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Ana Maria de Godoy Teixeira

Modelagem da dinâmica de uma paisagem do


Planalto de Ibiúna (1962-2000) e inferências
sobre a sua estrutura futura (2019)

São Paulo
2005
Ana Maria de Godoy Teixeira

Modelagem da dinâmica de uma paisagem do


Planalto de Ibiúna (1962-2000) e inferências
sobre a sua estrutura futura (2019)

Dissertação apresentada ao Instituto de


Biociências da Universidade de São Paulo
para a obtenção de Título de Mestre em
Ciências, na Área de Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Jean Paul Metzger

São Paulo
2005
Teixeira, Ana Maria de Godoy
Modelagem da dinâmica de uma
paisagem do Planalto de Ibiúna (1962-2000)
e inferências sobre a sua estrutura futura
(2019)
118 páginas

Dissertação (Mestrado) - Instituto de


Biociências da Universidade de São Paulo.
Departamento de Ecologia.

1. Dinâmica de paisagens 2. Modelos


de simulação espacial 3. Ecologia de
Paisagens I. Universidade de São Paulo.
Instituto de Biociências. Departamento de
Ecologia.

Comissão Julgadora:

Prof(a). Dr(a) Britaldo Soares Filho Prof(a). Dr(a) Mateus Batistella

Orientador: Prof. Dr. Jean Paul Metzger


a meus amigos...
eternos e efêmeros...
amigos...
Prendei o rio
Maltratai o rio
Trucidai o rio
A água não morre
A água que é feita
De gotas inermes
Que um dia serão
Maiores que o rio
Grandes como o oceano
Fortes como os gelos
Os gelos polares
Que tudo arrebentam

(Manuel Bandeira)
AGRADECIMENTOS

Agradeço, desde já, a quem me pôs no mundo... Gloriosos Sr. Teixeira e Dona Margarida,
sempre me colocando no caminho do bem, do sonho, da infância & da vida adulta, do
compromisso, da realização, da luta, da independência, dos verdadeiros valores.

Agradeço à minha irmã, Inês, que, nos últimos anos, tem sido uma companhia intensiva à
divisão de conquistas e frustrações.

Agradeço à minha irmã Camila, ao meu irmão Gustavo e à minha sobrinha Marina. Estes,
sim, são os responsáveis pelos momentos de descontração únicos, seja em São Paulo, seja
na maravilhosa cidade de Ilhéus.

Agradeço à minha família de plantão: Jacyra, Mike, Simone, Michele e Tetel (estes últimos
internacionais), sempre dispostos a encontrar soluções para problemas diversos, que vão
desde pedidos de socorro para conter a explosão populacional de gatos em minha casa até
pedidos para encontrar fórmulas para cálculos dificílimos.

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Jean Paul Metzger. Durante a graduação em
Ciências Biológicas, Jean Paul, para mim, sempre representou um ícone, um mito, uma
pessoa um tanto quanto inatingível. Durante o mestrado, Jean Paul foi, aos poucos, me
fazendo perceber o quão humano é, dotado de extrema sensibilidade, ética, determinação,
princípios. Entretanto, Jean Paul continua a representar um ícone, um mito, para mim.

Agradeço ao Prof. Dr. Britaldo Soares Filho e à sua equipe, principalmente ao Hermann, ao
William e à Eliana e à sua família, pela iniciação paciente ao mundo da simulação espacial,
e, porque não, pelos divertidíssimos momentos em Belorizonte.

Agradeço o financiamento concedido pela CNPq.

Agradeço também a Giordano Ciocheti, pela extrema paciência, pelo carinho e pelas
oportunidades de reencontro com a velha-guarda são carlense ao som de muito samba-rock.
Agradeço aos amigos do Laboratório de Ecologia de Paisagens & Conservação. Miltinho
Astronauta e Alexandre Uezu, pela iniciação, também paciente, ao mundo do
geoprocessamento, e Wellington, por entender a minha fobia de vírus de computadores e
por manter o sistema todo funcionado, sempre! Agradeço à Cristina Simonetti, pela
iniciação à fotointerpretação. Ao William, por confiar parte dos seus dados a mim. Aos
companheiros de aflição e risadas nervosas, André Nogueira, Fabiana Umetsu e Flávia
Jesus. Às meninas cheias-de-graça Daniela Petenon & Mariana Vidal. À nova geração
lepaquiana: Leandro Tambosi & Alexandre Igari, que já chegaram com muitas coisas a
ensinar. E, é claro, à velha e divertida guarda do LEPaC: Pedro Develey, Tank, Renata
Pardini, Luciana Alves, Adriana Fidalgo, Daniela Ferraz, Carol, Mariana, Danilo, Rafael,
Kiwi, D2, Laura, Gerardo, Jorge, entre tantos outros. Em especial gostaria de agradecer à
velha-nova amiga Cristina Banks, uma companhia preciossísima em momentos aleatórios.

Agradeço à Tita e à Cristina Oka por terem me dado asas para voar ao me confiarem a
tarefa de dar continuidade a um velho sonho: a elaboração de material voltado à educação
ambiental para a população de Caucaia do Alto. E às Profas. Dras. Vânia Pivello e Silvana
Buzato e, mais uma vez, ao Prof. Dr. Jean Paul Metzger, entre outros tantos alunos, pelas
colaborações, correções e sugestões essenciais à quase-finalização desse projeto.

Agradeço às alemãs Jutta e Jana, por me mostrarem que a dinâmica de paisagens não se
restringe apenas à sobreposição de mapas e análise da influência de variáveis proximais.

Agradeço às minhas mães de plantão: Marisa Salles, Neuza Ciocheti e Maria Pia Castiglia.

Agradeço à minha rede de amigos Ana Crisitina, Indhira, Fábio Lima, Pluck, Thiago
Salgado, Magno, entre muitos, interligados de uma maneira ou de outra.

Agradeço ao corpo de funcionários do Instituto de Biociências pelo suporte burocrático


imprescindível.
ABSTRACT

The study of the dynamics of land use and occupation in the Atlantic Forest regions is quite
important in order to understand the processes of deforestation and forest regeneration and
further for the territorial planning of a region that has historically been suffering serious
forest loss and fragmentation. The objective of this study was to i) quantify the landscape
dynamics from 1962 to 2000 in a specific Atlantic Forest region, assessing the importance
of the relevant variables (relief, hydrography, proximity with roads, urban areas or units of
use and land cover) in order to offer a guideline for changes; ii) infer over the future
changes of the structure (2019) and the potential implications in terms of biological
conservation. The region selected for this study, called Caucaia do Alto, is located in the
Ibiuna Plateau in the counties of Cotia and Ibiuna, in the State of São Paulo, not too far off
Sao Paulo. This is an essentially agricultural area, very heterogeneous, featuring different
kinds of land use and occupation such as agriculture, reforestation with exotic species,
urban and rural facilities, and fragments of forests and natural vegetation in an early
regeneration stage. The analysis of the historical development of this region has been
performed based on the visual interpretation of air photographs taken in 1962 (1:25,000),
1981 (1:35,000) and 2000 (1:10,000). These three mosaics with the relevant photo
interpretation and also the set of supporting data (obtained at 1:10,000 scale) used as close
variables were all entered in a georeferenced databank in the program ArcView© and
further reviewed in the program DINAMICA©.
During the period 1962 and 1981, the Caucaia do Alto region underwent a heavy
modification of its structure with a predominance of the regeneration process over
deforestation, which resulted in an expansion of the forest areas. This dynamics occurred
probably in connection with crops-sod rotations that feature long abandonment with further
cutting of the re-emerging natural vegetation. The intense regeneration observed may be
explained by the reduction of timber extraction and vegetal coal production after the end of
World War II and by the compliance to the Forest Code issued in 1965. On the other hand,
during the period of 1981 and 2000, deforestation was more intense and regeneration was
reduced, with a distinct loss of forest cover. This is the period that features the expansion of
urban developments, which are probably directly and indirectly responsible for
deforestation. The space trends show that deforestation has occurred preferentially in areas
more favorable to agricultural activities (flatter and low lands and with better access), while
regeneration has occurred in areas which are closer to the rivers, probably due to the
influence of legislative restrictions, in steeper areas and in those farther away from urban
settlements and roads.
The dynamics data also allowed inferences on the future spatial standard landscape
for Caucaia do Alto (2019) through the use of a spatial simulation program based on
cellular automata (DINAMICA©). The models used to generate future scenarios were based
on the trends observed between the years 1981 and 2000, and the year 2000 was chosen as
a validation parameter. Four different scenarios were selected, each one with 10 landscape
replicas (all told 40 separate landscapes were simulated): i) the actual scenario projected
the trends of the last 20 years (1981-2000), without any interference; ii) the optimistic
scenario simulated a condition of no deforestation and keeping the same regeneration
rhythm observed between 1981 and 2000; iii) the pessimistic scenario maintained the same
deforestation rate as in the past and increased agricultural stability thus avoiding forest
regeneration; and iv) the random scenario that was used as control scenario, followed past
trends similarly to the real scenario, yet taking out the influence of the close variables. All
the scenarios that were obtained had their landscape rates calculated in connection with
composition (forest cover) and configuration (spatial distribution in terms of fragments
number, size and degree of isolation/proximity). Results show that the optimistic scenario,
which is equivalent to a policy of “zero deforestation” is the only one capable of increasing
the forest cover and reduce the number of forest fragments in the landscape. When
compared to the real scenario of recent trends maintenance for landscape dynamics, this
scenario allows a projected increase of about 50% in the size of the largest fragment, it
doubles the fragments average area and increases almost three times proximity between
remaining forest fragments. On the other hand, in an adverse situation, where a greater
agricultural stabilization would occur and less abandonment of the land and therefore
interruption of natural regeneration (pessimistic scenario), there is a clear loss of forest
areas (1.238 ha), increase in the number of fragments, reduction of the size and closeness of
the fragments. These results indicate that firm interventions that avoid deforestation and the
maintenance of current regeneration rates would be highly beneficial in terms of
conservation.
RESUMO

O estudo da dinâmica de uso e cobertura das terras em regiões de Floresta Atlântica é de


relevante importância ao entendimento dos processos que determinam o desmatamento e a
regeneração florestal e, em conseqüência, ao planejamento territorial de uma região que
vem, historicamente, sofrendo intensas perdas e fragmentação de florestas. O objetivo deste
trabalho consistiu em: i) quantificar a dinâmica da paisagem observada para o período de
1962 a 2000 em uma região de Mata Atlântica, verificando a importância de variáveis
proximais (relevo, hidrografia, proximidade a estradas, a áreas urbanas ou a unidades de
uso e cobertura das terras) no direcionamento das modificações; ii) inferir sobre as
mudanças na estrutura da paisagem em um tempo futuro (2019) e as possíveis implicações
em termos de conservação biológica. A região de estudo, denominada de Caucaia do Alto,
localiza-se no Planalto de Ibiúna, nos municípios de Cotia e Ibiúna, SP, próximo à cidade
de São Paulo. Trata-se de uma paisagem essencialmente agrícola, bastante heterogênea,
pontuada por diferentes tipos de uso e cobertura das terras, entre eles a agricultura, o
reflorestamento com espécies exóticas, as instalações rurais e urbanas e os fragmentos de
florestas e de vegetação natural em estádio inicial de regeneração. A análise da evolução
histórica dessa região foi feita a partir da interpretação visual de fotografias aéreas relativas
aos anos de 1962 (1:25.000), 1981 (1:35.000) e 2000 (1:10.000). Estes três mosaicos
fotointerpretados, assim como o conjunto de dados auxiliares (obtidos na escala 1:10.000),
utilizados como variáveis proximais, foram inseridos em um banco de dados
georeferrenciado no programa ArcView© e posteriormente analisados no programa
DINAMICA©.
No período de 1962 e 1981, a região de Caucaia do Alto sofreu uma intensa
modificação em sua estrutura, porém com predomínio do processo de regeneração sobre o
desmatamento, resultando em uma expansão de áreas florestadas. Essa dinâmica
provavelmente esteve relacionada a culturas rotacionais, caracterizadas pelo intenso
abandono agrícola e corte de vegetação natural. A intensa regeneração observada pode ser
explicada pela redução das atividades voltadas à extração de lenha e carvão vegetal após o
final da Segunda Guerra Mundial e ao cumprimento do Código Florestal, implantado em
1965. Por outro lado, no período de 1981 e 2000, houve uma intensificação do
desmatamento e uma redução da regeneração, com nítida perda da cobertura florestal. Este
período é marcado pela expansão dos loteamentos urbanos, sendo os mesmos,
provavelmente, responsáveis diretos e indiretos pelo desmatamento. As tendências
espaciais mostram que o desmatamento ocorre preferencialmente em áreas mais propícias à
agricultura (terras mais planas e baixas e de fácil acesso), enquanto a regeneração ocorre
em áreas próximas aos rios, devido, provavelmente, à influência da legislação, em áreas de
maior declividade e mais afastadas dos centros urbanos e de estradas.
Os dados de dinâmica permitiram, ainda, inferir sobre o padrão espacial futuro da
paisagem de Caucaia do Alto (2019) pela utilização de um programa de simulação espacial
baseado em autômatos celulares (DINAMICA©). Os modelos utilizados para a geração dos
cenários futuros foram baseados nas tendências observadas entre os anos de 1981 e 2000,
com a validação feita tomando-se como parâmetro o ano de 2000. Foram utilizados quatro
cenários distintos, cada um com 10 réplicas de paisagem (no total 40 paisagens distintas
foram simuladas): i) o cenário real seguiu as tendências dos últimos 20 anos (1981-2000),
sem qualquer alteração; ii) o cenário otimista procurou simular uma condição de ausência
de desmatamento, mantendo-se o mesmo ritmo de regeneração observado entre 1981 e
2000; iii) o cenário pessimista manteve a taxa de desmatamento passada e aumentou a
estabilidade agrícola, impedindo a regeneração florestal; iv) o cenário aleatório, utilizado
como cenário controle, seguiu as tendências passadas, de forma similar ao cenário real,
porém as influências das variáveis proximais foram anuladas. Todos os cenários obtidos
foram submetidos a cálculos de índices de paisagem referentes tanto à composição
(cobertura florestal) como à configuração (distribuição espacial em termos de número de
fragmentos, tamanho e grau de isolamento/proximidade). Os resultados mostram que o
cenário otimista, o qual equivale a uma política de “desmatamento zero”, é o único capaz
de aumentar a quantidade de mata e reduzir o número de fragmentos florestais da paisagem.
Quando comparado ao cenário real, de continuidade nas tendências recentes de dinâmica de
paisagem, esse cenário permitiu o aumento em cerca de 50% no tamanho do maior
fragmento florestal, dobrou a área média dos fragmentos e aumentou em quase três vezes a
proximidade entre os fragmentos florestais remanescentes. Por outro lado, em uma situação
adversa, onde há uma maior estabilização agrícola e menor abandono das terras com
conseqüente interrupção da regeneração natural (cenário pessimista), há uma nítida perda
de áreas florestais (1.238 ha), aumento no número de fragmentos e redução do tamanho e
do grau de proximidade dos mesmos. Estes resultados ressaltam que intervenções firmes,
impedindo o desmatamento e mantendo as taxas atuais de regeneração, seriam altamente
benéficas em termos de conservação da diversidade biológica.
ÍNDICE

CAPÍTULO 1 1
Introdução 2
Área de estudo 7
Métodos 10
Montagem dos fotomosaicos 10
Classificação das fotografias aéreas 14
Quantificação da dinâmica da paisagem 18
Análise dos dados 30
Resultados 32
Dinâmica da paisagem de Caucaia do Alto 32
Influência das variáveis proximais 36
Discussão 43
Período de 1962-1981 43
Período de 1981-2000 46
Localização dos desmatamentos 47
Localização das regenerações 48
Conclusão 50
Bibliografia 51
CAPÍTULO 2 57
Introdução 58
Área de estudo 63
Métodos 64
Variáveis proximais 68
Matrizes de mudanças e dos pesos de evidência 69
Calibração do modelo de simulação “ideal” 71
Cenários para o ano de 2019 72
Análise dos diferentes cenários 74
Resultados 80
Ordenação dos cenários para conservação de espécies florestais 91
Discussão 93
Conclusão 97
Bibliografia 98
INTRODUÇÃO GERAL

A Mata Atlântica, originalmente, cobria cerca de 1.360.000 km2 do território brasileiro,


sendo que, deste total, restam apenas 8% (108.000 km2). Além da baixa representatividade,
a Floresta Atlântica atual se encontra subdividida em pequenos fragmentos, estando a
maioria imersa em matrizes de uso e cobertura das terras por vezes bastante distinta. Frente
a essa dinâmica, muito se tem perdido em relação à diversidade de espécies florestais, pelo
fato de que as mesmas são afetadas diretamente pela fragmentação de seus habitats
naturais. Com o intuito de melhor compreender o processo de fragmentação, frente às suas
causas e conseqüências, foi elaborado o Projeto Temático Conservação da biodiversidade
em paisagens fragmentadas no Planalto Atlântico de São Paulo (processo FAPESP n°
99/05123-4). Este projeto engloba diversos sub-projetos, os quais buscam respostas quanto
à relação entre os processos biológicos e o padrão estrutural de paisagem, assim como a sua
dinâmica. Como objetos de estudo, este projeto selecionou tanto uma paisagem
predominantemente agrícola, pontuada por manchas de vegetação natural (Caucaia do
Alto), como uma paisagem controle, a Reserva Florestal do Morro Grande, a qual
representa uma área de vegetação natural relativamente contínua. Ambas as áreas de estudo
estão localizadas próximo à cidade de São Paulo, sendo que a Reserva do Morro Grande
está inserida no município de Cotia e Caucaia do Alto, nos municípios de Cotia e Ibiúna,
SP. Foram estudados, com diferentes enfoques, fragmentos de vegetação natural contidos
na paisagem fragmentada e na área contínua. Este trabalho, por sua vez, contribuiu para a
execução de um dos sub-projetos relacionado à compreensão da evolução histórica da
paisagem de Caucaia do Alto entre os anos de 1962 e 2000, a fim de entender o padrão
espacial atual observado na região. Foram analisados tanto o processo de desmatamento
como o de regeneração frente a diversas variáveis proximais, as quais poderiam estar
favorecendo espacialmente esses tipos de transição. Os dados obtidos permitiram também
inferir sobre possíveis cenários de tipos de uso e cobertura da terra para o ano de 2019, a
saber, real, aleatório, otimista e pessimista. Os resultados foram analisados quanto à
proximidade a uma paisagem dita “ideal” à conservação de espécies florestais.
CAPÍTULO 1

Quantificação da dinâmica (1962-2000) e análise da influência de


variáveis proximais na estrutura espacial atual (2000) da paisagem de
Caucaia do Alto (Planalto de Ibiúna, SP)
INTRODUÇÃO

A Floresta Atlântica Brasileira (Mata Atlântica), localizada na costa leste da América do


