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Tratamentos térmicos de ligas de alumínio

Considerando-se os tratamentos térmicos das ligas de alumínio, deve-se inicialmente


diferenciar as ligas termicamente tratáveis (séries 2XXX, 6XXX, 7XXX e a maioria da série
8XXX), as que podem endurecer por meio de tratamento térmico de solubilização e
envelhecimento, daquelas cujo aumento de dureza só pode ser obtido mediante trabalho
mecânico e conseqüentemente encruamento (séries 1XXX, 3XXX, 4XXX e 5XXX).

A solubilização consiste em aquecer o material a uma temperatura bem elevada, em geral


relativamente próxima do ponto de fusão, de tal modo que nesta temperatura, com os
coeficientes de difusão dos elementos de liga no alumínio já suficientemente aumentados, seja
possível a migração desses átomos, proporcionando a dissolução, completa depois de um
certo tempo de permanência nesta temperatura, das fases secundárias inicialmente presentes
na liga. Esta etapa do tratamento térmico é fundamental para assegurar que o envelhecimento
subseqüente, realizado em temperatura bem mais baixa e tempo mais prolongado, ocorra de
modo controlado, de tal maneira que os precipitados sejam formados de forma controlada,
principalmente no que se refere ao tamanho dos mesmos e conseqüentemente sua coerência
com a matriz. Na figura 9.1 vemos o diagrama de equilíbrio pseudo-binário das ligas Al-Mg-Si
que mostra o campo monofásico alfa, evidenciando que acima da linha solvus, determinada por
uma combinação de temperatura e de teor de Mg2Si, o magnésio e o silício encontram-se
dissolvidos na matriz de alumínio. Para um teor de 1,0 % de Mg2Si, por exemplo, a 500 ºC os
precipitados de Mg2Si são termodinamicamente instáveis e com tempo suficiente dissolvem-se
na matriz de alumínio. Quando é feito um resfriamento rápido em água, mantém-se à
temperatura ambiente a solução sólida supersaturada. Posteriormente, a manutenção do
material à temperatura ambiente (envelhecimento natural) ou a uma temperatura mais elevada
(envelhecimento artificial) leva à formação de precipitados endurecedores. No envelhecimento
natural a cinética de precipitação é mais lenta do que no envelhecimento artificial, no qual o
controle de temperatura e tempo permite a obtenção de valores de dureza mais elevados. No
envelhecimento artificial é possível atingir o máximo de dureza para um determinado tempo de
tratamento, após o qual o crescimento excessivo dos precipitados e a conseqüente perda de
coerência dos mesmos com a matriz leva à queda de dureza denominada
superenvelhecimento.

Fig. 9.1 – Diagrama pseudo-binário Al-Mg2Si

Como foi dito anteriormente, o tratamento de solubilização e envelhecimento (T6) só dá


resultado nas chamadas ligas termicamente tratáveis, que podem apresentar aumento de
dureza mediante tratamento térmico. Entretanto, todas as ligas de alumínio podem ter sua
dureza reduzida por meio de tratamento térmico de recozimento (O), que leva à recuperação e
recristalização do mateial anteriormente encruado (endurecido) por algum tipo de trabalho
mecânico.

A seguir será apresentada a relação de classificação de tipos de tratamentos, adotada pela


Aluminum Association [1,3]:

F = como fabricado: aplica-se aos produtos resultantes de conformação mecânica (laminação,


extrusão e outros)

O = recozido: aplica-se aos produtos inicialmente trabalhados e depois recozidos para obter a
resistência mecânica mais baixa, e aos produtos fundidos que são recozidos com o objetivo de
aumentar a dutilidade e a estabilidade dimensional. A letra O pode ser seguida por um número
diferente de zero.

W = solubilizado: uma têmpera instável aplicável somente às ligas que envelhecem


espontaneamente na temperatura ambiente (envelhecimento natural) após solubilização. Esta
designação é especificamente usada quando o período de envelhecimento natural é indicado,
como por exemplo no caso de W ½ h.

T = termicamente tratado para produzir têmperas estáveis diferentes de F, O ou H: aplica-se


aos produtos que são termicamente tratados, com ou sem deformação suplementar, para
produzir têmperas estáveis.

