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PRODUÇÃO CIRCULAR

(ECONOMIA CIRCULAR)
Conceito
O conceito de “produção circular” ou “ economia circular surge
na década de 70 como consequência da profunda crise
ambiental. Muitos ambientalistas e académicos iniciaram uma
reflexão na tentativa de fazer convergir a produção económica
com a preservação do ambiente. Representa, de certa forma,
uma reformulação de vários paradigmas económicos que se têm
sucedido, substituindo-os para procurar mitigar as suas
limitações face aos objetivos ambientais que se propunham
alcançar, ao desgaste da sua utilização indiscriminada e
inconsequente e à necessidade de reanimar políticas económicas.
O Que é um paradigma?
Etimologicamente, Paradigma, vem de “Paradeigma”=
mostrar, manifestar.
Conjunto de conceitos, princípios e valores explícitos
duma disciplina, metodologia, etc.

Thomas Kuhn (1962): “Conjunto de realizações cientificas


universalmente reconhecidas que durante certo tempo,
proporcionam modelo de problemas e soluções à uma
comunidade cientifica.
Breve panorâmica histórica
De facto foi nos anos 70 que se registou uma serie de reflexões sobre a temática

No domínio político, destacam-se dois acontecimentos


importantes nesta década: 1) O primeiro verificou-se nos Estados
Unidos de América, em 1970, com a primeira celebração do DIA
da Terra, uma iniciativa do Senador Gaylord Nelson, com o
objetivo de suscitar uma manifestação nacional de protesto
contra a poluição e promover uma agenda política sobre a
política ambiental. Esta iniciativa deu lugar à publicação de
legislação ambiental e à criação da Agência de Protecção
Ambiental dos Estados Unidos da America, considerada uma das
entidades governamentais com maior notoriedade no âmbito da
protecção do ambiente
Breve panorâmica histórica

O segunda acontecimento teve lugar dois anos depois, que


foi a realização, em Estocolmo (Suécia), da primeira
Conferência Internacional Sobre o Ambiente, sob o
amparo das Nações Unidas. A partir desse momento,
alguns países iniciaram as suas primeiras políticas do
ambiente
Breve panorâmica histórica

É neste contexto que surgem as duas organizações mais


conhecidas pela Opinião pública: a Friends of the
Earth, criada em 1970, nos EUA, e a Greenpeace,
fundada em 1971 no Canadá.
Breve panorâmica histórica

Paralelamente, na área de economia, é também na década de


70, e na sequencia da crise do petróleo da OPEP
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que a
economia ambiental surge uma subárea disciplinar
preocupada com as externalidades ambientais resultantes da
actividade económica, procurando, através do recurso a
metodologia de análise custo - beneficio e de avaliação
monetária, que o crescimento económico se mantenha,
embora internalizando custos ambientais do uso dos
recursos e da poluição gerada.
Breve panorâmica histórica

A incapacidade da economia para alterar as causas dos


problemas ambientais levou ao aparecimento, na década
de 80, de uma segunda escola de pensamento, a
economia ecológica, com uma abordagem mais centrada
nas relações sistémicas entre a economia, os ecossistemas
e as questões sociais, ou seja, mais preocupadas com o
desenvolvimento sustentável.
Em síntese, a produção circular
“descreve um sistema económico baseado em modelos de negócio que
substituem o conceito de fim de vida de um produto, quando já praticamente
corresponde ao que actualmente se consideram os respectivos resíduos, por
um outro que preconiza a redução destes resíduos ou, em alternativa, a sua
reutilização, reciclagem e recuperação de materiais nos processos de
produção/distribuição e consumo, aplicados tanto a um micronível (produtos,
empresas, consumidores), como a nível intermédio (parques ecoindustriais),
ou ainda a um macronivel (cidade, região, país ou espaços alargados),
visando o desenvolvimento sustentável, com as implicações inerentes para a
qualidade do ambiente, a prosperidade económica e a equidade social, a
benefício das gerações actuais e futuras” (Patrão Neves, MC & Graça
Carvalho, M, 2018:214).
2. Questões éticas.
Segundo as projecções da Organização das Nações Unidas, até
2050, a população mundial poderá aumentar dos actuais 7.6 mil
milhões para mais de 9,8 mil milhões de habitantes, sendo
expectável que o rendimento médio per capita triplique. Em
consequência , prevê-se que a procura e o consumo global de
recursos (energia, alimentos e recursos naturais),
concomitantemente, no mínimo dupliquem naquele período
(United Nations, 2017)
Questões éticas
Neste cenário, e a manter-se os actuais modelos e padrões de
produção e de consumo, seriam necessários os recursos
naturais de quase três planetas Terra para se manter a actual
qualidade de vida da humanidade, ou seja, produzir mais 60%
de alimentos, 50% de energia, 40% de água, sendo previsíveis,
pelo correspondente aumento da extração de recursos, sua
utilização e eliminação como resíduos, consequências
económicas e sociais graves, com impactos negativos na saúde e
no ambiente nomeadamente um acréscimo de 50% de emissão
de gases com efeito de estufa e a perda do 10% da
biodiversidade.
Questões éticas

