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mediaXXI [Sumário]

42 57 74
ADMINISTRADOR EXECUTIVO
PAULO FERREIRA

DIRECTOR
PAULO FAUSTINO

EDITOR
MÁRIO GUERREIRO | @ editor@mediaxxi.com

REDACÇÃO
VERA LANÇA | @ redaccao@mediaxxi.com
GUILHERME PIRES

COLABORADORES
CÁTIA CANDEIAS
DULCE MOURATO
HERLANDER ELIAS
INÊS BLU RODRIGUES
PAULA DOS SANTOS CORDEIRO
REPORTAGEM SI REPORTAGEM MARKETING EDUCOMUNICAÇÃO
A moda dos E COMUNICAÇÃO Projecto PT Escolas
OPINIÃO
transformers Sector vinícola
CARLA MARTINS
FRANCISCO RUI CÁDIMA
FRANCISCO A. VAN ZELLER 4 EDITORIAL 44 HOMENAGEM/CLÁUDIA MAGALHÃES
MERCEDES MEDINA
REGINALDO RODRIGUES DE ALMEIDA
6 CANAL DA MANCHA 46 EMPRESAS XXI
DESIGN O princípio do fim da televisão
TÂNIA BORGES | @ design@mediaxxi.com 48 16º CONGRESSO APDC
8 SOCIEDADE BIT O futuro das comunicações
DEPARTAMENTO COMERCIAL
JOANA GUITA PINTO | @ comercial@mediaxxi.com
O tempo certo
50 ERA DIGITAL NOS MEDIA
MARKETING E PUBLICIDADE 10 DOSSIER
AMÉLIA SOUSA | @ publicidade@mediaxxi.com
MARIANA GREGÓRIO
Indústria livreira folheada 51 LISBOA É A MAIS LIGADA À INTERNET
ASSINATURAS 19 OLHARES 52 MERCADOS DA COMUNICAÇÃO
@ publicidade@mediaxxi.com Tecnologias digitais marcam o ritmo
20 OPINIÃO/FRANCISCO A. VAN ZELLER
IMPRESSÃO A excepção da publicidade online 53 II SIMJD
HESKA PORTUGUESA – INDÚSTRIAS TIPOGRÁFICAS, S.A. – CAMPO RASO
2720-139 SINTRA – TEL.: 21 923 89 00
22 ACTUALIDADE IMPRENSA 56 IBERMEDIA
DISTRIBUIÇÃO
VASP/ CTT – CORREIOS DE PORTUGAL 23 ACTUALIDADE RÁDIO 61 LEITURAS
SOCIEDADE GESTORA DA REVISTA
FORMALPRESS – PUBLICAÇÕES E MARKETING, LDA.
24 ACTUALIDADE TELEVISÃO 64 AULA ABERTA
Conto de fadas
25 ACTUALIDADE SI
*
ESCRITÓRIOS

2
 RUA PROFESSOR VÍTOR FONTES, Nº 8D, 1600-671 LISBOA
 21 757 34 59 |  21 757 63 16 | @ geral@mediaxxi.com
* 26 ACTUALIDADE PUBLICIDADE E MARKETING
65 CENTROS DE CONHECIMENTO
2
 PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL, Nº 70, 4000-390 PORTO
 |  22 502 91 37
27 ACTUALIDADE TECNOLOGIA
66 INSTITUIÇÕES DA COMUNICAÇÃO
REVISTA FUNDADA POR NUNO ROCHA, EM 1996 67 ENTREVISTA SECTORIAL
DEPÓSITO LEGAL Nº 995 16/96; REGISTO Nº 120427
TIRAGEM: 7000 EXEMPLARES
28 DIRECTIONS 2006 DEBATE TI Ricardo Clemente, Ogilvy One

ED. 90 DEZ/JAN 2007 29 II CONTACT CENTERS PORTUGAL 72 CIBERCULTURA


30 SITIC 76 DIGITAL LIFE 2006
32 DINÂMICAS DA COMUNICAÇÃO 78 EUROMEDIA
34 OPINIÃO/PAULO LAUREANO 80 ALDEIA GLOBAL
Informática 2.0
81 NUESTRA OPINIÓN
35 DIA INTERNACIONAL DA IMPRENSA
85 AGENDA XXI
36 REPORTAGEM DE COMUNICAÇÃO
O tempo dos gratuitos 86 ÚLTIMO OLHAR
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[Editorial]

REGULAÇÃO (S)EM CONTÉUDO


actual pressão e “ofensiva” às entidades regu- Em Potugal as entidades reguladoras têm tido

A ladora era expectável. Apesar da co-regulação


e auto-regulação serem importantes, não
substituem a existência das entidades reguladoras.
alguma dificuldade em se afirmar por falta de
tradição, experiência e excessiva politização
dos dirigentes. Estes aspectos, por vezes, re-
É claro que a ERC se “pôs a jeito” para ser critica- flectem-se no conteúdo das decisões. É discu-
da – e bem – no caso da RTP, pelo excessivo zelo tível que uma das premissas para uma possível
com que foi defendida a posição do canal. A troca viabilização da OPA, nomeadamente no que se
de mensagens com o Público era dispensável. No refere à obrigatoriedade da Sonaecom alienar PAULO FAUSTINO
caso da intervenção sobre a programação das tele- a PT Multimédia, irá reduzir a concentração DIRECTOR
visões, as obrigações impostas aos operadores são no sector dos conteúdos. A Sonaecom é um
exageradas e revelam algum desprezo pela lógica dos grupos empresariais com presença quase “Faz sentido
de mercado em que esta actividade está inserida. irrelevante nos media. Uma questão que se passar entre
Num artigo, publicado no Público, em Agosto de impõe após a OPA: qual vai ser o destino da seis a sete
2005, demonstrei alguns receios que a ERC viesse a PT Multimédia? Os maiores interessados são telenovelas
ter uma perspectiva muito administrativa da regula- os principais grupos de media que já operam por dia como
ção. A ERC deveria ter alguém na direccção com no mercado. Poderão daí decorrer algumas si- fazem alguns
maior sensibilidade para a dimensão económica do tuações de concentração, inevitáveis num país canais?”
sector: uma pessoa com mix de conhecimento aca- de reduzida dimensão. Outro cenário é o apa-
démico e da indústria. Os media devem ser encara- recimento de grupos estrangeiros – e eles andam aí!
dos como uma indústria, embora com algumas par- Nos próximos tempos irão observar-se decisões com
ticularidades, nomeadamente o impacto que os seus forte impacto na indústria dos conteúdos protagoni-
outputs geram na formação dos cidadãos. zadas pelas entidades reguladoras. Seria desejável que
Não deixa de ser oportuno reflectir sobre alguns as- essas entidades tivessem mais experiência. Os atrasos
pectos da programação que em pouco ou nada contri- sucessivos nas decisões não se justificam e contribuem
buem para o desenvolvimento da sociedade. Faz senti- para agravar o cenário de “crise”em que o sector vive.
do passar entre seis a sete telenovelas por dia como Nesta edição apresentamos um dossier sobre a in-
fazem alguns canais? A TV Globo não exibe tantas te- dústria do livro. O negócio não está fácil, mas tem
lenovelas diariamente. Faz algum sentido passar o vindo a revelar alguma dinâmica, visível pelo apare-
“Prós e Contras” a uma hora tão tardia uma vez que é cimento de novas editoras. Está mais concorrencial.
um programa que debate assuntos importantes para a Contudo, esta dinâmica não é acompanhada pelas
sociedade portuguesa? No domínio do jornalismo es- redes de distribuição que funcionam mal. Um dos
crito também existem situações de más práticas, feliz- sinais positivos é que se começam a esboçar algumas
mente uma minoria, que devem ser analisadas por movimentações de internacionalização, nomeada-
um órgão independente.A auto e co-regulação nunca mente para os PALOP e Brasil. Há dias em S.Paulo,
serão suficientes - existirão sempre motivos para justi- tive oportunidade de observar a receptividade que o
ficar uma intervenção supra operadores. Essa inter- Destak está a ter. O subsegmento dos jornais gratui-
venção deve ser feita de modo a compreender as di- tos é também um tema desenvolvido nesta edição.
nâmicas de mercado associadas aos media e a Em homenagem à memória da nossa antiga colabo-
sensibilizar os media a melhorar algumas práticas. Isso radora Cláudia Magalhães, directora da Parceiros da
é possível com mais diálogo e entendimento do papel Comunicação, desaparecida no trágico acidente de
de cada um. Desde o início da constituição da ERC – avião que vitimou outros três jovens jornalistas por-
talvez pela forma como está organizada – que se criou tugueses no Chile, voltamos a apresentar um texto
um ambiente relativamente hostil. seu, originalmente publicado em 2003.

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[Canal da Mancha]

O PRINCÍPIO DO FIM DA TELEVISÃO

odos o sabemos já: o telespectador é activo para as múltiplas extensões do novo

T cada vez mais um programador. O que


significa que essa é, em si mesma, uma
ruptura face ao paradigma da televisão clás-
modelo de comunicação. Os novos públi-
cos são agora mais autonomizados e estão
hipersegmentados por opções e perfis, por
sica. Mas, através da possibilidade de redes e serviços, por suportes e terminais,
ver/fazer o que quer, quando quiser, onde tendo cada um a sua própria e complexa
quiser e como quiser, e também porque o experiência ‘audiovisual’.
novo programador é também um ‘produ- Entre as grandes vantagens de ‘descarregar’
tor’, pode dizer-se que o velho broadcas- conteúdos, para além da autonomia, mobi- FRANCISCO RUI CÁDIMA
ting está em evolução, por assim dizer, para lidade, arquivo, etc., estão, por exemplo, DOCENTE UNIVERSITÁRIO
o ‘egocasting’. aspectos como a antecipação face à estreia
O desafio da ‘pós-televisão’ está portanto de uma série, o acesso a conteúdos habi-
numa hiper-personalização dos novos me- tualmente não disponibilizados ‘em aber-
dia emergentes e num novo consumo de to’, a declinação de informação enquanto “A ‘pós-televisão’
conteúdos digitais que inevitavelmente ‘hyperserial’, etc. Do lado da tecnologia, e os seus
conduzirá a um declíneo da televisão gene- como Bill Gates referiu, importa depois conteúdos
ralista, agora um pouco mais acelerado do não esquecer outra profunda mutação distribuídos pelas
que sucedeu ao longo da última década. emergente no actual contexto, designada- múltiplas
O princípio do fim da televisão, enquanto mente a passagem da nova televisão digital extensões móveis
plataforma única de distribuição de progra- para a TV sobre IP. remetem para
mas, pode começar por situar-se no final Se o dispositivo comunicacional da era da uma
de 2005 quando começa a ser muito claro TV analógica tinha as especificidades pró- individualização
que a TV tinha de tratar rapidamente de al- prias do modelo ‘mass-mediático’, o dispo- cada vez maior”
terar o seu modelo de negócio na medida sitivo digital emergente assenta numa lógi-
em que emergia um novo dispositivo de ca biunívoca,‘imersiva’ e participativa. Mas
comunicação apostado em multiplatafor- a ‘pós-televisão’ e os seus conteúdos distri-
mas de enorme flexibilidade e mobilidade. buídos pelas múltiplas extensões móveis re-
As hostilidades são desde logo abertas pela metem para uma individualização cada vez
Apple/iTunes, pela ABC, NBC, MTV, etc., maior, para uma (hiper)personalização da
que passam a oferecer online conteúdos di- experiência de consumo audiovisual e mul-
versos e nomeadamente as melhores séries timédia, para uma experiência nómada cuja
televisivas norte-americanas, de Desperate caracterização escapa à lógica tradicional
Housewives a Commander in Chief. de distribuição da comunicação. E é justa-
O novo modelo de comunicação centra-se mente aí que está o maior desafio do novo
em estratégias de identificação dos modos paradigma. Um desafio tanto maior quanto
de consumir os novos conteúdos, desde menor se tornou, na era da televisão gene-
aqueles que são meras adaptações do broad- ralista, o aprofundamento científico e qua-
cast aos formatados pelo multimédia inter- litativo do conhecimento dos públicos.

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[Sociedade Bit]

O TEMPO CERTO

reston Tucker teve um sonho: cons- as vendas dos não gratuitos, por outro te-

P truir um automóvel rápido, dinâmico


e seguro. O design, o trabalho de en-
genharia e a velocidade estavam muito à
mos que considerar que são produtos dife-
rentes, com um corpo próprio, com notí-
cias curtas logo, passíveis de serem lidas
frente para o seu tempo e um dos motivos mais ou menos rapidamente numa viagem
pelo qual esse protótipo não teve sucesso de transportes públicos, à entrada dos quais
foi o facto de ter cintos de segurança, com se centra a maioria da sua distribuição.
o argumento de que se eram necessários Chama-se a particular atenção para um as-
cintos, era porque o automóvel não era se- pecto que aparentemente em tudo é igual REGINALDO RODRIGUES DE
guro... Estávamos na década de 40. ao dos jornais pagos mas que numa segun- ALMEIDA
Nos finais da década de 80, Artur Albarran da apreciação se verifica o contrário: a PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
protagonizou uma tentativa portuguesa de existência de um espaço privilegiado de SOCIEDADEBIT@SOCIEDADEBIT.COM
dinamizar um jornal gratuito, nomeada- interacção com o público leitor, nomeada-
mente O Século, com enorme insucesso. mente através das cartas que podem ser en-
Estes dois casos têm semelhanças na medi- dereçadas ao jornais: o facto de serem pe-
“Artur Albarran
da em que as ideias surgiram descontextua- riódicos que são lidos nos transportes
protagonizou
lizadas das sociedades da época que não es- públicos origina um fenómeno de coesão e
uma tentativa
tavam preparadas para as receber. de uma certa solidariedade pois sabemos
portuguesa de
Hoje em dia, o fenómeno da gratuitidade dos quem são os outros leitores logo, muitos
dinamizar um
jornais está associado ao imediatismo da so- dos assuntos que constam nas cartas ao di-
jornal gratuito,
ciedade actual, numa equação que abrange rector são temas comuns à grande maioria
nomeadamente O
também a sede de informação da maior parte dos leitores, situação que não acontece
Século, com
da população; há um fenómeno mais ou me- com grandes jornais cujos leitores estão
enorme
nos desapercebido, mas de profundas conse- disseminados geograficamente.
insucesso”
quências que se exprime na capacidade de in- Alguns dos jornais gratuitos que são distri-
formar o cidadão – que nem sempre é leitor buídos em várias cidades têm edições dis-
de jornais pagos – sobre as notícias considera- tintas para diferentes locais e a própria pu-
das mais relevantes, assim que sai de casa: é a blicidade, base de sustentação, difere de
informação que vai em busca do cidadão e acordo com os mesmos critérios.
não o leitor fiel que vai em busca do jornal, Ouve-se falar na eventual criação de jornais
cenário que se configura nos jornais pagos. gratuitos especializados em desporto ou
A grande vantagem social destes periódicos em actividades do jet-set. Se aparentemen-
é, desde logo, contribuir para a criação de te serão duas lanças em África, as conse-
hábitos de leitura, fidelizar leitores e criar quências podem ser danosas para os des-
aquilo que se considera serem vícios bons, portivos tradicionais que não contam com
sendo a leitura um deles. receitas publicitárias, o que não acontecerá
Se por um lado surge a discussão sobre se com um eventual gratuito cor de rosa cujo
os jornais gratuitos fazem ou não balançar sucesso se auspicia como um arco íris.

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[Dossier/ Edição de Livros]

INDÚSTRIA LIVREIRA FOLHEADA


Editoras nacionais revelam-se atentas aos novos canais de distribuição

Falta de estatísticas é apenas um dos problemas que afecta actualmente o


sector livreiro, onde a quebra de consumo também já chegou, nada que
impeça as editoras tentarem editar produtos com a maior qualidade possível
POR MÁRIO GUERREIRO E VERA LANÇA

D.R.
o segundo Congresso de Edi-

N tores, realizado de 13 a 14 de
Novembro, na Fundação Ca-
louste Gulbenkian, discutiu-se o fu-
turo do sector, numa altura em que
também os livros são afectados pela
quebra de consumo na sociedade
portuguesa. Sob o lema “O Livro e o
Futuro”, cerca de 70 editores anali-
saram alguns dos principais proble-
mas que afectam o sector livreiro.
Na ocasião, Mário Moura, editora de
Pergaminho e presidente do Con-
gresso, identificou a falta de estatís-
ticas sobre o mercado como um dos
problemas do mercado. Igual opinião
manifestou o presidente da União dos
Editores Portugueses (UEP), Carlos
da Veiga Ferreira. A existência de da-
dos estatísticos permitiria conhecer
“o estado da concorrência”, referiu.
Em análise estiveram também outros
temas como o Plano Nacional de Lei-
DOSSIER

tura, a pirataria ou o papel do Gover-


no. A Media XXI foi ouvir algumas
editoras nacionais, e encontrou opi-
niões diversas sobre o sector. A una-
nimidade existe na resiliência em
continuar a editar, apesar das crescen-
tes dificuldades.
A Editorial Verbo é uma das editoras NUNO GUEDES, EDITORIAL VERBO
de referência no mercado português. Criada em com uma linha de produtos diversificados; desde a
1958, abrange uma vasta gama de áreas e conta Enciclopédia Luso-Brasileira a publicações infan-

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[Dossier/ Edição de Livros]

tis, passando também por reputados autores. A


facturação que esta empresa alcançou em 2005 foi LIVROS A QUALQUER HORA
de 11 milhões de euros, estimando um crescimen-
to na ordem dos 5% - 6% para 2006, tendo em Imagine um serviço de “em-
conta que este ano foram editadas cerca de 180 préstimo” de livros disponível a
obras, não contabilizando as reedições. Nuno Gue- qualquer hora. É esta a base
des, administrador da área comercial e de marke- de funcionamento do mais re-
cente projecto da Câmara Mu-
ting da Editorial Verbo, explica que os critérios em
nicipal da Batalha em conjunto
que se baseiam a escolha dos livros têm em conta a com a biblioteca daquela loca-
continuidade das linhas de maior sucesso da edito- lidade, que contou com o apoio
ra. Igualmente importantes são “o cumprimento financeiro da Fundação Ca-
dos planos de desenvolvimento de produto a lon- louste Gulbenkian. Designado
go prazo, como é o caso dos dicionários e das en- BiblioClube24, o projecto, desenvolvido pela
ciclopédias, para além da aposta em novas linhas Easybook, distingue-se por ser único no país e
promissoras, da análise da oferta que nos chega, permite a requisição de livros 24 horas por dia,
quer de autores nacionais quer de parceiros edito- sete dias por semana, numa máquina especial-
riais estrangeiros, e da oportunidade ocasional”, mente desenvolvida para esta iniciativa. A ideia
diz Nuno Guedes. surgiu com o desafio lançado pela Fundação às
Para garantir o sucesso no mercado, a equipa de bibliotecas nacionais no sentido de se desen-
volver e promover a leitura através de iniciati-
marketing da Editorial Verbo mantém-se sempre
vas diferentes. “Quisemos participar de forma
atenta ao mercado e às suas evoluções. “Temos inovadora e criativa. Pegando nos conceitos de
uma acção importante a nível de marketing direc- proximidade e continuidade e aplicando-os ao
to, apoiando os nossos canais de distribuição nessa tradicional serviço das bibliotecas, surgiu a
área e também no relacionamento com os retalhis- ideia de proporcionar o acesso aos livros em
tas no apoio ao ponto de venda”, diz este responsá- qualquer parte e a qualquer hora”, explica Car-
vel da Editorial Verbo. As novas tecnologias, que la Valente, bibliotecária da Biblioteca Municipal
assumem cada vez mais destaque em muitos secto- da Batalha e responsável pelo projecto. O leitor
res da sociedade, são perspectivadas pela Editorial poderá escolher uma das 170 obras disponíveis
Verbo sem grande relevância num futuro próxi- na máquina através de um cartão magnético
mo, nomeadamente no que diz respeito à distri- que é fornecido pela Biblioteca Municipal.
buição aliada às tecnologias portáteis. Face à pira- Através de um menu de acesso são-lhe indica-
dos os passos a dar na requisição e na de-
taria na indústria livreira, o responsável desta
volução do livro. Após a leitura, o livro deverá
empresa afirma que “é muito difícil tomar medidas ser devolvido na máquina no prazo de cinco
concretas quando a questão de fundo depende da dias e se isso não acontecer, o cartão é blo-
consciência cívica dos cidadãos”. Numa radiografia queado e a informação segue para a biblioteca.
ao actual estado da indústria livreira, Nuno Gue-
des afirma que há uma crise vivida pelas livrarias e
uma concentração crescente nos grandes clientes,
para além de haver um excesso de títulos publica-
“projectos nacionais, e de alta qualidade”. Libório
Manuel Silva, editor da Centro Atlântico, acredita
DOSSIER
dos no mercado e se dar demasiada importância ao que a indústria livreira está actualmente num ponto
“best-seller de ocasião”. “muito interessante”. Para o editor da Centro Atlân-
A editora Centro Atlântico edita anualmente cerca tico, actualmente os “canais de comercialização e os
de 20 livros, no formato tradicional ou em formato demais agentes do sector perceberam que apenas
electrónico (“ebook”), com a prioridade dada a li- existe futuro para projectos profissionais, dinâmicos
vros sobre novas tecnologias e gestão e privilegiando e com comportamentos financeiros aceitáveis”.

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[Dossier/ Edição de Livros]

VERA LANÇA

Passos bem medidos uma atitude mais activa por parte da pessoa”. Mas
“A Saída de Emergência tem crescido mais de 100% “a recompensa também é muito maior”.
por ano”, revela um dos seus editores, António Vila- Relativamente ao “ebook”,António Vilaça Pacheco re-
ça Pacheco. As funções de editor são repartidas com vela-se céptico. “Não me agrada nada ler um livro em
o seu irmão, Luís Corte-Real. A evolução da editora suporte informático e não considero que seja práti-
tem-se feito de “passos muito pequenos e bem me- co”. O que não quer dizer que “não hajam novidades
didos”, sem uma preocupação pelos números. Em que façam do ‘ebook’ uma alternativa melhor no futu-
2005, o volume de negócios ultrapassou ligeiramen- ro”, ressalva. Quanto aos “audiobooks” a opinião é di-
te os 500 mil euros, e para 2006 deverá rondar um ferente. “Eu próprio sou consumidor, mas não creio
milhão. Em 2007, o catálogo da editora rondará os que uma coisa substitua a outra”. Para António Vilaça
45 títulos, a maioria deles “underground”, diz. “São Pacheco, os “ebooks” e “audiobooks” “vão trazer uma
nichos de mercado para um grupo de leitores bas- problema grave”. “Não há forma de controlar a pirata-
tante restrito”, completa. O editor dá um exemplo ria e ela é muito fácil na internet”, diz.
das diferenças entre mercados: “Podemos muito fa- “Recomenda-se, pois é bastante procurada por mui-
cilmente publicar um livro de ficção fantástica que tos autores, sobretudo que editam pela primeira vez
nos EUA atingiu o primeiro lugar nos tops de ven- e que sentem alguma dificuldade junto de outras
das, e vê-lo vender mil ou dois mil exemplares”. Fa- editoras”, diz Ângelo Rodrigues sobre a Editorial
zendo um retrato dos consumidores, é da opinião Minerva, de que é editor. “Desde 1927 que a edito-
que “as pessoas experimentam pouco no que diz res- ra tem uma filosofia de edição que se traduz na pro-
peito à leitura”. O que é agravado, continua, pela di- cura e apoio de autores novos”, completa.
DOSSIER

ficuldade em conseguir que os “media passem esta Sobre o actual estado do sector, Ângelo Rodrigues
realidade aos leitores”. afirma que este “necessita de apoios que se devem
António Vilaça Pacheco admite que a Saída de traduzir no incentivo à leitura e aquisição de li-
Emergência está “um pouco à parte” do que se vros”. A maioria das editoras deste país queixa-se
passa no mercado livreiro, devido à sua natureza de não recebere encomendas de livros por parte
recente. Ainda assim, acredita que “se publica mais das bibliotecas públicas, incluindo a Editorial Mi-
do que o que se lê”. Sem querer “cair no discurso nerva, diz.
de que se lê pouco em Portugal”, António Vilaça Sobre os novos formatos digitais de livros, Ângelo
Pacheco acredita que, quando comparado com ou- Rodrigues considera que ainda são “produtos resi-
tros hábitos como o de ir ao cinema, ler “exige duais”, que não irão substituir o livro tradicional.