Sul, é descrita como um conjunto complexo de tipos florestais (decídua, semi-decídua,
pluviais, tropicais a subtropicais), que ocupava terras desde 8o a 28o de latitude sul e
interiorizava-se por cerca de 100 km da costa norte, alargando-se em mais de 500 km na
região sul. Totalizava, antigamente, cerca de 1.360.000 km2 (Ministério do Meio Ambiente
2000) sendo dotada de extraordinária biodiversidade, boa parte constituída de espécies
endêmicas (Dean 1997).
Segundo Dean (1997), a ocupação da Mata Atlântica provavelmente iniciou-se há
13 mil anos, com a chegada dos caçadores-coletores, os quais se estabeleceram
preferencialmente na zona de encontro (ecótono) entre o cerrado e a floresta, às margens de
corpos d’água. O fogo era uma das principais ferramentas utilizadas para a caça, tanto para
encurralar os animais como para converter a floresta mais densa em verdadeiros campos a
fim de facilitar a localização de presas. Com o incremento da população, iniciou-se o
cultivo agrícola (sistema de corte-e-queima) em áreas florestais, nas quais o solo era mais
fértil do que o encontrado no cerrado, com produção inicial de milho, mandioca e inhame,
que se estendeu por mais de mil anos antes da chegada dos europeus.
Desde então, a crescente ocupação do território brasileiro tem impulsionado de
forma extraordinária a demanda pela domesticação de áreas nativas, principalmente as
localizadas próximo à costa litorânea, dado o contexto histórico de imigração européia
(Souza et al. 2002). Os antigos domínios da Mata Atlântica abrigam, nos dias de hoje, mais
de 70% da população, além das maiores cidades e os mais importantes pólos industriais do
Brasil (Ministério do Meio Ambiente 2000). Atualmente, soma-se apenas 8% da área
originalmente ocupada pela Floresta Atlântica Brasileira (cerca de 108.800 km2), subdivida
em pequenos fragmentos, a maioria deles sob a forma de remanescentes de vegetação
natural secundária em diferentes estádios sucessionais.
Tal ocupação, feita, em grande parte das vezes, de forma desordenada, dado o atraso
no surgimento da conscientização mundial em relação ao meio ambiente (década de 70),
gerou inúmeras e variadas crises ambientais. Segundo Almeida et al. (1999), a atual crise,
anunciada principalmente pelo desequilíbrio das leis ecológicas e conseqüente perda da
diversidade biológica, “tem raiz antrópica de proporções gigantescas”. A perda e a
fragmentação de habitats, relacionadas principalmente à substituição da vegetação natural
original por diferentes tipos de uso e cobertura das terras, como áreas destinadas à
urbanização, ao reflorestamento de espécies exóticas ou à agricultura, são conseqüências
diretas da transformação das florestas induzida pelo homem, ou seja, do desmatamento.
Como herança das modificações de habitats contínuos, tem-se, geralmente,
remanescentes de vegetação natural subdivididos em fragmentos de distribuição espacial
variada, os quais se encontram sob diversas condições físicas e ambientais, possuem
diferentes tipos de vegetação e variam em tamanho, forma, graus de isolamento e
conectividade e tipos de entorno (Saunders et al. 1991). As intervenções antrópicas em
áreas de vegetação natural, portanto, resultam em alterações nos processos ecológicos
estabelecidos ao longo do tempo evolutivo, dada a dinâmica na estrutura espacial das
paisagens (Turner 1989). Em relação à manutenção da biodiversidade, as modificações de
habitats geralmente têm como conseqüência o empobrecimento da diversidade e da
abundância de espécies, acarretando, com isso, a diminuição da complexidade ecológica
dos ecossistemas, a perda de genes de fauna e flora ainda não-catalogados e o
depauperamento das reservas genéticas em nível global (Lambin 1994).
O desequilíbrio ambiental causado pela percepção tardia dos efeitos adversos do
desmatamento tornou crucial o desenvolvimento de estudos científicos dirigidos ao
monitoramento e à conceitualização dos processos que levam às mudanças do uso e
cobertura das terras (Nagendra et al. 2003), além da criação de teorias relacionadas às
forças motrizes responsáveis pelo direcionamento das ações de desmatamento (Lambin
1994, Geist & Lambin 2002) .
A dinâmica de uso e cobertura das terras assistida em paisagens rurais ao longo do
tempo é determinada por complexas interações de fatores ambientais e sócio-econômicos
(Hietel et al. 2004), em diferentes níveis. Blois (2001) especifica ainda mais essa relação,
afirmando que, em sistemas de cultivo misto, compostos tanto por áreas florestais como por
áreas agrícolas, o desmatamento é freqüentemente um processo seletivo que depende da
capacidade dos atributos físicos presentes em sustentar uma determinada atividade agrícola,
onde os fragmentos de vegetação natural em estádios mais avançados de sucessão estão
geralmente relacionados a variáveis ambientais que a princípio impediriam o sucesso da
produção agrícola (Hobbs & Saunders 1993 apud Blois 2001). Lambin (1994), em seu
trabalho intitulado Modelling deforestation process: a review, descreve as principais causas
das ações de desmatamento, agrupando-as em variáveis proximais, as quais exercem
influências regionais na configuração espacial dos padrões de mudança, e causais, forças
estas que explicam as motivações do desmatamento em âmbito global. Localmente, as
variáveis que influenciam o desmatamento podem estar relacionadas ao tipo de manejo da
terra, ao requerimento por combustíveis vegetais, à conversão de áreas naturais em
pastagens, ao planejamento (ou à sua ausência de) na utilização e comercialização de
produtos florestais, entre outros. Em uma escala global, tais variáveis são influenciadas
principalmente pelo crescimento populacional, condições sociais, políticas ambientais,
pressões econômicas etc.
A regeneração de áreas de vegetação natural, por sua vez, também apresenta
tendências particulares em relação à localização espacial em que irá preferencialmente
ocorrer, sendo teoricamente influenciada pelo tempo de pousio, definido muitas vezes em
função do tipo de uso (intensivo ou extensivo) determinado pelo proprietário das terras. Em
propriedades onde o uso das terras é do tipo intensivo, com tempo de pousio curto, as áreas
de vegetação natural em estádios avançados de sucessão secundária tendem a desaparecer,
o que leva a paisagem a apresentar um aspecto relativamente homogêneo, com áreas
agrícolas contínuas. Por outro lado, em propriedades onde o uso da terra é do tipo
extensivo, com tempo de pousio longo, a paisagem assume um aspecto heterogêneo, onde
são observadas áreas de vegetação natural em estádios sucessionais variados, imersas em
uma matriz predominantemente agrícola (Metzger 2003). Um outro fator relevante para a
regeneração de fragmentos de vegetação natural em paisagens modificadas pelo homem é a
distância das mesmas em relação a áreas-fonte florestais, as quais possibilitariam o
fornecimento de propágulos, necessários à regeneração (Guariguata & Ostertag 2001,
DeWalt et al. 2003). Paisagens fundamentalmente agrícolas, portanto, possuem dinamismo
em relação à estrutura, à função e ao padrão espacial, sendo compostas por um conjunto de
habitats naturais e de tipos de uso das terras diversos (Dunn et al 1991). O termo dinâmica
envolve, per se, uma variação temporal intrínseca, dentro da qual observam-se mudanças
nos elementos que compõem uma determinada paisagem, definidos, na Ecologia de
Paisagens, como manchas, corredores e matriz (Forman 1995). Portanto, a questão
temporal, ou histórica, aliada à influência de variáveis ambientais e sócio-econômicos, são
atualmente consideradas peças-chave para o entendimento da disposição atual dos
elementos em uma dada paisagem (Blois 2001).
O estudo do conjunto de fatores espaciais de conotação extremamente complexa,
que envolve a conversão entre tipos de uso e cobertura das terras, a influência de variáveis
proximais nestas conversões e as questões sócio-econômicas que comandam a direção, em
última análise, dos processos de desmatamento e regeneração de vegetação natural em uma
dada paisagem, exige a utilização de ferramentas específicas, como os Sistemas de
Informação Geográfica, estatísticas espaciais e modelos matemáticos.
Os modelos de mudanças de paisagens vêm sendo utilizados com o intuito de
quantificar e localizar espacialmente as transições de uso e cobertura das terras ao longo de
um determinado período de tempo, além de verificar as influências de variáveis proximais e
causais nessas transições. Como toda a metodologia acadêmica, esses modelos exibem um
longo histórico evolutivo, envolvendo a sua utilização e conseqüente modificação a fim de
atender aos pressupostos exigidos pelas análises estatísticas espaciais. Tal trajetória é o
cerne de diversos trabalhos de revisão bibliográfica (Baker 1989, Soares-Filho 1998,
Pedrosa & Câmara 2003).
Para a quantificação de mudanças em um dado período de tempo, por exemplo, a
metodologia utilizada relaciona-se principalmente à álgebra cartográfica, através da
tabulação cruzada de mapas de diferentes anos, os quais representam as chamadas séries
temporais, onde, a partir de então, tem-se a base para a elaboração das matrizes de mudança
(Muller & Middleton 1994). Porém, para a verificação da influência de variáveis proximais
nas conversões entre os diferentes tipos de uso e cobertura das terras, outra gama de
análises é normalmente empregada, como a utilização de índices de paisagens (Nagendra et
al. 2003), regressões logísticas (Soares-Filho et al. 2002) e pesos de evidência (Almeida et
al. 2002, Felicíssimo et al. 2002, Soares-Filho et al. 2004).
O presente capítulo, portanto, tem como objetivo principal a compreensão dos
processos históricos ocorridos entre os anos de 1962 e 2000 que culminaram na
configuração dos elementos da paisagem de Caucaia do Alto observada no ano de 2000.
Para se chegar a esse objetivo mais amplo, foi necessário cumprir, previamente, dois
objetivos secundários: i) quantificar as mudanças ocorridas na região de Caucaia do Alto no
período de tempo compreendido entre os anos de 1962 e 2000, utilizando-se, para tal, uma
série temporal com dados obtidos a partir de fotografias aéreas referentes aos anos de 1962,
1981 e 2000 e ii) verificar a influência de variáveis proximais, a saber, variações na
altimetria e declividade, distância à rede hidrográfica, às estradas principais e secundárias,
aos núcleos urbanos e aos diferentes tipos de uso e cobertura das terras, nos processos de
regeneração florestal e desmatamento, utilizando-se de matrizes de mudança e pesos de
evidência para os intervalos temporais 1962-1981 e 1981-2000.
A partir desse contexto, foram formuladas duas hipóteses:

1. O desmatamento é mais intenso em regiões de relevo plano, de menor inclinação e


próximo a vias de acesso, à rede hidrográfica e a áreas modificadas pelo homem.

2. A regeneração de florestas é mais intensa em regiões próximas a áreas de vegetação


natural, sendo menos intensa em regiões de relevo plano, de menor inclinação e
próximo a vias de acesso, à rede hidrográfica e a áreas modificadas pelo homem.
ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo, denominada Caucaia do Alto, está inserida no Planalto Cristalino de


Ibiúna (Ponçano et al. 1981), próximo à Serra de Paranapiacaba, nos municípios de Cotia e
Ibiúna, Estado de São Paulo (limites em UTM: 283603 a 292333 e 7367793 a 7379680;
área total: 7.461 ha) (Figura 1).
O tipo climático predominante é Cfa, temperado chuvoso, conforme Köppen (1948).
A temperatura anual na região oscila, em média, entre 27ºC, no mês mais quente, e 11º C,
no mês mais frio (SABESP 1997). A precipitação anual varia em torno de 1.400 mm; nos
meses chuvosos, atinge entre 200 e 260 mm, nos meses mais secos, estabelece-se em
aproximadamente 60 mm (SABESP 1997). A altitude, que varia entre 860 a 1.060 m, e a
ocorrência freqüente de ventos e neblinas caracterizam um clima frio. O relevo local é de
denudação, com morros convexos e inclinações maiores do que 15%, de solos altamente
frágeis, em geral latossolos vermelho-amarelos, argissolos vermelho-amarelos e
cambissolos háplicos (Ross & Moroz 1997, Oliveira et al. 1999).
A floresta original é classificada como floresta ombrófila montana densa (Veloso et
al. 1991) e pode ser considerada transicional entre a floresta atlântica de encosta e a floresta
mesófila semidecídua do interior do estado de São Paulo (Struffaldi-de-Vuono 1985,
Gomes 1992, Aragaki & Mantovani 1998). A maior parte das florestas fragmentadas da
região foi classificada em estádio médio de sucessão, segundo critérios da Resolução
Conjunta SMA/IBAMA/SP-1 de 17 de fevereiro de 1994. As famílias de maior riqueza em
espécies são Myrtaceae, Lauraceae, Fabaceae e Rubiaceae, e as espécies mais abundantes,
Guapira opposita, Clethra scabra, Casearia sylvestris, Myrcia multiflora, Matayba
elaeagnoides, Rudgea jasminoides, Rapanea umbellata e Croton floribundus (Bernacci et
al. 2003).
A delimitação da área de estudo corresponde à região que inclui os 21 fragmentos
florestais na qual foram desenvolvidos os trabalhos englobados pelo Projeto Conservação
da Biodiversidade em Paisagens Fragmentadas no Planalto Atlântico de São Paulo,
Processo FAPESP No 99/05123-4, sendo tal delimitação equivalente à utilizada por Goulart
(2004). Essa área abrange parte das bacias dos rios Sorocamirim e Sorocabuçu, estando
fonte: http://www.guiageografico.com

fonte: http://www.sosmataatlantica.org.br

¹
285000 287000 289000 291000
7379000
7377000
7375000
7373000

Ibiún
fonte: http://www.sosmataatlantica.org.br
7371000
7369000

2.000
m
escala das fotografias 1:10.000

Figura 1. Área de estudo, localizada nos municípios de Cotia e Ibiúna.


delimitada a oeste pela estrada de furnas, ao norte pela estrada de Ibiúna, a leste pelo rio
Sorocamirim e ao sul pelo limite da serra de Paranapiacaba.
Esta região apresenta uma grande heterogeneidade de uso e cobertura das terras
dada provavelmente pelo histórico de ocupação. Segundo Seabra (1971), a região de
Caucaia do Alto, SP, principalmente a partir da década de 30, passou a apresentar vocação
comercial voltada ao cultivo de produtos hortifrutigranjeiros e fornecimento de lenha e
carvão vegetal a fim de abastecer as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. O
estabelecimento dessas culturas deu-se principalmente ao longo das várzeas de rios, com
solos hidromórficos, pé de serra e encostas de morro de declividade baixa a moderada.
Áreas mais declivosas e de topo de morro a princípio mantiveram-se recobertas por
vegetação natural secundária e capoeira pontuadas por manchas de reflorestamento, sendo
algumas dessas áreas posteriormente utilizadas para plantio de vastas monoculturas,
especialmente a bataticultura, com o auxílio de técnicas de irrigação e mecanização, que
amenizaram a textura mais árida do solo quando comparada à de regiões de menor altitude.
Caucaia do Alto encontra-se conectada à cidade São Paulo pela Rodovia Raposo Tavares
desde a década de 50 e, antes desse período, por um dos mais importantes eixos de
circulação que partia da metrópole e seguia até o Sul do Brasil (via Sorocaba), fator este
que possibilitou o avanço tanto da comercialização de produtos como da especulação
imobiliária, dada a vocação da região como um pólo de lazer para os habitantes da cidade
de São Paulo. Atualmente, a paisagem na região é composta principalmente de vegetação
natural em diferentes estádios de sucessão, campos em pousio, culturas agrícolas
(horticulturas e olericulturas diversas, tomate, batata, cultivo de flores, entre outros),
reflorestamento e instalações rurais/chácaras/loteamentos (Secretaria de Recursos Hídricos
e Saneamento do Estado de São Paulo 2001, Metzger & Simonetti 2003).
MÉTODOS

Montagem dos fotomosaicos

Para o presente trabalho, como fonte de imagens, foram utilizadas fotografias aéreas
obtidas nos anos de 1962 (1:25.000; 12 fotos), 1981 (1:35.000; 5 fotos) e 2000 (1:10.000;
61 fotos), adquiridas em uma empresa privada (BASE Aerofotogrametria S. A.). A
escolha das datas foi baseada na disponibilidade das imagens e na possibilidade de se obter
intervalos regulares (19 anos) entre os anos estudados.
As fotografias aéreas foram digitalizadas, gerando imagens de resoluções
equivalentes a 0,988 m em 1962, 1 m em 1981 e 1,333 m em 2000. Diferenças nos
detalhamentos escolhidos durante a digitalização amenizaram as diferenças nas escalas
originais das fotografias. Deve-se ainda ressaltar que a fotointerpretação foi realizada com
base na observação das fotografias em papel, com o auxílio de estereoscópio. A correção
geométrica foi feita baseando-se em uma única referência cartográfica, o fotomosaico de
2000 (erro médio de georeferrenciamento inferior a 5 m, UTM, SAD 1969, 23-S),
elaborado previamente (Metzger et al. 2002).
As fotos digitalizadas foram então georreferenciadas no programa Erdas© (versão
8.4, 1999) utilizando-se, em média, 30 pontos de controle bem distribuídos em cada
fotografia. O polinômio de 2º grau, que, além de descrever translação, rotação, escala e
obliqüidade da imagem, adiciona parâmetros de torção e convexidade (Loch 2000), foi o
que melhor respondeu aos testes de sobreposição das imagens feitos durante o
georreferenciamento. A seguir, as imagens corrigidas correspondentes a cada ano foram
sobrepostas, ainda no programa Erdas©, dando origem a três fotomosaicos distintos,
comparáveis entre si (Figuras 2, 3 e 4). Os desvios médios, representando os resíduos nos
registros das fotografias aéreas isoladas em relação ao georreferenciamento feito para o ano
de 2000, foram equivalentes a 7,8 m, para o ano de 1962, e 12,5 m, para o ano de 1981.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000

2.000
m

Figura 2. Fotomosaico referente à região de Caucaia do Alto, SP, no ano de 1962.


¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000

2.000
m

Figura 3. Fotomosaico referente à região de Caucaia do Alto, SP, no ano de 1981.


¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000

2.000
m

Figura 4. Fotomosaico referente à região de Caucaia do Alto, SP, no ano de 2000.


Classificação das fotografias aéreas

O fotomosaico de 1981, por apresentar uma escala mais “grosseira” (1:35.000), foi
utilizado como base para o estabelecimento das 5 classes de uso e cobertura da terra,
utilizadas para a realização da fotointerpretação, a saber: instalações rurais e urbanas,
campos agrícolas, reflorestamento, vegetação natural em estádio inicial de sucessão
secundária e vegetação natural em estádio médio a avançado de sucessão secundária
(Tabela 1). Tal classificação foi também utilizada para os anos de 1962 e 2000 (Figuras 5, 6
e 7). É importante ressaltar que as áreas naturais foram denominadas segundo resoluções nº
10 e 01 do CONAMA, datadas de 19/10/1993 e 31/1/1994, respectivamente, e resolução
conjunta SMA/IBAMA/SP-1, de 17/2/1994 (Diederichsen 2003). O procedimento de
classificação dos fotomosaicos foi feito com a utilização do programa ArcView© (versão
8.3, 1999-2002).

