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Economia e Sociedade – IADE – Ano 2010/2011

2. Famílias

As famílias actuam em duas dimensões, pública e privada. Aqui


interessa-nos essencialmente a segunda. Vamos olhar para dois tipos
de actuação. O consumo e a tomada de decisões colectiva.

Resumo:

- O consumo das famílias


- As decisões individuais de consumo
- Os tipos de bens e serviços disponíveis
- Responsabilidades e direitos das famílias
- As decisões colectivas numa comunidade

1 Ricardo Pinheiro Alves


Outubro de 2010
Economia e Sociedade – IADE – Ano 2010/2011

2.1 Consumo

Consumir: utilização de bens e serviços para satisfazer as


nossas necessidades

Quando compramos estamos a participar no sistema económico.


Desenvolvimento económico traz mais consumo e elimina auto-
consumo.

O Consumo Privado, ou das famílias, é um conjunto de despesas em


bens e serviços que se destinam a satisfazer as necessidades das
famílias. Keynes defendia que o Consumo Privado (C) dependia
essencialmente do Rendimento Disponível.

O Rendimento Disponível (Yd) é obtido adicionando ao rendimento


primário as transferências recebidas e subtraindo as transferências
pagas.

Rendimento disponível das famílias (Rd) = Rendimento Nacional


– Impostos Directos – Poupança Líquida das Empresas (Amortizações
+ Lucros – Dividendos) + Transferências do Estado. È o rendimento
que os consumidores particulares têm à sua disposição para gastar ou
poupar numa economia.

No caso do sector público, o rendimento disponível é igual à soma do


consumo público e da poupança pública. A poupança do sector público
é igual à diferença entre as receitas correntes e as despesas correntes.

O Rendimento disponível do país é a soma dos rendimentos disponíveis


do sector privado (famílias e empresas) e do Estado.

2 Ricardo Pinheiro Alves


Outubro de 2010
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Figura 2 - Cálculo do Rendimento Disponível a partir do PNB

2 – Decisão: Estrutura do Consumo Privado

Função Consumo.

A função consumo Keynesiana (proposta pelo economists John


Maynard Keynes):

C = C + c Yd , com 0 < c <1

Yd = (1-t)Y

Onde:
c é a propensão marginal ao consumo, i.e., a parte do consumo
que varia com o rendimento. Representa a variação no consumo ( C)
causada por uma variação no rendimento disponível ( Y).  C/ Y é
igual a c.

3 Ricardo Pinheiro Alves


Outubro de 2010
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C é o consumo autónomo, que representa o que um indivíduo


desejaria consumir se não tivesse qualquer rendimento. O Consumo
autónomo é independente do rendimento e depende de outros
factores.

Y é o rendimento bruto

Yd é o rendimento disponível.

t é a taxa de imposto

A função acima é estimada a partir das observações de C e Yd , com


base em dados estatísticos, e por meio de métodos econométricos.

Fonte: João Ferreira do Amaral e outros, Introdução à Macroeconomia, pag.41.

Qual o significado deste gráfico? Em primeiro lugar trata-se de uma


curva com declive positivo, o que significa que as duas variáveis, Yd e
C se movimentam no mesmo sentido. Quando o Rendimento
Disponível aumenta, aumenta também o Consumo.

Outro aspecto visível no gráfico é que quando o Rendimento


Disponível é nulo (igual a zero) existe, mesmo assim, um certo nível
de Consumo. Este nível de Consumo não depende do Rendimento
Disponível, e por isso é designado como Consumo Autónomo (no
gráfico representado por a).

4 Ricardo Pinheiro Alves


Outubro de 2010
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Finalmente repare-se na inclinação da linha que representa a Função


Consumo. O declive da Função Consumo é inferior a 1, o que
significa que a variações do Rendimento Disponível correspondem
variações de menor amplitude do Consumo, ou seja, no gráfico Y é
maior que X:

A razão pela qual as variações do Consumo são inferiores às


variações do Rendimento Disponível se explica pela possibilidade da
ser utilizado como Consumo (C), ou como Poupança (S) (ver
abaixo). Exemplo de função consumo:

C = 15 + 0,8.Yd

Neste caso, o Consumo autónomo é igual a 15, e a Propensão


Marginal ao Consumo é igual a 0,8. Como já foi referido acima, 0,8
é também o valor do declive da Função Consumo.