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[Dossier/ Edição de Livros]

LIVROS E SAÚDE
Editoras da área da saúde apostam na qualidade e rigor

Editoras especializadas como a PsicoSoma e Climepsi reconhecem as


dificuldades actuais do mercado, mas recusam-se a abdicar dos critérios
de excelência que reconhecem nas suas obras
POR MÁRIO GUERREIRO E VERA LANÇA

ditam o que se convencionou chamar de li- na no ano seguinte. Para já, o objectivo consiste

E vros técnicos, em particular no campo da saú-


de, e ajudam a formar milhares de profissio-
nais do sector com os seus títulos. Para as editoras
em criar um catálogo de obras de qualidade, a que
se seguirá a compra de direitos no estrangeiro. Ao
editar um livro, a PsicoSoma preocupa-se, antes
Psicosoma e Climpesi, as novas tecnologias já não de mais, com a validade científica das obras, pois
são desconhecidas, mas o seu maior mercado con- até agora tem publicado trabalhos resultantes de
tinuam a ser as livrarias das universidades e os adaptações de teses de mestrado ou doutoramen-
congressos médicos. to. A estratégia de marketing da PsicoSoma baseia-
Apesar de ser uma empresa estabelecida há menos -se, principalmente, na divulgação online dos seus
de dois anos, a PsicoSoma, que edita livros nas produtos, para além de recorrer ao marketing di-
áreas da Saúde e Educação, tem alcançado resulta- recto em bancas e exposições em congressos dedi-
dos positivos no mercado. “O nosso volume de ne- cados a temáticas que abrangem a área da editora.
gócios aumentou do último ano a esta parte na or- “Porém, a ideia é sermos procurados pelo cliente,
dem dos 250%, o que é muito animador para nós o marketing servirá apenas para facilitar esse aces-
e a evolução perspectiva-se muito positiva”, afirma so ao cliente”, esclarece Fernando Rodrigues. Para
Fernando Rodrigues, director executivo da Psico- garantir uma distribuição mais eficaz dos seus li-
Soma. A actividade desta empresa não se limita vros e garantir uma maior expansão no mercado, a
apenas à edição de livros, é antes, nas palavras de PsicoSoma estabeleceu um acordo com a Climepsi
Fernando Rodrigues, “um conceito mais alargado Editores, outra editora na área da Saúde.
de Saúde”. A empresa tem uma Livraria Técnica de Para o director executivo da PsicoSoma, a indús-
Saúde e Educação, uma componente de formação, tria livreira encontra-se “numa fase de transição e
que abrange formadores, Doutora-mentos e Pós- de adaptação às novas tecnologias e aos novos inte-
Graduações, e a Clínica de Empresas, em que a resses dos leitores, por isso temos que especificar
DOSSIER

PsicoSoma trata, por exemplo, da consultoria ou cada vez mais os nossos serviços”, explica.
da assessoria. Mas a acção da PsicoSoma não se fica Segundo Fernando Rodrigues, o
por aqui, pois dedica-se também à Clínica da Saú- livro continuará sempre a ter a sua
de, ligada a actividades como a Psicologia e a Edu- mística e não poderá ser reinven-
cação Especial, e à Unidade de Investigação, por tado. “Os ebooks não pegam. O
enquanto ainda limitada à área das Neurociências. que acontece é que algumas pes-
Por ser uma empresa recente e devido à sua área soas imprimem os ebooks, mas
de especialização, a PsicoSoma editou em 2006 com os preços que são pratica-
apenas cinco obras, e conta editar mais uma deze- dos hoje em dia, acho que
FERNANDO RODRIGUES, DIRECTOR EXECUTIVO DA PSICOSOMA

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[Dossier/ Edição de Livros]

MÀRIO GUERREIRO

algumas edições durante a década de 80, decide


investir “mais a sério” na área com a criação da
Climepsi Editores. Dez anos volvidos, a editora é
hoje uma referência para a comunidade médica e
científica, especialmente no campo da psiquiatria e
doenças mentais, refere João Cabral Fernandes.
“Aproveitámos o crescimento das faculdades de
psicologia e neste momento já vamos no segundo
curso de psicólogos em que temos textos de refe-
rência”, diz. No início, a editora tentou suprir a la-
cuna de obras de qualidade, dado que a maioria
dos títulos existentes no mercado eram brasilei-
ros, longe das referências europeias científicas. A
forma encontrada foi a apresentação de traduções
“de qualidade e rigor” de livros estrangeiros, em
particular anglo-saxónicos. Neste momento a edi-
tora já conta com obras de vários nomes nacionais
de peso da comunidade científica e médica nacio-
nal, como António Coimbra de Matos e Amaral
Dias. Os parâmetros são sempre os mesmos: “edi-
tar títulos com rigor e qualidade”.
Recentemente, a editora tem publicado também
títulos de âmbito mais geral, nos campos da medi-
JOÃO CABRAL FERNANDES, EDITOR DA CLIMEPSI EDITORES cina, história, direito e filosofia. Com cerca de 300
obras editadas em 10 anos de existência, 2006 foi
os preços que são praticados hoje em dia, acho que até à data o ano em que a Climepsi mais livros edi-
não vale a pena”, afirma. O responsável da tou, muito por culpa do primeiro volume da co-
PsicoSoma mostra-se crítico da pirataria crescente lecção Crescer e Viver. Com uma média anual de
de livros. “Quem fotocopia está a limitar a publi- edições a rondar os 30 títulos, em 2006 a Climepsi
cação de obras em português. Ao copiar vende-se já editou 60 livros, devido aos 14 títulos incluídos
menos e as editoras apostarão menos no mercado na colecção Crescer e Viver.
português que já por si é muito pequeno”, explica. Em 2007, a editora pretende apostar forte na edi-
ção de livros acompanhados de suportes multimé-
Climepsi quer continuar a ser editora de dia, como CD’s ou DVD’s. Um esforço suplemen-
referência tar, refere João Cabral Fernandes, muito por culpa
João Cabral Fernandes, médico psiquiatra e editor
da Climepsi Editores começou a editar livros no
início da década de 70, em edição de autor, e de
da taxa de IVA elevada aplicada a estes suportes. O
editor também defende um maior apoio estatal para
os livros técnicos, devido à sua importância na for-
DOSSIER
carácter político, “em particular no campo da opo- mação e características particulares: tiragens mais
sição ao estalinismo” e sobre a “natureza do estado reduzidas e um maior investimento nas paginações.
soviético”, diz. A partir de 1975, depois de inter- Além dos congressos do sector, e os títulos vendi-
rompido o curso de psiquiatria, começa a editar dos nas livrarias, a Climepsi vende também vários
alguns manuais e livros da área. O lançamento da exemplares e “encomendas grandes” através do seu
primeira edição do manual de doença médicas site. “O Brasil é um dos países onde vendemos
DSM IV revestiu-se de sucesso, e depois de mais mais livros”, através do site, diz.

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[Dossier/ Edição de livros]

NOVOS AUTORES NA PRIMEIRA PESSOA


Editoras arriscam menos em nomes desconhecidos

Novas tecnologias podem servir de divulgação para novos autores, que


cada vez mais têm dificuldades em encontrar editoras com vontade de
arriscar em valores desconhecidos

VERA LANÇA
POR MÁRIO GUERREIRO

tenta-se na primeira página de “Sr. Bentley, o

A Enraba-Passarinhos” e o aviso fica dado. “Con-


tém palavras feias como, por exemplo, políti-
co ou outras acabadas em alho”, lê-se. O livro, lan-
çado este ano pela Saída de Emergência, é da
autoria de Ágata Ramos Simões, que antes já tinha
editado outros dois livros. “Lisboa Singular”, edita- mes-
do em fomato digital e “print-on-demand” “por mo co-
uma editora francesa que já fechou, a mo forma
www.00h00.com”, e ainda “Á Procura de um Li- de um autor
vro”, pela Ulmeiro, que “nunca me pagou um tos- “auferir remu-
tão”, acusa. Entre livros editados e que nunca saí- neração”. E dá o
ram da gaveta, Ágata conta 14. No seu blog, exemplo de Cory Docto-
www.escrita.blogspot.com, disponibliza algumas row, para quem o facto de ter “dado a sua obra de gra-
dessas narrativas. A jovem autora já nem se lembra ça na internet serviu para que esta lhe rendesse
a quantas editoras enviou as suas obras, mas há mais”. Para este jovem autor, por várias vezes Jo-
pouco tempo decidiu limpar a sua “gaveta das re- vem Criador em literatura e autor do guião de
cusas”. Contou 37 cartas de recusas. A da Saída de uma curta-metragem, “o mais frustrante” nas car-
Emergência foi uma das respostas positivas que re- tas de recusa “é a escassez de linhas dedicadas à
cebeu e a sua “experiência mais feliz. Enviei o livro avaliação da obra”. Uma “carta de recusa bem fun-
a uma terça e na quarta-feira o editor mandou-me damentada serviria para que o autor percebesse o
um mail a informar-me que queriam publicar”. que levou a editora a recusar o texto e para que o
Sobre os critérios das editoras admite perceber reelaborasse”, aconselha. Desde 2005 que este jo-
DOSSIER

que “é um negócio” e que estas “não se podem dar vem autor tem enviado a várias editoras a proposta
ao luxo de perderem dinheiro”. Para Ágata, resta de um livro de poesia, e a partir de 2006 um ou-
aos novos autores “persistir, persistir, persistir até tro volume, de narrativas curtas, contos e novelas.
à morte.”A jovem autora acredita que a web pode Ambos têm sido sempre rejeitados. O de poesia já
ser um bom local de divulgação de novos talentos, foi recusado com a “desculpa de a editora ter dei-
mas não se deve “depositar por completo as espe- xado de editar poesia”, para “depois saber que esta
ranças de divulgação apenas na internet”, conclui. ia lançar um livro” do género.Também ele preten-
Outro jovem autor, contactado pela Media XXI, de continuar a tentar, em especial o seu livro de
mas que preferiu manter-se anónimo acredita “pia- ficção. “Para minha própria defesa, mantenho-me
mente na internet como meio de publicação”, e céptico”, confessa.

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[Dossier/ Edição de livros]

NOVOS MODOS DE LER


“Audiobook” e “ebook” aumentam a sua popularidade
Avanços tecnológicos têm permitido uma maior democraticidade na
utilização de formatos alternativos de livros, que são cada vez mais uma
opção cultural válida, com uma distribuição mais simples
POR MÁRIO GUERREIRO

” audiobook” ressurge actualmente como uma trabalhos de poesia e 52 contos. O LibriVox “baseia

O alternativa ao livro tradicional. Por trás deste


ressurgimento estão as novidades tecnológicas
no campo do áudio, e em especial no áudio portátil.
a maioria do seu trabalho nos textos presentes no
Projecto Gutenberg (o maior arquivo mundial de
ebooks de domínio público)” e re-corre ao volunta-
Com a generalização de oferta de leitores Mp3, riado de colaboradores, que gravam em registo áu-
tem crescido a oferta de livros em formato áudio. dio o que antes existia escrito. Para Hugh McGuire,
Os “audiobooks”, com as suas reconhecidas vanta- o futuro dos “audio books” é “fantástico”. “Espero
gens para pessoas com limitações visuais, começam que o LibriVox e outros projectos semelhantes aju-
também a ser opção para quem não tem tempo pa- dem a apresentar obras maravilhosas a pessoas que,
ra desfolhar as páginas de um livro, ou que prefere por alguma razão, não tomassem a decisão de as
ouvir uma obra lida por uma voz conhecida. À op- ler”, finaliza.
ção comercial das editoras juntam-se também pro-
jectos apoiados na democracia da internet, que re- “Ebooks” nacionais
correm a obras de domínio público, como é o caso “Um espaço online dedicado ao livro digital em lín-
do LibriVox (www.librivox.org), criado em 2005 gua portuguesa”, assim descreve João Carvalho a
pelo escritor e engenheiro canadiano Hugh McGui- editora Neolivros (neolivros.com), que editou em
re. Em entrevista à Media XXI, McGuire refere que finais de 2001 os seus primeiros títulos, em forma-
o projecto “nasceu da ideia de criar uma comunida- to “ebook”. Entre as primeiras publicações encon-
de ‘open-source’ que produzisse ‘audio books’ a tram-se alguns autos de Gil Vicente e Os Lusíadas.
partir de obras de domínio público”. Sem qualquer João Carvalho revela que as estatísticas de down-
objectivo comercial, o LibriVox disponibiliza “163 loads de “ebooks” no site da Neolivros revelam
livros integrais em inglês, e 33 outras obras nas “um especial interesse pelos clássicos, com o ‘O
mais variadas línguas”. A estes juntam-se ainda 99 Crime do Padre Amaro’ no topo”. Nos livros ori-
ginalmente editados pela Neolivros, as preferên-
cias de quem acede ao site recaem sobre “Timor –
Paraíso do Oriente”, de Alexandre Gominho.
Para o responsável da Neolivros, “o livro digital
apresenta vantagens óbvias como a acessibilidade, a
portabilidade ou o custo”. A preferência ainda vai
para os livros tradicionais, admite João Carvalho.
Mas tecnologias recentes como a “e-ink”, podem
“significar um importante avanço na adopção do for-
mato digital”.Afinal, “carregar uma biblioteca pesso-
al, mesmo que num pequeno equipamento electró-
nico, parece particularmente aliciante e útil”.
SITE DA NEOLIVROS, ATRAVÉS DO QUAL SE CHEGA AOS “EBOOKS” DISPONI-
BILIZADOS PELA EDITORA

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[Olhares]

INTITULADA “VOMITO O CORPO QUE ATRAVESSOU O ESPAÇO DO MEIO”, ESTA É UMA DAS IMAGENS DE ANA
LÚCIA CRUZ QUE COMPÕEM O TRABALHO COM QUE FOI ESCOLHIDA COMO PARTICIPANTE NA MOSTRA JOVENS
CRIADORES 2006, NA CATEGORIA DE FOTOGRAFIA.
ESCREVE A AUTORA SOBRE ESTA SUA OBRA: “ESTE TRABALHO DECORRE DE UMA TENTATIVA DE PENSAR O
CORPO E O LUGAR DO CORPO. UM CORPO EXTENSO, ALTO, LARGO, E PROFUNDO. TRATA-SE DE UM CORPO QUE
TEM A CAPACIDADE DE CONTER, CONSERVAR, ENCERRAR DENTRO DE SI. EXISTEM JANELAS, PORTAS DE
ACESSO, QUE PERMITEM A ENTRADA NESSE ESPAÇO DE DENTRO.”

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[Opinião/ Francisco A. Van Zeller]

A EXCEPÇÃO DA PUBLICIDADE ONLINE

mercado publicitário nacional está Reestruturou, fundiu, cortou custos,

O nos níveis de 2000. Este ano deverá


voltar a desiludir, crescendo a ritmo
modesto de 1%, significando que em ter-
aguardando por melhores dias.
É certo que dificilmente serão recuperados
os montantes investidos. Mas a manter-se es-
mos reais haverá nova regressão, tal como ta tendência de crescimento do mercado, há
aconteceu em 2005. A excepção nesta rea- fortes perspectivas de muitos projectos onli-
lidade algo desoladora parece estar no seg- ne de media se tornarem, enfim, rentáveis.
mento da publicidade online. Não há indi- Apesar de ainda ser pouco relevante para os
cadores totalmente fiáveis, mas no ano nossos anunciantes, a comunicação social
passado a publicidade online deverá ter online conta, sobretudo no nosso país. Em
crescido 40% para oito milhões de euros. Portugal lêem-se poucos jornais, ouve-se FRANCISCO A. VAN ZELLER
Este ano poderá valer entre 12 a 15 mi- pouca rádio e vê-se muita televisão. A inter- SECRETÁRIO-GERAL DA
lhões de euros, registando-se novo cresci- net pode de certa forma ajudar a atenuar es- CONFEDERAÇÃO DOS MEIOS DE
mento robusto. É claro que ainda se trata te desequilíbrio, já que permite uma con- COMUNICAÇÃO SOCIAL
de valores simbólicos num mercado global vergência de todos os meios na mesma
de 650 milhões de euros. Mas para quem plataforma e que quase todos os conteúdos “Pela natureza
lida com projectos online este é finalmente veiculados sejam gratuitos e de fácil acesso. própria da web,
o sinal pelo qual tantos anos aguardaram. À medida que se torna universal (mais de os conteúdos
Os investimentos realizados – alguns bem 94% dos estudantes acedem à Internet, da- produzidos
pesados – pelos media tradicionais com vista dos do INE) e que os hábitos mudam, cada estimulam uma
a assegurar uma presença efectiva na inter- vez mais se consome – e produz – media a maior
net nunca foram recuperados. Ao longo des- partir desta plataforma em detrimento das interactividade do
tes cinco a dez anos criaram-se unidades de outras (e para muita gente o online já é a que os meios
negócio dentro dos grupos, redacções pró- única fonte de informação). Acresce que, tradicionais”
prias para o online, contrataram-se progra- pela natureza própria da web, os conteúdos
madores e comerciais, investiu-se em mar- produzidos estimulam uma maior interacti-
keting. E perdeu-se muito dinheiro. As vidade do que os meios tradicionais.
alternativas às receitas da publicidade, como Por todas estas razões o forte crescimento
as assinaturas, não funcionaram. Os estudos do mercado publicitário online é uma boa
apontam para uma enorme resistência ao notícia, não só para quem aguardou tanto
pagamento de conteúdos media, por muito tempo para recuperar algum investimento,
premium que sejam. mas sobretudo para a toda sociedade, que
A maior parte dos grupos de media, no en- vê assegurada maior diversidade no tipo e
tanto, não desistiu da sua presença online. quantidade de conteúdos media.

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[Actualidade Imprensa]

CRIAR IMPACTO EM PORTUGAL


Impactus foi a publicação pioneira sobre sustentabilidade empresarial no país

Lançada em 2004, a Impactus assume o objectivo de informar sobre


sustentabilidade empresarial, uma lacuna que existia até então na
comunicação social portuguesa e que a evolução do mercado permitiu
ultrapassar
POR VERA LANÇA

primeiro número da Impactus saiu em Abril Impactus estabeleceu uma série de parcerias com

O de 2004 e desde então que esta revista tri-


mestral continua aquela que assumiu como a
principal tarefa – agitar as águas e esclarecer sobre
empresas e instituições internacionais, reconheci-
das a nível europeu e mundial na área da sustenta-
bilidade empresarial, que são consideradas um fac-
a importância da sustentabilidade empresarial. tor crítico de sucesso para a qualidade dos
Este projecto da Companhia do Texto, estimulado conteúdos da revista. “As parcerias estão estrutu-
pelos exemplos existentes nos mercados norte- radas em duas áreas distintas”, esclarece Rita
-americano e europeu, surgiu numa altura em que, Almeida Dias. “Na área editorial, as parcerias ma-
segundo a Rita Almeida Dias, publisher da terializam-se num conjunto de
Impactus, o mercado português conteúdos que poderão
atravessava uma recessão revestir géneros
que afectava também jornalísti-
o sector editorial, cos tão di-
mas em que as ten- ferentes co-
dências internacionais mo artigos de
apontavam para um opinião, entre-
crescimento favorável. “A vistas ou repor-
antecipação da oportuni- tagem. Por outro
dade de mercado permitiu- lado, a internacio-
nos posicionarmo-nos como pio- nalização da Impactus
neiros e especialistas na produção e obrigou ao estabelecimento
edição de conteúdos sobre sustenta- de parcerias ao nível da dis-
bilidade e responsabilidade empresa- tribuição da versão inglesa
rial”, afirma. da revista, ao promover o
acesso através de um conjunto
D.R.

Edição bilingue de sites frequentados por mi-


Uma das características da Impactus é a sua edição lhares de cidadãos de todo o mundo com interesse
bilingue, em português e inglês. A edição portugue- e responsabilidade profissional nesta área” conclui.
sa, que actualmente conta com uma tiragem de Para Rita Almeida Dias, o tecido empresarial portu-
2500 exemplares, pode ser consultada na versão guês está hoje mais sensibilizado para as questões de
impressa e descarregada no site da revista, enquanto responsabilidade e desenvolvimento sustentável
que a edição em inglês pode ser apenas consultada empresarial do que na altura em que a Impactus co-
em versão online. Para poder disponibilizar aos seus meçou a ser editada, apesar de ainda haver um lon-
leitores os melhores conteúdos possíveis, a go caminho a percorrer nesse sentido.

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[Actualidade Rádio]

POR ONDE PASSA A MÚSICA?


PassMúsica pretende cobrar direitos conexos

Associação PassMúsica, formada por artistas e produtores musicais,


propõe-se a cobrar os direitos conexos na rádio e espaços públicos
POR PAULA DOS SANTOS CORDEIRO

presentada em Novembro, a PassMúsica, asso- tros comunitários, escolas e cafés, são

A ciação de utilidade pública que reúne artistas


(GDA) e produtores fonográficos (Audio-
Gest), vai proceder à cobrança de Direitos
alguns dos vários locais onde a medi-
da deverá ser aplicada.
A defesa da produção e
Conexos na rádio e espaços públicos. Ginásios, sa- divulgação da música
las de espera, feiras, exposições, casamentos, cen- nacional tem sido ob-
jecto de discussão e
adopção de medidas recentes na rádio, com a in-
trodução de quotas de música portuguesa e co-
brança de direitos conexos. As medidas vão agora
mais longe, para obrigar ao cumprimento da Lei e
defender os interesses dos artistas e produtores de
música.
A problemática da cobrança dos direitos conexos
remonta ao início da década de 90 e está consagrada
no Código do Direito de Autor e dos Direitos
Conexos, que estabelece a necessidade de autoriza-
ção para a execução pública de música gravada, e o
direito dos artistas e produtores serem remunera-
dos pela comunicação pública dos seus trabalhos.

REESTRUTURAÇÃO DA CONCESSIONÁRIA DO SERVIÇO PÚBLICO DE RÁDIO

O Governo apresentou em Novembro uma Proposta de Lei de reestruturação da concessionária do serviço público de
rádio e televisão, para concluir o processo iniciado em 2003, de reestruturação empresarial do sector. Desta forma, a
proposta apresentada pretende integrar a RTP – serviço Público de televisão, da RDP e da RTP – Meios de Produção,
numa só sociedade comercial, designadamente a RTP – Rádio e Televisão de Portugal, S.A., mantendo a marca RDP
e RTP e a autonomia editorial da rádio e da televisão, num sistema administrativo de gestão e direcção editorial, no
qual os directores de conteúdos são responsáveis pela informação e programação.
A proposta apresentada pretende reforçar a avaliação do cumprimento do serviço público, enquanto competência da
Assembleia da República e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. O documento afirma ainda que o re-
forço dos poderes e da representatividade do Conselho de Opinião, que passa a poder ouvir os directores de conteú-
dos. A proposta pretende acabar com a designação governamental dos seus membros, reduzindo o número destes e
aumentando os que são designados pela Assembleia da República e pela sociedade civil.

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[Actualidade Televisão]

NOVA LEI DA TELEVISÃO APROVADA


Legislação inclui segundo canal em concessão única de serviço público

Diploma impede que sejam efectuadas alterações de programação pelos


quatro canais, sem uma antecedência mínima de 48 horas
POR MÁRIO GUERREIRO

16 de Novembro, o Conselho de Ministros

MÁRIO GUERREIRO
aprovou na generalidade a nova proposta de
lei de televisão, que entre as alterações mais
polémicas inclui a integração da 2: numa conces-
são única de serviço público, e a impossibilidade
de serem efectuadas alterações nas grelhas de pro-
gramação dos canais sem um mínimo de 48 horas
de antecedência. Na mesma data, o executivo so-
cialista aprovou também uma proposta que pre-
tende proceder à reestruturação da concessionária
do serviço público de rádio e televisão. Como se-
gunda proposta, é efectuada uma revisão do regi-
me jurídico do sector empresarial do Estado na
área do audiovisual, passando a actual sociedade
Rádio e Televisão de Portugal, S.G.P.S., S.A. a res-
ponder pela denominação de Rádio e Televisão de necessidade de se preparar o lançamento da
Portugal, S.A. O Governo garante, no entanto, Televisão Digital Terrestre.
que a RTP e a RDP irão continuar a gozar de auto-
nomia editorial. Maiores obrigações do serviço público
No anteprojecto de proposta da Lei da Televisão, Com a nova Lei da Televisão, a tutela espera ditar
agora em consulta pública, o Governo apresenta as novas obrigações para o serviço público. Uma das
suas razões para se rever a lei de 2003. A primeira medidas é a criação de um contrato de concessão
dessas razões tem a ver com o facto do segundo revisto a cada quatro anos, “com fixação de objec-
canal ter sido “remetido para um estatuto atípico tivos e critérios qualificativos e quantitativos de
de concessão de serviço público”. Situação que se avaliação”.
pretende resolver com a nova legislação, ao inserir Com o objectivo de “densificar as obrigações dos
o canal na concessão única de serviço público, em operadores”, o Governo pretende criar “deveres
substituição do actual molde em que a sociedade de informação acrescida em casos de alteração de
civil tinha lugar na programação. O executivo programação anunciada”, colocando assim limites
aponta também como justificativa para a alteração à chamada contra-programação dos canais. Assim,
da lei a “pouca exigência” das condições para “atri- qualquer alteração à grelha de um canal tem de ser
buição, renovação, revogação e modificação de li- anunciada com um mínimo de 48 horas de antece-
cenças” de televisão, quando as licenças para a dência. Para os canais privados, a nova lei irá tam-
emissão dos canais privados foram alvo de renova- bém ditar novos “incentivos à adopção de formas
ção controversa ainda recentemente. Outras das de auto-regulação”, na forma de códigos de con-
razões invocadas para a alteração da actual lei é a duta, exemplifica o documento.

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[ Actualidade SI]

WINDOWS VISTA CHEGA EM JANEIRO


Microsoft confiante no sucesso do seu novo sistema operativo

O software, estará disponível apenas em Janeiro para utilizadores


particulares, mas já se encontra à disposição das empresas
POR MÁRIO GUERREIRO

presentado com pompa e circunstância numa

D.R.
A entrevista colectiva realizada na sede da bolsa
electrónica NASDAQ, a 30 de Novembro, o
novo sistema operativo da Microsoft apresenta no-
vidades gráficas e sobretudo uma maior agilidade
de utilização, com comandos práticos, e de voz e
uma melhor procura interna no computador. O
Windows Vista foi apresentado juntamente com os
outros dois produtos estrela do gigante norte-
-americano para o próximo anos: as versões para
2007 do Office e do programa de mensagens
Exchange. IMAGEM DO WINDOWS VISTA
Coube a Steve Ballmer, presidente executivo da
Microsoft desde 2000 a apresentação do pacote de mente a luz do dia agora, e Steve Ballmer acredita
programas, já disponível para empresas, mas a que que “200 milhões de pessoas vão usar pelo menos
os utilizadores privados poderão ter acesso só a um destes produtos até o final de 2007”. O facto
partir de 30 de Janeiro. Descrito como o “maior do novo Windows Vista e Office só estarem dispo-
lançamento da história da Microsoft”, o Windows níveis a partir de Janeiro para o utilizador comum
Vista é a primeira actualização do sistema operati- motivou várias críticas por parte dos fabricantes
vo Windows (usado em 90 por cento dos compu- de computadores pessoais, que esperavam poder
tadores mundiais) em cinco anos e sofreu vários disponibilizar o novo sistema operativo nos seus
atrasos na sua apresentação ao público. Vê final- computadores já na época de Natal, aumentando
assim consideravelmente as suas vendas. As acções
D.R.

da empresa caíram três pontos percentuais depois


do anúncio que o Windows Vista só iria ser comer-
cializado para os utilizadores particulares no final
de Janeiro. Os programas Windows e Office re-
presentam actualmente dois terços das vendas da
Microsoft.
Steve Ballmer mostrou-se confiante nos novos
produtos da Microsoft para 2007. “Estes novos
produtos apresentados representam o trabalho
mais avançado que a Microsoft já realizou, e acre-
DA ESQUERDA PARA DIREITA: SHAYGAN KHERADPIR, DA VERIZON dito que são o sinal de uma nova vaga de inovação
COMMUNICATIONS, MICHAEL WOLF DA MTV NETWORKS E STEVE BALLMER, que irá ter um impacto ainda mais profundo du-
DA MICROSOFT DURANTE A APRESENTAÇÃO MUNDIAL DO WINDOWS VISTA rante a próxima década”, declarou.