Tabela 1. Classes utilizadas nas fotointerpretações feitas para os anos de 1962, 1981 e
2000, com suas respectivas definições e termos utilizados ao longo do texto, na região de
Caucaia do Alto, SP (Metzger et al. 2002).

TERMOS UTILIZADOS AO
CLASSES DEFINIÇÃO
LONGO DO TEXTO
Edificações isoladas, bosques, cercas-vivas,
Instalações rurais e Instalações rurais e
edificações agrupadas, condomínios,
urbanas urbanas
loteamentos.
Agricultura anual, pastos limpo e sujo,
Campos agrícolas Agricultura vegetação herbácea rala a herbácea-
arbustiva, homogênea ou heterogênea.
Florestas plantadas com espécies exóticas,
Reflorestamento Reflorestamento
e.g. Pinus spp. e Eucalyptus spp.
Vegetação natural em
Vegetação herbácea-arbustiva a arbustiva,
estádio inicial de sucessão Vegetação inicial
homogênea ou heterogênea.
secundária

Vegetação natural em Vegetação arbórea-arbustiva a arbórea


estádio médio a avançado Floresta densa, homogênea ou heterogênea,
de sucessão secundária presença de espécies emergentes.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000

Legend
Classes de uso e
2.000
62_0_5_tiff.tif m
cobertura das
VALUE
terras
escala 1:55.000
0 Não-analisado
1 Instalações rurais e urbanas
2 Agricultura
3 Reflorestamento
4 Vegetação inicial
5 Floresta

Figura 5. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, em 1962.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000

Legend
Classes de uso e 2.000
62_0_5_tiff.tif
cobertura das m
terras
VALUE
0
Não-analisado
1
Instalações rurais e urbanas
2
Agricultura
3
Reflorestamento
4
Vegetação inicial
5
Floresta

Figura 6. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, em 1981.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000

2.000
Classes de uso e m
62_0_5_tiff.tif
cobertura das
terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Instalações rurais e urbanas
2 Agricultura
3 Reflorestamento
4 Vegetação inicial
5 Floresta

Figura 7. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, em 2000.
Quantificação da dinâmica da paisagem

A representação vetorial da área de estudo realizada para os três diferentes anos,


originalmente feita por polígonos na fotointerpretação, foi primeiramente convertida a uma
representação matricial, onde o espaço total foi subdividido em células unitárias (pixels) de
225 m2 ou 0,0225 ha (15 m de resolução). A escolha do tamanho das células foi feita em
função da escala de observação das fotografias aéreas com menor resolução (1981;
1:35.000). Diversos autores enfatizam as vantagens de se subdividir uma paisagem em
células unitárias de igual tamanho para tratamento matemático (modelagem), uma vez que
todos os pixels descritores da área analisada possuem dimensões passíveis de comparação
(Soares-Filho et al. no prelo).
O passo seguinte consistiu na quantificação tanto do total da área ocupada por cada
uma das 5 classes nos três diferentes anos, em ha, como das transições ocorridas entre as
mesmas nos intervalos temporais compreendidos entre os anos 1962-1981 e 1981-2000.
Para tal, utilizou-se o programa DINAMICA© (versão 2.3, 1999-2002), desenvolvido pelo
Centro de Sensoriamento Remoto/Instituto de Geociências da Universidade Federal de
Minas Gerais, sob a coordenação do Prof. Dr. Britaldo Soares Filho. Como resultado, esta
abordagem gerou matrizes de mudança, uma para cada intervalo de tempo estudado (1962-
1981 e 1981-2000), a fim de descrever as mudanças discretas no uso e cobertura das terras
ocorridas na área de estudo com base na sobreposição das séries temporais. Cada uma das
células dessas matrizes detectou e quantificou a mudança ou a permanência dos pixels entre
ou nas diversas classes estabelecidas nos períodos estudados.
Todas as células classificadas como corpos d’água, áreas de mineração e campos
antrópicos ripários no ano de 2000 tiveram seus identificadores zerados e foram excluídas
das análises por dificuldades na distinção desses elementos nas escalas 1:25.000 (1962) e
1:35.000 (1981), o mesmo ocorrendo para os pixels correspondentes nos anos de 1962 e
1981.
Neste estudo, todas as transições entre as diferentes classes foram consideradas
possíveis, uma vez que o intervalo escolhido entre os anos analisados (19 anos) possibilita
tal dinâmica. A fim de facilitar a interpretação dos resultados obtidos, optou-se por
restringir a análise da influência das variáveis proximais apenas às transições equivalentes à
regeneração e ao desmatamento (Tabela 2).

Tabela 2. Transições analisadas entre as classes instalações rurais e urbanas, agricultura,


reflorestamento, vegetação inicial e floresta na região de Caucaia do Alto, SP.

CLASSES FINAIS

CLASSES INICIAIS Instalações


Vegetação
rurais e Agricultura Reflorestamento Floresta
inicial
urbanas
Instalações rurais e
urbanas Regeneração
de vegetação Regeneração
Agricultura
inicial de floresta
Reflorestamento
Vegetação inicial Corte de vegetação inicial
Floresta Desmatamento de floresta

Variáveis proximais

Para a análise da influência das variáveis proximais, utilizou-se um conjunto substancial de


dados cartográficos (hidrografia, declividade, altimetria, estradas principais e secundárias e
distância aos núcleos urbanos e às classes definidas na fotointerpretação), os quais, segundo
revisão da literatura (Tinker et al. 1998, Endress & Chinea 2001, Felicíssimo et al. 2002,
Nagendra et al. 2003, Soares-Filho et al. 2004, Hietel et al. 2004) e a própria evolução
histórica da paisagem de Caucaia do Alto (Seabra 1971), podem potencialmente esclarecer
as principais mudanças observadas na região nos últimos 40 anos.
A fim de simplificar as análises de influência, optou-se, inicialmente, por agrupar as
classes referentes a intervenções humanas diretas (instalações rurais e urbanas, agricultura e
reflorestamento) em apenas uma classe (Tabela 3).
Tabela 3. Transições analisadas quanto à influência exercida pelas variáveis proximais na
região de Caucaia do Alto, SP.

TRANSIÇÕES
CLASSES
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta
Regeneração de
Uso antrópico
vegetação inicial Regeneração de
Corte de floresta
Vegetação inicial
vegetação inicial
Floresta Desmatamento de floresta

As curvas de nível, consideradas em intervalos de 5 em 5 m, e a rede hidrográfica


(Figura 8) foram previamente digitalizadas a partir de cartas (1:10.000) do Instituto
Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo, com base em aerolevantamentos
realizados em 1979 (IGC 1979). A partir das curvas de nível, foi gerado um modelo
numérico a fim de produzir os mapas de declividade (0 a > 30°) (Figura 9) e altimetria (860
a > 1.060 m) (Figura 10), utilizando-se o programa ArcView©.
Os mapas que representam as estradas principais e secundárias no ano de 2000
foram previamente feitos com base em cartas (1:10.000) do Instituto Geográfico e
Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC), datadas de 1979. O mapa de estradas principais
manteve-se único para todos os anos analisados (Figura 11). Por outro lado, os mapas de
estradas secundárias, referentes ao ano de 1962 (Figura 12) e 1981 (Figura 13), tiveram
elementos adicionados e/ou suprimidos conforme verificação direta nas fotografias aéreas
utilizadas no presente estudo. Os mapas referentes à localização dos núcleos urbanos foram
obtidos diretamente a partir da fotointerpretação, sendo que os respectivos cálculos de
distância foram gerados pelo programa DINAMICA© (Figuras 14 e 15).
O passo seguinte consistiu na definição de intervalos de distância para cada variável
proximal estudada (Tabela 4). Procurou-se estabelecer, de maneira independente, o
fatiamento de cada um dos mapas gerados. No caso de algumas variáveis proximais, ao
invés de um intervalo regular, foi feito um fatiamento mais detalhado nas áreas adjacentes
ao alvo considerado (estradas, núcleos urbanos, hidrografia, entre outros).
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000

Intervalos de
hidro_n_dist_rec.tif
valores de
distância
Value (m)
0-25
0 - 25
7369000

25-50
25,00000001 - 50
50-100
50,00000001 - 100
100-200
100,0000001 - 200
200-300
200,0000001 - 300
300-400
300,0000001 - 400
>400
400,0000001 - 458

2.000
m

escala do mapa-base 1:10.000

Figura 8. Mapa de distância (m) à rede hidrográfica da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000

Intervalos de
valores de
hidro_n_dist_rec.tif
declividade
Value
(graus)
0-5
0 - 25
5-10
25,00000001 - 50
7369000

10-15
50,00000001 - 100
15-20
100,0000001 - 200
20-25
200,0000001 - 300
25-30
300,0000001 - 400
>30
400,0000001 - 458

2.000
m

escala do mapa-base: 1:10.000

Figura 9. Mapa de intervalos (graus) de declividade da região de Caucaia do Alto, SP.


¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000

Intervalos
hidro_n_dist_rec.tif
altimétricos
(graus)
Value
860-900
0 - 25
7369000

900-940
25,00000001 - 50
940-980
50,00000001 - 100
980-1.020
100,0000001 - 200
1.020-1.060
200,0000001 - 300
>1.060
300,0000001 - 400
>30
400,0000001 - 458

2.000
m

escala do mapa-base: 1:10.000

Figura 10. Mapa de intervalos (m) de valores altimétricos da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000

estp_n_dist_rec.tif
Intervalos de
distância
<VALUE>(m)
0-50
0 - 50
50-100
50,00000001 - 100
7369000

100-200
100,0000001 - 200
200,0000001
200-400 - 400
400,0000001 - 800
400-800
800,0000001
800-1.600 - 1.600
1.600,000001 - 3.200
1.600-3.200
3.200,000001
>3.200 - 4.206,530762

2.000
m
escala do mapa-base: 1:10.000

Figura 11. Mapa de distância (m) às estradas principais da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
ests62_n_dist_rec.tif
Intervalos de
7371000

distância (m)
<VALUE>
0-50
0 - 50
50-100
50,00000001 - 100
100-200 - 200
100,0000001
200-400 - 400
200,0000001
7369000

400-600 - 600
400,0000001
600-800 - 800
600,0000001
800-1.000 - 1.000
800,0000001
1.000-1.200- 1.200
1.000,000001
1.200-1.400- 1.400
1.200,000001
>1.400
1.400,000001 - 1.559,495117

2.000
m
escala do mapa-base 1:10.000

Figura 12. Mapa de distância (m) às estradas secundárias de 1962 da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
ests62_n_dist_rec.tif
Intervalos de
distância (m)
<VALUE>
0-50
0 - 50
50-100
50,00000001 - 100
100-200 - 200
100,0000001
7369000

200-400 - 400
200,0000001
400-600 - 600
400,0000001
600-800 - 800
600,0000001
800-1.000 - 1.000
800,0000001
1.000-1.200- 1.200
1.000,000001
1.200-1.400
> 1.200
1.200,000001 - 1.400
>1.400
1.400,000001 - 1.559,495117
2.000
m

escala do mapa-base 1:10.000

Figura 13. Mapa de distância (m) às estradas secundárias de 1981 da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000

ests62_n_dist_rec.tif
Intervalos de
distância (m)
<VALUE>
00-50
- 50
50-100
50,00000001 - 100
7369000

100-200 - 200
100,0000001
200-400 - 400
200,0000001
400-600 - 600
400,0000001
600-800 - 800
600,0000001
800-1.000 - 1.000
800,0000001
1.000,000001
> 1.000 - 1.200
1.200,000001
1.200-1.400- 1.400
2.000
m 1.400,000001
>1.400 - 1.559,495117

escala das fotografias 1:25.000

Figura 14. Mapa de distância (m) aos núcleos urbanos de 1962 da região de Caucaia do Alto, SP.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000

nucleo81_n_dist_rec.tif
Intervalos de
distância
<VALUE>(m)
00-50
- 50
7369000

50-100
50,00000001 - 100
100-200 - 200
100,0000001
200-400 - 400
200,0000001
400-600 - 600
400,0000001
600-800 - 800
600,0000001

>800
800,0000001 - 886,3972168

2.000
m

escala das fotografias 1:35.000

Figura 15. Mapa de distância (m) aos núcleos urbanos de 1981 da região de Caucaia do Alto, SP.
Tabela 4. Extensão, em metros e em graus (declividade), dos intervalos estabelecidos para
o estudo da influência das variáveis proximais na dinâmica da paisagem de Caucaia do
Alto, SP.

INTERVALO
VARIÁVEIS
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)
Hidrografia
50 a 100 a 200 a 300 a
(máx. = 0 a 25 25 a 50 > 400
100 200 300 400
458 m)
Declividade
0a5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 20 a 25 25 a 30 >30
(máx = 32o)
Altimetria
860 a 900 a 940 a 980 a
(máx. = >1.020
900 940 980 1.020
1.051 m)
Estradas
principais 50 a 100 a 200 a 400 a 800 a 1.600 a
0 a 50 >3.200
(máx. = 100 200 400 800 1.600 3.200
4.207 m)
Estradas
secundárias
50 a 100 a 200 a 400 a 600 a 800 a 1.000 a 1.200 a
(1962) 0 a 50 >1.400
100 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400
(máx. =
1.559 m)
Estradas
secundárias
50 a 100 a 200 a 400 a 600 a 800 a 1.000 a
(1981) 0 a 50 >1.200
100 200 400 600 800 1.000 1.200
(máx. =
1.342 m)
Distância às
instalações
urbanas e 50 a 100 a 200 a 400 a 600 a 800 a
0 a 50 >1.000
rurais (1962) 100 200 400 600 800 1.000
(máx. =
1.060 m)
Distância às
instalações
urbanas e 50 a 100 a 200 a 400 a 600 a
0 a 50 >800
rurais (1981) 100 200 400 600 800
(máx. = 940
m)
Distância à
classe uso
50 a 100 a 200 a 300 a 400 a 500 a
antrópico 0 a 50 >600
100 200 300 400 500 600
(máx. =
688 m)
Distância à
classe
50 a 100 a 200 a 300 a 400 a 500 a 600 a
vegetação 0 a 50 >700
100 200 300 400 500 600 700
inicial (máx. =
720 m)
Distância à
classe floresta 50 a 100 a 200 a 300 a 400 a 500 a
0 a 50 >600
(máx. = 100 200 300 400 500 600
651 m)
Análise dos dados

A fim de analisar a influência das variáveis proximais na ocorrência dos processos de corte
de vegetação inicial, desmatamento e regeneração, tanto de vegetação inicial como de
floresta, utilizou-se um método baseado nos pesos de evidência. Trata-se de um método
bayesiano, originalmente utilizado na Geologia (Bonham-Carter 1994) e posteriormente
introduzido na modelagem espacial de dinâmica de paisagens pela equipe do Prof. Dr.
Britaldo Soares Filho (Soares-Filho et al. submetido).
No presente estudo, foram analisadas as probabilidades a posteriori de ocorrência
dos eventos de desmatamento e regeneração em relação às variáveis proximais altimetria,
declividade, distância à rede hidrográfica, às estradas principais e secundárias, aos núcleos
urbanos e às três classes definidas na fotointerpretação. Foram utilizadas as seguintes
equações:

{ B}= log{D} + W
log D +
(1)

{ B}= log{D} + W
log D −
(2)

onde W + representa o peso de evidência positivo

P B
 { } 

D
{ }
+
W = ln   (3)
P B
 D 

e W- o peso de evidência negativo

 B
P D { }


{ }

e W = ln   (4)
 PB 
 D
para a ocorrência (D ) ou a não-ocorrência (D ) das transições relacionadas ao

()
desmatamento e à regeneração frente à presença (B ) ou à ausência B de um dado padrão
espacial, representado aqui pelas variáveis proximais categorizadas citadas na Tabela 4.
A fim de testar a significância da associação espacial entre a ocorrência das
transições referentes ao desmatamento e à regeneração a cada um dos intervalos definidos
para as variáveis proximais, utilizou-se uma medida de contraste entre os valores positivos
e negativos dos pesos de evidência calculados pelo programa DINAMICA©
(C = W +
)
− W − . Tal medida é considerada estatisticamente significante (95% de

probabilidade) caso C > 1,96 s (C ) , sendo que a variância do contraste é determinada por:

s2 = 1 + 1 1 1
área(B ∩ D ) (
área B ∩ D )+ (
área B ∩ D )+ (
área B ∩ D ) (5)

(Soares-Filho et al. submetido).


Algumas adaptações ao método bayesiano original foram feitas pela equipe do Prof.
Dr. Britaldo Soares Filho a fim de analisar a dinâmica de paisagens, entendida, no
programa DINAMICA©, como as transições ocorridas entre as diferentes classes definidas
na fotointerpretação. Uma adaptação relevante a este estudo refere-se à análise
uniformizada da influência das variáveis proximais, excluindo-se os valores das
probabilidades a priori de ocorrência dos processos de desmatamento e regeneração com o
valor de (log{D}) igual a 1 em todos os cálculos efetuados (Soares-Filho et al. submetido).
RESULTADOS

Dinâmica da paisagem de Caucaia do Alto

Os tipos de uso e cobertura das terras dominantes, para os três anos estudados, foram
representados por floresta (43,8% do total da paisagem em 1962, 48,3% em 1981, 33,3%
em 2000) e agricultura (36,2%, 37,7%, 35,8%). Em 1962 e 1981, instalações rurais e
urbanas (0,6%, 1,5%) e reflorestamento (2,2%, 3%) são pouco representativas, porém, em
2000, estas unidades tiveram significativo aumento (cobertura de 16,6% e 6,8%,
respectivamente). A vegetação inicial tendeu a uma constante redução ao longo do tempo
(1962: 17,2%; 1981: 9,6%; 2000: 7,6%).
Os dois intervalos de tempo foram bastante dinâmicos, sendo que, no período de
1962 a 1981, apenas 49,3% da área permaneceu inalterada (Tabela 5), enquanto entre 1981
e 2000, esta porcentagem aumentou para 54,2% (Tabela 6). No primeiro intervalo temporal
analisado (1962-1981), a dinâmica foi marcada por uma maior regeneração florestal em
relação ao desmatamento. Esse desmatamento ocorreu sobretudo para a instalação de áreas
de agricultura (852,82 ha, ou 26,1% do total de floresta em 1962, Tabela 5) e, em seguida,
para reflorestamento (3,5%) e instalações rurais e urbanas (0,8%). O mesmo ocorreu com o
corte de vegetação inicial, voltado principalmente ao estabelecimento de agricultura (393,7
ha, ou 30,7% do total de vegetação inicial em 1962, Tabela 5). A regeneração de floresta,
por outro lado, foi obtida igualmente a partir de vegetação inicial (46,9% do total de
floresta regenerado em 1981, 57,5% do total de vegetação inicial em 1962) e de agricultura
(47% do total regenerado, 27,2% do total de agricultura em 1962), sendo as regenerações a
partir de reflorestamento e instalações rurais e urbanas de baixa representatividade (Tabela
5). A regeneração de vegetação inicial, por sua vez, foi dada principalmente a partir de
áreas de agricultura (337,4 ha de vegetação inicial regenerada em 1981, 12,5% do total de
agricultura em 1962, Tabela 5). A transição de floresta para vegetação inicial (238,8 ha),
que provavelmente representa áreas desmatadas e posteriormente regeneradas, também
contribui significativamente para a formação de vegetação inicial em 1981 (Tabela 5).
Portanto, considerando-se a dinâmica florestal, o total de desmatamento observado
entre os anos de 1962 e 1981 na região de Caucaia do Alto foi de 1.232,5 ha, o que resulta
Tabela 5. Matriz de mudança para o intervalo compreendido entre os anos de 1962 e 1981,
em ha, na região de Caucaia do Alto, SP.

