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JORGE LUIZ STEIN LAMAS

AUTORIA MOSAICA DO PENTATEUCO: UMA QUETÃO TOTAL OU PARCIAL?

Trabalho apresentado ao Seminário


Teológico Betesda, como requisito
parcial para obtenção do Grau de
Bacharel em Teologia da disciplina
introdução ao antigo testamento.
SERRA
2009
SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO .....................................................................................................02

2 - A NEGAÇÃO DA AUTORIA MOSAICA................................................................02


2.1 - Origens do desenvolvimento da Teoria
Documentaria............................02
2.2 - Muitos documentos - um livro..................................................................03
2.3 - Características dos documentos JEDP...................................................03

3 - PRINCIPAIS SOFISMAS GERADOS PELOS DOCUMENTOS JEDP.................04


3.1- Os nomes de Deus...................................................................................05
3.2 - Linguagem e
estilo...................................................................................05
3.3 - As narrações em duplicado.....................................................................05
3.4 - A discordância acerca de disposições legais..........................................06
3.5 - Sacerdotes e levitas................................................................................06

4 - Argumentos ateístas.............................................................................................06
4.1 - Corrente evolucionista.............................................................................07
4.2 - Religiões comparadas.............................................................................07
4.3 – Naturalismo.............................................................................................07
4.4 - Negação da existência de Moisés...........................................................07

5 - ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À AUTORIA MOSAICA.......................................08


5.1 - A Bíblia confirma a autoria mosaica........................................................08
5.1.1 - Evidências internas....................................................................08
5.1.2 - Evidências externas no AT........................................................09
5.1.3 - Evidências do NT.......................................................................09
5.2 - Moisés era qualificado para escrever o Pentateuco................................09
5.2.1 - Moisés foi um personagem histórico.........................................09
5.2.2 - Moisés tinha preparo intelectual................................................09
5.2.3 - Moisés conhecia o local do ponto de vita egípicio......................0
5.2.4 - A insperação divina...................................................................10
5.3 - Unidade literária/textual...........................................................................10
5.3.1 - Unidade histórica.......................................................................10
5.3.2 - Unidade temática.......................................................................10
5.4 - Historicidade de
Moisés...........................................................................11

6 - Conclusão.............................................................................................................11

7 - Glossário...............................................................................................................12

8 - Bibliografia.............................................................................................................12

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1- Introdução
O objetivo desse trabalho não é dar uma conclusão ou fechar de forma
definitiva a questão da autoria mosaica do Pentateuco. A questão é muito ampla,
logo, arrogar ser o possuidor do definitivo esclarecimento sobre o assunto seria
apenas pretensão, porém, acreditamos poder contribuir para o fortalecimento da fé e
da manutenção da firmeza ortodoxa que tem sido deixada de lado pela igreja cristã
em nossa época.
Ter uma opinião firmada sobre determinado assunto é claramente uma boa
forma para abordar qualquer tema e pode dar partida a uma discussão produtiva
onde os pontos de vista sejam respeitados.
Partindo desse pressuposto, tentaremos mostrar a viabilidade da autoria
mosaica para os livros do Pentateuco contrapondo as opiniões da crítica literária, da
teologia bíblica liberal e mesmo do pensamento ateu acerca do assunto.
Muitos têm exposto suas opiniões, que invariavelmente circulam por dois
extremos, a autoria completa dos “cinco quintos da lei” por Moisés ou então a
totalidade de sua autoria por sacerdotes e profetas do período anterior até o retorno
do exílio babilônico/persa da nação de Israel.
Vejamos, pois, como são colocadas essas teorias e como cada uma se
encaixa ou diverge do texto bíblico. No fim fica a cada um o cargo de definir-se por
um lado, visto que não é bem quista biblicamente a tática de pender entre dois
lados.

