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Série

ESTUDOS DA DEMANDA

NOTA TÉCNICA DEA 14/10


Avaliação da
Eficiência energética
na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019)

Rio de Janeiro
Julho de 2010
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Série
ESTUDOS DA DEMANDA

NOTA TÉCNICA DEA 14/10


Análise da
GOVERNO FEDERAL Eficiência energética
Ministério de Minas e Energia na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019)
Ministro
Márcio Pereira Zimmermann
Secretário Executivo
José Antonio Corrêa Coimbra

Secretário de Planejamento e Desenvolvimento


Energético
Altino Ventura Filho

Empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia,


instituída nos termos da Lei n° 10.847, de 15 de março de
2004, a EPE tem por finalidade prestar serviços na área de
estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do Coordenação Geral
setor energético, tais como energia elétrica, petróleo e gás
natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas Mauricio Tiomno Tolmasquim
renováveis e eficiência energética, dentre outras. Amílcar Guerreiro
Coordenação Executiva
Presidente Ricardo Gorini de Oliveira
Mauricio Tiomno Tolmasquim Coordenação Técnica
Diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Raymundo Aragão
Ambientais Carla Achão
Amilcar Guerreiro Jeferson Soares

Diretor de Estudos de Energia Elétrica Equipe Técnica


José Carlos de Miranda Farias Ana Cristina Maia
Arnaldo dos Santos Junior
Diretor de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis Flávio Rosa
Elson Ronaldo Nunes Jose Manuel David
Diretor de Gestão Corporativa Marcos Conde
Ibanês César Cássel Monique Riscado
Rogério Matos
URL: http://www.epe.gov.br

Sede
SAN – Quadra 1 – Bloco B – Sala 100-A
70041-903 - Brasília – DF

Escritório Central
Av. Rio Branco, n.º 01 – 11º Andar
Rio de Janeiro
20090-003 - Rio de Janeiro – RJ Julho de 2010
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Ministério de Minas e Energia

Série
ESTUDOS DA DEMANDA

NOTA TÉCNICA DEA 14/10


Análise da
Eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019)

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO_______________________________________________________ 1

2 CONSIDERAÇÕES GERAIS ______________________________________________ 4


2.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES 4
2.2 INDICADORES DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA 5
2.3 ENERGIA ÚTIL 8
2.4 PROGRESSOS AUTÔNOMO E INDUZIDO 8
2.5 CONTEXTO ECONÔMICO E DEMOGRÁFICO 9
2.6 OUTRAS CONSIDERAÇÕES GERAIS 10

3 POTENCIAIS DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ______________________________ 11


3.1 GERAL 11
3.2 ENERGIA ELÉTRICA 12
3.3 COMBUSTÍVEIS 14

4 SETOR RESIDENCIAL ________________________________________________ 15


4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 15
4.2 TAXA DE ATENDIMENTO DO SERVIÇO DE ELETRICIDADE 16
4.3 POSSE DE EQUIPAMENTOS ELETRODOMÉSTICOS 17
4.4 CONSUMO ESPECÍFICO DE EQUIPAMENTOS ELETRODOMÉSTICOS 18
4.5 CALOR DE PROCESSO (AQUECIMENTO DE ÁGUA) 20
4.6 AQUECIMENTO DIRETO (COCÇÃO) 21
4.7 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO USO DA ENERGIA ELÉTRICA 22

5 SETOR INDUSTRIAL _________________________________________________ 25


5.1 PARÂMETROS BÁSICOS 25

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5.2 ENERGIA ELÉTRICA 27


5.3 COMBUSTÍVEIS 30

6 SOBRE A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM OUTROS SETORES _____________________ 34


6.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 34
6.2 SETOR DE TRANSPORTES 34
6.3 SETOR AGROPECUÁRIO 36
6.4 SETOR COMERCIAL 37

7 REFERÊNCIAS _____________________________________________________ 38

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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Consumo de energia (total) 3
Tabela 2. Indicadores energéticos selecionados 6
Tabela 3. Indicadores energéticos globais de países selecionados (2006) 7
Tabela 4. Cenário socioeconômico referencial 9
3
Tabela 5. Potencial de conservação de energia – BEU (10 tep/ano) 11
Tabela 6. Potenciais de conservação de energia elétrica 12
Tabela 7. Potencial de conservação em eletricidade em setores industriais selecionados 13
Tabela 8. Potencial de conservação em combustíveis em setores industriais selecionados
(CNI) 14
Tabela 9. Consumo final energético no setor residencial brasileiro em 2008 15
Tabela 10. Vida útil e posse média de equipamentos eletrodomésticos 17
Tabela 11. Evolução do consumo unitário do estoque de equipamentos nos domicílios 19
Tabela 12. Eficiência energética no setor residencial. Energia elétrica 23
Tabela 13. Consumo final energético no setor industrial brasileiro em 2008 25

ÍNDICE DE FIGURAS E GRÁFICOS


Gráfico 1. Brasil: Projeção de evolução do percentual de domicílios com energia elétrica 16
Gráfico 2. Ganho de eficiência de equipamentos eletrodomésticos no horizonte decenal
(2019) 20
Gráfico 3. Consumo específico de energia em setores industriais selecionados (tep/103ton)27
Gráfico 4. Intensidade elétrica e energética na indústria 27
Gráfico 5. Ganhos de eficiência energética na indústria: energia elétrica (*) 28
Gráfico 6. Participação dos subsetores no total da energia elétrica conservada na indústria29
Gráfico 7. Avanço relativo da eficiência energética (eletricidade) por setor da indústria 30
Gráfico 8. Ganhos de eficiência energética na indústria: combustíveis (*) 31
Gráfico 9. Participação dos subsetores no total do combustível conservado na indústria 32
Gráfico 10. Avanço relativo da eficiência energética (combustíveis) por setor da indústria33
Gráfico 12. Distribuição do transporte carga (t-km) no Brasil segundo o modal de
transporte 36

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1 INTRODUÇÃO
A eficiência no uso da energia entrou na agenda mundial a partir dos choques no preço do
petróleo dos anos 1970, quando ficou claro que o uso das reservas de recursos fósseis teria
custos crescentes, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista ambiental. Logo
se reconheceu que um mesmo serviço poderia ser obtido com menor gasto de energia e,
consequentemente com menores impactos econômicos, ambientais, sociais e culturais.
Equipamentos e hábitos de consumo passaram a ser analisados em termos da conservação da
energia tendo sido demonstrado que, de fato, muitas iniciativas que resultam em maior
eficiência energética são economicamente viáveis, ou seja, o custo de sua implantação é
menor do que o custo de produzir ou adquirir a energia cujo consumo é evitado.

Mais recentemente, a busca pela eficiência energética ganhou nova motivação. Em adição à
perspectiva de custos mais elevados da energia de origem fóssil, a preocupação com a
questão das mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global do planeta,
aquecimento este atribuído, em grande medida, à produção e ao consumo de energia, trouxe
argumentos novos e definitivos que justificam destacar a eficiência energética quando se
analisa em perspectiva a oferta e o consumo de energia. Essa preocupação se justifica mesmo
em um país como o Brasil, em que o custo de produção de energia é, de uma forma geral,
economicamente competitivo e que apresenta uma matriz energética em que quase metade
está associada a energias renováveis.

No Brasil, diversas iniciativas sistematizadas vêm sendo empreendidas há mais de 20 anos.


Destacam-se o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), coordenado pelo Instituto Nacional
de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), o Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), cuja coordenação executiva está a cargo das
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás), e o Programa Nacional de Racionalização do
Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (CONPET), cuja coordenação executiva é de
responsabilidade da Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras)1. Mais recentemente, o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) criou uma linha de financiamento
específica para apoio a projetos de eficiência energética, o PROESCO.

A experiência acumulada ao longo desses anos evidencia que é possível, de fato, “retirar”
uma parcela do consumo de energia por meio de iniciativas na área de eficiência energética.
O consumo final energético no Brasil atingiu 211,7 milhões de tep no ano de 2008. Com base
no Balanço de Energia Útil (BEU), é possível estimar que, considerando as tecnologias
disponíveis no mercado, há um potencial de eficiência energética que corresponde a 8,6%.

1
O PBE é vinculado ao ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior (MME).
PROCEL e CONPET são vinculados o Ministério de Minas e Energia (MME).
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no horizonte decenal (2010-2019) 1
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Assim, nos estudos da demanda de energia que a EPE desenvolve, em especial aqueles que se
aplicam aos planos de expansão de energia, tanto os de horizonte decenal quanto os de mais
longo prazo, é inevitável que a questão da eficiência energética seja tratada com destaque e
da forma mais explícita possível.

É claro que a projeção da demanda considera, intrinsecamente, eficiência energética no uso


da energia. Ocorre que há limitações metodológicas e de dados primários que restringem uma
abordagem mais abrangente e detalhada da questão. Tem-se, então, que definir critérios e
prioridades.

Mais da metade do potencial de eficiência energética no Brasil, conforme as estimativas


realizadas a partir do BEU, encontra-se no consumo das famílias (setor residencial) e das
indústrias, que, em 2008, representaram juntos quase 60% do consumo final energético do
país (exclusive setor energético). Esses setores são naturalmente elegíveis para uma
abordagem mais detalhada da eficiência energética implícita na projeção da demanda de
energia.

