You are on page 1of 9

RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.

3 Jul/Set 2000, 21-29

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS PAVIMENTOS PERMEÁVEIS NA


REDUÇÃO DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Paulo Roberto de Araújo, Carlos E. M. Tucci e Joel A. Goldenfum


Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS - Porto Alegre – RS
Caixa Postal 15029 – CEP 91501-970 – Porto Alegre, RS

RESUMO simplesmente transferem a inundação de um ponto


para outro a jusante na bacia sem que se avaliem
os reais benefícios da obra. Estas ações de visão
A utilização dos pavimentos permeáveis
local atuam sobre o efeito e não sobre as causas
em áreas urbanas visa: reduzir a vazão drenada
do aumento da vazão, que são: o aumento das
superficialmente, melhorar a qualidade da água e
superfícies impermeáveis; aumento da densidade
contribuir para o aumento da recarga de água sub-
de drenagem (microdrenagem); redução da rugosi-
terrânea.
dade; mudanças de geometria de cursos d’água
Neste estudo foi avaliada a eficiência dos naturais.
pavimentos permeáveis na redução do escoamento A tendência moderna na área de drenagem
superficial, através de simulações experimentais, urbana, é a busca da manutenção das condições
comparando o escoamento gerado em diversos de pré-desenvolvimento atuando na fonte da gera-
tipos de pavimento e no solo compactado. Foram ção do mesmo. Para tanto deve-se utilizar de dis-
efetuados experimentos utilizando simulador de positivos de acréscimo de infiltração e do aumento
2
chuva em módulos de 1 m , para quatro diferentes de retardo do escoamento.
tipos de coberturas urbanas: a) terreno existente;
Um tipo de dispositivo utilizado com este
b) superfícies semi-permeáveis; c) superfícies im-
fim é o pavimento permeável, que é capaz de re-
permeáveis e; d) superfícies permeáveis.
duzir volumes de escoamento superficial e vazões
A análise comparativa entre os pavimentos de pico a níveis iguais ou até inferiores aos obser-
permeáveis e os outros tipos de pavimentos permi- vados antes da urbanização, redução do impacto
tiu avaliar a redução no escoamento superficial da qualidade da água e dos sedimentos.
gerado e fornecer elementos para escolha desta Neste estudo são apresentadas a instala-
solução em diferentes projetos de áreas urbanas, ção experimental e as simulações utilizadas com o
tais como estacionamentos e passeios de áreas objetivo de analisar a eficiência de pavimentos
públicas e privadas. permeáveis na redução de escoamento superficial,
em comparação com solo compactado e também
com pavimentos impermeáveis e semi-permeáveis.
INTRODUÇÃO

A ocupação urbana através de áreas im- PAVIMENTO PERMEÁVEL


permeáveis como telhados, passeios, ruas, esta-
cionamentos e outros, altera as características de Pavimento Permeável é um dispositivo de
volume e qualidade do ciclo hidrológico, trazendo infiltração onde o escoamento superficial é desvia-
como resultado o aumento das enchentes urbanas do através de uma superfície permeável para den-
e a degradação da qualidade das águas pluviais. tro de um reservatório de pedras localizado sob a
A drenagem urbana tem sido desenvolvida superfície do terreno (Urbonas e Stahre, 1993).
com o princípio de drenar a água das precipitações Segundo Schueller (1987), os pavimentos permeá-
o mais rápido possível para jusante, produzindo veis são compostos por duas camadas de agrega-
aumento da freqüência e magnitude das enchen- dos (uma de agregado fino ou médio e outra de
tes. Este aumento traz consigo o acréscimo da agregado graúdo) mais a camada do pavimento
produção de lixo e a deteriorização da qualidade permeável propriamente dito.
da água. O escoamento infiltra rapidamente na capa
As ações públicas para as soluções desses ou revestimento poroso (espessura de 5 a 10 cm),
problemas no Brasil estão voltadas, na maioria das passa por um filtro de agregado de 1,25 cm de
vezes, somente para as medidas estruturais. As diâmetro e espessura de aproximadamente 2,5 cm
soluções geralmente encontradas por parte do e vai para uma câmara ou reservatório de pedras
poder público têm sido as redes de drenagem, que mais profundo com agregados de 3,8 a 7,6 cm de