Em termos não infinitesimais, a propensão marginal ao consumo


pode ser representada pelo quociente
C
Y d

que é a variação de C quando Yd varia de uma unidade.


C é a ordenada na origem.

5 Ricardo Pinheiro Alves


Outubro de 2010
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Um exemplo de uma política económica Keynesiana para estimular a


economia (Y) é incentivar o aumento do consumo (C) pela redução da
taxa de imposto (t) e, consequentemente, pelo aumento do
rendimento disponível (Yd).

Determinantes do Consumo Privado.

O Rendimento Disponível.
A evidência mostra a estreita relação entre Consumo Privado e
Rendimento Disponível corrente, conforme Keynes teorizou. Mas não
é apenas o rendimento disponível que explica o consumo.

Normalmente a análise do consumo considera o rendimento auferido


em cada mês ou em cada ano, sendo esse o rendimento que influencia
o consumo. No entanto, as famílias também levam em consideração o
seu rendimento futuro.

Por exemplo, uma família que tenha um determinado nível de


rendimento (5.000 euros anuais) mas que preveja que o seu
rendimento vai aumentar, em termos reais, nos próximos anos,
poderá, no momento presente, gastar mais em despesas de consumo.
Por outro lado, se esta família antecipar que irá ter menor rendimento
no futuro (por exemplo, se considerar que existe uma grande
probabilidade de ser vítima do desemprego) poderá reduzir as suas
despesas de consumo e poupar mais. Neste caso, além do nível de
rendimento actual, as antecipações do rendimento futuro também
influenciam o nível de consumo.

As teorias mais recentes partem deste princípio e assentam no


pressuposto de que os consumidores são perfeitamente racionais:
teoria do comportamento do consumidor de Irving Fisher. As teorias
de Milton Friedman e de Franco Modigliani baseiam-se nos trabalhos
de Fisher.

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Outubro de 2010
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Milton Friedman apresentou a teoria do rendimento permanente, o


qual é o rendimento médio que as famílias recebem ao longo das suas
vidas, expurgado de oscilações transitórias (ver anexo 1).
Em termos de política económica, uma redução da taxa de juro para
aumentar o rendimento disponível das famílias terá um impacto menor
no consumo presente do que a função consumo keynesiana acima
apresentada porque depende do nível de consumo dos períodos
anteriores.

A teoria de Franco Modigliani considera que os indivíduos procuram


seguir níveis de consumo estáveis ao longo do seu ciclo de vida,
poupando com vista ao futuro.

Tais teorias têm sido criticadas, dado constatar-se que os


consumidores pensam mais no presente do que no futuro:
- uso de cartões de crédito.
- aumento do endividamento das famílias.
- pensões insuficientes

Riqueza.

O rendimento é uma variável de fluxo: rendimento obtido durante


um determinado período (ex: ano).

A riqueza é uma variável de stock (ex.:o património em 10 de Abril


de 2009).

A riqueza de uma família é o valor de todos os seus activos e direitos,


líquidos de obrigações e responsabilidades financeiras numa
determinada data. Se, para além do seu rendimento, uma família for
proprietária de bens (edifícios, terras, etc.) poderá gastar mais em
consumo, pois sabe que tem esses bens para fazer face a quaisquer
dificuldades financeiras que surjam no futuro.

7 Ricardo Pinheiro Alves


Outubro de 2010
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As teorias de consumo orientadas para o futuro apontam para uma


relação entre o consumo e o nível de riqueza e vão além da explicação
de Keynes. Ex: Crédito à habitação.

Outros factores.

Certos factores explicam o valor de certos tipos de consumo:


- Idade.
- Educação.
- Ocupação.
- Expectativas face à economia
- Alterações dos preços relativos.
- Alterações nas taxas de juro.
- Acesso ao crédito.
- Marketing e publicidade.
- Anomalias no comportamento.

Outro factor que pode influenciar o consumo é o nível e a qualidade do


sistema de segurança social. Se este sistema for de qualidade e
oferecer apoio social de elevado nível (reformas, pensões, assistência
médica gratuita, etc.) pode levar as famílias a gastarem uma parte
maior do seu rendimento no momento presente. Pelo contrário, se o
sistema de segurança social for ineficiente, as famílias tenderão a
poupar mais para precaver qualquer crise no futuro.