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ed.90 06/12/12 11:23 Page 26

[Actualidade Publicidade e Marketing]

UM TIRO CONTRA A SIDA


Ogilvy e MTV apresentam campanha global
A campanha “Turn on TV” já está em exibição no canal musical e
pretende ser alargada a outros meios a partir de Janeiro. O objectivo é
chamar a atenção dos jovens para a problemática da SIDA
POR MÁRIO GUERREIRO

erca de mil milhões de espectadores da MTV xar a mensagem: “Se tens muito amor para dar, pro-

C têm tido a oportunidade de ver, desde o dia 1


de Dezembro, Dia Mundial da SIDA, uma sé-
rie de 24 filmes alertando para a problemática da
tege-te a ti e aos outros. Usa preservativo”.
Segundo Edson Athayde, vice-presidente criativo da
Ogilvy Portugal “havia uma série de linhas possíveis
SIDA. O desafio foi lançado à escala mundial pelo no briefing da MTV. Interessaram aquelas que fugis-
canal, e no lote final de filmes contam-se quatro sem ao mais banal. (...) Daí que focamos temas como
desenvolvidos pela Ogilvy, tendo a Ogilvy o risco que as mulheres heterossexuais sofrem e a
Portugal produzido um dos spots. questão da bissexualidade”. Para Lorenzo De Stefani,
Relembrando que as mulheres heterossexuais até director da MTV Portugal, este “projecto interpreta
aos 30 anos representam o grupo em que as infec- na perfeição o conceito ‘Glocalização’ aplicado à cria-
ções por HIV e SIDA mais têm aumentado, o spot tividade, ou seja, estamos perante um projecto local
“Tiro” mostra o que acontece a várias mulheres jo- que se torna global e vice-versa”.
vens depois de terem relaçõe sexuais sem preserva- Os filmes publicitários inserem-se na campanha
tivo com um homem infectado com o vírus da SI- “Turn on TV”, do projecto Staying Alive, criada
DA: são alvejadas pelo mesmo após o acto. Por sua como resposta ao repto lançado pelo então secre-
vez, o spot “Apaixonado”, na sua versão realizada tário-geral das Nações Unidas, em 2004, a uma
em Portugal, centra-se na bissexualidade para dei- mobilização dos media mundiais na luta contra a
SIDA. O projecto Staying Alive surgiu em 1998,
no canal musical, na forma de um documentário
onde era abordada a vida de seis jovens infectados
com o vírus da SIDA, provenientes de vários paí-
ses. Para a campanha, sete das maiores agências de
publicidade e marketing mundiais criaram spots,
entre elas a Ogilvy. Todas as agências dispensaram
o pagamento dos direitos de exibição dos spots
nos vários meios em que estes irão ser exibidos,
como forma de chegarem a uma maior audiência.
A campanha da MTV, que irá ser alargada a pos-
ters, websites, conteúdos mobile e postais, irá es-
tar a correr durante os primeiros três meses de
2007. Reconhecendo que no mês de Dezembro é
difícil alargar a campanha a outros meios, devido à
pressão publicitária, Lorenzo De Silvestri acredita
que a partir de Janeiro já será possível exibir a
campanha noutros media.

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[Actualidade Tecnologia]

A INTELIGÊNCIA DE NEGÓCIOS
SAS Fórum Portugal discutiu Business Intelligence

SAS Fórum Portugal discutiu tendências e características dos modelos


baseado em Business Intelligence. O evento contou com a participação de
vários especialistas
TEXTO E FOTOS POR DULCE MOURATO

SAS Fórum Portugal, realizado entre 30 e 31 soluções deve-se optar

O de Outubro, trouxe a Portugal um conjunto


de especialistas em Business Intelligence
(conhecimento e inteligência de negócios), mode-
pela criação de um
Business Intelligence
Competency Centre
lo que possibilita a recolha, análise, gestão, repar- (BICC) que coordena
tição e monitorização de informações que se aliam de forma efectiva os
ao suporte decisional do software SAS para dife- recursos (pessoas e
rentes sectores como os media, a banca, os segu- tecnologias) em todo o
ros, a indústria ou a administração pública. seu potencial”.
Desde 1976 que o SAS tem por objectivos dar aos Também José Tribolet,
clientes exemplos concretos de sucesso e o poder professor catedrático
de conhecer e decidir, apoiados pelo software de do Instituto Superior
Business Intelligence e Analítico que responde “às Técnico e consultor de
questões estratégicas das organizações: controlo Sistemas de Informação JOSÉ TRIBOLET, PROFESSOR DO IST E
de custos, aumento de lucros, eficiência e transpa- sustentou uma teoria CONSULTOR SI
rência financeira entre outros domínios”. que iguala o desem-
Álvaro Faria, director geral do SAS Portugal, ini- penho das empresas à capacidade de se controlar
ciou o evento, que jun- de um avião, pois ambos (empresas e aviões) são
tou cerca de 750 parti- “sistemas complexos que interactuam em tempo
cipantes nacionais e real com outros sistemas complexos em contex-
internacionais. “Temos tos dinâmicos e turbulentos”. José Tribolet relem-
uma experiência de brou as profundas alterações e realidades trazidas
trinta anos a desenvol- pelo século XXI, como por exemplo a dialéctica
ver ferramentas” que emergente entre o global e o local, que graças à
permitem um maior comunicação extrapolam e entrecruzam as suas
conhecimento entre os fronteiras.
departamentos das em- Para o professor, “quando se reconhece que se está a
presas, relembrou. O lidar com sistemas dinâmicos caóticos, por vezes o
director-geral do SAS absurdo impera. Há que usar a engenharia organiza-
Portugal deixou ainda cional (…) para tomar qualquer decisão normal ou
o conselho de que “de- de crise. Só se aprende a voar voando e é a acção
ÁLVARO FARIA, DIRECTOR GERAL DO pois de uma organiza- organizada de humanos e máquinas que põem a
SAS PORTUGAL ção investir nas nossas empresa a voar”, concretizou José Tribolet.

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[Evento/ Directions 2006]

COMPETITIVIDADE EM DEBATE
Directions 2006 da IDC analisou as orientações das TI e de gestão

Foram dois dias de debate e apresentação das mais recentes tendências


do mercado das Tecnologias da Informação (TI) e de gestão para mostrar
às empresas por onde passam a competitividade e produtividade
TEXTO E FOTO POR VERA LANÇA

rganizado pela IDC, o Directions 2006, que nova geração europeia no que toca à gestão de ne-

O se realizou nos dias 10 e 11 de Outubro na


Culturgest, em Lisboa, reuniu quase três de-
zenas de oradores de renome que partilharam com
gócios. As honras de abertura do Directions 2006
couberam ao sueco que manteve o auditório quase
cheio sempre atento ao seu discurso muito anima-
a audiência as suas ideias sobre a produtividade, ino- do. O mote da sua apresentação foi que as empresas
vação e transformação do negócio sob os efeitos da se têm que tornar mais “sexy”, ou seja, mais apelati-
globalização. Os vários painéis de oradores analisa- vas na sociedade actual em que os negócios baseiam
ram, ao longo dos dois dias do evento, o peso que o seu core bussines na imitação de outros produtos
a inovação das Tecnologias da Informação e de sucesso. “Os humanos aprendem pela imitação
Comunicação (TIC) poderá ter na transformação porque não gostam da incerteza”, afirmou. “Para se
dos processos de negócio das empresas e quais os ter sucesso tem que se ser único, nem que seja ape-
efeitos que poderá ter no aumento da competitivi- nas por um momento. O sucesso de uma empresa
dade empresarial. depende da exclusividade do seu modelo de negó-
cios”, concluiu Ridderstrale. Por seu turno, Carlos
Oradores de peso Janicas, da HP, afirmou que “a inovação pode provo-
Uma das grandes presenças neste evento foi Jonas car a imitação, mas também fomenta a produtivida-
Ridderstrale, considerado um verdadeiro guru da de, pelo que é importante criar um ambiente propí-
cio à inovação nas empresas”.
José Carlos Pina, da Deloitte, foi outro dos orado-
res que tentou traçar as mudanças na sociedade
num futuro próximo. “As alterações da sociedade
colocam novos desafios às empresas”, afirmou José
Carlos Pina, dando como exemplos a futura co-
nectividade permanente de todos em qualquer lu-
gar e a qualquer hora, ou as competências em tec-
nologias que se tornarão um factor de
diferenciação na carreira.
O professor de Economia João César das Neves
abordou durante a sua apresentação as crises que
Portugal vivido nas últimas três décadas. “ A crise
actual é diferente das anteriores porque o período
de recuperação ainda não chegou, o que torna esta
O DIRECTIONS 2006 CONTOU COM A PRESENÇA DE VÁRIOS EXPOSITORES crise estranha”, disse o professor universitário.

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[Evento/ Contact Centers Portugal]

CONTACT CENTERS EM DISCUSSÃO


Segunda conferência discutiu o futuro do sector

Realizou-se em Outubro a segunda Conferência de Contact Centers


Portugal, onde foram analisados os principais desafios e novidades do
universo dos “contact” e “call centers”
POR MÁRIO GUERREIRO

ntre 25 e 26 de Outubro, o Centro Cultural tor do Contact Center da Galp reflectiu sobre o im-

E de Belém recebeu a segunda Conferência e


Exposição Internacional Contact Centers
Portugal 2006, organizada mais uma vez pela
pacto dos Contact Centers no desenvolvimento
com o cliente. O responsável da Galp referiu várias
vantagens para a empresa do seu modelo actual de
Associação Portuguesa de Contact Centers (APCC) contact center em regime de outsourcing, em vigor
e IDC Portugal. O evento contou com a presença desde Janeiro de 2005. Diminuição de custos, con-
de oradores nacionais e internacionais, que analisa- versão de uma forte componente dos custos fixos
ram as principais tendências do sector e realizou-se em custos variáveis, actualização tecnológica, actua-
sob o lema “A importância dos Contact Centers co- lização e acesso a inovações nas técnicas de atendi-
mo instrumento de CRM e Cidadania”. mento, acesso a maiores capacidades de atendimen-
O certame iniciou-se no dia 25 com a sessão de to foram algumas das principais vantagens para a
abertura em que estiveram presentes o director do gasolineira nacional, desde que adoptou o seu mo-
Jornal de Negócios, Sérgio Figueiredo, e o presi- delo actual de outsourcing.
dente da APCC, João Cardoso. Na sua introdução, No segundo dia, destaque para algumas das apre-
João Cardoso referiu a importância crescente do sentações, entre as quais a de Eduardo Matos, di-
negócio dos contact centers, a nível europeu, com rector de operações da PT Contact, que abordou o
um por cento da população activa da Europa a ser contact center no relacionamento com o cidadão, e
empregada por estes. O presidente da APCC enu- a visão específica da PT Contact. O responsável da
merou também algumas das tendências do negócio, PT Contact defendeu uma revitalização e moderni-
como a sua multi-centralização, a crescente locali- zação na forma como a administração pública con-
zação fora dos grandes centros, o “blending” entre tacta com o cidadão, aproveitando para tal as poten-
“insourcing” e “outsourcing”, e ainda a necessidade cialidades das Tecnologias de Informação.
dominante de recursos humanos qualificados, e te- No mesmo dia, Eoin Mulligan, responsável de ven-
lecomunicações e acessibilidades adequadas. das para a Europa, da Vertical Communications,
Ainda durante a manhã do dia 25, José Rato, direc- abordou as potencialidades das tecnologias IP apli-
cadas aos “call centers”. Para o executivo da
Vertical, as tecnologias IP podem alterar por com-
pleto a competitividade e qualidade do serviço
prestado pelas empresas. O irlandês deu vários
exemplos de empresas que conseguem efectuar os
contactos com os seus clientes tendo uma base re-
duzida de trabalhadores, que muitas vezes se encon-
tram em trânsito pela Europa, utilizando tecnolo-
gias híbridas, que juntam o analógico e digital num
sistema com capacidade VOIP.
VERA LANÇA

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[Evento/ Salão Internacional de Tecnologias de Informação e Comunicação]

TECNOLOGIA VOLTA A TER FEIRA


Primeira edição do SITIC contou com mais de 220 expositores

O SITIC veio preencher a lacuna de feiras de tecnologia em Portugal, e


apresentou algumas das tendências do negócio das Tecnologias de
Informação e Comunicação
POR MÁRIO GUERREIRO

ealizado entre os dias 2 e 5 de Novembro, na O certame, agora organizado directamente pela

R FIL, em Lisboa, o Salão Internacional de


Tecnologias de Informação e Comunicação
foi apadrinhado na sua inauguração pelo ministro
FIL, ocupa dois pavilhões e concentra uma série de
iniciativas e eventos paralelos, a par com a exposi-
ção de serviços e produtos. Os organizadores do
da Ciência e Tecnologia, Mariano Gago. evento contam que em três edições o SITIC consi-
O certame contou com expositores de várias em- ga atingir as verdadeiras condições e características
presas de tecnologia, entidades públicas e locais, adequadas à dimensão do sector em Portugal.
centros de inovação e associações dos vários secto- Nesta primeira edição, o salão ocupou uma área
res. A administração pública esteve representada de 22 mil metros quadrados, com 121 expositores
através do passaporte electrónico português, do directos (nacionais e internacionais) espalhados
cartão do cidadão, dos jardins digitais, da esquadra por três pavilhões. Além dos expositores, o salão
do século XXI, do sistema integrado das redes de contou também com vários eventos paralelos, a
emergência e segurança de Portugal (SIRESP) e do cargo das mais diversas entidades, como o IV
portal da empresa. Também representadas estive- Fórum Hospitalar ou os Encontros TIC.
ram as várias delegações do projecto Cidades e
Regiões Digitais. Com a sua primeira edição, o SI- Dez anos de SI
TIC representou o regresso de uma feira de tecno- No dia 2, a Associação Por tuguesa para o
logia em Portugal, depois do final da Comtec. Desenvolvimento da Sociedade de Informação or-
ganizou um conferência subordinada ao tema “10
VERA LANÇA

anos de Sociedade de Informação”. A conferência


contou com a presença de Carlos Zorrinho, coor-
denador do Plano Tecnológico e da Estratégia de
Lisboa, que iniciou os trabalhos abordando a com-
petitividade no universo da SI. Zorrinho defendeu
a importância crescente da competitividade tecno-
lógica. “Em Portugal temos muitas pessoas com
chaves de acesso ao mundo global, mas ainda não
são suficientes”, disse. O coordenador do Plano
Tecnológico defendeu que é “determinante apos-
tar nas pessoas”, de forma a se conseguir uma
“equidade de acesso à informação”, dado que a
“formação justa de capital intelectual deve ser cada
ZONA MISTA DO SITIC vez mais tida como algo de interesse público”.

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[Dinâmicas da Comunicação]
A emitir apenas auto-promoções desde final
Educare TV na internet de Novembro, o Canal de Língua Portuguesa
(CPL TV) passou a quatro horas de emissão
O Educare.pt, diárias em meados de Dezembro para toda a
um site de Europa. O próximo objectivo do canal é pas-
informação sar a emitir 24 por dia já em Fevereiro. Será
dedicado exclu- também neste mês que se iniciarão as
sivamente à transmissões para o continente africano via

CLP TV no ar
educação, dá um passo em frente e apresenta agora o Edu- satélite. O CLP TV tem como público-alvo
care TV com uma rubrica semanal online, “Semana em os quatro milhões de portugueses espalhados
Revista”, emitida às sextas-feiras. Durante pela Europa e cerca de 30 milhões em
aproximadamente três minutos, o programa aborda a África. O canal prevê ainda iniciar emissões
actualidade educativa, tendo por base notícias que são por cabo em Portugal, estando a negociar a
disponibilizadas no próprio site. O destaque desta rubrica sua entrada neste sector.
vai para os artigos de opinião, reportagens e entrevistas e
os utilizadores podem encontrar todas as emissões para vi-
sualização no site.
Site da RTP com serviço para cegos e
amblíopes
Gratuito dedicado ao Turismo A operadora estatal já iniciou o
novo serviço destinado aos cidadãos
Já está aí “Viaje!”, um gratuito quinzenal sobre cegos e amblíopes. Os conteúdos
turismo com distribuição em Lisboa, escritos do site da RTP podem agora ser ouvidos em
nomeadamente em pontos de turismo, de tempo real através de uma voz gerada por
aluguer de automóveis, entre outros. Com computador. O serviço de vocalização refere-se aos
uma tiragem de 30 mil exemplares, o “Viaje!” conteúdos disponibilizados online em formato de tex-
tem um mínimo de 16 páginas dedicadas ao to normal, ou seja, notícias, programação, entre
turismo e outras actividades relacionadas com outros. Segundo a RTP trata-se de um serviço
esta temática. Numa fase seguinte, o gratuito acessível a todos os que navegam no site da emissora e
será igualmente distribuído no Funchal e bene- não requer qualquer tipo de instalação. Este serviço
ficiará também de um acordo celebrado com a inovador em Portugal foi desenvolvido em parceria
TAP para distribuição nas instalações desta com a empresa sueca ReadSpeaker Europe AB.
empresa no Aeroporto da Portela.

Mensageiro de Bragança abraça o digital


O Mensageiro de Bragança, semanário do Nordeste Transmotano, planeia
tornar-se o primeiro jornal regional com todas as suas edições digitalizadas,
desde o seu nascimento, em Janeiro de 1940. O arquivo das edições em forma-
to digital vai estar disponível para consulta durante 2007. Para o jornal, esta
decisão irá ajudar a uma melhor preservação do seu património histórico, já
que os números passados da publicação são açvo de grande procura por investi-
gadores e curiosos em busca de acontecimentos passados marcantes para a
região. Com a digitalização, quem estiver interessado numa edição específica
do jornal, pode adquiria-la em CD, a um preço simbólico. O processo de
digitalização do Mensageiro de Bragança está orçado em 90 mil euros e tem o
apoio da Rede Eléctrica Nacional, da Caixa Geral de Depósitos e da Unicer.

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[Dinâmicas da Comunicação]
Chamar a atenção para a
importância dos media e da literacia
digital como áreas-chave na aprendi-
zagem das crianças que vivem na era Segundo a consultora norte-
da informação. Foi este o principal objectivo que reuniu a Federação -americana eMarketer, o
Canadiana de Professores (FCP) e a Media Awareness Network (MNet), Google irá atingir 25% da
levando-os a organizar a Semana Nacional de Educação para os Media. Entre quota de publicidade online nos
Pensar os Media no Canadá

20 e 24 de Novembro, mais de 50 eventos animaram o Canadá. “Os jovens EUA. Os dados apurados neste
vivem cada vez mais em ambientes mediáticos e, por isso, as necessidades de estudo apontam mesmo para
desenvolvimento das apetências no âmbito da literacia são cada vez maiores. que essa percentagem suba para
O Governo deve, pois, promover não só a literacia tradicional, mas também a cerca um terço dos

Google à frente nos anúncios na internet


literacia dos media”, disse Julien Lavoie, porta-voz da organização, via e-mail, investimentos publicitários na
à Media XXI. internet durante o próximo
No âmbito da Semana para os Media, a Media Awareness Network lançou ano. Até agora era o Yahoo!
ainda o MyMedia, um concurso de vídeo dirigido aos jovens. O objectivo, quem detinha a liderança dos
acrescenta Julien Lavoie, é “encorajar as crianças e os jovens a envolverem-se anúncios feitos na rede durante
directamente na criação de conteúdos dos media. Essa é uma maneira os últimos três anos. Em 2005,
fantástica de ensinar a literacia dos media”. Mais informações podem ser ambas as empresas tiveram um
encontradas no site http://www.mediaeducationweek.ca. comportamento semelhante,

RCP muda em Janeiro


Aproximação ao ouvinte,
descentralização da
informação e mas este ano o Google superou
exclusividade são as a concorrente em sete pontos
promessas do projecto de percentuais, estimando a
rádio notícias que nasce eMarketer que essa diferença
em Janeiro e é liderado suba para 17% em 2007.
por Luís Osório. A redefi-
nição da estação do
Grupo Media Capital pro-
mete ir ao encontro das
A Kellogg’s
necessidades de
ganhou o
informação dos portugueses e aposta na informação generalista, com progra-
galardão de
mação própria e emissão diferenciada em vários pontos do país, a saber
prata nos
Porto,Vila Real, Braga, Coimbra e Aveiro. As manhãs vão apoiar-se num pai-
“Prémios
nel com vários convidados, numa dinâmica entre informação e comentário.
Eficácia”,
área
O jornal Diário Económico aumentou em Dezembro o “Eficácia em em Responsabilidade
Diário Económico aumenta

Social”, categoria “Marketing de


Campanha da Kellogg’s

seu preço de capa,


passando a custar 1,50 eu- Causas”, com a sua campanha
ros no Continente e 1,95 desenvolvida no âmbito do Banco
euros nas Regiões Autóno- Alimentar Contra a Fome 2005. A
mas. O aumento de 25 % campanha que levou ao prémio foi de-
em relação ao custo senvolvida pela Leo Burnett, sob o
distinguida

anterior, de 1,30 euros, lema “Ajude-nos a Ajudar” e resultou


está relacionado com o da colaboração com o Banco Alimentar
de preço

novo formato apresentado pelo jornal dirigido por Contra a Fome, que se saldou na
Martim Avillez Figueiredo, e também com o reforço entrega de mais de um milhão de refei-
editorial dos seus conteúdos. ções aos mais necessitados.

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ed.90 06/12/12 11:43 Page 34

[Opinião/ Paulo Laureano]

INFORMÁTICA 2.0
tendência dos primeiros anos do novo sica. A aposta foi em simplificar o acesso legal

A século é para premiar a elegância e


simplicidade. O Google deu o mote al-
terando radicalmente o aspecto das páginas
à música e convidar os utilizadores a ‘pagar’
99 cêntimos por faixa. Constatou-se que mui-
tas pessoas preferem pagar a conviver com o
de motores de pesquisa. Os anteriores líde- caos e riscos dos sistemas de distribuição ile-
res de mercado (Altavista e Yahoo) preen- gais. O mercado está a ganhar maturidade e a
chiam as páginas com centenas de links es- exigir cada vez mais ‘qualidade’. O conceito
palhados por múltiplas colunas. O Google de qualidade passa não só pelo software ser
apostou num formulário muito simples e mais simples mas também pela elegância e
uma página muito leve. Não foi apenas pelo maturidade dos processos. Isto significa que é PAULO LAUREANO
design que o Google se tornou popular, a necessário que as aplicações que utilizamos se- ADMINISTRADOR DE SISTEMAS,
qualidade dos resultados do motor de pes- jam mais simples, igualmente poderosas, mas ESPECIALISTA EM SEGURANÇA E
quisa terá sido o factor mais importante, pensadas para seres humanos com as inerentes DIRECTOR DO GRUPO MR.NET
mas a elegância das interfaces facilitou a mi- dificuldades em aprender e dominar algo que
gração de milhões de utilizadores. A web é novo. O novo Windows Vista está ao virar da
atravessa uma revolução (web 2.0) no senti- esquina. Provavelmente chegará ao mercado
“O Google deu o
do de tornar os interfaces mais simples, ele- nos primeiros meses de 2007. É vital que o
mote alterando
gantes e funcionais. O termo web 2.0 surgiu maior e mais bem sucedido fornecedor de
radicalmente o
numa conferência em que o Tim O’Reilly software do mundo, a Microsoft, se aperceba
aspecto das
pretendia chamar a atenção para a necessida- da revolução de mentalidades que está a oco-
páginas de
de de se reinventar a web. Era necessário rrer. Se isso acontecer vamos ter um
motores de
equacionar novas fórmulas de negócio, para Windows e um Office mais simples de utilizar
pesquisa”
se evitar o desastre que foi a ‘bolha da nova e com interfaces mais acessíveis. O preço de
economia’, simplificar interfaces e proces- ignorar que o mundo mudou é elevado, a IBM
sos. O aspecto mais visível desta revolução é que o diga porque estava precisamente na po-
precisamente a utilização de interfaces com sição de líder de mercado hoje ocupada pela
um ‘design’ mais simples e elegante. Microsoft, e os concorrentes estão precisa-
Poucas companhias parecem assimilar estes mente a liderar a actual revolução. Manter
conceitos tão bem como a empresa americana uma máquina de Windows é hoje o equivalen-
Apple. Não é por acaso que o iPod se trans- te digital a fazer um puzzle demasiado com-
formou em fenómeno de popularidade. Não plexo e com peças a mais. Lidar com os ‘vá-
se trata do sistema de reprodução de música rios anti-vírus’ e ‘anti-spyware’ necessários a
digital mais ‘poderoso’ ou ‘completo’ disponí- manter o Windows saudável pode não ser ne-
vel no mercado, outros existem com maiores cessário para se ter um computador a funcio-
capacidades e substancialmente mais baratos. nar. Se a Microsoft não alterar este modo de
O cuidado com o ‘design’ do aparelho e facili- funcionamento perderá a prazo a posição que
dade de utilização são características ímpares conquistou. Porque já ninguém tem o tempo
no mercado. O iPod que as pessoas transpor- ou a pachorra para ler manuais e ‘ter que sa-
tam no bolso é apenas uma das variáveis da ber tanto’ sobre os problemas inerentes à uti-
equação. O iTunes (disponível para Mac e lização computadores. E estão por aí os Apple
Windows) é a aplicação responsável por todo Mac sem ‘vírus’ e ‘spyware’ a preços cada vez
o processo de aquisição e organização de mú- mais competitivos...

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[Evento/ Dia Nacional da Imprensa]

API ATENTA A MUDANÇAS NO SECTOR


No Dia Nacional da Imprensa a API reflectiu sobre os media

Alterações ao porte pago, o futuro dos jornais e novos modelos de


negócio estiveram em destaque na comemoração dos 45 anos da API e
do Dia Nacional da Imprensa
TEXTO E FOTO POR MÁRIO GUERREIRO

a Sociedade Histórica da Independência de

N Portugal a sala nunca encheu, mas não foi


por isso que a discussão se revelou menos in-
teressante. Afinal, como referiu João Palmeiro,
presidente da Associação Portuguesa de Imprensa
(API), durante os trabalhos, na audiência estavam
representados várias dezenas de milhares de leito-
res, através de directores e patrões de várias publi-
cações regionais. Celebrando os seus 45 anos, bem
como o Dia Nacional da Imprensa, a API iniciou a
sessão de abertura com as palavras de João
Palmeiro, que chamou a atenção para temas na
agenda como as alterações ao modelo de porte pago
da imprensa nacional, a necessidade de cativar as
gerações mais jovens para a leitura de jornais ou a
directiva europeia Televisão sem Fronteiras.
O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto IGOR SMIRNOFF, DA PRESSDISPLAY.COM
Santos Silva, que tutela o sector dos media, defen-
deu as medidas que o Governo tem tomado relati- nal impresso em PDF em qualquer local do mun-
vamente aos media, mas revelou que o executivo do. Igor Smirnoff, da Pressdisplay.com, descreveu o
“está aberto a sugestões” dos intervenientes do sec- sistema como um “quiosque virtual”, que permite
tor, admitindo rever a lei da imprensa e da rádio. uma experiência similar à leitura de um jornal no
O dia ficou também marcado pela assinatura de dia da sua saída. O sistema permite a leitura em pa-
protocolo entre a Sociedade Histórica da pel, no ecrã de um computador ou de um PDA.
Independência e a API, que visa realçar o papel da O serviço SMS SIBS também foi alvo de curiosida-
imprensa, e a apresentação de um livro sobre ética de pelos presentes. O sistema permite uma maior
e deontologia empresarial, lançado pela Media agilização nos classificados dos jornais, utilizando as
XXI. Durante o dia foram também apresentados mais que populares mensagens escritas dos telemó-
novos modelos de negócio para a imprensa, como veis, permitindo depois o pagamento do mesmo
o sistema Pressdisplay.com, um serviço de “print- classificado via Multibanco. O serviço é já utilizado
-on-demand”, já presente em mais de 85 países, por milhares de clientes em todo o mundo e por al-
que permite a entrega atempada de jornais em gumas dezenas em Portugal, e torna mais fácil a an-
formato PDF ao leitor, sem custos adicionais para gariação de anúncios pessoais e a venda de serviços
os títulos. O sistema permite a leitura de um jor- por impulso (em catálogos, imprensa ou rádio).

