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Na linha formulada pela doutrina alemã, com base em Welzel e ainda Roxin, sou
dos que entendem que a lei brasileira, com a reforma penal de 1984, adota a teoria
do domínio final do fato. É o critério final-objetivo, como disse Nilo Batista, onde
autor do crime será aquele que, na concreta realização do fato típico, consciente, o
domina mediante o poder de determinar o seu modo e quando possível
interrompê-lo. Autor é quem tem o poder de decisão sobre a realização do fato.
Não é só aquele que executa a ação principal, o que realiza a função típica(matar,
roubar, furtar, causar dano), como ainda aquele que se utiliza de uma pessoa que
não age com dolo ou culpa(elemento subjetivo do tipo penal), como é o caso do
autor mediato[1]. Já o partícipe limita-se a colaborar com o fato, dominado pelo
autor e coautores, de modo finalista, podendo advir por cumplicidade[2] ou
instigação[3], que abrange a determinação e a instigação propriamente dita.[4]
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No entanto, fico com a lição de Nilo Batista, dentre outros, para quem não existe
coautoria em crime culposo.[8]
Aceita a teoria monista ou unitária, adotada pelo Código Penal, segundo o qual
há um único crime para o autor e partícipe, todos respondem pelo mesmo crime.
Assim todos respondem, mesmo diante de autoria incerta, pelo resultado ainda
que não se possa sequer saber quem praticou a ação prevista no núcleo do tipo
penal, pois todos assumiram o risco do resultado ilícito. Como bem advertiu Nilo
Batista[9] a Exposição de Motivos do Código Penal de 1940 supunha ter resolvido a
questão à base da afirmativa de ser desnecessário o prévio ajuste. Ora, na autoria
colateral o que falta não é o ajuste prévio e sim o acordo de vontades, que pode
dar-se no momento da realização conjunta do fato, pois quando ele se dá o que
haverá será coautoria.
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que admite-se o crime para A e B, fazendo-se tabula rasa do evento cujo autor não
se apurou. Ora, essa questão é de ordem processual e deve ser objeto de solução
com os instrumentos do direito processual penal.
No entanto, se houver domínio final do fato, mesmo com coautoria sucessiva, que
se dá até a consumação, ou para alguns exaurimento, quando o agente vem a
aderir à empresa delituosa, estamos diante de coautoria, em havendo a realização
conjunta do fato.
BIBLIOGRAFIA:
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NOTAS
[1]
Existe a autoria mediata quando na realização de um ilícito penal, o autor se
vale de um terceiro que atua como instrumento. Aqui se realça o domínio do fato,
numa zona fronteiriça entre a autoria direta e a participação, não se ocupando os
chamados crimes de mão própria, como é exemplo o falso testemunho, que
comporta participação e não coautoria ou autoria colateral. Seu campo de
aplicação está nos chamados crimes de resultado, não se concebível nos chamados
crimes culposos ou omissivos. Será o caso: do erro determinado por
terceiro(artigo 20,§ 2º, do CP), uma hipótese de erro do instrumento a respeito de
elementos objetivos do tipo legal(o médico entrega a enfermeira, que de nada
sabe, veneno, para matar o paciente, seu inimigo); do instrumento que atua sob
coação moral irresistível da parte do autor mediato; do instrumento que atua em
estrita obediência de dever legal, em hipótese de erro de proibição, em condutas
que estão envolvidas num aparelho organizador de poder, como é o caso da
criminalidade inserida dentro do poder do Estado.
[2]
É a dolosa colaboração de ordem material objetivando o cometimento de um
crime doloso. È o famoso caso do vigia, que fica de tocaia, observando a execução
do crime pelos coautores, que matam ou roubam ou furtam.
[3]É a dolosa colaboração de ordem espiritual objetivando o cometimento de um
crime doloso.
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Autor
Rogério Tadeu Romano
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