Estrutura do consumo

Lei de Engel: «quanto mais pobre é uma família mais elevada é a


proporção do gasto com alimentação».

A lei de Engel pode exprimir-se recorrendo ao conceito de


elasticidade (apresentado na caixa em baixo). Estudos empíricos
mostram que a elasticidade - despesa do grupo alimentação é
rígida, |e| < 1.

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Elasticidade: A elasticidade da procura em relação ao preço de


um produto é uma medida da sensibilidade do consumidor deste
produto em face das variações no preço. Em termos de variações
discretas, a elasticidade mede a variação percentual da
quantidade procurada de um determinado bem em relação à
variação percentual do preço desse bem.

є q,p = ∆ % q / ∆ % p

onde
q – quantidade procurada
p - preço

A elasticidade da procura em relação ao preço pode ser:

a) Procura com elasticidade nula quando a elasticidade tem um


valor absoluto unitário (є = 1).

b) Procura elástica quando a elasticidade tem um valor absoluto


maior do que um (є > 1). A procura perfeitamente elástica (є =
∞) tem um formato linear horizontal em que o preço não varia.
Ex: a procura de um produto de uma empresa perfeitamente
competitiva, que é tomadora do preço («price taker»). Esta
empresa produz em equilíbrio no ponto em que o preço é igual ao
custo marginal.

c) Procura inelástica quando a elasticidade tem um valor absoluto


menor do que um (є < 1). A procura perfeitamente inelástica (є =
0) é representada graficamente por uma recta vertical. Neste
caso, o consumidor adquire a mesma quantidade
independentemente do preço, isto é, a sua decisão de consumo
não considera o nível do preço.

9 Ricardo Pinheiro Alves


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- Bens normais são bens com elasticidade - consumo rígida,


em que a quantidade procurada do bem aumenta quando o
rendimento aumenta. Ex: vestuário, TV.

- Bens de luxo são bens com elasticidade - consumo elástica,


i.e., um aumento do rendimento traduz-se no aumento mais
do que proporcional da quantidade procurada. Ex: Iate, jóias,
etc.

- Bens inferiores: elasticidade – consumo negativa. O aumento


do rendimento traduz-se na redução da procura e vice-versa.
Ex: bens de menor qualidade.

- Bens de Giffen: a procura de um bem aumenta se o preço


aumenta e diminui se o preço diminui. Ex: obras de arte.

(Marshall atribuiu a Sir Robert Giffen (1837-1910) a noção de curva da


procura crescente, noção conhecida como paradoxo de Giffen, mas
com evidência empírica escassa e discutível).

A lei de Engel em vez de se abordar em termos de elasticidade –


despesa de um determinada classe de consumo, pode ser abordada
em termos de elasticidade rendimento da procura.

No primeiro caso estuda-se a função que relaciona uma dada classe de


consumo com o consumo total.

No segundo caso analisa-se a função que associa uma determinada


classe de consumo ao rendimento.

O quadro e o gráfico abaixo evidenciam com clareza a lei de Engels,


que mostra que são os grupos sócio-económicos mais pobres que
gastam uma percentagem maior do seu orçamento na classe de
consumos «alimentação e bebidas». Foi construído a partir do
Inquérito aos Orçamentos Familiares em 1994/95.

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Estrutura das despesas médias anuais dos agregados segundo a


categoria sócio-económica unidade (%)
1 2 3 4 5 6
Alimentação e bebidas 24 16 21 15 18 30
Bebidas alcoólicas e 4 2 4 2 2 4
tabaco
Vestuário e calçado 6 7 6 6 7 6
Habitação 18 20 21 23 19 18
Domésticas hab. 8 7 7 8 7 6
Saúde 5 4 4 3 4 4
Aquisição/Desp. Veículos 15 16 16 18 20 17
Transportes/Comunicações 3 3 4 3 3 3
Educação/Cultura 3 7 4 6 4 2
Restauração 10 12 9 10 10 6
Outras 5 6 5 6 6 4
Fonte: Marta Homem e Sousa, «Análise do comportamento das despesas das famílias em Portugal», INE.

Em que:
1– Trabalhador por conta de outrem – pessoal operário (sector privado).
2– Outros trabalhadores por conta de outrem (sector privado).
3– Trabalhadores por conta de outrem – pessoal operário (sector público).
4– Outros trabalhadores por conta de outrem (sector público).
5– Trabalhadores por conta própria (excepto agricultura).
6– Empresários e trabalhadores agrícolas.