Outra parcela importante do consumo final energético (33%) encontra-se no setor de


transportes. Nesse setor, em especial no caso brasileiro, a questão mais central é a política
setorial adotada quanto à matriz de transportes (uso dos diferentes modais para o
atendimento de um dado nível de atividade), cuja discussão foge ao escopo deste trabalho.
Deve-se reconhecer, contudo, que essa questão traz repercussões significativas sobre a
demanda de energia e, por consequência, sobre a avaliação das oportunidades de ganhos de
eficiência energética neste setor. Além disso, há que se notar a precariedade de dados e
informações sobre os parâmetros que conduziriam a uma análise mais pormenorizada da
eficiência nos transportes. A despeito desta limitação, a EPE está envidando esforços no
sentido de aprimorar a metodologia empregada nas projeções de demanda de energia no
setor de transportes, a partir dos dados disponíveis, o que permitirá tratar mais
convenientemente, e de forma mais explícita, a eficiência energética neste setor nos
próximos planos de expansão de energia.

Da mesma forma, não se fez o detalhamento da eficiência energética intrinsecamente


considerada na projeção de energia dos demais setores (agropecuário, comercial e público).
Não obstante, uma abordagem geral é apresentada em uma seção desta nota técnica
especialmente dedicada ao setor de transportes e aos demais setores.

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no horizonte decenal (2010-2019) 2
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Os montantes de energia final total conservada no horizonte do PDE 2010-2019 são resumidos
na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1. Consumo de energia (total)


Consumo¹ 2010 2014 2019
Consumo - sem conservação [10³ tep] 184.110 235.628 309.229
Energia conservada [10³ tep] 1.467 5.481 13.325
Energia conservada [%] 0,8 2,3 4,3
Consumo - com conservação [10³ tep] 182.644 230.148 295.904
(1)
Corresponde ao consumo total de eletricidade em todos os setores somado ao consumo de combustíveis somente nos setores
industrial e de transportes. Não inclui, portanto, o consumo de combustíveis dos demais setores: agropecuário, residencial,
comercial/público e energético.
Fonte: EPE

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2 CONSIDERAÇÕES GERAIS

2.1 Conceitos e definições

O termo “eficiência” descreve, segundo Hordeski (2005), a capacidade de equipamentos que


operam em ciclos ou processos produzirem os resultados esperados. Em uma visão física, o
conceito de “eficiência” estaria limitado aos processos em que há conversão de energia e em
que as formas inicial e final são visíveis ou perceptíveis – energia cinética, potencial, elétrica.

O conceito apresentado pela International Energy Agency (IEA, 2007) – de que eficiência
energética é a obtenção de serviços energéticos, como produção, transporte e calor, por
unidade de energia utilizada, como gás natural, carvão ou eletricidade - é análogo ao
apresentado por Raskin et al. (2002), que utiliza o termo “atividade” para relacionar o uso de
energia, ou melhor, a necessidade de sua redução.

Aqui, será adotado uma definição geral que resume esses conceitos: eficiência energética é
a relação entre e a quantidade de energia final utilizada e de um bem produzido ou
serviço realizado.

Dentro dessa conceituação, eficiência está associada à quantidade efetiva de energia


utilizada e não à quantidade mínima teoricamente necessária para realizar um serviço,
conceito que se aproximaria do potencial de eficiência. Além disso, observe-se que o conceito
adotado é aplicável tanto à manufatura, em que há um bem físico cujo conteúdo energético
pode ser delimitado, quanto para serviços, em que o conteúdo energético não é por vezes tão
claramente definido, embora neste caso seja mais pertinente considerar a energia requerida
para prestação do serviço.

A despeito do questionamento sobre sua conveniência ou atualização, serão utilizadas neste


trabalho expressões como “energia conservada” ou “conservação de energia” como sinônimos
de consumo evitado ou reduzido. Embora não se trate aqui da conservação de energia (no
sentido físico da expressão), mas sim a redução efetiva do consumo, tendo em vista sua larga
aplicação na literatura expressões como “conservação de energia” e “energia conservada”
serão utilizadas para indicar o processo (conservação) ou resultados de redução no consumo
final de energia.

Patterson (1996) destaca o entendimento de “eficiência energética” como um processo


associado a um menor uso de energia por cada unidade de produção. Assim, mais relevante é
a apuração de indicadores que expressem a variação na eficiência energética. Esses
indicadores são em geral agrupados em quatro categorias principais, a saber:

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 Termodinâmicos: baseados inteiramente na ciência da termodinâmica, indicam a


relação entre o processo real e o ideal quanto à necessidade de uso de energia;

 Físicos-termodinâmicos: consideram a quantidade de energia requerida em unidades


termodinâmicas, mas as saídas (produtos) são expressas em unidades físicas;

 Econômicos-termodinâmicos: têm como referência a energia requerida em unidades


termodinâmicas, mas os produtos são expressos em unidades econômicas (valores
monetários);

 Econômicos: tanto a energia requerida como os produtos são expressos em grandezas


econômicas.

Ao longo deste trabalho, a eficiência energética estará referida tanto a indicadores


específicos de consumo de energia por produto (termodinâmicos), quanto ao processo de
redução deste consumo para uma mesma quantidade de produto (físico-termodinâmicos).
Adicionalmente, a eficiência energética será expressa com utilização de indicadores sócio-
econômicos, como o consumo por residência ou habitante.

Os valores de eficiência energética no horizonte decenal (2010-2019) aqui apresentados


indicam a diferença entre a projeção do consumo final de energia2, que incorpora esses
ganhos de eficiência, e a projeção desse consumo na hipótese de serem os padrões
tecnológicos e de uso da energia observados para o ano base. Esta é uma premissa relevante
para a correta compreensão e contextualização dos resultados aqui apresentados e significam
que:

 A quantificação apresentada considera um mesmo volume de saídas – produção física


de bens industriais, prestação de serviços e conforto – sendo variável apenas a
quantidade de energia necessária à sua produção ou realização;

 Não são consideradas mudanças de hábitos ou regime de operação de equipamentos,


mas apenas ganhos associados ao consumo específico de cada equipamento ou
processo avaliado.

2.2 Indicadores de eficiência energética

Seguindo-se a estruturação proposta por Patterson (1996), os critérios possíveis para


expressão da eficiência energética se associam aos setores ou atividades econômicas. Para
Schipper et al. (2001), indicadores energéticos descrevem as relações entre o uso de energia
e atividade econômica de forma desagregada, representando medições do consumo de

2
Conforme definição do Balanço Energético Nacional (EPE, 2009), consumo final de energia é a
“energia primária e secundária que se encontra disponível para ser usada por todos os setores de
consumo final do país”.
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energia e permitindo identificar os fatores que o afetam. Tolmasquim et al.(1998) destacam,


ainda, que os indicadores globais prestam-se a avaliar a eficiência energética de um país
como um todo, possibilitando a comparação com outros países e o acompanhamento da
evolução da eficiência ao longo do tempo.

Uma extensa lista de indicadores é apresentada em IAEA (2005), dentre os quais foram
selecionados como mais relevantes os apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Indicadores energéticos selecionados

Tema Indicador Componentes

Uso total Uso de energia por habitante Uso de energia


(oferta total, consumo final total)
População total
Produtividade total Uso de energia por unidade de Uso de energia
produto interno bruto (oferta total, consumo final total)
Produto interno bruto
Eficiência do Eficiência na conversão e Perdas nos centros de transformação
suprimento distribuição Perdas nos sistemas de transmissão e
distribuição
Uso final Intensidade energética – setor Uso de energia por setor industrial
industrial Valor adicionado por setor
Intensidade energética – setor Uso de energia no setor agropecuário
agropecuário Valor adicionado para o setor
Intensidade energética – setor Uso de energia no setor de serviços
serviços Valor adicionado para o setor
Intensidade energética – setor Uso de energia no setor residencial e
residencial para os principais usos finais
Número de domicílios, área construída,
habitantes por domicílio, posse de
eletrodomésticos
Intensidade energética – setor Uso de energia para transporte de
transportes cargas e passageiros e por modal
Passageiro-km e tonelada-km por modal
Fonte: IAEA (2005).

A título ilustrativo são apresentados na Tabela 3 indicadores globais divulgados pela IEA
(2008) e relacionados ao uso de energia no ano de 2006. Observe-se que, para o grupo de
países e regiões selecionados, a relação entre oferta interna de energia (OIE) e produto
interno bruto (PIB) do Brasil é das mais baixas e que o consumo de eletricidade per capita
brasileiro é igual ao da China, ligeiramente superior ao do México e inferior aos de Argentina
(-27%) e Chile (-55%).

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Tabela 3. Indicadores energéticos globais de países selecionados (2006)

Consumo de energia Indicadores


População PIB1
País/Região OIE 2
Eletricidade
(106 hab) (109 US$) (tep/103 US$) (kWh/hab)
(106 tep) (TWh)
OECD 1.178 31.158 5.537 9.872 0,18 8.381
Ásia 2.120 7.661 1.330 1.414 0,17 667
América Latina 455 3.425 531 808 0,15 1.777
África 937 2.207 614 522 0,28 557
África do Sul 47 489 129 227 0,26 4.810
Argentina 39 534 69 102 0,13 2.620
Chile 16 180 29 52 0,17 3.207
China 1.319 8.916 1.897 2.716 0,21 2.060
Estados Unidos 299 11.265 2.320 4.052 0,21 13.515
Índia 1.109 3.671 565 557 0,15 503
México 104 1.030 177 208 0,17 1.993
Rússia 142 1.473 676 872 0,46 6.122
Brasil 189 1.476 224 389 0,15 2.060

Mundo 6.536 57.564 11.740 17.377 0,20 2.659


Notas: (1) PIB expresso segundo conceito de “paridade de poder de compra”.
(2) OIE: Oferta Interna de Energia
Fonte: IEA (2008).

