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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CURITIBA
2008
2
Este trabalho é dedicado a minha esposa Carla, pelo carinho constante e por ter
A minha mãe Alcemira, ao meu pai Altevir e a todos os meus demais familiares pelo
pelo mestrado.
Também dedico este trabalho em mesmo nível de importância, a todas as pessoas que
AGRADECIMENTOS
que ele sempre está comigo e de que sempre está presente nos momentos em que eu
mais preciso dele.
pesquisa, os quais, mesmo sem ter total consciência, deram importantes contribuições
Aos amigos de longa data, Janaína e Carlos pelo incentivo do ingresso na vida
pesquisa qualitativa.
6
Edgar Morin
7
RESUMO
A revolução industrial ocorrida a partir do século XVII inaugurou uma nova fase na
relação existente entre sociedade e meio ambiente. Em razão da velocidade das novas
tecnologias empregadas, a sociedade passou a contar com novas formas de produção
que a possibilitaram desenvolver novos padrões de consumo, fatores que associados
determinaram à ampliação da exploração dos recursos naturais e a deterioração do
meio ambiente. Juntas, indústria de transformação, produtora, e sociedade,
consumidora, tendem a ser responsabilizadas por parte das condições favoráveis que
possibilitaram o surgimento da crise ambiental discutida na contemporaneidade. Como
objetivo geral, este estudo procura estabelecer um diálogo com a parte mais criticada
desta relação: a indústria de transformação, em especial indústrias químicas de um
município paranaense, como forma de conhecer como estas estabelecem as suas
relações com o meio ambiente. Neste estudo buscam-se respostas para o seguinte
questionamento: como os profissionais que atuam em indústrias químicas instaladas
em um município paranaense percebem as relações de sua organização com o meio
ambiente? Como objetivos específicos este estudo busca apresentar o perfil ambiental
das indústrias químicas analisadas; apresentar o perfil dos profissionais entrevistados
em termos de formação e experiência de atuação no ramo industrial químico,
caracterizar a forma como estes profissionais percebem o meio ambiente e como
percebem as relações de sua organização com o meio ambiente. Para a realização
deste estudo de percepção o tipo de pesquisa escolhido foi o exploratório, de natureza
qualitativa. O método de abordagem empregado foi a pesquisa de campo e o modo de
coleta de dados se deu por meio da realização de entrevistas semi-estruturadas. A
análise dos dados e o delineamento da pesquisa foram realizados com base no método
de análise de conteúdo. Como conclusão, são apresentadas as percepções que os
profissionais que atuam nas indústrias químicas têm sobre as relações de suas
organizações com o meio ambiente.
ABSTRACT
The industrial revolution occurred from the seventeenth century inaugurated a new
phase in the existing relationship between society and environment. Because of the
speed of the new technologies employed, the society become to rely on new forms of
production that provided the development of new consumption patterns; considering
these factors associated, they led to the extension of the natural resources exploitation
and environment deterioration. Together, processing industry (producer) and society
(consumer) tend to be responsible for the favorable conditions that allowed the
appearance of environmental crisis discussed at present. As a general goal, this study
tries to establish a dialogue with the most criticized part of this relationship: the
processing industry, particularly the chemical industries of a community from Paraná, as
a way of being aware of how they establish their relationship with the environment. In
this study answers have been pursued regarding the following question: how the
professionals that work at chemical industries which are located in a community from
Paraná notice the relationship of their organization with the environment? Taking into
account the specific goals, this study aims to present: the environmental profile of
chemical industries analyzed; the profile of professionals interviewed regarding
education/training and experience of working in chemical industry; and, characterizing
the way these professionals notice the environment and how they realize the
relationship between their organization and the environment. For the realization of this
perception study the type of research chosen was the exploratory, from qualitative
nature. The method of approach employed was the field research and the method of
collecting data was carried out through semi-structured interviews. Data analysis and
survey management were conducted based on the analysis of content method. In
conclusion, the perception of the professionals who work at chemical industries, about
the relationship between their organizations and the environment is presented.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA.............................................................. 14
1.2. ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................ 22
1.3. OBJETIVOS ................................................................................................. 24
1.3.1. Objetivo Geral............................................................................................... 24
1.3.2. Objetivos Específicos ................................................................................... 24
1.4. JUSTIFICATIVA DO ESTUDO..................................................................... 24
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS ...................................................................... 30
2.1. FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DO ESTUDO ............................... 30
2.1.1. Considerações Iniciais.................................................................................. 30
2.1.2. O Sucesso da Matriz Linear e suas Limitações............................................ 32
2.1.3. Noções de Refutabilidade e de Paradigma .................................................. 37
2.1.4. A Escolha pela Matriz da Complexidade ...................................................... 42
2.2. MEIO AMBIENTE......................................................................................... 51
2.2.1. A Busca por uma Definição Multidisplinar para Natureza e Meio Ambiente. 51
2.2.2. Reflexões sobre a Relação Ser Humano e Natureza ................................... 61
2.2.3. O Meio Ambiente e a Sociedade Contemporânea ....................................... 70
2.2.4. O Reconhecimento da Complexidade Ambiental ......................................... 86
2.2.5. A Proposta e o Discurso da Sustentabilidade .............................................. 91
2.2.6. A Iminência da Consolidação da Sociedade de Risco ............................... 102
2.2.7. As Organizações e a Sociedade de Risco ................................................. 116
2.3. INDÚSTRIAS QUÍMICAS........................................................................... 121
2.3.1. As Origens da Indústria Química no Mundo ............................................... 121
2.3.2. As Origens da Indústria Química no Brasil ................................................. 134
2.3.3. A Forma de Organização da Indústria Química ......................................... 150
2.3.4. A Indústria Química na Contemporaneidade.............................................. 159
2.3.5. Indústrias Químicas, Sociedade e Meio Ambiente ..................................... 184
2.4. PERCEPÇÃO............................................................................................. 207
13
1. INTRODUÇÃO
1
Para Rodrigues (1977) a interdependência envolve comportamento recíproco e de interação individual,
caracterizados por situações de cooperação e de competição.
2
Segundo Capra (2005) a dinâmica da “autopoiese”, também conhecida como “autogeração” ou “autocriação” foi
identificada como uma das características fundamentais da vida pelos biólogos Humberto Maturana e Francisco
Varela. O conceito de “autopoiese” associa duas características que definem a vida celular: o limite físico e a rede
metabólica. De acordo com o autor, a teoria da autopoiese considera que “o sistema vivo se liga estruturalmente ao
seu ambiente, ou seja, liga-se ao ambiente através de interações recorrentes” (CAPRA, 2005, p. 51).
3
Para Branco (2005) é conceito segundo o qual, o meio interno, possuindo características químicas e físicas
notavelmente constantes e estando em contato direto ou indireto com o meio externo, variável e inconstante, deve
possuir mecanismos de regulação responsáveis por sua estabilidade.
15
parte da sociedade também passou a aceitar como verdadeiro somente aquilo que é
produzido pelos poderes vigentes e pela ciência, excluindo-se do processo de
participação ativa da criação do seu modo de vida.
Nos 5 milhões de anos que demarcam a sua existência no planeta Terra por
meio do surgimento do seu primeiro ancestral, o ser humano já contribuiu diretamente
para a extinção de um número incontável de espécies animais e vegetais, para a
destruição e contaminação de inúmeros habitats4 naturais e para a poluição dos solos,
4
De acordo com Branco (2005, p. 93) “hábitat corresponde a uma parte do ambiente que é normalmente ocupada
por uma espécie em particular”.
17
da água e do ar. De acordo com Stuart e Simmons citados por Shedrake (1993, p. 46):
5
De acordo com Meadows (1978, p. 23) “uma quantidade apresenta crescimento exponencial quando cresce numa
porcentagem constante do total, em um período constante de tempo”.
18
Com base nesta necessidade, este estudo se apresenta para a sociedade como
uma proposta para a promoção de reflexões e reavaliações sobre a forma como cada
indivíduo ou organização estabelece a sua relação com o ambiente natural.
Diferentemente da abordagem radical presente em relevantes trabalhos acadêmicos na
área ambiental, não se busca aqui determinar responsáveis por este ou aquele tipo de
atividade causadora de danos ao meio ambiente. Busca-se justamente pensar a crise
6
Para Egri e Pinfield (1999), o paradigma social dominante representa a visão tradicional de mundo da sociedade
industrializada contra a qual se voltam as perspectivas ambientalistas.
19
7
De acordo com Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), versão 2.0, elaborada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2007), a indústria de transformação compreende as atividades que
envolvem a transformação física, química e biológica de materiais, substâncias e componentes com a finalidade de se
obterem produtos novos. Segundo o próprio instituto, a fronteira entre a indústria de transformação e outras
atividades nem sempre é clara, uma vez que a regra geral determina que as unidades da indústria manufatureira estão
envolvidas com a transformação de insumos e materiais em um produto novo. Como a definição do que seja um
produto novo nem sempre é objetiva, este fato gera dificuldades na determinação dos limites do que é considerado
uma atividade da indústria de transformação (atualmente o CNAE possui 24 divisões de atividades econômicas).
23
1.3. OBJETIVOS
8
De acordo com Serva (1996, p. 342) a ação racional instrumental corresponde a “ação baseada no cálculo, orientada
para o alcance de metas técnicas ou de finalidades ligadas a interesses econômicos ou de poder social, através da
maximização de recursos disponíveis”.
26
9
Para Castor (2007) a razão é a força ativa do psiquismo humano que habilita o indivíduo a distinguir o bem do mal,
o conhecimento genuíno do falso, e a ordenar sua vida pessoal e social de acordo com ela. Para o autor, a
racionalidade pode ser definida como funcional ou instrumental quando é definida pelo cálculo de consequências,
enquanto que a racionalidade substantiva se preocupa com as qualidades éticas dos fins e não leva em consideração
conseqüências adversas.
27
Foi por meio desta disciplina e do conhecimento demonstrado pelo Prof. Dr. José
Edmilson Souza-Lima em termos de seleção dos referenciais teóricos e da condução
das atividades do grupo de pesquisa formado pelos alunos Angelo Guimarães Simão,
Maria Auxiliadora Villar Castanheira, Maria Bernadete Wolochen, Julio César de Oliveira
Sampaio de Andrade e Paulo Roberto Socher, que o entendimento sobre o real sentido
de se produzir ciência com consciência foi consolidado e estabelecido por estes alunos
que aceitaram o desafio de produzir suas dissertações à luz da teoria da complexidade
e alinhadas com desafios emergentes enfrentados pela sociedade contemporânea.
Esta constatação revela uma grave falha em termos de formação das diversas
especializações profissionais para o devido tratamento das questões ambientais nas
organizações contemporâneas. Talvez este fato justifique a ausência de sensibilidade
demonstrada por diferentes tipos de profissionais em relação a sua preocupação com o
meio ambiente e consequentemente a carência de estudos organizacionais que tratem
de questões ambientais, em especial estudos sobre as organizações que atuam no
Estado do Paraná.
Busca-se também por meio deste estudo, gerar dados e massa crítica para o
meio acadêmico para o desenvolvimento de novas pesquisas relacionadas às questões
das organizações e o meio ambiente. No meio profissional poderá contribuir para a
promoção de reflexões e para o desenvolvimento de ações voltadas para a preservação
do meio ambiente a partir de iniciativas geradas pelos diferentes tipos de profissionais
no interior das organizações.
30
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
10
Vasconcelos (2002) define que as práticas multidisciplinares correspondem a gama de campos de saber que
propomos simultaneamente, mas sem fazer aparecer as relações existentes entre eles.
31
11
Vasconcelos (2002, p. 18) considera “fundamental diferenciar individualização, processo histórico e cultural em
desenvolvimento nas elites das sociedades ocidentais de capitalismo central, e individuação, processo de
diferenciação e maturação psicológica de cada indivíduo ou pessoa”.
32
12
Termo utilizado por Souza-Lima (2007) para fazer referência aos pesquisadores que estão localizados na fronteira
entre um paradigma vigente e um paradigma emergente.
33
Talvez alguma justificativa para a razão desta perpetuação possa ser encontrada nas
palavras de Sheldrake (2001, p. 20), ao assinalar que os mecanicistas “sempre
temeram, e continuam a temer, que a aceitação da realidade de algo ‘misterioso’ ou
‘místico’ na esfera da vida implique o abandono das certezas laboriosamente adquiridas
pela ciência”.
O esteio da filosofia de Descartes pode ser resumido por sua famosa frase em
latim: “Cogito, ergo sum“ ou “Penso, logo existo”; conceito que proporcionou o
surgimento da doutrina do dualismo. Contrariando as idéias originalmente defendidas
pelo pensamento linear, defensores da teoria da complexidade, também denominada
de não-linear e que será adotada para o desenvolvimento deste estudo, criticam
34
abertamente o conceito de dualismo proposto por Descartes. Para Morin (1998), esta
dissociação entre sujeito (ego cogitans) e objeto (res extensa) e para Capra (2005) a
divisão entre a mente, a “coisa pensante” (res cogitans), e a matéria, a “coisa extensa”
(res extensa), propostas por Descartes, determinaram o surgimento de um pensamento
linear fundamentado em um paradigma simplificador, com características de redução e
de disjunção. Segundo Morin (1998), redução porque passou a unificar tudo aquilo que
é múltiplo e de disjunção porque passou a isolar os objetos uns dos outros, do seu
ambiente e do seu observador. Morin (1998) complementa a sua reflexão mencionando
que o estabelecimento deste pensamento isolou diversos campos das ciências como a
Física, Biologia e Antropossociologia, tornando-as ciências totalmente isoladas e
distintas, impedindo o estabelecimento de comunicações entre elas.
Sheldrake (1993, p. 66) busca justificar seus argumentos mencionando que “os
sucessos práticos da ciência mecanicista dão testemunho da eficiência desse método;
os aspectos quantitativos do mundo podem, de fato, ser abstraídos e modelados
matematicamente”, porém, segundo o autor “tais modelos deixam de lado a maior parte
da nossa experiência viva; eles constituem uma via parcial de conhecimento”. Para
Sheldrake (1993, p. 66):
[...] o prestígio que esse método adquiriu, graças à física, estabeleceu-o como o
modelo do desprendimento científico, modelo cobiçado por biólogos,
sociólogos, economistas e por todos os que aspiram à objetividade científica.
13
Beck (2006) define sociedade de risco como a sociedade que substituirá a denominada sociedade industrial. Entre
as características que definem esta sociedade, está a sua incapacidade de gerenciar a relação entre utilização de novas
tecnologias e manutenção dos recursos naturais.
37
14
Popper (2003) estabelece as seguintes definições para as diferentes perspectivas consideradas inimigas da
sociedade aberta: a) historicismo: atribuição à história um sentido pré-determinado e não passível de alterações pelos
indivíduos; b) coletivismo: consiste em atribuir ao coletivo um essência independente dos indivíduos que o
compõem; c) relativismo: caracteriza-se pela negação da existência de verdade objetiva e/ou pela afirmação da
arbitrariedade da escolha entre duas asserções ou teorias; e, d) positivismo ético: atitude que consiste em tentar
reduzir normas à fatos.
38
defendida originalmente por Descartes e mantida pelos seus seguidores, Popper (2003)
propõe a idéia de que seria possível aprender com os próprios erros, acreditando que a
compreensão da possibilidade de falhas e erros cometidos em uma investigação
proporciona a imersão em uma série de críticas e autocríticas capazes de desenvolver
ainda mais o conhecimento. Para Popper (2003), a possibilidade da refutação de uma
teoria constitui um passo a frente, que aproxima o pesquisador da verdade, permitindo
assim que o aprendizado possa surgir a partir de erros.
15
Popper (2003) define o comportamento dogmático com sendo aquele onde se espera encontrar regularidades em
todo o lado, inclusive onde elas não existem.
39
Para Kuhn (2005), quando os fatos concretos não conseguem mais se encaixar
dentro de paradigmas vigentes, acontecem as anomalias que vão forçar a emergência
de novos paradigmas.
[...] a ciência não avança de forma linear, evolutiva e cumulativa, mas por meio
de rupturas ou paradigmas, como verdadeiros sistemas de crenças e
referências quase sempre incompatíveis uns com os outros, dentro dos quais
as verdades científicas teriam formas limitadas e relativas de validade. Nessa
mesma conjuntura, a crítica à especialização e à tecnoburocracia induziram a
aspirações por práticas inter e transdisciplinares, capazes de fazer dialogar e
produzir trocas entre os diversos campos de saber.
16
Vasconcelos (2002) define que as práticas transdisciplinares correspondem aos campos de interação de médio e
longo prazo que pactuam uma coordenação de todos os campos de saberes individuais e interdisciplinares de um
campo mais amplo, sobre a base de uma axiomática geral compartilhada. O autor complementa sua definição
informando que há uma tendência à estabilização e criação de campo de saber com autonomia teórica e operativa
própria.
17
Para Morin (1998), o modo tradicional é o modo de produção de conhecimento que há mais de três séculos não
faz mais do que provar suas virtudes de verificação e de descoberta em relação a outros modos de conhecimento.
44
[...] a palavra complexidade não tem por trás de si uma nobre herança filosófica,
científica ou epistemológica. Ela suporta, ao contrário, uma pesada carga
semântica, pois que traz em seu seio confusão, incerteza, desordem. Sua
primeira definição não pode fornecer nenhuma elucidação: é complexo o que
não pode se resumir numa palavra-chave, o que não pode ser reduzido a uma
lei nem a uma idéia simples. Em outros termos, o complexo não pode se
resumir à palavra complexidade, referir-se a uma lei da complexidade, reduzir-
se à idéia de complexidade.
Morin (2006, p. 74 e 75) considera que a “própria idéia hologramática está ligada
a idéia recursiva, que está ligada, em parte, à idéia dialógica”. Para o autor a idéia
paradoxal contida no princípio hologramático imobiliza o espírito linear da mesma forma
46
que na lógica recursiva, sabe-se muito bem que o adquirido no conhecimento das
partes volta-se sobre o todo. Para Morin (2006, p. 74 e 75) “pode-se enriquecer o
conhecimento das partes pelo todo e o do todo pelas partes, num mesmo movimento
produtor de conhecimentos”.
18
Para Serva (1996, p. 340), a ação racional substantiva é a “ação orientada para duas dimensões: na dimensão
individual, que se refere à auto-realização, compreendida como concretização de potencialidades e satisfação; na
dimensão grupal, que se refere ao entendimento, na direção da responsabilidade e satisfação sociais”.
19
Vasconcelos (2002) define que as práticas interdisciplinares correspondem às práticas de interação participativa
que inclui a construção e pactuação de uma axiomática comum a um grupo de campos de saber conexos, definida no
nível hierarquicamente superior, introduzindo a noção de finalidade maior que redefine os elementos internos dos
campos originais.