A letra T é sempre seguida por um ou mais dígitos. Um período de envelhecimento natural


pode ocorrer entre as operações relacionadas para as têmperas T. Sempre que for necessário
do ponto de vista metalúrgico, deve haver um controle rigoroso desse período. Números de 1 a
10 indicam seqüências de tratamentos específicas:

T1 = resfriado de uma temperatura elevada em um processo de conformação e envelhecido


naturalmente até uma condição substancialmente estável. Aplica-se a produtos que não são
trabalhados a frio após resfriamento de uma temperatura elevada em um processo de
conformação a quente, ou nos quais o efeito do trabalho a frio no endireitamento ou na
planificação é reconhecido nos limites de propriedades mecânicas.

T2 = resfriado de uma temperatura elevada em um processo de conformação, trabalhado a frio


e envelhecido naturalmente até uma condição substancialmente estável. Aplica-se a produtos
que são trabalhados a frio para aumentar a resistência mecânica após resfriamento de uma
temperatura elevada em um processo de conformação, ou nos quais o efeito do trabalho
mecânico no endireitamento ou na planificação é reconhecido nos limites de propriedades
mecânicas.

T3 = solubilizado, trabalhado a frio e envelhecido naturalmente até uma condição


substancialmente estável. Aplica-se a produtos que são trabalhados a frio para aumentar a
resistência mecânica após solubilização, ou nos quais o efeito do trabalho mecânico no
endireitamento ou na planificação é reconhecido nos limites de propriedades mecânicas.

T4 = solubilizado e envelhecido naturalmente até uma condição substancialmente estável.


Aplica-se a produtos que não são trabalhados mecanicamente após solubilização, ou nos quais
o efeito do trabalho a frio no endireitamento ou a planificação pode não ser reconhecido nos
limites de propriedades mecânicas.

T5 = resfriado de uma temperatura elevada em um processo de conformação e envelhecido


naturalmente. Aplica-se a produtos que não são trabalhados a frio após resfriamento de uma
temperatura elevada em um processo de conformação a quente, ou nos quais o efeito do
trabalho a frio no endireitamento ou a planificação pode não ser reconhecido nos limites de
propriedades mecânicas.

T6 = solubilizado e envelhecido artificialmente. Aplica-se a produtos que não são trabalhados a


frio após solubilização, ou nos quais o efeito do trabalho a frio no endireitamento ou a
planificação pode não ser reconhecido nos limites de propriedades mecânicas.
T7 = solubilizado e estabilizado. Aplica-se a produtos que são estabilizados após solubilização
para levá-los além do ponto de máxima resistência mecânica, de modo a permitir o controle de
alguma característica especial.

T8 = solubilizado, trabalghado a frio, e então envelhecido artificialmente. Aplica-se a produtos


que são trabalhados a frio para aumentar a resistência mecânica, ou nos quais o efeito do
trabalho mecânico no endireitamento ou na planificação é reconhecido nos limites de
propriedades mecânicas.

T9 = solubilizado, envelhecido artificialmente e trabalhado a frio. Aplica-se a produtos que são


trabalhados a frio para aumentar a resistência mecânica.

T10 = resfriado de uma temperatura elevada em um processo de conformação, trabalhado a


frio e então envelhecido artificialmente. Aplica-se a produtos que são trabalhados a frio para
aumentar a resistência mecânica, ou nos quais o efeito do trabalho mecânico no
endireitamento ou na planificação é reconhecido nos limites de propriedades mecânicas.

O tratamento de solubilização consiste em aquecer um produto, fundido ou trabalhado


mecanicamente a uma temperatura adequada, manter a liga nessa temperatura por tempo
suficiente para que os átomos de soluto se difundam de modo que se dissolvam na matriz, e
resfriar rapidamente o material de modo a manter os elementos de liga dissolvidos na matriz.
Algumas ligas da séria 6XXX atingem as mesmas propriedades quando solubilizadas em forno
ou resfriadas de uma elevada temperatura de trabalho a quente, desde que o resfriamento seja
rápido o suficiente para manter todo soluto em solução sólida. Neste caso as denominações de
têmpera T3, T4, T6, T7, T8 e T9 podem ser mantidas e podem ser aplicadas em ambos os
casos [3].