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[Reportagem de Comunicação]

O TEMPO DOS GRATUITOS


Imprensa gratuita ganha cada vez mais público

Em Portugal, os jornais gratuitos estão a tornar-se uma alternativa real


aos títulos pagos, com aumentos progressivos na tiragem e captação de
anunciantes. Generalistas ou dedicados a segmentos específicos, estão
em plena expansão para diferentes zonas do País
POR GUILHERME PIRES

m Dezembro, o terminal rodoviário do Cam-

E po Grande, em Lisboa, cumprimenta os dias


sempre da mesma forma. Ao emaranhado de
pessoas, fumo das castanhas assadas e pregões dos
GRATUITOS AQUI AO LADO

O mercado espanhol é abundante em publicações


gratuitas, desde desportivos a generalistas. O 20
vendedores ambulantes junta-se um rodopio de
Minutos é o gratuito generalista mais lido, por 2.2
páginas, manchetes e artigos que nada custam ao milhões de pessoas, e a sua tiragem supera o El
leitor. Entregues por mão ou colocados em expo- Pais, um dos generalistas espanhóis pagos mais li-
sitores, os jornais gratuitos escoam rapidamente. dos e que tira cerca de 550 mil exemplares. Por sua
Num país com tão precários hábitos de leitura pa- vez, os gratuitos Qué!, da Recoletos, e o Metro têm
rece um contra-senso encontrar tantos jornais nas cerca de 1.9 milhões de leitores cada. No campo dos
desportivos, El Penalty assegura uma tiragem de 400
mãos de tantas pessoas, ao início da manhã, nas mil exemplares, deixando para trás a Marca, o jornal
plataformas do metropolitano e junto aos autoca- desportivo pago mais lido em Espanha mas que con-
rros que passam pelo Campo Grande. Porém, na ta com uma tiragem de 350 mil exemplares, e o As
verdade este cenário repete-se por todas as linhas que tira apenas 190 mil exemplares.
do metro alfacinha, nos barcos que atravessam o
Tejo, em muitos autocarros dentro da cidade e na
área metropolitana. cil de ler e que aborda temas mais leves do que os
Também no Porto, da imprensa tradicional. E assim está a conquistar
seguindo o mesmo leitores e uma parcela do mercado publicitário ao
método de distri- qual os diários pagos não conseguem chegar.
buição, os jornais “Os jornais gratuitos vieram captar um leque de
gratuitos não têm potenciais leitores que até aqui não contava em
dificuldades em che- termos de audiências”, sublinha Paulo Parracho,
gar aos seus leitores. director do Jornal da Região, um dos mais antigos
E o cenário repete- gratuitos portugueses. Tiago Bugarin, managing
se noutras zonas do director do Metro Portugal, reforça esta ideia ao
país, em cidades co- defender que o formato editorial dos gratuitos es-
mo Braga, Covilhã, tá adaptado para responder de forma eficaz às ne-
Aveiro, Leiria ou cessidades dos leitores que não estão satisfeitos
Guimarães. É infor- com os títulos tradicionais. “A imprensa gratuita
mação que vai ter consegue chegar a públicos mais jovens, mais ur-
com as pessoas, fá- banos e exigentes, permitindo uma alternativa e

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[Reportagem de Comunicação]

D.R.

PAULO PARRACHO, DIRECTOR DO JORNAL DA REGIÃO

um complemento extremamente eficaz na comu- lemóvel – tem escapado à imprensa tradicional. A


nicação de qualquer produto”, conclui. par com os métodos de distribuição e a ausência
O perfil do leitor dos gratuitos – mais jovem e fe- de custos, esta ‘vitória’ dos gratuitos sobre os pa-
minino do que nos títulos pagos, que está habitua- gos explica-se também nas diferenças de estilo,
do a procurar a informação na internet e até no te- que facilitam a leitura. Para Francisco Pinto Barbo-
sa, administrador do Destak, são “as notícias cur-
tas, a linguagem acessível e o grafismo apelativo
COFINA DESISTE DE PENALTY que distinguem os gratuitos dos suportes conven-
cionais”.
O grupo português iniciou negociações para vender a
participação de 40% que detém no gratuito desportivo
espanhol El Penalty. Segundo fonte da Cofina, o Gratuitos em expansão
grupo recua assim na sua aposta no mercado es- Após o triunfo nos grandes centros urbanos, o mer-
panhol. Com esta decisão, a Cofina pretende investir cado português assiste hoje à expansão dos títulos
mais noutro projecto – a edição brasileira do Destak, mais antigos (Destak e Metro) para outros pontos do
iniciada em Julho de 2006. Lançado no passado mês
de Abril, o gratuito El Penalty tem uma tiragem de
país. Braga, Guimarães, Aveiro, Setúbal, Coimbra e
400 mil exemplares e é distribuído em Madrid e Leiria são as cidades que recebem, desde o princípio
Barcelona. do Outono, os diários gratuitos com maior tiragem
em Portugal. Poderão ser apenas mais um passo no

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[Reportagem de Comunicação]

EVOLUÇÃO DA IMPRENSA GRATUITA EM PORTUGAL 2006


ABRIL: Cofina lança em Espanha o diário desportivo
1996 El Penalty, com uma tiragem de 400 mil exemplares.
MAIO: nasce o Jornal da Região, o primeiro gratuito JUNHO: nasce o jornal Oje, distribuído em empresas
generalista português, distribuído em Cascais, Sintra e hotéis da Grande Lisboa.
e Oeiras. AGOSTO: é publicado o jornal Já Agora, na Covilhã,
com 12 mil exemplares.
2001 AGOSTO: é lançada a edição 0,5 do jornal UM, no
SETEMBRO: é lançado o Destak, então como se- Festival Paredes de Coura e nas lojas FNAC, com
manário, com uma tiragem de 35 mil exemplares. uma tiragem de 20 mil exemplares.
NOVEMBRO: nasce a revista DIF, com uma distribuição AGOSTO: o Destak passa a ser distribuído em São
de 20 mil exemplares por vários pontos do País. Paulo, Brasil, com uma tiragem de 200 mil exem-
plares por dia.
2004 OUTUBRO: é lançado o jornal Diz Ke Disse, distribuí-
MAIO: é lançada a revista Mundo Universitário, dis- do em Lisboa.
tribuída em vários pólos universitários. OUTUBRO: o Destak chega a Braga, Coimbra e
NOVEMBRO: o Destak passa a diário, chegando aos Guimarães
100 mil exemplares poucos meses depois. NOVEMBRO: o Jornal da Região atinge a circulação
DEZEMBRO: nasce o Metro Portugal, publicado ainda de 220 mil exemplares.
em fase experimental. NOVEMBRO: o jornal Oje passa a ser distribuído nos
voos da TAP e atinge as 17 500 assinaturas.
2005 NOVEMBRO: o Destak alarga a sua edição a Aveiro,
JANEIRO: o Metro passa a projecto efectivo. Leiria e Setúbal, com uma circulação total de 173 mil
NOVEMBRO: é publicado o número 0 da revista Ripa exemplares por dia.
na Rapaqueca, distribuída nos estádios de Lisboa, NOVEMBRO: o Metro passa a uma tiragem média de
Porto e Braga. 180 mil exemplares por dia.

plano de expansão definido pelos dois títulos. “Com Sintra, Cascais, Amadora, Almada, Oeiras e Lis-
o sucesso que o jornal Metro tem tido nas actuais ci- boa. Mantendo temáticas de cariz local, a actual
dades é natural que venham a existir novas opções direcção tem vindo, nos últimos meses, a introdu-
de futuro”, explica Tiago Bugarin. De acordo com zir novos conteúdos, com uma maior aposta na ac-
Francisco Pinto Barbosa, o Destak alinha pelo mes- tualidade desportiva, na informação sobre as novi-
mo diapasão, admitindo porém que o actual alarga- dades do mercado automóvel e relativa às novas
mento implica já uma pressão muito grande sobre os tecnologias. No caso do Jornal da Região ainda
custos operacionais da empresa.As próximas cidades não existem planos para uma expansão. “Fomos
podem, por isso, esperar. pioneiros no que concerne a edições no Grande
Com o crescimento para novos pólos urbanos, os Porto, mas por estratégia do Grupo Impresa, as
jornais gratuitos poderão tender, no futuro, a alte- mesmas fora suspensas. No entanto, estamos aten-
rar a sua informação, incluindo conteúdos de tos ao mercado e a analisar eventuais zonas de ex-
maior proximidade com a realidade das diferentes pansão editorial”, indica Paulo Parracho.
regiões. “Se a rentabilidade das edições locais o
permitir, esta será, certamente, uma oportunidade Mudança de paradigma?
a explorar”, frisa Francisco Pinto Barbosa. Opor- Para além de atrair um público mais feminino e jo-
tunidade que é aproveitada desde 1996 pelo Jornal vem, ao qual os títulos pagos não conseguem che-
da Região. Com uma circulação de 220 mil exem- gar, a imprensa gratuita proporciona aos anuncian-
plares, o título divide-se por seis edições distintas, tes uma grande flexibilidade e criatividade
com conteúdos relativos às localidades em causa: comercial na promoção dos seus produtos. Com o

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[Reportagem de Comunicação]

JOANA VALADARES

modelo de negócio a depender exclusivamente da


publicidade, títulos como o Destak, Metro, Oje,
Jornal da Região, a revista Entre Nós ou Dif têm
conseguido obter resultados positivos. Francisco
Pinto Barbosa indica que as ferramentas de comu-
nicação comercial dos gratuitos têm conseguido
que as marcas apostem nos títulos. “O Destak po-
de orgulhar-se de ter conseguido atrair para o
meio imprensa muitos anunciantes que tipicamen-
te não apostavam nos jornais”, refere Pinto Barbo-
sa. Como exemplos de capacidade de comunica-
ção diferenciadora e criativa da imprensa gratuita,
Tiago Bugarin destaca “a capacidade de adaptação
da distribuição às necessidades geográficas ou de- Aliando estas características aos bons resultados
mográficas de uma campanha, a utilização de dis- dos títulos, estará o mercado a assistir a uma mu-
tribuidores com características específicas ou a dança de paradigma, com a preponderância dos
criação de conteúdos e edições especiais para um gratuitos a desenvolver-se em paralelo à queda dos
determinado evento”. tradicionais? Tiago Bugarin acredita que tal pode
ser possível. “Existem todas as condições para que
os actuais títulos possam crescer em número de
leitores, assumindo uma posição de relevo junto
da restante imprensa diária e das estratégias de
marketing dos anunciantes”, defende o director
managing do Metro. Mas existem opiniões contrá-
rias. Admitindo que os gratuitos podem comple-
mentar a oferta dos jornais pagos, criando uma
nova porta no panorama, Jorge Manuel Lopes
acrescenta porém que não observa no sector uma
revolução editorial ou comercial. “A nossa im-
prensa gratuita estende-se razoavelmente no tem-
po e pode ser uma novidade à escala nacional, com
a exploração de cogumelos nos últimos anos, mas
não é revolucionária”, defende. Para o director do
UM verifica-se alguma mudança no investimento
publicitário, mas que está mais relacionada com a
procura dos novos públicos a que as publicações
gratuitas podem chegar e o potencial que estes po-
dem ter.

Mercado português com oferta específica


Após o nascimento e consolidação dos principais
títulos gratuitos em Portugal, o mercado recebeu
em 2006 projectos que exploram estratégias edi-
toriais e de distribuição diferentes e inovadoras.
JORNAL UM Projectos como o Oje, UM ou Já Agora estão a

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[Reportagem de Comunicação]

GUILHERME PIRES

própria redacção foge aos


trâmites habituais no jor-
nalismo nacional.
Muitos dos textos publica-
dos saltam da pena de cola-
boradores externos, espa-
lhados pelo país, com
pouco ou nenhum trabalho
publicado na imprensa. Fo-
ram escolhidos com base
no que escrevem e escreve-
ram nos seus blogues e
webzines, num processo de
selecção inédito em terras
portuguesas. Representam
80 por cento da redacção.
“Este corpo é elástico, para
nos permitir tratar das ma-
térias que valem a pena ser
tratadas, em qualquer can-
obter bons resultados devido à focalização em pú- to de Portugal”, frisa Jorge Manuel Lopes, mentor do
blicos específicos, que procuram mais do que in- projecto. “Temos também um gestor de plano extra-
formação generalizada, criando em simultâneo -editorial do jornal (Jorge Coelho), um editor gráfi-
uma janela de oportunidade para os anunciantes co, um responsável pela ilustração, um editor e vários
desses sectores. colaboradores“, acrescenta.
Enquanto o Oje chega directamente às secretárias Com uma tiragem de 20 mil exemplares por edi-
dos gestores de muitas empresas da Grande Lis- ção – quinzenal –, o UM é distribuído nas lojas
boa, privilegiando conteúdos de cariz económico FNAC, em festivais de música, bares e lojas de dis-
e desportivo, o Já Agora focaliza-se na informação cos no Porto, Lisboa, Coimbra e Algarve. No total
de proximidade, sendo o primeiro gratuito a ser são 15 postos de distribuição, que deverão passar a
distribuído na Beira Baixa. Em 2006 surgiram ain- 50 nas próximas edições, privilegiando sempre ci-
da outros títulos que exploram conteúdos específi- dades com vocação universitária, cuja população
cos, como o social Diz Ke Disse ou o desportivo tem uma grande afinidade com a música e a cultu-
Ripa na Rapaqueca (ver caixa). Dois dos pioneiros ra. O objectivo é apresentar uma escrita que fuja
nos gratuitos segmentados foram a revista DIf aos trâmites normais do press release. “A tendên-
(moda) e o Mundo Universitário, que surgiram cia actual da imprensa portuguesa é a produção de
em 2001 e 2004, respectivamente. textos mais pequenos e com menor reflexão,
criando uma espécie de guias do consumidor”, cri-
Jornal UM com estrutura inovadora tica Jorge Manuel Lopes. O UM propõe-se a fazer
O primeiro exemplar do UM foi publicado em o oposto: redigir poucos artigos por edição, com
Agosto, com o número 0,5. Destacou-se desde um espaço considerável para desenvolver as ideias.
então dos gratuitos generalistas devido a uma “Fazemos duas entrevistas em vez de sete; em vez
abordagem original à informação. Para além de se de 300 reviews, escrevemos apenas três. Não pre-
dedicar em exclusivo a um tema específico – arti- tendemos ser um jornal grande; queremos ser li-
gos e reportagens apenas dedicados à música –, a dos e não consultados”, conclui.

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[Reportagem SI]

A MODA DOS TRANSFORMERS


Entre o agressivo e o lúdico

A primeira longa-metragem não animação dos robôs de outro planeta


que se transformam nos mais variados veículos traz de novo à ribalta do
cinema as técnicas de morphing
POR HERLANDER ELIAS

om o novo filme de Michael Bay, com estreia Este casamento do lúdico com o agressivo tem ex-

C marcada para a Primavera de 2007, a moda


dos Transformers é recuperada com todo o
seu esplendor, mas é interessante ter sido precedi-
poente em Batman Begins (Christopher Nolan,
2006), antes de Transformers (Michael Bay, 2007).
Em Batman Begins o novo batmóvel configurou
da pelos Spots de TV Citroën C4 Skater Advert e aspectos de brinquedo, tanque militar e a perfor-
Break Dancer (sem esquecer o fantástico Nissan mance de um luxuoso Lamborghini Countach. No
4x4 “Transformer” feito pela Mikros Image). filme de Nolan, cada vez que o batmóvel entrava
Nestes spots de TV o automóvel aparece sempre em cena o seu som sofisticado, o rugido de poder
com aspecto normal até se revelar como robô maquínico somava-se à elegância desmultiplicada
transformer. A série original de animação era bidi- típica de um transformer. A ideia dos designers era
mensional mas as últimas versões e outras séries juntar a agressividade à alta-performance. A lógica
similares já dispunham de robôs em 3D. A moda dos transformers é essa, como mostra o filme de
dos transformers é recuperada com as novas apli- Bay, fundindo-se a arma com o brinquedo. O as-
cações de animações 3D, capazes de gerar grafis- pecto multiforme, a carroçaria dinâmica já tinham
mos fotorrealistas alucinantes. um parentesco na série Knight Rider (O
Tendo esta moda se iniciado antes do filme, e com Justiceiro) que fez furor na TV, sempre que o auto-
o sucesso dos spots de TV, não demorou muito pa- móvel K.I.T.T. se transformava para atingir altas-
ra que surgissem vários spots clones. O que inte- -velocidades. Actualmente, o videojogo
ressa reter desta nova moda, ou desta moda antiga Crackdown, para a Xbox 360, também recupera
recuperada pelo digital, e pela lógica MTV, é sim- esta moda do veículo que se transforma, sempre
plesmente o facto de conciliar graficamente o as- que o jogador resolve mudar de viatura.
pecto lúdico e o aspecto agressivo como estratégia
de sedução publicitária.
Veja-se como na animação nipónica os robôs, SITES A NÃO PERDER:
mechs e outros subprodutos da robotopia, surgem
www.digitaldomain.com/links/comm/behind-
com um visual gráfico impressionante, revelando scenes/BHS2/bhs2.htm
passagens subtis entre as formas, graças a técnicas www.3dvf.com/modules/publish/_1763_1.html
de morphing. Entre o veículo de brincar, o brin- www.3dblasphemy.com/OPTIMUS/OPTIMUS_AVI_HI
quedo, e o automóvel real a diferença esbate-se GH.zip
porque a ideia é mesmo cativar públicos mais jo- www.apple.com/trailers/dreamworks/transformers/t
ransformers_large.html
vens. Por exemplo, um dos anúncios mais marcan- www.theembassyvfx.com/citroen.html
tes é mesmo o da Peugeot em que o modelo 407 www.nike.com/nikelab/video/airmaxq_marshall.jhtml
contrasta com veículos a corda, madeira, LEGO www.themichaelsmith.com/VWVideo.htm
ou lata; cujo slogan era “Um Automóvel a Sério!”

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[Reportagem SI]

Na verdade o cerne desta moda dos transformers


tem a ver com o facto de o objecto de imagem
(conteúdo) ser sintomático da forma da imagem
(tecnologia). Por este caminho, a forma de se edi-
tar os videoclips revela-se no procedimento quick
cut que os grafismos adoptam também como con-
teúdo. Por isso os transformers são dinâmicos, vo-
láteis, impressionam, agredindo, como uma arma
lúdica1. Retirando inspiração de muitos videojo-
gos sobre robôs e máquinas futuristas, esta moda
dos transformers encontra na contemporaneidade
uma sustentabilidade para novos comportamentos
gráficos, quer em objectos, quer em tipografia.
No filme Doom – Sobrevivência (Andrzej
Bartokowiak, 2005), o próprio logótipo do filme
está embuído nesta lógica da transformação, asse-
melhando-se as letras a máquinas suspeitas.
Para esclarecer esta moda dos transformers convém
referir que a sua origem é essencialmente pós-mo-
derna. A robótica é um objectivo de investigação no
Japão há três décadas, e isso transparece em jogos de
PlayStation como Armored Core, Metal Gear Solid
ou Mobile Suit Gundam. Fora dos videojogos, os
spots de TV que o designer suíço Greg Tetsoo cria
para o canal japonês Anime Network revelam esta
agressividade lúdica e sofisticada dos transformers,
onde mora o conceito de jogo e de brinquedo.
Talvez por isso não seja de estranhar que esta estra-
tégia permita na dinâmica2, graças a letras 3D em alta-resolução. O
criar imagens resultado é uma tipografia armada, bélica, complexa
que se desmon- que refresca a maneira de criar genéricos em cinema
tam como uma e o design de caracteres. Isto depois de muito esfor-
entidade máquina ço, em Hitchcock, e presentemente em Fincher, os
vectorial, multi- filmes recorrerem a tipografia dinâmica logo nos ge-
forme. Mesmo néricos, buscando uma mobilidade óptima.
no filme Trans-
formers as letras 1 Sobre este aspecto queira consultar o subcapítulo
do logótipo têm “Impressionar é Agredir”, em Elias, Herlander, A Sociedade
uma natureza bé- Optimizada pelos Media, Lisboa, Media XXI, 2006.
lica, possante e 2Em relação a este aspecto, o da tipografia dinâmica, por fa-
facilmente versá- vor consulte o subcapítulo “O regresso do Typos”, em Elias,
til. Assinala-se as- Herlander, Brand New World - O Novo Mundo da Anti-Pu-
sim um regresso blicidade, disponível online na BOCC (Biblioteca Online de
da tipografia pelo Ciências da Comunicação) em: http://www.bocc.
digital, que a tor- ubi.pt/pag/elias-herlander-brand-new-world.pdf.

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[Homenagem/ Cláudia Magalhães]

A MISSÃO RENOVA-SE
O recente conflito no Iraque é o espelho de um novo jornalismo

Ao contrário do que já se apregoou, o jornalismo não está a morrer; está


a adaptar-se aos tempos. A quente e no rescaldo do caos, pelo menos
para uma coisa a guerra entre os EUA e o Iraque serviu: demonstrou que
apesar das fragilidades e pressões a que os jornalistas estão sujeitos, a
sua presença é um imperativo
POR CLÁUDIA MAGALHÃES

guerra entre os EUA e o Iraque veio contra- Instituto sobre a presença da comunicação social

A riar a tendência recente de decrescimento do


número de jornalistas mortos no exercício da
profissão. O relatório publicado no ano passado
nesta guerra prometem ser bastante elucidativos.

A morte (pré) anunciada


(2004) pelos Repórteres sem Fronteiras (RSF) da- Recuemos no tempo até ao final da década de 90.
va conta de 31 jornalistas assassinados em 2001 e Na época, o El Dorado da Indústria dos
25 em 2002. No Iraque, em apenas três semanas, Conteúdos e da Nova Economia, posteriormente
morreram 12 jornalistas. É certo que as causas das agonizante e agora a ser definitivamente enterrado
mortes foram desde acidentes de viação (houve in- pela crise económica mundial e pelos affaires em
clusive um caso de morte natural) até ao inespe- que alguns dos principais grupos mundiais de me-
rado ataque dos Aliados ao Hotel Palestina, em dia estiveram envolvidos nos últimos anos (a
Bagdad. Entre assaltos, espancamentos, detenções Vivendi, prestes a mudar de nome e assim tam-
e emboscadas, a integridade física e moral de mui- bém de imagem, é um dos exemplos mais marcan-
tos jornalistas também foi várias vezes posta em tes), conseguiu elevar à ribalta da comunicação a
causa ao longo das três semanas de Operação tese de que o jornalismo clássico estaria em vias
Bagdad. E a integridade da informação divulgada de extinção. A conjuntura era propícia à expansão
também foi posta em causa diversas vezes durante de correntes de géneses distintas mas que tinham
esta guerra através de sucessivas investidas de con- em comum advogarem o fim do “velho jornalis-
tra-informação dos dois lados beligerantes. mo”. Para muitos incondicionais admiradores dos
Mas, no fim de contas, a selecção pertinaz da infor- novos suportes digitais, o jornalismo seria pro-
mação é uma das componentes genéricas do jorna- gressivamente substituído pela produção de con-
lismo, a par das situações de ameaça física. De resto, teúdos, essa definição hoje tão em voga, e cuja po-
na eminência da guerra no Iraque, foi fundado, em lissemia faria inveja ao criador de neologismos
Janeiro deste ano, o International News Safety maus imaginativo.
Institute, a primeira rede mundial fundada em nome Na óptica pessimista dos anti-liberais, a indepen-
da defesa da segurança dos media e dos seus profis- dência e a isenção jornalística do “quarto poder”
sionais. Tendo em conta todos os episódios que en- seriam definitivamente enterradas pelo poder dos
volveram meios de comunicação e jornalistas ao lon- novos mega-grupos que integravam em simultâ-
go da Operação Bagdad, os relatórios do novo neo negócios financeiros e de media.

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[Homenagem/ Cláudia Magalhães]

e relação com os públicos-alvo, também a guerra do


Iraque nos trouxe algumas lições: a principal é a de
que o jornalismo, inclusive o clássico jornalismo de
guerra feito por observadores inteligentes e atentos
à selecção criteriosa da informação e da propaganda
de guerra, não está morto; está apenas a adaptar-se
aos tempos, aos novos tempos pós-11 de Setembro.
Hoje, a posição do jornalista ombreia cada vez
mais com a de actor dos acontecimentos. O video-
fone, instrumento jornalístico por excelência des-
ta guerra, foi outro dos protagonistas. Ou, prova-
velmente, o videofone foi o coadjuvante principal
dos jornalistas/protagonistas de televisão.
Renascer em tempos de crise
Com a economia mundial a “baralhar e a voltar a Jornalistas-protagonistas
dar”, uma das tendências recentes, a nível interna- Um exemplo deste facto é o exército de George
cional (Portugal incluído), é a reorganização do W. Bush ter consentido que alguns jornalistas, que
sector dos media. Os tradicionais grupos especiali- receberam formação do Pentágono nas semanas
zados em comunicação social mantêm o seu port- que antecederam a Guerra, acompanhassem os
fólio. O caso muda de figura nos grupos financei- soldados norte-americanos nas frentes de batalha.
ros, para os quais os media são apenas mais uma Esta é uma das componentes das novas guerras: o
componente do negócio, que deixa de ser estraté- jornalista é mais um protagonista, potencial mártir
gica quando perde rentabilidade. ou potencial herói. A diferença é que o jornalista
Nestes casos, a lógica empresarial sobrepõe-se à va- nunca é anónimo. Ele transporta sempre uma
lorização dos media enquanto produto eminente- marca distintiva da do civil ou soldado: o media a
mente jornalístico. Isto tem culminado na sucessiva que pertence e a repercussão que a mediatização
troca de proprietários a que vários media têm estado da sua morte ou do seu salvamento têm, resgatam-
sujeitos. Em detrimento da qualidade do produto -no do anonimato. Anguita Parrado, Liebig, Kelly,
jornalístico e da dignidade laboral dos jornalistas. Moran, Lloyd, Golestan, Rado, são nomes que na-
Vale a pena referir que, no actual contexto de crise da dizem ao cidadão comum. Mas durante algumas
publicitária, há algumas notas positivas: por exem- horas, ao longo dos dias que o conflito durou, cada
plo, os casos de trabalho concertado entre consulto- um deles foi propagado pela comunicação social
res e editores com vista à afinação e aperfeiçoamen- de todo o mundo. São os nomes de alguns dos jor-
to do produto jornalístico em termos de qualidade e nalistas mortos durante as três semanas da guerra.
interesse dos conteúdos, melhor grafismo, antecipa- O trabalho dos jornalistas na guerra do Iraque foi
ção na divulgação da informação, etc. Esta é uma exemplar, pese-embora os casos de falta de parcia-
realidade que não é recente: em conjunturas ante- lidade no tratamento da informação, as pressões
riores de crise nos media e de retraimento dos in- psicológicas e os tráficos de informação a que os
vestimentos publicitários, sempre existiram exem- correspondentes foram sujeitos. Foi exemplar, na
plos de “reactividade positiva”: meios de medida em que recordou que nos acontecimentos
comunicação que com qualidade e imaginação con- de dimensão muito importante para todas as nações
seguem aperfeiçoar-se e melhorar os desempenhos do mundo, o trabalho dos jornalistas merece todo
de vendas e de fidelização de audiências. Assim co- o apreço da sociedade.
mo a crise dos media tem servido para que alguns * Artigo originalmente publicado na edição nº 70 (Abril/Maio,
destes reflictam sobre o respectivo posicionamento 2003) da Media XXI.