2 - A Negação da Autoria Mosaica


Existem algumas correntes básicas que tentam negar a autoria mosaica do
Pentateuco, podendo ser reconhecidas em três movimentos distintos:
- Movimentos cristãos liberais: Crêem que a Bíblia não possui infalibilidade e
pode ser considerada, especialmente o antigo testamento, como um conjunto de
normas religiosas e de alegorias que tentam explicar a origem do cristianismo.
Vivem o cristianismo como uma filosofia de vida que não requer o comprometimento
de suas idéias pessoais pelas regras bíblicas.
- Movimentos neo-ortodoxos: Basicamente uma vertente menos radical de
liberalismo que considera que a Bíblia é parcialmente inspirada, mas que tenta usar
a explicação alegórica para certas passagens de difícil aceitação ou explicação
científica, como o livro de Jonas ou o relato da criação.
- Movimento Ateísta: Busca várias formas de descredenciar a Bíblia, tendo
assim, munição para comprovar a sua “fé na inexistência” de Deus.
Mesmo divergindo em vários aspectos todos acabam utilizando basicamente
as mesmas ferramentas em seu trabalho: A alta crítica1 literária (teoria
documentaria) e supostas evidências científicas.

2.1 - Origens do desenvolvimento da Teoria Documentaria


Alguns movimentos como o Deísmo2 e Racionalismo3 forneceram o cenário, e
contribuíram para o surgimento da Teoria Documentária. Estas duas correntes de
pensamento, embora diferentes, concordam numa coisa: a negação de uma relação
sobrenatural de Deus com o homem.

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Thomas Hobbes em sua obra Leviathan (1651) afirmou que o Pentateuco
havia sido editado por Esdras a partir de fontes antigas.
Benedicto Spinoza declarou em Tractatus Theologico-Politicus (1670) que
Esdras havia editado o Pentateuco com interpolação de Deuteronômio,
questionando a autoria mosaica.
O alemão Julius Wellhausen deu expressão a esta teoria quando propôs que
o Pentateuco foi uma compilação de quatro documentos escrito por autores
diferentes e independentes durante um período de cerca de 400 anos sendo
finalmente redigido em sua forma básica por volta do quinto século a.C, ou seja,
cerca de mil anos depois dos acontecimentos descritos. Wellhausen, considerava as
histórias bíblicas como tradições populares que funcionavam como um espelho para
transmitir eventos históricos posteriores. Por exemplo, a luta entre Jacó e Esaú nada
mais era do que um reflexo da inimizade entre as nações de Israel e Edom, assim
como as histórias de Sodoma e Gomorra, o Êxodo e até mesmo o rei Davi.
Críticos eruditos modernos, acompanhando Julius Wellhausen (século XIX),
afirmam que os cinco primeiros livros do AT foram escritos por pessoas de correntes
de pensamento e épocas diferentes, identificadas como J (Javista), E (Eloista), S
(sacerdotal) e D (deuteronomista), dependendo de quais seções refletem a
característica peculiar de tais supostos autores.

2.2 - Muitos documentos - um livro


Segundo essa teoria, o documento chamado “J” (Javista) foi escrito muitos
séculos depois dos eventos que descreve. Um século ou dois mais tarde, outro
documento, mais ou menos paralelo ao documento “J”, foi escrito. Depois de circular
separadamente por algum tempo, alguém os reuniu, inserindo várias porções do
documento mais novo “Ë” (Eloista) no documento “J”, em lugares apropriados.
Muitos séculos passaram e então o documento “D” (Deuteronômista) foi composto,
pretendendo conter o discurso da despedida de Moisés. Eventualmente este último
foi inserido na parte final do documento combinado “JE”. Aproximadamente no
tempo do exílio, um grupo de sacerdotes compôs ainda outro documento, o
chamado documento “P” (“Priestly”- Sacerdotal), muito paralelo à matéria já coberta
pelos documentos “J” e Ë”. Eventualmente esse foi cortado em grandes e pequenas
seções, entre as quais seções similares de outros documentos foram introduzidas.
Como resultado, diz-se que o Pentatêuco, como conhecemos atualmente,
está composto de partes entrelaçadas desses documentos, de modo que lemos
freqüentemente uma seção de cada documento, seguida por uma seção de outro;
depois talvez um versículo ou dois do primeiro; então dois ou três versículos do
segundo; em seguida, talvez, a metade de um versículo do primeiro novamente; logo
uma porção do terceiro; depois mais do segundo, e assim por diante, num arranjo
complicado de uma obra de retalhos.
De acordo com muitos críticos, o mosaico literário assim produzido inclui não
somente os livros que conhecemos hoje, como Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio, mas também o livro de Josué.
Assim, de acordo com as correntes que consideram a teoria documentarista
como forma e fonte confiável para determinar a formação do pentateuco, esse nada
teria de Moisés, senão, apenas o nome que daria a esses a credibilidade junto ao
povo. O Pentateuco seria não uma obra literária única, mas um emaranhado de
várias obras de data e autores diversos que foram aderidas de modo a formar um
códice religioso que fundamentasse as práticas religiosas de Israel.