A terminologia utilizada neste trabalho para os indicadores globais que se aplicam na análise
das projeções de demanda realizadas no âmbito do planejamento da expansão da oferta de
energia no Brasil é, em geral:

Indicador Expressão Unidade (*)

Consumo final per capita Consumo final de eletricidade por habitante kWh/hab

Consumo final por domicílio Consumo final de eletricidade por domicílio kWh/dom

Intensidade energética Consumo final de energia por unidade de MWh/R$


valor adicionado tep/R$

Consumo específico Consumo final de energia por MWh/ton


unidade física de produto tep/ton
(*) Em função dos valores expressos, as unidades poderão ser revistas para múltiplos ou submúltiplos das
indicadas.

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2.3 Energia útil

Outro conceito utilizado é o de energia útil. Conforme Marques et al. (2006), energia útil
“significa a forma energética última, efetivamente demandada pelo usuário, devendo ser
algum fluxo energético simples, como calor de alta e baixa temperatura, iluminação,
potência mecânica”.

A estimação dos valores de energia útil no Brasil é apresentada no Balanço de Energia Útil
(BEU), publicado em intervalos de 10 anos, e cuja edição mais recente tem como ano base
2004 (MME/FDTE, 2005). De acordo com esse documento, a energia útil é a parcela da energia
final efetivamente utilizada em um dado uso, ou seja, a energia final menos as perdas.
Expresso de outra forma, corresponderia ao produto da energia final por um rendimento
energético.

Com relação ao conceito de rendimento energético, o adotado na formulação do BEU “se


refere apenas à primeira transformação de energia do processo produtivo”, tratando-se de
uma simplificação e reduzindo o potencial de economia calculado por não considerar perdas
(e consequentes oportunidades de aumento da eficiência) para todo o sistema energético: as
perdas reais serão sempre maiores do que as estimadas.

O BEU apresenta, para efeitos de análise do potencial de economia de energia, dois valores
para os rendimentos energéticos:

 Rendimento “real” ou “efetivo”, associado às instalações em atividade no Brasil;

 Rendimento de referência, que corresponde a um valor [máximo] disponível no


mercado para determinada tecnologia3.

O potencial de conservação de energia calculado a partir dos parâmetros apresentados no BEU


se aproxima, portanto, do potencial técnico conforme descrito em EPRI (2009)4 – economias
resultantes da adoção das tecnologias mais eficientes disponíveis, sem levar em conta a
viabilidade econômica destas tecnologias.

2.4 Progressos autônomo e induzido

A avaliação da eficiência energética aqui realizada considerou a existência de dois


movimentos. O primeiro, denominado tendencial, corresponde ao aumento da eficiência em
uma trajetória do tipo “business as usual” e inclui a reposição tecnológica pelo término da

3
Como indicado no BEU, “os rendimentos de referência não devem ser considerados como o estado da
arte disponível na literatura técnica, mas como o estado da arte disponível entre os equipamentos
comercializados normalmente”.
4
Além do técnico, seriam ainda considerados os seguintes potenciais: econômico e máximo viável.
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vida útil de equipamentos e os efeitos de programas e ações de conservação já em prática no


país. O segundo, denominado progresso induzido, refere-se à instituição de programas e
ações adicionais orientados para determinados setores, eventualmente ainda não implantados
no país, refletindo políticas públicas5.

Neste trabalho, os montantes de conservação indicados são decorrentes dos efeitos


combinados dos progressos tendencial e induzido, com predominância do progresso tendencial
– haja vista que no horizonte em análise (2010-2019), em razão do tempo demandado para
preparo, aplicação e absorção de novos programas e políticas a serem introduzidos, o impacto
de novas medidas seria naturalmente reduzido.

2.5 Contexto econômico e demográfico

A avaliação da eficiência energética nos próximos dez anos insere-se em um conjunto de


estudos da demanda de energia que têm como base um cenário referencial condicionado por
fatores externos e internos à economia brasileira. A discussão e a descrição desse cenário
fogem ao escopo desta nota técnica. Para o propósito deste trabalho é suficiente que tal
cenário seja caracterizado em termos quantitativos, especificamente pelo crescimento
demográfico e do número de domicílios e pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB),
desagregado pelos grandes setores da economia.

O cenário referencial em que se circunscreve a avaliação da eficiência energética aqui


apresentada é caracterizado, em termos quantitativos, na Tabela 4.

Tabela 4. Cenário socioeconômico referencial


Indicador 2010 2014 2019
Demografia
População total [103 hab] 194.090 200.186 206.556
Nº de domicílios [x1000] 60.844 66.662 73.992
Economia [R$ milhões, valores constantes de 2008]
PIB total 3.201.100 3.890.957 4.965.956
Indústria 546.812 683.366 882.320
Agricultura 158.741 196.652 257.016
Serviços 1.851.246 2.219.903 2.799.895
Setor energético 163.223 206.282 280.415

5
No Plano Nacional de Energia 2030 – PNE 2030 (EPE, 2007) o movimento tendencial era denominado
progresso autônomo. Decidiu-se não adotar essa nomenclatura neste trabalho, embora mantendo-se o
mesmo conceito, na busca de um termo que expressasse com maior clareza o significado desse
movimento.
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2.6 Outras considerações gerais

É importante ressaltar que não se considerou neste trabalho o estabelecimento apriorístico de


metas para redução de emissões de gases de efeito estufa o que poderia implicar em definir
limites para o consumo de energia.

Nessas condições, é premissa básica do trabalho o entendimento de que o uso da energia no


Brasil não se faz, no horizonte do estudo (2010-2019), no “estado da arte”. Ou seja, o
incremento na eficiência energética decorre de duas razões básicas:

(a) da motivação própria dos consumidores, preocupados com a redução de custos e a


atualização tecnológica; e

(b) do incentivo oferecido por programas e iniciativas coordenados por agentes


governamentais.

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3 POTENCIAIS DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA

3.1 Geral

O BEU (MME, 2005) disponibiliza uma ferramenta que permite o cálculo de potenciais de
conservação de energia a partir de coeficientes técnicos, comparando a eficiência verificada
nos processos energéticos com valores referenciais que corresponderiam, conforme já
assinalado, às melhores tecnologias disponíveis comercialmente.

Utilizando-se os valores apurados no Balanço Energético Nacional (BEN) para o ano base 2008
(EPE, 2009) e os parâmetros técnicos do BEU, válidos para 2004, pode-se calcular o potencial
de conservação para todas as formas de energia. Os valores assim obtidos são indicados na
Tabela 5.

Tabela 5. Potencial de conservação de energia – BEU (103 tep/ano)


Setor
Uso final TOTAL
Residencial Transporte Industrial Energético Outros1
Força motriz 22,6 4.817,0 591,6 641,3 289,2 6.361,7
Calor de processo 49,2 0,0 1.962,6 1.347,7 87,4 3.446,9
Aquec. direto 1.819,2 0,0 3.085,7 50,6 177,6 5.133,2
Refrigeração 357,3 0,0 111,5 0,0 194,5 663,3
Iluminação 894,3 0,0 76,6 36,8 567,7 1.575,4
Eletroquímica 0,0 0,0 150,5 0,0 0,0 150,5
TOTAL 3.142,6 4.817,0 5.978,6 2.076,4 1.316,4 17.330,9
1
Inclui os setores comercial, público e agropecuário

Em termos de quantidade de energia conservada, o maior potencial encontra-se no setor


industrial, embora também mereçam destaque os valores calculados para os setores de
transporte e residencial. Em termos proporcionais, o setor residencial é o que apresenta
maior potencial uma vez que o valor de 3,1 milhões de tep representou 13,8% do total da
energia consumida nesse setor em 2008. Nesses termos, as residências são seguidas pelo setor
energético (8,5%) e pelo setor de transporte (7,7%). Em média, o potencial de conservação
seria de 8,6% do consumo final energético de todos os setores.

Visto de outra forma, o potencial de conservação no setor residencial, por exemplo, em que a
forma de energia predominante é a energia elétrica, equivaleria a uma usina hidrelétrica com
7.500 MW de potência instalada. No setor de transportes, em que os principais energéticos
consumidos são óleo diesel, gasolina e etanol, o potencial de conservação calculado
equivaleria a 92,6 mil barris por dia, ou seja, cerca de 5% da produção nacional de petróleo
em 2008.

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no horizonte decenal (2010-2019) 11
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3.2 Energia elétrica

Diversos estudos se referem ao potencial de conservação de energia elétrica, distribuindo


esse potencial segundo setores de consumo e muitas vezes classificando conforme a natureza,
se potencial técnico, econômico ou de mercado6. Na Tabela 6 é apresentada uma compilação
das estimativas de potencial de conservação de energia elétrica elaborada com base na
revisão bibliográfica realizada para o PNE 2030 (EPE, 2007).

Tabela 6. Potenciais de conservação de energia elétrica


Autor Setor / Segmento Potencial (%) Observações
Schaeffer et al (1998)7 Residencial 28 Potencial técnico
14 Potencial econômico
12 Potencial de mercado
Hotéis (4-5 estrelas) 26 Potencial técnico
25 Potencial econômico
18 Potencial de mercado
Shopping Centers 58 Potencial técnico
57 Potencial econômico
37 Potencial de mercado
Industrial - Cimento 38 Potencial técnico/econômico
21 Potencial de mercado
Industrial – Ferro Gusa e 51 Potencial técnico
Aço
36 Potencial de mercado
Leonelli (2006) Iluminação Pública 14 -
Saneamento 20 -
Brasil 7 -
IAEA (2006) Brasil 20 - 30 -
WWF (2006) Brasil 25 -
MME/SPE (2006) Edificações 10 -
Iluminação Pública 51 -
Saneamento 9 -

O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL) desenvolveu extensa


pesquisa do mercado de eficiência energética no Brasil (Eletrobrás, 2009). Para o ano de

6
O potencial de mercado compreende o resultado de medidas que podem ser introduzidas “por si
mesmas”, ou seja, aquelas cuja adoção traria redução de custos ao usuário; o potencial econômico
compreende o conjunto de medidas que têm viabilidade econômica, porém exigem condições de
contorno que induzam à sua efetiva implantação; o potencial técnico estabelece um limite teórico para
penetração das medidas de eficiência energética, dado pela substituição de todos os usos da energia
considerados por equivalentes com a tecnologia mais eficiente disponível.
7
Os potenciais apresentados de conservação de energia elétrica são para o ano de 2020.

