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A Teoria dos Poderes Implícitos.

A teoria dos poderes implícitos — hoje universalizada


— constitui-se em um verdadeiro (e, às vezes, imprescindível)
postulado basilar de hermenêutica, um inquestionável, eficaz e
eficiente instrumento interpretativo. A principiologia e axiologia
dele emanadas embasam a técnica lógico-racional de interpretação
judicial.
Convém destacar, desde logo, que a doutrina dos
inherent powers exsurgiu no mundo jurídico a partir dos célebres
julgamentos dos casos macCulloch vs. Maryland e Myers v. Estados
Unidos US — 272 — 52, 118, realizados pela Suprema Corte norte-
americana.
Sob o ângulo da doutrina nacional, nomeadamente no
campo do Direito Constitucional, tem-se utilizado (sem réplica
consistente) largamente desse fundamental postulado de
hermenêutica, mostrando-se inteiramente essencial (e pertinente),
bem por isso, o conhecimento do teor da máxima dele precedente:
“quem pode o mais, pode o menos”.

Mediante o acionamento desse essencial postulado da


sutil arte de interpretar pode se ler, por exemplo, que assiste ao
determinado servidor público (em sentido largo) — e tendo em linha
de conta, no ponto, os postulados da organicidade e da dinâmica do
Direito, cujos vigores exsurgem insuplantáveis, insuperáveis — ao
exercer o seu munus constitucional, o direito e o dever de dispor
de todas as funções — ainda que implícitas — indispensáveis para o
fiel e adequado desempenho do seu ministério ficando a salvo,
entretanto, no ponto, apenas as condicionantes constitucionais
expressas, emanadas dos poderes constituintes originário e ou
derivado, respectivamente.

Para uma análise mais abrangente, veja-se, Alexandre


de Moraes e Oswaldo Trigueiro, para quem, respectivamente:

“Incorporou-se em nosso ordenamento jurídico,


portanto, a pacífica doutrina constitucional
norte-americana sobre a teoria dos poderes
implícitos — inherent powers —, pela qual no
exercício de sua missão constitucional
enumerada, o órgão executivo deveria dispor de
todas as funções necessárias, ainda que
implícitas, desde que não expressamente
limitadas (Myers v. Estados Unidos US — 272 —
52, 118), consagrando-se, dessa forma, e entre
nós aplicável ao Ministério Público, o
reconhecimento de competências genéricas
implícitas que possibilitem o exercício de sua
missão constitucional, apenas sujeitas às
proibições e limites estruturais da
Constituição Federal.” Apud (“Direito
Constitucional”, “Vigésima Quarta Edição”,
Editora Atlas, 2009, p. 610)

“(...) Em princípio, pois, os poderes dos


Estados se estendem a tudo o que não lhes é
proibido por norma constitucional federal, ou
não haja sido atribuído privativamente à
União, quer por preceito explícito, quer por
estar implicitamente contido nos poderes
expressos.” Apud (“Direito Constitucional
Estadual”, Editora Forense, 1980, p. 84, item
nº 48)

O Supremo Tribunal Federal, de longa data,


estabeleceu o seguinte entendimento acerca da doutrina dos inherent
powers:

“Ora, é princípio basilar da hermenêutica


constitucional” o dos “poderes implícitos”,
segundo o qual, quando a Constituição Federal
concede os fins, dá os meios.” (HC 91.661-PE,
03/04/2009)

“Desde o seu advento, fruto de criação


jurisprudencial, a reclamação tem-se firmado
como importante mecanismo de tutela da ordem
constitucional. Como é sabido, a reclamação,
para preservar a competência do Supremo
Tribunal Federal ou garantir a autoridade de
suas decisões, é fruto de criação pretoriana.
Afirmava-se que ela decorreria da idéia dos
implied powers deferidos ao Tribunal. O
Supremo Tribunal Federal passou a adotar essa
doutrina para a solução de problemas
operacionais diversos. A falta de contornos
definidos sobre o instituto da reclamação fez,
portanto, com que a sua constituição inicial
repousasse sobre a teoria dos poderes
implícitos. Em 1957, aprovou-se a incorporação
da Reclamação no Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal.” (Rcl. 5.470-PA, DJ
10.03.2008, Tribunal Pleno)