1981

Instalações
Vegetação
rurais e Agricultura Reflorestamento Floresta TOTAL
inicial
urbanas

Instalações rurais
5,13 20,92 0,85 6,39 11,61 44,90
e urbanas

Agricultura 64,71 1.500,46 66,87 337,36 734,22 2.703,62


1
9 Reflorestamento 0,58 47,41 22,09 11,07 84,33 165,48
6
2 Vegetação inicial 12,42 393,70 21,04 117,40 735,77 1.280,33

Floresta 27,47 852,82 113,38 238,81 2.034,45 3.266,93

TOTAL 110,31 2.815,31 224,23 711,00 3.600,38 7.461,00

em uma perda média anual de 64,9 ha. A regeneração florestal, por sua vez, foi equivalente
a 1.565,9 ha, resultando em um acréscimo anual de 82,4 ha/ano. Em relação à vegetação
inicial, no conjunto do intervalo temporal houve um acréscimo de 593,6 ha e uma perda de
1.162,9 ha. Na soma, esta dinâmica levou à retração da vegetação inicial e à expansão das
áreas florestadas (Figura 16).
O segundo intervalo temporal analisado (1981-2000) mostrou uma dinâmica marcada pelo
nítido aumento da área de instalações rurais e urbanas (incremento de 1.125,2 ha), e pela
predominância da perda de vegetação natural em relação à regeneração. O aumento das
instalações rurais e urbanas foi feito essencialmente em detrimento das áreas agrícolas
(602,3 ha), mas também de áreas florestais (395,3 ha) e de vegetação inicial (130 ha). As
áreas de floresta deram essencialmente lugar, em 2000, à agricultura (17,7% do total de
floresta em 1981) e às instalações rurais e urbanas (11%). De forma similar, o corte de
vegetação inicial foi voltado principalmente ao estabelecimento de agricultura (36,3% do
total de vegetação inicial em 1981) e de instalações rurais (18,3%). A regeneração de
floresta (424,5 ha), por sua vez, deu-se principalmente a partir de agricultura (50,3% do
total de floresta regenerado em 2000, 7,6% do total de agricultura em 1981) e da vegetação
inicial (45,5% da regeneração, 27,2% do total de vegetação inicial em 1981, Tabela 6). A
maior parte da vegetação inicial em 2000 era floresta em 1981 (359,1 ha, ou seja, 63,2% do
total de vegetação inicial em 2000, Tabela 6), sugerindo que houve corte florestal e uso
antrópico relativamente curto antes do abandono. Excetuando esta transição, a regeneração
de vegetação inicial foi dada principalmente pelo abandono de áreas de agricultura (112,2
ha, Tabela 6).

INSTALAÇÕES
830,16
RURAIS E URBANAS

354,82 735,77

VEGETAÇÃO
AGRICULTURA - 72,34 + 496,96 FLORESTA
INICIAL

427,16 238,81

- 163,51

REFLORESTAMENTO 993,67

Figura 16. Áreas, em hectares, relacionadas aos fenômenos de desmatamento e


regeneração para o intervalo temporal compreendido entre os anos de 1962-1981 na região
de Caucaia do Alto, SP, com perdas e ganhos líquidos de vegetação inicial e floresta.

Portanto, o total de desmatado entre os anos de 1981 e 2000 foi de 1.543,7 ha, o que
equivale a uma perda média anual de 81,2 ha, enquanto a regeneração florestal representou
apenas 424,6 ha (22,3 ha ao ano, Figura 17). A vegetação inicial, por sua vez, teve um
acréscimo de 479,8 ha e uma perda de 623,1 ha. Como resultado, no período de 1981 a
2000, houve tanto perda de área florestal (1.117,1 ha) quanto de vegetação inicial (143,3
ha, Figura 17).
Tabela 6. Matriz de mudança para o intervalo compreendido entre os anos de 1981 e 2000,
em ha, na região de Caucaia do Alto, SP.

2000

Instalações
Vegetação
rurais e Agricultura Reflorestamento Floresta TOTAL
inicial
urbanas

1 Instalações rurais
80,35 20,27 3,08 2,05 4,57 110,32
9 e urbanas
8
1 Agricultura 602,35 1.702,01 185,31 112,18 213,46 2.815,31

Reflorestamento 27,63 56,65 120,15 6,50 13,30 224,23

Vegetação inicial 129,98 258,10 41,69 87,95 193,32 711,04

Floresta 395,26 635,49 153,85 359,1 2.056,68 3.600,38

TOTAL 1.235,57 2.672,52 504,08 567,78 2.481,33 7.461,00

INSTALAÇÕES
231,33
RURAIS E URBANAS

- 953,27

120,73 193,32

VEGETAÇÃO
AGRICULTURA - 309,04 - 165,7 FLORESTA
INICIAL

429,77 359,1

- 953,27

REFLORESTAMENTO 1.184,6

Figura 17. Áreas, em hectares, relacionadas aos fenômenos de desmatamento e


regeneração para o intervalo temporal compreendido entre os anos de 1981-2000 na região
de Caucaia do Alto, SP, com perdas e ganhos líquidos de vegetação inicial e de floresta.
Influência das variáveis proximais

A. Regeneração de vegetação inicial

Segundo as curvas de tendência obtidas com base nos valores de contraste para as variáveis
proximais analisadas, a regeneração de vegetação inicial no período compreendido entre os
anos de 1962 e 2000 ocorreu preferencialmente próximo a corpos d’água, em localidades
de maior declividade e mais afastadas das estradas secundárias (Figura 18). Entre os anos
de 1962 e 1981, a regeneração de vegetação inicial se deu também em regiões afastadas da
própria vegetação inicial e próximo das estradas principais. Já entre os anos de 1981 e
2000, a mesma regeneração ocorreu preferencialmente em locais próximos à vegetação
inicial e à floresta (Figura 18).

B. Regeneração de floresta

A regeneração de floresta entre os anos de 1962 e 2000 ocorreu, de um modo geral,


próximo à vegetação inicial, em regiões de maiores declividade e altimetria e distantes das
estradas principais e secundárias, sendo esta última tendência mais evidente para o
intervalo temporal compreendido entre os anos de 1962 e 1981. Adicionalmente, observou-
se uma tendência desse tipo de regeneração, entre os anos de 1981 e 2000, em áreas mais
afastadas aos núcleos urbanos (Figura 19).

C. Corte de vegetação inicial

Em relação ao corte de vegetação inicial, localidades próximas anos núcleos urbanos e de


menores declividade e altimetria favoreceram esse tipo de transição no período
compreendido entre os anos de 1962 e 2000. Adicionalmente, entre os anos de 1962 e 1981,
o corte de vegetação inicial se deu também em áreas afastadas à rede hidrográfica e entre os
anos de 1981 e 2000, em localidades distantes às estradas secundárias (Figura 20).
Distância à classe [VI] Distância à classe [VMA]

3 2

2
1
[UA]/[VI]62-81
62-81 [UA]/[VI]62-81
62-81
C 1 C
[UA]/[VI]81-00
81-00 81-00
[UA]/[VI]81-00
0
0

-1 -1
0 100 200 300 400 500 600 700 0 100 200 300 400 500 600
Distância (m ) Distância (m )
Distância à rede hidrográfica Valores de declividade

2 1

0
[UA]/[VI]62-81
62-81 [UA]/[VI]62-81
62-81
C -1 C 0
81-00
[UA]/[VI]81-00 81-00
[UA]/[VI]81-00
-2

-3

-4 -1
0 100 200 300 400 0 5 10 15 20 25 30
Distância (m ) Declividade (graus )
Valores altimétricos Distância às estradas principais

2 1

1 0
[UA]/[VI]62-81
62-81
C [UA]/[VI]62-81
62-81
81-00
[UA]/[VI]81-00 C
81-00
[UA]/[VI]81-00
0
-1

-1
-2
860 900 940 980 1020 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Altimetria (m ) Distância (m)

Distância às estradas secundárias (1962) Distância às estradas secundárias (1981)

1
2

1
C 0 [UA]/[VI]62-81
62-81 C [UA]/[VI]81-00
81-00

-1 -1
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 200 400 600 800 1000 1200
Distância (m ) Distância (m )
Distância aos núcleos urbanos (1962) Distância aos núcleos urbanos (1981)

1 1

C 0 [UA]/[VI]62-81
62-81 C 0 81-00
[UA]/[VI]81-00

-1 -1
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800
Distância (m ) Distância (m )

Figura 18. Valores de contraste referentes à regeneração de vegetação inicial nos intervalos
temporais compreendidos entre os anos de 1962-1981 e 1981-2000 na região de Caucaia do
Alto, SP. Os pontos preenchidos representam os valores de contraste significativos. As
curvas de tendência receberam ajustes polinomiais de segunda ordem.

Distância à classe [UA] Distância à classe [VI]

3 1

0 [VI]/[VMA]62-81 [UA]/[VMA]62-81
C C 0
-1 [VI]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]81-00

-2
-3

-4 -1
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600 700
Distância (m ) Distância (m )

Distância à classe [VMA] Distância à rede hidrográfica

2 1

1
0 [UA]/[VMA]62-81
[UA]/[VMA]62-81
0
[UA]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]81-00
C C
[VI]/[VMA]62-81 [VI]/[VMA]62-81
-1 [VI]/[VMA]81-00
[VI]/[VMA]81-00 -1

-2

-3 -2
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400
Distância (m ) Distância (m )
Valores de declividade Valores altimétricos

2 3

2
1
[UA]/[VMA]62-81 [UA]/[VMA]62-81
1
[UA]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]81-00
C 0 C
[VI]/[VMA]62-81 [VI]/[VMA]62-81
0
[VI]/[VMA]81-00 [VI]/[VMA]81-00
-1
-1

-2 -2
0 5 10 15 20 25 30 860 900 940 980 1020
Declividade (graus ) Altimetria (m )

Distância às estradas principais Distância às estradas secundárias (1962)

2 3

2
1 [UA]/[VMA]62-81
1
[UA]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]62-81
C C
[VI]/[VMA]62-81 [VI]/[VMA]62-81
0
0 [VI]/[VMA]81-00

-1

-1 -2
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Distância (m ) Distância (m )
Distância às estradas secundárias (1981) Distância aos núcleos urbanos (1962)

3 1

1
[UA]/[VMA]81-00 [UA]/[VMA]62-81
C 0 C 0
[VI]/[VMA]81-00 [VI]/[VMA]62-81
-1

-2

-3 -1
0 200 400 600 800 1000 1200 0 200 400 600 800 1000
Distância (m ) Distância (m )

Distância aos núcleos urbanos (1981)

2
[UA]/[VMA]81-00
C 1
[VI]/[VMA]81-00
0

-1

-2
0 200 400 600 800
Distância (m )

Figura 19. Valores de contraste referentes à regeneração de floresta [VMA] a partir de uso
antrópico [UA] e de vegetação inicial [VI] nos intervalos temporais compreendidos entre os
anos de 1962-1981 e 1981-2000 na região de Caucaia do Alto, SP. Os pontos preenchidos
representam os valores de contraste significativos. As curvas de tendência receberam
ajustes polinomiais de segunda ordem.
Distância à classe [VMA]
Distância à classe [UA]

2
1

0 1
-1
0
-2 [VI]/[UA]62-81
62-81 [VI]/[UA]62-81
62-81
C C
81-00 81-00
[VI]/[UA]81-00
-3 [VI]/[UA]81-00 -1

-4
-2
-5
-6 -3
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
Distância (m ) Distância (m )

Distância à rede hidrográfica Valores de declividade

2 1

1
[VI]/[UA]62-81
62-81 [VI]/[UA]62-81
62-81
C C 0
[VI]/[UA]81-00
81-00 81-00
[VI]/[UA]81-00
0

-1 -1
0 100 200 300 400 0 5 10 15 20 25 30
Distância (m ) Declividade (graus )
Valores altimétricos Distância às estradas principais

1 2

0 1
[VI]/[UA]62-81
62-81 [VI]/[UA]62-81
62-81
C C
[VI]/[UA]81-00
81-00 81-00
[VI]/[UA]81-00
-1 0

-2 -1
860 900 940 980 1020 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Altimetria (m ) Distância (m )

Distância às estradas secundárias (1962) Distância às estradas secundárias (1981)

1 1

0
0

C [VI]/[UA]62-81
62-81 C -1 [VI]/[UA]81-00
81-00

-1
-2

-2 -3
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 200 400 600 800 1000 1200
Distância (m ) Distância [m]
Distância aos núcleos urbanos (1962) Distância aos núcleos urbanos (1981)

1 2

1
0

C [VI]/[UA]62-81
62-81 C 0 [VI]/[UA]81-00
81-00

-1
-1

-2 -2
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800
Distância (m ) Distância (m )

Figura 20. Valores de contraste referentes ao corte de vegetação inicial nos intervalos
temporais compreendidos entre os anos de 1962-1981 e 1981-2000 na região de Caucaia do
Alto, SP. Os pontos preenchidos representam os valores de contraste significativos. As
curvas de tendência receberam ajustes polinomiais de segunda ordem.

D. Desmatamento de floresta

Em relação ao desmatamento de floresta, tem-se que o mesmo ocorreu, no geral,


preferencialmente em localidades distantes à rede hidrográfica, em regiões de menor
delcividade e próximo aos núcleos urbanos, este último com maior intensidade entre os
anos de 1981 e 2000 (Figura 21).

Distância à classe [UA] Distância à classe [VI]

2 1

1
0 [VMA]/[UA]62-81
[VMA]/[UA]62-81
0
[VMA]/[UA]81-00 [VMA]/[UA]81-00
C C
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]62-81
-1 [VMA]/[VI]81-00
[VMA]/[VI]81-00 -1

-2

-3 -2
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600 700
Distância (m ) Distância (m )
Distância à rede hidrográfica Valores de declividade

5 1

3
[VMA]/[UA]62-81 [VMA]/[UA]62-81
[VMA]/[UA]81-00 [VMA]/[UA]81-00
C 2 C 0
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]62-81
1 [VMA]/[VI]81-00 [VMA]/[VI]81-00

-1 -1
0 100 200 300 400 0 5 10 15 20 25 30
Distância (m ) Declividade (graus )

Valores altimétricos Distância às estradas principais

1 1

0 [VMA]/[UA]62-81 0 [VMA]/[UA]62-81
[VMA]/[UA]81-00 [VMA]/[UA]81-00
C C
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]62-81
-1 [VMA]/[VI]81-00 -1 [VMA]/[VI]81-00

-2 -2
860 900 940 980 1020 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Altimetria (m ) Distância (m )

Distância às estradas secundárias (1962) Distância às estradas secundárias (1981)

2 4

3
1
2
[VMA]/[UA]62-81 [VMA]/[UA]81-00
C C
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]81-00
1
0

-1 -1
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 200 400 600 800 1000 1200
Distância (m ) Distância (m )

Distância aos núcleos urbanos (1962) Distância aos núcleos urbanos (1981)

1 2

[VMA]/[UA]62-81 [VMA]/[UA]81-00
C 0 C 0
[VMA]/[VI]62-81 [VMA]/[VI]81-00

-1

-1 -2
0 200 400 600 800 1000 0 200 400 600 800
Distância (m ) Distância (m )

Figura 21. Valores de contraste referentes ao desmatamento de floresta [VMA] para


conversão à uso antrópico [UA] e à vegetação inicial [VI] nos intervalos temporais
compreendidos entre os anos de 1962-1981 e 1981-2000 na região de Caucaia do Alto, SP.
Os pontos preenchidos representam os valores de contraste significativos. As curvas de
tendência receberam ajustes polinomiais de segunda ordem.
DISCUSSÃO

A paisagem de Caucaia do Alto vem se mostrando, desde 1962, muito dinâmica, porém
com padrões de transição contrastantes para os dois períodos estudados. No primeiro
período, entre 1962 e 1981, houve um predomínio da regeneração florestal em relação ao
desmatamento, enquanto a situação inversa ocorreu no período seguinte, de 1981 a 2000.
Esta alteração na dinâmica da paisagem pode ser melhor entendida à luz das mudanças
sócio-econômicas ocorridas na região nos últimos 40 anos e pela aplicação da legislação
ambiental.