Despesa média anual em %


Fonte INE, 1995

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Trabalhadores por conta de outrem (Público) Empresários e trabalhadores agr

Alimentação e bebidas Bebidas alcoólicas e tabaco Vestuário e calçado Habitação


Domésticas hab. Saúde Aquisição/Desp. Veículos Transportes
Educação/Cultura Restauração Outras

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Consumo Privado e Poupança das famílias.

Tal como o consumo, a Poupança também está relacionada com o


Rendimento Disponível. A poupança das famílias (S) é a parte
do rendimento disponível que não é consumida e quanto maior é o
rendimento duma família, mais ela pode colocar de lado como
Poupança. A imagem gráfica da Função Poupança pode ser
apresentada da seguinte forma (ver anexo 2):

Como se pode ver no gráfico, no ponto onde a Função Poupança


corta o eixo do Rendimento Disponível, a Poupança tem valor
zero. A Poupança é negativa à esquerda desse ponto, e positiva à
direita. Podemos agora juntar as duas funções (Consumo e
Poupança), e verificar que o ponto onde a Função Poupança tem o
valor zero corresponde ao Ponto Limiar da Função Consumo,
quando todo o rendimento disponível é consumido.

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Como se pode ver no gráfico, no ponto onde a Função Poupança


corta o eixo do Rendimento Disponível, a Poupança tem valor
zero. A Poupança é negativa à esquerda desse ponto, e positiva à
direita. Podemos agora juntar as duas funções (Consumo e
Poupança), e verificar que o ponto onde a Função Poupança tem o
valor zero corresponde ao Ponto Limiar da Função Consumo, em
que todo o rendimento disponível é consumido.

O ponto limiar é portanto o nível de Rendimento Disponível em


que todo o Rendimento é gasto em Consumo, e onde não existe
Poupança. Verificamos também que à direita do ponto limiar o
Consumo é inferior ao Rendimento Disponível, e que à esquerda
do ponto limiar o Consumo é superior ao Rendimento
Disponível.

Comecemos pelos níveis de rendimento à direita do ponto limiar.


Como se pode ver na figura seguinte, à medida que aumenta o nível
de rendimento, aumenta a diferença entre o Rendimento Disponível
e o Consumo:

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A parcela do Rendimento Disponível que não é gasto em Consumo


é aplicado em Poupança. Portanto, a zona sombreada à direita do
ponto limiar corresponde à Poupança. Como se pode ver, a
Poupança aumenta à medida que aumenta o rendimento das
famílias.

Vejamos agora o que se passa à esquerda do ponto limiar (figura


seguinte). Nesta zona o valor do Consumo é superior ao
Rendimento Disponível, o que só é possível se as famílias, para
além do seu Rendimento Disponível, utilizarem em Consumo
poupanças que tinham realizado anteriormente. Por este facto
designa-se à diferença entre o RD e o Consumo como Poupança
Negativa.

De facto, se considerarmos que a definição de Poupança é a


diferença entre o que se ganha e o que se gasta (Rendimento
Disponível menos Consumo) então neste caso o resultado terá de
ser negativo (zona sombreada na imagem seguinte):

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Como o Rendimento Disponível, se reparte entre Consumo e


Poupança, os factores que levam as famílias a consumir mais
contribuem, simultaneamente, para se poupar menos, e vice-versa.

Todos os factores que influenciam o Consumo num determinado


sentido, influenciam a Poupança em sentido oposto. Assim, por
exemplo, se a posse de maior riqueza pode determinar um maior
consumo, isso significa uma menor poupança. Podemos construir um
pequeno quadro com os diferentes factores que influenciam tanto o
consumo como a poupança:

Factor Consumo Poupança


Maior rendimento
maior consumo menor poupança
permanente
Maior riqueza maior consumo menor poupança
Melhor Segurança
maior consumo menor poupança
Social
Melhores
maior consumo menor poupança
espectativas
Publicidade favorável
maior consumo menor poupança
ao consumo

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Responsabilidades e Direitos

A escolha do consumidor segue habitualmente uma regra empírica:


pondera a relação qualidade – preço. Mas para conhecer a qualidade e
o preço é necessário que haja informação.