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2.3 - Características dos documentos JEDP
Segue abaixo um resumo sobre as características principais dos supostos
documentos que compõe o Pentateuco, segundo os adeptos da teoria documentaria:

a) Documento J (Jeová, Javista ou Jeovista)


Data: 950 ou 850 a.C.
Local escrita: Judá
Autoria: é atribuído a um historiador desconhecido, do reino do Sul
Conteúdo: começa com a criação e vai até o fim do reino de Davi (Gn 2 a
Nm 22-24).
Natureza: uma coleção de literatura épica, demonstrando forte sentimento
nacionalista. Contém dramatização vívida, apresentações antropomórficas de
Deus, em que Deus é descrito em termos humanos. Prefere usar o nome
Yahweh para Deus. Ressalta a continuidade do propósito de Deus desde a
criação, passando pelos patriarcas, até o papel de Israel como seu povo.
Essa continuidade leva ao estabelecimento da monarquia com Davi.

b) Documento E (Elohista)
Data: 850 ou 750 a.C.
Autoria: um sacerdote desconhecido de Betel (Reino do Norte), ou um
profeta, sob a influência de Elias.
Local escrita: Efraim
Conteúdo: começa com Abraão e termina com Josué
Natureza: Usa-se a história na forma épica. Este documento possui uma
variedade de detalhes, grande interesse no ritual e uma teologia mais abstrata, que
evita antropomorfismo e usa visões e anjos como meios de revelação. É a narrativa
da tradição de Israel (reino do Norte) em paralelo com documento J. Prefere Elohim
como nome de Deus até a revelação de seu nome Yahweh a Moisés (Êx 3), depois
disso passa a empregar ambos os nomes de Deus.

c) Documento D (Deuteronomista)
Data: 650 a.C.
Autoria: atribuída a um sacerdote desconhecido.
Local escrita: Jerusalém
Conteúdo: é o material núcleo do livro de Deuteronômio
Natureza: tem interesse teológico pelo Templo de Jerusalém, e forte
oposição contra a idolatria. O estilo literário é prosaico, prolixo, paranético (repleto
de exortações ou conselhos). Seria o tal livro descoberto no reinado do rei Josias no
ano 621 a.C.

d) Documento P (do inglês Priestly[Sacerdotal])


Data: 525 ou 450 a.C.
Local escrita: provavelmente em Jerusalém
Autoria: desconhecida (alguns sugerem Esdras)
Conteúdo: composto de tradições mosaicas antigas depois do Exílio.

3 - Principais sofismas4 gerados pelos documentos JEDP

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Baseados nos estudos documentais foi possível criar uma gama de sofismas
que os fundamentam e ao mesmo tempo desarticulam a forma tradicional de pensar
sobre a autoria do Pentateuco por Moisés. Seguem abaixo alguns desses:

3.1- Os nomes de Deus


Logo de início se reparou na variedade dos nomes atribuídos a Deus. Daí o
falar-se em fontes "javístas" e "eloístas" conforme Deus é denominado Jeová (Javé)
ou ’ Elohim. Mas temos observado que o Corão dos muçulmanos apresenta um caso
idêntico. Uns textos falam de "Allah" (Elohim) e outros de "Rab" (Yahweh = Senhor).
Quanto à reunião dos dois termos Yahweh-Elohim, que só aparece no
Gênesis (Gn 2.4-3.24) e no Êxodo (Êx 9.30), não é caso para supor tratar-se dum
autor diferente, porém, os partidários desta teoria sustentam a infalibilidade dos seus
argumentos, baseando-se apenas nos diferentes nomes de Deus.

3.2 - Linguagem e estilo


Fala-se ainda em diferenças de linguagem, estilo e até do aspecto teológico,
se bem que tais maneiras de pensar, sendo meramente subjetivas, não são de
grande importância.
É de notar, que um dos defensores da "teoria dos documentos", após um
exame rigoroso, chegou à conclusão de que são pequeníssimas as diferenças
lingüísticas das várias fontes e acabou por admitir que se trata de ligeiras diferenças,
meramente acidentais.