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[Empresas XXI]

VANTYX SYSTEMS INTERNACIONALIZA-SE


Novos mercados além-fronteiras
Em três anos, a Vantyx Systems conseguiu um crescimento invejável e
agora ambiciona expandir-se nos mercados internacionais. Angola e o
Leste Europeu são os próximos destinos
POR DULCE MOURATO

om apenas três anos de existência e com um zadas, enquadradas no sistema legal e preparadas

C crescimento na ordem dos 227 por cento (fac-


turação de 1.5 milhões de euros no último tri-
mestre de 2006), a Vantyx Systems prepara-se para
para estabelecer conexões gerais com outros pro-
gramas indispensáveis ao funcionamento das insti-
tuições. “Desta forma damos corpo à nossa actuação
avançar para novos mercados e distribuir as suas so- dentro (em breve com um escritório no Porto) e
luções tecnológicas (já com versões em inglês e cas- fora de Portugal com uma nova estrutura EMEA –
telhano) vocacionadas para o sector financeiro, cré- Europa, Médio Oriente e África, à semelhança do
dito especializado e administração pública. que acontece nas outras multinacionais. No caso de
Num primeiro patamar conquistado a pulso com a Angola “a saída em breve de uma legislação específi-
ajuda do ICEP, a Vantyx Systems constituiu uma ca para o sector financeiro irá levar a uma explosão
parceria privilegiada com a Ibermática (que fun- das sociedades de crédito especializado (leasing e
cionará como implementadora) junto do mercado crédito ao consumo), mas estamos a equacionar
financeiro espanhol com os seus doze escritórios possibilidade de estarmos presentes noutros países
em várias cidades. africanos. É também um modelo que permite avan-
Já se avizinham outros potenciais destinos como a çar mais rapidamente no desenvolvimento dos ne-
África (Angola) e o Leste Europeu (os mercados gócios”, salientou aquele administrador.
prioritários são a República Checa, a Eslováquia e a A Vantyx Systems conta já desde o princípio do
Eslovénia) delineados por uma unidade internacio- ano com três certificações cruciais para as activi-
nal criada para o efeito e à qual Luís Dias, dades comerciais crescentes, tais como a
Administrador da Vantyx Systems, atribui a respon- Certificação da Fábrica de Software e Metodologia
sabilidade de representar a empresa e as suas solu- de Teste pela SQS, o título Microsoft Certified
ções informáticas devidamente traduzidas, actuali- Gold Partner e a certificação nas actividades de
“Desenvolvimento de Soluções de Negócio e
Serviços de Sistemas de Informação”, pela SGS
Portugal, na norma NP EN ISO 9001:2000.
De destacar uma outra aposta que se centra na in-
vestigação e desenvolvimento (mais de três milhões
de euros investidos) que contribuiu para “a formação
de um quadro de profissionais que desenvolvem um
trabalho de qualidade e possibilitam que alterações à
medida e a melhoria dos processos de negócios se-
jam todos os dias uma realidade. Garantimos o
acompanhamento dos projectos e linha de suporte
técnico até ao final – para nós um cliente é um ami-
go”, esclareceu Luís Dias.

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[16º Congresso das Comunicações]

O FUTURO DAS COMUNICAÇÕES


Durante três dias, o universo das comunicações esteve em debate

O futuro das comunicações foi mais uma vez debatido na 16ª edição do
evento organizado pela APDC. Este ano, no debate do Estado da Nação, o
destaque foi mesmo a OPA da Portugal Telecom
POR DULCE MOURATO E MÁRIO GUERREIRO

urante três dias, o universo da comunicações, António Carrapatoso, da Vodafone Portugal criti-

D nas suas mais variadas plataformas, esteve em


discussão no Centro de Congressos de Lisboa.
O local recebeu a 16ª edição do Congresso das
cou a forma como o processo se tem desenrolado,
desde a actuação da Autoridade da Concorrência à
própria postura da Sonaecom. “O que é bom para
Comunicações, organizado pela Associação a Sonae nem sempre é bom para Portugal”, disse.
Portuguesa para o Desenvolvimento das Para o CEO da Vodafone Portugal, um mercado
Comunicações, entre 14 e 16 de Novembro, e con- móvel com dois operadores irá prejudicar a livre
tou com nomes de proa nacionais e internacionais. concorrência.
O encerramento da última edição do Congresso Henrique Granadeiro, presidente da Portugal
das Comunicações coube ao Presidente da Telecom pronunciou-se contra a realização da OPA,
República, Cavaco Silva, que apelou a um maior e informou que caso esta não avance a PT irá “criar
recurso das Tecnologias de Informação e um outro operador independente, trazendo para o
Comunicação por parte das empresas nacionais. mercado um player totalmente novo”.
Para Cavaco Silva, o sucesso de Portugal está inti-
mamente ligado ao sucesso das comunicações e da Tecnologia no Business Lounge
Sociedade da Informação, através de uma verda- O Business Lounge foi inaugurado por Mário Lino,
deira inclusão digital, que chegue aos mais jovens, ministro das Obras Públicas, Transportes e
mas também às faixas etárias mais elevadas. Comunicações, no primeiro dia de congresso da
Antes das palavras de Cavaco Silva, o congresso já APDC. Esta área de referência para os profissionais
tinha vivido aquele que por norma é o debate que do sector reuniu perto de cem empresas e institui-
mais olhos e ouvidos atrai: o Estado da Nação, ções e procurar promover a inovação e o empreen-
com os mais importantes operadores nacionais. dorismo nas telecomunicações.
Depois do ano passado se ter recusado a participar De destacar o serviço da Alcatel em parceria com a
no debate, nesta edição a Sonaecom voltou a fazer- Optimus no âmbito da TV Mobile com a sua mais
-se representar por Paulo Azevedo. Em ano de recente inovação de Fast Zapping (à semelhança do
OPA sobre a PT, este foi o tema mais abordado que acontece nas nossas casas também o telemóvel
que mais atenção desper tou na audiência. com sistema operativo Symbian ou Java é passível de
Referindo-se à OPA sobre a PT, Paulo Azevedo congregar este tipo de funcionalidades). No mesmo
afirmou que, caso o cenário seja favorável à pro- stand surge uma solução de quiosque/Contact
posta da Sonaecom, a empresa “irá gastar um total Center direccionado para o e-governemment e para
de 1.9 mil milhões de euros com a dívida contraí- o favorecimento da descentralização de serviços pú-
da” pela PT, um valor substancialmente inferior ao blicos, possibilitando ao cidadão seleccionar, pagar
que será dispendido pela empresa de capital públi- os impressos para requisitar documentos oficiais e
co, em “juros, dividendos e share buy-back”, na enviá-los num único local e com ajuda de um opera-
possibilidade da OPA não se realizar. dor, vinte e quatro horas por dia.

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[16º Congresso das Comunicações]

VERA LANÇA
A Ericsson, como patrocinador oficial do 16º clusiva (adaptando conteúdos a pedido e concepção
Congresso remete para o vídeo e música on de- de temas de autor), para além de um verdadeiro in-
mand, salientando que a importância já não está vestimento na tecnologia como instrumento de co-
no aspecto técnico do dispositivo mas sim no municação”, concretizou Mário Franco.
serviço que chega ao utilizador. Hans Vestberg, Também estiveram presentes no Business Lounge
vice-presidente executivo da Ericsson, referiu a diversas empresas como a Portugal Telecom (redes
propósito “que há que perceber que as telecomuni- Wi-Fi), os CTT com a modernização digital e ou-
cações entraram numa nova era e que a comunica- tras empresas ligadas à comercialização do RFID
ção é tão importante para o homem de negócios (identificação por rádio frequência automática me-
como para o pequeno pescador do Bangladesh que diante sinais de rádio, recuperando e armazenando
regateia o preço do peixe antes de chegar à lota – dados remotamente através de dispositivos deno-
estamos perante quatro mil milhões de utilizado- minados de tags RFID).
res, cujo número duplica a cada ano que passa”. Diogo Vasconcelos, presidente do 16º congresso
A ideia da massificação, da permanente mudança e da APDC, no discurso de abertura dos trabalhos,
da participação mais intensa das pessoas como sujei- referiu a importância de todas as tecnologias pre-
tos de comunicação e cidadãos do mundo, esteve sentes no evento porque vivemos num “mundo em
também presente no lançamento do livro “Movisão, rede, com 2.5 biliões de pessoas em todo o mun-
a televisão móvel” da autoria de Mário Franco, con- do pela primeira vez ligadas entre si. Um mundo
sultor de TI, que defende a preponderância do indi- móvel e ‘wireless’, com 15 novos utilizadores por
víduo face aos conteúdos adaptados dos canais de te- segundo – ou quase a população de Portugal numa
levisão agora existentes para a mobilidade. “TV semana só. Um mundo que em breve terá 14 bi-
móvel supõe um conceito diferente de interactivida- liões de objectos ligados entre si, dando origem a
de e interacção, uma intervenção mais directa e in- uma ‘internet das coisas’.

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[Estudo/ Era digital nos media]

INFORMAÇÃO EM QUALQUER LUGAR


Estudo indiano explora potencialidades do digital
Elaborado pelo indinao Sajal Kabiraj, o estudo “Desmistificação da entrega
digital”, indica as vantagens inerentes à digitalização dos media, em
particular da imprensa, que se torna verdadeiramente global e imediata
POR MÁRIO GUERREIRO

adopção de uma maior oferta digital por par-

A te das revistas e jornais mundiais pode signifi-


car um estancar da diminuição de receitas
que se regista desde 1997, refere Sajal Kabiraj, do
Indian Institute of Information Technology & Ma-
nagement . “A circulação de jornais diários tem
vindo a decair há vários anos, nos EUA, Europa e
Japão. As razões são essencialmente as mesmas nos
EUA e Europa: a circulação decaiu porque as gera-
ções mais jovens não assimilam o hábito diário de
ler um jornal, ou pelo menos cada vez menos indi-
víduos de cada geração apreendem esse hábito”,
revelavam as notas de 2001 relativas às tendências
mundiais da imprensa, habitualmente elaboradas
pela Associação Mundial de Jornais. Ao mesmo
tempo que a imprensa ia perdendo leitores, a in-
ternet generalizava-se e chegava a cada vez mais
pessoas, tornando-se no meio com o mais rápido
NEWSPAPER DIRECT É UMA DAS EMPRESAS QUE UTILIZA SOFTWARE DE
crescimento na história dos media.
PROPRIETÁRIO QUE PERMITE A LEITURA DE ALGUMAS PUBLICAÇÕES
Para Kabiraj, é necessário desmistificar a internet
como inimiga dos formatos impressos, até porque Vantagens para consumidores e
quem navega na internet é 21 % mais provável de publicações
ler revistas e jornais do que o público em geral.Tal Entre as principais vantagens decorrentes do uso
deve-se à “melhor educação e rendimentos mais da digitalização, para os leitores, o autor enumera
elevados” do grupo. A mudanças de mentalidades a imediatez do acesso aos conteúdos, e a simplici-
começou a operar-se quando alguns jornais come- dade da sua consulta. Os problemas habituais que
çaram a recorrer a edições online pagas, como o advêm da entrega internacional de publicações são
norte-americano ABC. O seu congénere inglês resolvidos. Acabam-se os elevados custos de envio
deu um passo mais arriscado e começou a disponi- e os atrasos frequentes. Numa era de multiplicação
bilizar edições gratuitas via e-mail. de plataformas, a portabilidade é também outro
Actualmente existem dois tipos de formatos digi- factor de atracção do digital.
tais em uso na imprensa mundial. Kabiraj refere a Para os jornais e revistas que apostem na oferta digi-
mais habitual disponibilização em PDF da versão tal as vantagens também são muito positivas, de acor-
impressa do jornal, e o software de proprietário do com o autor. Desde logo, os mercados internacio-
que permite a leitura de apenas algumas publica- nais e seus leitores tornam-se mais próximos, o que
ções especiais por parte do consumidor. também pode atrair novas receitas publicitárias.

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[Estudo/ Internet]

LISBOA É A MAIS LIGADA À INTERNET


Banda larga domina ligações no mercado doméstico

É na capital que se verificam os maiores índices de ligação à internet,


seguida do Grande Porto, enquanto que o interior do país vem no fim da
tabela
POR VERA LANÇA

CASA DA IMAGEM
concelho de Lisboa está à frente no ranking

O de penetração da internet, com 72% das fa-


mílias aí residentes a possuir ligação e, des-
tas, 81% dispõem de acesso através de banda lar-
ga. Contrariamente, os índices gerais a nível
nacional revelam que apenas 35% dos lares tem
acesso à internet, sendo que 78% têm de banda
larga. Os dados foram recentemente divulgados
no estudo “Utilização de Banda Larga em
Portugal: Sondagem e Previsões 2005-2010”, leva-
do a cabo pela IDC, uma empresa operacional na
área do market intelligence e serviços de consulto-
ria nas TIC.

Grandes Centros Urbanos destacam-se quase 50% em 2005”, diz. “No entanto, a taxa de
O relatório da IDC indica que a área da Grande penetração de PCs nos lares portugueses ainda
Lisboa é mesmo a região com maior nível de de- continua bastante abaixo da média europeia, pelo
senvolvimento tecnológico, prova disso é a per- que consideramos crítico por parte de todos os in-
centagem (67%) de lares com computadores pes- tervenientes no mercado a criação de soluções
soais (PC), ao mesmo tempo que 56% têm acesso que estimulem uma maior utilização dos mes-
à internet, seguida do Grande Porto, com valores mos”, conclui Gabriel Coimbra. Neste estudo, a
na ordem dos 53% e 40%, respectivamente. No IDC prevê que em 2010 haja 2.1 milhões de liga-
lugar oposto da lista está o Baixo Alentejo, em que ções à internet no país.
apenas 7% dos lares tem acesso à internet e, des- Quando estão a navegar na internet, 88% dos in-
tes, 5% é de banda larga. Estes são dados que co- ternautas portugueses utiliza aplicações de e-mail
locam Portugal abaixo das médias da Europa para comunicar, 70% utiliza serviços de Instant
Ocidental, tendo em conta que 80% das famílias Messenging e 19% recorre ao VoIP. A percentagem
estão ligadas à internet e 62% dessas ligações são de consultas de páginas online (80%) indica que
de banda larga. No entanto, para Gabriel esta é igualmente uma prática generalizada entre
Coimbra, da IDC Portugal, estes são dados que os portugueses, enquanto que os downloads de
mostram uma evolução positiva. “A internet apre- música gratuita (33%) e paga (26%) também já se
sentou um crescimento muito significativo em assumem como significativas. Já os downloads de
Portugal. Nos últimos anos a penetração na popu- vídeos gratuitos e pagos situam-se nos 22% e
lação passou de 10% no final do ano 2000 para 14%, respectivamente.

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[Mercados da Comunicação]

TECNOLOGIAS DIGITAIS MARCAM O RITMO


Indústria de media e entretenimento com novas tendências de lucro

Os formatos de distribuição digital estão a tornar-se cada vez mais


rentáveis para as empresas de media enquanto que os canais físicos
estão em ligeiro declínio
POR VERA LANÇA

os próximos anos o sector de media e entrete- dos, em detrimento dos canais físicos. As tecnolo-

N nimento irá crescer a uma média de 6,6% por


ano, atingindo 1.8 triliões de dólares em 2010,
em grande parte devido ao destaque que as tecnolo-
gias digitais, onde se destacam a internet de banda
larga e as redes móveis, estão a transformar-se nas
novas fontes de receita do sector, mas o estudo da
gias digitais estão a assumir. Os dados são globais e PricewaterhouseCoopers aponta para que esta
foram traçados pela PricewaterhouseCoopers no es- transição dos suportes físicos para os digitais possa
tudo “Entertainment & Media Outlook 2006-2010”, ocorrer de forma a que as empresas de media en-
publicado este ano e que analisa em detalhe o de- contrem um equilíbrio entre estas duas vertentes,
sempenho do sector para os próximos anos. O mes- ou seja, a diminuição de receitas oriundas da distri-
mo estudo prevê também que o mercado português buição tradicional poderá ser compensada pelas no-
atinja um valor na ordem dos 4.872 milhões de dó- vas tendências. O relatório afirma que esta orienta-
lares em 2010, seguindo uma taxa de crescimento ção do sector está a alterar a forma como as pessoas
médio anual de 5,7%. adquirem e consomem conteúdos de media, o que
se reflecte principalmente no aumento dos investi-
Novas tecnologias, novos horizontes mentos em publicidade em canais de distribuição
Actualmente a grande maioria dos segmentos do online e wireless. Neste sentido, os consumidores
sector de media e entretenimento aposta cada vez domésticos de banda larga e da tecnologia sem fios,
mais nos canais de distribuição digital de conteú- em constante crescimento, serão um importante
motor de crescimento do sector. O estudo estima
que até 2010, mais de 246 milhões de casas pelo
mundo fora terão acesso à banda larga . Em Portu-
gal, o mercado ligado à internet irá crescer cerca de
7% no próximo ano, o que equivale a um valor de
747 milhões de dólares.
Depois dos EUA, a região Europa, Médio Oriente
e África (EMEA) continuará a ser o segundo maior
mercado de media e entretenimento a nível mun-
dial, sendo o seu crescimento previsto de 6,1%
por ano até 2010. O estudo publicado pela Price-
waterhouseCoopers projecta um crescimento
anual do mercado da internet na EMEA na ordem
dos 22,6%, sendo o valor alcançado em 2007 de
CASA DA IMAGEM

12,8%, o que coloca este segmento de mercado


na liderança de crescimento dentro do sector nos
últimos cinco anos.

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[Evento/ II Seminário Internacional Media, Jornalismo e Democracia]

MEDIA E DEMOCRACIA EM ANÁLISE


Democracia beneficia da abertura do espaço público

A maior facilidade de acesso das mensagens dos cidadãos aos espaços


mediáticos pode ser uma fonte benéfica para a democracia. A opinião,
partilhada por Pacheco Pereira e João Pissarra Esteves, foi debatida no II
SIMJD
POR GUILHEME PIRES

desenvolvimento de novas plataformas de co- “Existe uma complementariedade na comunicação

O municação na internet está a abrir o espaço


público aos cidadãos, possibilitando a cons-
trução de uma opinião pública a partir da própria
virtual, que beneficia da ausência de certas marcas
sociais e permite que sejam escutadas vozes que
dificilmente o seriam em condições normais”, ana-
acção dos consumidores de media. A internet po- lisa João Pissara Esteves. Destacando a actual capa-
de, por isso, aproximar-nos de uma melhor demo- cidade das massas em acederem a conteúdos e
cracia, onde “exista uma esfera pública operacio- perspectivas dos quais estavam alheios no passado,
nal, cuja construção se opõe às acções exteriores, o historiador José Pacheco Pereira defendeu, no
criadas para orientar os públicos em função do que seminário, uma perspectiva semelhante à de
os políticos pretendem”. A ideia foi defendida por Pissara Esteves. “A crescente integração das massas
João Pissara Esteves, professor da Faculdade de indiferenciadas nos espaços públicos é visível na
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova pressão quase quotidiana que efectuam através das
de Lisboa, no II Seminário Internacional Media, sondagens, na forma como moldam os conteúdos
Jornalismo e Democracia, realizado entre 13 e 14 dos telejornais e do entretenimento através da for-
de Novembro, na Escola Superior de ça das audiências, ou nas ideias desenvolvidas nas
Comunicação Social de Lisboa, e organizado pelo caixas de comentários dos sites e nos blogs”, su-
Centro de Investigação Media e Jornalismo. blinha o professor do ISCTE.
Falando para uma plateia composta por docentes, José Pacheco Pereira identificou nestes factores
alunos e jornalistas, o professor identificou várias uma força que perturba os poderes que estavam
potencialidades das novas tecnologias, entre as instalados, e que se exprime através de instrumen-
quais se destacam a enorme capacidade de arma- tos de intervenção cívica como os blogs e o jorna-
zenamento de informação e a maior facilidade de lismo participativo ou plataformas de produção de
acesso à mesma. Estes dois aspectos “facilitam uma conhecimento científico, como a wikipédia. “Os
possível deliberação democrática, mas é importan- blogs democratizaram o acesso aos espaço público
te perceber que a informação não equivale a co- e a capacidade de aceder sem intervenção técnica,
municação”, avisa o professor. Mas o potencial da visto que qualquer pessoa cria um blog sem ajuda
internet não se esgota na maior quantidade e qua- de técnicos”, defende Pacheco Pereira.
lidade de informação: a capacidade interactiva dos Em paralelo a estes argumentos existe no entanto
novos suportes tecnológicos e da web está a pro- uma corrente de opinião céptica em relação às po-
vocar também uma recuperação de redes sociais, tencialidades da internet, e que revela uma espécie
aproximando os cidadãos e abrindo o seu acesso de idolatria para com a comunicação tradicional.
ao espaço público. “Os cépticos analisam os utilizadores da internet

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[Evento/ II Seminário Internacional Media, Jornalismo e Democracia]

VERA LANÇA

AS NOVAS TECNOLOGIAS ESTÃO A DEMOCRATIZAR O ACESSO AO ESPAÇO PÚBLICO

enquanto seres diminuídos, rejeitando toda e qual- ou cívico. Para Pissara Esteves, neste domínio é
quer forma de comunicação com uma certa di- fundamental o papel do Estado e a responsabilida-
mensão tecnológica.Trata-se de uma generalização de dos organismos públicos perante a sociedade.
abusiva da observação de situações pontuais”, ana- Em particular através de políticas promotoras de
lisa João Pissarra Esteves. A refutação destes juízos condições sociais benéficas para a utilização das
é importante para perceber a ligação das tecnolo- novas tecnologias. “O Estado deve intervir, por
gias da informação e comunicação com a demo- exemplo, no alargamento da base de utilizadores
cracia. das TIC, no que respeita aos custos das ligações, ao
Ainda neste campo, Pacheco Pereira lembrou que acesso em locais públicos, na acessibilidade a fon-
da literacia mediática depende a capacidade de uti- tes oficiais e a bases de dados relevantes”, destaca.
lização dos recursos disponibilizados pela internet No evento foi ainda debatido o relacionamento
para a produção de actos de democracia. “Sem ins- entre os jornalistas e os políticos, bem como as
trumentos de mediação, as pessoas não têm capa- consequências que acarreta para a democracia.
cidade para distinguir sites fidedignos ou sites com Ricardo Jorge Pinto, director do Expresso para a
dupla-intenção. A ausência de literacia mediática região norte, destacou que a relação entre os me-
provoca, por exemplo, problemas graves nos tra- dia e as instituições políticas será sempre um misto
balhos académicos”, sublinha o historiador. de conflitualidade e cumplicidade. Como referiu
Defendendo uma perspectiva semi-optimista, Pacheco Pereira, “na luta pelo bem escasso que é a
Pissara Esteves adiantou ainda que não acredita na influência, jornalistas e políticos pescam na mesma
e-cidadania nem nas democracias virtuais. O pro- água”. Fundamental para a democracia, esta com-
fessor da UNL criticou o avassalador assalto co- petição irá certamente ganhar novos contornos
mercial de que a rede tem sido alvo, que a trans- com a evolução das novas tecnologias. A próxima
forma mais num espaço comercial do que político palavra poderá ser dos cidadãos.

