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RESUMO
O artigo inicialmente apresenta um breve relato da história e evolução da área de geoprocessamento,
desde a década de 60 até os nossos dias, apresentando os principais conceitos e evoluções tecnológicas.
Em seguida, ele descreve as arquiteturas básicas para se implementar a gerência de dados em sistemas
de geoinformações e conclui, apresentando o resultado de um estudo comparativo realizado na
Prodemge, envolvendo os seguintes SGBD objeto-relacionais e suas extensões espaciais: MySQL,
Oracle e PostgreSQL.
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interessados. Começa a utilização Geographic Information Systems camada poderia ter sido originada
de papel, escala e notações espe- GIS). Essas ferramentas per- da(s) empresa(s) de transporte
ciais para representar grafica- mitem análises complexas, com- municipal.
mente essas informações, na forma binando dados alfanuméricos A partir de 1980, com a re-
que ficou universalmente conhe- com dados geográficos. Os dados dução de custo e evolução da ca-
cida como mapa. Essa forma de geográficos são denominados pacidade computacional do hard-
representação possuía limitações temas ou camadas (em inglês: ware, iniciou-se a popularização
inerentes como, por exemplo, themes ou layers). Um determi- do geoprocessamento. Novos
combinar e analisar informações nado tema pode ser representado recursos foram introduzidos nos
provenientes de diversos mapas por uma ou mais camadas, SIG, em especial a estatística e o
distintos. dependendo da complexidade, da sensoriamento remoto (SR), o
A partir de 1960, com a evo- forma de representação dos dados que contribuiu ainda mais para
lução na tecnologia de infor- ou de ambos. Exemplificando, a alavancar a sua popularização.
mação, tornou-se possível repre- análise do deslocamento dos Através de sensores orbitais
sentar essas informações em alunos para chegar a determinada (satélites) ou sensores aerotrans-
ambiente computacional. Os da- escola pode envolver três cama- portados (ex. aerofotos), tornou-
dos passam a ser organizados de das localizadas geograficamente se possível "descobrir", com
forma a facilitar a análise de seus ou seja, georreferenciadas: maior rapidez e precisão, eventos
inter-relacionamentos, com o obje- 1. a primeira camada contém ou fenômenos à distância. Tor-
tivo de gerar novos dados e repre- as escolas existentes; nou-se viável a captura de ima-
sentá-los no espaço geográfico. 2. a segunda apresenta os en- gens de satélites de uma determi-
Surge então o geoprocessamen- dereços residenciais dos nada localização em intervalos de
to. Utilizando técnicas matemáti- alunos e também será tempo regulares e ajustáveis.
cas e computacionais, o geopro- georreferenciada com base Com esse recurso pode-se, por
cessamento permite a correlação no cadastro de quadras e exemplo, monitorar queimadas e
e a análise de dados geográficos e lotes do município; desmatamentos de forma mais
de dados alfanuméricos (seus 3. a última camada representa efetiva e acurada. Outro uso
atributos), facilitando a tomada as linhas de transporte dessa tecnologia é suprir infor-
de decisão em diversas áreas, tais urbano em operação. mações de regiões onde os dados
como planejamento urbano e re- Uma característica relevante geográficos são insuficientes ou
gional, gestão de recursos natu- dessa abordagem é que os dados mesmo inexistentes. A união dos
rais, transporte, gestão nas áreas em cada camada podem ser origi- SIG com as ferramentas de sen-
de Saúde e Educação. nados de diversas fontes distin- soriamento remoto possibilitou o
No ambiente computacional, tas. No exemplo anterior, a pri- surgimento de novas aplicações,
as ferramentas de software meira e segunda camadas seriam como o controle de determinadas
utilizadas para realizar o geo- geradas pela Secretaria de Edu- endemias, causadas por fatores
processamento são denomi- cação, a partir do Cadastro Técni- naturais e ambientais.
nadas Sistemas de Informações co Municipal da Secretaria da A estatística permite determi-
Geográficas - SIG1 (em inglês: Fazenda, enquanto a terceira nar a relação de dependências
1 A sigla SIG é normalmente utilizada tanto para representar o substantivo singular (sistema) quanto plural (sistemas).
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entre variáveis indicando as rela- análise, ampliando assim as possi- minadas regiões da Amazônia está
ções de causa efeito. Agregan- bilidades de indicação das causas associado à construção de estradas,
do então a geoestatística aos sis- de determinado evento ou fenôme- ao gerar um aumento da ocupação
temas de geoprocessamento, variá- no. A comprovação de que o au- humana, é um bom exemplo da
veis geográficas são incluídas na mento de desmatamento em deter- aplicabilidade desses recursos.