3.3 - As narrações em duplicado


De maior importância é o fato de o mesmo acontecimento ser, por vezes,
narrado de duas maneiras. Seria o caso da criação, do dilúvio, da esposa de
Abraão, da ida de José para o Egito, das dez pragas, e ainda da rebelião de Coré,
Datã e Abirão.
Não raro as descrições são apresentadas em separado (por exemplo, a
história da criação); noutros casos afirma-se que as descrições foram habilmente
reunidas numa só história por um redator (por exemplo, a história de José).
Quanto à história da criação, convém distinguir entre a revelação da obra
criadora de Deus no primeiro capítulo do Gênesis e a história do mundo criado do
capítulo imediato.
Quanto ao dilúvio, que é um dos casos mais discutidos, é uso afirmar-se, que
primeiramente Noé foi incumbido de introduzir na arca um casal de cada espécie de
animais e, mais tarde, sete de cada espécie "pura" e dois de cada espécie "impura".
Mas, por que considerar este exemplo um caso de contradição? O fato de ser
aconselhado a tomar um casal de cada espécie, o que não passava duma regra
geral, porventura poderá impedir que se sigam outras instruções relativas aos
animais "impuros"?
No caso da esposa de Abraão, a quem o marido negou, não parece tratar-se
duma narração em duplicado do mesmo acontecimento (ou até em triplicado, se
considerarmos a intervenção de Isaque no Gn 26.6-11), mas sim de vários
acontecimentos. Quanto à resposta de Abraão em Gn 20.13 é possível que se trate
dum ardil empregado, não só por Abraão, mas também por Isaque.

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É freqüente imaginar-se, também, duas versões diferentes da narração
relativa à ida de José para o Egito. Segundo uma, José foi vendido pelos irmãos a
uma caravana de ismaelitas; segundo outra, eram midianitas os que o levaram para
o Egito, mas é apenas uma questão de interpretação do texto bíblico.
No que respeita à história das dez pragas do Egito, os partidários da "teoria
documentária" também não deixam de encontrar vestígios de descrições em
duplicado bem vincadas por uma série de diferenças sistemáticas, mas que, na
realidade, não passam de ligeiras variantes de linguagem, se atendermos,
sobretudo, aos traços característicos que se encontram tão intimamente ligados.
No caso da rebelião de Coré, duas novas versões se apresentam: uma,
referente à oposição dos leigos contra a autoridade civil de Moisés, chefiada por
Datã e Abirão; a outra, aludindo à discórdia que surgiu entre a tribo de Levi e as
outras tribos, sob o comando de Coré. Trata-se, todavia, duma suposição totalmente
contrária ao texto, pois não só encontramos os três conspiradores atuando em
conjunto em Nm 16.1-3, onde se diz que se opuseram à autoridade de Moisés e de
Arão, mas também os vemos juntos nos versículos Nm 16.24,27.

3.4 - A discordância acerca de disposições legais


Como explicar, por exemplo, que Nm 35.13 e segs. se refira a seis cidades de
refúgio, enquanto em Dt 19.2,7 não vão além de três?
Assim interrogam, não vendo que no primeiro caso as cidades se situam, três
na terra de Canaã, e três na Transjordânia. E como Moisés já tinha indicado três
cidades na Transjordânia (Dt 4.41-43), não admira que ordenasse a separação de
outras três na terra de Canaã. É certo, que em face de Dt 19.8 e segs., podem
supor-se outras três cidades nas fronteiras de Canaã, mas isto em nada afeta o
nosso caso, admitir a manifesta discordância de textos.
E o caso das leis relativas às grandes festas? Em conformidade com Êx 23.14
e segs.; Êx 34.22 e segs.; Dt 16.16 eram três as grandes festas de Israel: a dos
pães asmos, a das semanas e a das colheitas. Mas o Lv 23.27 e segs. menciona
ainda o dia da expiação, o que leva a supor que o código levítico é de data posterior.
Simplesmente se trata dum argumento sem consistência, se lembrarmos que
as leis do Êxodo e do Deuteronômio apenas lembram a obrigação de todo o israelita
do sexo masculino aparecer diante do Senhor três vezes por ano. A nada é
obrigado, porém, no dia da expiação. E são estas as ligeiras diferenças.

3.5 - Sacerdotes e levitas


De maior importância a diferença nítida entre o Deuteronômio e o chamado
"Código Sacerdotal" no que se relaciona com os sacerdotes e os levitas. Quem
segue a "teoria dos documentos" afirma que o Deuteronômio não faz qualquer
distinção entre estas duas categorias, distinção essa que só mais tarde se verificou.
Não é, contudo, o que se deduz de Dt 18.3-5, pois, fala do "direito dos
sacerdotes a receber do povo", e em Dt 18.6-8 continua: "e quando vier um levita
dalguma das tuas portas...".