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[Ibermedia]
O Tribunal Internacional de Arbitragem
da Câmara de Comércio Internacional
condenou a Tiscali a pagar 6.7 milhões
Regulador intervém entre Euskatel e Orange de euros à Prisa. A decisão do tribunal
A Comissión del Mercado de Te- surge um ano e meio depois da Prisa
lecomunicaciones (CMT) ter recorrido à justiça por
proibiu a operadora móvel incumprimentos contratuais daquela

Tiscali obrigada a indemnizar Prisa


Euskatel de tentar levar para a empresa italiana de tecnologia.
sua rede os clientes da Orange.
As duas empresas mantinham
uma sociedade desde 1998 que
terminou este ano quando a
Euskatel se aliou à Vodafone. Em Segundo a Prisa, a Tiscali não respeitou
questão estão 450 mil clientes um contrato de investimento
da Orange e a CMT deliberou publicitário em vários meios do grupo
que a Euskatel não poderá espanhol no valor de 10 milhões de
contactá-los para aderirem à no- euros e que tinha um pagamento
va rede que lançará em Janeiro mínimo garantido de 8 milhões,
próximo.Também a Orange está interdita de se dirigir celebrado em 2001. O contrato entre
comercialmente aos seus clientes com o objectivo de manter a sua as duas empresas foi assinado na altura
subscrição. A CMT negou ainda a petição da Euskatel para ter com o objectivo da venda da Inicia
acesso aos dados dos clientes da Orange. As duas operadoras estão Comunicaciones, filial da Prisa, à
agora obrigadas a manter provisoriamente a relação contratual que Tiscali.
mantinham enquanto associadas para garantir a qualidade dos
serviços prestados aos clientes.
PSOE pede auditoria independente à RTVM

Os representan-
tes do PSOE no
TVE antecipa oferta digital Consejo de
Administración
A operadora de de Rádio Televi-
televisão pública sion Madrid
espanhola decidiu (RTVM)
antecipar já para exigiram uma
Janeiro de 2007 a auditoria
emissão dos seus independente
conteúdos em para que se
formato digital. conheçam os
Todos os residentes contornos reais
no território do buraco
espanhol poderão a financeiro da estação. O pedido surgiu depois de
partir do início do Manuel Soriano, director-geral da RTVM ter
ano ter acesso livre solicitado uma injecção extraordinária de 20 mi-lhõ-
e gratuito à TVE es de euros para fazer face à diminuição das receitas
digital via satélite. A empresa pública renegociou e ampliou da emissora ligada às descidas de audiência. Por seu
o contrato de serviços fornecidos pelos satélites Hispasat e turno, Ruth Porta, do PSOE, justifica essa contribui-
Eutelsat para poder antecipar o apagão analógico, cuja data ção monetária com a incompetência de gestão. Por
prevista em Espanha é 2010. A TVE garantiu, ainda, que os seu turno o PP diz que a RTVM é auditada todos os
canais digitais privados serão bem-vindos a integrar a anos e que não se justifica rever as contas de 2005.
plataforma digital do operador estatal. Os populares fizeram ainda saber que vão rejeitar o
pedido dos socialistas porque a lei que regula o
funcionamento da emissora foi aprovada em 1984
com a maioria absoluta do PSOE.
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[Reportagem Marketing e Comunicação/ Sector Vinícola]

A COMUNICAÇÃO DOS VINHOS


Cativar as gerações mais novas é um dos desafios

Empresas portuguesas ainda confiam apenas na qualidade dos seus


produtos como forma de chegarem a novos públicos, sem recorrerem a
técnicas de comunicação criativas
POR MÁRIO GUERREIRO

As empresas, com poucas excepções, ainda

“ têm uma reduzida visão de mercado, confiando


quase exclusivamente na vertente produto (via
enologia) para triunfarem”. Quem o diz é Mário
A BRANDIR

A Brandir foi criada em 2003 e presta assessoria em


Cravidão, partner da Brandir, empresa de marke- regime de outsourcing no marketing, mas também a
ting estratégico e operacional, com especial activi- nível comercial. Mário Cravidão é, a par de Eric Auri-
dade no sector alimentar e em particular no viní- ault, partner da Brandir, e juntos têm mais de 20
anos de experiência em multinacionais. Como refere
cola. E quais as diferenças entre o marketing no Mário Cravidão, a empresa pretende “dotar os seus
sector dos vinhos e os demais? “Trabalhar o marke- clientes de um conjunto de competências que fa-
ting dos vinhos é um desafio bastante superior”, cilitem a construção de marcas, conhecimento do
responde Mário Cravidão. A principal razão tem a consumidor e desenvolvimento de vendas quer no
ver com a confiança quase exclusiva que as empre- mercado nacional como internacional. Procuramos
ser o departamento comercial ou de marketing de
sas têm no valor enológico dos seus produtos. empresas de média e pequena dimensão”, diz Mário
Para o partner da Brandir existe um problema de ati- Cravidão.
tude das empresas perante o mercado: “ao fazerem Entre os clientes e campanhas realizadas pela
um vinho de qualidade esperam que o consumidor o Brandir contam-se “a Roquevale e a Herdade Grande
reconheça imediatamente como sendo de qualidade”. no Alentejo, a Adega de Favaios em Trás-os-Montes
ou a Quinta Tamariz nos Vinhos Verdes, com os
Desta forma, “esquecem os investimentos em comu- quais trabalhamos de uma forma continuada, ten-
nicação e promoção para se darem a conhecer ao tando desenvolver as estratégias de negócio e im-
mercado”, finaliza. Um dos reflexos desta incapacida- plementando-as”, refere o partner da Brandir. A em-
de das empresas do sector é a competitividade “que presa também já trabalhou com mais de uma
actualmente existe no mercado e a evolução subse- dezena de organismos e empresas do sector viníco-
la, como a Comissão Vinícola da Estremadura ou o
quente no nível dos preços praticados, que não param Grupo Imocom, ou fora deste sector, como a Eu-
de descer”, refere o partner da Brandir. ropastry ou a Azal. A Brandir tem apostado cada vez
mais na “promoção e internacionalização dos
D.R.

clientes” e no “procurement” de novos importadores


a nível internacional. Mário Cravidão exemplifica esta
maior aposta internacional: “no caso do vinho em
2006, procurámos encontrar novos mercados para o
vinho, tendo representado agrupamentos de produ-
tores em feiras como a Vinexpo de Hong-Kong e a
Wine for Asia em Singapura”. O sucesso destas inicia-
tivas ditou que em 2007, a Brandir planeia a olhar
“para a oportunidade do mercado asiático, mas tam-
bém de um outro mercado emergente como o russo”.

ACÇÃO PROMOCIONAL DA BRANDIR EM HONG-KONG

mediaXXI | 57
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[Reportagem Marketing e Comunicação/ Sector Vinícola]

D.R.

CAMPANHA DA BRANDIR PARA A ROQUEVALE

Mário Cravidão identifica ainda outros problemas imagens apelativas, marcas facilmente memorizá-
na comunicação das empresas do sector. “As empre- veis e fortes campanhas de comunicação”.
sas têm no seu portfolio uma pulverização de mar-
cas que não contribuem para um todo devidamente Impacto das novas tecnologias
integrado sob o nome de um produtor”, diz. O que Para Mário Cravidão, o desafio do sector do vi-
leva a “uma série de problemas ao nível da falta de nho, em termos globais, é “tornar-se apelativo a
massa crítica para investirem no desenvolvimento adultos a partir dos vinte anos”, já que o perfil do
do marketing nacional e internacional”. consumidor de vinho em Portugal ronda os 35
Sobre a criatividade e o marketing do sector, Má- anos. Quando comparado com a cerveja, o vinho
rio Cravidão admite que “têm vindo a existir de- tem perdido a capacidade de renovar a sua base
senvolvimentos bastante interessantes ao nível da de consumidores, advoga Mário Cravidão. “Basta
imagem dos produtos”. A “Sogrape continua a fa- analisarmos os últimos 20 anos para vermos que
zer excelentes trabalhos”, exemplifica. Para o res- o que se perdeu no consumo per capita no vinho
ponsável da Brandir, o grande desafio do sector e verificarmos que foi transferido para a cerveja”,
coloca-se ao “nível estratégico do negócio”, como considera. Nesse capítulo, as tecnologias podem
a “sua operacionalização devidamente integrada no revelar-se importantes na forma de chegar a gru-
marketing e ajustada aos mercados de destino”. pos alvos mais jovens. “É o caso do marketing di-
Mário Cravidão deixa a sugestão: “O sector do recto, desenvolvido pela internet, mas também
vinho deve olhar para os bons exemplos que vêm serão num futuro próximo as mensagens relacio-
do novo mundo, com vinhos que são criados de nais” através de mensagens multimédias via tele-
acordo com o que o consumidor procura, com móveis.

58 | mediaXXI
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[Reportagem Marketing e Comunicação/ Sector Vinícola]

EXCELÊNCIA NA ESTREMADURA
Companhia Agrícola do Sanguinhal aposta no contacto directo
Para a Companhia Agrícola do Sanguinhal, a principal forma de
comunicação e promoção ainda é o contacto directo, mas as novas
tecnologias ganham relevância
POR MÁRIO GUERREIRO

ara Carlos João Pereira da Fonseca, director da mercado internacional usando os meios que as novas

P Companhia Agrícola do Sanguinhal, a internet é


um canal de distribuição com elevado potencial,
que ainda falta explorar em Portugal, já que o con-
tecnologias põem ao serviço das empresas, desde a
utilização dos sites ao comércio electrónico, bem co-
mo a comunicação via internet com clientes, distri-
tacto directo e as participações em feiras e provas de buidores, agentes e também com jornalistas.
vinho dominam a promoção dos produtos.
Que importância tem o enoturismo na
De que maneira a inovação nas formas de comercialização dos vinhos DOC da
comunicação e promoção tem sido Companhia Agrícola do Sanguinhal?
incorporada nas vossas três quintas, na A Companhia Agrícola do Sanguinhal desenvolve acti-
Região Demarcada de Óbidos? vidades relacionadas com o enoturismo há mais de 20
Utilizamos preferencialmente o contacto directo anos. No últimos cinco anos esta actividade tem cres-
com os consumidores, o que fazemos de diversas cido, fruto de grandes investimentos na adaptação do
formas: acções em pontos de venda ou de consu- monumental património da empresa para fins turísti-
mo, patrocínio de eventos cujos participantes cor- cos e do grande esforço na promoção junto de opera-
respondam ao nosso público alvo, etc. Estas são dores turísticos, postos de turismo, hotelaria e cam-
formas tradicionais de promoção juntamente com pos de golf da região. Esta ligação dos vinhos ao
a participação em feiras nacionais e internacionais, turismo é benéfica do ponto de vista do negócio em si
provas de vinhos em Portugal e no estrangeiro, e pela promoção que lhe está associada . É uma mais
participação nos concursos de vinhos mais impor- valia inestimável pois pode ser ela própria uma fonte
tantes nacionais e mundiais, etc. de receitas. Para isto beneficiamos da proximidade
A inovação tem a ver com a forma, os meios e os con- com um grande centro de recepção de visitantes que
teúdos . Aí procuramos acompanhar as tendências, é Óbidos. Para o sucesso da actividade é importante
principalmente no que respeita à produção dirigida ao não esquecer a recepção aos visitantes por pessoas ha-
bilitadas a falarem diferentes línguas e capazes de esta-
D.R.

belecerem uma relação de afectividade.

Acha que a compra de vinhos e actividades


de importação/exportação poderão ser
facilitadas pela internet e o uso de
tecnologias de informação e comunicação?
Certamente que sim. São precisamente essas novas
tecnologias que nos tornam parte integrante de um
mundo global que funciona 24 horas por dia. A ra-
pidez do contacto com o cliente tem de ter como
resultado a resposta imediata às suas necessidades.
QUINTA DO SANGUINHAL

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[Reportagem Marketing e Comunicação/ Sector Vinícola]

“PORTUGAL NÃO TEM IMAGEM”


Quinta da Cortezia aposta na excelência
Miguel Catarino, da Quinta da Cortezia defende ser necessária maior
projecção internacional dos vinhos portugueses
POR MÁRIO GUERREIRO

vinicultor e enólogo da Quinta da Cortezia, Mi- vo, e na escolha dos nossos importadores. Desloca-

O guel Catarino, refere que Portugal se deixou


atrasar no recurso às novas tecnologias para pro-
moção dos seus produtos vinícolas. A solução passa
mo-nos com frequência a esses países para apoiar o
importador. Apresentamos em conjunto o nosso pro-
jecto e damos provas dos nossos vinhos a “opinion le-
por tentar encontrar uma imagem positiva para os aders”, jornalistas, “sommeliers” e retalho. Neste ní-
produtos nacionais nos mercados internacionais. vel alto o negócio é muitíssimo personalizado.

Qual é o segredo para os vossos vinhos O que existe por fazer no sector vinícola
terem obtido excelentes qualificações em português em termos de comunicação e
concursos internacionais e serem premiados promoção e quais as principais dificul-
pelas revistas de especialidade mundial? dades para obter uma maior projecção
A Quinta da Cortezia iniciou em 1980, em Fran- internacional?
ça, um estudo com duas vertentes em paralelo: a Em primeiríssimo lugar tem que se seleccionar
aptidão vitivinícola da Quinta da Cortezia e as no- muito bem tudo o que merece ser divulgado, para
vas tendências do mercado mundial de vinho. Este cada mercado – como por exemplo a definição da
estudo levou à replantação total da vinha e à re- estratégia. Como a boa comunicação e promoção
conversão da nossa adega. Deste modo passou a são investimentos caros, há que saber ganhar di-
haver matéria-prima (uvas) e sua transformação mensão para se poder pagar.
com qualidade para produzir vinhos adaptados às A principal dificuldade para obter uma maior pro-
novas tendências do mercado “Leader mundial”. jecção internacional está na ausência de imagem
que Portugal tem. Não tem nem boa, nem má
Em que consiste a vossa estratégia em imagem, o que é péssimo. Temos que nos tornar
termos de distribuição para colocar os tão atractivos como a África do Sul, a Austrália ou
vossos vinhos nas cartas dos mais mesmo o Brasil.Tivemos passado, mas só História
famosos restaurantes? não chega. Precisamos de ter presente. É urgente
Somos muito selectivos na definição de mercados al- arranjar uma boa estória para divulgar dentro e fo-
ra do país – atrai investimento estrangeiro, turis-
mo e imediatamente toda e exportação beneficia.

A internet é uma aposta de futuro para os


vinhos portugueses, diminuindo o fosso
entre produtor e consumidor final?
Acho que é uma aposta muito actual no mercado
mundial. Mais uma vez Portugal atrasou-se. Está ago-
ra no início. Como qualquer outro meio de comuni-
cação há que apresentar novidades credíveis que nos
diferenciam dos outros países concorrentes.
D.R.

MIGUEL CATARINO, VINICULTOR E ENÓLOGO DA QUINTA DA CORTEZIA

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[Leituras]
Anúncios à lupa – Ler publicidade
Eduardo Cintra Torres
Bizâncio
Enquanto a maior parte das pessoas vê os anúncios sem ligar ao que está por detrás
destes nem se aperceber de pormenores, Eduardo Cintra Torres analisa-os ao
detalhe. Esta obra reúne várias crónicas do autor, publicadas no Jornal de Negócios
em 2003 e 2004. Ao longo de quase 200 páginas ilustradas com imagens das
diversas campanhas publicitárias que critica, Eduardo Cintra Torres escreve sobre as
mais variadas marcas e desde o anúncio televisivo ao outdoor. Do spot mais
inocente ao mais polémico, este livro, que conta com a apresentação de Sérgio
Figueiredo e prefácio de Pedro Bidarra, reúne de tudo um pouco e promete fazer as
delícias de quem se interessa pela publicidade.
POR VERA LANÇA

O copianço na universidade – O grau zero na qualidade


Ivo Domingues
Rés XXI/Formalpress
Ivo Domingues, doutorado em Sociologia das Organizações pela Universidade do Minho
e investigador e consultor nas áreas da Gestão da Qualidade e da Gestão de Recursos
Humanos, é autor deste estudo publicado pela Rés XXI/Formalpress. Realizada numa
universidade que não é identificada, esta pesquisa expressa a preocupação com a
qualidade dos processos formativos, hoje em dia muito fragilizados pelo recurso dos
discentes à fraude na avaliação escolar. O autor critica não apenas os alunos que
recorrem a esquemas para fintar as avaliações, mas também os professores universitários
que acusa de controlar e sancionar cada vez menos esta fraude nos estabelecimentos de
ensino superior.
POR VERA LANÇA

Mercados televisivos europeus – Causas e efeitos das novas formas de organização


empresarial
Luís Oliveira Martins
Porto Editora

Neste livro da Colecção Comunicação, da Porto Editora, Luís Oliveira Martins,


professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa, traça o perfil das transformações ocorridas nos mercados televisivos
europeus nas duas últimas décadas. Ao longo da análise dos factores económicos,
políticos e tecnológicos, esta obra explica as causas e os efeitos destas mudanças no
sector. O enfoque é dado às repercussões que este novo cenário tem nas estruturas
de mercado e nos padrões de organização empresarial. Como não poderia deixar
de ser, Luís Oliveira Martins faz também a análise do caso português.
POR VERA LANÇA

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ed.90 06/12/15 17:12 Page 62

[Leituras] Comunicação, Economia e Poder


Helena Sousa (org.)
Ética e Responsabilidade Social dos media Porto Editora
Paulo Faustino (org.)
Rés XXI/Formalpress Comunicação, Economia e Poder é uma obra que conta
com a organização da docente da Universidade do Min-
Editado pela Rés ho Helena Sousa e com a coordenação de Joaquim
XXI/Formalpress e organizado Fidalgo e Manuel Pinto. Editado pela Porto Editora, es-
por Paulo Faustino, Ética e Res- te livro da Colecção Comunicação reúne textos de
ponsabilidade Social dos media, conceituados autores profissionalmente activos na
da Colecção Media XXI, debru- comunicação e nos media.
ça-se sobre a temática Trata-se de uma exposição
inesgotável da ética inserida no de ideias e posicionamentos
contexto da comunicação dos variados, mas onde são sem-
media.Trata-se de uma obra pre consideradas as questões
que conta com a colaboração de ligadas à produção e ao
investigadores nacionais e inter- consumo da informação e
nacionais de renome cujo do entretenimento, que
principal objectivo é contribuir espelham a distribuição do
para a reflexão e execução de poder na sociedade.Tecem-
práticas de trabalho nos media -se aqui considerações sobre
em que a responsabilidade social é a palavra de ordem. São os efeitos dessa distribuição
abordadas diversas perspectivas sobre a importância que do poder no espaço público
este tópico assume directamente proporcional ao desenvol- e na qualidade do sistema
vimento da sociedade, cada vez mais complexa e exigente. democrático.
POR VERA LANÇA POR VERA LANÇA

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*DEVE ENVIAR UMA FOTOCÓPIA DO CARTÃO DE ESTUDANTE OU COMPROVATIVO DA MATRÍCULA **DEVE ENVIAR O COMPROVATIVO DA TRANSFERÊNCIA

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OS DADOS A RECOLHER SÃO CONFIDENCIAIS E SERÃO PROCESSADOS PELA FORMALPRESS PARA EFEITO DE ENVIO REGULAR DAS PUBLICAÇÕES ASSINALADAS E EVENTUAL ENVIO DE PROPOSTAS FUTURAS. FICA GARANTIDO O ACESSO AOS DADOS E RESPECTIVA
RECTIFICAÇÃO, ALTERAÇÃO OU ANULAÇÃO. CASO NÃO PRETENDA RECEBER OUTRAS PROPOSTAS NO FUTURO, ASSINALE COM UM X.

PODE FORMALIZAR A SUA ASSINATURA ATRAVÉS DE:

 217 573 459  217 576 316


 RUA PROFESSOR VITOR FONTES, 8D, 1600-671 LISBOA
@ GERAL@MEDIAXXI.COM
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[Aula Aberta]

CONTO DE FADAS

e pudesse, o que gostaria de mudar em vel, melindroso, pesado e de desfecho inde-

S si? O recentemente estreado talk-show


da TVI “Doutor, Preciso de Ajuda” não
se limita a colocar a questão mas promove a
terminado. Não é, em definitivo, um pro-
grama da área da Saúde, como “Ficheiros
Clínicos”. Mostra o “antes” e o “agora”. A
concretização da mudança. A operação, lite- pessoa sofreu uma mudança, há uma curio-
ralmente, destina-se preferencialmente a sidade ociosa em ver resultados. A mudança
pessoas comuns e sem recursos financeiros é visível. “Vejam que bonita está!”, clama a
CARLA MARTINS para a desejável transformação. Pelos progra- apresentadora, Júlia Pinheiro, quando a
*JORNALISTA E DOCENTE mas já exibidos, os principais alvos são mu- mulher atravessa o umbral do estúdio, nu-
UNIVERSITÁRIA lheres de diferentes idades que procuram a ma espécie de efeito de varinha de condão.
ajuda do doutor para aumentar seios, acertar Mas afinal para quê tudo isto? O desejo de
narizes, eliminar rugas, corrigir dentes. mudar, quando há (e quase sempre há) insa-
Como uma verdadeira agência de contos de tisfação em relação a algum ou vários aspec-
fadas dos tempos modernos, os protagonistas tos físicos, está enraizado no ser humano. A
“’Vejam que têm ainda direito a uma total mudança de aparência, quer queiramos quer não, impor-
bonita está!’, visual, que inclui corte de cabelo, depila- ta. Afinal, público significa, retomando a
clama a ção, maquilhagem e novo guarda-roupa, definição de Arendt, ser visto e ouvido por
apresentadora, com formatos e cores adequados ao seu outros, assim como ver e ouvir os outros. A
Júlia Pinheiro” perfil físico. Os especialistas em estética lá esta definição poderemos juntar a prevalên-
estão a aconselhar. cia do ethos burguês no plano das relações
O que o programa nos mostra é o processo, sociais.
com imagens mais ou menos contidas das O que resulta da mudança? À partida, uma
intervenções médicas. As pessoas sujeitam- melhoria da auto-estima e da confiança.
-se à sua própria exposição sem roupa, com Acredito que não seja uma mera questão de
a boca aberta, com o rosto inchado... jactância. O que resultará desta melhoria?
Excertos dos diálogos das consultas são Talvez a esperança que os outros nos olhem
mostrados. É essa a contrapartida. Com ex- com outros olhos: nos passem a compreen-
cepções, a decisão de alterar a aparência fí- der melhor, a respeitar mais, a apreciar mais
sica é normalmente do foro privado. Aqui, ou mesmo a amar. E será que este fim de
tornam-se públicos não apenas a decisão co- história de contos de fadas se realizará? Nos
mo o processo e as acções subsequentes. contos de fadas sabemos que “eles viveram
Vale a pena reflectir sobre a estrutura e o felizes para sempre”. No quotidiano real tu-
objectivo do programa. O título, “Doutor, do é mais incerto. E as vazias e superficiais
Preciso de Ajuda”, poderia sugerir um nível conversas que se seguem à entrada no estú-
de intervenção médica mais sério e profun- dio da pessoa transformada nada deixam
do, o que tornaria o programa mais sensí- adivinhar a este respeito.

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[Centros de Conhecimento]

UMA ESCOLA QUE NÃO SE ACOMODA


ETIC prima pelo esforço na inovação
Criada há 15 anos, a ETIC foi pioneira num novo tipo de ensino em
Portugal apostado na renovação de talentos na área da imagem e
comunicação gráfica
TEXTO E FOTO POR VERA LANÇA

ETIC (Escola Técnica de Imagem e

A Comunicação), criada em 1991, tem como


cartão de visita uma diversificada oferta de
formação técnica e criativa nas áreas da imagem e
comunicação gráfica. Os alunos desta escola po-
dem optar por cursos de televisão e cinema, ani-
mação, design, fotografia, multimédia, música e
produção que se dividem por dois tipos de ensino
– o profissional, para os que já concluíram o 9º
ano, e o de especialização, destinado a pessoas que
completaram o 12º ano. Actualmente, cerca de
400 alunos frequentam o ensino profissional e
quase 500 estão a fazer uma especialização na
ETIC, que recebe todos os anos cerca de 900 can-
didaturas em ambas as opções de ensino.
Para Manuela Carlos, directora da ETIC, a escola
tem uma grande abertura face aos seus alunos e à MANUELA CARLOS, DIRECTORA DA ETIC
sociedade e é pouco dada à falta de dinamismo. trabalhos próprios em festivais e concursos nacio-
“Costumo dizer que a ETIC é uma escola que não nais e internacionais, com resultados positivos que
se acomoda, o que é uma das nossas mais valias. culminaram na atribuição de vários prémios aos
Temos a preocupação de exigir sempre mais e ir discentes da escola.
para além do que é o dia-a-dia normal de uma es- Com uma taxa de conclusão dos cursos a rondar
cola. Possibilitamos aos alunos que façam outras os 80%, a ETIC preocupa-se em formar os seus
coisas que por vezes não cabem dentro daquilo alunos recorrendo a equipamentos de vanguarda.
que é um plano curricular linear”, afirma. Para Manuela Carlos, é importante que assim seja:
Segundo a directora, a ETIC tenta estar sempre “Tentamos sempre que haja uma proximidade
que possível nos eventos que decorrem em Lisboa, muito grande entre o equipamento que temos
como foi o caso do Rock in Rio, da Cowparade ou aqui e o que existe no mundo do trabalho, para
do DocLisboa, em que os alunos participaram. que o aluno seja uma verdadeira força produtiva”.
“Nós estamos sempre a proporcionar que aconte- A escola orgulha-se de ir ao encontro daquilo que
çam coisas na escola, que os alunos se envolvam e são as verdadeiras necessidades do mercado de tra-
que estejam motivados para que possam ter expe- balho e todos os anos os cursos são remodelados e
riências reais e saiam daqui com um portfolio o actualizados com base nos resultados do ETIC
mais rico possível”, diz Manuela Carlos. Outra im- Brain, uma acção destinada a perceber o futuro pro-
portante faceta é a participação dos alunos com fissional das áreas em que os alunos são formados.

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[Instituições da Comunicação]

PELA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO


APDSI promove a participação da sociedade civil

Para Dias Coelho, o futuro próximo de Portugal passa obrigatoriamente


pela revolução da Sociedade da Informação e do Conhecimento, o grande
objectivo assumido pela APDSI
POR VERA LANÇA

esde a sua criação em 2001, que a APDSI

D (Associação para a Promoção e Desenvolvi-


mento da Sociedade da Informação) luta por
uma participação activa da sociedade civil na refle-
xão sobre a Sociedade da Informação e do Conheci-
mento em Portugal. “A Sociedade da Informação
(SI) é um conceito relativamente novo e neste mo-
mento estamos a comemorar os dez anos da SI no
nosso país. Já no final da década de 90 se reflectia
sobre a importância de criar uma associação repre-
sentante da sociedade civil e que fosse activa nesse
domínio, e a oportunidade surgiu há cinco anos”,
explica Dias Coelho, presidente da direcção da
APDSI, que tem associados empresariais, indivi-
duais e de ordem institucional pública.

MÁRIO GUERREIRO
Benefícios para todos
A APDSI está empenhada na promoção do desen-
volvimento da Sociedade da Informação e do Con- DIAS COELHO, PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA APDSI
hecimento porque, segundo Dias Coelho, “acredita
existirem benefícios nessa promoção tanto para os mento, a SI é um grande objectivo político. Mas
cidadãos como para os agentes económicos.” Nesse infelizmente na última década não houve tanto
sentido, a associação, cuja actividade se baseia no empenho quanto as palavras faziam crer”. Para a
voluntariado, tem levado a cabo uma série de ini- APDSI, Portugal tem de dar o salto qualitativo nos
ciativas, como conferências, em que é debatido o próximos cinco ou dez anos, caminho já em parte
futuro da SI, ou as tomadas de posição do Grupo alcançado segundo alguns indicadores, diz Dias
de Alto Nível sobre questões de natureza diversa, Coelho. “Não resta outra via a Portugal, pois já
como é o caso do Plano Tecnológico ou do Cartão não há alternativas nos sectores tradicionais que
do Cidadão. não sejam a sua modernização tecnológica”, afirma
Desde que iniciou funções, a APDSI notou uma al- o presidente da direcção.
teração da sociedade civil face à SI, mas essa mu- Todos os anos a APDSI atribui os prémios Persona-
dança vê-se sobretudo a nível político. No entan- lidade do Ano da SI, Editorial SI e Homenagem a
to, Dias Coelho lamenta que a associação não Uma Vida. “Acreditamos que a excelência é funda-
tenha conseguido levar a bom porto todos os ob- mental para qualquer país e procurá-la em todas as
jectivos a que se propôs e afirma que “neste mo- áreas é importante”, refere Dias Coelho.