Numa época de produção em massa, em que a diversidade de


produtos e serviços a que as famílias podem aceder é muito grande, e
em que os padrões de consumo (modelos que seguem os grupos
sociais) mudam rapidamente, com os estilos de vida (ex. telefone,
alimentação, vestuário), é impossível obter toda a informação
necessária.

Para além disso, existem situações de informação assimétrica, em que


consumidor e produtor detêm um conhecimento diferente sobre os
bens ou serviços transaccionados, o que requer a intervenção do
Estado. Ex: Carros em segunda mão, seguros de vida.

Responsabilidades: Garantir diversidade de produtos e serviços,


publicidade informativa, informação e transparência no mercado (dos
produtores e do Estado), apresentar reclamações

Adicionalmente, recursos escassos implicam escolhas que,


indirectamente, significam renúncias presentes ou futuras a outros
bens ou serviços. Logo, os efeitos nas futuras gerações são também
uma razão para a necessidade das famílias assumirem a sua
responsabilidade.

Direitos: Baseados no Estado e nas associações de defesa dos


consumidores (Portal do Consumidor http://www.consumidor.pt/,
DECO). Deveriam visar garantir publicidade e marketing não
enganosos, e a aplicação de ensaios e testes laboratoriais, exigências
legais, controlo de qualidade e segurança nos produtos e serviços
disponibilizados às famílias.

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2.2. Escolhas colectivas e decisão política.

Se a probabilidade de um voto influenciar um resultado de uma eleição


é quase nulo, porquê votar?

Teoria da democracia (Downs, 1956)

Probabilidade de influenciar o resultado de uma votação tende para


zero – logo benefício é nulo
Custo de votar > 0 (deslocação)

Benefício – custo < 0

Racionalmente não vale a pena votar

Mas não somos perfeitamente racionais.

2.2.1. Escolha colectiva.

Também existem falhas do sistema político. O fracasso do


governo traduz-se em que, em certas situações, o sistema político
tem dificuldade, quer em ultrapassar as falhas de mercado, quer em
implementar uma sociedade mais justa.

Estes problemas e as formas de os evitar têm sido objecto da análise


por parte da teoria da escolha social.

O facto de serem escolhas colectivas significa que a partir de


preferências normalmente diversas, existe um processo institucional de
agregação das preferências, de modo a alcançar uma única decisão.

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2.2.2. Tipos de regras: da maioria simples à maioria


qualificada.

Maioria relativa: A proposta que tiver mais votos ganha.


Maioria absoluta: é necessário mais de metade dos votos para a
proposta ser vencedora.
Maioria qualificada: v.g. dois terços, três quartos…
Unanimidade: todos terão que estar de acordo com a proposta.

Umas questões prendem-se com a afectação de recursos, enquanto


outras se referem à sua redistribuição.

A afectação diz respeito a decisões colectivas acerca da provisão de


bens públicos, correcção de externalidades, redução da informação
assimétrica: melhorias na afectação de recursos - melhoramentos de
Pareto (decisões de soma positiva).

Na redistribuição uns poderão ficar melhor e outros pior: (decisões


de soma nula).

Wicksel simpatizava com a regra da maioria qualificada e com


decisões de soma positiva.

Os custos em tempo para a tomada de decisão (curva D) são uma


função crescente, quer da maioria necessária para a aprovação
de uma proposta, quer do número de participantes na decisão.

Outro tipo de problemas que se coloca na escolha das regras, para


decisões de soma positiva, é que quanto maior a maioria
necessária para se aprovar uma proposta, menor a probabilidade de
que haja indivíduos prejudicados pela sua aprovação.
À medida que se passa da unanimidade para a maioria qualificada,
absoluta ou relativa, aumenta a probabilidade de que haja indivíduos
prejudicados pela proposta.
C = custos externos ou custos impostos aos indivíduos que saem
derrotados.

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A regra óptima de tomada de decisão é a que minimiza C+D:


vários autores defendem que essa regra é uma maioria qualificada,
divergindo apenas em quão qualificada é a maioria (v.g. 2/3, 3/4,…).

Esta regra óptima apenas diz respeito a decisões que envolvem


melhoramentos de Pareto, ou jogos de soma positiva.

Numa escolha que envolva redistribuição, haverá indivíduos que


ficarão melhor e outros pior.