4 - Argumentos ateístas
Além dos argumentos documentais da crítica literária, que são aceitos por
muitos que professam uma fé cristã, temos ainda argumentos ateístas, que não só
negam a autoria mosaica, como todo e qualquer fundamento de fé do pentateuco e
seus relatos, em especial sobre a criação.

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Para agravar o fato, muitos teólogos de linha liberal tentam agregar os
conceitos de ordem secular às narrativas bíblicas, gerando ainda mais dúvida. Na
realidade, esses têm dado mais munição aos ateus, que não raramente fazem uso
da teoria documentaria para afirmar suas posições contrarias à revelação divina das
escrituras.

4.1 - Corrente evolucionista


O evolucionismo como o conhecemos atualmente, foi concebido, como se
sabe, pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882).
Na concepção darwinista, a origem do homem não foi um ato divino, mas um
processo de adaptação dos seres vivos ao ambiente natural radicalmente modificado
durante milhões de anos. Os conceitos darwinistas opunham-se aos princípios
fundamentais da Criação, segundo ensinado pela Escrituras. Os teólogos
modernistas, procuraram conformar-se a nova teoria em razão de sua ampla
aceitação nos círculos acadêmicos. Interpretaram as narrativas da criação, do
homem e da queda, como mitos religiosos desprovidos de qualquer fundamentação
científica.

4.2 - Religiões comparadas


Segundo os estudos de religião comparada dos filósofos e sociólogos e do
liberalismo teológico, as tradições religiosas de Israel foram construídas a partir de
suas relações com os povos pagãos primitivos. Não existe, na verdade, uma eleição
divina tal qual afirma a Bíblia, mas a religião de Israel foi evoluindo do animismo,
politeísmo até chegar ao conceito do monoteísmo.
Nesta perspectiva, consideram a narração da criação, do dilúvio entre muitas
outras, não como fato veraz, mas como reminiscências das tradições pagãs da
mesopotâmia e egípcia. A adoração a Yahweh evoluiu, segundo ele, do deus tribal
do Sinai, à categoria de Deus dos deuses, e assim sucessivamente.

4.3 - Naturalismo
O naturalismo do período iluminista acreditava na uniformidade das leis
físicas. Isto significava para eles que as leis que governam a natureza são universais
e, portanto, é impossível que o extraordinário intervenha nestas leis.
Segundo este conceito, não é possível admitir o conceito de milagres, sendo
assim, impossível crer nos relatos de gênesis, como a abertura do mar vermelho ou
as pragas no Egito.

4.4 - Negação da existência de Moisés


Moisés foi um caracter ficcional criado como um herói lendário para as
pessoas admirarem, o intermediário que trouxe aquilo que era alegadamente a
palavra de Deus para Israel, pois a apresentação da mesma por meros homens
comuns, contemporâneos, não teria sido convincente. Esta suspeita seria apoiada
não só pela ausência de confirmação histórica para a existência de Moisés, mas
também, pelos detalhes biográficos aparentemente tomados de empréstimo de
outras lendas anteriores. Ser colocado num cesto selado com alcatrão e colocado ao
sabor da corrente num rio seria a história de Sargão da Acádia, o primeiro
conquistador regional, que tinha vivido mais de mil anos antes de Moisés. A história

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de como ele foi colocado num cesto ao sabor da corrente, no rio Eufrates, foi inscrita
numa Estela (ou coluna) Acádica :
‘’Sargão, o grande rei de Acádia, sou eu. Do meu pai, só sei o nome... De
resto, nada sei acerca dele. O irmão do meu pai viveu nas montanhas. A minha mãe
foi uma sacerdotisa que nenhum homem devia conhecer. Ela trouxe-me ao mundo
secretamente... Ela tomou um cesto de canas, colocou-me dentro dele, cobriu-o com
alcatrão e colocou-me no rio Eufrates. E o rio, sem o qual a terra não pode viver,
levou-me através de parte do meu futuro reino. O rio não se levantou sobre mim, mas
levou-me para Akki, que produzia água para irrigar os campos. Akki fez de mim um
jardineiro. No jardim em que eu cultivava, Inanna (a grande deusa) viu-me. Ela levou-
me para Kish para a corte do Rei Urzabala. Ali eu chamei a mim próprio Sargão, isto
é, o rei justo’’.
Além do relato de Sargão, esta história da criança abandonada que se tornou
num grande líder aparece por todo o lado na mitologia. Estas coincidências, tal como
as discrepâncias acima mencionadas, abalariam a credulidade histórica de Moisés.