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2015, um horizonte de aproximadamente 10 anos após o ano base da pesquisa, são estimados
potenciais de conservação de eletricidade no setor residencial de 46,0%, 21,5% e 10,3%,
correspondendo respectivamente aos potenciais técnico, econômico e de mercado.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), como resultado de convênio estabelecido com o


PROCEL, realizou avaliação de 13 setores industriais com expressivo consumo de energia (CNI,
2009). Os resultados agregados são apresentados na Tabela 7.

Tabela 7. Potencial de conservação em eletricidade em setores industriais selecionados


Potencial (por ano) Subsetores com maior
Uso da energia 3
10 tep GWh potencial de conservação

Força motriz 2.032,4 23.640 Siderurgia


Extrativa mineral
Alimentos e bebidas
Refrigeração 46,6 540 Alimentos e bebidas
Químico
Têxtil
Fornos elétricos 370,9 4.310 Siderurgia
Minerais não ferrosos
Ferroligas
Eletrólise 191,4 2.230 Metais não ferrosos
Química
Papel e celulose
Iluminação 60,2 700 Alimentos e bebidas
Têxtil
Extrativa mineral
Papel e celulose
Outros usos 2,4 30 Extrativa mineral
TOTAL 2.703,9 31.450
Fonte: CNI (2009)

O potencial de conservação de energia elétrica na indústria avaliado pela CNI equivale a uma
usina hidrelétrica com 6.500 MW de potência instalada. Isto é equivalente a todo o consumo
de energia elétrica dos grandes consumidores industriais da rede interligada do subsistema
Sudeste/Centro-Oeste previsto para o ano de 20098.

8
Como grandes consumidores industriais relacionam-se os seguintes subsetores: bauxita, alumina,
alumínio, siderurgia, ferroligas, pelotização, cobre, soda-cloro, petroquímica, celulose, papel e pasta
mecânica e cimento. A previsão do consumo para 2009 é feita regularmente no âmbito da EPE. Para
efeito dessa comparação, a previsão do consumo exclui a autoprodução.
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3.3 Combustíveis

O estudo da CNI citado na subseção precedente compreendeu também avaliação do potencial


de conservação de combustíveis nos setores selecionados. A indicação deste estudo é que o
aquecimento direto (fornos) é o uso em que há maior potencial para a conservação de
combustíveis na indústria, conforme revelado na Tabela 8.

Tabela 8. Potencial de conservação em combustíveis em setores industriais selecionados (CNI)


Potencial Subsetores com maior
Uso da energia 3
10 tep bbl/dia potencial de conservação

Aquecimento direto 9.103,7 175.600 Siderurgia


(fornos) Cerâmica
Cimento
Aquecimento direto 415,5 8.010 Alimentos e bebidas
(secadores) Cerãmica
Têxtil
Vapor de processo 2.358,2 45.500 Papel e celulose
(caldeiras) Têxtil
Alimentos e bebidas
Siderurgia
Outros usos 74,7 1.440 Química
TOTAL 11.952,0 230.550
Fonte: CNI (2009)

É digno de nota que, de acordo com o estudo da CNI, há, na indústria, um potencial quase
quatro vezes e meia maior para a conservação de energia em combustíveis do que em energia
elétrica.

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4 SETOR RESIDENCIAL

4.1 Considerações iniciais

Conforme dados do BEN destacam-se, no setor residencial brasileiro, o consumo de


eletricidade, lenha e gás liquefeito de petróleo - GLP (ver Tabela 9).

Tabela 9. Consumo final energético no setor residencial brasileiro em 2008


Consumo
Fonte %
(103 tep)
Eletricidade 8.220 36,2
Lenha 7.706 33,9
GLP 6.043 26,6
Carvão vegetal 531 2,3
Gás natural 229 1,0
Querosene 9 0,0
Total 22.738 100,0
Fonte: EPE (2009)

Nesse setor, variáveis como o número de domicílios e o perfil de posse de equipamentos têm
importante impacto na determinação do consumo de energia. Enquanto o consumo de
eletricidade é significativo para o uso de eletrodomésticos e outros equipamentos de uso em
residências, como chuveiros elétricos e lâmpadas, o consumo da lenha e do GLP tem uma
aplicação importante no atendimento da demanda por cocção e aquecimento de água.

No caso da energia elétrica, a fim de calibrar os modelos de cálculo utilizados, foram


aplicadas duas abordagens metodológicas na projeção da demanda. Uma do tipo “top-down”,
que se baseou na cenarização da evolução de dois indicadores básicos, a saber: (a) relação
entre o número de consumidores residenciais e a população, que permite obter a projeção do
número de consumidores a partir da projeção da população; e (b) o consumo médio por
consumidor residencial. A outra é do tipo “bottom-up”, por uso final, em que se considera o
número de domicílios, a posse média de equipamentos e seu consumo específico – variável
que internaliza possíveis ganhos de eficiência.

Uma vez calibrados os modelos e os parâmetros básicos de projeção, aplicou-se a metodologia


“bottom-up” em uma situação que considera e outra que desconsidera modificações no
rendimento energético dos principais equipamentos. A energia conservada foi então calculada
como a diferença entre as duas projeções. Desta forma:

• O cálculo da energia conservada teve por referência uma mesma base de número de
domicílios e atendimento pela rede elétrica;

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• Para efeito de cálculo, não foram consideradas diferenças de posse e uso de


equipamentos;

• A energia conservada assim calculada refere-se, exclusivamente, ao aumento da


eficiência dos novos equipamentos consumidores.

Observe-se que a metodologia permite que seja considerada – e assim se fez – eventual
substituição entre fontes. Por exemplo, a substituição da eletricidade por gás ou por
aquecimento solar direto no caso do aquecimento de água. Contudo, pela abordagem adotada
tal redução não foi contabilizada ou apropriada como energia conservada, embora muitos
autores defendam que assim devesse ser considerado.

4.2 Taxa de atendimento do serviço de eletricidade

Uma das questões básicas é determinar a parcela dos domicílios que serão atendidos pelo
serviço de energia elétrica ao longo do horizonte de análise (taxa de atendimento). Para
tanto, admitiu-se que a meta inicial do programa Luz para Todos, inclusão de 10 milhões de
pessoas ou 2 milhões de famílias, será atingida em 2010 e que as novas demandas surgidas
após o início do programa serão atendidas na sequência. Essa hipótese leva a considerar a
evolução da taxa de atendimento (percentual de domicílios com energia elétrica) conforme
ilustrado no Gráfico 1. Com isto, o número de domicílios particulares permanentes9 com
energia elétrica cresce de 57 milhões de unidades no ano de 2008 para cerca de 74 milhões de
unidades em 2019.

Gráfico 1. Brasil: Projeção de evolução do percentual de domicílios com energia elétrica


%
100,0

99,5

99,0

98,5

Projeção EPE
98,0
Domicílios com
iluminação (IBGE)
97,5

97,0
2005 2010 2015 2020

Nota: Domicílios particulares permanentes.

9
A terminologia adotada aqui segue aquela empregada pelo IBGE, que define domicílio particular como
moradia de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, onde o relacionamento é ditado por laços de
parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência. O domicílio particular é classificado
como permanente quando localizado em unidade que se destina a servir de moradia (casa,
apartamento e cômodo) (IBGE, 2009).
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4.3 Posse de equipamentos eletrodomésticos

No que tange ao consumo de eletricidade, a evolução da posse de equipamentos por domicílio


é determinante do ritmo de crescimento dessa demanda. Na metodologia empregada para a
projeção da demanda residencial de energia elétrica por uso final nos estudos da EPE, a
evolução da posse média resulta de estimativa sobre a evolução do estoque dos principais
eletrodomésticos presentes nos domicílios. Por sua vez, a projeção do estoque é realizada a
partir da diferença entre a estimativa de evolução das vendas e o sucateamento dos
equipamentos considerados.

Para efeito de cálculo, tomou-se por base o perfil de idade dos equipamentos levantado na
“Pesquisa de Posse de Equipamentos e Hábitos de Uso – ano base 2005” realizada pelo
PROCEL (Eletrobrás, 2007). Em adição, admitiu-se que, ao final da vida útil, os equipamentos
domésticos são substituídos por novos mais eficientes. Além da renovação da parcela do
estoque que é sucateada, considera-se que o ritmo de crescimento das vendas de
eletrodomésticos é função do incremento no número de novas ligações à rede e também do
aumento da renda das famílias e, em um plano mais agregado, de sua melhor repartição.
Essas considerações são determinantes na composição da trajetória da posse média de
equipamentos domésticos. Na Tabela 10 a seguir são apresentados os dados básicos
considerados neste trabalho, a saber: a vida útil dos equipamentos domésticos e a posse
média desses equipamentos pelas famílias no horizonte deste estudo (2010-2019).