48
Uma das citações do livro que teve um especial significado para a tomada de
decisão quanto à escolha da teoria da complexidade para o desenvolvimento deste
estudo é quando Morin (1998) alerta para a necessidade da não eliminação da hipótese
de um neo-obscurantismo generalizado, produzido pelo mesmo movimento das
especializações, no qual o próprio especialista torna-se ignorante de tudo aquilo que
não concerne a sua disciplina e o não-especializado renuncia prematuramente a toda a
possibilidade de refletir sobre o mundo, a vida e a sociedade, deixando esse cuidado
aos cientistas, que não têm tempo nem meios conceituais para tanto.
Para Morin (2006, p. 68 e 69), “a visão não complexa das ciências humanas, das
ciências sociais, considera que há uma realidade econômica de um lado, uma realidade
psicológica do outro, uma realidade demográfica de outro, etc”. Segundo o autor:
ela seja ligada a outras dimensões; daí a crença de que se pode identificar a
complexidade com a completude (MORIN, 2006, p. 69).
Para Morin (1998), uma sociedade é produzida pelas interações entre indivíduos
e essas interações produzem um todo organizador que retroage sobre os indivíduos
para co-produzi-los enquanto indivíduos humanos, o que eles não seriam se não
dispusessem da instrução, da linguagem e da cultura. O desafio da complexidade não
nos faz renunciar para sempre o mito da elucidação total do universo, mas nos encoraja
51
2.2.1. A Busca por uma Definição Multidisplinar para Natureza e Meio Ambiente
“nascimento”. A palavra grega phusis vem da raiz phu cujo significado básico
também estava associado a nascimento (Partridge (1958)). Desse modo,
nossas palavras física e físico, assim como natureza e natural, têm suas origens
no processo de dar à luz, de criar e de proteger (mothering).
Este significado, por sua vez, está ligado à idéia da natureza como um impulso
ou poder inato [...] numa escala mais ampla, a natureza é o poder criativo e
regulador que opera no mundo físico, a causa imediata de todos os seus
fenômenos (SHELDRAKE, 1993, p. 22).
Por essa razão, para Sheldrake (1993, p. 22) a “natureza passa a significar o
mundo físico, ou natural, como um todo”. Quando a natureza é personificada “[...] ela é
a Mãe Natureza, um aspecto da Grande Mãe, a fonte e o sustentáculo de toda a vida, e
o ventre para o qual toda a vida retorna” (SHELDRAKE, 1993, p.22).
Esta visão da natureza como mãe é retratada por diferentes culturas milenares
ao redor do mundo, desde aquelas que já desapareceram até aquelas que de alguma
forma ainda resistem às pressões exercidas pela sociedade contemporânea sobre suas
culturas e seus domínios. Poucas definições elaboradas pela ciência tradicional se
revelam capazes de retratar em profundidade e sensibilidade o sentido de natureza
simbólica presente na sabedoria indígena, como aquela expressada pelo Chefe
Indígena Duwamish (Chefe Seattle) no discurso que fez ao Presidente Franklin Pierce
em 1854, em resposta a proposta de compra de suas terras pelo governo americano
(ver Anexo 1).
Segundo Sheldrake (1993) uma delas é a que considera que a natureza consiste
apenas em matéria inanimada em movimento. Para o autor, nesse caso, apenas
negamos o princípio mãe por estarmos dele inconscientes, uma vez que “a própria
palavra matéria deriva da mesma raiz de mãe – em latim, as palavras correspondentes
são materia e mater todo o ethos do materialismo está permeado de metáforas
maternas” (SHELDRAKE, 1993, p. 24).
Para Sheldrake (1993, p. 15) “no mundo oficial – o mundo do trabalho, dos
negócios e da política – a natureza é concebida como a fonte inanimada dos recursos
naturais, da qual se pode tirar proveito para o desenvolvimento econômico”. Para o
autor, a abordagem de diferentes tipos de atores que se fundamentam no pensamento
mecanicista, a exemplo de cientistas, tecnocratas, economistas ou proprietários rurais
que enxergam suas terras apenas para fins lucrativos, baseia-se, pelo menos durante
as horas de trabalho, na suposição de que a natureza é inanimada e neutra. Para
muitos desses e outros atores sociais, nada do que é natural possui uma vida, uma
finalidade ou um valor próprio. Muitos acreditam que os recursos naturais existem
apenas para serem desdobrados e que seu único valor é aquele que as forças de
mercado ou os planejadores oficiais neles imprimem.
Muitos mecanicistas supõem que esse modo de pensar não tem equivalente em
termos de objetividade, enquanto que, por outro lado, vêem a idéia de natureza
viva como antropocêntrica, nada além de uma projeção, sobre o mundo
inanimado que nos rodeia, de maneiras humanas de pensar. Mas certamente a
metáfora “máquina” é mais antropocêntrica do que a orgânica. As únicas
máquinas que conhecemos são feitas pelo homem. A fabricação de máquinas é
uma atividade exclusivamente humana, e relativamente recente. Nos séculos
XVII e XVIII, a concepção de Deus como o planejador e o criador da máquina
do mundo o moldou à imagem do homem tecnológico. Além disso, ao tentar ver
todos os aspectos da natureza como semelhantes a máquinas, projetamos
tecnologias correntes sobre o mundo que nos cerca. Projeções de mecanismos
de relojoaria e projeções hidráulicas estavam em voga no século XVII, bolas de
bilhar e máquinas a vapor no século XIX, e tecnologias informáticas e de
computação nos dias de hoje.
56
Barbieri (2006, p.2) reforça a sua definição para meio ambiente mencionando
que “... as palavras meio e ambiente trazem per se a idéia de entorno e envoltório, de
modo que a expressão meio ambiente encerra uma redundância”. O autor menciona
que essa expressão é consagrada no Brasil e nos países de língua hispânica (medio
ambiente); e que em Portugal e na Itália utiliza-se apenas a palavra ambiente. De
acordo com Barbieri (2006, p.2) em outros idiomas como no idioma francês e no inglês
“utilizam-se as palavras environnement e environment, respectivamente, ambas
originadas do francês antigo environer que significa circunscrevem, cercar e rodear”.
Para Barbieri (2006) o que envolve os seres vivos e as coisas ou o que está ao
seu redor é o planeta Terra com todos os seus elementos, tanto os naturais quanto os
alterados e construídos pelos seres humanos. Desta forma o autor considera que o
meio ambiente compreende o ambiente natural e o artificial, isto é, o ambiente físico e
biológico originais e o que foi alterado, destruído e construído pelos humanos com as
58
Para Odum e Sarmiento citados por Barbieri (2006) o ambiente de suporte à vida
é aquela parte da Terra que satisfaz as necessidades fisiológicas vitais, provendo
alimentos e outras formas de energia, nutrientes minerais, ar e água. Segundo Barbieri
(2006, p.2):
A vida ocorre apenas na biosfera, uma estreita faixa do Planeta constituída pela
interação de três ambientes físicos: o ambiente terrestre ou litosfera, o aquático
ou hidrosfera, e o atmosférico, que envolve os outros dois ambientes. A parte
59
Art. 225 Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).
Art. 207. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Estado,
aos Municípios e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
gerações presente e futuras, garantindo-se a proteção dos ecossistemas e o
uso racional dos recursos ambientais (PARANÁ, 2001).
60
Para Branco (2005) o termo “meio” possui uma conotação bioquímica e físico-
química, fazendo com que a expressão “meio ambiente” adquira um caráter mais
restritivo. Para o autor esta expressão se refere ao “meio circundante”, mas não
abrange o conceito sistêmico que considera os próprios organismos como parte de
ambiente. Branco (2005) considera que se a intenção dos autores da expressão era
usar “meio” no sentido mais geral, referindo-se a “lugar no espaço”, então a expressão
é simplesmente redundante. “Seria como dizer ‘lugar ambiente’, em vez de empregar
simplesmente o substantivo ‘ambiente’” (BRANCO, 2005, p. 93).
O ambiente está integrado por processos, tanto de ordem física como social,
dominados e excluídos pela racionalidade econômica dominante: a natureza
superexplorada e a degradação socioambiental, perda da diversidade biológica
e cultural, a pobreza associada à destruição do patrimônio de recursos dos
povos e a dissolução de suas identidades étnicas; a distribuição desigual dos
custos ecológicos do crescimento e a deterioração da qualidade de vida. Ao
mesmo tempo o ambiente emerge como um novo potencial produtivo, resultado
da articulação sinérgica da produtividade ecológica, da inovação tecnológica e
da organização cultural. O ambiente não é o meio que circunda as espécies e
61
funcionava de forma mecânica, Deus foi automaticamente se tornando cada vez mais
supérfluo, fato que contribuiu, por volta do final do século XVIII, para o seu
desaparecimento da visão científica do mundo. Ainda segundo o autor, com o
subseqüente crescimento do ateísmo, a natureza, sozinha, passou a ser considerada
como a fonte de todas as coisas, gerando a crença do materialismo moderno, segundo
o qual se acredita que “[...] a natureza (ou matéria) é a fonte de todas as coisas; toda a
vida emerge dela, e para ela toda a vida retorna” (SHELDRAKE, 1993, p. 31).
Sheldrake (1993) considera que o que justifica a poderosa razão para o apego à
visão mecanicista reside no fato de ela ser mais cômoda; dela ainda constituir a
64
ortodoxia da civilização industrial. Porém o autor alerta para o fato que ela pode não
continuar sendo a mais cômoda por muito tempo:
Sheldrake (1993) chega a considerar que talvez, a mais forte das razões para se
negar a vida da natureza esteja no fato de que admiti-la é algo que leva a
conseqüências esmagadoras. Para o autor:
De acordo com Tickell, foi em 1972 que James Lovelock apresentou para a
comunidade científica as suas idéias sobre um Planeta vivo, por meio da apresentação
20
de sua hipótese denominada “Teoria de Gaia” , idéia que pareceu inaceitável para
muitos adeptos do pensamento convencional. De acordo com Lovelock (2006, p. 33):
20
Sheldrake (1993, p. 157) menciona que o proponente da hipótese de Gaia é a de que a Terra é um organismo vivo
auto-regulador. Segundo o autor, Lovelock começou a formular suas idéias quando pensava a respeito da maneira de
detectar vida em Marte. Durante o desenvolvimento de suas pesquisas, Lovelock compreendeu que se os gases que
constituem a atmosfera da terra estivessem em equilíbrio químico, como ocorre nas atmosferas de Marte e de Vênus,
nossa atmosfera deveria apresentar cerca de 99 por cento de dióxido de carbono. Em vez disso, ela contém apenas
0,03 por cento de dióxido de carbono, bem como 78 por cento de nitrogênio e 21 por cento de oxigênio. Para o
pesquisador, essa composição poderia ter surgido somente graças às atividades dos organismos vivos e somente
poderia ser mantida graças à sua contínua atividade.
66
Em Gaia, somos apenas uma outra espécie, não somos nem os proprietários
nem os administradores deste planeta. Nosso futuro depende muito mais de um
relacionamento correto com Gaia do que com o drama infindável dos interesses
humanos (LOVELOCK CITADO POR SHELDRAKE, 1993, p. 161).
De acordo com Lovelock (2006, p. 19), a Teoria de Gaia, assim “como todas as
teorias novas, levou décadas até ser, ainda que parcialmente, aceita, porque teve de
67
aguardar por dados para confirmá-la ou negá-la”. Para o autor é sabido agora que a
Terra de fato se regula, porém lamenta que devido ao tempo decorrido para a coleta de
dados, que a descoberta de que a regulação estava falhando e de que sistema da Terra
rapidamente se aproxima do estado crítico em que a vida corre perigo tenha vindo tarde
demais.
Para Sheldrake (1993, p. 153), “ao longo de toda a história, praticamente toda a
humanidade (e a maior parte dela ainda hoje) aceita como verdadeiro o fato de que a
Terra é viva”. O autor considera que a compreensão contemporânea emergente da
Terra como viva, embora arraigada em velhos padrões de pensamento mítico, é
fortemente influenciada por duas percepções caracteristicamente modernas: a visão
obtida da Terra a partir do espaço, tal como foi observada pelos astronautas e pelos
cosmonautas; e a compreensão de que nossas atividades econômicas estão mudando
o clima global.
Uma destas visões da Terra obtidas por astronautas a partir do espaço e que
contribuiu para reavivar e reforçar o significado da Terra como um planeta vivo foi
obtida em 24 de dezembro de 1968, pelos astronautas que integravam o missão Apollo
8. Além do reconhecimento das formas e cores, esta imagem contribuiu para revelar o
sentimento que os astronautas tiveram quando consideraram a terra como o seu lar:
68
[...] contrastamos hoje a paz dos primeiros tempos com os conflitos que
vivenciamos; nas sociedades “primitivas” reconhecemos um modo de vida
harmonioso que perdemos – e que até mesmo essas sociedades estão
perdendo rapidamente sob a influência da nossa civilização. Para milhões de
habitantes das cidades modernas, a vida se torna mais tolerável ante a
perspectiva de saírem a campo, de se retirarem para ambientes rurais, em fins
de semana, ou de lá permanecerem durante todo o período de férias. Nas
noites de sexta-feira, as estradas que saem das grandes cidades do mundo
ocidental ficam intransitáveis. Há algo a ser encontrado “na natureza”, de que
muitos de nós sentem necessidade.
Sheldrake (1993, p. 70) acredita que “retornar à natureza é uma imagem que
evoca a sensação de voltar para casa, ou de se religar a fonte da vida”, porém “[...]
poucas pessoas querem retornar à natureza por muito tempo”, uma vez que todos ”[...]
somos os herdeiros de uma cultura e de um modo de vida que enfatiza a nossa
69
Neste contexto em que o sujeito tenta se reaproximar do que foi por muito tempo
considerado como apenas um objeto de estudo e não como algo essencial para a
perpetuação da sua própria vida e das gerações futuras, há de se imaginar as
dificuldades encontradas para o restabelecimento da ligação entre ser humano e
natureza.
Logo, pode-se concluir que refletir sobre as questões que envolvem a relação
natureza e ser humano de forma unilateral, ou seja, pensar o meio ambiente sem incluir
o ser humano ou sem envolver aspectos econômicos, sociais, políticos, culturais e
espaciais, a exemplo de inúmeras iniciativas já desenvolvidas, contribui apenas para
antecipar a crise sócio-econômica-ambiental já anunciada. Por se tratarem de questões
complexas, as questões ambientais exigem uma abordagem a partir da racionalidade e
do comportamento da sociedade quanto à forma como o conjunto de indivíduos que a
compõe estabelece as suas relações com o ambiente natural do qual é apenas uma
parte integrante.
[...] desde que o fogo foi subjugado pela primeira vez, desde que as primeiras
ferramentas foram fabricadas, desde que os metais começaram a ser usados,
desde que os primeiros animais foram domesticados e as primeiras plantas
cultivadas, e desde que as primeiras cidades foram construídas - envolveu, em
graus diversos, o domínio do homem sobre a natureza. (SHELDRAKE, 1993, p.
46 e 47)
Para Sheldrake (1993, p. 47) “o que o mundo moderno tem de único não é o fato
do poder humano em si mesmo, nem o sentido de que a humanidade é alguma coisa
sem paralelo, mas sim o enorme aumento do poder humano”. De acordo com o autor,
“as justificativas filosóficas, teológicas e mitológicas para o poder humano sobre o
71
mundo natural não constituem uma característica exclusiva da civilização moderna” [...]
“elas são encontradas por toda parte”, sendo, portanto consideradas como “[...]
concepções antropocêntricas da relação entre homem e natureza” (SHELDRAKE,
1993, p. 47). Segundo o autor:
Caçadores-coletores têm alta mobilidade. Mas sua vida não requer mudanças
contínuas para novo território. Sua sobrevivência depende de conhecer o meio
local em seus mínimos detalhes. A agricultura multiplica o número de humanos.
Assim, compele os agricultores a expandir a terra que trabalham. A agricultura e
a busca de novas terras vão juntas. Como escreve Hugh Brody, "são os
agricultores, com seu compromisso com terras específicas e grande número de
filhos, que são forçados a constantemente se mudar, reassentar, colonizar
novas terras (...) Como um sistema, e ao longo do tempo, é a agricultura, não a
caça, que gera o 'nomadismo'.
A passagem para a agricultura não teve uma razão única. Mas, onde quer que
tenha ocorrido, foi tanto um efeito quanto uma causa do crescimento da
população humana. A agricultura tornou-se indispensável por causa da
população maior possibilitada por ela. (GRAY, 2005, p. 172 e 173)
Face aos diferentes tipos de pressões sofridos por estas áreas, Chomitz (2007)
afirma que as florestas tropicais encolhem 5% a cada década, situação que segundo o
autor, deve ser mantida ou ampliada com a manutenção da previsão de expansão de
terras cultiváveis, pastos e plantações nas áreas de florestas naturais nos próximos 30
ou 50 anos. Para o autor, esta expansão é justificada tanto pela pobreza quanto pela
riqueza, uma vez que uma enorme população rural depende da agricultura de baixa
produtividade para subsistência, enquanto que, uma crescente população urbana cada
vez mais rica, necessita dos produtos produzidos nas margens das florestas. Ainda
segundo o autor, as florestas também sofrem pressões de madeireiros, uma vez que a
população pobre necessita de lenha e a população rica necessita de madeira.
De acordo com dados fornecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU)
(2007) e apresentados no quadro 2, percebe-se que as discussões ocorridas em torno
das questões sócio-ambientais ao longo das últimas décadas foram acompanhadas de
uma explosão demográfica mundial, fato que contribuiu significativamente para o
agravamento dos impactos ambientais até então registrados.
Ano População
1970 3.698.676.000
1980 4.451.470.000
1990 5.294.879.000
2000 6.124.123.000
Fonte: Adaptado de Organização das Nações Unidas (ONU) (2007)
maior parte dos cientistas da atmosfera estar absorvida pela intrigante ciência da
redução do ozônio estratosférico.
21
De acordo com o World Wildlife Fund (WWF) (2007), o Índice Planeta Vivo é um indicador do estado da
biodiversidade do mundo, com base em tendências apresentadas desde 1970 até 2003, no âmbito de mais de 3.600
populações com mais de 1.300 espécies vertebradas de todo o mundo. É calculado como a média de três índices
distintos que medem as tendências em populações de 695 espécies terrestres, 344 espécies de água doce e 274
espécies marinhas.
83
22
De acordo com o World Wildlife Fund (WWF) (2007) o índice “Pegada Ecológica” mede a quantidade de terra
biologicamente produtiva e a área de água necessárias para produzir os recursos que um indivíduo, uma população
ou uma atividade consome e para absorver o resíduo que geram, fornecendo tecnologia dominante e gestão de
recursos.