5 - Argumentos favoráveis à autoria mosaica


É claro que qualquer um que queira firmar ou fortalecer um ponto de vista vai
procurar e desenvolcerá uma série de argumentos para legitimar suas alegações.
O que foi exposto até agora corrobora para a aceitação de que Moisés não
poderia ter escrito o pentateuco, ou por não haver concordância com costumes,
geografia, forma literária... ou mesmo pela inexistência do homem Moisés.
Nada do que foi colocado aqui (até mesmo como previamente refutado em
alguns itens do tópico 3 – Principais sofismas gerados pelos documentos JEDP) fica
sem refutação plausível e bem fundamentada, às quais passamos agora.
Não há no Pentateuco uma declaração objetiva de que Moisés tenha escrito
de próprio punho o Pentateuco. Todavia, há um testemunho suficiente, que apóia a
sua autoria.
A ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do AT em
particular, e com as obras literárias antigas em geral. No antigo Oriente Médio, o
“autor” era basicamente um preservador do passado, limitando-se ao uso de material
e metodologia tradicionais.

5.1 - A Bíblia confirma a autoria mosaica


É norma da hermenêutica sadia considerar que a bíblia deve interpretar a
própria Bíblia. Sendo assim, citamos como evidências bíblicas:

5.1.1 - Evidências internas


a) Êx 17:14 indica que Moisés estava em condições de escrever.
b) Êx 24:4-8 refere ao “Livro da Aliança” (Êx 21:2-23,33).
c) Êx 34:27 pela segunda vez a ordem de escrever. Refere-se a Êx 34:10-26,
o 2º Decálogo.
d) Nm 33:1-2 Moisés anotou a lista das paradas desde o Egito até Moabe
(caminhada pelo deserto).
e) Dt 31:9,24 referência aos 4 livros anteriores do Pentateuco.
f) Dt 31:22 refere-se a Dt 32 (o cântico de Moisés).
g) Narra detalhes de uma testemunha ocular. O número de fontes e palmeiras
(Êx 15:27), a aparência e paladar do maná (Nm 11:7-8).
h) Em Gn e Êx, o autor exprime um detalhado conhecimento do Egito, e do
percurso do êxodo.

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i) Conhecimento de palavras e nomes egípcios. O autor possuí uma noção
estrangeira da Palestina. Os termos usados para as estações, tempo, fauna, flora
são egípcios, não palestinos. O autor estava familiarizado com a geografia egípcia e
sinaítica. Menciona quase nada sobre a geografia palestina, o que evidencia seu
pouco conhecimento da região.

5.1.2 - Evidências externas no AT


a) Livro de Josué repleto de referências a Moisés como autor do Pentateuco
Js 1:7-8; 8:31; 22:9; 23:6; etc.
b) Jz 3:4 declara “...por intermédio de Moisés.”
c) Expressões frequentes nos livros históricos: “lei de Moisés”, “livro da lei de
Moisés”, “livro de Moisés”, etc. 1 Rs 2:3; 2 Rs 14:6; 21:8; Ed 6:18; Ne 13:1; etc.

5.1.3 - Evidências do NT
a) Cristo menciona passagens do Pentateuco como sendo de Moisés. Mt 19:8;
Mc 10:4-5.
b) O texto sobre a circuncisão (Gn 17:12) mencionado no NT (Jo 7:23) como
fazendo parte da Lei de Moisés.
c) Restante do NT em harmonia com Cristo. At 3:22-23, 13:38-39, 15:5,21,
26:22; 28:23, Rm 10:5,19, 1 Co 9:9, 2 Co 3:15, Ap 15:3.