Tabela 10. Vida útil e posse média de equipamentos eletrodomésticos


Vida útil Posse média (equipamentos por 100 domicílios)
Equipamento
anos 2010 2014 2019
Ar condicionado 15 20 23 24
Refrigerador 15 96 100 100
Congelador 15 19 17 16
Chuveiro elétrico 15 84 85 86
Máquina de lavar roupas 15 63 67 72
Televisão 14 138 155 177
Lâmpadas (*) 1,5 7,55 7,59 7,63
(*) número médio de lâmpadas por domicílio.

O congelador (“freezer”) é o único eletrodoméstico para o qual se supõe decréscimo na posse


média ao longo do período de análise. Essa hipótese se apoia no histórico recente em que,
diante de uma economia em que a inflação dos preços de alimentação e bebidas está sob
controle, reduz a necessidade de estoque doméstico. No cenário referencial essa condição de
contorno não se altera. Assim, nesse caso, trabalhou-se com a premissa de que não haverá
expansão do estoque de 12 milhões de equipamentos.

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4.4 Consumo específico de equipamentos eletrodomésticos

A premissa geral adotada é de que a oferta de equipamentos no mercado evolui na direção de


sempre disponibilizar dispositivos mais modernos e eficientes. Assim, por hipótese, a
eficiência média do estoque de equipamentos em poder das famílias aumenta
progressivamente seja devido à reposição do equipamento ao final de sua vida útil, seja
devido à expansão do estoque, associado ao movimento de equipar os novos domicílios. Nesse
sentido, considerou-se que a eficiência dos novos equipamentos adquiridos pelas famílias
cresce a uma taxa média de 0,5% ao ano até o horizonte de 2019.

Em todos os casos, admitiu-se que o equipamento de referência seria o mesmo ao longo do


horizonte de estudo. Por exemplo, o condicionador de ar de referência foi sempre, para
efeito de cálculo, um equipamento com potência nominal de 1.000 W. Apenas no caso do
chuveiro elétrico, considerando a busca por maior conforto, admitiu-se que as famílias
tenderiam a adquirir equipamentos com maior potência elétrica, que demandariam,
conseqüentemente, mais energia elétrica.

Para o cálculo do consumo específico por equipamento existente no ano de 2005, tomou-se
como referência inicial os valores determinados a partir de informações contidas na “Pesquisa
de Posse de Eletrodomésticos e Hábitos de Uso” do PROCEL (Eletrobrás, 2007), nas tabelas de
eficiência do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), coordenado pelo Instituto Nacional
de Metrologia - INMETRO (INMETRO, 2009), além de dados de potência e tempo de uso,
disponibilizados pelas concessionárias de energia elétrica.

As principais hipóteses utilizadas para a estimativa do consumo específico destes


equipamentos10 no ano base consideradas constantes ao longo do horizonte de análise foram:

 Refrigerador: foi considerado, para efeito de cálculo da média de consumo de


energia elétrica, um funcionamento durante 10 horas por dia11, 365 dias por ano,
constante em todo o horizonte de análise.

 Congelador: o consumo específico deste equipamento foi calculado de forma


semelhante ao da geladeira. Assumiu-se um uso de 9 horas por dia12 e 365 dias por
ano, constante em todo o horizonte de análise.

 Ar condicionado: considerou-se um tempo médio de uso de 8 horas por dia13, durante


quatro meses por ano14.

10
Considera-se que durante o horizonte decenal 2010-2019 ocorrerá uma redução de 5% no consumo
dos novos equipamentos no final do período em relação aos novos equipamentos considerados na
atualidade.
11
Já considerado o período em que o compressor permanece desligado.
12
Descontando-se o período que o compressor permanece desligado.
13
Considerando que o compressor funciona 50% do tempo.
14
Correspondendo aos meses com maiores temperaturas médias.
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 Chuveiro elétrico: admitiu-se um tempo médio de banho de 10 minutos por


habitante na posição “inverno” durante quatro meses e na posição “verão” durante o
restante do ano.

 Máquina de lavar roupas: considerou-se um funcionamento médio de 12 horas por


mês (3 horas por semana).

 Televisão: o consumo específico deste equipamento foi calculado admitindo um


tempo médio de utilização de 4 horas por dia e 365 dias por ano, ponderado pela
posse média de aparelhos de 14, 20, 21 e 29 polegadas nos domicílios no ano de
2005.15

 Lâmpadas: o tempo médio de utilização foi estimado a partir da média de utilização


de lâmpadas de uso habitual (considerada 5 horas por dia) e de uso eventual
(considerada de 1 hora por dia), ponderada pela posse média de cada um dos dois
tipos.

Nessas condições, o consumo médio do estoque de equipamentos nas residências foi estimado
conforme se apresenta na Tabela 11. Os ganhos de eficiência considerados em cada caso são,
portanto, os apresentados no Gráfico 2.

Tabela 11. Evolução do consumo unitário do estoque de equipamentos nos domicílios


kWh/equipamento/ano
Equipamento 2010 2014 2019
Ar condicionado 456 441 419
Refrigerador 349 338 320
Congelador 519 499 458
Lâmpadas 39 38 37
Chuveiro elétrico 483 498 511
Máquina de lavar roupas 68 66 63
Televisão 149 147 145

Cabe destacar que a análise se restringiu a esse grupo de equipamentos em razão de esses
equipamentos representarem 85% do consumo de uma residência brasileira típica ou média.
Todavia, em uma visão perspectiva, a crescente importância que tendem a assumir outros
eletrodomésticos no uso da energia residencial autoriza admitir que a proporção de “outros
usos” no consumo de eletricidade em uma residência brasileira, que hoje (2009) se estima em
15%, tenda a aumentar16.
15
Para mais detalhes ver Duarte et al. (2007).
16
Para se ter uma idéia do potencial de elevação do consumo de energia elétrica em decorrência do
aumento da posse e do uso de outros equipamentos, isto é, não relacionados nesta seção, considere
que, de acordo com a pesquisa do PROCEL (Eletrobrás, 2007) em cada 100 domicílios, não há mais do
que 74 aparelhos de som, 50 ventiladores de teto, 32 aparelhos de vídeo-cassete, 25 aparelhos de DVD,
23 computadores pessoais (PC), 14 impressoras, e 9 aparelhos de vídeo-games.
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no horizonte decenal (2010-2019) 19
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Gráfico 2. Ganho de eficiência de equipamentos eletrodomésticos no horizonte decenal (2019)

Como referência considere-se que já no ano de 2001 a categoria “outros usos” representava
45% do consumo de energia elétrica dos lares norte-americanos (EIA, 2009). A premissa
considerada neste trabalho foi de atingir essa proporção no horizonte de mais longo prazo,
pelo que, no ano horizonte deste trabalho (2019) atingir-se-ia o percentual de 29%.

Essa observação é relevante porque, em razão da abordagem metodológica adotada, em que


a avaliação da eficiência é feita pela diferença entre a projeção da demanda de energia
considerando e não a evolução do consumo específico de equipamentos, a mudança da
estrutura de consumo nas residências, como, por exemplo, ganho de participação de outros
equipamentos, pode mascarar os ganhos de eficiência obtidos.

4.5 Calor de processo (aquecimento de água)

O calor de processo no setor residencial se destina basicamente ao aquecimento de água,


sobretudo para banho. De acordo com a já referida pesquisa do PROCEL, a energia elétrica é
a forma preferencial de energia para o aquecimento de água para banho na maioria absoluta
(73,5%) dos domicílios brasileiros. O uso de outros energéticos para este fim é ainda residual.
Muito mais expressiva (17,5%) ainda é a parcela de domicílios que não possui equipamento
para aquecer a água. Há, portanto, um grande potencial para a substituição da energia
elétrica pelo gás ou pelo aquecimento solar direto neste uso. Destaque-se que entre os
domicílios que já usam o gás para o aquecimento de água para banho, quase 60% o faz por
meio de gás canalizado (o restante utiliza o GLP).

Se a energia elétrica o principal energético nesse uso, o equipamento principal é o chuveiro


elétrico (o uso de boilers elétricos é marginal). No caso do chuveiro elétrico, o parâmetro
importante a considerar é o número de domicílios dotados deste equipamento. Grosso modo,
Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 20
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essa estimativa resulta da diferença entre os domicílios que aquecem água para banho e
aqueles que utilizam algum energético (gás natural, GLP, aquecimento solar direto ou lenha)
que não a eletricidade para este fim. Para tanto, foram adotadas as seguintes hipóteses:

 O percentual de domicílios em que se aquece água para banho evoluiria de 81% em


2005 (Eletrobrás, 2007) para 86% em 2019. Nessa projeção admitiu-se, para efeito de
cálculo, que todos os domicílios do país seriam capazes de aquecer água para banho
em 2035, com exceção daqueles situados na região Norte17, exceção justificada pelos
hábitos e costumes regionais associados às condições climáticas.

 O percentual de domicílios em que se aquece água para banho utilizando gás natural
evoluiria de 1,7% (Eletrobrás, 2007) para 4,4%18 em 2019. Nessa projeção admitiu-se
um consumo específico de 17 m3/domicílio/mês e que 80% dos domicílios conectados à
rede de gás possuiriam aquecedores a gás.

O percentual de domicílios dotados de aquecimento solar direto evoluiria de 0,4% em 2005


(Eletrobrás, 2007) para 0,63% em 2019. Nessa projeção, admitiu-se que as vendas de
coletores solares no horizonte de análise no mesmo ritmo verificado entre 1983 e 2000, ou
seja, 10% ao ano. Em adição, considerou-se como referência um sistema de aquecimento solar
composto de coletor, reservatório e chuveiro e que durante a maior parte do tempo não
haveria necessidade de uso de energia elétrica (Fraidenraich, 2008).