84
Ano População
2010 6.906.558.000
2020 7.667.090.000
2030 8.317.707.000
2040 8.823.546.000
2050 9.191.287.000
Fonte: Adaptado de Organização das Nações Unidas (ONU) (2007)
Outro estudo recente que demonstra os sérios impactos gerados pela sociedade
global no ambiente natural, elaborado pelo National Center for Ecological Analisys and
Synthesis (2008) da Universidade da Califórnia, trata sobre o impacto das atividades
humanas nos ambientes marinhos. Este estudo revela o estado crítico em que se
encontram os oceanos em função do incremento das atividades humanas:
85
Pelas diversas evidências apontadas ao longo deste estudo, tudo indica que, se
mantida a atual forma de relação das diferentes sociedades mundiais com o ambiente
natural, desenvolvida com mais ênfase nas últimas cinco décadas, a sociedade global
estará inaugurando um novo período em sua relação com o meio ambiente, um período
caracterizado pela ampliação dos riscos.
Para Leff (2003, p. 19) “as mudanças catastróficas na natureza ocorreram nas
diversas fases de evolução geológica e ecológica do planeta”. Para o autor, o que difere
estas mudanças da crise ecológica atual é que pela primeira vez não se trata de uma
mudança natural; e sim de uma transformação da natureza induzida pelas concepções
metafísica, filosófica, ética, científica e tecnológica do mundo.
Para Leff (2003), a crise ambiental representa uma crise do nosso tempo, onde o
risco ecológico questiona o conhecimento do mundo. Para o autor esta crise se
apresenta a nós como um limite no real que re-significa e re-orienta o curso da história:
limite do crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e
das capacidades de sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade social.
Para o autor representa também a crise do pensamento ocidental: da “determinação
metafísica” que, ao pensar o ser como um ente, abriu a via da racionalidade científica e
instrumental que produziu a modernidade como uma ordem coisificada e fragmentada,
como formas de domínio e controle sobre o mundo.
Para o autor, a inércia cumulativa da economia global alcançou uma escala que
ultrapassa os limites de sustentabilidade do planeta, onde as externalidades do sistema
geraram um estado de escassez absoluta, uma deseconomia global e generalizada.
Desta forma, Leff (2006) considera que o destino do desenvolvimento sustentável
estaria lançado numa encruzilhada, entre o fatalismo da morte entrópica e a esperança
da vontade divina, fato que não oferece saídas à crise do sistema. O autor acredita que:
[...] uma razão totalitária, que se expande e globaliza, que impõe um processo
de racionalização que vai ocupando todas as esferas da vida social e da ordem
23
Leff (2006) apresenta a necessidade de construção de uma nova racionalidade, que o autor denomina de
racionalidade ambiental, capaz de orientar a construção da sustentabilidade a partir de um encontro de
racionalidades, de formas diferentes de pensar, de imaginar, de sentir, de significar e de dar valor às coisas do
mundo.
89
Para Leff (2006) uma vez que o crescimento econômico não é sustentável e que
a racionalidade econômica não contém os mecanismos para sua desativação, o autor
julga necessário construir outra racionalidade produtiva, capaz de operar conforme os
princípios da sustentabilidade. Leff (2006, p. 232) considera que:
Para Leff (2003, p.16) “a crise ambiental, entendida como a crise de civilização,
não poderia encontrar uma solução pela via da racionalidade teórica e instrumental que
constrói e destrói o mundo”. Para o autor:
Para Leff (2003, p. 17) “na crítica radical das causas da crise ambiental nas
formas de conhecimento do mundo, se projeta um futuro aberto, com base na
diferenciação dos sentidos do discurso ambientalista”, na qual a “[...] reconstrução
social se funda em um novo saber, a partir da pergunta pelas origens dessa
racionalidade em crise” e “pelo conhecimento do mundo que tem sustentado a
construção de um mundo insustentável”. Para o autor a crise ambiental problematiza o
pensamento metafísico e a racionalidade científica, possibilitando “[...] novas vias de
transformação do conhecimento através do diálogo e da hibridação de saberes” (LEFF,
2003, p. 17).
De acordo com Leff (2006, p.136 e 137) “nos anos 1980, as estratégias do
desenvolvimento foram deslocadas pelo discurso do desenvolvimento sustentável”.
Segundo o autor, embora essa noção já tivesse se insinuado a partir dos textos da
Estratégia Mundial de Conservação, de 1980, foi no relatório denominado Nosso Futuro
Comum, mais conhecido como Relatório de Brundtland, que se formulou a definição do
desenvolvimento sustentável como “processo que permite satisfazer as necessidades
da população atual sem comprometer a capacidade de atender às gerações futuras”.
diferentes interesses dos países, povos e classes sociais que plasmam o campo
conflitivo da apropriação da natureza. Para o autor:
Com relação à apropriação indevida do termo, Leff (2006, 139) considera que:
Estamos governados não tanto pelo crescimento, mas por crescimentos. Nossa
sociedade está fundada na proliferação, em um crescimento que continua
apesar de não poder medir-se diante de nenhum objetivo claro. Uma sociedade
excrescente cujo desenvolvimento é incontrolável, que ocorre sem considerar
sua autodefinição, onde a acumulação de efeitos vai de mãos dadas com a
desaparição das causas. O resultado é um congestionamento sistêmico bruto e
um mau funcionamento causado por uma hipertelia: por um excesso de
imperativos funcionais, por uma sorte de saturação [...] As próprias causas
tendem a desaparecer, a se tornar indecifráveis, gerando a intensificação de
processos que operam no vazio. Enquanto existir uma disfunção do sistema,
98
Leff (2006) menciona que economistas ecológicos como René Passet, Herman
Daly, José Neredo e Joan Martínez Alier já perceberam as limitações que o mercado
tem para regulamentar efetivamente os equilíbrios ecológicos, bem como sua
capacidade para internalizar os custos ambientais através de um sistema de normas
legais, de impostos ou de um mercado de licenças transacionáveis para a redução das
emissões de gases que causam o aquecimento global do planeta. De acordo com o
autor, estes economistas sugerem assim que:
Para Leff (2006, p. 225 e 226) a tomada de consciência a respeito dos limites do
crescimento, que surge da visibilidade da degradação ambiental desponta como uma
crítica ao paradigma normal da economia. Para o autor:
Desta forma Leff (2006), reforça que o paradigma econômico tem sido incapaz
de assimilar a crítica apresentada pela lei da entropia e da racionalidade econômica. De
acordo com o autor, diante das propostas de colocar um freio no crescimento e da
transição a uma economia de estado estacionário, a teoria e as políticas econômicas
procuram iludir o limite e acelerar o processo de crescimento, montando um dispositivo
ideológico e uma estratégia de poder para capitalizar a natureza, de onde surge o
102
alguns autores colocam grande ênfase na abertura do projeto humano em meio a novas
contingências, complexidades e incertezas. A partir do campo de estudos da sociologia,
Beck (2006) cita algumas das abordagens e autores que tentam delimitar este período
de transição: pós-modernidade (Bauman, Lyotard, Harvey, Haraway), modernidade
tardia (Giddens), era global (Albrow) ou modernidade reflexiva (Beck, Giddens, Lash).
Segunda
Período que se configura como um autêntico desafio teórico e político, no qual a
Modernidade
sociedade deve responder simultaneamente a todos os desafios gerados na primeira
ou
modernidade, os quais o autor considera como conseqüências imprevistas da vitória
Modernidade
da primeira modernização, simples, linear e industrial, baseada no estado nacional.
Reflexiva
Fonte: Adaptado de Beck (2006)
24
Para Beck (2006) o processo de individualização surge quando os indivíduos passam a assumir um sentimento
maior de subjetividade, momento em que assumem de forma ativa os destinos de sua sociedade. Segundo o autor,
este processo surge da exaustão, dissolução e desencantamento das fontes de significado e específicas de grupos
(com o a crença no progresso, a consciência de classe) da cultura da sociedade industrial (cujos estilos de vidas e
idéias de segurança também foram fundamentais para as democracias ocidentais e para as sociedades econômicas até
bem entrado o século XX) conduzem a todo o trabalho de definição que desde então se espera ou impõem aos
próprios indivíduos.
104
Desta forma, Beck (2006) considera que a sociedade industrial se inclina além do
limite da segurabilidade, transformando-se involuntariamente em uma sociedade de
risco através de seus próprios perigos sistematicamente produzidos, sendo que a
racionalidade na qual se baseia se deriva da racionalidade que está no núcleo desta
sociedade: a racionalidade econômica. Para Beck (2006, p. 121):
25
Beck (2006, p. 5) entende como risco “o enfoque moderno da previsão e controle das conseqüências futuras da
ação humana, as diversas conseqüências não desejadas da modernização radicalizada”.
105
Desta forma, segundo Beck (2006), a sociedade de risco se caracteriza por ter
invalidado as decisões que eram tomadas com base em normas fixas de calculabilidade
associadas a meios e fins ou causas e efeitos. O autor acredita que a partir do
momento que a sociedade passou a desenvolver atividades que deixaram de ser
cobertas por seguros, a condição da iminência do risco foi institucionalizada. Como
exemplos que evidenciam a existência do risco, Beck (2006) cita a ausência de seguros
para a cobertura de desastres nucleares, contra os efeitos indesejados ocasionados
pelo fenômeno do aquecimento global ou graves conseqüências que possam ser
causadas por diversos tipos de tecnologias futuras, a exemplo das novas tecnologias
que envolvem a engenharia genética.
Para Beck (2006, p.5), “o conceito de risco e sociedade de risco combina o que
estava excluído mutuamente há tempos: sociedade e natureza, ciências sociais e
ciências naturais, construção discursiva do risco e materialidade das ameaças”.
Beck (2006, p. 6) acredita que “os riscos se converteram em uma das principais
forças de mobilização política, substituindo muitas vezes as referências e as
desigualdades associadas à classe, raça ou gênero”. O autor acredita que de forma
simultânea, a nova preeminência do risco vincula, por um lado, a autonomia individual e
a insegurança no mercado de trabalho e em relação de gênero, por outro lado,
influencia as mudanças científicas e tecnológicas. Para o autor a sociedade de risco
global abre o discurso público e a ciência social aos desafios da crise ecológica, que na
contemporaneidade se faz global, local, e pessoal ao mesmo tempo.
26
Beck (2006) acredita que apesar da geração do “primeiro eu” ser muito criticada, que o seu individualismo é mais
moral e político em um sentido novo. O autor considera que a época atual é mais moral que a dos anos 50 e 60, que
os filhos da liberdade têm sentimentos mais apaixonados e morais sobre uma ampla gama de questões, desde o trato
ao meio ambiente aos animais, envolvendo questões de gênero, raça e direitos humanos no mundo.
107
conhecimento que tem qualquer leitor de jornais ou telespectador maduro das sociedades
industriais de que o envenenamento do ar, da água, do solo, das plantas e dos alimentos não
conhece fronteiras.
• Na perspectiva realista, falar da sociedade de risco global reflete a socialização global
obrigatória devido aos perigos produzidos pela civilização. O novo estado do mundo é a base
da crescente importância das instituições transnacionais. Os perigos globais correspondem, de
forma realista, a modelos globais de percepção, fóruns mundiais de vida e ação pública, e
finalmente – se a objetividade suposta dá bastante impulso para a ação – atores e instituições
transnacionais.
• O vigor do realismo também pode observar-se em seu claro manuscrito histórico, segundo o
qual o desenvolvimento da indústria ou da sociedade industrial atravessou duas etapas
distintas. Na primeira, eram as questões de classe ou sociais as que tinham uma importância
primordial; na segunda, são as questões ecológicas. Porém seria excessivamente simples
supor que a ecologia superou a questão de classe; é bastante evidente, e é preciso destacar,
que as crises ecológicas, do mercado de trabalho e econômicas se sobrepõem e é muito
possível que se agravem mutuamente.
• Pelo lado realista, para contraste, a globalidade é baseada unicamente na auto-autoridade
ostensiva dos perigos objetivos.
• O realismo concebe a problemática ecológica como fechada.
• Uma perspectiva social-construtivista em uma sociedade de risco global não se funda em uma
globalidade cientificamente comprovada dos problemas, mas em coalizações de discurso
transnacionais (Hajer citado por Beck (2006)), que esboçam dentro do espaço público as
questões de uma agenda global. Segundo Beck (2006) até os anos 70 e 80 não se forjaram ou
fizeram poderosas estas coalizões, e na década atual, especialmente desde a cúpula da terra
do Rio, tem começado a transformar a paisagem temática em torno dos problemas do planeta.
Isto requer a institucionalização do movimento ecologista e a construção de atores
transnacionais que tentem abordar a gestão global dos problemas mundiais (WWF,
Greenpeace, ministérios de meio ambiente, legislações, acordos nacionais e internacionais,
indústrias, ciência, entre outros).
• Na perspectiva construtivista os diferentes atores necessitam ter êxito em suas atuações e
afirmar-se continuamente contra poderosas contra-coalizações.
• Na perspectiva construtivista, os atores transnacionais já tem que ter conseguido que se aceite
a sua política discursiva, de maneira que a globalidade de questões ambientais seja decisiva
para as percepções e exigências de ações sociais.
• O construtivismo mantém o princípio de abertura em relação à discussão da problemática
ecológica.
Fonte: Adaptado de Beck (2006)
108
Beck (2006) alerta para o fato de que, apesar de existirem pontos convergentes
em relação às duas perspectivas, isso não deve ser considerado como um forte motivo
para que sejam minimizadas as suas diferenças. Beck (2006) acha particularmente
notável o fato de o realismo enfatizar questões relacionadas ao risco global enquanto
que o construtivismo enfatiza as questões relacionadas à sociedade. Segundo o autor a
diferença reside no fato de que para um, são os perigos (os cenários de desastre total)
da sociedade de risco global os que constituem o centro principal de atenção; enquanto
que para o outro, são as oportunidades, os contextos em que atuam os atores. Para
um, os perigos globais devem dar lugar antes de mais nada a instituições e tratados
internacionais. Para o outro, ao falar sobre os perigos ambientais já se supõem
coalizões supranacionais de discurso comprometidas em uma ação com êxito.
De acordo com Beck (2006) muitos acreditam que assumir a objetividade dos
perigos globais é potencializar a construção de instituições transnacionais
109
Em sua proposta para a sociedade de risco, Beck (2006) propõe um novo marco
conceitual, em que a análise sócio ecológica dos problemas ecológicos não seja tratada
como problemas de meio ambiente ou o mundo que nos rodeia, mas sim como um
mundo interior da sociedade. O autor sugere que este marco se inicie além do dualismo
existente entre sociedade e natureza e de conceitos chave aparentemente evidentes,
de natureza, ecologia e meio ambiente.
Beck (2006) chama a atenção sobre a essência desta fórmula, na qual residem
os riscos, que dependem de decisões e que em princípio podem controlar-se, e perigos,
que escaparam ou neutralizaram as exigências de controle da sociedade industrial. O
autor atribui à existência dos riscos ao fato de que normas e instituições desenvolvidas
dentro da sociedade industrial podem falhar: o cálculo de riscos, o principio de
segurança, o conceito de prevenção de acidentes e desastres, as medidas profiláticas.
Como forma apresentar evidências sobre a sua existência, Beck (2006) reforça o fato
110
Para Beck (2006) a ausência de seguro revela que as companhias de seguro são
dotadas de especialistas tecnológicos, que contestam o juízo de técnicos e autoridades
importantes sobre o caráter inofensivo de produtos ou tecnologias que produzem. O
realismo econômico predominante nas companhias de seguro lhes impede ter alguma
relação com um suposto risco zero.
Beck (2006) também considera que a situação da economia sofre uma mudança
radical. Segundo o autor houve um tempo em que a indústria podia lançar projetos sem
submetê-los a controles e regulações especiais, o qual foi seguido por um período de
regulação estatal, no qual a atividade econômica só passou a ser possível com o marco
da legislação trabalhista, as normativas de segurança, acordos de tarifa, entre outros.
Em termos de uma sociedade de risco global, Beck (2006) considera esta como sendo
uma mudança decisiva em termos da compreensão da sociedade de risco global, onde
mesmo que todas as instâncias e regulamentações desempenhem o seu papel e que
todos os acordos válidos sejam respeitados, os mesmos nem sempre representarão
segurança.
Para Beck (2006) o fato de que as normas sejam respeitadas não impede que a
opinião pública efetue suas críticas sobre as organizações que considere poluidoras do
meio ambiente, pois os mercados de bens e serviços são baseados em princípios
instáveis, ou seja, fogem do controle das empresas que aplicam remédios domésticos,
ocasiões que segundo o autor, revelam a insegurança fabricada em áreas centrais da
ação e da gestão baseadas na racionalidade econômica.
Em sua concepção para a sociedade de risco global, Beck (2006) acredita que
diferentes ameaças globais como conflitos ambientais, pobreza e armas de destruição
em massa podem muito bem complementar-se e acentuar-se mutuamente, ou seja, se
faz necessário considerar a interação entre a destruição ecológica, as guerras e as
conseqüências da modernização incompleta.
Para o autor o princípio de culpa está perdendo a sua eficácia, uma vez que em
muitas ocasiões, não podem ser definidas compensações financeiras aos danos
causados e não faz sentido assegurar-se contra os piores efeitos possíveis da espiral
de ameaças globais. Para Beck (2006) em termos de política social, a crise ecológica
implica numa violação sistemática de direitos básicos, cujos efeitos gerados na
sociedade a longo prazo não devem ser subestimados. Para o autor, os perigos
produzidos na indústria, são exteriorizados para a economia, individualizados pelo
sistema legal, legitimados pelas ciências naturais e apresentados como inofensivos
pela política, situações que corroem o poder e a credibilidade das instituições e que só
é evidenciado quando o sistema apresenta algum sinal de crise.
27
Luhmann citado por Beck (2006) apresenta a diferença entre risco, o resultado de uma decisão, e perigo, que se
refere às múltiplas pessoas ou grupos que são afetados e afligidos pelos riscos que os outros adotam (e que podem
evitar).
114
também de todas as demais culturas e formas sociais, não importa o quão diversas e
contraditórias tivessem podido ser em seus detalhes.
Para Beck (2006, p. 113 e 114) neste contexto “surge uma situação
completamente distinta quando os perigos da sociedade industrial dominam os debates
públicos, político e privado”, onde “[...] as instituições da sociedade industrial produzem
e legitimam perigos que não podem controlar”.
Logo Beck (2006) defende a idéia de que a sociedade de risco não é uma opção
que possa se escolher ou rejeitar no curso do debate político. Surge por meio do
funcionamento automático de processos autônomos de modernização que são cegos e
surdos às conseqüências e perigos, situação que põe em questão a própria lógica de
funcionamento da sociedade industrial.