5.2 - Moisés era qualificado para escrever o Pentateuco


Apesar da negação de Moisés e de questionarem se ele seria mesmo capaz
de escrever uma obra como o Pentateuco podemos citar os seguintes argumentos à
favor:

5.2.1 - Moisés foi um personagem histórico


Alguns críticos questionam não somente a autoria de Moisés, mas até mesmo
a sua historicidade. Acham inconcebível como tamanhos desastres puderam atingir
um povo tão desenvolvido e organizado, como eram os egípcios e ainda assim não
existir nenhum registro desses fatos. Respondemos mencionando a contribuição do
arqueólogo Alan Millard (1999, p.80) que declara:
“os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições das derrotas
sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se os monumentos reais não
podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a perda da mão-de-
obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como qualquer estado
centralizado, o governo do Egito consumia grandes quantidades de papel (papiro), e
boa parte da documentação era arquivada para consulta. Mas isso também não
ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos os documentos pereceram, e a
probabilidade de recuperar algum que mencione Moisés ou as atividades dos
israelitas no Egito é risível”

5.2.2 - Moisés tinha preparo intelectual


Moisés era reconhecido como o homem erudito na antigüidade bíblica. Nos
dias de Moisés o Egito era a maior civilização do mundo, tanto em domínio,
construções e conhecimento. Moisés teve a oportunidade de ter sido educado na
corte real egípcia, recebendo a instrução de disciplinas acadêmicas que no Egito já

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eram tão desenvolvidas. Incluindo a arte da escrita, que há muito tempo era usada,
de comum uso dos egípcios, inclusive entre os próprios escravos.
Como historiador, soube coletar as informações da rica tradição oral de seu
povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquanto esteve no palácio real
egípcio, do seu acervo literário.

5.2.3 - Moisés conhecia o local do ponto de vita egípicio


Segundo Archer (2003 – p.508) Moisés era possuidor de um vasto e detalhado
conhecimento geográfico. O clima, vegetação, a topografia, o deserto tanto do Egito
como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe eram familiares. O modo como o autor
do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não era palestino.
Alguns fatos contribuem para esta conclusão:
a) conhecia lugares pelos nomes egípcios
b) usa porcentagem maior de palavras egípcias do qualquer outra parte do AT
c) as estações e tempo que se mencionam nas narrativas são geralmente
egípcias e não palestinas
d) flora e a fauna descritas são egípcias
e) os usos e costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em
seus dias.

5.2.4 – A inspiração divina


Ele mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt
31:9, 24). Nenhum outro autor da antiguidade foi assim identificado.

5.3 - Unidade literária/textual


Pequenas adições e mudanças no Pentateuco podem ser admitidas sem que
se negue a unidade literária, e autoria mosaica da obra.
Não há nenhuma evidência história ou manuscritológica de que vários
redatores tenham “costurado” os livros do Pentateuco. Não existe nenhuma
evidência de que em algum período da história, o Pentateuco tenha circulado como
“pedaços” (fontes JEDP) e que algum redator, ou redatores, tenha compilado e dado
sua formação final, como propõe a teoria documentária. Os rabinos judeus
desconhecem tal coisa.
Dessa forma uma forte evidência da autoria mosaica é a unidade do
Pentateuco (chamado de hamisâ humtse hatôrah – ou cinco quintos da lei) ou seja,
uma única obra em cinco volumes.

5.3.1 - Unidade histórica


O Pentateuco possui uma linha histórica que se desenvolve. A ligação
cronológica entre os cinco livros, transmite-nos a idéia de que, é somente um livro de
cinco capítulos. Podemos resumir a história de Israel registrada no Pentateuco da
seguinte forma:
a) Deus é o criador de toda a raça humana, e dela formou para si um povo.
b) Deus escolheu Abraão e seus descendentes, e lhes prometeu dar a terra de
Canaã.
c) Israel foi para o Egito, e caiu na escravidão, da qual o Senhor os livrou.
d) Deus conduziu Israel a Canaã conforme prometeu.

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5.3.2 - Unidade temática
a) Em Gn vemos a origem do universo e a aliança com Israel.
b) Em Êx vemos a escravidão e libertação de Israel.
c) Em Lv vemos a santificação de Israel.
d) Em Nm vemos a recontagem do povo de Israel.
e) Em Dt vemos a renovação da aliança com a nova geração de Israel