O percentual de domicílios em que se aquece água para banho utilizando outro energético
que não os citados anteriormente nem a energia elétrica (GLP ou outros) manter-se-ia, por
simplificação, no patamar de 5% ao longo dão horizonte da análise.

A partir das hipóteses explicitadas, estima-se que o percentual de domicílios com pelo menos
um chuveiro elétrico evoluiria de 73,4% em 2005 (Eletrobrás, 2007) para 75,8% em 2019,
numa taxa média de 0,2% ao ano.

4.6 Aquecimento direto (cocção)

De acordo com o BEU (MME, 2005), o aquecimento direto (energia térmica) é o mais
importante uso final da energia nas residências. Neste setor, a finalidade principal do
aquecimento direto é o processamento de alimentos (cocção), sendo complementares usos
como secagem de alimentos e roupas, ferros de passar roupa e aquecimento ambiental
(estufas e lareiras). O equipamento típico do aquecimento direto residencial é o fogão e os
principais energéticos são a lenha e o GLP.

17
De acordo com os estudos de projeção da demanda de energia da EPE, trabalha-se com o cenário em
que, em 2035, 7% dos domicílios brasileiros se situariam na região Norte.
18
Valor em fase de revisão.

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 21
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Dentro de uma perspectiva de longo prazo, em um cenário de crescimento da renda,


favorecendo o desenvolvimento tecnológico e a expansão do emprego, a tendência deverá ser
substituição continuada da lenha pelo GLP. Essa substituição é claramente vantajosa do ponto
de vista energético. Contudo, conforme já salientado, não foi contabilizada neste trabalho
como ganho de eficiência energética.

Fogões foram incluídos na lista de produtos abrangida pelo PBE, coordenado pelo INMETRO19,
que assim estabeleceu critérios e normas de desempenho, o que resultou em estímulo ao
aumento da eficiência energética. Atualmente, 626 modelos de fogões e fornos
comercializados no país são alcançados pelo PBE (modelos etiquetados). Hoje, cerca de 61%
dos fogões (mesa de cocção) fabricados no país apresentam rendimento igual ou superior a
62% (INMETRO, 2009), evidenciando o potencial de melhoria do índice de rendimento médio
do estoque de fogões nas residências, parâmetro básico para avaliação dos ganhos de
eficiência energética neste uso. Importa salientar em complemento que esses ganhos podem
ser eventualmente mascarados em face do aumento do tamanho (número de bocas) dos
fogões nas residências.

4.7 Eficiência energética no uso da energia elétrica

Com base nos critérios, premissas e parâmetros apresentados nas subseções precedentes
pode-se calcular o ganho de eficiência energética no uso da energia elétrica nas residências
no horizonte decenal (2010-2019), inclusive explicitando a influência do efeito renda, aqui
visualizado no aumento da posse de equipamentos.

Importa notar que esse cálculo estará restrito aos equipamentos relacionados anteriormente
pelas razões já expostas. Por exemplo, na parcela do consumo atribuída a “outros usos” não
se explicitou a conservação que está embutida no uso dos equipamentos que se inscrevem
nessa rubrica, a despeito da evolução importante do consumo agregado dos mesmos. Assim,
todo o aumento de consumo associado a esses equipamentos estará associado ao aumento da
posse e, portanto, da renda.

Outra observação relevante é que não estará contabilizado como ganho de eficiência o
deslocamento do aquecimento elétrico (chuveiro e boilers) por outros energéticos (gás,
aquecimento solar direto etc.), ainda que esse cálculo possa ser explicitado. Com relação a
chuveiros elétricos deve-se ressaltar ainda que, por hipótese, supôs-se aumento da potência
dos chuveiros elétricos ao longo do horizonte.

19
A etiquetagem de aparelhos a gás foi instituída por um acordo de cooperação técnico-institucional de
firmado entre o MDIC, o MME, o INMETRO, o CONPET, a Petrobras, a ANP, a ABINEE e a Eletros em 24
de outubro de 2002. O programa de etiquetagem de aparelhos domésticos a gás, por meio da utilização
de fogões, fornos e aquecedores mais eficientes, visa a estimular a racionalização do consumo de gás
em geral, em especial do GLP.
Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 22
Ministério de Minas e Energia

Isso significa que essa estimativa da conservação de energia contida intrinsecamente na


projeção da demanda pode estar subavaliada.

Nessas condições, a Tabela 12 resume a decomposição do aumento do consumo de energia


elétrica no setor residencial no período compreendido entre 2010 e 2019.

Tabela 12. Eficiência energética no setor residencial. Energia elétrica

Aumento do Aumento do
consumo em consumo
GWh devido
Aumento Aumento potência A+B-C
Conservação
Equipamento posse equipto. equipto.
(C)
(A) (B)
Ar condicionado 2.971 735 2.236
Geladeira 6.100 2.370 3.730
Freezer 0 725 - 725
Lâmpadas 4.661 1.303 3.358
Máquina de lavar roupas 1.105 317 787
Televisão 7.581 535 7.046
Subtotal 22.418 5.985 16.432
Chuveiro elétrico 6.724 1.916 8.640
Outros usos 33.177 33.177
TOTAL 62.319 1.916 5.985 58.249

Perceba-se que a energia conservada para este setor, calculada em 5.985 GWh, corresponde
a:

 11,7% do acréscimo do consumo residencial no horizonte de estudo (2010-2019)

 3,7% do consumo residencial de energia elétrica projetado para 2019, de acordo com
estudos da EPE.

Além desse montante conservado, há que se considerar também a energia elétrica deslocada
pela penetração do gás e do aquecimento solar no aquecimento de água para banho. Com
base nos parâmetros apresentados anteriormente, calcula-se em 4.490 GWh o montante de
energia elétrica deslocada em 2019, por outras fontes para aquecimento de água.

A energia elétrica conservada equivale à geração de uma usina hidrelétrica com 1.200 MW de
capacidade instalada, comparável à potência da usina de Machadinho, em operação no rio
Pelotas, Santa Catarina, ou da usina Emborcação, no rio Paranaíba, Minas Gerais.

A energia elétrica deslocada no aquecimento de água para banho equivale à geração de uma
usina hidrelétrica com 900 MW de capacidade instalada, comparável à potência a ser
instalada na usina de Campos Novos, no rio Canoas, em Santa Catarina.

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 23
Ministério de Minas e Energia

Tomadas em conjunto, é possível afirmar que a energia elétrica evitada equivale à geração de
uma usina do porte de Itumbiara (2.124 MW), no rio Paranaíba, em Goiás, a sexta maior usina
hidrelétrica brasileira em operação.

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 24
Ministério de Minas e Energia

5 SETOR INDUSTRIAL

5.1 Parâmetros básicos

Conforme dados do BEN o consumo de energia no setor industrial brasileiro é bastante


diversificado, conforme apresentado na Tabela 13. A principal fonte de energia, eletricidade,
representa apenas 20% do consumo total de energia no uso final. São ainda relevantes, como
fonte de energia para a indústria, o bagaço de cana, a lenha e o carvão mineral e derivados.

Tabela 13. Consumo final energético no setor industrial brasileiro em 2008


Consumo
Fonte %
(103 tep)
Eletricidade 16.961 20,6
Bagaço de cana 15.390 18,7
Lenha e carvão vegetal 12.131 14,7
Carvão mineral, coque de carvão mineral e gás de coqueria 11.255 13,7
Gás natural e GLP 9.237 11,2
Óleo combustível e óleo diesel 4.731 5,8
Outras fontes primárias¹ 5.633 6,8
Outras fontes secundárias² 6.991 8,5
Total 82.327 100,0
¹Inclui carvão vapor e outras fontes primárias.
²Inclui querosene, outras secundárias de petróleo e alcatrão.
Fonte: EPE (2009)

Uma avaliação acurada da eficiência energética na indústria demandaria, por certo, o exame
dos processos empregados em cada subsetor, incluindo as possibilidades de atualização
tecnológica. Uma abordagem mais geral, contudo, pode levar a resultados aceitáveis,
principalmente quando se tem em conta os objetivos a que se destina a avaliação, quais
sejam, no caso, os estudos de planejamento energético.

Nessas condições, a avaliação da eficiência energética na indústria foi realizada tomando por
base a cenarização de indicadores selecionados, a saber:

• Consumo específico, no caso de setores considerados mais homogêneos (cimento, ferro


gusa e aço, ferro-ligas, não-ferrosos e papel e celulose);

• Intensidade energética, no caso de setores considerados mais heterogêneos (alimentos


e bebidas, têxtil, cerâmica, mineração, química e outras indústrias).

A energia conservada em cada segmento industrial resultou da diferença entre o consumo de


energia estimado considerando inalterados os rendimentos energéticos dos equipamentos,

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 25
Ministério de Minas e Energia

processos e usos finais (baseline, ano base 2008) e o consumo de energia calculado admitindo-
se evolução em tais rendimentos.

A projeção desses indicadores foi realizada tomando como base referencial as informações
das séries históricas do BEN (EPE, 2009) e o potencial de conservação de energia (ver seção 3
desta nota técnica). Como procedimento geral, levou-se em conta os ganhos energéticos
apurados com base nas duas últimas edições do BEU (anos bases: 1994 e 2004), admitindo-se a
manutenção da dinâmica histórica destes ganhos no horizonte deste trabalho (2010-2019).