As denominações seguintes, envolvendo dígitos adicionais são usadas para o caso de


materiais submetidos a alívios de tensões de produtos trabalhados [3]:

T-51 = submetido a alívio de tensões por estiramento. Aplica-se aos seguintes produtos
quando estirados, sendo indicado o grau de estiramento (em %), após solubilização ou
resfriamento a parir de trabalho a quente:
Placas: 1,5 a 3 % de ajuste permanente. Vergalhões, barras, perfis e tubos extrudados: 1 a 3 %
de ajuste permanente. Tubos trefilados: 0,5 a 3 % de ajuste permanente. Aplica-se diretamente
a placas e barras e vergalhões laminados ou acabados a frio. Esses produtos não sofrem
nenhum endireitamento adicional após o estiramento. Aplica-se a vergalhões, barras, tubos e
perfis extrudados e também tubos trefilados, quando denominados de maneira mostrada a
seguir:

T-510: produtos não sofrem endireitamento adicional após estiramento.

T-511: produtos que podem sofrer um pequeno endireitamento após o estiramento, de modo a
se enquadrar nas tolerâncias padronizadas.

T-52 = submetido a alívio de tensões por compressão. Aplica-se aos produtos que foram
submetidos a alívio de tensões por compressão após solubilização ou resfriamento a partir do
trabalho a quente de modo a produzir um ajuste permanente de 1 a 5 %.

T-54 = submetido a alívio de tensões por combinação de estiramento e compressão. Aplica-se


a produtos forjados que são submetidos a alívio de tensões ao serem repassados a frio pela
matriz de acabamento.

Os mesmos dígitos (51, 52 e 54) podem ser adicionados à designação W para indicar um
produto solubilizado instável e submetido a alívio de tensões. As seguintes designações são
usadas para classificar produtos trabalhados e termicamente tratados das têmperas O ou F,
para manifestar resposta a tratamentos térmicos:

T42 = solubilizado a partir das têmperas O ou F para demonstrar resposta ao tratamento


térmico e envelhecido naturalmente até uma condição suficientemente estável.
T62 = solubilizado a partir das têmperas O ou F para demonstrar resposta ao tratamento
térmico e envelhecido artificialmente.

As denominações de têmpera T42 e T62 também podem ser aplicadas a produtos trabalhados
e termicamente tratados a partir de qualquer têmpera, quando esses tratamentos resultam em
propriedades mecânicas compatíveis com essas têmperas.

• Origem do aumento de dureza através do tratamento de envelhecimento e da


queda de dureza causada pelo superenvelhecimento:

O tratamento de solubilização e envelhecimento tem por objetivo a obtenção de precipitados


finos, que ao mesmo tempo que sejam grandes o suficientes para agir como obstáculos ao
movimento das discordâncias, endurecendo a liga, sejam por outro lado pequenos o suficiente
para manter a coerência com a matriz, fundamental para manter o efeito de endurecimento. A
solubilização, ao garantir a obtenção de uma solução sólida (dissolução dos elementos de liga)
mantida à temperatura ambiente de modo instável por meio de resfriamento rápido, permite um
melhor controle do crescimento dos precipitados durante o posterior envelhecimento. No início
do envelhecimento surgem as chamadas zonas de Guinier Preston, muito pequenas para
garantir uma substancial endurecimento, uma vez que podem ser facilmente cisalhadas por
discordâncias em movimento. Prosseguindo o envelhecimento numa temperatura
suficientemente alta (envelhecimento artificial), formam-se os precipitados metaestáveis,
inicialmente coerentes e posteriormente semicoerentes. A coerência do precipitado com a
matriz, ao provocar distorções na mesma, devido a pequenas diferenças de parâmetro de rede,
gera um campo de tensões que dificulta a movimentação de discordâncias, endurecendo o
material. Com o tempo ocorre perda parcial de coerência, através do surgimento de
discordâncias de interface entre o precipitado e a matriz, que está associada a uma pequena
queda de dureza. Prolongando o envelhecimento para tempos excessivos, ocorre a perda total
de coerência, havendo a formação de uma interface entre o precipitado e a matriz, aliviando
totalmente as tensões, provocando amolecimento significativo. Além disso, como os
precipitados, incoerentes, estáveis e muito grandes, encontram-se muito afastados uns dos
outros devido ao coalescimento, deixam um longo caminho livre para a movimentação das
discordâncias, o que também favorece o amolecimento típico do superenvelhecimento. A
diferença básica entre o envelhecimento artificial e o envelhecimento natural (à temperatura
ambiente), além dos níveis de dureza que podem ser atingidos (bem mais altos para o
envelhecimento artificial), é a cinética do processo: enquanto o pico de dureza no
envelhecimento artificial pode ser obtido em algumas horas (tanto mais rápido quanto mais alta
a temperatura), no envelhecimento natural o máximo de dureza (inferior ao obtido em forno)
somente acontece após uma semana ou mais de manutenção do material à temperatura
ambiente.