Período de 1962-1981

Este período é caracterizado por dois processos: i) uma alta rotatividade agrícola,
relacionada a altas taxas de abandono de áreas de agricultura e de desmatamento e ii) uma
intensa regeneração florestal, relacionada tanto ao abandono agrícola quanto à regeneração
de vegetação inicial, a qual resulta em um aumento da cobertura florestal.
A alta rotatividade agrícola está ligada ao uso do sistema de pousio por agricultores
da região, o qual é típico de paisagens que apresentam uma alta heterogeneidade (Metzger
2003), como a observada em Caucaia do Alto. Entre os anos de 1904 e 1905, o município
de Cotia apresentava 47,2% de suas terras ocupadas por capoeiras, 35,5% por campos,
9,7% recobertas por florestas e apenas 7,1% destinadas à agricultura (Seabra 1971). A
presença marcante de capoeiras e de campos, nesse período, refletia o predomínio do
sistema de roça, de atividades relacionadas a derrubadas para obtenção de lenha e madeira e
de agricultura itinerante. Mais tarde, com a entrada de estrangeiros (japoneses, italianos,
portugueses e espanhóis), a região foi conduzida à derrocada das atividades ditas “caipiras”,
isto é, de subsistência, uma vez que passaram a implementar uma cultura de caráter
comercial. Segundo dados fornecidos pela Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), a
produção agrícola, entre os anos de 1963 e 1964, era principalmente voltada a produtos
hortifrutigranjeiros, como tomate, batata, ovos, frango e alcachofra, entre outros, os quais
abasteciam as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Santos. As áreas cultivadas, naquele
período, não extrapolavam entre 18,8 e 56,8% das propriedades como um todo, sendo que o
restante era ocupado por floresta e capoeira relacionadas à “(...) obtenção da lenha e do
carvão vegetal (...) ou ainda com as formas de cultivo por rotação de terras, que, de modo
mais sistemático, existiam ainda em propriedades (...)” (Seabra 1971). Neste período, havia
ainda uma tendência, por parte dos proprietários, em rotacionar as suas culturas em solos
potencialmente mais férteis. Desta forma, eram escolhidos os solos recobertos por
vegetação natural, principalmente em estádios mais avançados de regeneração, explicando
assim as altas taxas de desmatamento observadas no período.
Um outro fator que possivelmente contribuiu tanto para a regeneração como para o
desmatamento, pode ter sido a ocorrência de arrendamentos em grandes propriedades,
geralmente pertencentes a japoneses ou a seus descendentes. Segundo Seabra (1971), os
japoneses que adquiriam grandes propriedades o faziam, em parte, para fins especulativos,
uma vez que “alugavam” pedaços de terra a famílias cujas culturas próprias já haviam sido
exterminadas pela decadência do cinturão caipira frente à expansão da agricultura de
caráter estritamente comercial. Por sua vez, Seabra (1971) destacou que parte das “matas e
capoeiras” encontradas nas propriedades era devida ao abandono de “arrendamentos
passados”.
A regeneração florestal está ainda relacionada ao processo de extração de lenha e
carvão vegetal, observado em praticamente toda a extensão florestal atlântica paulista
durante a primeira metade do século XX. A proletarização da comunidade local, de certo
modo, foi o ponto-chave para a expansão da produção de lenha e carvão vegetal. O carvão,
produto gerado a partir da derrubada das florestas, passou a substituir o valor monetário dos
excedentes da produção de subsistência, que antes eram comercializados pelos locais.
Entretanto, esse comércio não foi suficiente para elevar o padrão de vida da população
local, fazendo-os retornar ao plantio de produtos agrícolas ou submeterem-se aos
“vendeiros”, intermediários do comércio de carvão, que arrendavam florestas e contratavam
locais cujas terras encontravam-se esgotadas (Queiroz & Garcia 1968 apud Seabra 1971).
Langencuch (1968 apud Seabra 1971) ressaltou ainda que a atividade extrativista
relacionada à produção de lenha e carvão vegetal era uma das mais expressivas nos
arredores da cidade de São Paulo desde o fim do século XIX. Dean (1997), em sua obra
intitulada A Ferro e Fogo, enfatizou a contribuição das florestas primárias de Mata
Atlântica do estado de São Paulo para o comércio de combustível vegetal. As florestas
primárias eram tidas como recursos não-renováveis pelos exploradores, uma vez que as
espécies normalmente presentes em matas secundárias em estádios iniciais de regeneração
possuem lenha de menor densidade e carvão com quantidades reduzidas de carbono. Os
produtos oriundos de florestas secundárias eram geralmente utilizados para consumo
doméstico. O autor também apontou o aumento no fornecimento de lenha e carvão vegetal
devido à crise no abastecimento de produtos petrolíferos durante a Segunda Guerra
Mundial (com a adaptação de geradores de gás movidos à queima de carvão até mesmo em
carros), apesar de, já na década de 50, grande parte dos geradores de energia industriais
(89%) serem acionados à combustão interna ou por eletricidade. Entretanto, após 1960,
com o fim da guerra e a normalização do fornecimento de petróleo, a utilização de produtos
florestais destinada à geração de energia diminuiu sensivelmente. A instalação maciça de
fogões domiciliares movidos a gás, querosene ou energia elétrica contribuiu sobremaneira
para uma menor utilização de lenha e carvão vegetal. Provavelmente, essa diminuição na
dependência de produtos florestais para produção de energia, a partir da década de 60,
contribuiu para a significativa regeneração natural de florestas, em particular a partir do
abandono de áreas de vegetação em estádio inicial, observada no primeiro intervalo
temporal analisado (1962-1981). É importante ressaltar que, em visitas à área de estudo,
foram realizadas algumas entrevistas informais a pessoas residentes há pelo menos 40 anos
na região, nas quais foram confirmadas as atividades referentes à extração de lenha e
carvão vegetal, sendo a mesma não-seletiva, com o corte raso feito pela utilização de
correntes atadas a tratores (com. pess.).
Um outro fator que pode explicar a intensa regeneração florestal neste primeiro
período de estudo é a implantação do Código Florestal (Lei n o 4.771), em 15 de setembro
de 1965. Com a implantação do Código Florestal, diversas restrições acerca da exploração
de recursos naturais, principalmente em relação à extração de lenha e carvão vegetal,
passaram a vigorar, o que pode ter contribuído, também, para a diminuição desse tipo de
atividade antrópica. O Artigo 11, por exemplo, passa a exigir medidas preventivas quanto
ao controle de emissão de fagulhas no emprego de produtos florestais como combustível; o
Artigo 12 limita a extração de produtos madeireiros apenas em florestas plantadas não-
situadas em áreas de preservação permanente (APPs); o Artigo 14 (b) proíbe o corte de
espécies vegetais em extinção; o Artigo 19 prevê a retirada de espécies naturais, mas obriga
o proprietário a replantá-las; o Artigo 21 obriga siderúrgicas a manterem florestas próprias
para exploração racional; o Artigo 24, refere-se ao registro de estabelecimentos que
comercializam moto-serra e confere apenas a órgão competentes a autoridade de liberar
licenças de utilização da mesma, as quais devem ser renovadas a cada dois anos, entre
outros.

Período de 1981-2000

O intervalo temporal compreendido entre os anos de 1981 a 2000 foi caracterizado por um
intenso desmatamento, quantitativamente maior do que o observado no primeiro intervalo
temporal analisado, e pela explosão das áreas de instalação rural e urbana, principalmente
relacionadas a loteamentos. Estes dois processos parecem estar atrelados ao aumento de
culturas feitas em estufa, como verduras hidropônicas e flores (com. pess.), à instalação de
rede elétrica (linhão, detectado apenas em fotografias aéreas referentes aos anos de 1981 e
2000) e à melhora e duplicação da Rodovia Raposo Tavares, a qual é a principal via de
acesso entre a área de estudo e a cidade de São Paulo. Estes últimos fatores foram
provavelmente determinantes à expansão, em uma taxa bastante elevada, de loteamentos
destinados à construção de chácaras de fim-de-semana e condomínios em Caucaia do Alto.
Esse novo perfil “empreendedor” vem, nos últimos 20 anos, atraindo moradores da
metrópole, os quais, motivados pela facilidade do acesso via Raposo Tavares, elegeram a
região de Caucaia do Alto como um “paraíso ecológico”. A presença de remanescentes de
Mata Atlântica, os quais conferem à região um atrativo tanto para lazer como para moradia,
fazem da especulação imobiliária algo bastante rentável. Um levantamento realizado sobre
a UGRHI-10, da qual faz parte a região de Caucaia do Alto, também aponta que “a
proximidade com a região metropolitana de São Paulo é “(...) um atrativo para contínuo
parcelamento do solo e a criação de chácaras de recreio, muitas delas invadindo áreas
de vegetação nativa e preservação permanente (...)” (Secretaria de Recursos Hídricos e
Saneamento do Estado de São Paulo 2000). Esse mesmo levantamento classifica Ibiúna,
entre os demais municípios que compõem a sub-bacia do Alto Sorocaba, como um dos
municípios que mais recebeu autos de infração ambiental por desmatamento ilegal ou
irregular entre os anos de 1993 e 1995, com perda de grande área florestal.
É importante ressaltar que as instalações rurais e urbanas ocorreram não apenas em
áreas florestais (395 ha desmatados), mas também, e principalmente, em áreas agrícolas
(602 ha convertidos). A quantidade de área agrícola convertida a instalações rurais e
urbanas é semelhante à de área florestal convertida a agricultura, o que pode indicar que a
ampliação de loteamentos foi feito às custas de áreas agrícolas, porém estas, em
compensação, se expandiram sobre as áreas florestais. Os loteamentos seriam, assim,
indiretamente responsáveis pelo desmatamento. Esta tendência já havia sido observada por
Seabra (1971), que, em sua tese intitulada Vargem Grande: organização e transformações
de um setor do cinturão-verde paulistano, descreveu que “os elementos mais atuais e mais
dinâmicos da ação de São Paulo sobre a área estão relacionados de modo cada vez mais
significativo com a presença de chácaras e clubes de fim-se-semana de moradores de São
Paulo (...) (diga-se de passagem que Vargem Grande é servida, já há alguns anos, por
ônibus com freqüência urbana hoje com ponto final no bairro de Pinheiros)”. Ruiz-Luna &
Berlanga-Robles (2003), no noroeste do México, encontraram o mesmo padrão de dinâmica
de paisagem, apontando uma seqüência comum de substituição da vegetação natural por
áreas agrícolas, seguida de expansão urbana sobre os campos agrícolas.
Apesar desta expansão urbana, o período de 1981 a 2000 se caracteriza ainda por
um aumento na estabilidade das áreas agrícolas. A região de Caucaia do Alto ainda tem na
produção agrícola um importante suporte econômico, com a predominância de
propriedades de, em média, 10 ha (Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento do
Estado de São Paulo 2000), o que pode caracterizar, atualmente, uma agricultura de
caráter mais intensivo em detrimento do sistema de pousio sugerido pelas evidências
encontradas no intervalo 1962-1981. No intervalo compreendido entre os anos de 1981 e
2000, os proprietários diminuíram consideravelmente o abandono de seus cultivos, porém,
continuaram a desmatar áreas de vegetação natural, principalmente em estádios
sucessionais mais avançados, em taxas relativamente semelhantes às observadas no
intervalo temporal anterior (1962-1981), provavelmente em busca de solos mais férteis.
Tais evidências possivelmente indicam que as áreas agrícolas, já desgastadas pelo uso
intensivo, ao invés de serem simplesmente abandonadas, passaram a abrigar outros tipos de
usos antrópicos, como as instalações rurais e urbanas. A maior estabilidade agrícola
também se repercute em taxas bem menores, quando comparado com o período anterior, de
abandono agrícola para regeneração de vegetação inicial ou de matas, não mais
compensando o intenso desmatamento.

Localização dos desmatamentos (hipótese 1)

Nos dois períodos analisados, o desmatamento se deu, de modo geral, conforme o


postulado na primeira hipótese deste trabalho, ou seja, próximo a núcleos urbanos e às
estradas, e em regiões de menores altimetria e declividade. Tais observações confirmam a
importância dessas características à conversão, pelo homem, de áreas de vegetação natural
em áreas de caráter predominantemente antrópico. As regiões de relevo menos acidentado
teoricamente facilitam o transporte e a mecanização de culturas para fins comerciais (Apan
& Peterson 1998), o que corrobora os resultados encontrados em trabalhos focados na
região dos trópicos (Nagendra et al. 2003). Em relação à proximidade aos núcleos urbanos
e às estradas, esta favoreceu o desmatamento provavelmente devido ao processo de
expansão das próprias instalações rurais ou à facilidade de escoamento de mercadoria. Tais
resultados corroboram os resultados prévios de trabalhos realizados em regiões tropicais,
onde o desmatamento é priorizado em localidades próximas a vias de acesso (Grainger
1993 apud Apan & Peterson 1998, Tinker et al. 1998, Nagendra et al. 2003, Soares-Filho et
al. 2004). O único fator destoante, pelo postulado na primeira hipótese de trabalho, é a
maior probabilidade de ocorrência de desmatamento em regiões mais afastadas dos corpos
d’água. Duas razões podem ser apontadas para tanto. Primeiro, os rios não funcionam como
uma via de acesso às terras, uma vez que há uma extensa rede viária. Ademais, os
resultados refletem, provavelmente, o cumprimento da legislação ambiental voltada à
proteção de áreas de preservação permanente (APPs), implantada no ano de 1965 (Lei nº
4.771, de 15/set/1965).

Localização das regenerações (hipótese 2)

De um modo geral e de forma consistente para os dois períodos de estudo, a regeneração de


vegetação natural se deu próximo aos corpos d’água, em localidades afastadas das estradas
secundárias e em terrenos declivosos. A proximidade à rede hidrográfica parece estar
relacionada, a princípio, à implementação do Código Florestal no ano de 1965, o qual
instaurou a preservação de áreas cobertas ou não por vegetação nativa próximas a
nascentes, ao longo de rios ou de qualquer curso d’água (Lei no 4.771, de 15/set/1965,
artigo 2o). Em relação ao relevo, o qual, em Caucaia do Alto, não apresentou variações
consideráveis, a maior regeneração em terrenos mais íngremes pode refletir a dificuldade
tanto no acesso como no manejo destas áreas. Além do que, a partir da implementação da
Lei no 4.771, de 15/set/1965, artigo 10o, em inclinações superiores a 25o, não foram mais
permitidos manejos excessivos de vegetação natural, sendo tolerada apenas a extração
racional de toras, visando rendimentos permanentes, o que provavelmente levou alguns
proprietários a abandonarem tipos de manejo intensivos nessas localidades.
O favorecimento da regeneração de vegetação natural em localidades afastadas das
estradas secundárias pode estar relacionado a uma maior grau de perturbação das áreas
adjacentes às estradas. Caucaia do Alto, desde pelo menos a década de 60, já era servida,
em termos espaciais e quantitativos, por uma extensa rede de estradas secundárias em
detrimento de uma única estrada principal. Portanto, estas estradas secundárias representam
uma importante via de acesso e ocupação da região, o que deve ter reduzido a tendências de
regeneração em suas proximidades.
O favorecimento de regeneração de floresta em áreas próximas à vegetação inicial,
por sua vez, corrobora com a segunda hipótese postulada neste trabalho, sendo semelhante
ao observado em estudos realizados por Guariguata & Ostertag (2001) e DeWalt et al.
(2003). Estes apontam a importância da presença de manchas de vegetação natural,
funcionando como fontes de propágulos, em localidades próximas a áreas de regeneração.
CONCLUSÃO

A região de Caucaia do Alto, SP, sofreu, ao longo do período temporal analisado (1962-
2000), dinâmicas diferenciadas, uma vez que, no primeiro intervalo (1962-1981), observou-
se transições relacionadas a processos de regeneração de valores quantitativamente maiores
do que aquelas relacionadas ao desmatamento, com expansão da cobertura florestal. O
segundo intervalo temporal analisado (1981-2000), por sua vez, apresentou marcante
processo de desmatamento, sendo este devido, em parte, pela substituição de vegetação
natural por agricultura e desta por instalações rurais e urbanas. Tal dinâmica leva à
conclusão de que a especulação imobiliária provavelmente é a principal responsável pelas
transições assistidas entre os anos de 1981 e 2000.
Em relação às hipóteses propostas neste trabalho, houve consistência entre os dois
períodos estudados. O desmatamento ou corte de vegetação inicial tende a ocorrer em áreas
mais propícias para a agricultura: terras mais planas e baixas e de fácil acesso, enquanto a
regeneração ocorre em áreas mais próximas aos rios, devido, provavelmente, à influência
da legislação, em áreas mais declivosas e mais afastadas dos centros urbanos e de estradas.
A regeneração de floresta foi a que melhor respondeu à proximidade a áreas naturais
preexistentes, sugerindo um efeito significativo da proximidade à fonte de propágulos,
conforme observado em outros estudos (Endress & Chinea 2001, DeWalt et al. 2003,
Metzger 2003).
Em última análise, os resultados obtidos em relação ao desmatamento concordaram
com as conclusões encontradas por Geist & Lambin (2002) em seu trabalho intitulado
Proximate Causes and Underlying Driving Forces of Tropical Deforestation, as quais
apontam que, nos trópicos, a substituição de vegetação natural por diferentes tipos de usos
antrópicos deve ser explicada por múltiplos fatores, não sendo possível identificar uma
única relação causal. Em Caucaia do Alto, o fim da exploração do carvão em larga escala, o
abandono ou a intensificação agrícola (dependendo do período), a aplicação da legislação
ambiental, a proximidade com a cidade de São Paulo e o aumento na facilidade de acesso
pela Raposo Tavares são fatores que vêm agindo conjuntamente na dinâmica da paisagem.
Esta, por sua vez, numa escala mais local, não ocorre ao acaso, sendo fortemente
determinada por características de relevo, hidrografia e proximidade de estradas e áreas
urbanas.
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CAPÍTULO 2

Previsão da disposição dos elementos da paisagem de Caucaia do Alto, SP


(2019), segundo tendências históricas (1981-2000), em perspectivas
realista, aleatória, otimista e pessimista
INTRODUÇÃO

A Floresta Atlântica Brasileira (Mata Atlântica), localizada na costa leste da América do