Para Beck (2006, p 139) “[...] a sociedade de risco começa onde os princípios de
cálculo da sociedade industrial submergem e anulam a continuidade da modernização
automática e tempestuosamente triunfante”, onde “a sociedade de risco nega os
princípios de sua racionalidade”, os quais deixou para traz quando começou a operar
além dos limites asseguráveis. Para o autor, “a sociedade de risco só se inicia quando o
debate sobre a reparação e reforma da sociedade industrial se define com clareza”
(BECK, 2006, p 140).
convencer a opinião pública. Para Demajorovic (2003) está cada vez mais evidente que
o agravamento dos problemas ambientais está diretamente ligado a escolhas com
respeito à forma de aplicar o conhecimento técnico-científico no processo produtivo.
Logo, o autor considera que “as catástrofes e os danos ao meio ambiente não são
surpresas ou acontecimentos inesperados”, são “[...] conseqüências inerentes da
modernidade, que mostram, acima de tudo, a incapacidade do conhecimento
construído no século XX de controlar os efeitos gerados pelo desenvolvimento
industrial” (DEMAJOROVIC, 2003, p. 35).
Assim como Beck, Demajorovic (2003) considera que nada é mais representativo
do que o posicionamento assumido pelas empresas de seguro em relação ao risco.
Segundo o autor, as várias seguradoras que vislumbraram grandes oportunidades de
negócios na década de 1980 em função do aumento das regulamentações ambientais,
optando por incorporar o seguro ambiental em seus serviços tradicionais, rapidamente
perceberam que a multiplicação dos acidentes revelava que a administração dos novos
negócios não era tão simples. Diversas seguradoras, preocupadas com os bilhões de
dólares destinados ao pagamento das indenizações em virtude do aumento das
reclamações por problemas ambientais, as quais ameaçavam a própria solvência do
28
De acordo com Shrivastava citado por Demajorovic (2003) este tipo de cálculo procura avaliar exclusivamente os
riscos financeiros, ou seja, detectar a possibilidade de retornos monetários para o investimento realizado,
considerando a volatilidade dos mercados financeiros, as flutuações da taxa de inflação, as mudanças tecnológicas,
entre outros.
120
setor, logo elevaram significativamente o valor dos prêmios, ao mesmo tempo em que
diminuíram a cobertura de seguros29.
29
De acordo com Demajorovic (2003) em 1995 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
lançou a Declaração de Compromisso Ambiental para a Indústria de Seguros. De acordo com o autor, no ano da
edição do seu livro, mais de 70 seguradoras de 25 países assinaram o acordo para incorporar a variável ambiental em
suas operações.
121
Para alguns autores como Jonhson citado por Demajorovic (2003, p. 65), “a
indústria química transformou profundamente as relações dos seres humanos com o
mundo natural, criando um novo tipo de dependência: a dos indivíduos por produtos
químicos sintéticos”. Esta constatação pode ser confirmada em Demajorovic (2003),
quando menciona a presença dos produtos químicos no cotidiano das pessoas, de
forma direta (produtos farmacêuticos, fertilizantes, tintas, plásticos e borrachas) e
indireta (insumos para as indústrias têxtil, automobilística, eletrônica, entre outras).
[...] uma análise mais ampla das mudanças observadas no período, não restrita
às tecnologias mecânicas, revela que a famosa Revolução Industrial iniciada na
Inglaterra não resultou de fato em uma revolução e sim uma mudança evolutiva.
A verdadeira ruptura, ou a “revolução química”, teria acontecido por ocasião de
pesquisas anteriores, concomitantes e posteriores ao período da Revolução
Industrial, que, direcionadas para o desenvolvimento de novas matérias-primas,
estabeleceriam as bases para a formação e expansão da indústria química,
principal vetor da mudança social e econômica do século XX.
Continua (...)
127
pela indústria mundial somente estão disponíveis para as parcelas da sociedade que
dispõe de recursos financeiros para a sua aquisição.
Segundo Santa Rosa citado por Wongtschowski (1999), criou-se nessa época
uma mentalidade orientada para o improviso, numa tentativa de suprir a ausência das
matérias-primas importadas por substitutas nacionais, com resultados econômicos,
muitas vezes, duvidosos: enxofre importado por piritas brasileiras, carvão combustível
por torta de algodão, extrair sais de potássio das cinzas da torta de algodão. Para o
autor este período serviu para que fosse estabelecida a convicção entre o
empresariado e técnicos do setor quanto à necessidade de estabelecer as bases
definitivas da indústria química brasileira ao invés de promover a substituição de
matérias-primas em situações emergenciais. O quadro 9 apresenta as iniciativas
surgidas no período:
1949 Plásticos Plavinil S.A. São Paulo (SP) Filmes de Material Vinílico
Produtos Químicos
1949 Fongra Prods. Químicos Suzano (SP)
Diversos
S.A. Inds. Reunidas F.
1950 São Caetano (SP) Soda Cáustica e Cloro
Matarazzo
1950 Bristol-Labor S.A. São Paulo (SP) Produtos Farmacêuticos
S.A. Inds. Reunidas F. Pesticida Benzeno
1950 São Caetano (SP)
Matarazzo Hexaclorado
Refinaria Nacional de Petróleo
1950 Mataripe (BA) Refinaria de Petróleo
S.A.
1950 Alba S.A. Inds. Químicas Cubatão (SP) Metanol
Ácido Sulfúrico e Dióxido
1951 Cia. Química Industrial – CIL São Paulo (SP)
de Titânio
Cia. de Superfosfatos e Ácido Sulfúrico e
1951 Capuava (SP)
Produtos Químicos Superfosfatos
Pan-Americana S.A. Inds.
1951 Rio de Janeiro (RJ) Soda Cáustica e Cloro
Químicas
1951 Elekeiroz Várzea Paulista (SP) Anidrido Ftálico e Ftalatos
Ácido Acético, Anidrido
1951 Rhodia Santo André (SP)
Acético e Acetatos
Rilsan (Fibra de Poliamida
1951 Rilsan Brasileira S.A. Osasco (SP)
de Classe do Nylon)
1952 Rhodia Santo André (SP) Amônia
Ácido Sulfúrico e
1953 Quimbrasil Santo André (SP)
Superfosfatos
1953 Cia. Eletroquímica Fluminense Alcântara (RJ) Soda Cáustica e Cloro
Carbeto de Silício
Carborundum S.A. Ind.
1953 Salto (SP) (Abrasivo) e Óxido de
Brasileira de Abrasivos
Alumínio (Coridón Artificial)
Pesticida Benzeno
1953 Inds. Químicas Eletro Cloro S.A. Santo André (SP)
Hexaclorado
Cia. Brasileira de Plásticos
1953 São Bernardo (SP) Poliestireno
Koppers
1953 Cia. Brasileira de Estireno Cubatão (SP) Estireno
Butanol por via
Fermentativa, Acetato de
1953 Usina Victor Sence S.A. Campos (RJ)
Butila, Ácido Acético e
Acetona
Resinas Fenólicas,
Cia. de Tintas e Vernizes R.
1953 São Paulo (SP) Maléicas, Alquídicas e
Montesanto
Copais
Fiação Brasileira de Raion
1953 Americana (SP) Raion-Viscose
“Fibra” S.A.
1953 Brascola Ltda. São Bernardo (SP) Adesivos e Colas
1954 Nitro Química São Miguel (SP) Soda Cáustica e Cloro
1954 Matarazzo São Caetano (SP) Sulfeto de Sódio
Cloreto de Cério, Silicato
Orquima Inds. Químicas
1954 São Paulo (SP) de Zircônio, Compostos de
Reunidas S.A.
Tório e Urânio
Pneus, Câmaras e Artigos
1954 Dunlop do Brasil S.A. Campinas (SP)
de Borracha
Refinaria de Petróleo
1954 Rio de Janeiro (RJ) Refinaria de Petróleo
Manguinhos S.A.
Refinaria e Exploração de Refinaria de Petróleo
1954 Capuava (SP)
Petróleo União S.A.
Continua (...)
141
30
De acordo com Wongtschowski (1999) a Petroquisa foi criada pelo decreto 61.891 de 28/12/1967, para
desenvolver e consolidar a indústria química e petroquímica no Brasil, por meio de participações societárias em
empresas do setor, mesmo minoritariamente, o que não era permitido à Petrobrás, por força da Lei 2004 que a criou.
A Lei 2004 foi revogada pela Lei 9478 de 06/08/1997, que criou a Agência Nacional de Petróleo (ANP), sendo mais
tarde regulamentada pelo Decreto 2455 de 15/01/98.
143
31
Segundo Wongtschowski (1999), por meio da adoção do sistema “tripartite” ficavam resguardados dois aspectos
importantes no entendimento do governo federal: maioria do capital nas mãos da iniciativa privada (sócio privado
nacional mais sócio privado estrangeiro) e maioria do capital nacional (sócio privado nacional mais sócio estatal
nacional)
145
Continua (...)
149
Continua (...)
150
respeita as fronteiras criadas por definições técnicas e censitárias. Para o autor, este
problema de compatibilidade entre a realidade das empresas e das atividades
econômicas, de um lado, e as definições estatísticas com seus números-resultados,
dificilmente teriam condições de gerar uma solução única e unanimemente aceita.
Para Cremasco (2005) a indústria, de um modo geral, pode ser entendida como
um conjunto de atividades econômicas que visa a manipulação e a exploração de
matérias-primas e fontes energéticas, bem como a transformação de produtos semi-
acabados em bens de produção ou de consumo34. De acordo com o autor, a indústria
química é, resumidamente, um tipo de indústria de transformação, cujas atividades
consistem na transformação de matéria-prima em produtos intermediários (indústrias de
base ou pesada) e destes em bens de consumo (indústrias leves).
34
Segundo Cremasco (2005) bens de produção, também conhecidos como bens de capital, são bens intermediários
que servem para a produção de outros, enquanto que os bens de consumo atendem diretamente à demanda a médio e
longo prazo.
152
por fertilizantes, pesticidas e plásticos. Segundo o autor, este tipo de indústria produz
insumos para diversos outros setores, sendo considerado um setor intensivo em capital,
que exige grandes investimentos em equipamentos e instalações, e em muitos casos,
licenciamento de tecnologia. Para o autor:
Continua (...)
35
Segundo o Anuário da Indústria Química Brasileira elaborado pela Associação Brasileira da Indústria Química
(ABIQUIM) (2007b), a entidade foi fundada em 1964, para representar o setor no País e no exterior. Empresas
químicas de pequeno, médio e grande portes, bem como prestadores de serviços ao setor nas áreas de distribuição,
logística, transporte e tratamento de resíduos industriais, são associadas da ABIQUIM. Em termos internacionais, a
ABIQUIM faz parte do Conselho da Indústria Química do Mercosul (CIQUIM) e do Conselho Internacional das
Associações de Indústria Química (ICCA).
153
Com a criação da Riopol em 2005, o Brasil passou a contar com quatro pólos
petroquímicos, cujo detalhamento quanto a constituição societária e volumes de
produção são apresentados na forma de diagramas extraídos do Anuário da Indústria
Química Brasileira elaborado pela Associação Brasileira da Indústria Química
(ABIQUIM) (2007b) e disponibilizados para consulta nos Anexos 2 e 3 deste estudo:
154
Continua (...)
159
Com vistas a adotar uma classificação que possibilitasse uma aproximação dos
dados obtidos neste estudo com outras pesquisas futuras desenvolvidas na área,
optou-se pela adoção da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) –
versão 2.0, como referência para a identificação das indústrias químicas envolvidas na
presente pesquisa.
como Albright-Wilson, Allied Signal, Arco Chemical, Hüls, Neste, Union Carbide,
Upjohn e outros desapareceram.
com que não haja relação geográfica direta entre cliente e fornecedor. Para o autor,
clientes globalizados desejam que seus fornecedores atendam a demandas em
qualquer lugar do mundo, com produto idêntico e em iguais condições comerciais.
36
De acordo com Wongtschowski (2002), spin-off corresponde a separação de parte de uma empresa em uma nova
entidade jurídica, guardando ou não vínculos acionários com a empresa da qual se separou.
37
De acordo com Wongtschowski (2002), joint venture corresponde a associação de duas ou mais empresas, com
objetivos específicos, executada pela formação de uma nova entidade jurídica.
162
produção de derivados de gás natural que migrou para os países em que esse
insumo é excedente e portanto de baixo custo: Canadá, Indonésia, Arábia Saudita,
Kuwait e Venezuela abrigarão crescentemente unidades de produção de derivados
de eteno; Chile, Nova Zelândia e Trinidad e Tobago abrigam grandes produtores de
metanol; enquanto que a Malásia e as Filipinas atraem usuários de óleos láuricos.
De acordo com Hirutaka citado por Nakano (2007) o setor se caracteriza pela
tendência crescente do estabelecimento de uma divisão internacional de trabalho e de
produção entre países. Para Nakano (2007) os grandes grupos internacionais têm
optado por fabricar produtos menos diferenciados em unidades localizadas em países
periféricos, concentrando a produção dos diferenciados em suas unidades centrais,
onde se localizam também os seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento.
38
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) (2007b), a abertura dos grupos de produtos
grafados em itálico na tabela não aparece na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) Em função
da ABIQUIM já realizar um levantamento desses grupos em separado, a entidade optou por manter essas
subdivisões.
172
Outros
US$ 2,3 bilhões
Defensivos Agrícolas
US$ 3,9 bilhões
Sabões e Detergentes
US$ 4,6 bilhões
Produtos e Preparados
Químicos Diversos
US$ 8,3 bilhões Total: US$ 45,4 bilhões
Resinas Termoplásticas
Elastômeros US$ 7,7 bilhões
US$ 1,1 bilhões
Gases Industriais
US$ 2,2 bilhões
Intermediários para
Resinas e Fibras
US$ 4,0 bilhões
3,6
3,3
3,2 3,1
3,0 3,0
2,7
Outros
US$ 2,6 bilhões
Tintas, Esmaltes e
Vernizes
US$ 2,4 bilhões
Total: US$ 101,3 bilhões
Defensivos Agrícolas Produtos Químicos de
US$ 4,9 bilhões Uso Industrial
US$ 54,2 bilhões
Sabões e Detergentes
US$ 5,5 bilhões
Adubos e Fertilizantes
US$ 8,9 bilhões
180,0
162,8
154,3 154,0
160,0
Índice 1990 = 100 145,1
139,2 138,4
140,0 136,1 134,2
125,8 123,3
117,4
120,0 113,6 115,3
106,2
100,0 99,9
100,0 96,2
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
17,4
14,5 15,3
10,7 10,8 10,1 11,0
7,4 8,9
4,0 3,5 3,8 5,9
4,8
Exportações Importações
Gráfico 7 – Importações/Exportações Brasileiras em US$ Bilhões FOB (2000 a 2006)
Fonte: Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) (2007b, p. 20)
827 ; 11%
775 ; 11%
224 ; 3%
47 ; 1%
1.797 ; 24% 1.153 ; 16%
184 ; 3%
15.717 ; 5%
67.906 ; 20%
5.899 ; 2%
para a manutenção de sua expansão no futuro, fato que poderá contribuir para níveis
crescentes da utilização dos recursos naturais bem como para o aumento dos níveis de
geração de resíduos que poderão contribuir de alguma forma para o agravamento da
saúde ambiental planetária.
De acordo com Demajorovic (2003, p. 76), estas situações ocorridas nos Estados
Unidos contribuíram para o estabelecimento de uma nova relação entre empresas e
órgãos de governo, uma vez que ambos não podiam mais ignorar a pressão dos
grupos não-governamentais organizados. Segundo o autor, “as entidades públicas e
privadas que tradicionalmente conjugaram seus esforços visando o crescimento
econômico viram-se em lados opostos, pelo menos no que concerne à problemática
ambiental”, uma vez que “novas leis impostas pelos órgãos ambientais passaram a
controlar de forma mais restritiva produtos e processos industriais químicos”
(DEMAJOROVIC, 2003, p. 76).
39
De acordo com Mundo e Educação (2007) A palavra “Smog” é uma junção de duas palavras da língua inglesa:
“smoke” e “fog”, respectivamente, fumaça e neblina. Smog é um fenômeno que ocorre principalmente nas grandes
cidades, se caracterizando como a mistura de gases, fumaça e vapores de água, formando uma grande massa de ar.
Mais precisamente, o smog é formado por óxidos de nitrogênio (NOx), compostos voláteis orgânicos (VOC),
dióxido de sulfureto, aerossóis ácidos e gases.
189
Continua (...)
190
Continua (...)
40
De acordo com Demajorovic (2003, p. 109) a “Política Nacional do Meio Ambiente representou um marco
histórico ao introduzir a responsabilização por crimes ambientais e eleger o Ministério Público como importante ator
para a solução de conflitos judiciais ligados à degradação ambiental”.
192
Continua (...)
193
Continua (...)
195
Continua (...)
196
Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por Poluição
1969
por Óleo.
1969 Convênio relativo à intervenção em alto-mar nos casos de acidentes com óleo.
Convênio sobre responsabilidade civil na esfera de transporte marítimo de materiais
1969
nucleares.
1972 Publicado o primeiro relatório do Clube de Roma, intitulado Os Limites do Crescimento.
1972 Criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Realizada em Estocolmo a 1ª. Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio
1972
Ambiente e instituído o Dia Internacional do Meio Ambiente (5 de junho)
Firmada a Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and
1973
Flora (Cites) (Convenção Internacional sobre o Comércio de Espécies Ameaçadas).
Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios (conhecida como
1973
Marpol)
Conferido pela primeira vez o selo ecológico Anjo Azul a produtos que se distinguem por
1978
suas qualidades ambientais.
1982 Publicação da Diretiva de Seveso.
Assinada em Londres a convenção internacional que proíbe o lançamento de rejeitos
1983
nucleares nos oceanos.
Implantado pela primeira vez o Programa Atuação Responsável, concedido pela indústria
1984 química, para assegurar maior rigor ao gerenciamento ambiental nas unidades desse setor
industrial em todo o mundo.
Após o acidente de Bhopal, o Congresso Norte-Americano aprova a legislação Sara Title II,
1984
voltada especialmente para as práticas de gerenciamento de unidades industriais químicas.
1985 Firmada a Convenção de Viena para a proteção da camada de ozônio.
Em meados da década de 1980, a ampliação da pressão social resulta em uma atuação
mais contundente dos órgãos ambientais nos grandes centros produtores: Rio de Janeiro,
1985
Rio Grande do Sul, Bahia e São Paulo, determinando mudanças nas políticas
socioambientais das empresas do setor químico.
É aprovado nos Estados Unidos o Emergency Planning and Community Right do Know Act
(EPCRA), também conhecido como Sara Title III. Este plano exigiu que todas as empresas
1986
do setor químico com dez ou mais empregados estimassem o volume das emissões de
seus resíduos gasosos, líquidos e sólidos.