Ora, estando o Homem, por enquanto e por tempo


ainda indeterminado, confinado a este planeta de
recursos naturais finitos e com limitada
capacidade para absorver os efeitos colaterais do
progresso, a adopção de mecanismos, modelos ou
práticas que procurem assegurar o
desenvolvimento sustentável tornou-se numa
questão ética.
Questões éticas
As responsabilidades das gerações actuais de procurarem
assegurar condições de vida idênticas para as gerações
futuras é algo que, sendo o Homem um ser moral,
resultante da sua evolução social e cultural, potenciada pela
acumulação de conhecimento e de experiência que a sua
natureza lhe permitiu, apela à dimensão normativa da
moral, consubstanciada na ética das decisões e das atitudes.
Questões éticas
todos os que ignorem ou deixem de desempenhar esta
responsabilidade incorrem em flagrante atropelo da ética inerente
à transitoriedade da vida. Com efeito, se, por um lado, cabe aos
governantes impor orientações normativas que concorram para
que os modelos sociais e económicos, sem perda de liberdade,
contribuam eficazmente para que o direito à vida se perpetue, por
outro, cabe ao cidadão comum, enquanto consumidor ou eleitor,
não abdicar do exercício de uma cidadania plena que inclua, nas
exigências da dignidade humana, o direito de usufruir de um
ambiente saudável e de o preservar.
Questões éticas
A sociedade actual evidencia aspirações contraditórias:
almeja um forte crescimento industrial, gerador de
empregos e de elevados rendimentos, principalmente á
custa do consumo, e, simultaneamente, um modo de vida
de melhor qualidade baseado numa gestão sustentável de
recursos.
Questões éticas
A esperança que se deposita na economia circular
enquanto solução prática para a emergente crise de
recursos do planeta, através da redução do consumo de
recursos decorrentes da maior disponibilidade de
matéria prima e secundária a circular no mercado, é
ainda do domínio da utopia política.
Questões éticas
A crise não se resolverá apenas com a fixação de algumas
metas por alterações legislativas no sector dos resíduos,
pelo contrário, reclama uma mudança cultural profunda
e necessariamente morosa.
Questões éticas
A sustentabilidade, que é o objetivo que suporta a
economia circular, alicerça-se em três pilares
fundamentais: o social, o económico e o ambiental,
Contudo, as referencias públicas dirigidas à economia
circular têm sido praticamente omissas em relação à
componente social.
Questões éticas
Comparativamente ao conceito de desenvolvimento sustentável e às
preocupações sociais expressas no Relatório Brundtland (WORLD
COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987),
que incluem o legado intergeracional dos recursos, a pobreza, o
emprego, a qualidade de vida, a justiça e a equidade como condição para
uma participação efectiva da sociedade na tomada de decisões que visam
o desenvolvimento sustentável, a economia circular não reconhece de
forma explícita os aspectos sociais que inevitavelmente lhe estão
associadas, concentrando-se mais no redesenho dos sistemas de
produção e nos serviços.
Conclusão
A produção circular abre o debate ético associado às
diferentes etapas que compõem este novo paradigma
económico que procura reverter a utilização desmesurada de
recursos naturais.

A questão de fundo centra-se no que poderão ser os limites


éticos da utilização intergeracional de recursos, dada a
condição, por enquanto inexorável (inflexível) da sua
finitude.
Conclusão
O problema está em determinar qual é a fracção de recursos
eticamente aceitável a ser usada por uma geração,
transformando-os, para usufruir dos correspondentes
benefícios.
Acresce que, como é natural, ninguém desejará ver retroceder
níveis de conforto que o progresso permitiu atingir ou que já
se podem antever, face ao imparável desenvolvimento
científico e tecnológico
Conclusão
Por outro lado, não sendo homogénea a distribuição de
recursos no planeta, não poderia ser expectável que o seu uso
deixasse de reproduzir uma grande diversidade das formas
como são valorizados, principalmente, decorrentes da
manutenção de níveis de qualidade de vida ou, nas zonas
menos desenvolvidas, para, tendencialmente, procurar que os
níveis prevalecentes possam evoluir para os padrões mais
elevados.
Conclusão

É talvez por esta complexidade e por não existir um direito


planetário sobre o uso de recursos, ao qual todos se deveriam
submeter, que a fronteira da moral, que permitiria distinguir
o que é ético do que é aceitável, não tem, nem é previsível que
venha a ter, contornos bem definidos.
Conclusão
Esta dificuldade não deve, no entanto, poder justificar que
tudo se mantenha como até hoje, num deplorável
alheamento (frenesi) que, a prosseguir, conduzirá ao
esgotamento dos recursos. Pelo contrário, há que adoptar
essa dificuldade como um dado do problema e, no mínimo,
procurar desacelerar a vertiginosa evolução do uso
crescente de recursos.
Conclusão

A minimização do uso de recursos que a produção circular


pode assegurar, embora não resolvendo o problema ético
intergeracional, ou seja, não sendo evidente quantificar o que
é razoável ser utilizado hoje sem prejudicar as gerações
futuras, pode contribuir, de momento, a melhor abordagem
disponível para o uso de recursos naturais finitos, podendo
assim considerar-se que a sua prossecução se insere na ética
possível para o compromisso entre bem-estar e natureza.
Conclusão

Neste novo modelo que aposta que cada matéria é usada e


re-utilizada, a ética deverá presidir às decisões que
assegurem a circularidade da produção, do licenciamento
industrial, à regulamentação de características de
matérias-primas secundárias, a imposição no âmbito da
reutilização e reciclagem de resíduos.
Conclusão
Promover o bem-estar social pelo crescimento económico,
principalmente suportado pelo consumo, sem cuidar de
minimizar o uso de recursos naturais associado, isto é, sem
promover eficazmente a produção circular, é um atropelo de
ética agravado, porque, por condição de temporalidade, serão
as gerações futuras a sofrer as consequências sem sequer
disso poderem responsabilizar as gerações actuais.

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