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[Entrevista Sectorial / Ricardo Clemente]

“A OGILVY ONE É UMA AGÊNCIA TEIMOSA”


Ricardo Clemente fala sobre a agência vencedora e destaca o marketing relacional

Considerada a melhor agência do ano pela segunda vez consecutiva no Prémio


Neurónio, a Ogilvy One recolhe os louros pelo seu trabalho na área do marketing
relacional e assume uma posição direccionada para o futuro
TEXTO E FOTOS POR VERA LANÇA

15ª edição do Prémio Neurónio, onde são ga- marketing que continua em constante evolução

A lardoados os melhores do marketing relacio-


nal, voltou a reconhecer o trabalho da Ogilvy
One, considerada a melhor agência do ano. A
em que, desde que haja um objectivo de interac-
ção entre uma marca e um consumidor ou um
mecanismo de
agência arrecadou ainda sete prémios em várias resposta subja- “Este prémio é um duplo
campanhas de diversos clientes. Para Ricardo cente a essa inter- reconhecimento: aquele
Clemente, director-geral da Ogilvy One, esta é a acção, estamos no por parte do mercado e a
recompensa pelo trabalho árduo de uma equipa âmbito daquilo confiança que os clientes
que conta com cerca de 30 profissionais. Há qua- que é o marke- nos dão para fazer um
tro anos na agência, Ricardo Clemente assume que ting relacional. trabalho de qualidade”
a aposta clara no marketing relacional e nos new Sem querer afir-
media são o segredo do negócio. mar que o marketing relacional vai dominar o
mundo, a tendência é que cada vez mais as outras
A Ogilvy One foi a grande vencedora da 15ª disciplinas de comunicação abarquem aquilo que
edição do Prémio Neurónio. Qual é a são características do marketing relacional, ou se-
importância do prémio que a agência ja, a procura constante de um diálogo entre con-
arrecadou como a melhor do ano? sumidores e marcas e do estabelecimento de uma
Este é um prémio muito relevante na nossa activi- relação contínua. Diria que é uma forma de estar
dade porque reflecte o trabalho que fazemos para na comunicação de marketing.
os nossos clientes. Significa que o mercado reco-
nheceu a nossa qualidade e que os clientes acredi- Quais são as vantagens do marketing
taram que as nossas propostas criativas faziam sen- relacional?
tido. É um duplo reconhecimento: aquele por Eu não considero a questão numa lógica das vanta-
parte do mercado e a confiança que os clientes nos gens. Acho que, considerando que o futuro da co-
dão para fazer um trabalho de qualidade. municação de marcas passa por estabelecerem re-
lações contínuas e duradouras. Não se trata de
Como define o marketing relacional? vantagens, mas sim de imperativos. Qualquer que
Há tendências mais puristas onde consideram o seja o futuro da comunicação passará sempre por
marketing relacional uma disciplina que tem de considerar estas relações prioritárias nas estraté-
ter determinadas características técnicas, meca- gias de comunicação e neste sentido é um impera-
nismos de resposta, etc., e há também uma vaga tivo porque, mais cedo ou mais tarde, as marcas
mais recente que não faz uma divisão por meios. vão dar mais importância ao marketing relacional
Diria que é uma disciplina da comunicação de do que dão hoje devido aos resultados positivos.

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[Entrevista Sectorial / Ricardo Clemente]

response. Numa conjuntura económica pouco fa-


vorável os clientes tendem a dar atenção a isso.

No marketing relacional, como podem os


media tradicionais e os new media ser
explorados nas suas diversas vertentes?
Apesar de Portugal, do ponto de vista dos new me-
dia, ainda não ter a maturidade dos mercados euro-
peus e do norte-americano, ninguém contesta que a
tendência actual é que em breve os new media vão
dominar o panorama de media em Portugal. Hoje
em dia os media tradicionais trazem-nos o volume
mas a eficácia do ponto de vista do investimento e
do retorno dos new media já tem um ratio muito
interessante. Eu diria que o segredo está no presen-
te e irá continuar no futuro com a integração dos
vários media. Numa campanha em que os media
tradicionais levam as pessoas para os new media te-
mos resultados muito bons e os new media têm a
vantagem de ter interactividade e diálogo com os
Como é que o mercado reage ao marketing consumidores em tempo real. Este é um aspecto
relacional? que não podemos ignorar.
Actualmente há uma grande mudança no panora-
ma da comunicação que passa pela forma como os O que diferencia a Ogilvy One das outras
consumidores estão a lidar com os media. O que empresas no mercado que oferecem
acontece é que existem fenómenos que não são re- soluções de marketing relacional?
centes mas que têm mostrado tendências. Por Primeiro acho que a oferta de marketing relacio-
exemplo, o número de canais que existe hoje não nal no mercado português não é muito extensa. Já
tem nada a ver com o número de canais que exis- em termos de oferta de publicidade tradicional di-
tia na década de 90, o número actual de publica- ria há excesso de oferta. Há poucas agências a fa-
ções também é superior, o crescimento da inter- zer marketing relacional, principalmente na sua
net, etc. Os media têm-se fragmentado essência e conciliando aquilo que é a preocupação
completamente e isso faz com que as pessoas os de trabalhar e criar marcas com as técnicas de
consumam de forma diferente e as marcas estão a marketing relacional. O nosso mercado encontra-
perceber que a eficácia dos media tradicionais e -se fragmentado,
das estratégias de mass media tradicionais está a existem empre- “A Ogilvy One diferencia-se
diminuir e estão atentas a novas formas de comu- sas que traba- porque fez uma aposta
nicar. Os clientes da agência começam a valorizar lham o design, o clara no seu
a comunicação que permite fazer uma medição chamado bellow posicionamento que é o
mais detalhada dos seus investimentos e o marke- the line, mas que marketing relacional”
ting relacional tem essa capacidade, porque procu- o fazem dando
ra a interacção directa com o consumidor e per- muita prioridade ao aspecto gráfico da comunica-
mite medir a eficácia quase em tempo real das ção; há empresas que trabalham exclusivamente os
acções que desenvolvemos, seja uma campanha de canais new media, ou seja empresas típicas de in-
internet ou uma campanha de televisão de direct ternet e webdesign; e depois há empresas de pu-

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[Entrevista Sectorial / Ricardo Clemente]

blicidade que têm uma preocupação muito grande so, porque preferem os canais que lhes dão mais
ao nível do branding. A conciliação destes três in- possibilidade de escolha e de controlo, e se melho-
gredientes é o segredo de uma agência de marke- rarmos a nossa oferta nessa perspectiva ainda po-
ting relacional, que é conseguir entender os desa- demos reforçar a nossa posição de liderança no
fios da marca, usando os canais e os mecanismos mercado. A Ogilvy One entende o mercado dessa
certos ao nível da comunicação directa. Em maneira e tem vindo a fazer uma aposta nesse sen-
Portugal há três ou quatro empresas a fazer isso e a tido, o que reflecte a nossa liderança. O que vende-
Ogilvy One diferencia-se porque fez uma aposta mos são ideias e a melhor criatividade acaba por se
clara no seu posicionamento, que é o marketing destacar. O segredo é a nossa aposta na conciliação
relacional. Não nos desviámos da rota, apostamos da qualidade com estas competências técnicas.
na qualidade do nosso trabalho nessa área e desen-
volvemos as Porque é que o marketing dirigido às mas-
“O que vendemos são ideias competências sas já não tem o efeito que tinha antes?
e a melhor criatividade nesse sentido As pessoas estão saturadas e não querem que lhes
acaba por se destacar” com um deta- imponham as coisas, querem consumir a publici-
lhe que será dade como querem e quando querem. Mais do
muito importante no futuro que é a nossa aposta que ouvir gritos, as pessoas querem estabelecer
nos new media. Como já disse, a tendência mostra um diálogo e a tendência é para que o marketing
que no futuro os consumidores vão privilegiar is- de massas perca a sua eficácia quando é usado iso-

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[Entrevista Sectorial / Ricardo Clemente]

ladamente. Isso não significa que o marketing de mas sim cinco


massas esteja morto, pelo contrário, tem a sua clientes diferentes “Os new media têm a
missão, mas deve ser entendido como uma das pe- com vários traba- vantagem de ter
ças a usar numa comunicação integrada. As pessoas lhos, o que nos interactividade e diálogo
não querem que lhes digam “compre este pro- permite ter uma com os consumidores
duto”, querem antes estabelecer um diálo- grande consis- em tempo real e este é
go com a marca e ter curiosidade em ex- tência de tra- um aspecto que não
perimentar esse produto. balho. Não podemos ignorar”
queria estar
Qual foi a campanha que mais a enumerar alguns clientes e não mencionar
gostou de fazer na Ogilvy One? outros, mas falando naqueles que foram
Foram várias. Existem os trabalhos premiados na última edição do Prémio
do lado dos clientes, dos quais Neurónio, tivemos trabalhos com a
já vou falar, e existe o traba- Esegur, Masterfoods na marca
lho estrutural que consistiu Sheeba, Ajuda de Berço/Bom
em reformular a agência e Petisco, Livrarias Bertrand, en-
colocá-la no mercado co- tre outros. São trabalhos que,
mo líder na área. São quando chegam a este nível, me
duas missões diferentes, dão realmente muito prazer.
mas ambas interessantes.
A primeira foi fazer com Por outro lado, qual foi a
que, pelo segundo ano aquela que gostou menos
consecutivo, a Ogilvy de realizar?
One fosse reconhecida Também foram várias, infeliz-
como a melhor agência mente. O trabalho de comunica-
de marketing relacional, ção do lado da agência é um tra-
o que é reflexo de um balho muito desgastante, é uma
trabalho de toda uma constante luta por conseguir mais
equipa. Muitas das pesso- e melhor. Por vezes nós temos re-
as da equipa não estavam lações de teimosia com os clientes,
cá há quatro anos atrás e eu costumo dizer que somos uma
criámos uma equipa qua- agência teimosa e que por sermos
se de raiz que é vencedora e teimosos é que por vezes conseguimos
com gente fantástica. Do pon- elevar os padrões de qualidade. Mas às
to de vista dos clientes, tenho vezes não conseguimos levar o trabalho
dificuldade em indicar um tra- até ao nível que queremos, não por culpa
balho porque, ao sermos consi- dos clientes mas porque há determinadas
derados a agência de marketing conjunturas que nos impedem: ou os orça-
relacional do ano, nós consegui- mentos não o permitem ou os limites tem-
mo-lo com trabalhos feitos para porais não nos permitem desenvolver a
cinco clientes diferentes. O que campanha como desejamos. Também passa-
me dá prazer numa situação co- mos momentos difíceis dentro de uma agên-
mo esta é que as coisas não acon- cia e há muitos trabalhos que acabam por sair
tecem por acaso, não são nem um que gostaríamos que tivessem outro padrão de
cliente nem um trabalho isolados, qualidade.

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[Cibercultura]

BLACK BOX VS WHITE POD


A história do walkman

Os aparelhos portáteis de áudio alteraram a indústria fonográfica no


último século, e continuam a ditar regras no prazer de ouvir música, com
a portabilidade musical a conhecer novos desenvolvimentos
POR HERLANDER ELIAS

história do walkman é algo que já tem um O MiniDisc é um sistema de

A
D.R.

percurso notável. Depois do sucesso nos gravação digital por processo


anos 80 com o célebre leitor de óptico e sónico, que faz re-
cassetes da Sony, o Sony Walkman, este gistos por ondas na superfície
conceito tem sido alastrado a uma de um disco fechado. Os mi-
enorme gama de produtos. O concei- ni-discs deste novo sistema
to de aparelho portátil para música permitiam gravar quase quatro
mudou a indústria fonográfica num horas de som, seja gravação ou mú-
século1. Com o registo em discos de sica, em mono ou estéreo. Uma das fun-
vinil a gravação de música permitiu que cionalidades era a possibilidade de permitir
os consumidores pudessem comprar dis- ao ouvinte editar as faixas, apagá-las e reutilizar
cos e reproduzi-los no seu próprio sistema até mil vezes um mini-disc regravável2.
de som. Comparado com o Walkman Discman, que funcio-
Algum tempo mais tarde surge a alta-fidelidade, os nava por CD, o MiniDisc era mais vantajoso, mes-
registos fonográficos em cartuchos de fita, as cas- mo comparado com o Discman que lê MP3, e en-
setes, toda a parafernália de banda magnética, mas tão se assinala a transição para o iPod da Apple, o
quando a tecnologia se começa a compactar, eis famoso produto de audiofilia do século XXI. Com
que surge a cassete vulgar de áudio, patente no o iPod, os consumidores podem comprar músicas
Sony Walkman. Contudo, não deixa de ser curioso na internet e gravá-las no iPod, podem utilizar o
que dezenas de anos antes só a grafonola permitia aparelho como disco rígido amovível,
reproduzir som em casa. Nos anos 80 o walkman utilizá-lo para reproduzir música, e a
revoluciona o mercado e o estilo de vida dos au- sua interface cativa ainda milhões de
diófilos, ao permitir gravar-se e ouvir música em pessoas em todo o mundo.
toda a parte com uns auscultadores; tudo isto num Apesar de a Sony ter lança-
aparelho alimentado por pilhas. Com o tempo, es- do um Walkman de nova
.
te Walkman foi sendo miniaturizado e entretanto geração com disco rígi- D.R

surge o Compact Disc com as suas promissoras ca- do, com funcionalida-
pacidades de registo digital. Com o CD, toda a in- des do MiniDisc,
dústria fonográfica mudou, pouco depois a Sony a ver-
apresenta no mercado o Sony Walkman já em for-
mato MiniDisc.

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[Cibercultura]

dade é que a actual PlayStation Portable assume o no-livros como gram- D.R.

papel de Walkman do século XXI com proeminên- mophone, que se consul-


cia, permitindo ler textos, banda desenhada, gra- tariam através do protó-
var grafismos, vídeos, filmes, dispondo de jogos e tipo dos auscultadores: o
leitor de música. A PSP é o aparelho mais comple- estetoscópio. O que
to e torna-se marcante pelas suas funcionalidades UZANNE queria era um
audiovisuais e multimédia. E ao mesmo tempo que sistema para se escutar
a PSP foca o mercado lúdico, o iPod continua a romances gravados.
imperar no seio de quem só gosta de música; ou Hoje temos audiobooks,
que prefere videoclips. aparelhos que lêem fi-
Mas nesta história do walkman, há duas décadas cheiros em PDF, MP3,
atrás nas ruas o sistema de som que os grupos de WMA, AVI, MPEG,
gangs usavam, bem como toda a comunidade afro DivX, mas já não
e hip-hop, era a ghettoblaster3. Nas ruas, quem existe distinção
não queria passar despercebido nos territórios entre apare-
metropolitanos com um walkman, ostentava a sua lho marginal ou
ghettoblaster com orgulho, normalmente carre- aparelho civilizado, porque to-
gada ao ombro. Só que no século XIX já existia dos os leitores de media portáteis permitem am-
quem fizesse apelo a um novo tipo de aparelho de bas as coisas. Concilia-se assim o lado ilícito da
som portátil. E na altura não se se referia nem à black box, da caixa-negra que era a ghettoblaster,
ghettoblaster dos negros, associada ao mundo essa aparelhagem de rua, com a faceta legal e chi-
marginal, nem ao iPod de aspecto porcelânico as- que do iPod. Mas a empatia com a caixa permane-
sociado ao mundo civilizado, urbano e fashion. ce, como rezava a previsão de UZANNE, pois ago-
Assim, hoje após as caixas-negras de música hip- ra temos mesmo diante de nós os “pocket
-hop e os aparelhos brancos da Apple, ou a com- phono-opera-graphs” previstos.
pleta PSP da Sony, há algo que se mantém fiel ao
sonho de ter um aparelho multimédia portátil fu-
turista. E essa visão deve muito a Octave 1 Recorde-se que outrora era necessário ir a
UZANNE, que no século XIX escre- um concerto, ou antes ainda frequentar
veu sobre “o fim dos livros”, por- locais onde orquestras tocavam, para
que previa o aparecimento de ver, isto é, ouvir música ao vivo. Aliás,
um aparelho, chamado de durante toda a história da música não
kynetograph. Este existia música senão ao vivo. Não hou-
aparelho era ca- ve hipótese de escutar música gravada
paz de repro- até ao registo no gramofone no cilin-
duzir fo- dro de cera.

2 Também foram lançados no mercado


álbuns editados só para Mini-Disc

3 A ghettoblaster era uma “caixa-ne-


gra”, um “tijolo” usualmente negro ou
prateado, que tinha leitor de casse-
tes, rádio FM, colunas embutidas e
D.R. alimentava-se de muitas pilhas.

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ed.90 06/12/13 11:56 Page 74

[Educomunicação/ O projecto PT Escolas]

PT ESCOLAS – A AVENTURA
CONTINUARÁ SEMPRE!
desenvolvimento da Sociedade da nar e orientar – talvez seja este o novo papel

O Informação e do Conhecimento é uma


das prioridades do Grupo PT, não só
na sua condição de operador de telecomu-
a ser assumido pelos professores…
A boa pesquisa na internet tornou-se assim
o principal alicerce da 1ª edição do PT
nicações, mas principalmente pelo seu pa- Escolas. Nesta 2ª edição, a ambição cresceu
pel activo como empresa socialmente res- e temos como objectivos principais, para
ponsável e empenhada na modernização da além de consolidar o tema da pesquisa,
TIAGO DE SENA sociedade portuguesa. abrir o campo para a produção de conteú-
COORDENADOR DO PROGRAMA Colocar o progresso tecnológico e os mais dos de qualidade e em Português, tirando
PT ESCOLAS recentes avanços das ferramentas multimé- partido das capacidades da Banda Larga.
dia de comunicação online ao serviço de Contribuir para a literacia digital, estimular
Alunos, Professores e Escolas, materializan- a info-inclusão, promover a educação para
do o sonho da Escola do Futuro, é a grande os media, puxar pela criatividade numa
meta de todo este projecto, que iniciou em perspectiva de cidadania digital, são outros
finais de Outubro a sua 2ª edição. dos objectivos. Sucintamente, e em estreita
“Queremos colaboração com o Ministério da Educação
ensinar esta Porquê este investimento do Grupo (ME), e com mais uma rede de 50 parcei-
geração a PT na Educação? ros, queremos mobilizar a comunidade edu-
procurar e a Nada é mais critico para o desenvolvimento de cativa para a integração digital.
encontrar a uma sociedade que a Educação. Esta preocupa-
informação de ção estende-se ao Grupo PT e, nesse sentido,
que precisa” empenhamo-nos em procurar soluções. A revolução que se pede não se
A internet é um gigantesco mar de infor- esgota na tecnologia, mas tem a sua
mação, mas com motores de pesquisa como preponderância e continuidade nos
o SAPO somos capazes de encontrar o que planos mental e cultural
procuramos. Mas será que este extraordiná- Vejamos, em resumo, o estado da nação da
rio recurso está a ser plenamente utilizado? Educação em Portugal: o mais recente estu-
Os estudos mostram que não. do da Comissão Europeia sobre o Uso de
Segundo Joan Maló, presidente do Computadores e Internet nas Escolas
Information Society Forum, depois do dilú- Europeias, de Junho deste ano, coloca
vio da água, estamos perante o segundo dilú- Portugal razoavelmente bem posicionado,
vio, o da Informação. De facto, a facilidade ao nível do acesso à internet, no ranking eu-
de criar, de processar e de difundir informa- ropeu, mas muito aquém no que diz respei-
ção – digitalização –, fez com que passásse- to ao rácio de PC’s por alunos e à falta de li-
mos de uma situação em que a informação teracia digital dos professores, apesar destes
era um bem escasso para uma sociedade em manifestarem uma forte motivação para a
que a informação é um recurso abundante e, Formação, factor crítico de sucesso deste
por vezes, excessivo. Há que saber seleccio- processo de médio, longo-prazo. Fica assim

74 | mediaXXI
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[Educomunicação/ O projecto PT Escolas]

D.R.

provado que não basta capacidade tecnoló- A Aventura do Conhecimento


gica. O paradigma cultural e mental tem Hoje em dia, ao contrário de tempos ante-
que mudar necessariamente para dar boa riores, e muito ironicamente também, a fal-
utilidade ao parque tecnológico instalado. A ta de conhecimento deve-se, muitas vezes,
boa notícia é que parece haver vontade para ao excesso de informação disponível e à fal-
que isso aconteça. ta de habilidade em processá-la em deter-
Outra questão é que, apesar do razoável minados contextos. Temos que abandonar a “Vivemos
apetrechamento das escolas, a utilização das ideia de que é necessário saber muitas coi- claramente um
TIC em contexto de aprendizagem não cor- sas, já que o importante se está a tornar sa- momento de
responde à capacidade tecnológica. Portais ber aprendê-las no momento em que delas transição de uma
das escolas, contas de e-mail, intranets e necessitamos. É mais importante saber on- sociedade
contratos de suporte às redes estão igual- de está a informação e como podemos ob- baseada na
mente muito abaixo da média europeia. tê-la do que ter o conhecimento como ob- transmissão
Combater esta realidade é precisamente um jectivo final. escrita da
dos motes desta 2ª edição do PT Escolas, Vivemos claramente um momento de tran- informação para
através da atribuição de uma Rede de 10 sição de uma sociedade baseada na trans- uma sociedade
Escolas do Futuro às 10 equipas finalistas. missão escrita da informação para uma so- baseada no
Os conteúdos disponíveis também são re- ciedade baseada no audiovisual. Temos que audiovisual”
conhecidamente escassos e, os que há, po- nos esforçar rapidamente por aprender a
bres. Queremos ensinar esta geração a pro- linguagem multimédia já que no futuro a in-
curar e a encontrar a informação de que formação nos vai chegar dessa forma, se é
precisa. Mas também ensiná-la a criar infor- que não chega já…
mação de qualidade em português, utilizan- Assim, não tendo escapadela possível, a
do ferramentas multimédia de internet dis- Educação, assim como outros pilares da socie-
poníveis gratuitamente. Queremos, dade, deve ser revista à luz deste novo para-
basicamente, entregar-lhes o poder de criar. digma, como consequência das novas tecnolo-
E aumentar, assim, a quantidade e qualidade gias e como consequência desta sociedade do
dos conteúdos audiovisuais na internet de conhecimento que as cria. E, nesse sentido, a
língua portuguesa. Aventura continuará sempre!

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[Reportagem de Comunicação]

EVOLUÇÃO DA IMPRENSA GRATUITA EM PORTUGAL 2006


ABRIL: Cofina lança em Espanha o diário desportivo
1996 El Penalty, com uma tiragem de 400 mil exemplares.
MAIO: nasce o Jornal da Região, o primeiro gratuito JUNHO: nasce o jornal Oje, distribuído em empresas
generalista português, distribuído em Cascais, Sintra e hotéis da Grande Lisboa.
e Oeiras. AGOSTO: é publicado o jornal Já Agora, na Covilhã,
com 12 mil exemplares.
2001 AGOSTO: é lançada a edição 0,5 do jornal UM, no
SETEMBRO: é lançado o Destak, então como se- Festival Paredes de Coura e nas lojas FNAC, com
manário, com uma tiragem de 35 mil exemplares. uma tiragem de 20 mil exemplares.
NOVEMBRO: nasce a revista DIF, com uma distribuição AGOSTO: o Destak passa a ser distribuído em São
de 20 mil exemplares por vários pontos do País. Paulo, Brasil, com uma tiragem de 200 mil exem-
plares por dia.
2004 OUTUBRO: é lançado o jornal Diz Ke Disse, distribuí-
MAIO: é lançada a revista Mundo Universitário, dis- do em Lisboa.
tribuída em vários pólos universitários. OUTUBRO: o Destak chega a Braga, Coimbra e
NOVEMBRO: o Destak passa a diário, chegando aos Guimarães
100 mil exemplares poucos meses depois. NOVEMBRO: o Jornal da Região atinge a circulação
DEZEMBRO: nasce o Metro Portugal, publicado ainda de 220 mil exemplares.
em fase experimental. NOVEMBRO: o jornal Oje passa a ser distribuído nos
voos da TAP e atinge as 17 500 assinaturas.
2005 NOVEMBRO: o Destak alarga a sua edição a Aveiro,
JANEIRO: o Metro passa a projecto efectivo. Leiria e Setúbal, com uma circulação total de 173 mil
NOVEMBRO: é publicado o número 0 da revista Ripa exemplares por dia.
na Rapaqueca, distribuída nos estádios de Lisboa, NOVEMBRO: o Metro passa a uma tiragem média de
Porto e Braga. 180 mil exemplares por dia.

plano de expansão definido pelos dois títulos. “Com Sintra, Cascais, Amadora, Almada, Oeiras e Lis-
o sucesso que o jornal Metro tem tido nas actuais ci- boa. Mantendo temáticas de cariz local, a actual
dades é natural que venham a existir novas opções direcção tem vindo, nos últimos meses, a introdu-
de futuro”, explica Tiago Bugarin. De acordo com zir novos conteúdos, com uma maior aposta na ac-
Francisco Pinto Barbosa, o Destak alinha pelo mes- tualidade desportiva, na informação sobre as novi-
mo diapasão, admitindo porém que o actual alarga- dades do mercado automóvel e relativa às novas
mento implica já uma pressão muito grande sobre os tecnologias. No caso do Jornal da Região ainda
custos operacionais da empresa.As próximas cidades não existem planos para uma expansão. “Fomos
podem, por isso, esperar. pioneiros no que concerne a edições no Grande
Com o crescimento para novos pólos urbanos, os Porto, mas por estratégia do Grupo Impresa, as
jornais gratuitos poderão tender, no futuro, a alte- mesmas fora suspensas. No entanto, estamos aten-
rar a sua informação, incluindo conteúdos de tos ao mercado e a analisar eventuais zonas de ex-
maior proximidade com a realidade das diferentes pansão editorial”, indica Paulo Parracho.
regiões. “Se a rentabilidade das edições locais o
permitir, esta será, certamente, uma oportunidade Mudança de paradigma?
a explorar”, frisa Francisco Pinto Barbosa. Opor- Para além de atrair um público mais feminino e jo-
tunidade que é aproveitada desde 1996 pelo Jornal vem, ao qual os títulos pagos não conseguem che-
da Região. Com uma circulação de 220 mil exem- gar, a imprensa gratuita proporciona aos anuncian-
plares, o título divide-se por seis edições distintas, tes uma grande flexibilidade e criatividade
com conteúdos relativos às localidades em causa: comercial na promoção dos seus produtos. Com o

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[Estudo/ Digital Life 2006]

PROBLEMAS DA IDENTIDADE DIGITAL


Novas tecnologias mudam estilos de vida

Oitava edição do relatório sobre internet, da União Internacional das


Telecomunicações, identifica as mudanças operadas no mundo pela
digitalização
POR VERA LANÇA

União Internacional das Telecomunicações uma conveniência, mas sobretudo um novo desafio