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Arquitetura Dual
Nessa abordagem, os atribu- do banco de dados alfanumérico componente de software à
tos ou dados alfanuméricos da pode comprometer a sua quali- parte sobre os arquivos
aplicação são armazenados em ta- dade e a eficiência do processo de que armazenam os dados
belas (relações) de um banco de consulta e de análise dos mesmos, geográficos e, finalmente,
dados relacional, gerenciado por pelas seguintes razões: a terceira que irá consoli-
um SGBD. Os dados geográficos 1. os dados geográficos estão dar, agrupar e relacionar os
associados a esses atributos são fora do domínio de atuação resultados obtidos nas eta-
armazenados isoladamente em dos mecanismos de back- pas anteriores;
arquivos do sistema operacional up, recuperação, controle 3. a integração com outras
hospedeiro, em um formato pro- de transação e controle de ferramentas (ex. outro SIG,
prietário do SIG. A associação ló- concorrência do SGBD. software estatístico, etc.)
gica ou conceitual entre um dado Como conseqüência, fica torna-se mais complexa
geográfico e seu atributo alfanu- comprometida a garantia devido ao formato proprie-
mérico (ex. população de uma ci- de sua própria consistência tário de armazenamento
dade) é feita através do comparti- e da integridade referencial dos dados geográficos;
lhamento de um valor identifica- em relação aos seus atribu- 4. a administração do am-
dor único (chave primária) atribuí- tos, armazenados no banco biente operacional torna-se
do simultaneamente para ambos. de dados relacional; mais complexa e onerosa,
Essa é uma arquitetura sim- 2. a manipulação (consulta, visto que usualmente as
ples e possibilita a utilização de inserção, alteração e remo- empresas delegam a profis-
qualquer SGBD do mercado, ção) dos dados tende a ser sionais com perfil e capa-
mesmo aqueles mais elementares, mais lenta, pois é efetuada citação distintos a respon-
que não possuem nenhum suporte em, geralmente, três etapas: sabilidade de administrar
para o armazenamento e manipu- uma pelo SGBD para a cada um desses ambientes:
lação de objetos binários longos manipulação dos dados no administrador de banco de
(BLOB). No entanto, o armazena- banco de dados relacional, dados e analista de suporte
mento dos dados geográficos fora a outra pelo SIG ou a sistemas operacionais.
2 Structured Query Language (SQL): linguagem de dados padrão dos SGBD relacionais do mercado e que engloba comandos para
definição, inserção, consulta, atualização e remoção de dados, bem como a garantia de sua integridade e segurança de acesso.
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associação desses dados aos seus então ainda ao SIG, ou outro associado, a tarefa de suprir essas
atributos alfanuméricos. Cabe componente de software a ele deficiências.
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principal objetivo foi analisar e A razão dessa premissa é O MySQL [6] é um SGBD
avaliar, sob o ponto de vista minimizar os riscos de se gratuito e de código aberto, po-
funcional, as características de optar por um produto cuja dendo ser distribuído tanto com
alguns dos principais produtos qualidade técnica não uma licença comercial quanto
do mercado, com o intuito de tenha sido devidamente com uma integralmente baseada
identificar aquele que possa ser comprovada por um na GNU/GLP. É um produto
melhor utilizado no desenvolvi- universo significativo de muito utilizado e conhecido co-
mento de sistemas de geoinfor- usuários e, assim, conse- mo sendo simples, fácil de operar
mação no âmbito do Governo do qüentemente comprometer e com excelente desempenho. A
Estado de Minas Gerais. a qualidade de serviço da sua extensão espacial só foi dis-
O escopo dessa avaliação Prodemge. ponibilizada a partir da versão
ficou limitado aos produtos Esse trabalho teve como prin- 4.1.0, lançada em abril de 2003.
MySQL, Oracle e PostgreSQL, a cipal balizador o documento A Prodemge vem utilizando-o
fim de satisfazer as seguintes pre- OpenGIS Simple Features nos últimos anos em sistemas
missas: Specification For SQL [4] pro- web de pequeno e médio portes,
1. excluir o DB2 do processo duzido pelo Open GIS porém sem fazer uso de seus
de análise, por ser um Consortion (OGC). Esse docu- recursos espaciais.