21
Avaliação da Eficiência dos Pavimentos Permeáveis na Redução de Escoamento Superficial

diâmetro. A capa de revestimento permeável so- mente) com uma manutenção preventiva, evitando
mente age como um conduto rápido para o escoa- assim o seu entupimento.
mento chegar ao reservatório de pedras. O As principais limitações destes dispositivo
escoamento, neste reservatório, poderá então ser podem ser:
infiltrado para o subsolo ou ser coletado por tubos
de drenagem e transportado para uma saída. As- · quando a água drenada é fortemente con-
sim, a capacidade de armazenamento dos pavi- taminada, haverá impacto sobre o lençol
mentos porosos é determinada pela espessura do freático e o escoamento subterrâneo;
reservatório de pedras subterrâneo (mais o escoa- · falta de controle na construção e manuten-
mento perdido por infiltração para o subsolo). ção que podem entupir os dispositivos tor-
Urbonas e Stahre (1993) classificam os pa- nando-os ineficientes.
vimentos permeáveis basicamente em três tipos
(Figura 1):
DIMENSIONAMENTO DO PAVIMENTO
i. pavimento de concreto poroso; PERMEÁVEL
ii. pavimento de asfalto poroso;
iii. pavimento de blocos de concreto vazados Equações - O dimensionamento envolve a de-
preenchidos com material granular, como terminação do volume drenado pela superfície ou
areia ou vegetação rasteira, como grama. por outra contribuinte que escoe para a área do
pavimento. A precipitação é obtida com base no
A camada superior dos pavimentos poro- tempo de retorno escolhido e da curva intensidade,
sos (asfalto ou concreto) é construída de forma duração e freqüência do local.
similar aos pavimentos convencionais, mas com a Para o dimensionamento de um sistema de
retirada da fração da areia fina da mistura dos a- infiltração total (sem tubos de drenagem na parte
gregados do pavimento. superior do reservatório), o reservatório de pedras
Os blocos de concreto vazados são colo- deve ser grande o suficiente para acomodar o vo-
cados acima de uma camada de base granular lume do escoamento de uma chuva de projeto
(areia). Filtros geotêxteis são colocados sob a ca- menos o volume de escoamento que é infiltrado
mada de areia fina para prevenir a migração da durante a chuva. O volume de escoamento superfi-
areia fina para a camada granular. cial gerado pela precipitação pode ser estimado
Urbonas e Stahre (1993) mencionam que através de:
não existem limitações para o uso do pavimento
permeável, exceto quando a água não pode infiltrar Vr = (ip + c – ie) . td (1)
para dentro do subsolo devido a baixa permeabili-
onde Vr é o volume de chuva a ser retido pelo re-
dade do solo ou se o nível do lençol freático for
servatório (em mm), ip é a intensidade máxima da
alto, ou ainda se houver uma camada impermeável
chuva de projeto (em mm/h), ie é a taxa de infiltra-
que não permita a infiltração. Neste caso o pavi-
ção do solo (em mm/h), td é o tempo de duração da
mento permeável poderá funcionar como um poço
chuva (em horas) e c um fator de contribuição de
de detenção, utilizando para isso uma membrana
áreas externas ao pavimento permeável, que pode
impermeável entre o reservatório e solo existente.
ser estimado pela equação:
O sistema de drenagem com tubos perfurados
espaçados de 3 a 8 m deve completar este disposi-
i p .Ac
tivo nesta situação. O sistema deverá prever o c= (2)
esgotamento do volume num período de 6 a 12 Ap
horas. Há, igualmente, restrição quando a qualida-
de da água de infiltração levar à poluição de águas onde Ac é área externa de contribuição para o
subterrâneas. pavimento permeável e Ap é área de pavimento
A utilização dos pavimentos permeáveis, permeável.
em um contexto geral, pode proporcionar uma re- A profundidade do reservatório de pedras
dução dos volumes escoados e do tempo de res- do pavimento permeável é determinado por:
posta da bacia para condições similares ou até
mesmo, dependendo das características do subso- Vr
H= (3)
lo, condições melhores que as de pré- f
desenvolvimento, desde que seja utilizado racio-
nalmente, respeitando seus limites físicos, e desde onde H é a profundidade do reservatório de pedras
que seja conservado periodicamente (trimestral- (em mm) e f é a porosidade do material.

22
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.3 Jul/Set 2000, 21-29

(i) e (ii) Concreto ou Asfalto Poroso (iii) Blocos de Concreto Vazados

Figura 1. Pavimento permeável (Urbonas e Stahre, 1993).