Sul, vem sofrendo perturbações de origem antrópica desde há, aproximadamente, 10 mil
anos, com a chegada dos primeiros caçadores-coletores, sendo que tais perturbações
passaram a apresentar um caráter intensamente transformador apenas a partir da
colonização européia, iniciada há cerca de 500 anos (Dean 1997). Com isso, a área
originalmente ocupada por esse bioma, equivalente a 1 milhão de km2, sofreu uma drástica
redução – atualmente, apenas 8% da Floresta Atlântica Brasileira (cerca de 108.800 km2)
ainda persiste, sendo que a maior parte dela encontra-se sob a forma de remanescentes de
vegetação natural secundária em diferentes estádios sucessionais, subdividos em pequenos
fragmentos imersos em tipos de uso e cobertura dsa terras estritamente antrópicos, de
composição por vezes altamente contrastante à vegetação natural adjacente (Ministério do
Meio Ambiente 2000).
Dado o contexto histórico de ocupação do território brasileiro, feita, em grande
parte das vezes, de forma desordenada devido o atraso no surgimento da conscientização
mundial em relação ao meio ambiente (década de 70), pode-se afirmar que a domesticação
da Floresta Atlântica Brasileira teve como principal conseqüência ambiental o
desmatamento e a fragmentação. Esta é traduzida não apenas pela subdivisão e redução na
distribuição espacial da cobertura florestal, mas também pela introdução de diferentes tipos
de uso e cobertura das terras, como áreas destinadas à urbanização, ao reflorestamento de
espécies exóticas ou à agricultura (Andrén 1994, Villard et al. 1999).
Tanto a perda como a ruptura da continuidade de habitats naturais trazem, na
maioria das vezes, efeitos negativos à persistência de grande parte das espécies originais,
tanto da flora como da fauna, principalmente em relação àquelas que apresentam maior
sensibilidade aos efeitos da fragmentação. Este é o caso de espécies: a. de tamanho
populacional relativamente diminuto; b. cujas populações não mantêm sua estabilidade
frente a mudanças ambientais; c. que desenvolvem especializações em relação a seu
microhabitat; d. que apresentam incompatibilidade em relação à matriz; e. raras e de menor
abundância (Henle et al 2004). Tais efeitos negativos originam-se, basicamente, a partir de
mudanças físicas nas bordas florestais (alteração do microclima original, relacionada
principalmente a modificações na incidência de luz solar, na intensidade do vento e no
fluxo de água – efeitos de borda) e alterações na disposição espacial dos remanescentes
(aumento do grau de isolamento dos remanescentes de vegetação natural e redução da
conectividade dada, em particular, pela alteração e/ou empobrecimento da matriz inter-
habitat (Saunders et al. 1991).
Muitos desses padrões espaciais observados, resultantes de modificações de cunho
antrópico, são dirigidos por complexas interações entre forças físicas, sociais e biológicas,
as quais, muitas vezes, originam paisagens heterogêneas, compostas por manchas naturais,
com cobertura florestal em diferentes estádios sucessionais, e alteradas/antrópicas. Ambos
os tipos de manchas, por sua vez, podem apresentar variações temporais relacionadas a
tamanho, forma e disposição espacial – dependentes da magnitude e extensão dos
distúrbios incidentes (Turner 1989). Diversos estudos apontam que as taxas relativas às
mudanças na cobertura das unidades que compõem uma paisagem são, por vezes, mais
importantes à manutenção de uma determinada população do que o padrão espacial per se
(Harrison & Fahrig 1995). Nas regiões tropicais, por exemplo, as mudanças no uso e
cobertura das terras, relacionadas principalmente à conversão de florestas em campos, serão
provavelmente as principais responsáveis pela perda da diversidade biológica nos próximos
100 anos (Sala et al. 2000).
A velocidade e o tipo de dinâmica de uso e cobertura das terras promovida pelo
homem podem estar atreladas à capacidade apresentada por um dado sistema de se
recuperar após a ocorrência de perturbações diversas (resiliência). Por exemplo, a
manutenção de uma alteração severa, como a urbanização, pode ser um fator que contribui
para a diminuição da ocorrência de transições entre os diferentes tipos de uso e cobertura
das terras (García-Romero et al. 2005). Por outro lado, paisagens com uso agrícola do tipo
corte-queima, que permitem a regeneração da vegetação natural a partir de usos agrícolas
rotacionais, podem apresentar, em função da relação entre o tempo de pousio e de plantio,
um equilíbrio dinâmico, com manutenção da composição das unidades de uso e cobertura
ao longo do tempo (Metzger 2003).
Segundo Grainger (1993 apud Apan & Peterson 1998), a ocupação antrópica de
ambientes naturais localizados nos trópicos, dada em um primeiro momento pela retirada
da vegetação original, ou seja, pelo desmatamento, é influenciada, na maioria das vezes,
por fatores ambientais (tipo de relevo, distância à rede hidrográfica etc.) e facilidade de
acesso (presença de estradas, proximidade a núcleos urbanos preexistentes etc.), entre
outros. Tais considerações, entretanto, devem ser interpretadas com cautela, uma vez que
essas tendências não são obrigatoriamente observáveis em todas as regiões, sendo as
mesmas moldadas pelas particularidades sociais, econômicas e ambientais encontradas em
cada localidade (Geist & Lambin 2002). Com isso, tem-se que a compreensão dos padrões
espaciais encontrados nas diferentes paisagens, os quais exercem influência direta sobre os
processos ecológicos atualmente observados, pode ser obtida, de maneira confiável, pela
análise da evolução histórica das transformações de uso e cobertura das terras, sendo esta
uma propriedade particular para cada paisagem estudada, em uma dada escala de
observação.
Análises da dinâmica de uso e cobertura das terras podem ainda fornecer subsídios
para a compreensão das tendências transicionais históricas de paisagens a fim de serem
utilizadas como dados de entrada em modelos de simulação espacial preditivos (Baker
1989, Lambin 1994, Almeida et al. 2002, Soares-Filho et al. 2004). Recentes avanços no
desempenho dos computadores, associados à elaboração de modelos específicos à dinâmica
de paisagens, propiciaram o desenvolvimento de diversos tipos de modelos de simulação,
geralmente subdivididos em três diferentes categorias: i) baseados em indivíduos, os quais
são construídos a partir de dados individuais (os elementos de um sistema) para
posteriormente entender as propriedades do todo (i.e., do sistema), ii) baseados em
processos, focados, como o nome indica, a entender os processos que governam as
mudanças no sistema e iii) baseados em autômatos celulares, nos quais o estado de cada
uma das células inseridas em um arranjo n-dimensional depende do seu estado prévio e do
estado de suas células vizinhas em uma região cartograficamente definida, sendo esses
estados atualizados a cada iteração segundo um algoritmo específico, denominado regra
local do autômato celular (Sirakoulis et al. 2000).
Em geral, os modelos baseados em autômatos celulares exigem como dados de
entrada informações espaciais de mudanças no uso e cobertura das terras previamente
obtidas através da classificação de séries temporais. Estas englobam uma seqüência
cronológica de fotografias ou imagens de satélite, combinadas a um substancial conjunto de
dados cartográficos, os quais, por sua vez, representam as variáveis proximais estáticas,
isto é, variáveis ambientais e/ou antrópicas que potencialmente orientam as mudanças no
uso e cobertura das terras quanto à sua localização espacial, e dinâmicas, recalculadas a
cada iteração (Soares-Filho et al. no prelo). O programa DINAMICA, desenvolvido pela
equipe do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais,
coordenada pelo Prof. Dr. Britaldo Soares-Filho, é um exemplo de modelo baseado em
autômatos celulares, o qual envolve simulações estocásticas de múltiplos passos, baseadas
em probabilidades de transição calculadas para cada um dos pixels, conforme a sua
localização espacial e os estados das células vizinhas (Soares-Filho et al. 2002). Neste
programa, a influência da vizinhança é determinada pelas funções patcher, para criação de
novas manchas, e expander, para extensão de manchas preexistentes – ambas as funções
estão embutidas no programa DINAMICA, as quais determinam se as transições entre os
diferentes tipos de uso e cobertura da terra serão ou não dependentes da preexistência de
células semelhantes ao estado final da transição. As probabilidades espaciais de mudanças
são dadas pela utilização dos chamados pesos de evidência, um método bayesiano que
envolve conceitos de probabilidades a priori e a posteriori de ocorrência de um dado
evento, dependentes da localidade espacial em relação às variáveis proximais previamente
escolhidas pelo pesquisador (Bonham-Carter 1994, Soares-Filho et al. no prelo). É
importante ressaltar que a escolha das variáveis proximais utilizadas no estudo de dinâmica
de paisagens é geralmente baseada em levantamentos históricos, características abióticas e
tendências sócio-econômicas de um determinado local. Estes dados, particulares a cada
região, somados à quantificação das transições entre os tipos de uso e cobertura das terras
detectadas e ao estado dinâmico da vizinhança, recalculado a cada iteração, fornecem as
probabilidades de mudança particulares a cada um dos pixels que compõem uma dada
paisagem.
O objetivo geral deste trabalho consistiu em gerar diferentes cenários para região de
Caucaia do Alto, referentes ao ano de 2019, a partir da organização da evolução histórica
de uso e cobertura das terras assistida nessa região nos últimos 19 anos (1981-2000). A
dinâmica da paisagem de Caucaia do Alto, neste estudo, ressaltou essencialmente os
processos relacionados ao desmatamento e à regeneração de vegetação natural. O objetivo
específico, por sua vez, consistiu na análise tanto da composição como da estrutura dos
diferentes cenários hipotéticos para a paisagem de Caucaia do Alto, SP, utilizando-se de
índices de estrutura de paisagem a fim de verificar em qual deles seriam encontradas
melhores condições à manutenção da diversidade biológica.
ÁREA DE ESTUDO

(Consultar Capítulo 1.)


MÉTODOS

Mapeamento de uso e cobertura das terras

Os mapeamentos foram baseados em fotografias aéreas obtidas nos anos de 1981


(1:35.000) e 2000 (1:10.000). As fotografias aéreas foram digitalizadas, gerando imagens
de resoluções equivalentes a 1 m em 1981 e 1,3 m em 2000. Diferenças nos detalhamentos
escolhidos durante a digitalização amenizaram as diferenças nas escalas originais das
fotografias. Deve-se ainda ressaltar que a fotointerpretação foi realizada com base na
observação das fotografias em papel, com o auxílio de estereoscópio. A correção
geométrica foi feita baseando-se em uma única referência cartográfica, o fotomosaico de
2000 (erro médio de georeferrenciamento inferior a 5 m, UTM, SAD 1969, 23-S),
elaborado previamente (Metzger et al. 2002).
As fotografias digitalizadas foram georreferenciadas no programa Erdas© (versão
8.4, 1999) utilizando-se, em média, 30 pontos de controle bem distribuídos em cada
fotografia. O polinômio de 2º grau, que, além de descrever translação, rotação, escala e
obliqüidade da imagem, adiciona parâmetros de torção e convexidade (Loch 2000), foi o
que melhor respondeu aos testes de sobreposição das imagens feitos durante o
georreferenciamento. A seguir, as imagens corrigidas correspondentes a cada ano foram
sobrepostas, ainda no programa Erdas©, dando origem a dois fotomosaicos distintos,
comparáveis entre si. O desvio médio, representando os resíduos nos registros das
fotografias aéreas de 1981 em relação às de 2000, foi de 12,4 m (consultar Figuras 3 e 4,
Capítulo 1).
O mapeamento em 1981 e 2000 foi baseado em três classes, em função da escala
mais “grosseira” (1:35.000) relativa às fotografias aéreas de 1981: uso antrópico, vegetação
natural em estádio inicial e vegetação natural em estádio médio a avançado de sucessão
secundária (Tabela 1). É importante ressaltar que as áreas naturais foram denominadas
segundo resoluções nº 10 e 01 do CONAMA, datadas de 19/10/1993 e 31/1/1994,
respectivamente, e resolução conjunta SMA/IBAMA/SP-1, de 17/2/1994 (estádios inicial,
médio e avançado de sucessão secundária (Diederichsen 2003)). Após a definição dos
polígonos, a partir de interpretação visual em estereoscopia de pares de fotografias aéreas,
estes foram delimitados sobre os fotomosaicos utilizando-se o programa ArcView© (Versão
8.3, 1999-2002) (Figuras 1 e 2). Todas as células classificadas como corpos d’água, áreas
de mineração e campos antrópicos ripários no ano de 2000 e as células correspondentes na
fotointerpretação feita para o ano de 1981 tiveram seus identificadores zerados e foram
excluídas das análises por dificuldades na distinção desses elementos na escala 1:35.000
(1981).

Tabela 1. Classes utilizadas nas fotointerpretações feitas para os anos de 1981 e 2000, com
suas respectivas definições, na região de Caucaia do Alto, SP.

TERMOS
CLASSES UTILIZADOS AO DEFINIÇÃO
LONGO DO TEXTO
Instalações rurais e urbanas (edificações isoladas,
bosques, cercas-vivas, edificações agrupadas,
condomínios, loteamentos), campos agrícolas
Uso antrópico Uso antrópico (agricultura anual, campos limpo e sujo, vegetação
herbácea rala a herbácea-arbustiva, homogênea ou
heterogênea), áreas de reflorestamento (Pinus spp. ou
Eucalyptus spp., espécies exóticas).
Vegetação natural em estádio Vegetação herbácea-arbustiva a arbustiva, homogênea
Vegetação inicial
inicial de sucessão secundária ou heterogênea.

Vegetação natural em estádio Vegetação arbórea-arbustiva a arbórea densa,


médio a avançado de sucessão Floresta homogênea ou heterogênea, presença de espécies
secundária emergentes.

A representação vetorial da área de estudo, originalmente feita por polígonos na


fotointerpretação realizada para os dois diferentes anos, foi convertida a uma representação
matricial, onde o espaço total foi subdividido em células unitárias (pixels) de 225 m2 ou
0,0225 ha (15 m de resolução). A escolha do tamanho das células foi feita em função da
escala de observação, que, neste trabalho, variou para os dois anos analisados (1:35.000 e
1:10.000). Diversos autores enfatizam as vantagens de se subdividir uma paisagem em
células unitárias de igual tamanho para tratamento matemático (modelagem), uma vez que
todos os pixels descritores da área analisada possuem dimensões passíveis de comparação
(Soares-Filho et al. no prelo).
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000

2.000
81_0_3_tiff.tif m
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta

Figura 1. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, no ano de 1981.
¹
285000 287000 289000 291000

7379000
7377000
7375000
7373000
7371000
7369000

2.000
81_0_3_tiff.tif m
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta

Figura 2. Uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto, SP, no ano de 2000.
Variáveis proximais

Para o presente estudo, foram escolhidas algumas variáveis proximais estáticas que
possivelmente representam os principais fatores que contribuíram para a conformação atual
da paisagem estudada, segundo o próprio histórico de ocupação: altitude, declividade,
distância à rede de drenagem, distância às estradas principais e secundárias e aos núcleos
urbanos.
Os mapas que representam as variáveis proximais estáticas de declividade (860 a
1.051 m) e altimetria (0 a 32°) foram gerados a partir de um modelo numérico baseado em
curvas de nível, consideradas em intervalos de 5 em 5 m, e digitalizadas com base em
cartas (1:10.000; aerolevantamentos de 1979) do Instituto Geográfico e Cartográfico do
Estado de São Paulo. Estas mesmas cartas serviram para definir o mapa de distância à rede
hidrográfica e às estradas principais e secundárias de 1981. O mapa de distância aos
núcleos urbanos, encontrados no ano de 1981, foi feito com base em uma classificação mais
detalhada da classe uso antrópico, na qual foram destacados os polígonos referentes às
instalações rurais e urbanas. (Consultar Figuras 8, 9, 10, 11, 13 e 15, Capítulo 1.)
As variáveis proximais dinâmicas (distância às classes uso antrópico, vegetação
inicial e floresta) foram obtidas através das próprias fotointerpretações realizadas para os
anos de 1981 e 2000 e tiveram suas distâncias recalculadas em cada uma das iterações
realizadas pelo programa DINAMICA©.
O passo seguinte consistiu na definição de intervalos de distância para cada variável
proximal estática utilizada (categorização). Procurou-se estabelecer o fatiamento das
distâncias a cada variável de maneira independente, uma vez que as mesmas apresentaram
distâncias máximas distintas entre si. Priorizou-se um fatiamento mais detalhado em
localidades próximas às variáveis propostas e um fatiamento grosseiro em áreas mais
distantes (Tabela 2).
Tabela 2. Extensão, em metros e em graus (declividade), dos intervalos estabelecidos para
o estudo da influência das variáveis proximais estáticas na dinâmica da paisagem de
Caucaia do Alto, SP.

INTERVALO
VARIÁVEIS
[1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9]
Hidrografia 100 a 200 a 300 a
0 a 25 25 a 50 50 a 100 > 400
[máx. = 458 m] 200 300 400
Declividade
0a5 5 a 10 10 a 15 15 a 20 20 a 25 25 a 30 >30
[máx = 32o]
Altimetria 860 a 900 a 940 a 980 a
> 1.020
[máx. = 1051 m] 900 940 980 1.020
Estradas principais 100 a 200 a 400 a 800 a 1.600 a
0 a 50 50 a 100 > 3.200
[máx. = 4207 m] 200 400 800 1.600 3.200
Estradas
secundárias 100 a 200 a 400 a 600 a 800 a 1.000 a
0 a 50 50 a 100 > 1.200
[1981] 200 400 600 800 1.000 1.200
[máx. = 1342 m]
Distância às
instalações
100 a 200 a 400 a 600 a
urbanas e rurais 0 a 50 50 a 100 > 800
200 400 600 800
[1981]
[máx. = 940 m]

Matrizes de mudança e dos pesos de evidência

O cálculo das probabilidades de ocorrência das transições entre as três classes de uso e
cobertura das terras (número de pixels de uma dada transição entre diferentes classes
dividido pelo número total de pixels da classe no período inicial, i.e. 1981) foi feito
utilizando-se o programa DINAMICA©, com base na sobreposição dos mapas inicial
(1981) e final (2000). Com isso, foi gerada uma matriz probabilística de mudança anual
(Tabela 3), obtida a partir de uma matriz para o período (1981-2000) pela propriedade de
matrizes ergódicas, a qual “anualiza” as matrizes de período convergindo-as a uma
distribuição estacionária (Soares-Filho et al. no prelo). Cabe ressaltar, aqui, que as matrizes
de mudança geradas não representam, per se, modelos espaciais, mas refletem apenas a
quantificação das mudanças em relação à paisagem como um todo, funcionando como
componentes primários do modelo de dinâmica de paisagens (Soares-Filho et al. no prelo).
Tabela 3. Matriz probabilística de mudança anual gerada com base no intervalo temporal
compreendido entre os anos de 1981 e 2000 na região de Caucaia do Alto, SP.

2000
TOTAL
(UA) (VI) (VMA)
(UA) Uso antrópico 2.797,8 120,7 231,3 3.149,8
1 (VI) Vegetação natural em estádio inicial de 193,3
429,8 88 711,1
9 sucessão secundária
8
1 (VMA) Vegetação natural em estádio médio
1.184,6 359,1 2.056,7 3.600,4
a avançado de sucessão secundária

Cabe ressaltar que, neste estudo, todas as transições entre as diferentes classes
foram consideradas possíveis, uma vez que o intervalo escolhido entre os anos analisados
(19 anos) possibilita tal dinâmica.

Com base na probabilidade de ocorrência das diferentes transições entre os tipos de


uso e cobertura das terras, tomadas pixel a pixel, o programa DINAMICA© gerou valores
de pesos de evidência para cada um dos intervalos de distância definidos em relação às
variáveis proximais estáticas e dinâmicas utilizadas neste estudo, através do algoritmo

{ B}= log{D} + W
log D +
com (1)

P{B }
{ D}
+
W = ln D (2)
PB

onde W + representa o peso de evidência positivo para a probabilidade de ocorrência ( D )


ou a não-ocorrência ( D ) das possíveis transições entre as 3 classes frente à presença ( B )
de um dado padrão espacial, representado aqui pelas variáveis proximais categorizadas,
tanto estáticas como dinâmicas. Para uma análise uniformizada da influência das variáveis
proximais, o programa DINAMICA desconsidera os valores das probabilidades a priori,
igualando log {D} a 1. Nesta etapa, cada um dos pesos de evidência calculados representa o
grau de associação entre um dos intervalos de uma dada variável proximal e uma das
possíveis transições ( i → j ).
Ao final da execução dos cálculos, todos os pixels da área analisada receberam um
valor correspondente à probabilidade a posteriori de ocorrência de uma dada transição
(segundo a soma dos valores de W + encontrados para cada uma das variáveis), o qual foi
relacionado estritamente à localização espacial dos pixels frente ao conjunto das variáveis
proximais analisadas, conforme a equação:

{
Pi→ j
B I C I DK I N
}=e
∑ W +N

1 + e∑
W +N
(3)

(Bonham-Carter 1994, Soares-Filho et al. submetido).


A premissa básica para a utilização dos pesos de evidência e a conseqüente
derivação dos mapas de probabilidade exige que as variáveis proximais utilizadas nos
cálculos sejam espacialmente independentes, o que pôde ser verificado, neste estudo, pelo
coeficiente de Crammer (V), que, para todos os pareamentos, resultou em valores menores
do que 0,45 (limiar empiricamente estabelecido (Almeida et al. 2002)).