SGBD usado exclusiva- mento, abreviadamente SFSSQL, Embora sua implementação
mente na Prodemge em é uma proposta de especificação tenha seguido de perto as fun-
aplicações legadas em de um conjunto de geometrias cionalidades especificadas na
mainframe; e de operações topológicas que SFSSQL, a sua extensão espacial
2. restringir-se aos SGBD já geram novas geometrias em apresenta algumas limitações que
utilizados na Prodemge pa- tipos de dados vetoriais. O seu podem restringir significativa-
ra evitar uma proliferação principal objetivo, segundo seus mente a sua utilização, sendo que
excessiva de produtos na realizadores, é definir um pa- as principais são:
empresa e, assim, garantir drão da linguagem SQL que 1. a extensão espacial só está
o nível de qualidade de suporte o armazenamento, recu- disponível para o tipo de
suporte técnico e reduzir peração, consulta e atualização tabela MyISAM, que é a
os custos com treinamento de dados geoespaciais, bem como estrutura de armazenamen-
dos funcionários; de seus atributos descritivos to original e mais simples
3. para os produtos com li- alfanuméricos. do MySQL. O problema é
cença de uso proprietária e O escopo do trabalho se limi- que, nesse caso, são inexis-
paga, considerar aquele tou à análise funcional dos produ- tentes os mecanismos de
que possa ser disponibili- tos. Portanto, não foram realiza- controle de transação e de
zado em Linux, que é o sis- dos testes operacionais, sejam integridade referencial, o
tema operacional com li- eles de instalação, avaliação que limita a sua aplicabili-
cença livre utilizado exten- de desempenho, de estabilidade e dade a sistemas com baixo
sivamente na Prodemge e de facilidade de uso. A seguir requisito de robustez e
em seus clientes (vide pre- estão brevemente descritos os de complexidade. Essas
missa 1); produtos analisados, ressaltando limitações, no entanto,
4. considerar apenas produ- algumas de suas características nem sempre são condi-
tos com ampla divulgação positivas e negativas. Uma visão zentes com a realidade
e aceitação no mercado mais detalhada está nas Tabelas da Prodemge e de seus
internacional e nacional. de 1 a 5. clientes;
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2. apenas um número muito armazenamento, recuperação e curiosamente, até então, a sua lin-
reduzido de produtos da área análise de dados espaciais. Ela guagem de dados original era o
de geoprocessamento faz também adere à especificação PostQUEL, diferente da maioria
interface atualmente com o SFSSQL, embora com total dis- dos produtos concorrentes que se-
MySQL (vide Tabela 5). A cordância em relação à nomen- guiram o padrão SQL. No mesmo
sua utilização fica mais clatura original das funções e ano, o seu código-fonte foi dis-
uma vez restrita apenas ao procedimentos. Esse fato, prova- ponibilizado na web, onde um gru-
desenvolvimento de siste- velmente por razões históricas e po de desenvolvedores mundial-
mas autocontidos, sem inte- de compatibilidade, não só difi- mente distribuídos o vem manten-
ração com outros produtos culta a identificação dessas fun- do e atualizando. Apesar de não ser
ou componentes de software ções e procedimentos perante a um produto tão popular como o
correlatos, tais como biblio- especificação original, como tam- MySQL, o PostgreSQL é bastante
tecas de software, servido- bém limita a interoperabilidade utilizado e reconhecido pela sua
res de exibição de mapas com outras soluções baseadas na origem e qualidade acadêmica,
(map servers), exibidores SFSSQL. Contraditório, portan- bem como pela abrangência de sua
de dados espaciais, etc. to, com os próprios objetivos e funcionalidade [9].