A (UIT) publicou a sua oitava edição do relató-


rio sobre a internet (iniciada em 1997) e ana-
lisa como a vida humana se tem alterado desde o
na protecção dos cidadãos. Esta verdadeira revolu-
ção digital é uma tendência irreversível em que o
número e canais para os mais variados serviços au-
advento das novas tecnologias. Ter acesso à inter- menta de dia para dia e em que os dilemas tam-
net em qualquer lugar e a qualquer hora é um dos bém crescem exponencialmente, tanto para as em-
grandes benefícios que os recentes avanços tecno- presas como para os indivíduos. As tecnologias
lógicos trouxeram consigo, abrindo caminho para digitais, mais do que transformarem o modo tradi-
novas formas de identidade individual ou mesmo cional de se fazer negócios ou de conduta dos go-
colectiva sob a forma digital. Estar constantemen- vernos, transformam a forma como as pessoas
te online é quase que uma das normas do mundo interagem entre elas.
digital em que hoje se vive. O tempo que se gasta
actualmente no consumo de media digitais começa Com garantias de segurança
a deixar para trás os restantes meios de comunica- É inegável que os limites entre aquilo que é públi-
ção, como por exemplo os analógicos, e o ser hu- co e aquilo que é privado estão cada vez mais esba-
mano ganha aqui uma nova forma, desenvolvendo tidos nesta era digital, o que implica que se dê
uma verdadeira identidade digital, o que coloca prioridade à segurança das identidades online, se-
novos desafios aos seus portadores. Este foi um jam individuais ou colectivas. Uma das dificulda-
dos pontos de partida do relatório “digital.life” da des relacionadas com as identidades digitais pren-
UIT, a agência especializada para as telecomunica- de-se com a dificuldade de se provar na internet
ções das Nações Unidas, que foi apresentado em que se é quem se afirma ser. “A confirmação no
Hong Kong durante o ITU TELECOM WORLD mundo online é muito mais complicada do que no
Event, que decorreu de 4 a 8 de Dezembro naque- dia-a-dia no mundo físico e traz um conjunto de
la cidade chinesa. desafios”, diz o relatório. “Por isso, é cada vez mais
importante que haja sistemas digitais que identifi-
Ser digital quem as identidades de forma simples e precisa
Seja por SMS, instant messaging, e-mail, jogos (…), minimizando o risco de acesso a essas identi-
com múltiplos jogadores, mundos virtuais ou atra- dades por terceiros não autorizados. Para se garan-
vés de multimédia digitais, entre tantas outras pos- tir o desenvolvimento de um sistema coerente de
sibilidades, estamos sempre ligados uns aos ou- gestão de identidades online, tem de se ir para
tros, independentemente do lugar onde além das garantias dadas na segurança das redes e
estejamos, ou seja, somos cada vez mais digitais, o das transacções”, pode ainda ler-se no documento.
que implica ter uma identidade digital. O que para Considera a ITU que as mudanças que têm vindo a
muitos não passa de um imperativo ligado ao tra- ocorrer na estrutura económico-social afectaram a
balho ou ao lazer, para os reguladores não é apenas determinação e a percepção que se tem hoje em

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[Estudo/ Digital Life 2006]

CASA DA IMAGEM

dia da identidade, pois ao contrário dos tempos midores, dos empresários e dos legisladores em
passados, a identidade humana já não se define em todo o mundo”, lê-se no documento elaborado pe-
termos geográficos, comunitários ou familiares. la UIT. “À medida que a internet continua a cres-
Hoje em dia, tudo isso é volátil. A distribuição de cer, os ladrões encontram canais mais directos pa-
dados e o acesso constante à informação no meio ra o roubo de identidade, representando uma
em que vivemos tornaram a mudança e a imprevi- ameaça crescente para os consumidores e para o
sibilidade nas novas regras da sociedade actual, o próprio comércio electrónico”, conclui o relató-
que implica consequências directas na percepção rio. Uma vez que tenham tido acesso a informação
da identidade de cada um. crítica, tais como dados pessoais, indivíduos que
não tenham autorização para tal podem adaptar o
Roubos pouco virtuais perfil da pessoa roubada aos sites que bem enten-
Um dos efeitos mais macabros identificados pela derem e fazer transacções ou mudar informações
UIT é o roubo de identidade. “A identidade pesso- relativas às mesmas.
al é algo que toda a gente tem mas que a maioria No geral, a vida não está muito facilitada aos utili-
das pessoas negligencia. Se alguém a perde, arris- zadores online que sentem várias dificuldades no
ca-se a perder tudo aquilo que tem”, diz o relató- que toca ao registo de nomes de utilizador e das
rio. Aqueles a quem a identidade foi roubada onli- respectivas palavras-passe, uma vez que nem sem-
ne podem demorar largos meses ou anos na pre podem utilizar sempre os mesmos devido às
recuperação do seu bom-nome. Sob falsa identida- restrições dos diversos sites, como por exemplo o
de, alguém pode roubar dinheiro, o que poderá facto do nome de utilizador escolhido já estar atri-
por exemplo dificultar ou mesmo impossibilitar o buído ou a palavra passe não ter o número de ca-
acesso da vítima ao crédito, impedir o acesso a racteres mínimos exigidos para o registo. Isto im-
postos de trabalho a que a pessoa burlada aspira ou plica que um só utilizador tenha vários registos no
até levar alguém inocente à prisão, a começar por mundo virtual, o que pode aumentar a sua vulne-
aquele a quem a identidade foi roubada, pois pro- rabilidade da identidade digital. Neste sentido, não
var que estão a usar ou usaram a sua identidade di- toca apenas aos governos e legisladores zelar pela
gital é um processo moroso e difícil. “O roubo de segurança online dos cidadãos, mas cada um deve
identidade, apesar de não ser um fenómeno novo, ter também comportamentos seguros no mundo
ganhou rapidamente atenção por parte dos consu- digital.

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[Euromedia]

“APRENDAM LÍNGUAS”, GRITA A UE


Relatório sobre multilinguismo em votação

Foi votado em sessão plenária o relatório sobre o multilinguismo que


incita todos os cidadãos europeus a aprender mais línguas para melhorar
a comunicação no seio da União Europeia
POR INÊS BLU RODRIGUES

o passado dia 14 de Novembro foi votado e tem nada a ver com o que tinha aspirado e, por

N aprovado, em sessão plenária do Parlamento


Europeu (PE) em Estrasburgo, o relatório de
Joan Mari i Bernat “Um novo quadro estratégico
outro lado, não vota contra para que não seja no-
vamente acusado pelos seus compatriotas de ter
intenções políticas fundamentalistas. No dia ante-
para o multilinguísmo”. Este relatório centra-se na rior à votação, o relator sublinhou num discurso, a
comunicação da Comissão Europeia no que toca importância das línguas estrangeiras e a pluralida-
aos objectivos propostos no quadro do multilin- de das línguas como característica da União
guísmo: o fomento de aprendizagem de línguas es- Europeia. Sublinhou a necessidade da convergên-
trangeiras, a promoção de uma economia multilin- cia de opiniões por parte da União Europeia nas
gue sólida e logo o acesso por parte dos cidadãos questões linguísticas, mas também acrescentou a
europeus à legislação, documentos e informação urgência da aceitação das línguas minoritárias, co-
da União Europeia nas suas línguas maternas. O notando de falsa a Europa que não seja plural na
curioso da questão é que o relatório proposto pelo totalidade das suas línguas oficiais e não oficiais.
relator foi tão alterado pelos colegas deputados de Por fim, terminou claramente o seu discurso di-
outros partidos e do mesmo partido, através das zendo que este relatório emendado não é ainda
chamadas emendas à proposta de relatório inicial, um instrumento adequado para esse objectivo.
que o relator votou contra o seu próprio docu- Mesmo não dominando bem o Inglês, o relator
mento em Comissão Parlamentar. Sempre que há prefere expressar-se na língua anglo-saxónica em
uma situação deste género no PE, e não é fora do vez de utilizar o castelhano, língua que fala perfei-
comum, gera-se algum alvoroço político no seio tamente bem. Este episódio vale a pena contar aos
do pot porri desta instituição. Joan Mari foi acusa- leitores que, como bem sabem, não é minha carac-
do por alguns dos seus colegas espanhóis de ter má terística nos artigos que escrevo para a Media
fé e intenções oportunistas aproveitando-se deste XXI, ultrapassar a linha puramente informativa,
relatório para planeamentos nacionalistas e extre- mas de facto, este caso é um perfeito exemplo da
mistas. Joan Mari i Bernat vem da região espanho- prática de democracia no Parlamento Europeu,
la da Catalunha, pertence a um partido nacionalis- um exemplo do funcionamento da instituição polí-
ta local e defende com unhas e dentes o seu tica de Bruxelas, e principalmente o realce às ins-
“idioma” regional, o catalão e a sua identidade par- tituições Europeias como costureiras de opiniões,
ticular e diferente daqueles cidadãos europeus a culturas e formas diferentes de viver e de operar
quem se chama espanhóis. Depois destas movi- nos países que compõem esta União.
mentações, o relator decidiu abster-se aquando da
votação da resolução final do seu relatório a 14 de O Multilinguísmo
Novembro. Foi uma resposta isenta, por um lado A Comissão Europeia de Durão Barroso tem um
não vota a favor pois o face do seu relatório não apreço especial pelas questões das línguas. É a pri-

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[Euromedia]

CASA DA IMAGEM
meira vez que um comissário, Jan Figel, tem uma Hoje em dia é recomendável falarmos e escrever-
pasta que contempla responsabilidade pelo multi- mos além da língua materna, mais duas línguas es-
linguísmo com o fim de melhorar a comunicação trangeiras. Não é suficiente defendermos a diver-
entre os cidadãos e órgãos europeus. A Direcção sidade europeia como uma fonte de riqueza
Geral da Cultura e Educação produziu um docu- cultural, mas sim uma fonte de compreensão mú-
mento1 que descreve e define o multilinguísmo e tua. No documento que refiro, a Comissão
o compromisso das instituições Europeias com os Europeia pede aos Estados Membros para adopta-
Estados membro nesta matéria. Não é mais do que rem planos de acção para a promoção do multilin-
uma estratégia europeia acompanhada por propos- guísmo, para actualizarem os seus sistemas de for-
tas de desenvolvimento de áreas específicas na so- mação de professores de línguas estrangeiras,
ciedade, na economia e nas relações que a fornecerem meios para a aprendizagem das mes-
Comissão Europeia tem que com os cidadãos mas e melhorarem os conteúdos dessa aprendiza-
Europeus. gem. Em particular, a Comissão Europeia planeia
A política do multilinguísmo tem três objectivos implementar juntamente com os Estados
como referi anteriormente, encorajar a aprendiza- Membros um indicador de competência linguísti-
gem de línguas, promover a diversidade linguística ca. Este destina-se a medir as competências em in-
e salvaguardar a saúde da economia multilingue glês, espanhol, alemão, francês e italiano. Será es-
dando aos cidadãos melhor acesso à legislação, cusado dizer que, os deputados portugueses ao
procedimentos e informação da União Europeia Parlamento Europeu estão explicitamente contra
na língua de origem desse cidadão. Estes objecti- esta questão, sendo que o Português é mais falado
vos estão fundamentados na base dos valores de mundialmente do que as ultimas três línguas que
construção da União Europeia, a “unidade na di- referi. Em suma, os Estados Membros têm que co-
versidade”. Existem 20 línguas oficias na União meçar a falar e a escrever nas línguas dos seus vi-
Europeia sem contar com a centena de outras lín- zinhos para que a Europa atinja os seus objectivos
guas minoritárias que são utilizadas na União. E fa- da Estratégia de Lisboa – “tornar a União Europeia
zer essa gestão entre os Estados membro só é pos- na Economia baseada no conhecimento mais dinâ-
sível se houver legislação e também uma certa mica e competitiva do mundo” e isto até 2010. O
abertura por parte dos povos. Já não chega comu- leitor que se apresse.
nicarmos bem na nossa língua, na escrita e na oral,
já não chega falarmos uma língua estrangeira. 1 COM(2005) 596.

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[Aldeia Global]
O browser da inter-
net desenvolvido
Governo chinês pressiona bloggers pela Mozilla
Foundation
Cada blogger deverá
já está
assinar com nome e
disponível
apelido o conteúdo
em versão
dos respectivos
2.0. Esta
blogs, é esta a
nova
pretensão do
versão do
governo chinês, que
navegador,

Nova versão do Firefox


está a limitar cada
que já estava
vez mais a liberdade
disponível na
dos intervenientes
internet antes do
na blogoesfera. O
lançamento oficial, pode
organismo
ser descarregado em 39 línguas pelos utilizadores,
responsável pela
desde que os seus sistemas operativos sejam
administração da
Windows, Linux ou Mac. Entre outras novidades, o
internet naquele país quer criar uma base de dados com
Firefox 2.0 conta com um sistema antiphising, um
informações sobre os cerca de 34 milhões de bloggers
corrector ortográfico integrado e alertas para sites
chineses, afirmando que a medida visa apenas uma
de risco.
estandardização do sector. Refira-se que, com o objectivo de
controlar as actividades dos utilizadores da internet no seu
país, o governo chinês conseguiu mesmo que as empresas
Google e Yahoo! criassem versões censuradas dos seus
motores de busca. A nipónica
Sony
pretende
fazer face ao
Intel apresenta Quad-Core domínio da
Microsoft na
O primeiro venda de
microproces- jogos de
sador de consolas e vai
quatro disponibilizar
núcleos do na internet a
mundo foi PlaySation
Jogos online gratuitos para PS3

apresentado Network,
pela Intel. O destinada a
Quad-Core fornecer aos
permite uma utilizadores jogos de forma gratuita. A
velocidade Microsoft tem um serviço semelhante, mas a
de principal diferença é que este é pago. Na
processamento duas vezes superior à que se conseguia com os pro- PlaySation Network da Sony os utilizadores
cessadores até agora existentes no mercado graças aos quatro poderão também entrar nos chats enquanto
núcleos que integra no mesmo chip, ao mesmo tempo que jogam. Apesar da Sony ser o maior vendedor
consome apenas metade da energia. A Intel já tinha feito história de consolas a nível mundial, a Microsoft é
quando há dois anos tinha desenvolvido um processador com líder de mercado dos jogos online e, com esta
núcleo duplo. Mas esta empresa já tem planos mais arrojados medida, a empresa japonesa espera aumentar
traçados e pretende, dentro de cinco anos, fabricar processadores o número de jogadores na internet e
com 80 núcleos. destronar a empresa de Bill Gates.

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[Nuestra Opinión]

ALGUNS PARADOXOS DO FINANCIAMENTO


DA TELEVISÃO PÚBLICA NA EUROPA

discussão sobre a função da televisão descontos do que os canais privados, e o pa-

A pública e, portanto, sobre a justifica-


ção para a sua existência, não pode ser
separada da discussão sobre o seu financia-
gamento dos direitos audiovisuais não deve-
ria ser superior aos preços de mercado.
Os mesmos princípios que em alguns países
mento. É certo que nenhum serviço público justificam o financiamento público destes
pode operar sem ter o seu modo de finan- canais, noutros possibilitam que os canais
ciamento resolvido. Contudo, financiar as públicos compitam com os canais privados
televisões públicas não parece ser uma tare- pelas receitas publicitárias. MERCEDES MEDINA
fa simples. A maioria dos canais públicos Tendo em conta as diferenças nacionais en- DIRECTORA DO MASTER EM
europeus encontra-se entre as companhias tres os vários modelos públicos, a pergunta GESTÃO DE EMPRESAS DA
audiovisuais com maior facturação nos res- sobre o financiamento das televisões públi- UNIVERSIDADE DE NAVARRA,
pectivos países. Paradoxalmente, o sector cas leva-nos a questionar onde está o seu ESPANHA
público de televisão é um dos mais subsidia- problema. Por que razão, tendo receitas pú-
dos pelas administrações públicas, e a sua blicas ou publicitárias garantidas e critérios
dívida tem aumentado todos os anos, che- gerais de actuação na Europa, a maioria das
gando ao caso extremo da TVE ter uma dí- televisões públicas são deficitárias? E por “O sector público
vida acumulada de 7.500 milhões de euros. que razão as autoridades competentes de de televisão é
Desde 1997 que este tem sido um dos te- cada país ainda não encontraram uma solu- um dos mais
mas mais discutidos e estudados pela ção para uma dívida que aumenta a cada ano subsidiados
Comissão Europeia quando aborda o sector que passa? Do ponto de vista económico, pelas
audivisual. Algumas das recomendações fei- para enfrentar o financiamento de uma em- administrações
tas pela Comissão referem-se à separação da presa existem duas medidas possíveis: au- públicas”
actividade comercial e das actividades de mentar as receitas ou diminuir os gastos. Os
serviço público financiadas com fundos eu- gastos destes canais superam as suas recei-
ropeus, a supressão do aval ilimitado da dí- tas. Estamos a falar de instituições que têm
vida e o ajuste dos subsídios ao custo do mais de cinquenta anos, que se tornaram
serviço público. O Grupo de Alto Nível so- obsoletas, com sistemas de decisão excessi-
bre a política europeia indicou em 1998 que vamente burocráticos e ineficientes, e estru-
as ajudas públicas deveriam ser proibidas turas complexas com elevados gastos fixos.
quando as receitas publicitárias excedessem Um dos dados mais significativos é o número
os custos do cumprimento do serviço públi- incerto, mas elevado, de empregados, o que
co e que, se o seu financiamento já estivesse demonstra a existência de quadros de pessoal
garantido, os canais públicos não deveriam sobredimensionados. Estes dados são ainda
ter privilégios comerciais, nem as suas tari- mais significativos quando comparados com
fas publicitárias deveriam exceder o preço os das companhias privadas.
da competência, nem conceder maiores Durante cinquenta anos, as televisões públi-

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[Nuestra Opinión]

CASA DA IMAGEM

“Durante
cinquenta anos, cas gozaram de uma posição de domínio do tuito de televisão. Por isso, o acesso univer-
as televisões mercado, que lhes permitiu crescerem e di- sal fragmentou-se e o interesse geral diluiu-
públicas versificarem-se, sem terem em considera- -se em interesses particulares. Por último, a
gozaram de uma ção os resultados. Nos anos 90, sofreram a diversidade de multiplicidade de fontes de
posição de concorrência dos canais privados, que em informação e de entretenimento colocam
domínio do muitos casos, cumprindo a mesma função em dúvida a necessidade de uma televisão
mercado” de entretenimento com produtos similares, pública.
atraíram audiência e contribuíram para o Ao problema dos gastos há ainda que juntar
encarecimento dos programas. A isto há que as características diferenciadoras das televi-
somar a prudência das produtoras, cujo po- sões privadas e públicas. A televisão pública
der de negociação se mostrou muitas vezes na Europa é gerida pelo Estado e as suas ad-
mais forte que o dos canais. O preço dos ministrações respondem à vontade dos seus
programas mais populares (desportos, fil- Governos. Nenhum Governo quis desfazer-
mes e algumas séries) encareceu como con- -se de um meio tão influente. Além do
sequência da fragmentação do mercado e da mais, qualquer solução para o défice econó-
perda de poder negocial dos canais face às mico passa para redução dos quadros de pes-
produtoras e às produtoras proprietárias soal, com o consequente frente-a-frente a
dos direitos. um dos sectores mais críticos da sociedade,
No final dos anos 90, a era digital aumentou os sindicatos. Nenhum Governo, de esquer-
o número de canais. Os canais pagos au- da ou direita, deseja enfrentar os sindicatos.
mentaram e convivem com o consumo gra- A solução para o défice das televisões públi-

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ed.90 06/12/13 12:18 Page 83

[Nuestra Opinión]

cas requer uma reestruturação e um sanea- mento dos canais públicos está condenado a
mento, o que significa a racionalização de desaparecer. Por outro lado, aumentar a fa-
processos, a utilização de modo eficiente tia de apoio aos canais públicos é uma medi-
dos recursos e uma diminuição do quadro da impopular, que os cidadãos recebem com
de pessoal. Aqui esbarramos não apenas desagrado e sempre criticada pela oposição.
com um problema económico, mas também O financiamento através de ajudas públicas
com um problema político e social. Os in- ou dos pressupostos gerais do Estado não é
teresses políticos anulam com frequência as visto com agrado pelos partidos da oposição
possibilidades de resolução do défice eco- nem pelos canais privados. Que razões exis-
nómico. O medo da reacção social devido tem para financiar uma televisão ao serviço
ao corte de gastos leva a que não se tome do Governo e com programas iguais aos da
decisões. O temor da privatização ou de en- concorrência?, pergunta-se. Finalmente, as
contrar uma solução explica que alguns receitas publicitárias convertem-se num
Governos prefiram manter estruturas eco- instrumento de concorrência desleal de-
nomicamente inviáveis, cujos programas nunciado em inúmeras ocasiões pelos ope- “O temor da
não são procurados pela audiência e onde radores privados. Além do mais, a multipli- privatização ou
não são respeitados os princípios que funda- cação de canais leva a uma perda de de encontrar
mentam institucionalmente os canais. audiência e portanto impossibilita o aumen- uma solução
Resolver os problemas de financiamento to das tarifas publicitárias. Em muitos paí- explica que
das televisões públicas requer o consenso ses, a publicidade dos canais públicos está li- alguns Governos
dos partidos políticos, e o assumir de medi- mitada por lei, e noutros considera-se como prefiram manter
das que a curto prazo são dolorosas, mas uma proposta alternativa para resolver os estruturas
que a longo prazo garantem a viabilidade problemas económicos da televisão pública. economicamente
económica dos canais públicos. O financia- Os impedimentos apontados têm travado inviáveis”
mento comum à maioria das televisões pú- consecutivamente a tomada de decisões por
blicas tem uma maior independência relati- parte dos Governos relativamente às enti-
vamente ao Governo se a cobrança for feita dades públicas. Os Governos de direita e es-
através de instâncias diferentes. Estes fun- querda têm-se sucedido, e em poucos países
dos justificam-se sempre e quando os canais se enfrentou com firmeza este problema. A
alcancem uma quota de audiência ampla e razão para tal tem sido muitas vezes a difi-
ofereçam programas de serviço público, co- culdade em fazer frente a esta crise. Ante a
mo são os programas culturais, infantis ou ameaça de perda de votos nas eleições se-
informativos, que garantem a democracia, o guintes, os planos de saneamento dos canais
pluralismo, a coesão social e a diversidade públicos, depois de amplos debates, acabam
cultural e linguística. Contudo, num uni- por ficar encerrados nas gavetas dos direc-
verso multicanal de canais pagos, o financia- tores-gerais.

mediaXXI | 83
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[Agenda XXI]

“Diálogo de Vanguardas” de Amadeo de Souza-


JANEIRO, 2007 -Cardoso
Data: Até 14 de Janeiro de 2007
Projecto Book Cell de Matej Krén
Local: Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Data: 19 Jul 2006 a Jan 2007
http://www.gulbenkian.org/noticias.asp?id=216
Local: Centro de Arte Moderna, Lisboa
Informações Úteis: Entrada livre.
Exposição “Francisco Tropa”
Para mais informações:
Data: Até 20 de Janeiro de 2007
www.camjap.gulbenkian.pt
Local: Culturgest, Porto
Entrada Gratuita
ENOVIT Portugal
http://www.culturgest.pt/actual/francisco_tropa.html
Data: 11, 12 e 13 de Janeiro de 2007
Horário de Visitantes: 10h00 às 20h00
CURSO DE ORGANIZAÇÃO, PRODUÇÃO E
Local: FIL – Parque das Nações - Lisboa
EDIÇÃO DE REVISTAS
Organizador: IFE
http://www.enovitportugal.com/ Lisboa: 17 de Janeiro de 2007
Local: UAL - Auditório da Boavista
ICOIN 2007 Porto: 24 de Janeiro de 2007
The Internacional Conference On Information Local: Pç. Marquês de Pombal, 70
Networking curso.edicaorevistas@gmail.com
Data: 23 a 25 de Janeiro 2007
Local: Palácio Estoril Hotel, Estoril
Organizador: Instituto Superior Técnico /
ANACOM
FEVEREIRO, 2007
http://icoin2007.ist.utl.pt/
Mobility & RFID
BTL - Bolsa de Turismo de Lisboa Data: 27 de Fevereiro 2007
Data: 24 a 28 de Janeiro de 2007 Local: a confirmar
Local: FIL – Parque das Nações, Lisboa Organizador: IDC Portugal
Organizador: FIL Para mais informações: portugal@idc.com
http://www.fil-btl.com
IndieLisboa - Festival de Cinema Independente
IT & Internet Security de Lisboa
Data: 30 de Janeiro 2007 Prazo de candidatura: 12 de Fevereiro de 2007
Local: a confirmar Para mais informações: www.indielisboa.com
Organizador: IDC Portugal
Para mais informações: portugal@idc.com
A MEDIA XXI ERROU
Projecto Book Cell de Matej Krén
Data: 19 Jul 2006 a Jan 2007 Na edição 87 da Media XXI, a Universidade Fer-
Local: Centro de Arte Moderna, Lisboa nando Pessoa foi apresentada, por lapso, como
Informações Úteis: Entrada livre. estando localizada em Lisboa. A Fernando Pes-
Para mais informações: soa está obviamente sedeada no Porto. Aos lei-
www.camjap.gulbenkian.pt tores e à instituição as nossas desculpas.

mediaXXI | 85
ed.90 06/12/14 12:00 Page 86

[Último Olhar] A revista Visão irá apresentar em 2007 uma nova imagem
gráfica. Em declarações ao Jornal de Negócios, o director
da Visão referiu que esta mudança pretende reverter a
Goddy lança nova publicação actual queda que o título sofreu nas tiragens. A equipa
A Goody lançou que trabalhou na reformulação do Expresso está também
uma nova a trabalhar na renovação gráfica da revista da Edimpresa.
publicação mensal, Ainda em
com o nome de Art declarações
Attack, destinada a ao Jornal
um público infantil de
e com um Negócios,
licenciamento da Pedro
Disney. O título é Camacho
baseado no admitiu

Visão renovada em 2007


programa de que a
televisão do mesmo equipa
nome, e conta com directiva
uma tiragem média será
de 25 mil reforçada, mas pôs de parte qualquer possibilidade de
exemplares. A revis- despedimentos. Apesar dos último boletim da Associação
ta apresenta vários Portuguesa para o Controlo de Tiragens indicar que a
trabalhos manuais indicados para crianças, Visão caiu 5,2 pontos percentuais na circulação média pa-
estimulando-as a “fazer” em vez de apenas “ver”. Com ga no primeiro trimestre de 2006, para 94 mil
um preço de capa de 2,95 euros, a publicação é um exemplares, o título continua a liderar o segmento das
sucesso nos vários países europeus onde é editada e “newsmagazines”.
chega agora a Portugal. De forma a sustentar o seu
lançamento, a revista irá patrocinar, pelo menos até
Março de 2007, o programa do mesmo nome exibido
actualmente no Disney Channel, em Portugal.
RTP aposta na “diversidade” em 2007

A RTP apresentou a sua grelha de programas para


2007, um ano em que comemora os seus 50 anos. A
segunda semana de Janeiro irá registar a estreia da
novela “Paixões Proibidas”, realizada em parceria
Canal UP online com a brasileira TV Bandeirantes. A RTP irá
O Canal UP apresentar 35 hornas mensais de produção nacional,
lançou o seu por- onde se incluem séries como “Nome de Código:
tal online, depois Sintra” ou o “Testamento”. Filmes nacionais como o
de ter aclamado “Alice”, de Marco Martins, serão também
apresentado as
suas emissões em
várias universida-
des e institutos
politécnicos
nacionais.
Disponível em
www.canalup.tv,
o portal permite
assistir às emis-
sões diárias do canal, e aceder a outros conteúdos, desde
notícias a reportagens ou foto-reportagens. O Canal UP é destaque em 2007. O humor na RTP irá continuar a
hoje transmitido em cerca de 150 pontos, distribuídos pe- ser encabeçado pelos Gato Fedorento, e ainda por
las várias instituições do ensino superior. Aldo Lima e Marco Horácio.

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