A porosidade pode ser determinada pela água a reter pode-se estimar a profundidade do
equação: reservatório de pedras. Aconselha-se, por questões
práticas, utilizar profundidade mínimas do reserva-
VL + VG tório de pedras de 15 cm.
f = (4)
VT
INSTALAÇÃO EXPERIMENTAL
onde VL é o volume de líquidos, VG é o volume de
vazios e VT é o volume total da amostra. O experimento, efetuado na área do Institu-
to de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade
Estimativa dos parâmetros - Os pavimen- Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), consistiu
tos permeáveis somente são viáveis para taxa de na simulação de chuvas sobre diferentes tipos de
infiltração superior a 7 mm/h. Para a sua estimativa superfície.
deve-se realizar uma sondagem a uma profundida- As simulações de chuva têm por objetivo
de de 0,6 a 1,2 m abaixo do nível inferior do reser- determinar as leis de infiltração e o escoamento
vatório de pedras a fim de verificar o tipo de solo superficial na escala pontual para relacioná-la pos-
existente (já que tipos de solos com um percentual teriormente com a dinâmica da água em parcelas e
superior a 30% de argila ou 40% de silte e argila bacias maiores. Elas fornecem um melhor conhe-
combinados não são bons candidatos para este cimento dos processos básicos da produção de
tipo de dispositivo). A camada impermeável ou o escoamento em diversas situações, no espaço e
nivel do lençol freático no período chuvoso deve no tempo, permitindo comparar a eficácia do uso
estar pelo menos 1,2 m abaixo do pavimento. dos pavimentos permeáveis em relação a outros
Para determinar a profundidade do tipos de coberturas na redução do volume de água
reservatório de pedras, é necessário selecionar o de um escoamento superficial gerado por um de-
tipo de material a ser utilizado no mesmo. Schueller terminado evento de chuva.
(1987) recomenda o uso de brita 3 ou 4 no reserva- O simulador de chuvas utilizado nas simu-
tório de pedras. lações foi o aparelho concebido por Asseline e
Foram feitos alguns ensaios de porosidade Valentin (1978). Segundo Silveira e Chevallier
para uma brita 3 (comercial) e chegou-se a valores (1991), este simulador tem a capacidade de gerar
de porosidade da ordem de 40 a 50%. Desta for- precipitações com intensidades variáveis sobre
2
ma, com os valores de porosidade e volume de uma parcela alvo de 1 m .