“Impende considerar, no ponto, em ordem a


legitimar esse entendimento, a formulação que
se fez em torno dos poderes implícitos, cuja
doutrina — construída pela Suprema Corte dos
Estados Unidos da América no célebre caso
McCULLOCH v. MARYLAND (1819) — enfatiza que a
outorga de competência expressa a determinado
órgão estatal importa em deferimento
implícito, a esse mesmo órgão, dos meios
necessários à integral realização dos fins que
lhe foram atribuídos. Na realidade, o
exercício do poder de cautela, pelo Tribunal
de Contas, destina-se a garantir a própria
utilidade da deliberação final a ser por ele
tomada, em ordem a impedir que o eventual
retardamento na apreciação do mérito da
questão suscitada culmine por afetar,
comprometer e frustrar o resultado definitivo
do exame da controvérsia. Torna-se essencial
reconhecer — especialmente em função do
próprio modelo brasileiro de fiscalização
financeira e orçamentária, e considerada,
ainda, a doutrina dos poderes implícitos
(MARCELO CAETANO, “Direito Constitucional”,
vol. II/12-13, item n. 9, 1978, Forense;
CASTRO NUNES, “Teoria e Prática do Poder
Judiciário”, p. 641/650, 1943, Forense; RUI
BARBOSA, “Comentários à Constituição Federal
Brasileira”, vol. I/203-225, coligidos e
ordenados por Homero Pires, 1932, Saraiva,
v.g.) — que a tutela cautelar apresenta-se
como instrumento processual necessário e
compatível com o sistema de controle externo,
em cuja concretização o Tribunal de Contas
desempenha, como protagonista autônomo, um dos
mais relevantes papéis constitucionais
deferidos aos órgãos e às instituições
estatais.” (MS 26.547-DF, DJ 20.06.2007,
Tribunal Pleno)

“{...} 2. Questionada a constitucionalidade de


norma regimental, é desnecessário indagar se a
colocação do instrumento na seara do direito
de petição dispensa, ou não, a sua previsão na
Constituição estadual, dado que consta do
texto da Constituição do Estado da Paraíba a
existência de cláusulas de poderes implícitos
atribuídos ao Tribunal de Justiça estadual
para fazer valer os poderes explicitamente
conferidos pela ordem legal — ainda que por
instrumento com nomenclatura diversa (Const.
Est. (PB), art. 105, I, e e f). 3.Inexistente
a violação do § 1º do art. 125 da Constituição
Federal: a reclamação paraibana não foi criada
com a norma regimental impugnada, a qual — na
interpretação conferida pelo Tribunal de
Justiça do Estado à extensão dos seus poderes
implícitos — possibilita a observância das
normas de processo e das garantias processuais
das partes, como exige a primeira parte da
alínea a do art. 96, I, da Constituição
Federal. 4.Ação direta julgada improcedente.”
(ADI 2.408-PA, 02/04/2007).

“A fixação de vencimentos, pois, e o regime de


seus reajustes se incluem no âmbito dos
poderes implícitos dos Estados (par. 1. do
referido dispositivo constitucional).” (RE
128.881-R0, DJ 07.10.1994)

“Representação de inconstitucionalidade.
Interpretação do art. 14, caput, da
Constituição Federal. — Pelo caput desse
dispositivo constitucional compete à Lei
Complementar federal apenas estabelecer os
requisitos mínimos de população e renda
pública, bem como a forma de consulta prévia
às populações, para a criação de municípios.
Já a organização municipal, a criação de
Municípios e a respectiva divisão em distritos
dependerão, nos Estados-membros, de lei
estadual. — Não se inclui, portanto, no âmbito
de competência da Lei Complementar a que alude
o referido artigo 14, a disciplina, que seria
cogente para os Estados-membros, da época em
que se poderão criar ou alterar
territorialmente os municípios neles situados.
Essa matéria, que não diz respeito a
requisitos mínimos de população e renda
pública, nem a forma de consulta prévia às
populações, se insere nas em que cabe aos
Estados-membros legislar, pela competência
legislativa que têm decorrente de seus poderes
implícitos (§ 1º do artigo 13 da Carta Magna
Federal). — Assim, não estão os Estados-
membros, ao legislar sobre a criação de seus
municípios, sujeitos à observância do artigo
6º da Lei Complementar nº 1/67, na redação
dada pela Lei Complementar nº 28/75 ("a
criação e qualquer alteração territorial de
município somente poderão ser feitas no
período compreendido entre dezoito e seis
meses anteriores à data da eleição
municipal"), em face da esfera estreita de
competência que a esta concede o artigo 14,
caput, da Constituição Federal. Representação
julgada improcedente.” (Rep. 1.360-PE, DJ
22.10.1987, Tribunal Pleno)

Donde se conclui, sem maiores disceptações, pela


inteira aplicabilidade da teoria dos poderes implícitos — de
assento eminentemente constitucional — no Direito brasileiro.

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