Publicado o relatório da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais
1987
conhecido como Relatório Brundtland, produzido a pedido das Nações Unidas.
Firmado o Protocolo de Montreal, que cria mecanismos para a eliminação das substâncias
1987
que esgotam a camada de ozônio.
Firmada a Convenção da Basiléia, Suíça, que regula internacionalmente os movimentos
1989
transfronteiriços de resíduos tóxicos.
Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e Cooperação em Caso de Poluição por
1990
Óleo (conhecida como OPRC/90)
Firmado o Protocolo sobre Proteção Ambiental, anexo ao Tratado Antártico, que transforma
1991
a Antártica em reserva natural, com a totalidade de sua área protegida.
A Câmara de Comércio Internacional publica a Carta Empresarial para o Desenvolvimento
1991
Sustentável.
Realiza-se no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, quando são assinados diversos acordos e convenções ambientais de
1992 alcance global, dentre eles a Agenda 21, cujo capítulo 19 trata do tema de Segurança
Química: todos os produtos químicos devem ter todas as suas características conhecidas e
informadas aos usuários, de modo a proteger a saúde humana e o meio ambiente.
Criado o Comitê Técnico 207 da Organização Internacional para a Normalização (ISO)
1993 incumbido de criar um sistema de normas internacionais para a gestão ambiental, do qual
resultaram as normas ISO 14000.
Convenção de Londres sobre o Banimento do Despejo de Resíduos Radioativos nos
1993 Oceanos.
Continua (...)
198
Continua (...)
199
[...] embora outros setores industriais também sejam responsáveis por gerar
acidentes ampliados ou maiores, grande parte dos eventos ocorreu em
indústrias químicas de base, ou de primeira e segunda geração, que fabricam
uma série de produtos empregados como matérias-primas em outras indústrias.
O risco é inerente a essas unidades industriais em razão de seu próprio
processo de produção e do tipo de produto gerado, e os riscos mais comuns
são incêndio, explosões e vazamentos de gases, além da contaminação do ar,
da água e do solo.
Janice Mazurek – The • Na pesquisa de opinião pública favorável feita em dez setores
Use of Unilateral industriais norte-americanos, no período de 1990 e 1995, o setor
Agreements in the químico ocupou a segunda posição, perdendo apenas para a
1998 indústria de tabaco. O índice de pessoas que se declararam
United States: The
Responsible Care favoráveis ao setor sofreu um decréscimo de 27% em 1991 para
Initiative 21% em 1995.
Continua (...)
41
Segundo Freitas citado por Demajorovic (2003) acidentes químicos ampliados correspondem a eventos agudos,
tais como explosões, incêndios e emissões, individualmente ou combinados, envolvendo uma ou mais substâncias
perigosas com potencial de causar simultaneamente múltiplos danos ao meio ambiente e à saúde dos seres humanos
expostos. O que caracteriza os acidentes químicos ampliados não é somente a sua capacidade de causar grande
número de óbitos, embora sejam frequentemente conhecidos por isso. É também o potencial de gravidade e extensão
de seus efeitos ultrapassarem os seus limites espaciais de bairros, cidades e países – e temporais – como a
teratogênese, mutagênese e danos a órgãos-alvo específicos.
201
De acordo com Lage e Valle (2004) o Programa Atuação Responsável, foi criado
em decorrência dos sucessivos acidentes com grande repercussão e que afetaram a
imagem da indústria química mundial deste o início da década de 1970. Segundo
Demajorovic (2003) foi por meio deste programa que iniciou-se uma campanha
integrada com o objetivo de modificar práticas gerenciais no campo socioambiental
para reverter a imagem negativa do setor perante a opinião pública.
1987 O programa Atuação Responsável foi levado para os Estados Unidos e Inglaterra.
Implementado oficialmente em 1988 nos Estados Unidos por meio da Chemical
1988
Manufacturers Association (CMA).
Continua (...)
42
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (2007a), o Programa Atuação Responsável
(Responsible Care) foi criado no Canadá em 1984 com o intuito de reverter a imagem pública das indústrias
químicas por meio de ações que visem promover a ampliação da segurança e a redução dos riscos relacionados à
indústria química. Internacionalmente o programa é coordenado pelo Responsible Care Leadership Group – RCLG
(Grupo de Liderança do Responsible Care) do International Council of Chemical Associations – ICCA (Conselho
Internacional das Associações da Indústria Química) e no Brasil pela Associação Brasileira de Indústrias Químicas
(ABIQUIM).
203
De acordo com Mazurek citado por Demajorovic (2003) a iniciativa já atingia 43 países,
cobrindo 87% da produção química mundial. Neste mesmo ano, segundo a ABIQUIM, dos
133 membros 75% tinham implementado o código de segurança de processo, 50% o de
1999
prevenção a poluição e transporte e distribuição, e 30% o de resposta a emergências e
gerenciamento de produto. Neste ano as multinacionais americanas eram as mais
avançadas na implementação do programa.
Continua (...)
204
2.4. PERCEPÇÃO
Para este estudo, que busca revelar algumas das percepções que os
profissionais de indústrias químicas instaladas em um município paranaense têm das
relações de suas organizações com o meio ambiente, foram considerados os conceitos
de percepção propostos pela Chauí (2000), Comissão Mundial sobre Meio Ambiente
(1991), Egler e Silva (2007), Sheldrake (2001) e Fernandes (2004).
Representando a filosofia, Chauí (2000) afirma que a partir do último século, este
campo científico foi capaz de alterar estas duas tradições, criando as condições
necessárias para a formulação de uma nova concepção do conhecimento sensível43.
Para Chauí (2000, p. 152 e 153), estas mudanças foram trazidas pela fenomenologia
de Husserl e pela Psicologia da Forma ou teoria da Gestalt44, sendo que ambas
mostraram:
43
Segundo Chauí (2000) Platão diferencia e separa radicalmente duas formas de conhecimento: o conhecimento
sensível (crença e opinião) e o conhecimento intelectual (raciocínio e intuição), afirmando que somente o segundo
alcança o Ser e a verdade. O conhecimento sensível alcança a mera aparência das coisas, o conhecimento intelectual
alcança a essência das coisas, as idéias. Para Descartes, o conhecimento sensível (isto é, sensação, percepção,
imaginação, memória e linguagem) é a causa do erro e deve ser afastado. O conhecimento verdadeiro é puramente
intelectual, parte das idéias inatas e controla (por meio de regras) as investigações filosóficas, científicas e técnicas.
210
iv) O próprio mundo exterior não é uma coleção ou uma soma de coisas
isoladas, mas está organizado em formas e estruturas complexas dotadas
de sentido. Uma paisagem, por exemplo, não é uma soma de coisas que
estão apenas próximas umas das outras, mas é a percepção de coisas que
44
De acordo com Chauí (2000, p. 152) “Gestalt é uma palavra alemã que significa: configuração, figura estruturada,
forma”.
211
xii) A percepção não é uma idéia confusa ou inferior, como julgava a tradição,
mas uma maneira de ter idéias sensíveis ou significações perceptivas;
Para Egler e Silva (2007), a percepção nos permite formar idéias, imagens e
compreensões do mundo que nos rodeia, conceito que se aproxima da definição da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente (1991) a qual considera que a percepção é a
maneira pela qual o homem sente e compreende o meio ambiente, natural ou criado
por ele.
[...] um cego não pode possuir percepções do mundo igual a uma pessoa que
detém a visão, até por que os estímulos externos são captados pelos sentidos -
audição, visão, tato, olfato, paladar. Não que um cego, por isso, possua uma
percepção reduzida, mas dado a sua dificuldade de visualização ele poder
utilizar outros sentidos, que o permitirá ter outras sensações da realidade e por
isso interpretá-la de um outro modo.
Sheldrake (2001, p. 92) acredita que da mesma forma que “[...] a luz penetra nos
olhos, as imagens e percepções se projetam dos olhos para o mundo que nos cerca”.
Para o autor:
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
De acordo com Gil (2002) é usual classificar as pesquisas com base em seus
objetivos gerais, classificando-as em três grandes grupos: exploratórias, descritivas ou
explicativas.
Para Oliveira, M. M. de (2007, p. 65) “este tipo de pesquisa objetiva dar uma
explicação geral sobre determinado fato, através da delimitação do estudo,
levantamento bibliográfico, leitura e análise de documentos”. Para a autora “... a
pesquisa exploratória, ao dar uma explicação geral, pode levantar um novo problema
que será esclarecido através de uma pesquisa mais consistente”. Segundo Oliveira, M.
M. de (2007, p. 65):
[...] esse tipo de pesquisa desenvolve estudos que dão uma visão geral do fato
ou fenômeno estudado [...] um estudo exploratório é realizado quando o tema
escolhido é pouco explorado, sendo difícil a formulação e a operacionalização
de hipóteses.
De acordo com Gil (2002) na maioria dos casos estas pesquisas envolvem um
levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas
com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a sua compreensão.
3.1.2. Natureza
Para Santos citado por Mattos (2006), hoje é consensual, inclusive entre as
ciências empíricas, que a ficção de um conhecimento sem a marca cultural do autor,
embora possível para fins práticos e tecnológicos, não se harmoniza com a idéia de
45
Para Laville e Dionne (1999, p. 27), o conceito de objetividade considera que “o conhecimento positivo deve
respeitar integralmente o objeto do qual trata o estudo; cada um deve reconhecê-lo tal como é”. Segundo os autores,
este conceito considera que “o sujeito conhecedor (o pesquisador) não deve influenciar esse objeto de modo algum;
deve intervir o menos possível e dotar-se de procedimentos que eliminem ou reduzam, ao mínimo, os efeitos não
controlados dessas intervenções”
46
Para Laville e Dione (1999) o empirismo se define como um conhecimento gerado à partir de uma experiência.
Para os autores, o conhecimento positivo parte da realidade como os sentidos a percebem e ajusta-se à realidade.
Desta forma qualquer conhecimento, tendo uma origem diferente da experiência da realidade parece suspeito, assim
como qualquer explicação que resulte de idéias inatas ou anteriores a qualquer experiência.
218
Para Laville e Dionne (1999, p. 33) “em ciências humanas, os fatos dificilmente
podem ser considerados como coisas, uma vez que os objetos de estudo pensam,
agem e reagem”. Para os autores “são atores podendo orientar a situação de diversas
maneiras...”, situação que coincide com o caso do pesquisador “... ele também é um
ator agindo e exercendo sua influência”.
De acordo com Laville e Dionne (1999, p. 34) “... o pesquisador não pode, frente
aos fatos sociais, ter essa objetividade, apagar-se desse modo. Frente aos fatos sociais
tem preferências, inclinações, interesses particulares” [...] “interessa-se por eles e os
considera a partir do seu sistema de valores”. Para os autores “em ciências humanas, o
pesquisador é mais que um observador objetivo: é um ator aí envolvido” (LAVILLE E
DIONNE, 1999, p. 34).
47
Oliveira, M. M. de (2007) sugere uma neutralidade científica, conceito pelo qual o autor deve evitar ao máximo a
subjetividade, ou seja, o autor deve manter-se distante de suas emoções durante a construção do conhecimento de
forma a evitar o “achismo” que pode interferir nos resultados da pesquisa. Segundo Minayo citado por Oliveira, M.
M. de (2007, p. 102) a subjetividade “leva o pesquisador a sucumbir à magia dos métodos e técnicas, esquecendo-se
do essencial, isto é, a fidedignidade às significações presentes no material e referida a relações sociais e dinâmicas”.
219
A opção por uma abordagem qualitativa deve ter como principal fundamento a
crença de que existe uma relação dinâmica entre o mundo real, objetivo,
concreto e o sujeito; portanto, uma conexão entre a realidade cósmica e o
homem, entre a objetividade e a subjetividade.
Para a autora na abordagem qualitativa, o pesquisador (a) deve ser alguém que
tenta interpretar a realidade dentro de uma visão complexa. Parafraseando Cláudio
Oliveira, Oliveira, M. M. de (2007, p. 60) menciona que “todos os conceitos, teorias e
descobertas são limitados e aproximados” e que este tipo de postura do pesquisador
“[...] se fundamenta no novo paradigma da ciência contemporânea, oposto ao antigo
paradigma, que preconizava a verdade absoluta das coisas”.
De acordo com Laville e Dionne (1999) o que garante o valor deste saber é um
princípio denominado objetivação48. Para os autores:
48
Laville e Dionne (1999, p. 335) definem objetivação como a “operação pela qual o pesquisador torna consciente,
para ele e para os outros, as coordenadas de seu problema de pesquisa e a perspectiva na qual o aborda”
220
Ainda para Santos, A. R. dos (2002, p. 28), a pesquisa de campo é aquela que
“recolhe os dados in natura, como percebidos pelo pesquisador. Normalmente a
pesquisa de campo se faz por observação direta, levantamento ou estudo de caso".
Para Barros e Lehfeld (2000, p. 89) “em pesquisas de campo, é comum o uso de
questionários e entrevistas”. Para os autores, a escolha do instrumento de pesquisa
dependerá do tipo de informação que se deseja obter ou do tipo de objeto de estudo.
Para a coleta dos dados que compõem o perfil dos profissionais entrevistados e
o perfil ambiental das indústrias químicas pesquisadas, foi aplicado um questionário
antes da realização das entrevistas, visando criar uma aproximação entre o
pesquisador e o entrevistado, além da obtenção de algumas informações preliminares
necessárias para a realização da entrevista semi-estruturada. Para Barros e Lehfeld
(2000, p. 90), trata-se do “... instrumento mais usado para o levantamento de
informações”. Para Oliveira, M. M. de (2007, p. 83):
Para Richardson citado por Barros e Lehfeld (2000, p. 90) o termo entrevista é
“[...] construído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista refere-se ao ato de ver, ter
preocupação de algo. Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa
das pessoas ou coisas” [...] “o termo entrevistado refere-se ao ato de perceber o
realizado entre duas pessoas”.
De acordo com Barros e Lehfeld (2000, p. 91) “a entrevista é uma técnica que
permite o relacionamento estreito entre entrevistado e entrevistador”. Corroborando
com Barros e Lehfeld, Oliveira, M. M. de (2007, p. 86) considera que “a entrevista é um
excelente instrumento de pesquisa por permitir a interação entre pesquisador (a) e
entrevistado (a) e a obtenção de descrições detalhadas sobre o que se está
pesquisando”.
Isto [“a atitude de vigilância crítica”] sem que se caia na armadilha: construir por
construir, aplicar a técnica para se afirmar a boa consciência. Sucumbir à magia
dos instrumentos metodológicos, esquecendo a razão do seu uso (BARDIN
CITADO POR MATTOS, 2006, p. 353).
caso. De forma mais restrita, Mattos (2006) considera que a questão está exatamente
neste trabalho de organização, e seu caráter problemático reside no fato de que ele não
pode estar dissociado da própria produção, pelo pesquisador, do novo significado
interpretativo, afinal, sua criação pessoal.
Para Laville e Dionne (1999, p. 216) “uma das primeiras tarefas do pesquisador
consiste, pois, em efetuar um recorte dos conteúdos em elementos que ele poderá em
225
49
Legendre citado por Oliveira, M. M. de (2007, p. 93) define categoria como sendo um “agrupamento de
informações similares em função de características comuns”. Para Larousse citado por Oliveira (2007, p. 93)
“categoria é a classificação que se faz em função de certos princípios gerais e que tenham identidade comum”.
226
Categorias
Gerais
Categorias Unidades
Empíricas de Análise
Para Laville e Dionne (1999) além do recorte dos conteúdos, a definição das
categorias analíticas ou rubricas, anteriormente denominadas de categorias empíricas
por Oliveira, M. M. de (2007), sob as quais virão a se organizar os elementos de
conteúdo agrupados por parentesco de sentido, é uma tarefa que se reconhece
primordial. Para os autores:
Para Laville e Dionne (1999, p. 219) existem três modos para a definição das
categorias:
a) Modelo Aberto: onde as categorias não são fixas no início, mas tomam forma no
curso da própria análise;
c) Modelo Misto: situa-se entre os dois, servindo-se dos dois modelos precedentes:
categorias são selecionadas no início, mas o pesquisador se permite modificá-las
em função do que a análise aportará.
Unidades de Análise:
• Ramo de atuação
• Classificação do Cadastro Nacional de Atividade Econômica (CNAE)
• Classificação da organização quanto ao porte
• Tipo de empresa (matriz ou filial)
• Tempo de existência da organização (em anos e meses)
• Tempo de atuação no município (em anos e meses)
• Produtos fabricados
• Declaração formal de valores e missão (se considera o meio ambiente)
• Sistema de gestão ambiental
• Tempo de existência do sistema de gestão ambiental (em anos e meses)
• Certificações na área ambiental
• Descrição dos cargos dos profissionais relacionados com a gestão ambiental
• Matriz energética
• Percentuais de gastos ou investimentos ambientais realizados nos últimos 3 anos
com base na receita bruta (%)
• Descrição dos gastos ou investimentos em gestão ambiental nos últimos 3 anos (%)
• Descrição dos cursos realizados na área ambiental nos últimos 3 anos
• Considerações sobre a legislação aplicada a indústria química (nível de adequação)
• Principais motivações para gastos ou investimentos na área ambiental (além das
exigências legais)
• Principais dificuldades encontradas para a realização de gastos ou investimentos na
área ambiental (além da questão financeira)
• Histórico de acidente ambiental ocorrido na organização
• Geração de resíduo industrial (descrição e destino)
• Controle para emissão da poluição
229
Unidades de Análise:
• Cargo
• Gênero
• Faixa etária
• Formação
• Tempo de experiência como profissional (em anos e meses)
• Tempo de experiência do profissional na indústria química (em anos e meses)
Unidades de Análise:
Unidades de Análise:
230
50
Para Oliveira, M. M. de (2007, p. 88) “[...] a amostra é um subconjunto ou parte dos elementos que compõem o
universo”.
233
Em razão do IAP ter disponibilizado apenas totais sem o fornecimento dos dados
cadastrais e o detalhamento das autuações e acidentes envolvendo indústrias
químicas, novos contatos foram estabelecidos com o intuito da obtenção dos dados
originalmente solicitados. Depois de muita insistência, por meio de vários contatos por
telefone, por correio eletrônico e de uma visita pessoal, o IAP disponibilizou em 1º. de
abril de 2008 uma nova relação de indústrias químicas instaladas no município, a qual
apontou um total de 64 (sessenta e quatro) empresas, total diferente do apresentado no
primeiro retorno. Em relação aos dados sobre autuações e acidentes ambientais, o IAP
informou que o detalhamento sobre os mesmos não poderiam ser disponibilizados, uma
vez que a grande maioria das ocorrências ainda estava sendo discutida juridicamente,
fato que impedia a sua disponibilização para efeitos de divulgação pública.