23
Avaliação da Eficiência dos Pavimentos Permeáveis na Redução de Escoamento Superficial

A água é bombeada a uma vazão constan- A simulação no solo compactado foi efetu-
te até um aspersor fixado a um braço, cujo movi- ada para se ter um parâmetro das condições de
mento pendular define a intensidade da chuva pré-urbanização do local de testes. É provável que
2
aspergida sobre a parcela de 1 m . O dispositivo de o terreno escolhido tenha as suas condições natu-
aspersão é fixado no topo de uma torre metálica de rais de infiltração modificadas, em função de ter
aproximadamente 4 m de altura. As quatro faces havido um pré-adensamento por motivo do tráfego
laterais da torre são cobertas com tecido resistente que existiu no passado. Este fato coincide com
para minimizar o efeito do vento sobre o jato do uma situação generalizada que ocorre nas áreas
aspersor. O circuito hidráulico é composto de uma urbanas, onde o solo natural é alterado sofrendo
bomba elétrica e um tonel d’água, que alimenta o uma compactação mecânica natural, além de mis-
aspersor através de um conjunto de mangueiras. turas com outros materiais de diferentes granulo-
Dois manômetros, um colocado logo a jusante da metrias.
bomba elétrica e outro no alto da torre, servem A parcela de solo compactado tinha decli-
para controlar a pressão, que deve ser constante e vidade variando de 1 a 3% (declividade média de
compatível com a vazão do aspersor. Para realizar 2%). A superfície apresentava-se coberta por vege-
2
as medições na parcela de 1 m , esta é isolada por tação rasteira típica da região. O solo é argiloso até
um quadro metálico vazado cravado na superfície a a profundidade de 70 cm segundo classificação
ser avaliada. No lado que recebe o fluxo do esco- USDA (Cauduro e Dorfman, 1990). Após esta pro-
amento superficial há pequenos furos (que devem fundidade o solo está classificado como franco.
estar posicionados ao nível do terreno) pelos quais
a água atinge uma calha coletora que reúne todo o
fluxo e o remete, por um tubo, à cuba de um Pavimento impermeável
linígrafo (Silveira e Chevallier, 1991).
Foi necessário efetuar-se simulações de
chuva sobre uma parcela impermeável para se ter
SUPERFÍCIES ESTUDADAS um parâmetro de comparação de locais totalmente
impermeabilizados, como passeios, estacionamen-
As superfícies escolhidas para execução tos de “shopping centers” e supermercados. A su-
dos ensaios de simulação de chuva foram (Figu- perfície escolhida para representar a parcela
ra 2): impermeável foi o pavimento de concreto de cimen-
to, areia e brita (Figura 2), devido ao fato de tal
· Solo compactado com declividade de 1 a superfície ser muito utilizada nos locais citados
3%; anteriormente e por ser de fácil execução.
· Pavimentos impermeáveis: uma parcela de O pavimento de concreto foi construído em
concreto convencional de cimento, areia e um módulo de dimensões 3 x 3 m e espessura entre
brita, com declividade de 4%; 10 e 12 cm, sendo isolada uma parcela de 1 m 2 atra-
· Pavimentos semi-permeáveis: uma parcela vés de um quadro metálico chumbado no pavimento.
de superfície com pedras regulares de gra- A construção foi efetuada de modo que o pavimento
nito com juntas de areia, conhecidas por ficasse no mesmo nível da rua.
paralelepípedos, com declividade de 4%; e
outra parcela revestida com pedras de
Pavimentos semi-permeáveis
concreto industrializado tipo “pavi S” igual-
mente com juntas de areia, conhecida por
Foram utilizados dois tipos de pavimentos
blocket, com declividade de 2%; semi-permeáveis: blocos de concreto industrializado
· Pavimentos permeáveis: uma parcela de do tipo “Pavi S” (blockets) e paralelepípedos de grani-
blocos de concreto com orifícios verticais to (Figura 2). A escolha destes pavimentos ocorreu
preenchidos com material granular (areia) em função de que tais superfícies são muito utilizadas
com declividade de 2% e uma parcela de na região da grande Porto Alegre e por apresentarem
concreto poroso com declividade de 2%. uma boa taxa de infiltração de água por suas juntas
de areia.
Os pavimentos de blocos de concreto e de
Solo compactado paralelepípedos já existiam na área experimental,
construídos para experimentos anteriores, sendo que
A parcela de solo compactado (Figura 2) foi a escavação de cada superfície foi feita de modo que
instalada sobre uma antiga rua de chão batido (que a superfície ficasse no mesmo nível da rua e que as
hoje se encontra desativada), executada em um pedras ficassem confinadas lateralmente (Genz,
corte do terreno natural há mais de 40 anos atrás. 1994).

24
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.3 Jul/Set 2000, 21-29

Figura 2. Pavimentos simulados.

2
As pedras interiores na parcela de 1 m zados e vazados do tipo “S” e uma parcela de
de paralelepípedo têm um tamanho médio de concreto poroso (Figura 2).
13 x 18 cm, em 7 linhas paralelas à face coleto-
ra. As juntas têm uma largura média de 1 cm No dimensionamento do reservatório de pe-
e perfazem 6 linhas contínuas, paralelas à face dras foi utilizado o sistema de infiltração total, onde a
coletora, com 6 juntas por cada linha de pedra. As única maneira da água sair do reservatório de pedras
2 é através da infiltração para o subsolo. Foi adotada
pedras interiores da parcela de 1 m de blocos de
concreto industrializados formam nove linhas no chuva de duração de 10 min, com período de retorno
sentido paralelo à face coletora, possibilitando 8 de 5 anos. Utilizando-se a curva IDF do Posto Reden-
linhas de junta, com cinco juntas por linha de pedra ção, na cidade de Porto Alegre (Goldenfum et al.,
e juntas com espessura média de 4 mm. 1990), obtém-se a intensidade máxima de chuva igual
a 111,9 mm/h, estimando-se, portanto, o volume a ser
Antes de começar as simulações foi ne-
retido pelo reservatório em 17,5 mm. Sendo a porosi-
cessário executar uma limpeza em ambas as su- dade da brita 3 igual a 46%, obteve-se uma altura de
perfícies, pois apresentavam-se cobertas por reservatório de 37,3 mm. Esta profundidade é baixa
vegetação rasteira do tipo capim. Esta vegetação porque foi utilizada uma chuva com período de retor-
indica a presença de matéria orgânica e sedimen- no relativamente pequeno e por não haver áreas de
tos mais finos nas juntas de areia dos pavimentos e contribuição externas para o pavimento permeável.
possivelmente este material possa a vir reduzir a Como seria impossível a execução de uma camada
taxa de infiltração destas superfícies devido ao de brita com esta espessura, já que a própria dimen-
entupimento causado por estas partículas. Esta são da brita ultrapassaria aquela altura, resolveu-se
situação, mais uma vez, coincide com uma situa- adotar uma profundidade de 150 mm, correspondente
ção generalizada que ocorre a estes tipos de pavi- à mínima espessura verificada em projetos semelhan-
mentos, onde as partículas são carreadas para as tes.
juntas e o entupimento é inevitável.