Em complemento, analisou-se a estrutura do consumo energético de cada segmento


industrial, considerando os dados históricos, as tendências tecnológicas em curso e, quando
relevante, cenários possíveis de substituição entre energéticos, tudo em conformidade com as
hipóteses de trabalho adotadas, que foram:

 Expansão de capacidade instalada formulada em acordo ao cenário macroeconômico


adotado e a partir de consultas feitas a associações de classe, empresas de alguns dos
setores em estudo e outros órgãos governamentais20;

 Preço relativo do gás natural inferior ao do óleo combustível, entre 2009 e 2013,
atingindo a igualdade entre 2014 e 2019;

 Aumento da disponibilidade de gás natural no curto prazo em razão da crise


internacional de 2008-2009 e da redução do despacho de termelétricas a gás natural
em função da retração do consumo industrial de eletricidade;

 Aproveitamento parcial do potencial de eficiência energética indicado pelo BEU 2005.

Nessas condições, os consumos específicos e as intensidades energéticas considerados neste


trabalho são os apresentados no Gráfico 3 e no Gráfico 4.

20
Mais detalhes sobre o cenário adotado para a expansão da capacidade instalada industrial serão
apresentados na nota técnica que documenta a projeção da demanda de energia elétrica (PDE 2010-
2019), disponível no site da EPE.
Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 26
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Gráfico 3. Consumo específico de energia em setores industriais selecionados (tep/103ton)

Gráfico 4. Intensidade elétrica e energética na indústria

5.2 Energia elétrica

O Gráfico 5 apresenta os ganhos em energia elétrica estimados para cada subsetor da


indústria de acordo com a abordagem metodológica e os parâmetros básicos acima resumidos.

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 27
Ministério de Minas e Energia

As indústrias para as quais se avalia maior ganho de eficiência energética no uso da


eletricidade se caracterizam por um consumo energético mais intensivo, a saber papel e
celulose, siderurgia, ferroligas e cimento.

Gráfico 5. Ganhos de eficiência energética na indústria: energia elétrica (*)

(*) como percentual do consumo projetado para 2019

Entre as eletrointensivas, também merece destaque, apesar de proporcionalmente menor, o


ganho de eficiência visualizado na indústria de não ferrosos, dominada, em termos da
quantidade de energia consumida, pela produção do alumínio. Pela própria natureza dessa
indústria, a preocupação com a eficiência energética, especialmente quando se trata de
energia elétrica, é relevante e, no Brasil, em razão da atualização tecnológica do segmento,
o setor é reconhecidamente eficiente. Ainda assim, vislumbram-se ganhos setoriais adicionais
ao longo do horizonte, permitindo que o consumo específico médio do segmento evolua de
14,9 MWh/t para 14,5 MWh/t no horizonte deste trabalho.

No caso do setor químico, dois aspectos contribuem para um aumento na eficiência


energética: a expansão da tecnologia de membrana na produção de soda-cloro, sinalizando
ganhos da ordem de 8% no consumo específico médio de eletricidade do segmento e o
aumento da participação da cadeia do propeno (menos eletrointensiva), provocando uma
queda de 20% no consumo específico de eletricidade no segmento petroquímico.

Avalia-se que a indústria como um todo obtenha, no final do horizonte, em 2019, ganhos em
eficiência elétrica, que podem atingir mais de 9.243 GWh, o que equivale, de acordo com os
estudos em elaboração na EPE para o PDE 2010-2019, a 2,5% do total do consumo de energia
elétrica projetado para o ano de 2019.

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 28
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Em termos de geração evitada, essa economia de energia equivale, aproximadamente, à


energia produzida em um ano por uma usina termelétrica a carvão (considerando carvão
nacional) com 1.400 MW, potência superior à do Complexo Jorge Lacerda em operação em
Santa Catarina. Equivale, ainda, à geração anual de uma usina hidrelétrica com cerca de
1.900 MW, porte comparável ao das usinas de São Simão, no rio Paranaíba, em Minas Gerais,
ou de Foz do Areia, no rio Iguaçu, no Paraná, que figuram entre as 10 maiores usinas em
operação no Brasil.

Em termos da contribuição setorial no total de energia elétrica conservada na indústria, o


ranking tende a acompanhar o peso relativo de cada subsetor no consumo de eletricidade da
indústria, conforme mostra o Gráfico 6.

Gráfico 6. Participação dos subsetores no total da energia elétrica conservada na indústria

Essa repartição considera o efeito estrutura, ou seja, é influenciada pela evolução da


participação de um segmento no consumo total da indústria. Pode-se isolar esse efeito
relativizando a contribuição de cada subsetor à sua participação na estrutura atual do
consumo de energia da indústria. Desse modo, pode-se perceber mais claramente quais
segmentos exibem maiores (ou menores) ganhos relativos em termos da eficiência energética
no uso da energia elétrica. É o que mostra o Gráfico 7, em que se destaca o setor de papel e
celulose, seguido por ferro gusa e cimento. Nesse gráfico, o índice 100 significa que a

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 29
Ministério de Minas e Energia

contribuição do subsetor para o ganho de eficiência elétrica equivale a sua participação na


estrutura atual do consumo de eletricidade da indústria. Por sua vez, valores maiores do que
100 indicam que um potencial de eficiência energética relativamente maior foi obtido,
comparativamente a uso corrente de energia em determinado segmento. Exemplificando, no
período de estudo, identificou-se que o segmento industrial de produção de ferro-gusa e aço
pode reduzir um percentual maior do consumo específico de eletricidade comparativamente
ao segmento industrial de produção de metais não ferrosos.

Gráfico 7. Avanço relativo da eficiência energética (eletricidade) por setor da indústria

Papel e celulose 151

Ferro gusa e aço 137

Cimento 136

Cerâmica 118

Ferroligas 111

Não ferrosos 96

Mineração 89

Alimentos e bebidas 86

Química 75

Têxtil 73
100

5.3 Combustíveis

Para efeito deste trabalho, os demais energéticos utilizados na indústria foram tratados de
forma agregada. O Gráfico 8 apresenta os ganhos em energia elétrica estimados para cada
subsetor da indústria de acordo com a abordagem metodológica e os parâmetros básicos
acima resumidos.

Entre as indústrias para as quais se avaliam maiores ganhos de eficiência energética no uso
dos combustíveis estão cerâmica, na aplicação de aquecimento direto – fornos e secadores, e
papel e celulose, na produção de vapor de processo. Também se visualizam ganhos relevantes
na mineração e na indústria química.

Avalia-se que a indústria como um todo possa obter, no final do horizonte, em 2019, ganhos
em eficiência energética no uso de combustíveis que podem atingir 6.643 mil tep, o que

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 30
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equivale, de acordo com os estudos em elaboração na EPE para o PDE 2019, a 4,2% do total do
consumo industrial de combustíveis projetado para o ano de 2019.

Essa economia de energia corresponde aproximadamente a 110 mil barris equivalentes de


petróleo por dia, ou seja, 5,4% da produção brasileira de petróleo em 2009.

Gráfico 8. Ganhos de eficiência energética na indústria: combustíveis (*)

(*) como percentual do consumo projetado para 2019 para a indústria

Em termos da contribuição setorial no total de combustível conservado, assim como no caso


da energia elétrica, o ranking tende a acompanhar o peso específico do setor na estrutura do
consumo, conforme ilustra o Gráfico 9. As exceções são os setores de papel e celulose e
cerâmica, cuja participação na conservação se mostra relativamente maior, e, em
contraposição, o setor de alimentos e bebidas, que tem uma importância na estrutura de
consumo maior do que sua participação nos ganhos de eficiência energética. Esta pequena
alteração de ordem decorre da identificação de maiores potenciais de ganho relativo no
consumo de combustíveis comparativamente a outros segmentos industriais. Por exemplo, nos
fornos utilizados em produção cerâmica e caldeiras na produção de celulose e papel.

Pode-se isolar esse efeito relativizando a contribuição de cada subsetor à sua participação na
estrutura atual do consumo de energia da indústria. Desse modo, pode-se perceber mais
claramente quais segmentos exibem maiores (ou menores) ganhos relativos em termos da
eficiência energética no consumo de combustível. É o que mostra o Gráfico 10, em que se
destaca o setor de cerâmica, seguido pelo de papel e celulose. Nesse gráfico, o índice 100
significa que a contribuição do subsetor para o ganho de eficiência energética equivale a sua
participação na estrutura atual do consumo de combustíveis da indústria. Por sua vez, valores

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 31
Ministério de Minas e Energia

maiores do que 100 indicam que é possível atingir um potencial de eficiência energética
relativamente maior comparativamente a uso corrente de energia em determinado segmento.
Exemplificando, no período de estudo, identificou-se que o segmento industrial de produção
de cerâmica pode reduzir um percentual maior do consumo específico de combustíveis
comparativamente ao segmento industrial de produção de metais não ferrosos.

Gráfico 9. Participação dos subsetores no total do combustível conservado na indústria

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 32
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Gráfico 10. Avanço relativo da eficiência energética (combustíveis) por setor da indústria

Cerâmica 187

Papel e celulose 151

Cimento 116

Ferro gusa e aço 110

Mineração 104

Não ferrosos 93

Química 89

Têxtil 75

Alimentos e bebidas 65

Ferroligas 21
100

Vale ressaltar que o ganho de eficiência energética na indústria (excetuando a eletricidade)


corresponde, em valores aproximados, a 52 MtCO2 (milhões de toneladas de CO2) evitados no
período de 2010 a 2019. Por sua vez, o volume de emissões evitadas pela redução no consumo
de eletricidade ao longo do decênio é estimado em 2,5 MtCO2 (considerando o fator de
emissão médio do Sistema Interligado Nacional no período 2010-2019, de 0,0477 tCO2/MWh).
Somando-se as duas parcelas, tem-se um volume de emissões evitadas da ordem de 55 MtCO2.
Comparativamente, isso equivale a evitar quase 5 vezes a emissão de CO2 do SIN no ano de
2007, que foi da ordem de 12 MtCO2.