O proprietário informou que a empresa estava nos meses de maior volume de produção
Indústria
e que os profissionais relacionados com a área ambiental não dispunham de tempo para
10
participar da pesquisa.
Continua (...)
240
Depois de vários contatos realizados, o proprietário informou por meio de sua secretária
Indústria
que a empresa não participaria da pesquisa em função de diversos compromissos
15
internos.
Das 6 (seis) empresas que não efetuaram um retorno, apesar das várias
tentativas de contato, a Indústria 22 chama a atenção por se tratar da única empresa
instalada no município que é associada à Associação Brasileira de Indústrias Químicas
(ABIQUIM). Apesar desta característica e do seu porte, a empresa não retornou a
nenhum dos 8 (oito) contatos que foram realizados por meio de visita para entrega do
convite, telefonemas e mensagens eletrônicas. Uma das hipóteses encontradas para a
ausência de retorno por parte desta indústria reside no fato de que suas instalações se
encontram dentro dos limites de uma Área de Proteção Ambiental (APA). Esta APA,
criada com o intuito de proteger a bacia hidrográfica que fornece água para um
reservatório de abastecimento existente próximo às instalações da empresa, foi
estabelecida em data posterior à instalação da indústria no município.
Com relação à faixa etária, 4 (quatro) ou 40% dos entrevistados declarou ter
entre 41 e 50 anos, 3 (três) ou 30% ter acima de 60 anos, 1 (uma) ou 10% ter entre 51
e 60 anos, 1 (um) ou 10% ter entre 31 e 40 anos e 1 (um) ou 10% ter entre 20 e 30
243
anos. Desta forma percebe-se que boa parte da amostra, composta por 8 (oito)
entrevistados é constituída por profissionais acima de 41 (quarenta e um) anos, dado
que revela a constituição de um grupo que possui maior tempo de experiência
profissional e de experiência na indústria química, conforme indicado no quadro 41:
Engenharia
Agronômica
(1985)
Entre 41
Técnica Especialização
Indústria 1 Entrevistada 1 Feminino e 50 22 anos 10 anos
Ambiental em
anos
Gerenciamento
Ambiental
(2004)
Entre 31 Analista de
Indústria 2 Entrevistado 2 Proprietário Masculino e 40 Sistemas 25 anos 15 anos
anos (Incompleto)
Entre 20
Encarregado Farmácia
Indústria 3 Entrevistado 3 Masculino e 30 14 anos 10 anos
de Produção (2006)
anos
Acima
Indústria 3 Entrevistado 4 Proprietário Masculino de 60 1º. Grau 47 anos 22 anos
anos
Acima
Indústria 4 Entrevistado 5 Proprietário Masculino de 60 1º. Grau 48 anos 43 anos
anos
Acima
Indústria 5 Entrevistado 6 Proprietário Masculino de 60 1º. Grau 60 anos 55 anos
anos
Entre 41
2º. Grau Não
Indústria 6 Entrevistado 7 Proprietário Masculino e 50 15 anos
(Incompleto) Informado
anos
Técnico em
Contábeis
(1982)
Entre 41
Gerente de Técnico em
Indústria 7 Entrevistado 8 Masculino e 50 25 anos 25 anos
Produção Química
anos
(1988)
Administração
(2000)
Entre 41 Engenheiro
Indústria 8 Entrevistado 9 Proprietário Masculino e 50 Civil 28 anos 5 anos
anos (1984)
Entre 51
Indústria 9 Entrevistada 10 Proprietária Feminino e 60 2º. Grau 31 anos 31 anos
anos
conhecimento dos entrevistados com relação a este aspecto burocrático que rege a
classificação das atividades da indústria de transformação no país. Por este motivo,
diferentemente da proposta original do estudo que previa classificar as atividades
desenvolvidas pelas indústrias químicas entrevistadas por meio da utilização do
Cadastro Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), foram adotadas as descrições
das atividades fornecidas pelas próprias empresas.
“Ainda não, são poucas as empresas que colocam isso como uma pré-condição, porque o
Brasil é um país continental onde você tem diversos tamanhos e diferentes necessidades.
Num futuro próximo, daqui uns 5 ou 6 anos, eu não vejo antes disso, você vai ter um
universo maior de empresas exigindo isso: certificação ISO 9000 para ter rastreabilidade e
ISO 14000 e 18000, seria segurança, meio ambiente, até a parte de saúde ocupacional e
terceiro setor. Quando uma empresa exige alguma coisa na qual nós não nos enquadramos,
nós colocamos a solicitação no nosso cronograma, se ela puder esperar nós fazemos
negócio, se não atende nós não mudamos o nosso foco em função da exigência daquela
empresa” (Entrevistado 8).
Quanto a matriz energética, a maior parte das indústrias declarou que se utiliza,
em maior proporção para o seu processo produtivo, da eletricidade fornecida pela
Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL). Algumas empresas declaram
fontes energéticas complementares, conforme demonstrado no quadro 45:
Com relação aos cursos realizados na área ambiental nos últimos 3 (três) anos,
apenas a Indústria 1 e a Indústria 6 informaram ter realizado algum tipo de curso. A
Indústria 1 informou que realizou os cursos de resíduos sólidos urbanos e da indústria e
de gerenciamento de resíduos de laboratório (físico e químico), enquanto que a
Indústria 6 informou que realizou o curso de prevenção, segurança e meio ambiente.
Desta forma, 7 (sete) indústrias ou 77,78% não participaram de nenhum tipo de curso
relacionado com a área ambiental, dado que revela que os diversos gastos ou
investimentos realizados por estas empresas na área não contemplaram a formação e a
atualização dos profissionais.
“Eu acho que, claro que para a gente tem que gastar mais dinheiro e as coisas ficam mais
difíceis, mas é uma tendência que não depende da gente e a gente tem mais é que se
adaptar. Não vou dizer que eu gosto né, é uma coisa que não depende da gente e a gente
sabe que é um processo que cada vez será mais exigido” (Entrevistado 9).
A Entrevistada 10 mencionou:
“Eu acho que eles estão certos, tem que fazer alguma coisa porque senão daqui a alguns
anos ...[hesitação]. Eu acho que tem que exigir mesmo” (Entrevistada 10).
“Não, eu acho que tem que ter mesmo. Eles procuram orientar, dão um parecer, se não
estiver certo eles dão um prazo para você regularizar aquilo” (Entrevistada 10).
“O nível de adequação da legislação está correto. Como eu sou químico vou falar da área
técnica não como representante da área gerencial da empresa. Correto está, só que eu
penso que a forma como é cobrado das empresas é que não é apropriada. Os órgãos
ambientais, seja a prefeitura ou o próprio IAP, o pessoal dos dois órgãos ambientais eles
não conhecem como deveriam os ramos aos quais eles vão fiscalizar, e muitas vezes você
tem uma legislação e depende da resposta que eles recebem do profissional, eles tomam
aquilo como grade fidedigna, e nem sempre isso é verdadeiro. Eu falo isso, como eu tenho
conhecimento técnico, eu te digo isso com o máximo de propriedade: com certeza há uma
legislação, ela poderia ser melhor aplicada, se tivéssemos um pessoal que conhecesse mais
da sua região, ou seja, das várias empresas que atuam na região, e se for uma empresa do
setor químico, quais produtos fabrica. Nós temos aqui 15 a 20 matérias-primas, algumas são
poluidoras em potencial e outras nem tanto. Só que eu teria de olhar as especificações do
produto, e nem sempre o que é colocado ali é levado a risca. Existem alguns riscos deste
produto em termos de transporte, de manipulação, de armazenagem, etc, que se eles
tivessem mais conhecimento (a fiscalização) com certeza, talvez tivessem algumas outras
exigências pertinente a parte preventiva. O corretivo, já aconteceu o evento, não tem o que
fazer. Então aí eu diria o seguinte: nós teríamos um outro aparato técnico relativo à
prevenção e até a efetiva cobrança. Apesar da empresa já ter 31 anos, nós temos um plano
de emergência que tem 9 anos, ou seja, ficamos praticamente 21 anos sem plano de
emergência. Não havia exigência porque as leis ambientais eram outras. As necessidades
cresceram e o staff de profissionais do IAP não foi incrementado. O que mais eu acho que
complica não é a questão da quantidade de pessoal, é o fato de que eles não se atualizam
em relação aos ramos de atividade. Eu trabalho no mercado há 25 anos, eu tenho que fazer
cursos para me manter no mercado. Se o meu ramo me exige isso, o ramo deles também. O
Estado não tem esta condição, e eu vejo que o Estado fiscaliza e multa, mas se a multa não
é bem fundamentada, a empresa derruba a multa, isto é líquido e certo. Para você
fundamentar uma multa você tem que ter muito conhecimento técnico, não é da legislação,
251
isso eles tem, é do ramo de atividade da empresa autuada. Eu diria que falta talvez uma
atualização ou uma reciclagem profissional. Estou no mercado há 30 anos, quando eu fiz
engenharia química, a química era de um jeito, hoje já não é mais assim, já mudou muita
coisa. A química é dinâmica e por ser dinâmica quem trabalha com a química precisa ser
dinâmico, senão não acompanha a tecnologia, não acompanha a evolução. Por isso é que
eu digo, a legislação existe, não há profissionais para fazer a fiscalização, então você não
têm contingente suficiente, e pior que isto, quando há contingente ou quando fiscaliza, ele
não consegue falar com os profissionais do mercado com propriedade. Você dá uma
resposta para ele, e ela é uma resposta às vezes politicamente correta, mas ele não pode
contestar porque falta argumentação, não tem contra-argumentação, ou seja, eu mostro os
meus conhecimentos técnicos e aí isso causa uma certa inibição, e a pessoa acaba não
pressionando mais. Se eu falar que não polui, não polui” (Entrevistado 8).
“Eu estou falando para você como um profissional da química não como empresa, eu não
concordo com a justificativa da dinâmica da química, porque se eu sou um profissional da
empresa e aqui eu respondo pela parte técnica e se eu disser para você que a química é
mais rápida do que eu profissional eu estou errado. E se eu sou um órgão
fiscalizador/normatizador é pior ainda, ou seja, eu não vou estar concatenado com o
mercado, não justifica. E aí é assim, ou o Estado é competente para fiscalizar, e se para
fiscalizar ele tem que ter informações do mercado que somos nós para se auto-regulamentar
para depois fiscalizar seria o correto. A química é dinâmica, OK, tudo é dinâmico. Eu
concordo que esta dinâmica dificulta mas acho que o Estado é pesado em relação a isso e
esse peso faz com que ele faça mal feito, então ele faz pró-forma e a empresa faz pró-forma
também e é o pró-forma que gera esses acidentes ambientais homéricos que ocorrem não
só no Brasil, no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e em qualquer lugar, porque lá
também tem isso. Na Europa, como é que eles fazem: novas empresas são rigorosamente
fiscalizadas, as mais antigas para se adequar custa muito caro, então eles tem lá uma certa
condenscendência e fazem o que, eu vou lhe dar um prazo X por complascência mesmo, e
esse prazo ele vai se dilatando. Você faz algumas coisas, faz um dos termos que está
colocado lá, e assina um termo de ajuste e tem uma dilação de prazo, isto vai se
estendendo. Só que quando você chega na última exigência que estava naquela relação de
termos de ajuste, já houveram modificações ou na planta de processos ou na matéria-prima,
e aí você não tem esse time acertado e aí que está o problema. Eu concordo com você que
a dinâmica dificulta, que é preciso as pessoas e os funcionários que administram os órgãos
ambientais estejam em sintonia com o mercado. Quando você faz um pedido de autorização
de processo, você tem que fazer o EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de
Impacto Ambiental), até nisso é uma coisa que é um pouco complicada, porque muitas
vezes você não tem um OK para uma planta funcionar, e o motivo nem sempre é um motivo
tecnicamente justificável. Então tem os dois lados, por isso que eu digo que neste caso
específico se o Estado, vamos dizer assim, como órgão fiscalizador fizer a sua parte já ajuda
muito. Mas eu penso que você não pode pegar alguém da academia, levar para um órgão
ambiental e achar que a pessoa vai ser o big boss, o expert” (Entrevistado 8).
“Eu acho que tem que ter uma sintonia fina entre a empresa e o órgão fiscalizador e eu
penso que qualquer tipo de legislação que possa ocorrer, deveria ser feita de forma
252
conjunta, a empresa não está se negando a participar. É muito comum você ter câmaras
técnicas nos órgãos ambientais, só que são câmaras técnicas que tratam de eventos que já
aconteceram. Então não há uma aproximação das empresas em relação aos órgãos
ambientais. Estes órgãos deveriam auxiliar muito mais a empresas e dar referências sobre o
que fazer para não errar, do que esperar para multar. E aí que eu acho que existe uma
discrepância, há uma certa fobia da empresa em relação ao órgão ambiental, e quando ele
vem para dentro da empresa ele acaba inibindo, então você mostra somente aquilo que ele
quer ver. Deveria ser o contrário. Não sei se você acompanhou, teve acho que fazem 2 ou 3
anos atrás aproximadamente, teve uma normativa do IAP que tinha que fazer uma auditoria
compulsória. A FIEP (Federação das Indústrias do Paraná) entrou com uma liminar contra o
IAP e derrubou isso. As empresas que fizeram, fizeram, só que isto perdeu efetividade. Isso
foi uma das coisas mais certas que já ocorreram, porque você ia verificar na sua planta de
produção quais eram as suas mazelas. É melhor você gastar para prevenir do que você ter
um evento que você gasta 3 ou 4 vezes mais, e pior, se você tiver um evento na sua planta,
você vai ter que adequar, então você vai gastar com o evento e gastar com a adequação.
Quando você faz a auditoria compulsória, como nós fizemos, você percebe de A a Z quais
são os seus problemas e aí você apresenta para o órgão ambiental um cronograma de
acordo com o seu time (tempo), seja de orçamento, de condição técnica. Você contrata uma
auditoria que vem para a sua fábrica, ela faz uma análise crítica, isenta, porque ela é paga
para aquilo, e ela é co-responsável e eu levo aquilo e protocolo no IAP. Quando eu levo o
protocolo no IAP eu tenho um cronograma que eu vou dizer para o IAP, eu tenho 10 não-
conformidades, e das 10 eu vou fazer 5 em 2008 e 5 em 2009, desde que eu diga a ele, ao
IAP que as 5 não-conformidades que ficaram pendentes não vão gerar riscos eminentes”
(Entrevistado 8).
“São muitas exigências. Sem atenção para com a pessoa que está trabalhando. Se você
precisa de alguma coisa eles mandam você ver na internet. Vire-se, o problema é seu”
(Entrevistado 6).
Quando questionados sobre quais eram, além das questões legais, as principais
motivações para a realização de gastos ou investimentos ambientais, os entrevistados
informaram:
253
“Depois que a gente começou a cuidar da água e fazer exames de laboratório, foram
identificados problemas de contaminação na tubulação interna, que exigiu uma manutenção
de limpeza. Foi uma contaminação de extratos vegetais em nível microbiano (matérias-
primas utilizadas pela indústria). Desde o início da instalação da estação de efluentes, há
dois anos e meio, já foram feitas aproximadamente 440 amostras da indústria, sendo que
apenas 1 vez a gente falhou. Foi uma ocorrência importante, o IAP quis autuar"
(Entrevistado 3).
“Um que foi eu diria o mais expressivo, que deve fazer entre 7 a 8 anos, e um outro que foi
interno, interno os dois foram, só que um extrapolou os limites da empresa, e o segundo
não, foi contido internamente. Graças a nós termos o histórico do primeiro e a escola do
primeiro fez com que nós fossemos mais eficientes no segundo e logicamente contivemos
ele na área de produção” (Entrevistado 8).
“Um dos acidentes foi externo por que o óleo vazou para a área externa da empresa. Nós
fizemos uma análise da extensão, do local onde ocorreu o vazamento na parte interna e
externa para fazer uma bioremediação, a aí não teve maiores problemas não” (Entrevistado
8).
Com relação aos resíduos, o Entrevistado 3 faz uma declaração que revela a
presença da ação racional instrumental descrita por Serva (1996) nos negócios
corporativos em relação às questões ambientais e a geração de resíduos:
"A questão ambiental era secundária, somente depois que se atingiu a qualidade dos
produtos é que a gente começou a se preocupar com o resíduo" (Entrevistado 3).
“Nós fornecemos periodicamente ao IAP alguns documentos para que nós tenhamos a
nossa licença de operação mantida. Ou seja, das caldeiras nós temos que semestralmente
257
fornecer os mapas de emissões. Nós temos um contrato com uma empresa que faz o
levantamento e o laudo para envio ao IAP (caldeiras). Nós temos pontos de monitoramento
na parte interna, que eu diria que foram feitos a mais ou menos nove anos, que é para
verificar até que ponto nós estamos mantendo o lençol freático tal como era antes de nós
nos instalarmos aqui. A cada três meses é feita a drenagem dos poços, fazem a coleta dos
poços, fazem a análise da água, preenchem o documento que é enviado ao IAP para
protocolo. Temos duas empresas terceirizadas que fazem estes controles” (Entrevistado 8).
“Sim, apenas uma vez quando a estação de tratamento de efluentes foi instalada. Foi
apenas uma reclamação verbal do supermercado vizinho em relação ao cheiro exalado,
situação que em uma semana foi resolvida” (Entrevistado 3).
“Somente reclamação verbal. Os vizinhos reclamavam do pó. Por este motivo investimos
recursos em melhorias, a exemplo do reflorestamento do entorno da fábrica” (Entrevistado
9).
“Como a fábrica já está aqui há mais de 20 anos, nós tínhamos uma série de problemas. O
nosso produto era feito, na parte de graxas, era feito em tacho aberto, inicialmente. Então
toda a parte de voláteis do processo ficava no ambiente interno do prédio e uma parte saia.
Então nós temos um cheiro específico do nosso processo produtivo e aí ao longo do
período, houveram uma série de reclamações, fizeram até um abaixo-assinado junto ao IAP
e ele veio aqui, e aí de uma forma muito companheira porque eles nos ajudaram nisso,
foram nos dando algumas orientações em relação ao nosso problema. Em cima desta
situação de reclamações nós fomos para o mercado, vimos alguns equipamentos para o
nosso processo, saímos de tanque aberto para tanque fechado, depois colocamos lavador
de gases, depois condensador, aí junto com a equipe técnica fizemos algumas alterações de
processo (temperatura de cozimento, tipos de voláteis, mudança de matérias-primas).
Logicamente hoje, não temos nenhuma reclamação e temos o Ok do IAP, ou seja, não há
problemas com a comunidade. Já tivemos sim, como eu falei, já chegou até a ter abaixo-
assinado para que nós saíssemos daqui em função disso, mas isso já está totalmente
sanado” (Entrevistado 8).