Blocos Vazados - O módulo de blocos vaza-


Pavimento permeável dos foi construído para que a superfície pronta
ficasse no mesmo nível da superfície e os blocos
Foram utilizadas duas superfícies de pavi- ficassem confinados lateralmente. A escavação foi
mentos permeáveis: blocos de concreto industriali- executada em uma área de 2,0 x 2,0 m, com pro-

25
Avaliação da Eficiência dos Pavimentos Permeáveis na Redução de Escoamento Superficial

fundidade de 20 cm. No centro desta foi novamente las de solo compactado, pavimento impermeável
escavado no terreno uma abertura com área de (concreto), pavimentos semi-permeáveis (blocos de
1,0 x 1,0 e espessura de 15 cm, com a função de concreto e paralelepípedos) e pavimento permeá-
futuramente ser o reservatório de pedras dos pavi- vel (blocos de concreto vazados). O resumo dos
mentos permeáveis. O solo, na base da abertura, resultados das simulações pode ser observado na
não foi compactado para evitar uma redução na Tabela 2.
capacidade de infiltração do terreno. Na base da O coeficiente de escoamento é obtido pela
abertura de 1,0 x 1,0 foi colocado um filtro geotêxtil razão entre a chuva e o escoamento totais. A umi-
com a finalidade de separar o agregado graúdo do dade do solo antes da simulação de chuva foi cal-
solo e assim evitar a migração do solo para o re- culada a partir da calibração da curva de umidade
servatório de pedras, quando este estiver na condi- em relação à contagem de sonda de nêutrons e
ção de enchimento. O vão de 1,0 x 1,0 m foi está referenciado à profundidade de 50 cm.
preenchido com brita 3 de granito até o topo, perfa- Os escoamentos foram discretizados em
zendo uma espessura final de agregado igual a intervalos de 30 segundos e, por apresentarem
15 cm. Após a compactação manual do agregado, grande variabilidade em decorrência desta discreti-
novamente foi colocado um tecido geotêxtil sobre a zação, passaram por um filtro de média móvel dos
camada de agregado com a finalidade de prevenir 3 primeiros elementos. Em função deste filtro os
a migração da areia média da camada superior hidrogramas começam a decair antes dos 10 minu-
para dentro do reservatório de pedras. Uma cama- tos (tempo de duração da simulação). A Figura 3
da de 10 cm de areia média foi colocada sobre apresenta os escoamentos superficiais observados
todo o módulo de 2,00 x 2,00. Por fim, os blocos nas simulações.
vazados foram assentados sobre a areia e as jun- Nas simulações no módulo de concreto ob-
tas e os orifícios dos blocos de concreto foram servou-se escoamento superficial imediatamente
preenchidos com areia. A declividade final da par- após o início da chuva. O coeficiente de escoamen-
cela ficou em 2%. to neste pavimento foi 44% superior ao da simula-
ção no solo compactado. Este coeficiente mostra
Concreto poroso - O pavimento de concreto que praticamente toda a chuva gerou o escoamen-
poroso (também denominado concreto sem finos) to coletado na cuba do linígrafo. A diferença (5%)
foi executado seguindo o traço 1:6 da Tabela 1, entre os volumes precipitado e escoado se deu
com brita 1 (comercial) de granito. O concreto sem devido à parcela de água que fica retida no quadro
finos deve ser pouco adensável e a vibração apli- metálico e a uma pequena absorção no concreto,
cada por períodos muito curtos, para que a pasta não sendo registrada pelo linígrafo. Ao término da
de cimento não escorra para o fundo. Também não simulação, o tempo de esvaziamento foi maior que
se recomenda o adensamento com soquetes pois o das outras superfícies. Isto ocorreu devido ao
podem resultar massas específicas localizadas armazenamento de água nas irregularidades da
elevadas. Para o concreto sem finos não existem superfície do concreto e também pelo acúmulo de
ensaios de trabalhabilidade; somente é possível água dentro do quadro metálico, causado por falta
avaliar visualmente se a camada de revestimento de capacidade de vazão do tubo que saía da face
das partículas é adequada. Os concretos sem finos coletora. Este resultado reforça a necessidade de
têm baixo valor de coesão; por isso as formas de- utilização de dispositivos de redução do escoamen-
vem ser mantidas até que se tenha desenvolvido to superficial, uma vez que o excesso gerado em
uma resistência suficiente. A cura úmida é impor- áreas cobertas com este tipo de pavimento (ou
tante, especialmente em climas secos e com ocor- outros pavimentos impermeáveis) contribui direta-
rência de vento devido às pequenas espessuras da mente para o crescimento das cheias urbanas.
pasta de cimento (Neville, 1982). Nas simulações nas superfícies semi-
A construção foi semelhante à dos blocos permeáveis o escoamento superficial também co-
vazados com a única diferença no revestimento meça imediatamente após o início da chuva, mas
superficial, que foi o concreto poroso com espessu- os volumes gerados são inferiores aos do concreto.
ra de 15 cm. Na simulação no módulo de paralelepípedos, o
coeficiente de escoamento é, inclusive, menor do
que o observado no solo compactado: nos blocos
SIMULAÇÃO DAS SUPERFÍCIES de concreto observou-se coeficiente de escoamen-
to 22% superior ao do solo compactado; nos para-
Foram efetuadas simulações da chuva de lelepípedos foi registrado coeficiente de escoamen-
projeto (duração de 10 min, período de retorno de 5 to 11% menor que o do solo compactado. Pode-se
anos e intensidade de 111,9 mm/h) sobre as parce- concluir que, embora não haja garantia de manu-