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 33
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6 SOBRE A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM OUTROS SETORES

6.1 Considerações iniciais

Excluído o setor energético, pode–se afirmar que os setores residencial e industrial,


analisados nas seções precedentes quanto à eficiência energética intrinsecamente
considerada na projeção dos respectivos consumos de energia, representam quase 60% do
consumo final energético21. Entre os demais (transportes, agropecuário, comercial e público),
destaca-se o setor de transportes, que compreende 32% do consumo final energético do país.

Esses outros setores apresentam especificidades que tornam complexa, ou mesmo


impraticável, uma avaliação mais pormenorizada da eficiência energética. No setor de
transportes, por exemplo, a definição de uma política para os modais aplicáveis para o
transporte de carga ou mesmo para o transporte coletivo de passageiros nas regiões
metropolitanas pode alterar completamente o quadro da demanda setorial de energia e, por
conseguinte, qualquer estimativa da eficiência energética no setor. Ademais, há reconhecidas
dificuldades na obtenção de dados primários que permitam desagregar mais
convenientemente o consumo de energia de acordo com a modalidade de transporte, se de
carga ou de passageiros e, nesse caso, se coletivo ou individual, entre outras informações
básicas. Ainda assim, foi possível estimar (de modo agregado) ganhos de eficiência para este
setor no horizonte de 2019, conforme apresentado no item seguinte.22

Para efeito do PDE 2019, os estudos não explicitaram o conteúdo de eficiência energética
intrinsecamente considerado nas projeções de demanda de energia para os demais setores,
com exceção do setor comercial – em que foi possível estimar a eletricidade conservada.
Contudo, uma estimativa é disponível a partir dos estudos elaborados para o PNE 2030 (EPE,
2007), como apresentado nos itens a seguir.

6.2 Setor de transportes

Para efeito de uma avaliação em perspectiva da eficiência energética no setor de transportes


algumas variáveis são especialmente relevantes. Trata-se da distribuição da quantidade de

21
De acordo com os dados do BEN (EPE, 2009), os setores residencial e industrial representaram 57,7%
do consumo final energético no ano de 2008, sendo 12,3% referentes ao consumo das famílias e 45,4%
ao consumo das indústrias.
22
A EPE vem empreendendo esforços no sentido de melhor conhecer o comportamento deste
importante setor de consumo, especialmente no que diz respeito à identificação de oportunidades de
ganhos de eficiência. Os avanços obtidos serão apresentados oportunamente, quando da divulgação dos
próximos planos de expansão, tanto no horizonte decenal quanto num horizonte de mais longo prazo.

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 34
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carga e passageiros transportada segundo os diferentes modais, da evolução da frota de


veículos leves e pesados, incluindo a penetração de veículos híbridos, elétricos ou movidos a
hidrogênio, do consumo específico de combustíveis líquidos, como óleo diesel, gasolina e
etanol, dentre outras.

No que se refere aos ganhos de eficiência decorrentes de alterações na matriz de transporte


no horizonte de 2019, pressupõe-se que uma parcela do transporte rodoviário de carga
passará a ser realizada pelos modais ferroviário e aquaviário, que implicará em uma redução
no consumo de diesel quando se compara a tonelada-quilômetro transportada pelo modal
rodoviário com a tonelada-quilômetro transportada pelos modais ferroviário e aquaviário.
Este ganho de eficiência intermodal foi estimado a partir do Plano Nacional de Logística e
Transporte - PNLT (MT/MD, 2007)23. Deve-se ressaltar, contudo, que o cenário econômico do
PDE 2019 considera uma taxa média de crescimento superior àquela adotada no PNLT. Por
hipótese, admitiu-se que esta diferença de crescimento no setor de transportes se dará
mediante maior utilização do modal rodoviário, que continuará prevalecendo na matriz de
transporte brasileira até o final do horizonte decenal.

Vale notar que o PNLT constata que a matriz de transportes brasileira é, por assim dizer,
desequilibrada, refletindo desvantagens logísticas que se traduzem em custos maiores e
eficiências mais baixas, energética inclusive. Nesse contexto, o Plano ressalta a necessidade
de alteração na repartição dos diferentes modais na matriz de transporte de carga nacional,
privilegiando os sistemas ferroviários e aquaviário e buscando uma integração maior com o
sistema rodoviário, para o qual propõe esforço concentrado de restauração e manutenção, em
complemento a importantes obras de sua expansão.

A mudança de que trata o PNLT pode ser percebida no Gráfico 11, reproduzido do estudo, em
que são apresentadas as metas definidas no Plano para a distribuição do transporte de carga
no Brasil segundo os diferentes modais, considerando o índice de atividade em tonelada-
quilômetro (t-km).

23
O PNLT foi desenvolvido pelo Ministério dos Transportes (MT) em cooperação com o Ministério da
Defesa (MD), por intermédio do Centro de Excelência em Engenharia de Transportes (CENTRAN).

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 35
Ministério de Minas e Energia

Gráfico 11. Distribuição do transporte carga (t-km) no Brasil segundo o modal de transporte
70

60

50

40
(%)

30

20

10

0
2005 2025
Rodoviário Ferroviário Aquaviário Dutoviário Aéreo

Fonte: MT/D, 2007.

Para tanto, o PNLT sugere que mais da metade do investimento total, estimado em R$ 172
bilhões até 202324, seja destinado ao modal ferroviário (30% ou cerca de R% 50 bilhões), ao
transporte marítimo (14,5% ou R$ 25 bilhões) e ao transporte aquaviário (7,5% ou
R$ 13 bilhões).

Do ponto de vista dos ganhos considerados no segmento de leves do modal rodoviário, a


evolução da eficiência média dos veículos que estão ingressando na frota depende da
melhoria tecnológica e do porte de veículos comercializados. Admitiu-se neste estudo uma
taxa média anual de crescimento de 0,7% para essa variável ao longo de todo o período de
estudo.

Com isto, estima-se que será possível reduzir em 4,6% (ou 5.471 mil tep) o consumo de
energia no setor de transportes no horizonte de 2019.

6.3 Setor agropecuário

O consumo de energia no setor agropecuário, correspondente a 5% do consumo final


energético no país25, é basicamente concentrado em três fontes, a saber: óleo diesel (57%),
lenha (26%) e eletricidade (16%). Desses, o que vem apresentando maior crescimento é a
eletricidade, ao ritmo médio de 4,2% ao ano nos últimos 10 anos.

24
Essa estimativa de investimento não inclui, de uma forma geral, os programas rotineiros de
recuperação, manutenção e conservação da malha rodoviária existente. Segundo o Departamento
Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), do Ministério dos Transportes, tais programas demandam
recursos da ordem de R$ 2 bilhões por ano (MT/MD, 2007).
25
Com base em dados do BEN 2009, exclusive setor energético.
Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 36
Ministério de Minas e Energia

No âmbito do PDE 2019, não se explicitou eventuais ganhos de eficiência energética na


evolução da demanda desse setor. A referência disponível no PNE 2030 indica que, em uma
visão tendencial, do tipo “business as usual”, pode-se considerar que em 2020 poderiam ser
“retirados” da demanda setorial de energia algo como 3,3%, proporção que se elevaria para
6% em 2030.

6.4 Setor comercial

De acordo com o BEN 2009 (EPE, 2009), o consumo de energia no setor comercial corresponde
a 3,4% do consumo final energético do país, exclusive o setor energético. A fonte
preponderante é a eletricidade, que concentra cerca de 87% da energia total consumida no
setor.

Da mesma forma que no setor residencial, a avaliação da eficiência energética no setor


comercial e de serviços requer ampla pesquisa sobre posse e uso de equipamentos. Neste caso
é ainda limitado conhecimento de sua estrutura, tendo em vista tratar-se de um setor
bastante heterogêneo. Com efeito, incluem-se no setor comercial shopping centers,
estabelecimentos comerciais tradicionais do comércio varejista, inclusive bares e
restaurantes, estabelecimento do comércio atacadista, hotéis e instalações de lazer e
turismo, estabelecimentos financeiros, escritórios e estabelecimentos de serviços médicos,
estabelecimentos de ensino e etc. Naturalmente, cada tipo de consumidor tem um perfil de
consumo diferente, envolvendo usos e costumes diferentes, o que torna especialmente
complexa a avaliação da eficiência energética nesse setor.

Ainda assim, no âmbito dos estudos do PDE 2019, foi possível estimar a eletricidade
conservada no setor comercial partindo dos ganhos energéticos apurados nas duas últimas
edições do BEU (anos bases: 1994 e 2004) e admitindo-se a manutenção da dinâmica histórica
destes ganhos no horizonte deste trabalho (2010-2019). Segundo este procedimento de
cálculo, estima-se em 4,1% a energia conservada neste setor no ano de 2019, o equivalente a
uma redução de cerca 5.052 GWh.

Nota Técnica DEA 14/10 - Avaliação da eficiência energética na indústria e nas residências
no horizonte decenal (2010-2019) 37
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7 REFERÊNCIAS
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Brasília: CNI, 2009.
CONPET, 2008. Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) de Aparelhos Domésticos a Gás,
realizada no 37º Seminário Técnico – ABNT / CB09, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Duarte, C. H., Goes, R. R. A., e Aguiar, J. C. Eficiência Energética e Consumo de Energia:
Posse e Uso da Televisão no Brasil. II Congresso Brasileiro de Eficiência Energética – IICBEE.
Vitória/ES, Brasil.2007.
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