“A dificuldade para a obtenção de seguro é muito grande para a própria empresa, todos os
anos são realizadas tentativas porém o seguro nunca é obtido, devido ao nível de exigências
das seguradoras. As seguradoras não fazem este tipo de seguro e quando fazem algum tipo
de orçamento de apólice, os custos são altos: exige troca das portas de madeira, fiação
elétrica, sistemas de comandos eletrônicos e motores a prova de explosão. A empresa já
investiu mais de R$ 50.000,00 em melhorias, mas mesmo assim ainda não conseguiu
atender os requisitos das seguradoras. O último investimento realizado para atendimento de
uma das exigências das seguradoras envolveu a transferência da armazenagem dos
produtos da parte interna para a parte externa e mesmo assim o seguro não pode ser
realizado” (Entrevistado 2).
“No ramo seguro, patrimonial, predial, não sei como se chama, há sim uma cláusula
específica quanto a isso. Eu não sei dizer qual é o teor desta cláusula porque eu não
conheço estes detalhes” (Entrevistado 8).
Já o Entrevistado 9 foi categórico em afirmar que não, uma vez que as empresas
de seguro nunca haviam ofertado para sua empresa uma proposta de seguro nesta
área. O mesmo ocorre com a Entrevistada 10 quando afirma que:
“Até hoje as seguradoras nunca ofereceram este tipo de produto. Eu nunca vi, a gente faz
seguro aqui para o escritório, caminhão, carro e patrimonial e as seguradoras nunca
mencionaram” (Entrevistada 10).
Para esta categoria foram criadas 5 (cinco) questões, as quais serão utilizadas
como estrutura de tópicos para a apresentação dos resultados obtidos.
O Entrevistado 5 não conseguiu definir o que é para ele meio ambiente. Falou em
Entrevistado 5 aquecimento global, em usar a TV para orientar e educar a população, padronizar
os carrinhos dos catadores e da falta de iniciativas para educação da população.
“A preservação do nosso planeta. Tem tantas coisas para falar: a primeira coisa é
a educação do indivíduo. Vou lhe contar de que maneira eu fui criado: quando eu
era criança meu pai me deu uma bala, eu descasquei uma bala, coloquei ela na
boca e joguei o papel no chão. Meu pai falou para mim: meu filho, não se joga
Entrevistado 6
papel no chão, papel não se pode jogar no chão. Eu ri para o meu pai e meu pai
segurou na minha orelha até eu juntar. É assim que precisa ser feito, assim que
eu aprendi. Toda vez que eu pego uma bala eu lembro do meu pai. Meu pai era
alemão e eu não quero dizer com isso que alemão seja melhor que os outros”
“Dependendo do que você fala e de onde você está, você vai ter definições e
definições de meio ambiente. Para nós aqui meio ambiente é onde nós estamos
trabalhando e seria o que, desde a parte de equipamentos, pessoas, matérias-
primas e o ambiente interno e externo. Para mim, meio ambiente é isso, e eu
como profissional devo trabalhar de maneira tal que devo conseguir manter este
sincronismo de forma que um ajude ao outro. Só que aí existe um pouco de
Entrevistado 8 utopia, eu não consigo fazer produção sem ter o impacto ambiental, eu tenho que
minimizar este impacto. Então eu penso que qualquer atividade, só o fato de eu
me locomover da minha casa até aqui, eu gero impacto ambiental, normalmente
prejudicial ao meio ambiente, tem que fazer com que o impacto seja o menor
possível. O meio ambiente para mim é qualquer lugar onde nós estamos
inseridos, onde nós temos todos os tipos de interação com coisas, objetos,
produtos, serviços e até lazer”
“É a nossa casa. Para a gente ..., bom eu vou ser bem sincero, para a gente que
está nesse ramo é um problema, a gente sempre tem que estar às voltas com
isso aí. O mercado exige que a gente tenha todas as adequações mas a
rentabilidade do negócio não permite fazer quadro, contratar profissionais para
cuidar desta área. Para a gente que é uma empresa pequena representa algum
entrave. As exigências muitas vezes são feitas pensando em empresas mais
Entrevistado 9
estruturadas, que possuem pessoal. Aí as empresas que não tem toda esta
estrutura, tem dificuldades de se adequar. Não tenho um profissional assim
contratado full-time, trabalho com terceiros que não tem um foco dedicado para a
empresa. Muitas vezes você precisa indicar as soluções para os terceiros. Desde
que você tenha recurso e profissionais especializados, você resolve qualquer
problema”
“Meio ambiente... é tudo, o mundo... como que eu poderia te explicar..., é uma
Entrevistada 10 coisa necessária para a sobrevivência, para os animais, para os seres humanos,
sem ele não há vida”
Fonte: O Autor (2008)
“Poderia fazer mais pelo meio ambiente, eu faço pouco hoje. Ter recursos para manter uma
entidade, fazer um reflorestamento, aquisição de novos equipamentos. Queira ou não
queira, nós hoje somos poluidores do meio ambiente, poderia dar maiores contribuições
para o meio ambiente” (Entrevistado 2).
O Entrevistado 3 declarou que busca ter cada vez mas cuidado, principalmente
com o lixo e a preocupação com o futuro dos filhos. Ele comentou que sua sensibilidade
para o tema vem de sua educação familiar, do pai que é agricultor e que sempre atou
em projetos sociais, além de fazer compostagem do lixo biológico e da separação e
destino do lixo em sua propriedade rural.
“Eu nunca tinha pensado nisso, as noções de limpeza, de higiene da criança são totalmente
urbanas, gostam de brincar em shoppings, ambientes que aparentemente são limpos mas
que geram muita sujeira. Para onde vai o lixo do shopping?. A criança vai se afastando das
conseqüências, do descuido ambiental e ela vive esta maquiagem. Ela sempre vai viver
264
dentro do shopping, do apartamento, nunca vai tomar uma água do rio. Nós seres da cidade,
o ser humano de um modo geral está se afastando da natureza e está perdendo a
responsabilidade por que não é o primeiro a sentir os efeitos mas é o primeiro a causar os
efeitos, diferente os seres humanos que possuem um maior contato com a natureza como os
agricultores e os índios” (Entrevistado 3).
“A natureza não tem explicação. O ser humano precisa de mais orientação. É necessário
proibir a concentração urbana. Se cada um fizer a sua parte seria importante” (Entrevistado
5).
“Dia desses eu me deparei com um rapazinho que estava ameaçando quebrar uma árvore
nova, que estava crescendo. Eu falei para ele: meu amigo esta árvore é uma vida, é uma
vida que está aí. Como é que você vai pegar uma árvore dessa, que demora tempo para
crescer, deixe que nasça. Mas está melhorando, eu considero que nos últimos anos está
melhorando” (Entrevistado 6).
“Como eu ocupo um cargo de gerência eu tenho uma certa autonomia sobre a atividade,
meus conhecimentos na parte técnica potencializam a autonomia em relação ao que eu
posso ajudar e contribuir junto a alta administração. Então é assim, eu penso que eu estou
sintonizado com o que eu preciso fazer para minimizar os impactos e faço tudo o que é
possível de trabalhos para minimizar e procuro colocar para as pessoas abaixo ou acima do
meu nível hierárquico todo tipo de informação para que isso seja difundido e implementado,
porque só a palavra não resolve, tem que ter ação. Eu penso que a minha condição hoje é
inserido e comprometido para minimizar o impacto” (Entrevistado 8).
“Eu gostaria de ter condições de atender até mais as exigências. Às vezes a gente se sente
frustrado por que acaba não tendo condições de atender 100% as exigências. A gente
sempre acaba tendo que se adequar às exigências dos órgãos ambientais. Eu gostaria de
ter uma empresa mais enquandrada, em cima das normas, quando na realidade a gente
consegue no máximo ficar dentro das normas” (Entrevistado 9).
”Particularmente, eu procuro fazer a minha parte. Eu separo lixo, na minha casa nós
separamos o lixo. Busco reciclar, consumir produtos recicláveis de indústrias que não
agridam o meio ambiente, produtos com selo de qualidade. Eu particularmente procuro agir
desta forma, faz bem agir desta forma” (Entrevistado 9).
Com base nas respostas, é possível perceber que a maior parte do grupo de
entrevistados se aproxima da perspectiva realista definida por Beck (2006). Em apenas
uma das respostas foi possível identificar traços ou características presentes na
perpectiva construtivista.
“Eu considero sim, mas ele é um dos fatores que eu considero. A primeira preocupação na
tomada de uma decisão é que ela esteja de acordo com as normas sanitárias. A segunda
preocupação é a rentabilidade/viabilidade financeira. Em terceiro as questões burocráticas
de registros junto aos órgãos competentes, entre eles o IAP. O IAP é colocado por último,
em função da necessidade de estar bem embasado para solicitar a autorização”
(Entrevistado 3).
“Considero que o meio ambiente seja mais importante que o econômico em função da minha
concepção sobre o que é o meio ambiente. Não adianta eu ser economicamente perfeito, se
o meio ambiente faz parte do homem dentro deste processo, e ele não tiver capacidade de
evolução e relacionamento” (Entrevistado 4).
“Sempre, eu sempre. Só que aí eu não vou destoar do nosso objeto social, que é produzir e
vender lubrificantes. Se o impacto ambiental for de encontro à condição de produção eu
tenho que ser flexível com a minha convicção, e aí eu tenho que ser um pouco permissível
em algumas condições. Senão eu seria radical e não poderia estar aqui como eu estou há
20 anos. Eu acho que isso é um trabalho feito par e passo, eu não posso a toda hora ser
impositivo, tem que ser negociador, e aí eu penso que eu poderia ter um aliado que seria o
próprio Estado, que ajudaria muito. A empresa se enquadra quando você tem leis e
fiscalização, só um ou só outro não vai resolver, é preciso ter um trabalho conjunto”
(Entrevistado 8).
d) Você sofre alguma influência interna e/ou externa para considerar o meio
ambiente em suas tomadas de decisão? De que tipo?
“No momento não, porque estou atendendo as exigências legais. Porém considero que a
maioria das empresas sofre influências relacionadas a questões financeiras, os empresários
nunca falam sobre o meio ambiente. A maior pressão ocorreu antes da implantação quando
da estação de tratamento, agora são apenas as fiscalizações” (Entrevistado 3).
“Na parte interna, a alta administração não tem como objeto principal o meio ambiente e sim
a parte de produzir e gerar lucro. Na parte externa, como a gente atende as exigências da
legislação, não há pressões externas que comprometam as atividades” (Entrevistado 8).
“100% importante para a empresa, pois a produção das resinas provém de matérias-primas
de florestas plantadas, a exemplo do pinus que gera o breu” (Entrevistado 2).
“A empresa utiliza diversas matérias-primas que não são sintetizadas na indústria, que são
oriundas do meio natural, a exemplo da água. Quanto mais suja estiver a água, maiores
serão os gastos em produtos químicos para limpeza” (Entrevistado 3).
empresa que não polua, produzir de forma que não polua e transportar da forma que não
polua. Mas o primeiro objetivo é comprar, produzir e vender. Não é assim vou comprar uma
matéria-prima que seja a menos impactante, produzir da maneira menos impactante, e
transportar da forma menos impactante. É importante mas não é preponderante. Eu acho
muito importante, eu acho importante. Se a gente quiser continuar com a empresa precisa
estar adequado com as normas ambientais, se você não estiver adequado você não vai
conseguir vender, não vai conseguir prosperar com o negócio” (Entrevistado 8).
Esta categoria de análise foi criada com a intenção de encontrar respostas sobre
as relações das indústrias químicas e o meio ambiente, em especial a partir das
percepções de profissionais que atuam em empresas instaladas em um município
paranaense. Para esta categoria foram criadas 9 (nove) questões, as quais serão
utilizadas como estrutura de tópicos para a apresentação dos resultados obtidos.
Com relação a esta questão, boa parte dos entrevistados confirmou a condição
verificada nos resultados de diferentes pesquisas apresentadas neste estudo (quadro
32), de que a indústria química é mal vista pela sociedade. Para o Entrevistado 2:
“Como vilã, com certeza. A indústria sabe disso, a sociedade sabe disso e os órgãos
ambientais sabem disso. Só que eu penso que a evolução tecnológica e de processos
produtivos estão à frente da questão de legislação e pior que isso, se houver uma maior
fiscalização, ou você vai ter que produzir menos, ou mudar algumas matérias-primas que vai
impactar no aumento de preços, que não vai ter compromisso seu socializado, próximo ao
seu cliente. Então eu penso que em detrimento dessas decisões que teriam efeitos
colaterais é que existe este rótulo negativo das indústrias químicas e a indústria sabe disso,
o mercado, a sociedade e também os órgãos ambientais. Não é uma visão positiva, é
sempre vista como uma empresa ou que não polui que vai poluir ou já poluiu muito”
(Entrevistado 8).
269
“Acho que ela é vista como uma indústria poluidora, pelo próprio processo. É diferente uma
indústria química de uma indústria de software, por exemplo, de um prestador de serviço,
que fica dentro de um escritório, separa lixo, coloca uma lixeira e acha que faz sua parte. A
gente faz notificações de processo, tem fornalha soltando fumaça, tem máquina circulando
matéria-prima, então ela naturalmente é mais difícil de se adequar ao meio ambiente. No
caso do setor metalúrgico, que pega o material pronto, não interessa se para produzir aquele
ferro tenha poluído para caramba dali para trás, mas eles pegam o ferro bonitinho, limpinho,
dentro do plástico, daí pegam uma lixeirinha e separam o plástico de um lado, os resíduos
de limalhas de ferro do outro lado, então eles são ambientalmente super corretos. A gente
não, a gente está na parte anterior da deles, a gente tem que fazer movimentação, tem que
fazer processos de produção que geram resíduos, que geram poluição, então eu acho que
as indústrias químicas nesse ponto, são vistas um pouco como poluidoras, pois
naturalmente elas poluem alguma coisa. Já poluíram muito mais, hoje já com as normas as
empresas estão se adequando, mas ainda existem resíduos de produção” (Entrevistado 9).
“Sempre como poluidora, que estraga a natureza. Os meios de comunicação divulgam muito
os acidentes envolvendo a indústria química e meio ambiente. Porém eu acho que a
indústria química não é a única poluente, o conjunto da sociedade é responsável pela
poluição” (Entrevistado 4).
“A sociedade não tem conhecimento do que é uma indústria química. O povo não conhece a
realidade de uma indústria química” (Entrevistado 5).
“Não sei, eu acredito que não se importam, está entendendo. Um sabonete que fazem, é
cheiroso, está bom, é um desodorante que está cheiroso. Eles não ligam está entendendo,
eles ligam para o preço, o preço da prateleira, isso aí é que eles ligam. Eles não se
importam, não há interesse, você está entendendo. No meu ver, no meu parecer eu acredito
270
que eles não conhecem o funcionamento de uma indústria química, eles não dão valor para
isso” (Entrevistado 6).
“No passado, a indústria química recebia uma conotação apenas de poluidora. Com a atual
legislação, mais rígida e atuante, hoje ela é vista como uma necessidade humana que pode
ser ambientalmente sustentável” (Entrevista 1).
“Depende da região. Eu acredito que os pólos químicos da região não são de química
pesada, nós temos uma indústria voltada para a indústria cosmética. O Paraná, diferente de
São Paulo, que tem uma indústria maior, é um Estado mais ligado em questões relacionadas
ao meio ambiente. Em São Paulo, a indústria é mais mal vista, uma vez que a poluição
industrial é mais facilmente percebida. A questão de acidentes ambientais é mais comum em
São Paulo do que no Paraná. No Paraná eu acredito que a indústria química é bem vista”
(Entrevistado 3).
c) Você considera que a indústria química representa algum risco para o meio
ambiente?
forma Entrevistada 10 acredita que sim, por causa dos produtos que podem degradar a
natureza.
“Com certeza. Quando você trabalha na indústria química, independente do cargo, você
recebe um bônus no seu trabalho chamado risco de insalubridade. Isto não existiria se fosse
uma atividade boa. Só o fato desta condição existir, isto já é uma revelação que a atividade
pode representar algum risco de contaminação. Uma pessoa que entra em contato todos os
dias com produtos químicos pode desenvolver uma mutação genética, uma doença, uma
alergia. E os animais, as bactérias que vivem nos rios, na terra, no ar que as indústrias
químicas estão poluindo todos os dias, sem serem vigiadas. Se estes animais tivessem
câncer e morressem seria uma realidade. O problema é que muitos destes animais que tem
câncer e morrem, eles tem resíduos de produtos químicos que caem na cadeia alimentar. Eu
acredito que a indústria química representa muito risco para o meio ambiente, para a saúde
e eu reforço que a legislação que é bastante adequada, não permita que as indústrias que
não se adequaram dentro de um prazo de tempo adequado continuem funcionando”
(Entrevistado 3).
“Sim, pela própria atividade que ela desempenha, desde o primeiro ponto. Por mais que ela
tenha precaução em sua planta de processo, as matérias-primas que são ou tóxicas ou
poluidoras em potencial elas precisam ser transportadas do ponto de produção da matéria-
prima até o ponto de industrialização e isso gera um risco eminente do ponto A ao ponto B,
ou do ponto A ao ponto C, e indo além, o produto acabado, há bem pouco tempo que existe
legislação específica do DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes)
que normatiza cargas perigosas. O condutor da carga perigosa não tem total ciência do que
está transportando devido a sua má formação. Quando você transporta, nós temos uma
51
malha viária muito precária que oferece riscos eminentes. Mesmo com SASSMAQ e tudo,
você não tem condição viária de transportar com segurança. Se eu adotar segurança na
minha planta e o meu transporte tiver segurança, você não tem uma malha viária com
segurança. Você não tem uma condição preventiva e preditiva para você fazer um embarque
de uma carga perigosa que você tenha toda a precaução, inclusive em função disso há
acidentes freqüentes pelo mundo, não só no Brasil. Por isso que eu acho que há um certo
descompasso entre a indústria química poluidora e a condição de chegar matéria-prima até
ela e de sair produtos dela para o mercado consumidor, porque você tem uma série de
participantes neste ciclo produtivo, com elos fracos que podem se romper, quando já não
estão rompidos” (Entrevistado 8).
existência das atividades de sua empresa, apesar da existência de possíveis riscos. Ele
considera que:
“É uma faca de dois gumes, conforme o tipo de produto fabricado. Porém dela depende a
sobrevivência dos empregados” (Entrevistado 5).
“Depende do que você vai fabricar. Uma indústria de soda eu não posso fazer aqui. Se você
vai fazer um detergente, um amaciante de roupa, um desinfetante não vai prejudicar,
diferente da fabricação do hipoclorito de sódio que exige uma estrutura própria. Se eu fosse
fazer aqui os órgãos ambientais não permitiriam” (Entrevistado 6).
“Não existem riscos, desde se trabalhe dentro das normas de segurança e ambiental”
(Entrevistado 9).