Calibração do modelo de simulação “ideal”

A fim de se obter diferentes cenários para o ano de 2019, coerentes com o histórico de
evolução da paisagem de Caucaia do Alto entre os anos de 1981 e 2000, optou-se por
encontrar primeiramente um modelo de simulação espacial que, a partir do ano de 1981,
fosse capaz de gerar, como resultado, um mapa de uso e cobertura das terras semelhante à
fotointerpretação feita para o ano de 2000. Para isso, foram utilizados como dados de
entrada no programa DINAMICA©: i) o mapa de uso e cobertura das terras obtido para o
ano de 1981; ii) a matriz probabilística de mudança anual e iii) os pesos de evidência
previamente calculados para o intervalo 1981-2000. Diversas iterações foram então
realizadas, uma vez que o programa DINAMICA© disponibiliza ferramentas para
monitoramento e ajuste do processo de modelagem baseadas em duas funções: i) a função
expander, a qual controla apenas o grau de expansão ou contração de manchas
preexistentes de um tipo de uso ou cobertura das terras e ii) a função patcher, a qual
promove o surgimento de novas manchas, assim como o controle de variáveis relacionadas
ao tamanho médio, variância e formato das manchas geradas e valores de saturação de tipos
de transições (Soares-Filho et al. 2002).
A escolha do modelo para a realização da simulação de cenários futuros foi feita
comparando-se os mapas de uso e cobertura da terra simulados (n = 10 para cada um dos
modelos utilizados) à fotointerpretação realizada para o ano de 2000, através do cálculo de
diferentes índices de paisagem. Tais índices foram relacionados principalmente à
configuração das manchas de floresta, a saber, i) número de manchas (NP), ii) porcentagem
da paisagem coberta pela maior mancha de floresta (LPI), iii) média ponderada do tamanho
das manchas (AREA_AM) e iv) medida de agregação das manchas de mata (CLUMPY). A
partir destes índices, foram feitas análises multivariadas de agrupamento e ordenação
(análises de componentes principais) (Zar 1999) para definir qual dos modelos mais se
assemelhou com a paisagem real de 2000, em termos de configuração espacial.

Cenários para o ano de 2019

O modelo de simulação em perspectiva realista seguiu as tendências observadas nos


últimos 19 anos na região de Caucaia do Alto. Os parâmetros deste modelo foram: 80% de
função expander e 20% de função patcher, tamanho médio das manchas transicionadas
equivalente a 20 ha com variância zero e valores calculados para as matrizes probabilísticas
de transição anual (Tabela 4) e pesos de evidência previamente definidos (Consultar
Teixeira (2005), Capítulo 1).

Tabela 4. Matriz probabilística de mudança anual gerada com base no intervalo temporal
compreendido entre os anos de 1981 e 2000 na região de Caucaia do Alto, SP.

2019
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta

2 Uso antrópico 0,9910 0,0048 0,0042


0 Vegetação inicial 0,079 0,8722 0,0488
0
0 Floresta 0,0168 0,0187 0,9646

O modelo de simulação em perspectiva aleatória, por sua vez, baseou-se apenas nas
tendências de transição entre os diferentes tipos de uso e cobertura das terras contidas nas
matrizes probabilísticas de mudança, sendo que os valores calculados para os pesos de
evidência foram zerados para todas as variáveis proximais utilizadas. Este modelo foi
construído com o intuito de verificar a estrutura espacial para o ano de 2019 da paisagem de
Caucaia do Alto caso não houvesse restrições quanto à localização espacial dessas
mudanças, e relacioná-la ao padrão encontrado para os demais cenários gerados, a saber,
real, pessimista e otimista.
O modelo em perspectiva pessimista seguiu os padrões de mudanças espaciais
estabelecidos pelos valores dos pesos de evidência encontrados para o intervalo 1981-2000.
Porém, as probabilidades de mudança contidas na matriz previamente calculada foram
alteradas, sendo que as transições de regeneração à floresta a partir de áreas de uso
antrópico e de vegetação inicial foram impossibilitadas (as probabilidades de ocorrência
relacionadas a essas transições foram igualadas a zero) e os valores correspondentes às
regenerações a floresta foram adicionados tanto à probabilidade de permanência da classe
uso antrópico como à probabilidade de transição entre vegetação inicial e uso antrópico
(Tabela 5).

Tabela 5. Matriz probabilística de mudança anual (1981-2000) utilizada para gerar


simulações de perspectiva pessimista para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.

2019
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta
2 Uso antrópico 0,9952 0,0048 0
0 Vegetação inicial 0,1278 0,8722 0
0
0 Floresta 0,0168 0,0187 0,9646

O modelo em perspectiva otimista baseou-se, mais uma vez, nos padrões de


mudança espacial estabelecidos pelos valores dos pesos de evidência encontrados para o
intervalo temporal 1981-2000. Entretanto, as probabilidades de mudança contidas na matriz
previamente calculada foram alteradas, sendo as probabilidades de transições relacionadas
a processos de desmatamento anuladas – os valores excedentes foram adicionados à
probabilidade de permanência de floresta (Tabela 6).
Tabela 6. Matriz probabilística de mudança anual utilizada para gerar simulações de
perspectiva otimista para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
2019
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta
2 Uso antrópico 0,9910 0,0048 0,0042
0 Vegetação inicial 0,0790 0,8722 0,0488
0
0 Floresta 0 0 1

Para cada um dos cenários considerados (real, aleatório, pessimista e otimista),


foram geradas 10 paisagens (i.e., réplicas) (Figuras 3, 4, 5 e 6).

Análise dos diferentes cenários

Todas as 10 réplicas obtidas para cada um dos 4 tipos de modelos/cenários de simulação


definidos foram analisadas em relação à composição dos tipos de uso e cobertura das terras
preestabelecidos e à configuração das manchas de floresta através da utilização de índices
de paisagem, calculados com a ajuda do programa FRAGSTATS (versão 3.3; 2002)
(Tabela 7). Para testar a existência de diferenças significativas entre os cenários, foram
utilizadas análises de variância (ANOVA) para cada índice de paisagem e, quando
encontradas diferenças significativas, foram realizados testes a posteriori (Teste de Tukey
HSD, α = 0,05) (Zar 1999).

Tabela 7. Índices de paisagem utilizados para quantificar a configuração espacial das


manchas de floresta nos cenários obtidos para a paisagem de Caucaia do Alto, SP, no ano
de 2019. Para maiores detalhes, consultar McGarigal & Marks (1995)

ÍNDICE DE PAISAGEM DEFINIÇÃO


NP Contabiliza o número de fragmentos florestais.
Refere-se à porcentagem total da área contida pela mancha de maior tamanho de
LPI
mata.
AREA_MN Equivale ao tamanho médio das manchas de mata, em hectares.
ENN_MN Mensura a distância média, em metros, entre as manchas de mata.
Fornece o grau de proximidade de manchas de mata em uma região
PROX_MN
preestabelecida em função da área e do isolamento entre as manchas.
81_0_3_tiff.tif
Tipos
VALUE de uso e cobertura das terras

0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta

Figura 3. Cenário real para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
81_0_3_tiff.tif
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta

Figura 4. Cenário aleatório para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
81_0_3_tiff.tif
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta

Figura 5. Cenário pessimista para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
81_0_3_tiff.tif
Tipos de uso e cobertura das terras
VALUE
0 Não-analisado
1 Uso antrópico
2 Vegetação inicial
3 Floresta

Figura 6. Cenário otimista para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
Os resultados obtidos para cada simulação foram, ainda, valorados, tomando-se
como parâmetro uma paisagem dita “ideal” à conservação da diversidade de espécies
florestais. Uma paisagem próxima ao “ideal” deve apresentar simultaneamente: uma
extensa área de cobertura florestal; um pequeno número de manchas; uma mancha
relativamente grande a fim de atuar como fonte de propágulos às manchas menores;
tamanho médio das manchas preferencialmente de grande extensão e elevado grau de
conectividade, o que implica em uma menor probabilidade de essas manchas encontrarem-
se isoladas na paisagem, facilitando, assim, a movimentação dos diversos organismos entre
as mesmas, o que corrobora à sobrevivência das populações (Forman 1995, Metzger 1999).
Cada paisagem foi pontuada, para cada índice calculado, de 1 a 40, em função de sua
ordem em relação ao valor ideal, e os pontos para cada índice de paisagem foram, então,
somados. O resultado é um índice de qualidade da paisagem. Quanto maior este índice,
mais próxima está a paisagem, em relação às demais, da condição ideal para a conservação
de espécies florestais.
RESULTADOS

Dinâmica 1981-2000

As mudanças no uso e cobertura da terra na região de Caucaia do Alto, entre os anos de


1981 e 2000, foram principalmente relacionadas à conversão de áreas de vegetação inicial
(429,8 ha) e de florestas (1.184,6 ha) em áreas de uso antrópico (Tabela 8, Figura 7). A
estas perdas, somam-se ainda os valores relativos à conversão de florestas em vegetação
inicial (359,1 ha), o que provavelmente está relacionado a um desmatamento e posterior
regeneração para vegetação inicial. Desta forma, a área total desmatada, de 1981 a 2000,
totaliza 1.543,7 ha. A regeneração de vegetação natural pelo abandono agrícola (352 ha) ou
transformação de vegetação inicial em floresta (193,3 ha), por sua vez, totalizou 545,3 ha,
sendo que, desse total, 424,6 ha ou 78%, correspondeu a regenerações para estádios
sucessionais mais avançados. Portanto, a dinâmica recente da paisagem de Caucaia do Alto
esteve mais fortemente atrelada ao desmatamento, sendo que o mesmo ocorreu a um valor
anual médio aproximado de 81,2 ha/ano, já a regeneração florestal alcançou um valor anual
médio próximo a 22,3 ha/ano.

Tabela 8. Matriz de mudanças de uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto,
SP, obtida entre os anos de 1981 e 2000, em hectares.

2000
TOTAL
Uso antrópico Vegetação inicial Floresta

1 Uso antrópico 2.797,8 120,7 231,3 3.149,8


9
Vegetação inicial 429,7 88 193,3 711,1
8
1 Floresta 1.184,6 359,1 2.056,7 3.600,4
TOTAL 4.412,2 567,8 2.481,3 7.461,3
INSTALAÇÕES
231,3
RURAIS E URBANAS

120,7 193,3

VEGETAÇÃO
AGRICULTURA - 309 - 165,8 FLORESTA
INICIAL

429,7 359,1

- 953,3

REFLORESTAMENTO 1.184,6

Figura 7. Dinâmica de mudança de uso e cobertura das terras na região de Caucaia do Alto,
SP, observada entre os anos de 1981 e 2000, em hectares.

Comparação dos cenários para 2019

Em termos de composição, os cenários real e aleatório, ambos baseados nas tendências de


mudança observadas entre os anos de 1981 e 2000, resultaram em paisagens de composição
semelhante, sendo que, para a classe de uso antrópico, foi detectado um aumento em sua
área de ocupação equivalente a 671 ha (15% do total observado em 2000, Figura 4(a)), em
detrimento da vegetação inicial (84 ha, 15,5%, Figura 4(b)) e de floresta (587 ha, 23,5%,
Figura 4(c)).
O modelo pessimista, por sua vez, gerou as paisagens que apresentaram os maiores
aumentos da classe uso antrópico, equivalentes a 1.367 ha (39,7% da área originalmente
ocupada em 2000; Figura 4(a)). As reduções, nestes casos, foram observadas tanto para a
classe de vegetação inicial (129 ha ou 22,3%, Figura 4(b)) como para a classe de floresta
(1.238 ha ou 49,7%, Figura 4(c)), sendo esta a maior redução encontrada entre os diferentes
cenários.
O cenário otimista para o ano de 2019 apresentou reduções em relação à classe de
uso antrópico (109 ha ou 2,5% da área originalmente ocupada por essa classe, Figura 8(a)).
Entretanto, esse mesmo cenário resultou em maiores perdas quanto às áreas de vegetação
natural em estádio inicial de sucessão secundária (245 ha ou 42,4%, Figura 8(b)) e em
maiores ganhos em relação à floresta (354 ha ou 14,2%, Figura 8(c)).

7000

6000

5000
Uso antrópico (ha)

REAL
4000
ALEATÓRIO
ha

PESSIMISTA
3000
OTIMISTA
2000

1000

0
1981 2000 2019
Intervalos
(a)

800

700

600
Vegetação inicial (ha)

500 REAL
ALEATÓRIO
400
ha

PESSIMISTA
300 OTIMISTA

200

100

0
1981 2000 2019
Intervalos
(b)
4.000

3.500

3.000

2.500
Floresta (ha)

REAL
ALEATÓRIO
2.000
ha

PESSIMISTA
1.500 OTIMISTA

1.000

500

0
1981 2000 2019
Intervalos
(c)

Figuras 8(a), 4(b) e 4(c). Uso e cobertura da terra em relação às classes de (a) uso
antrópico, (b) vegetação inicial e (c) floresta na região de Caucaia do Alto, SP (1981-2019),
frente a diferentes cenários para o ano de 2019.

Em termos de configuração espacial das áreas florestadas, as piores paisagens são


em geral obtidas com os cenários pessimista e aleatório, enquanto o cenário otimista é
consistentemente melhor, em termos de conservação de espécies florestais, sendo o cenário
real aquele que apresenta uma situação intermediária.
O número de manchas (NP) obtido foi maior para os cenários pessimista ( X = 369
manchas) e aleatório ( X = 386 manchas), os quais não apresentaram diferença
significativa (p = 0,075). Os cenários real ( X = 308 manchas) e otimista ( X = 231
manchas), por sua vez, resultaram em paisagens com os menores números de manchas
florestais. O cenário otimista foi o único a apresentar menor número de fragmentos do que
o observado para o ano de 2000 (267 manchas) (Figuras 9 e 10).
600

500

400
REAL
ALEATÓRIA
NP

300
PESSIMISTA
OTIMISTA
200

100

0
1981 2000 2019
F = 199,16
Intervalos P < 0,05

Figura 9. Número de manchas (NP) de floresta frente a diferentes cenários de uso e


cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.

420

400 B

380
B

360

340

320 A
NP

300

280

260

C
240

220

200
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos

Figura 10. Média e desvio padrão do número de manchas (NP) de floresta frente a
diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista, OTIMista) de uso e cobertura da
terra para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP. Os cenários que não diferiram
significativamente são representados por letras que se repetem.
O cenário que apresentou a maior porcentagem de área total ocupada pela maior
mancha de floresta foi o otimista ( X = 11,49 %), seguido pelo cenário real ( X = 7,93 %),
aleatório ( X = 4,19 %) e pessimista ( X = 2,41 %). Todas as diferenças foram
significativas (p < 0,05), salvo, mais uma vez, os cenários pessimistas e aleatório (p =
0,116) (Figuras 11 e 12). Estes dois últimos valores foram menores do que o obtido no ano
de 2000 (6,45 %). Porém, nota-se que a maior perda no tamanho do maior fragmento
ocorreu entre 1981 e 2000, sendo que nenhum dos cenários para 2019 permite retornar a
valores próximos aos de 1981 (Figura 11).

30

25

20
LPI (%)

REAL
ALEATÓRIA
15
%

PESSIMISTA
OTIMISTA
10

0
1981 2000 2019
Intervalos F = 54,707
p < 0,05

Figura 11. Porcentagem da paisagem ocupada pela maior mancha (LPI) de floresta
frente a diferentes cenários de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região
de Caucaia do Alto, SP.
14

C
12

10
A
F = 54,707
8 p < 0,05
LPI

6
B

4
B

0
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos

Figura 12. Média e desvio padrão da porcentagem da paisagem ocupada pela maior
mancha (LPI) de floresta frente a diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista,
OTIMista) de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto,
SP, em porcentagem. Os cenários que não diferiram significativamente são representados
por letras que se repetem.

O modelo otimista foi o que gerou as paisagens de maiores áreas médias de


manchas de floresta ( X = 12,32 ha) e o único a ter este valor médio maior do que o
encontrado em 2000 (9,34 ha). Os demais cenários apresentaram valores bastante reduzidos
para esse índice (real: X = 6,16 ha, aleatório: X = 4,95 ha e pessimista: X = 3,41 ha)
(Figuras 13 e 14). Todas as diferenças são significativas.
14

12

10

REAL
AREA_MN (ha)

8
ALEATÓRIA
ha

PESSIMISTA
6
OTIMISTA
4

0
1981 2000 2019
Intervalos F = 2.586,34
p < 0,05

Figura 13. Área média das manchas (AREA_MN) de floresta, em hectares, frente a
diferentes cenários de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região de
Caucaia do Alto, SP.

14

13
D
12

11

10

9
AREA_MN

7
A
6

B
5

4
C
3

2
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos

Figura 14. Média e desvio padrão da área média das manchas (AREA_MN) de floresta, em
hectares, frente a diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista, OTIMista) de uso e
cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.
Os cenários otimista ( X = 73,75 m) e aleatório ( X = 82,46 m) foram aqueles que
apresentaram manchas florestais de menores distâncias (ENN_MN), o que, a princípio,
indica um menor grau de isolamento nessas paisagens. Por outro lado, as paisagens geradas
pelos modelos real e pessimista tiveram, como resultado, valores maiores de ENN_MN
(real: X = 103,37 m, aleatório: X = 100,22 m), o que indica um maior grau de
isolamento para esses cenários, que não diferiram significativamente entre si (p = 0,265)
(Figuras 15 e 16). Todos os cenários apresentaram a distância média entre as manchas de
(VMA) maiores do que a observada para o ano de 2000 (71,91 m).

120

100

80
ENN_MN (m)

REAL
ALEATÓRIA
60
m

PESSIMISTA
OTIMISTA
40

20

0
1981 2000 2019
F = 139,84
Intervalos p < 0,05

Figura 15. Distância média (ENN_MN), em metros, entre as manchas de floresta frente
a diferentes cenários de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região de
Caucaia do Alto, SP.
110

A
105
A

100

95

90
ENN_MN

A
85
B

80

C
75

70

65
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos

Figura 16. Média e desvio padrão da distância média (ENN_MN), em metros, entre as
manchas de floresta frente a diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista,
OTIMista) de uso e cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto,
SP. Os cenários que não diferiram significativamente são representados por letras que se
repetem.

Em relação ao índice de proximidade média (PROX_MN), o cenário otimista ( X =


840,75) apresentou resultado nitidamente superior aos demais cenários (p < 0,05) e também
superior ao ano de 2000 (441,46). Os demais modelos, por sua vez, apresentaram poucas
diferenças significativas (apenas o modelo pessimista diferiu do real), com valores
ligeiramente inferiores aos de 2000 (Figuras 17 e 18). A perda principal de proximidade
ocorreu entre 1981 e 2000, sendo todos os valores de 2000 em diante muito baixos (Figura
17).
6000

5000

4000
REAL
PROX_MN

ALEATÓRIA
3000
PESSIMISTA
OTIMISTA
2000

1000

0
1981 2000 2019
F = 89,896
Intervalos
p < 0,05

Figura 17. Proximidade média (PROX_MN) entre as manchas florestais frente a diferentes
cenários de uso e cobertura da terra para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP.