O gráfico abaixo ajuda a distinguir as consequências do uso das regras


da maioria qualificada e absoluta.

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Por hipótese, os grupos A e B são compostos por indivíduos


homogéneos.

O uso da maioria qualificada leva a que, com elevada probabilidade,


as propostas aprovadas são melhoramentos de Pareto a partir do
status quo: propostas X e Y.

O uso da maioria absoluta permite que a proposta Z seja aprovada


caso o grupo social B esteja em ligeira maioria numérica em relação a
A.

Comparemos a maioria absoluta com a unanimidade1. Quanto


mais próximo da maioria absoluta:
- menor o peso do status quo, pois é mais fácil tomar decisões;
- maior a probabilidade de haver descontentes (derrotados);

1
Ibd. pag 90.
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- menores os custos de tomada de decisão, designadamente em


tempo.

Quanto mais próximo da unanimidade:


- maior o peso do status quo, pois é mais difícil gerar consensos;
- menor a probabilidade de haver descontentes (derrotados);
- maiores os custos de tomada de decisão que poderão tornar-se
proibitivos no caso de unanimidade.

21 Ricardo Pinheiro Alves


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Anexo 1

Milton Friedman apresentou a teoria do rendimento permanente, o


qual é o rendimento médio que as famílias recebem ao longo das suas
vidas, expurgado de oscilações transitórias. Neste caso, o consumo é
função de:

Ct = C + cYdpt
Onde t é o período actual e Ydp é o rendimento permanente que
Friedman obtém a partir da média ponderada móvel dos rendimentos
dos períodos anteriores:
Ydpt =  0Ydt +  1Ydt-1 +  2Ydt-2 +  3Ydt-3 +……
Em que  0 >  1 >  2 >…………….
A função consumo é habitualmente estimada com base no consumo
passado e não dos rendimentos disponíveis:
Ct =  0 +  1Ydt +  2Ct-1
em que  0 = C , 1 a propensão marginal a consumir e 2 é o
parâmetro que representa a influência do consumo realizado no
passado. Quanto mais próximo de 1 estiver, maior a influência do
passado no consumo presente.
Uma estimação mais apropriada da função consumo deverá considerar
também a taxa de juro real rt (taxa de juro menos o nível de preços) e
a taxa de inflação, Pt. Assim, temos:
Ct =  0 +  1Ydt +  2Ct-1 + 3 Pt +  4rt
A taxa de juro representa o rendimento obtido com a poupança (ex:
um depósito a prazo). Quanto maior a taxa de juro maior a poupança
e menor o consumo (ver a seguir), sendo o parâmetro 4 < 0. Da
mesma forma, quanto maior for a inflação menor tende a ser o
consumo. A explicação é que o crescimento dos preços afecta a

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riqueza das famílias ao causar a perda de valor real dos activos não
indexados à inflação.
Em termos de política económica, uma redução da taxa de juro para
aumentar o rendimento disponível das famílias terá um impacto menor
no consumo presente do que a função consumo keynesiana acima
apresentada porque depende do nível de consumo dos períodos
anteriores.

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Anexo 2

Consumo Privado e Poupança das famílias.

Tal como o consumo, a Poupança também está relacionada com o


Rendimento Disponível. A poupança das famílias (S) é a parte
do rendimento disponível que não é consumida e quanto maior é o
rendimento duma família, mais ela pode colocar de lado como
Poupança. A imagem gráfica da Função Poupança pode ser
apresentada da seguinte forma:

Como se pode ver no gráfico, no ponto onde a Função Poupança


corta o eixo do Rendimento Disponível, a Poupança tem valor
zero. A Poupança é negativa à esquerda desse ponto, e positiva à
direita. Podemos agora juntar as duas funções (Consumo e
Poupança), e verificar que o ponto onde a Função Poupança tem o
valor zero corresponde ao Ponto Limiar da Função Consumo,
quando todo o rendimento disponível é consumido.

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A função poupança é definida seguinte forma:

S = Yd – C
ou
S = Yd – ( C + c Y d )

Simplificando:
S = - C + (1-c) Yd

Fazendo s = 1-c
S = - C + s Yd , com 0< s< 1
Onde
s = propensão marginal à poupança.

S
Em termos não infinitesimais, o quociente é a propensão
Y d
marginal à poupança, ou seja, é a variação da poupança quando o
rendimento disponível varia de uma unidade.