“Desde que respeitadas as legislações não vejo dessa forma” (Entrevistado 7).
51
De acordo com a ABIQUIM (2007) a sigla SASSMAQ corresponde a Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde,
Meio Ambiente e Qualidade. Trata-se de um serviço integrado desenvolvido pela entidade para a prevenção e
atendimento de acidentes rodoviários envolvendo produtos químicos
274
“Nenhum, de acordo com a estrutura da empresa hoje considero ser risco zero”
(Entrevistado 4).
”Desde que cumpridas as normas legais, os riscos são mínimos” (Entrevistado 1).
“Os produtos cosméticos e os alimentos que fabricamos são feitos para passar sobre a pele
ou para ser ingeridos. É óbvio que o nível de toxidade destes produtos tem que ser o menor
possível” (Entrevistado 3).
“Os funcionários que efetuam o manuseio são preparados e a empresa inclusive deixou de
utilizar insumos que representassem risco de contaminação” (Entrevistado 2).
“Até chegar para nós e sair da nossa planta para chegar no nosso cliente, nós podemos ter
problemas mas não problemas gerados diretamente por nós, mas nós somos co-
responsáveis. Se eu tenho um caminhão nosso indo para o Rio Grande do Sul, vai ser via
rodoviária, vai passar por vários locais que vão estar vulneráveis, principalmente pela má-
conservação das estradas” (Entrevistado 8).
“Então com certeza a nossa atividade em si, não gera risco, a não ser que ocorra um
problema de processo” (Entrevistado 8).
“Às vezes a gente não conhece o risco. Eu gerencio a empresa há 10 anos, eu estou tão
acostumado com o que eu faço que eu às vezes não tenho a visão crítica da minha
atividade, crítica do risco. Um pessoal de fora que venha aqui, vai olhar no detalhe, ele vai
fazer questionamentos para mim e para nossos colaboradores, e aí ele vai fazer um raio X
sobre como está a nossa planta” (Entrevistado 8).
Com relação a esta questão, 9 (nove) entrevistados ou 90% afirmaram que sim.
A Entrevistada 1 acredita que:
“Sim, pois há uma melhoria contínua na medida em que os processos de fabricação vão
sendo alterados” (Entrevistada 1).
“Não, não são suficientes não. Falando tecnicamente, com certeza nós podemos ter muito
mais artifícios e até modificação em equipamentos que você possa aí sim ter alguma coisa
próxima do zero, só que vai demandar investimentos” (Entrevistado 8).
“Existe, porque é assim, vai depender de um cuidado excessivo com o elemento humano
para se precaver de uma condição que não é a mais apropriada. Por mais que você tenha,
usando uma analogia: eu posso daqui a Curitiba de várias maneiras, ir de carro, de ônibus
ou a pé. Mesmo de carro eu posso ir com um carro 1.000, 2.0 ou 4.3 por exemplo, e aí ou
vou poder ir mais rápido ou mais confortável, eu vou daqui até lá sem problema nenhum. Da
mesma forma é o sistema produtivo, eu posso fazer tudo o que eu faço hoje de outra forma,
muito mais segura. Só que aí vai depender de como eu vejo a questão ambiental no meu
escopo de trabalho, na minha empresa. Então se há algum tipo de risco, seguramente sim,
porque eu não tenho a melhor condição tal qual eu poderia ter, pelos padrões de hoje. Como
a planta existe há 30 anos, eu tenho hoje sistemas de processo muito mais moderno, só que
eu tenho o que, eu tenho o pay-back do meu investimento. Se eu faço uma aquisição de
uma máquina qualquer, enquanto ela não se depreciar, eu não vou trocá-la. Como máquina
é um bem durável, mesmo que ela se deprecie eu não troco pela depreciação, eu vou
trabalhar com ela mais tempo, até que eu não tenha nessa máquina produtividade, o que é
perda. Então não é por questões de eu ser ecologicamente correto, ainda é por questões
econômicas. Então seguramente o que nós temos hoje não é o supra-sumo, isto sem
sombra de dúvidas, porém eu não tenho riscos eminentes. Agora se eu for analisar
criticamente o processo produtivo, eu consigo ver lacunas onde pode ocorrer o erro. O que
eu faço é ter procedimentos de trabalho que eu vou me salvaguardar. Se o elemento
humano falhar, o que pode acontecer, aí sim eu vou ter aquela lacuna maior e isso
potencializa o risco” (Entrevistado 8).
Continua (...)
278
impacto ambiental”.
“Faço todo o possível para fazer tudo certo, para não prejudicar nada no meio
Entrevistada 10
ambiente”.
Fonte: O Autor (2008)
Com relação aos relatos, boa parte dos entrevistados acredita que as suas
empresas estabelecem um bom relacionamento como o meio ambiente. Em algumas
respostas é possível perceber o reconhecimento de que as atividades desenvolvidas
pelas empresas geram impactos ambientais. O Entrevistado 8, em especial, apresenta
em seu depoimento indícios da predominância da racionalidade instrumental na
organização quando menciona que as preocupações da empresa estão voltadas muito
mais para as questões relacionadas ao faturamento do que para as questões
ambientais. Em seu depoimento, o Entrevistado 8 revela fatos comuns a muitas
empresas, quando menciona que a empresa somente passou a efetivamente se
preocupar com a questão ambiental depois que dois acidentes ocorreram e por força
das exigências legais.
“Se prevalecer o lado econômico, estaremos abreviando nossas vidas e das próximas
gerações. E sem retorno rápido e com custo econômico e social” (Entrevistada 1).
“Se eu for considerar hoje esta evolução, eu acho que vai ser muito nefasta. A continuidade
nesta gana do ganho, esquecendo o meio ambiente. Eu não estou falando da pequena
empresa, e sim da grande empresa. É extramente perigosa. Quanto maior o consumo maior
a gana” (Entrevistado 4).
279
“Eu acredito que a principal solução para esse problema, vai ser alguma maluquice que eles
vão inventar para limpar o meio ambiente, por exemplo, fabricar alguma substância para
soltar no ar para fazer o seqüestro de carbono, jogar bactérias no oceano que consumam o
lixo. Eu acredito que a ciência vai encontrar soluções mais inteligentes para que o homem
continue tendo a possibilidade de poluir, já que ele gosta de fazer isso. Eu acredito que as
propostas que estão sendo discutidas no mundo não serão capazes de salvar o meio
ambiente. A única chance de sobrevivência do planeta terra e dos animais é criar novas
tecnologias de reaproveitar os resíduos a nosso favor” (Entrevistado 3).
“A química consegue fazer qualquer coisa. Porém o homem ignora algumas soluções pelo
fato de algumas reações químicas serem inviáveis financeiramente” (Entrevistado 3).
“Cada vez mais a química produz soluções, porém ainda estão distantes da prática. As
indústrias químicas ainda aplicam técnicas tradicionais oriundas do período de sua
descoberta, aplicando sobre elas poucas inovações, principalmente em função dos custos
financeiros” (Entrevistado 3).
“Dentro da nova filosofia na conservação do meio ambiente, somos o segmento que mais se
preocupa com o futuro da preservação ambientais” (Entrevistado 7).
“As indústrias químicas deveriam se preocupar mais com o meio ambiente, fazer mais
investimentos. As empresas receptoras de produtos químicos deveriam receber mais
treinamentos para reduzir as chances de acidentes ambientais” (Entrevistado 2).
“As indústrias pequenas vão desaparecer, existe muita burocracia. Para fazer uma
autorização da vigilância sanitária são muitas exigências, muitas delas que nós nem
entendemos” (Entrevistado 6).
280
“No futuro a médio e longo prazo eu diria que nós vamos ter menos empresas porque nós
vamos ter mais exigências e por questões de investimentos em plantas de processo você vai
ter um afunilamento, ou seja, se você não se adequar não vai conseguir continuar
produzindo. O que acontece, você vai ter um tempo para se adequar, então você vai operar
durante este tempo e quando chegar no deadline você vai ter que resolver: ou você aporta o
capital e se ajusta ou você vai ser responsável por algo maior ou você vai estancar a
atividade e mudar de ramo, para um ramo com menos exigências. Como nós temos uma
questão ambiental cada vez mais, cobrando ou cobrada, os dois lados, com certeza nós
vamos ter uma situação de menos empresas no mercado. A minha visão no médio e longo
prazo são menos empresas, e as que ficarem terão um responsabilidade ecológica maior por
questões de obrigação não por opção, por exigências. Tem que trabalhar a governança
corporativa, a empresa que tem capital aberto com ações na bolsa, aí ela tem por questões
de governança corporativa, aí é com empresas grandes que podem perder valor se não
tiverem essa consciência ecológica muito clara” (Entrevistado 8).
“Será cada vez mais harmonioso, porque hoje ainda a gente está na fase de estar se
adequando às normas. Vai chegar num ponto que isso vai ser normal, vai fazer parte do
processo. Isto aí vai ser uma condição para o funcionamento, se não estiver adequado não
vai continuar funcionando. As pressões serão cada vez maiores, por isso que eu acho que
vai deixar de ser um problema. Aquilo que é um problema a tendência é você resolver e vai
surgindo propostas de equipamentos e processos que se adequem a essas novas normas
mais rigorosas e isso aí vai fazer parte da produção da empresa, e a gente nem vai lembrar
que existe meio ambiente, tudo fará parte do processo, ou você se adequa ou você fecha”
(Entrevistado 9).
“O meio ambiente vai exigir e até as indústrias chegarem naquilo que é necessário vai ser
uma batalha. Vai ser necessário muita pressão e multas, e outras coisas, para entrar mesmo
no que tem que ser, até todo mundo se adaptar e ter uma visão que tem que preservar o
meio ambiente e evitar acidentes” (Entrevistada 10).
281
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas diferentes evidências apontadas ao longo deste estudo, foi
possível perceber que o sucesso econômico obtido pela sociedade industrial e as
inúmeras descobertas científicas trouxeram consigo não apenas os benefícios da
modernidade, mas também a ampliação dos riscos e dos efeitos indesejados, a
exemplo da degradação dos recursos naturais e do aumento da geração de resíduos.
282
Mais do que isso, estas evidências foram capazes de apontar que tais efeitos
indesejados não resultam apenas de ações isoladas promovidas por um ou outro tipo
de ator social, a exemplo das indústrias químicas, mas sim de ações paralelas de
produção e consumo desenvolvidas em escala global pelos diferentes atores que
operam sob a lógica da racionalidade econômica.
Pelos fatos que foram apresentados ao longo deste estudo, é possível perceber
que o processo de expansão da indústria química mundial se confunde com a própria
história de surgimento e expansão da sociedade industrial, uma vez que esta é
considerada como uma indústria de base necessária para o desenvolvimento de outros
tipos de indústrias. Da mesma forma como observado no processo de expansão de
283
outros setores que constituem a ociedade industrial, o sucesso obtido pela indústria
química mundial e os inúmeros benefícios que ela gerou para a humanidade também
foram acompanhados por uma crescente ampliação dos riscos e pela produção de
efeitos indesejados, no mesmo momento em que os novos conhecimentos científicos
passaram a ser gradativamente patrocinados pela iniciativa privada e submetidos aos
interesses e controles impostos pela lógica da racionalidade econômica.
realizam em prol das indústrias químicas. Da mesma forma foi possível perceber o
distanciamento destas empresas da realidade dos Sistemas de Gestão Ambiental
(SGA) e das certificações ambientais, uma vez que a maioria dos profissionais
entrevistados confundiu certificação ambiental com licença ambiental.
Outro dado relevante diz respeito a ausência de uma estrutura adequada por
parte do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para o atendimento das solicitações
efetuadas pela comunidade. Durante os contatos realizados com o instituto, ficou
evidente que os próprios funcionários públicos tem receio de disponibilizar dados sobre
as indústrias químicas paranaenses. Os dados parciais obtidos junto ao instituto e que
foram apresentados nesta pesquisa foram disponibilizados somente depois de muita
insistência por parte do pesquisador. A ausência de dados detalhados sobre as
autuações ambientais e os acidentes ocorridos no município pesquisado, impediram
que o pesquisador comparasse as respostas dos entrevistados com os fatos ocorridos
no município.
Espera-se agora que o espaço criado para reflexões por meio deste estudo
possa ser compartilhado com todos aqueles que buscam refletir sobre suas próprias
ações e de suas organizações com vistas a criar melhores condições para a construção
e reprodução da vida em sociedade.
290
REFERÊNCIAS
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S.A., 2006
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2005. 163 p.
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Alegre: LP&M, 2002.
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de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991. 430 p.
CREMASCO, M. A. Vale a pena estudar engenharia química. 1ª. ed. São Paulo:
Edgard Blücher, 2005.
DEMO, Pedro. Introdução à Metodologia da Ciência. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987.
GODDARD INSTUTUTE FOR SPACES STUDIES (GISS). 2007 Was Tied as Earth's
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LAGE, C. E. do; VALLE, H. Meio ambiente: acidentes, lições, soluções. 2. ed. São
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LOVELOCK, J., A vingança de gaia. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2006.
WORLD WIDELIFE FUND (WWF). Relatório Planeta Vivo 2006. Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/informacoes/bliblioteca/index.cfm?uNewsID=4420> Acesso em:
05 abr. 2007.
296
O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o
grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de
sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem
branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode
confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos
brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
Minha palavra é como as estrelas - elas não empalidecem.
Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se
não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes
comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo, cada folha reluzente de
pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e
inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que
circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.
O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por
entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a
mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores
perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia - são nossos irmãos.
As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um
mustang, e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar
nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para
nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós
seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra.
Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue
de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e
terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água
límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar
d'água é a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede.
Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa
terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e
terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um
lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e
tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois
de a conquistar, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e
nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam
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esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua
mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser compradas,
saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a
terra, deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos
olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um
selvagem que de nada entende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se
possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas de um inseto.
Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece
apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz
solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um
homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a
sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma
chuva do meio-dia, ou recendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum
- os animais, as árvores, o homem.
O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em
prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra,
terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda
a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida,
também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la
reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir
saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores campestres.
Assim pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos
aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como
se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de
bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a
tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um
fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós - os
índios) matamos apenas para o sustento de nossa vida.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria
de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo
acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos
antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da
terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos
nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se
os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
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De uma coisa sabemos. A terra não pertence, ao homem: é o homem que pertence à
terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une
uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos
da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da
mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.
Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros
sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio,
envenenando seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem
grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles não são muitos.
Mais algumas horas, mesmos uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que
viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará
para chorar, sobre os túmulos um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de
confiança como o nosso.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo,
pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver,
de uma coisa sabemos que o homem branco venha, talvez, um dia descobrir: nosso
Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que o podes possuir do mesmo jeito
como desejas possuir nossa terra; mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira e
é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é
querida por ele, e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador. Os brancos
também vão acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuas poluindo
a tua cama e hás de morrer uma noite, sufocado em teus próprios desejos.
Porém, ao perecerem, vocês brilharão com fulgor, abrasados, pela força de Deus que
os trouxe a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o domínio sobre esta
terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois não
podemos imaginar como será, quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos
bravos domados, as brenhas das florestas carregadas de odor de muita gente e a vista
das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata?
Terá acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e à
caça; será o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se
soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de
inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar
desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem
branco são para nós ocultos, e por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio
caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá,
talvez, possamos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o
último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma
nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas
floresta e praias, porque nós a amamos como ama um recém-nascido o bater do
coração de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Proteje-a como nós a
protegíamos. "Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse": E
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com toda a tua força o teu poder e todo o teu coração - conserva-a para teus filhos e
ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo
Deus, esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso
destino comum.
300
Perfil do Profissional
1. Descrição do Cargo:
2. Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Faixa Etária:
( ) Entre 20 e 30 anos ( ) Entre 31 e 40 anos ( ) Entre 41 e 50 anos
( ) Entre 51 e 60 anos ( ) Acima de 60 anos
4. Formação:
Graduação:
Ano de Conclusão:
Especialização:
Ano de Conclusão:
Mestrado:
Ano de Conclusão:
Doutorado:
Ano de Conclusão:
Atenciosamente,
Esta pesquisa trata-se de um estudo acadêmico de percepção, que visa levantar alguns dados
sobre como os profissionais de indústrias químicas instaladas em um município paranaense percebem as
relações de sua organização com o meio ambiente.
Para a realização desta pesquisa, solicito ao IAP a disponibilização das seguintes informações:
Com relação a realização desta pesquisa, alguns pontos importantes foram considerados:
Esta pesquisa tem fins exclusivamente acadêmicos, a sua realização visa o cumprimento de uma das
etapas necessárias para a conclusão da dissertação.
Os dados fornecidos pelo IAP que permitam identificar as indústrias ou os profissionais envolvidos na
pesquisa serão tratados com rigorosa confidencialidade. Na versão final da dissertação de
mestrado não serão apresentados dados que possibilitem a identificação das indústrias, dos
profissionais participantes e do município envolvidos na pesquisa, conforme compromisso firmado
com as indústrias que participarão da pesquisa.
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No caso dos dados fornecidos pelo IAP serão utilizados apenas os dados de natureza quantitativa.
Esta pesquisa tem como objetivo desenvolver atividades de ensino e pesquisa de natureza
interdisciplinar e formar pesquisadores para pesquisas científicas, capazes de integrar esforços e
recursos, com a finalidade de produzir e disseminar conhecimento sobre organizações e
desenvolvimento no exercício de funções decisórias para a promoção da sustentabilidade.
Atenciosamente,
angelogs@yahoo.com – 9127-3965
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Empresa XXXXXX
Esta pesquisa visa levantar alguns dados sobre como os profissionais de indústrias
químicas percebem as relações de sua organização com o meio ambiente. Para atender aos
objetivos propostos, esta pesquisa será realizada em duas etapas:
Com relação a realização desta pesquisa, alguns pontos importantes foram considerados:
Esta pesquisa tem fins exclusivamente acadêmicos, a sua realização visa o cumprimento de
uma das etapas necessárias para a formação do aluno
Os dados das indústrias e dos profissionais participantes serão tratados com rigorosa
confidencialidade. Na versão final da dissertação de mestrado não serão apresentados
dados que possibilitem a identificação das indústrias e dos profissionais participantes
envolvidos na pesquisa
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Por se tratar de um estudo sobre percepção, as entrevistas serão gravadas em fita de áudio
(desde que previamente autorizado), apenas para facilitar o processo de transcrição dos
depoimentos coletados.
Caso a sua empresa opte em não participar da pesquisa, nós respeitaremos a sua
decisão. Apenas para fins de controle da pesquisa, solicitamos para que seja enviado um e-mail
ao pesquisador, informando o motivo da não participação: angelogs@yahoo.com.
Atenciosamente,
edmilson@fae.edu – 2105–4170