O Oracle é um SGBD utiliza- premissas da padronização pro- Embora possua suporte nativo
do na Prodemge e em seus posta pela OGC. Essa incoerên- a dados espaciais, seus recursos
clientes desde meados da década cia em relação aos padrões abertos originais não são muito abran-
de 90 e oferece dois tipos de re- não seria um obstáculo tão gran- gentes e eficientes. Para suprir
cursos para manipulação de da- de para a maioria dos seus usuá- essas deficiências e oferecer uma
dos espaciais: o Oracle Locator e rios potenciais quanto é o valor alternativa aos produtos com
o Oracle Spatial. [7] de sua licença de uso principal- licença proprietária, a empresa
O Oracle Locator está incluí- mente se comparado com a gra- Refractions Research Inc. (http:
do regularmente e sem custo adi- tuidade dos outros dois produtos //www.refractions.net) desenvol-
cional nas duas principais distri- analisados. Além dos US$ 40.000 veu e mantém a extensão espacial
buições do Oracle: Standard por processador necessários para PostGIS, que é distribuída gratui-
Edition e Enterprise Edition. No licenciar o Oracle Enterprise tamente sob licença GNU/GPL, e
entanto, ele provê um conjunto Edition, deve-se ainda desembol- oferece ao PostgreSQL o suporte
limitado de funcionalidades, que sar mais US$ 10.000 por proces- a objetos espaciais de acordo com
são úteis apenas em sistemas de sador para habilitar a Oracle a especificação SFSSQL. As fun-
geoinformação mais simples. De Spatial. O investimento inicial é cionalidades dos recursos espaci-
uma forma geral, ele oferece ape- então de no mínimo US$ 50.000 ais foram então ampliadas e
nas um conjunto de recursos es- mais os US$ 11.000 por ano (22%) diversos produtos de grande pe-
paciais básicos e limitados, o que a título de manutenção (suporte netração e renome no mercado de
exclui o referenciamento linear técnico e atualização de versões). geoprocessamento, com licença
(linear referencing), funções para O PostgreSQL [8] é um livre ou proprietária, possuem
análise espacial, transformações SGBD objeto-relacional, gratuito algum tipo de interface com essa
de coordenadas espaciais, entre e distribuído sob a licença BSD. solução. Concluindo, essas carac-
outros. Ele teve sua origem no SGBD terísticas o tornam, de acordo
O Oracle Spatial é uma ex- Postgres, que foi desenvolvido com o escopo e premissas do
tensão espacial só disponível na entre 1986 e 1993 na Universi- estudo efetuado, uma excelente
distribuição Oracle Enterprise dade da Califórnia, em Berkeley. alternativa técnica e econômica
Edition e representa uma solução Em 1994, foi incorporado o su- ao Oracle Enterprise Edition com
tecnologicamente completa para porte à linguagem SQL, visto que a extensão Oracle Spatial.
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Tabela 1: Identificação dos Produtos
PostgreSQL Global
Oracle Oracle
Fabricante MySQL AB Development Group e
Corporation Corporation
Refrations Research
8.0 (PostgreSQL)
Versão analisada 4.1 10g 10g
0.9.1 (PostGIS)
PostgreSQL: BSD
Tipo de licença GNU/GPL Proprietária Proprietária
PostGIS: GNU/GPL
US$ 5.000/
US$ 40.000/ processador
Custo do SGBD Gratuito Gratuito
processador (Standard Edition
One)
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Tabela 3: Compatibilidade com a SFSSQL
Formatos de dados
espaciais suportados
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Tabela 4: Funcionalidade
Tipos de objetos
espaciais suportados
Número de dimensões
suportadas nas 2 2, 3 e 4 2, 3 e 4 2, 3 e 4
geometrias
Transformação de
sistemas de coordenadas
Carga transacional de
dados espaciais
Suporte a dados
geodésicos
Sistema de referência
linear
Suporte ao armazenamen-
to e manipulação de
imagens Raster
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Tabela 5: Conectividade com outros produtos
ArcGIS
FME Engine
GeoServer
GeoTools
GDAL
GRASS
JUMP
MapInfo MapXtreme
Java Ed.
MapInfo Professional
QGIS
TerraLib
UMN MapServer
Referências
[1] Câmara, G. & Queiroz, G. R. Arquitetura de Sistemas de Informação Geográfica. In: Banco de Dados Geográficos. Capítulo em
livro on-line disponível em abril/05 no endereço eletrônico: http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/bdados/
[2] Codd, E. A Relational Model for Large Shared Data Banks. CACM, 13:6, June 1970.
[3] Open GIS Consortion, Inc. http://www.opengeospatial.org/ (disponível em abril/ 05)
[4] Open GIS Consortion, Inc. OpenGIS Simple Features Specification For SQL Revision 1.1. OpenGIS Project Document 99-049.
May 5, 1999. Disponível em abril/05 no endereço eletrônico: http://www.opengeospatial.org/docs/99-049.pdf
[5] Melo, C.H. Prospecção de SGBD para Geoprocessamento. Relatório Técnico Interno. Prodemge, fevereiro de 2005.
[6] MySQL AB MySQL Reference Manual - version 4.1. Disponível em abril/05 no endereço eletrônico:
http://dev.mysql.com/doc/mysql/en/index.html
[7] Oracle Corporation. Oracle Spatial - User´s Guide and Reference 10g Release 1 (10.1). December, 2003.
[8] PostgreSQL Global Development Group http://www.postgresql.org (disponível em abril/ 05)
[9] Howard, P. Pervasive joins the open source bandwagon. IT-DIRECTOR.COM, 17th January, 2005. Disponível em abril/05 no
endereço eletrônico: http://it-director.com/article.php?articleid=12506
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