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S
é a propensão média à poupança.
Y d
S
x 100 é a taxa de poupança.
Y d

Como se pode ver no gráfico, no ponto onde a Função Poupança


corta o eixo do Rendimento Disponível, a Poupança tem valor
zero. A Poupança é negativa à esquerda desse ponto, e positiva à
direita. Podemos agora juntar as duas funções (Consumo e
Poupança), e verificar que o ponto onde a Função Poupança tem o
valor zero corresponde ao Ponto Limiar da Função Consumo, em
que todo o rendimento disponível é consumido.

O ponto limiar é portanto o nível de Rendimento Disponível em


que todo o Rendimento é gasto em Consumo, e onde não existe
Poupança. Verificamos também que à direita do ponto limiar o
Consumo é inferior ao Rendimento Disponível, e que à esquerda
do ponto limiar o Consumo é superior ao Rendimento
Disponível.

Comecemos pelos níveis de rendimento à direita do ponto limiar.


Como se pode ver na figura seguinte, à medida que aumenta o nível
de rendimento, aumenta a diferença entre o Rendimento Disponível
e o Consumo:

A parcela do Rendimento Disponível que não é gasto em Consumo


é aplicado em Poupança. Portanto, a zona sombreada à direita do
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ponto limiar corresponde à Poupança. Como se pode ver, a


Poupança aumenta à medida que aumenta o rendimento das
famílias.

Vejamos agora o que se passa à esquerda do ponto limiar (figura


seguinte). Nesta zona o valor do Consumo é superior ao
Rendimento Disponível, o que só é possível se as famílias, para
além do seu Rendimento Disponível, utilizarem em Consumo
poupanças que tinham realizado anteriormente. Por este facto
designa-se à diferença entre o RD e o Consumo como Poupança
Negativa.

De facto, se considerarmos que a definição de Poupança é a


diferença entre o que se ganha e o que se gasta (Rendimento
Disponível menos Consumo) então neste caso o resultado terá de
ser negativo (zona sombreada na imagem seguinte):

Como o Rendimento Disponível, se reparte entre Consumo e


Poupança, os factores que levam as famílias a consumir mais
contribuem, simultaneamente, para se poupar menos, e vice-versa.

Vejamos o que acontece quando o rendimento de uma família


aumenta em 1 unidade: parte desta unidade é utilizada em Consumo,
e a outra é utilizada em Poupança. A parcela que é utilizada como
Consumo é a Propensão Marginal ao Consumo (PMC), e a outra
parte a Propensão Marginal à Poupança (PMS). Portanto a soma
destas duas parcelas, por definição, tem de ser igual a 1:

27 Ricardo Pinheiro Alves


Outubro de 2010
Economia e Sociedade – IADE – Ano 2010/2011

PMC + PMS = 1

Tanto a PMC como a PMS, individualmente, terão de ter valores


inferiores a 1. Suponhamos, por exemplo, que:
 PMC = 0,8
 PMS = 0,2

Quando o Rendimento Disponível aumenta em uma unidade, 0,8


(ou seja, 80 %) são utilizados como Consumo, e 0,2 (ou seja, 20 %)
são utilizados como Poupança. Da mesma forma, quando num país a
Propensão Marginal ao Consumo é igual a 0,8, isso significa que
80% dos aumentos de Rendimento Disponível são canalizados para
despesas de Consumo e 20% para Poupança.

Como a soma das propensões para consumir e para poupar é sempre


igual a 1, um aumento da propensão marginal a consumir (c)
determina um decréscimo na propensão marginal a poupar (s), e vice-
versa.

Todos os factores que influenciam o Consumo num determinado


sentido, influenciam a Poupança em sentido oposto. Assim, por
exemplo, se a posse de maior riqueza pode determinar um maior
consumo, isso significa uma menor poupança. Podemos construir um
pequeno quadro com os diferentes factores que influenciam tanto o
consumo como a poupança:

Factor Consumo Poupança


Maior rendimento
maior consumo menor poupança
permanente
Maior riqueza maior consumo menor poupança
Melhor Segurança
maior consumo menor poupança
Social
Melhores
maior consumo menor poupança
espectativas
Publicidade favorável
maior consumo menor poupança
ao consumo

28 Ricardo Pinheiro Alves


Outubro de 2010

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