5.4 - Historicidade de Moisés


Recentemente foi laçado um documentário sobre a arca da aliança e o êxodo
de Israel. De autoria dos produtores Simcha Jacobovici e James Cameron
(exterminador do futuro e Titanic), Exodus decoded (Êxodo decodificado – History
Channel, 2005) narra a descoberta de indícios muito fortes e fatos reveladores sobre
a arca da aliança e os acontecimentos narrados na Bíblia.
Longe de ser uma obra de cunho cristão, esse documentario desvenda muitos
fatos que os críticos não conseguem aceitar, como a realidade do cativeiro, a
libertação e a poderosa atuação de Deus no meio do Egito.
Além desse documentário, outras descobertas recentes têm revelado nações
que se diziam inexistentes, como a Assíria e comprovam não só a historicidade de
Moisés, como de sua narrativa.
Interessante também é o documentario Exodus Revealed de Led Allen e
James w. Adams que mostra uma nova rota para o êxodo, além de descobertas
desconcertantes e documentadas sobre a realidade da travessia do mar Vermelho.

6 - Conclusão
Reconhecidamente a análise e a crítica literária são fundamentais para a boa
compreensão da Bíblia. Aceitamos qualquer crítica e as vemos como fator para
crescimento e maior necessidade de entendimento e compreenção, porém, o que se
pode observar ao estudarmos a questão da autoria mosaica é que essa é uma
questão chave e deve ser compreendida do âmbito central da fé cristã: Que “toda
escritura é inspirada por Deus...”
A Bíblia é a única regra de fé e prática do cristão. Pôr dúvida sobre a
autenticidade de qualquer de seus escritos ou sobre a inspiração de qualquer um é
por em dúvida todo o conjunto. Assim, acreditamos que a autoria mosaica é um fato
e, com exceção de pequenas adições explicativas e detalhes escritos por seus
escribas ou amanuenses, deve ser entendida como totalmente mosaica.
Para explanar nossa posição pressupomos que Autoria Mosaica compreenda
os seguintes fatores:
a) Não significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmente cada
palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da “tradição oral”;
b) É possível que ele tenha empregado porções de documentos previamente
existentes;
c)Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;
d) Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;
e) Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições
secundárias posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);

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f) Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. Moisés foi
seu autor real, ainda que talvez tenha sido revisado e editado por redatores
posteriores, adições essas tão inspiradas e tão verazes como o restante.

7 -Glossário:
1 - Alta Crítica - Método literário de interpretação das Sagradas Escrituras, que tem
por objetivo determinar a autoria, data e circunstância em que foram compostos os
santos livros. A teoria documentaria e a expressão mais radical desse método.

2 - Deísmo: crê em Deus, mas não aceita religião, certos dogmas e a revelação.
Rousseau era um deísta. O deísta é “primo” do agnóstico, que aceita Deus, mas
considerando-O um ser inacessível para nós.

3 - Racionalismo: Doutrina que afirma que tudo que existe tem uma causa inteligível,
mesmo que não possa ser demonstrada de fato, como a origem do Universo. É a
corrente central no pensamento liberal que se ocupa em procurar, estabelecer e
propor caminhos para alcançar determinados fins.

4 - Sofisma: Forte argumento contrário a alguém ou a alguma teoria.

8 - Bibliografia:

Bíblia de Estudo de Genebra, 1ª edição, São Paulo, SP, Cultura Cristã e Sociedade
Bíblica do Brasil, 1999.

Enciclopédia eletrônica Ilúmina, versão 2.5p, São Paulo, SP, Visual books prodution
e Sociedade Bíblica do Brasil, 2007.

http://www.ipcb.org.br/arquivosword/altacritica.doc

http://www.monergismo.com/textos/at/pentateuco.htm#_ftn15

http://oprotesto1.blogspot.com/2008/12/julius-wellhausen.html, Atualizado em 10 de
Dezembro de 2008

http://www.fatecc.com.br/biblioteca/LIVROS%20BIBLIOTECA/Pentateuco.doc

Millard, Alan , Descobertas dos Tempos Bíblicos, São Paulo, Ed. Vida, 1999, 354p.

Archer Jr. Gleason L., Merece Confiança o Antigo Testamento? São Paulo, Ed. Vida
nova, 2002, 520p.

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Geisler, Norman e Howe, Thomas, Manual popular de dúvidas, enigmas e
“contradições” da Bíblia, São Paulo, Ed. Mundo Cristão, 1999, 580p.

Hoff, Paul, O pentateuco, Belo Horizonte, Ed.Betânia, 1995, 113p.

Almeida, Paulo Roberto b. de, Antigo testamento 1, Apostila não publicada.

Stephen Van Eck, o pentateuco e a suposta autoria de moisés, artigo publicado na


Web.

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