26
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.3 Jul/Set 2000, 21-29

Tabela 1. Característica dos concretos sem finos para agregado de 9,5 a 19 mm. (McIntosh,
Botton e Muir, 1956 apud Neville, 1982).

Relação Cimen- Relação Massa Resistência a


to/agregado Água/cimento Específica Compressão
3
em volume em masas (Kg/m ) 28 dias - MPa

1:6 0,38 2020 14


1:7 0,40 1970 12
1:8 0,41 1940 10
1 : 10 0,45 1870 7

Tabela 2. Resultados das simulações de chuva nas superfícies simuladas.

Solo Concreto Bloco de Paralele- Concreto Blocos


Compactado Concreto pípedo Poroso Vazados

Data 03/06/98 28/10/98 29/07/98 13/10/98 13/04/99 27/01/99


Hora Início 14h06min 15h15min 15h20min 11h20min 14h55min 10h08min
Intensidade simulada (mm/h) 112 110 116 110 120 110
Chuva total (mm) 18,66 18,33 19,33 18,33 20,00 18,33
Escoamento total (mm) 12,32 17,45 15,00 10,99 0,01 0,5
Coeficiente de escoamento 0,66 0,95 0,78 0,60 0,005 0,03
3 3
Umidade inicial do solo (cm /cm ) 32,81 32,73 32,71 32,72 0,329 32,24
Esc. Sup. (mm/h)

120
Término
da chuva
100

80

60

40

20

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Tempo (min.)
Solo Compac. Blockets Paralelepípedo Concreto Bloc. Vazados Conc. Poroso
s

Figura 3. Escoamento superficial observado nas diversas superfícies ensaiadas.