1100

1000
C
900

800

700

600
PROX_MN

500

400 A

300 AB

200
B
100

-100
REAL ALEAT PESS OTIM
Modelos

Figura 18. Média e desvio padrão da proximidade média (PROX_MN) entre as manchas de
floresta frente a diferentes cenários (REAL, ALEATório, PESSimista, OTIMista) de uso e
cobertura das terras para o ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP. Os cenários que
não diferiram significativamente são representados por letras que se repetem.
Ordenação dos cenários para conservação de espécies florestais

A ordenação dos cenários a partir do índice de “qualidade da paisagem” para a conservação


de espécies florestais mostra uma forte tendência de agrupamento das paisagens por tipo de
modelo, salvo no caso dos cenários pessimista e aleatório (Tabela 9). De uma forma geral,
os resultados confirmam a análise estrutural precedente, sendo o modelo otimista mais
propício à conservação da biodiversidade florestal, seguido do real, e, num último bloco,
pelos cenários pessimista e aleatório.
Tabela 9. Valores dos índices de cobertura e configuração florestal simulados para as 40
paisagens no ano de 2019 na região de Caucaia do Alto, SP, e ordenação das paisagens
conforme a sua “qualidade” para a conservação de espécies florestais. Cenários real
(REAL), aleatório (ALEAT), pessimista (PESS) e otimista (OTIM).

MODELO RÉPLICA CA V NP V LPI V AREA_MN V ENN_MN V PROX_MN V SOMA


(ha) (%) (ha) (m) QUALIDADE AMBIENTAL
OTIM 1 2847 31 230 35 15,29 40 12,38 35 74,97 32 1249,38 40 213
OTIM 5 2847 31 232 33 13,43 39 12,27 33 72,81 39 889,97 37 212
OTIM 4 2847 31 239 32 12,9 37 11,91 32 70,54 40 959,15 39 211
OTIM 10 2847 31 227 39 10,81 32 12,54 39 74,15 34 784,63 35 210
OTIM 7 2847 31 229 37 10,99 33 12,43 37 74,57 33 924,88 38 209
OTIM 9 2847 31 231 34 11,8 36 12,32 34 74,04 35 859,4 36 206
OTIM 2 2847 31 229 37 9,17 30 12,43 37 73,39 38 642,15 32 205
OTIM 8 2847 31 225 40 8,36 28 12,65 40 75,12 31 743,24 33 203
OTIM 6 2847 31 240 31 13,32 38 11,86 31 74,04 35 768,63 34 200
OTIM 3 2847 31 230 35 8,85 29 12,38 35 73,84 37 586,11 30 197
REAL 3 1906 11 307 25 11,49 34 6,21 25 102,96 9 606,52 31 135
REAL 5 1906 11 307 25 11,57 35 6,21 25 105,43 5 396,28 29 130
REAL 8 1906 11 311 23 9,91 31 6,13 23 98,83 14 307,7 27 129
REAL 4 1906 11 298 28 5,37 20 6,4 28 101,75 12 254,33 24 123
REAL 7 1906 11 330 21 8,09 27 5,78 21 97,45 15 328,73 28 123
REAL 2 1906 11 321 22 6,49 24 5,94 22 94,11 20 249,97 23 122
REAL 1 1906 11 298 28 6,48 23 6,4 28 112,36 1 301,16 26 117
REAL 9 1906 11 310 24 7,34 26 6,15 24 105,24 6 292,23 25 116
REAL 10 1906 11 306 27 7,21 25 6,23 27 105,65 3 248,73 22 115
ALEAT 3 1906 11 354 17 5,62 21 5,38 19 83,97 23 235,67 20 111
ALEAT 8 1906 11 342 20 4,44 17 5,57 20 85,33 21 233,1 18 107
REAL 6 1906 11 295 30 5,32 18 6,46 30 109,89 2 156,88 14 105
ALEAT 10 1906 11 384 8 4,42 16 4,96 17 83,44 24 240,15 21 97
ALEAT 5 1906 11 396 4 5,64 22 4,81 14 82,74 27 213,09 17 95
ALEAT 7 1906 11 385 7 4,18 15 4,95 16 83,16 26 233,56 19 94
ALEAT 4 1906 11 381 12 2,59 8 5 18 79,98 29 139,58 12 90
ALEAT 6 1906 11 387 6 5,33 19 4,92 15 84,01 22 182,48 16 89
ALEAT 9 1906 11 405 3 3,35 13 4,71 13 76,24 30 151,07 13 83
ALEAT 1 1906 11 410 2 3,8 14 4,65 12 83,4 25 181,31 15 79
ALEAT 2 1906 11 425 1 2,51 6 4,48 11 82,28 28 136,13 11 68
PESS 3 1255 1 347 19 2,75 11 3,62 10 102,94 10 84,63 8 59
PESS 8 1255 1 368 14 2,58 7 3,41 6 96,39 17 86,27 9 54
PESS 1 1255 1 354 17 2,84 12 3,55 9 105,61 4 93,21 10 53
PESS 5 1255 1 384 8 2,7 10 3,27 2 94,49 19 67,69 7 47
PESS 10 1255 1 373 13 2,23 3 3,37 5 94,72 18 59,27 4 44
PESS 7 1255 1 383 11 2,25 4 3,28 4 96,5 16 66,59 5 41
PESS 4 1255 1 355 15 1,88 1 3,54 7 101,05 13 58,86 3 40
PESS 2 1255 1 384 8 2,64 9 3,27 2 102,59 11 67,2 6 37
PESS 9 1255 1 355 15 2,25 4 3,54 7 104,07 7 56,3 2 36
PESS 6 1255 1 389 5 1,95 2 3,23 1 103,82 8 56,01 1 18
DISCUSSÃO

O desmatamento observado na região de Caucaia do Alto entre os anos de 1981 e 2000 foi
equivalente, em dados brutos (baseados apenas nas quantidades de floresta observadas nos
anos de 1981 e 2000), a 1.543,7 ha (81,2 ha/ano), ou seja, a 42,9% da área florestal presente
no ano de 1981. No estado de São Paulo, por sua vez, a perda da Floresta Atlântica, entre os
anos de 1995 e 2000, foi estimada em 50.458 ha (10.092 ha/ano), ou seja, 1,7% da área
florestal observada em 1995 (3.046.341 ha) (SOS Mata Atlântica/INPE 2002).
Transformando-se ambas as taxas anuais de desmatamento em termos percentuais, para fins
comparativos, tem-se que, para o intervalo 1981-2000, na região de Caucaia do Alto, a taxa
de desmatamento obtida foi equivalente a 2,9%/ano, enquanto que, para o estado de São
Paulo, a mesma taxa igualou-se a 0,3%/ano. Portanto, a região de Caucaia do Alto
apresentou uma taxa estimada de desmatamento da Floresta Atlântica muito superior em
relação à observada no estado de São Paulo, o que demonstra uma rápida aceleração na
ocupação das áreas de floresta na região estudada. Essas taxas são maiores do que as
encontradas em regiões de expansão de fronteira agrícola, como no caso do município de
Ariquemes, Estado de Rondônia, com taxas de 2,2%/ano, em pleno arco do desmatamento
amazônico (Ferraz et al. 2005). O rápido desmatamento em Caucaia se deve, em particular,
ao crescente avanço de loteamentos para construção de chácaras de fim-de-semana e de
condomínios voltados principalmente à população da cidade de São Paulo (ver capítulo 1).
Com a ampliação das vias de acesso que ligam a metrópole à Caucaia do Alto, SP (Revista
em Cotia 2002), o desmatamento tende a se intensificar ainda mais.
É interessante notar que pequenas mudanças nas matrizes de transição podem
resultar em paisagens muito distintas em termos de cobertura e configuração florestal. O
cenário otimista, que equivale a uma política de “desmatamento zero”, é o único capaz de
aumentar a quantidade de mata e reduzir o número de manchas florestais da paisagem.
Quando comparado ao cenário real, de continuidade nas tendências recentes de dinâmica de
paisagem, o cenário otimista permite o aumento em cerca de 50% no tamanho da maior
mancha, dobra a área média das manchas e aumenta em quase três vezes a proximidade
entre as manchas florestais remanescentes. Por outro lado, numa situação adversa, onde há
uma maior estabilização agrícola e menor abandono das terras com conseqüente
interrupção da regeneração natural (cenário pessimista), há uma nítida perda de áreas
florestais (1.238 ha) e aumento no número de manchas. Em relação a uma situação de
continuidade das tendências atuais, o cenário pessimista reduz pela metade o tamanho da
maior mancha e o tamanho média das manchas, reduzindo a um terço a proximidade entre
as manchas florestais.
As implicações desses últimos cenários em termos de conservação da
biodiversidade florestal podem ser drásticas, uma vez que: i) a conservação das maiores
manchas em cada um das paisagens obtidas (dadas pelo índice de paisagem LPI) é de
importância máxima à conservação de espécies de interior; ii) é preferível manter manchas
extensas a manchas de tamanho reduzido, uma vez que as mesmas são afetadas por efeitos
de borda mais acentuados e iii) a escolha por manchas de habitat natural agregadas pode
garantir uma maior chance à manutenção da diversidade biológica do que aquelas isoladas
por tipos de matrizes tidas como impermeáveis aos fluxos biológicos (Ranta et al. 1998).
Além de se aproximar mais desstas condições espaciais ótimas, o cenário otimista é o único
que permite um aumento na cobertura florestal em relação a 2000, resultando em 37,8% de
matas na região. Esse valor está acima de um suposto limiar de fragmentação, proposto por
Andrén (1994), abaixo do qual os efeitos da fragmentação tenderiam a se acentuar. Dessa
forma, a configuração espacial no cenário otimista seria mais propícia à conservação de
espécies sensíveis à diminuição da área florestal, como as espécies da avifauna Trogon
surrucura, ou as espécies de aves com maior sensibilidade à conectividade de manchas
florestais, como Basileuterus leucoblepharus e Pyriglena leucoptera (Uezu et al. 2005). O
cenário pessimista, por sua vez, gerou paisagens pouco propícias à conservação da
diversidade biológica florestal, tanto em termos de cobertura florestal (16,7%), bem abaixo
do limiar de fragmentação, quanto em termos de disposição espacial dos fragmentos
florestais remanescentes. Nessas paisagens, possivelmente, seriam encontradas apenas
algumas espécies menos sensíveis à fragmentação, como, no caso de aves, Batara cinerea e
Chiroxiphia caudatta (Uezu et al. 2005). A presença dessas espécies em ambientes menos
favoráveis é possível apenas pelo fato de as mesmas serem capazes de se deslocar através
da matriz e de utilizá-las como fonte de recursos e como extensões de suas áreas de vida, o
que, a princípio, não demanda necessariamente altos índices de conectividade.
Outro resultado relevante é obtido pela comparação dos cenários reais e aleatórios.
Ambos foram gerados pela mesma matriz de transição anual (de acordo com a tendência
atual), porém diferem na distribuição espacial das transições entre os diferentes tipos de uso
e cobertura das terras, sendo aleatório em um dos casos e dependente dos pesos de
evidência em outro. A análise dos índices da paisagem mostra claramente que a presença de
tendências espaciais, definidas pelos pesos de evidência, as quais direcionam os processos
de desmatamento e regeneração, são preferíveis à preservação da diversidade biológica
florestal a processos de caráter totalmente estocástico.
É importante ressaltar, no entanto, que os diferentes cenários, valorados a priori
pelos índices de paisagem preestabelecidos, podem não refletir a real condição para a
conservação das espécies florestais. Isso ocorre porque as mesmas apresentam diferentes
vulnerabilidades aos fenômenos de extinção local, sendo que essas diferenças são dadas
principalmente pelos próprios atributos biológicos das espécies. Em particular, espécies de
grande porte, que estão situadas no topo da cadeia alimentar, de maior longevidade, de
pequeno sucesso reprodutivo e que dependam diretamente de estratos arbóreos são
geralmente tidas como vulneráveis. Castro e Fernandez (2003) observaram que uma mesma
paisagem pode se apresentar fragmentada a uma dada espécie, porém, para uma outra
espécie, a mesma paisagem pode ter um caráter predominantemente contínuo, dada a
habilidade, inerente à espécie, em utilizar os corredores e até mesmo a matriz para se
movimentar de uma mancha florestal a outra. Uma metapopulação subdividida em
populações locais confinadas em manchas de floresta, mas que recebam periodicamente
indivíduos imigrantes, pode ter sucesso em uma paisagem altamente fragmentada, desde
que a mesma possua uma matriz permeável a essa população. Ademais, além da estrutura
da paisagem e das características intrínsecas das espécies, é necessário também considerar a
qualidade ou estrutura da vegetação presente nas diferentes manchas. Manchas de maior
tamanho podem apresentar uma baixa qualidade da vegetação devido a características
históricas de perturbação, enquanto, em outras situações, manchas de menor tamanho
podem apresentar estruturas de vegetação relativamente mais íntegras. Com isso, manchas
florestais de menor porte podem ter maior interesse à conservação do que manchas extensas
(Harrison & Fahrig 1995).
Dado esse contexto, pode-se dizer que os cenários otimistas gerados foram tidos
como os de maior viabilidade à manutenção da biodiversidade florestal apenas partindo-se
do princípio de que os índices de paisagem escolhidos seriam suficientes para inferir sobre
tal pressuposto, independente da qualidade da vegetação e da percepção inerente de cada
espécie em relação aos cenários obtidos. Os cenários gerados em perspectiva realista, por
sua vez, são os que, após os cenários otimistas, apresentaram melhores condições
estruturais e de composição à manutenção das espécies florestais, dadas tanto pela soma
dos valores estabelecidos para os índices de paisagem como pela presença da maior
quantidade de vegetação inicial em relação aos cenários otimista e pessimista. Finalmente,
como esperado, os cenários pessimistas e aleatórios apresentaram os piores resultados
estruturais e certamente representam a configuração espacial menos propícia à conservação
florestal na região de Caucaia do Alto. É importante ressaltar que as diferentes paisagens
(réplicas), geradas a partir de um mesmo cenário, foram agrupadas de maneira
significativamente distinta em relação à maioria dos índices de paisagem, mostrando grande
coerência nos cenários propostos.
Segundo simulações de diferentes cenários para o ano de 2100 feitas por Sala et al.
(2000), a principal força motriz responsável pela redução da biodiversidade para os
ambientes tropicais, como no caso da Floresta Atlântica, está relacionada à mudança no uso
e cobertura das terras. Apesar das limitações deste trabalho, que está baseado
essencialmente em uma interpretação estrutural das paisagens, fica claro o potencial do uso
de programas de simulação espacial de paisagem, tal como o DINAMICA©, como uma
primeira ferramenta à compreensão dos processos históricos de evolução do uso e cobertura
das terras e avaliação das conseqüências em termos de conservação biológica. Os
resultados ressaltam que intervenções firmes, impedindo o desmatamento e mantendo as
taxas atuais de regeneração, seriam altamente benéficas em relação à conservação da
biodiversidade. Uma perspectiva promissora para o aperfeiçoamento das análises feitas,
subsidiando de forma mais consistente as tomadas de decisão por gestores territoriais, seria
acoplar aos modelos de dinâmica de uso e cobertura das terras, os modelos de dinâmica de
populações em paisagens fragmentadas, particularmente em biomas ameaçados, como no
caso da Mata Atlântica. Outro aperfeiçoamento estaria relacionado ao uso de dados de
cunho social para a predição de cenários, como os já utilizados em previsões relativas ao
desmatamento da Floresta Amazônica a partir de redes viárias (Soares-Filho et al. 2004).
CONCLUSÃO

Os diferentes cenários gerados para a região de Caucaia do Alto, SP, mostraram que as
paisagens otimistas foram aquelas que apresentaram as maiores semelhanças às paisagens
ditas “ideais” à conservação da diversidade de espécies florestais no ano de 2019, com base
nos índices de paisagem. Uma política baseada no “desmatamento zero”, a qual,
teoricamente, já está em vigor desde a implantação do Decreto n° 750, de 10 de fevereiro
de 1993, em conjunto com àquela que prioriza a proteção de áreas de APP, garantiria esse
tipo de cenário à região, em um futuro próximo. Por sua vez, o cenário real, tido com base
nas tendências observadas entre os anos de 1981 e 2000, seria uma segunda opção a uma
paisagem “conservacionista”, bastando, para isso, que os tomadores de decisão baseassem
os planejamentos futuros no histórico de mudanças no uso e cobertura das terras ocorrido
na região. Entretanto, deve-se ressaltar que este último cenário não é o desejável,
principalmente por ter sido modelado pelas elevadas taxas de desmatamento observadas
entre 1981 e 2000. Porém, tal cenário é preferível em detrimento dos cenários aleatório,
onde as transições se dão sem qualquer restrição à sua localização, e pessimista, o qual
incrementa ainda mais as taxas de desmatamento e diminui as relacionadas à regeneração.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo, a partir da análise das mudanças no uso e ocupação das terras entre os anos de
1962 e 2000, na região de Caucaia do Alto, SP, mostrou que

i) nesse período, Caucaia do Alto apresentou duas tendências distintas,


dependendo do intervalo temporal analisado: entre os anos de 1962 e 1981,
Caucaia do Alto sofreu um intenso desmatamento de florestas para conversão a
áreas agrícolas, porém, o mesmo foi em parte compensado pela regeneração de
florestas a partir dos próprios campos agrícolas. Tal dinâmica pode estar
relacionada tanto a uma agricultura de pousio como à regeneração de vegetação
natural frente à queda na extração de lenha e carvão. Já entre os anos de 1981 e
2000, as taxas de regeneração observadas foram bem menores, sendo que a
dinâmica desse intervalo provavelmente estaria relacionada à expansão dos
loteamentos sobre as áreas agrícolas e destas sobre a vegetação natural. As
tendências a essas transições apontaram um possível cumprimento à legislação
ambiental quanto à regeneração, uma vez que esta ocorreu próximo a corpos
d’água. Já os desmatamentos, por sua vez, foram localizados em áreas de fácil
acesso/manejo pelo homem;
ii) entre os diferentes cenários simulados para a região de Caucaia do Alto, no ano
de 2019, tem-se que o cenário otimista foi o que apresentou uma maior
semelhança à uma paisagem “ideal” à conservação da biodiversidade florestal
em detrimento dos demais cenários, a saber, real, aleatório e pessimista.

Portanto, pode-se dizer que a a. dinâmica de Caucaia do Alto esteve atrelada à


mudanças de caráter basicamente econômico, como culturas rotacionais, extração de
lenta e carvão vegetal e expansão dos loteamentos urbanos; b. parece existir um certo
cumprimento à legislação ambiental por parte da população, uma vez que a regeneração
foi historicamente localizada próximo a corpos d’agua.;c.a adoção de uma política de
“desmatamento zero” pode levar a região a apresentar uma paisagem de maior
semelhança àquela tida como “ideal” à conservação da diversidade de espécies
florestais.

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