (Governo Fernando Collor), Murílio Hingel (Governo Itamar Franco),
Cristovam Buarque (Governo Lula), Aloizio Mercadante e Renato Janine Ribeiro (os dois
últimos do Governo Dilma). O ministro Paulo Renato Souza (PSDB), que ocupou o
ministério durante o Governo FHC, morreu em 2011, mas a frente de ex-ministros contou
com a colaboração de auxiliares do tucano na elaboração do comunicado. José
Mendonça Bezerra Filho (DEM), que foi ministro do Governo Temer, declinou o convite,
enquanto que Rossieli Soares, seu sucessor na pasta ainda na gestão do emedebista,
não foi chamado por ocupar a secretaria de Educação do governo paulista de João Doria
—o que poderia comprometer suas relações com o Ministério da Educação (MEC).
Outros ocupantes da pasta, como Tarso Genro e Henrique Paim, foram acionados e não
puderam comparecer ou não responderam.

Assim como os ex-ministros da Justiça, destacaram seus pontos em comum. "Somos


pessoas com divergências, mas construímos o consenso diante da importância da
educação. Um consenso que abrange direita, esquerda, organizações, sindicatos,
municípios e estados", destacou Janine Ribeiro. "Sentimos uma ameaça nessa marcha
que foi feita nessas décadas, embora mais devagar do que gostaríamos, com o risco à
autonomia universitária, ao risco financiamento da educação de base nos estados... O
que esta acontecendo é muito pior do que imaginávamos", alertou Buarque. "Estamos
tentando dar nossa contribuição para que essa marcha não seja interrompida, mas, sim,
acelerada", concluiu.

Os seis ex-ministros anunciaram a criação de um Observatório da Educação brasileira


para dialogar com organizações, secretários municipais e estaduais e reitores sobre os
desafios e ameaças de desmonte promovidas pelo Governo Bolsonaro. Asseguram que
também estão abertos ao debate com o MEC, hoje gerido por Abrahaim Wintraub. Entre
suas preocupações mais urgentes, destacaram a expiração do Fundeb em 2020, um
fundo nacional que financia a educação básica nos estados e municípios e ajuda a
promover uma política de valorização dos professores. Criado por FHC 1996 e renovado
por Lula em 2006, deverá ser renovado a partir do ano que vem. Mas até o momento o

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Governo Bolsonaro não deu sinais de como isso será feito. "O Fundeb é um sonho
acalentado por décadas pelos educadores brasileiros, que sempre defenderam a criação
de um fundo nacional que garantisse um investimento mínimo por aluno não importando
seu local de nascimento", explicou Haddad. Já Mercadante defendeu que no "Plano
Nacional de Educação estão as principais metas e estratégias, uma bússola que mesmo
em tempestade econômica deve ser preservada".

Outra preocupação urgente diz respeito à autonomia de professores e universidades.


Bolsonaro ganhou as eleições denunciando uma suposta doutrinação marxista em
colégios e centros de ensino superior, além da promoção do que chama "ideologia de
gênero". Sua incendiária retórica continua a mesma, e Wintraub chegou a anunciar que
cortaria recursos das instituições que promovem "balbúrdia" em seu campus. Contra
esses cortes e discursos, milhares de estudantes e professores ocuparam as ruas de
centenas de cidades nos dias 15 e 30 de maio.

"Quando Bolsonaro disse que queria regredir em 50 anos nos costumes, de alguma
forma ele responsabilizou a Educação por essa imoralidade, que nós chamamos de
liberdade", explicou Janine Ribeiro. "Viver com diversidade é da natureza da
universidade. Tenho a impressão que esses ataques que vêm sendo feitos são mal
dirigidos. Temos experiências de professores de direito que foram braço do regime
militar", argumentou por sua vez Goldemberg, que foi reitor da USP nos anos 80.

As ideias do Governo para a área estão voltadas para a regulamentação do


homeschooling—ensino feito em casa pelos pais—, combate a "ideologia de gênero" e a
implantação do projeto Escola Sem Partido, que promete eliminar uma suposta
doutrinação dentro da sala de aula —seus críticos apontam para a perseguição de
professores e alunos. "A qualidade no Ensino Fundamental sempre melhorou. E no
Ensino Médio também, ainda que menos. Se tiramos o foco disso, da aprendizagem,
vamos piorar de novo. A escola vai perder a centralidade no processo do ensino",
destacou Haddad. Os seis ex-ministros ainda aproveitaram a ocasião para defender
Paulo Freire, patrono da educação brasileira. Sua obra é reconhecida internacionalmente
e estudada nas mais importantes do mundo. Contudo, virou alvo de Bolsonaro, que
promete extirpar o educador das escolas. "Ele é inconveniente porque fazia a associação
entre alfabetização e uma ideia de conscientização e descoberta de que todos são iguais
e têm que ter oportunidades, enquanto outros sistemas podem limitar essa proposição",
destacou Hingel.

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