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AVALIAÇÃO DOUTRINAL
TILLICH, Paul. Dinâmica da Fé. São Leopoldo: Sinodal. 5ª ed., 1996. 87 pp.
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falível, da qual o teólogo cuidadosamente deve extrair as camadas de afirmações historicamente
condicionadas em busca de uma legítima manifestação divina (e o divino, entenda-se, como o
“totalmente outro” que, pela fé, possui o ser humano); também, a mitificação do pecado e sua
consequência para o aspecto cristológico da Escritura: haja visto que o pecado é decorrente da
moralização deturpada do aspecto demoníaco do sagrado (o que também está latente nas Escrituras,
fato adicional que leva o teólogo a “descascá-la” ainda mais em busca da verdade) o ser humano
simplesmente não necessita de um Salvador. A fé é uma manifestação essencialmente sua, creia ele em
Cristo ou em Buda.
5. Quais são as fontes da teologia do autor?
Como teólogo liberal, Tillich baseia sua teologia na experiência “personal”, isto é, na
experiência existencialista do ser humano, analisada e esquadrinhada pelo uso da razão. Estas são,
portanto, as suas duas fontes, a experiência e a razão. As citações bíblicas, quando acontecem, servem
apenas para comprovar sua visão histórico-crítica, numa espécie de “eisegese” no texto bíblico.
6. Avaliação Doutrinal.
Tillich desenvolve sua argumentação a partir da idéia de que “a fé é aquilo que possui o
homem incondicionalmente”. Contudo, como já ressaltamos acima, “fé”, neste contexto, não pode ser
entendida como a fé cristã operada pelo Espírito Santo, mas sim, algo essencial e inerente ao ser
humano. Ao contrário de afirmar a única fé verdadeira como aquela produzida pela ação do Espírito
através da Palavra no coração do homem, figura-a apenas como mais uma das inúmeras possibilidades
de fé. No seu entendimento, seja qual for o objeto da fé, se ele possuir incondicionalmente o homem,
esta fé é fé verdadeira. Tal afirmação não é danosa em si. Nem sempre o crente tem clareza suficiente
sobre como a fé opera em si, mas nem por isso deixa de crer no Salvador Jesus. Essa afirmação é
danosa, isto sim, nas implicações diretas que dela decorrem, algumas destas já analisadas acima. A
partir desta concepção de fé, ao contrário do que prega a teologia cristã, não existe a necessidade de
uma fé justificadora – esta sim operada pelo Espírito Santo. Não existindo tal necessidade, logo decorre
que não há também a necessidade de justificação. E, em não havendo necessidade de justificação, nega-
se por completo a doutrina acerca do pecado original e em consequência a própria cristologia – pois a
fé justificadora que fôra rejeitada tem como seu objeto os méritos de Cristo, e estes para a justificação.
Desta forma, a religião cristã e seus dogmas – amplamente questionados por Tillich - são
nivelados com todas as outras religiões e dogmas, sendo apenas mais um possível agente que possa
tocar o homem incondicionalmente. Deixa de ser a “religião absoluta” defendida por Mueller. E,
deixando de ser a religião absoluta, disto decorre que o Deus Iahweh deixa de ser um Deus pessoal. Isto
ele deixa claro ao afirmar: “Se se entende por ‘existência’ algo que possa ser encontrado em algum
lugar no todo da realidade, então não existe nenhum ente divino” 2. Ora, as implicações prévias à
negação da existência “personal” de Deus – a qual deita em terra a teologia cristã – são tais como a
negação de toda doutrina acerca da Bíblia como Palavra inspirada por Deus e o nivelamento de fé e
razão, em vista de seus diferentes objetos.
Exegeticamente, Tillich propõe que “eros” e “agápe” não são realmente “tipos” de amor,
mas sim qualidades do único amor possível como decorrência da fé. Uma análise minuciosa do texto
bíblico nos levará a concluir que tal afirmação não é verdadeira.
7. Valor prático do livro.
Uma obra com tais discrepâncias em relação à teologia bíblica contém pensamentos que
são, de fato, úteis à fé e vida cristãs, mas que devem ser cuidadosamente depurados e “adaptados”.
Nesta perspectiva, dignas de nota são as observações do autor referentes à forma de atuação do
fenômeno “fé”. Biblicamente o Deus pessoal, o Deus Iahweh é tanto o objeto quanto o agente que
proporciona a fé (ou seja, o fato de o crente crer em Deus denota a ação de Deus em si mesmo). E esta
é a idéia do autor quando sugere estar no homem a incondicionalidade daquilo que o toca
incondicionalmente.
Também, é relevante sua abordagem quanto à conversão tendo como ponto de partida a
comunhão de fé. As pessoas que compartilham de uma mesma fé desejam levar a outros a sua fé
particular, haja visto o caráter extático e apaixonado da fé. E este “levar a outros” inclui o amor, que é
o vínculo da comunhão e decorrência da fé. Tal perspectiva é, ao nosso ver, bastante útil às
comunidades cristãs.
Por fim, resta-nos concluir com a citação que fizemos acima de que Dinâmica da Fé
ainda é uma obra útil para uma melhor compreensão e prática da fé por parte dos cristãos, desde que o
raciocínio dialético usado na descrição da fé pandêmica defendida por Tillich seja aplicado á fé cristã,
obra do Espirito Santo através da Palavra revelada por Deus, a Bíblia.
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