27
Avaliação da Eficiência dos Pavimentos Permeáveis na Redução de Escoamento Superficial

tenção das condições de pré-desenvolvimento, há para o controle dos volumes escoados. Levando
uma significativa redução em comparação com o em conta seu baixo poder de suporte e problemas
escoamento gerado em superfícies impermeáveis. de manutenção, recomenda-se que estes pavimen-
Seu uso em áreas urbanas, embora possa acarre- tos sejam utilizados em calçadas e em estaciona-
tar aumento de escoamento superficial em relação mentos para veículos leves em áreas de “shopping
a áreas ainda não ocupadas, pode contribuir para o centers” e grandes supermercados.
controle da geração de escoamento superficial
quando instalados em substituição a pavimentos
impermeáveis. ANÁLISE DO CUSTO
É importante ressaltar que se observou um
volume de escoamento gerado no pavimento de O custo obtido para a implantação de cada
paralelepípedo bastante inferior ao dos blocos de pavimento pode ser visto na Tabela 3. Todos os
concreto. As possíveis causas para tal diferença componentes de material e mão-de-obra foram
são: retirados de REGISUL (1999). Nos custos de mão-
de-obra foram incluídos todos os custos indiretos
gastos com encargos sociais.
· a área da junta da parcela de blocos de
O uso de pavimentos permeáveis pode e-
concreto é menor do que a de paralelepí-
liminar a necessidade de caixas de captação e
pedos, o que se traduz em menor capaci-
tubos de condução da água, pois o dispositivo pra-
dade de infiltração. Os blocos de concreto
ticamente não gera escoamento quando as condi-
têm uma junta de aproximadamente 4 mm,
ções locais permitem sua adoção prevendo-se
perfazendo uma área média de juntas de
infiltração plena no solo.
5% da área da parcela, enquanto que o
Além dos custos de implantação dos pavi-
pavimento de paralelepípedos têm uma
mentos permeáveis existe o custo de manutenção
junta de aproximadamente 10 mm, corres-
que consiste na limpeza dos poros dos pavimentos
pondendo a uma área média de 10% da
porosos (concreto poroso) com jatos d’água e má-
área da parcela;
quinas de aspiração de sedimentos e poeiras. Es-
· o pavimento de paralelepípedo é mais irre- tes custos não foram estimados devido à
gular que o dos blocos de concreto possu- inexistência de empresas especializadas na manu-
indo mais depressões nas juntas e tendo, tenção deste tipo de dispositivo no país. No entan-
consequentemente, mais capacidade de to, para se ter uma idéia o custo médio gasto em
retenção de água; um manutenção nos Estados Unidos é na ordem
· é possível ter ocorrido algum vazamento de de 1 a 2% do custo de implantação do dispositivo.
água através das laterais do quadro metáli-
co da parcela de paralelepípedo, reduzindo
o escoamento superficial medido e provo- CONCLUSÕES
cando uma taxa de infiltração (calculada
por balanço hídrico da parcela) bem maior Nas simulações efetuadas no módulo de
que a da realidade. pavimento impermeável praticamente toda chuva
gera escoamento superficial, com acréscimo de
Na simulação de chuva nos pavimentos 44% no coeficiente de escoamento, em compara-
permeáveis praticamente não ocorreu escoamento ção com a simulação no solo compactado, mos-
superficial. O pequeno escoamento gerado foi pro- trando a potencialidade de crescimento das cheias
vavelmente devido ao arremate de concreto junto à urbanas em função de uma utilização intensa deste
face coletora do quadro metálico. Foram efetuadas tipo de cobertura.
três simulações de chuva nos blocos vazados e As simulações nas superfícies semi-
para as três simulações o resultado foi o mesmo permeáveis apresentaram escoamento superficial
(apenas 0,5 mm de escoamento gerado). Já na inferior ao do concreto: nos blocos de concreto
parcela de concreto poroso, nos três ensaios reali- observa-se crescimento de 22% no coeficiente de
zados na parcela o coeficiente de escoamento não escoamento e nos paralelepípedos é registrada
passou de 0,01. Observa-se, portanto, que estes queda de 11% neste coeficiente, sempre em com-
pavimentos não apenas mantém as condições paração com o solo compactado. O seu uso em
originais de geração de escoamento superficial, áreas urbanas pode contribuir para o controle da
mas podem reduzir estes valores a praticamente geração de escoamento superficial quando instala-
zero, dependendo das condições antecedentes e dos em substituição a pavimentos impermeáveis.
da capacidade do reservatório de pedras. Com isto, Na simulação de chuva no pavimento per-
mostram ser dispositivos altamente recomendados meável praticamente não ocorreu escoamento

28
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 5 n.3 Jul/Set 2000, 21-29

Tabela 3. Custo de implantação dos ORSTOM, série Hydrology, Paris, Vol. 15, n. 4, p.
pavimentos. 321-50.
CAUDURO, F. A., DORFMAN, R. (1990) “Manual de
2
ensaios de laboratório e de campo para irrigação e
Tipo de pavimento Custo unitário (m ) drenagem” Porto Alegre, PRONI, IPH/UFRGS,
216p.
Blocos de concreto 10,10 GENZ, F. (1994) “Parâmetros para a previsão e controle
Paralelepípedo 16,74 de cheias urbanas” Porto Alegre, UFRGS - Curso
Concreto impermeável 13,14 de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e
Blocos vazados 18,22 Saneamento Ambiental. D 180. Dissertação de
Concreto poroso 19,06 Mestrado.
GOLDENFUM, J. A., CAMAÑO, B., SILVESTRINI, J.
(1990) “Chuvas Intensas em Porto Alegre -
superficial. Sugere-se, por questões de resistência
Determinação de Curvas I-D-F” Porto Alegre,
estrutural e de manutenção, que estes pavimentos IPH/UFRGS, 26p.
sejam utilizados em estacionamentos para veículos NEVILLE, A. M. (1982) “Properties of Concret”
leves, especialmente em áreas de “shopping cen- (Português) Propriedades do Concreto. São Paulo,
ters” e grandes supermercados, uma vez que eles PINI. XVI, 738p. IL.
mostram ser dispositivos altamente recomendados REGISUL discriminada (1999) “Listagem discriminada de
para o controle dos volumes escoados, apresen- composições de serviço” Porto Alegre. Março.
tando inclusive redução em comparação com as SCHUELLER, T. (1987) “Controlling Urban Runoff: A
condições de pré-desenvolvimento. Practical Manual for Planning and Designing Urban
BMPs” Washington, metropolitan Washington
Neste estudo não foi analisada a capacida-
Council of Governments.
de de redução da carga de poluentes pelo uso de SILVEIRA, A. L. L. e CHEVALLIER, P. (1991) “Primeiros
pavimentos permeáveis, mas este também é um Resultados sobre Infiltração em Solo Cultivado
dos grandes benefícios deste tipo de pavimento. Usando Simulação de Chuvas (Bacia do rio
As limitações identificadas foram quanto a Potiburu, RS)” In: Simpósio Brasileiro de Recursos
necessidade de manutenção e o maior custo por Hídricos, 9, 1991, Rio de Janeiro. Anais. Rio de
2
m . O aumento do custo específico pode ser com- Janeiro: ABRH/APRH. 4v. v. 1, p. 213-21.
pensado pela redução da drenagem resultante da URBONAS, B. e STAHRE, P. (1993) “Stormwater Best
área, já que grande parte do volume se infiltrará. Management Practices and Detention” Prentice
Hall, Englewood Cliffs, New Jersey, 450p.
Deve-se ressaltar também, que o pavimen-
to apresentará uma melhoria importante para inun-
dações freqüentes e de alto risco, no entanto Analysis of Permeable Surfaces in
quando o reservatório estiver cheio para grandes
volumes de precipitação o pavimento poderá apre- Overland Flow Control
sentar uma menor ineficiência do que apresentada
nos experimentos. ABSTRACT

Porous pavements are used in urban areas


AGRADECIMENTOS in order to reduce the overland flow as well as to
improve the water quality and groundwater re-
Agradecemos o suporte financeiro provido através charge recovery.
dos projetos de pesquisa “Avaliação e controle dos In this paper an evaluation of the porous
impactos ambientais decorrentes da urbanização” pavements efficiency in the reduction of overland
(PRONEX - MCT, CNPq, FINEP) e “Controle de flow is presented. Experimental simulations using a
cheias devido a urbanização” (RECOPE/REHIDRO 2
rainfall simulator were performed over 1 m parcels,
- Subrede 3 - MCT, FINEP). Agradecemos, tam- with five different types of urban soil pavements: a)
bém, o auxílio prestado na execução dos experi- natural soil; b) concrete pavement; c) granite
mentos pelo bolsista de iniciação científica André stones; d) concrete S-shaped blocks; e) and con-
Mitto e pelos hidrotécnicos Paulo Édson Marques e crete garden blocks.
Luiz Gregório Raupp. A comparative analysis of the behaviour of
the porous pavements and other surfaces made it
possible to verify the reduction of overland flow
REFERÊNCIAS
and provided elements for the selection of these
devices in different urban area projects.
ASSELINE, J. e VALENTIN, C. (1978) “Construction et
mise au point d’un infiltròmetre à aspersion” Cah.

29

You might also like