• Tratamento térmico de homogeneização:

Também conhecido como pré-aquecimento do lingote anterior ao trabalho a quente, pode ter
vários objetivos, dependendo da liga, do produto e do processo de fabricação envolvido. Um
dos principais objetivos é aumentar a trabalhabilidade. A microestrutura dos tarugos e placas
fundidas de ligas de alumínio é bastante heterogênea, apresentando segregações numa
estrutura dendrítica, com grande variação de composição química, com o teor de soluto
aumentando progressivamente das superfícies para o centro, assim como a presença de
partículas de segunda fase, que se formam preferencialmente nos contornos das dendritas [3].

Devido à baixa dutilidade resultante da presença localizada dessas partículas as estruturas


fundidas estão associadas com baixa trabalhabilidade. Os tratamentos térmicos de
homogeneização das estruturas fundidas foram desenvolvidos de maneira empírica, baseados
em observações metalográficas em microscópio ótico para determinar o tempo e a temperatura
necessários para reduzir a segregação e dissolver as partículas de segunda fase. Entretanto,
mais recentemente têm surgido métodos que permitem determinar quantitativamente o grau de
microssegregação e as taxas de dissolução e de homogeneização. Em geral, quanto mais
grosseira a estrutura dendrítica, maior a segregação e mais difícil a homogeneização, uma vez
que as distâncias, que devem ser vencidas pela difusão dos átomos, tornam-se mais longas.
Durante o resfriamento lento que se segue ao tratamento térmico de homogeneização ocorre
reprecipitação de partículas de segunda fase, mas esta ocorre de maneira mais dispersa, não
localizada, e no de modo muito significativo no interior das dendritas, e não nos contornos
como anteriormente. Além disso, a vantagem intrínseca do tratamento de homogeneização é
permitir a esferoidização das partículas quase insolúveis que contêm ferro, a qual é tanto maior
quanto maior for a solubilidade e a taxa de difusão dos elementos contidos nas partículas [3].

A presença de elementos como manganês, cromo e zircônio tem um efeito diferente do ferro e
do silício no que se refere à segregação e à presença de partículas de segunda fase. Esses
elementos se separam por uma reação peritética durante a solidificação, de tal modo que a
formação de partículas contendo esses elementos ocorre de maneira inversa ao que acontece
com as partículas que não contêm esses elementos, isto é, a região central da dendrita, que é
a primeira a se solidificar contém, progressivamente, maior teor desses elementos do que a
região dos contornos, que é a última a se solidificar. Assim, as soluções sólidas formadas por
esses elementos estão supersaturadas, o que resulta das taxas de difusão relativamente
baixas destes elementos no estado sólido [3].

Tratamentos térmicos de pré-aquecimento dos lingotes das ligas que contêm esses elementos
são recomendados para induzir a precipitação de partículas de fases tais como Al20Cu2Mn3 e
Al12Mg2Cr, com dimensões de 10 a 100 nm. Esses precipitados formados em altas
temperaturas também são conhecidos como dispersóides e se formam dentro das dendritas
com uma distribuição que é a mesma resultante da solidificação, pois as taxas de difusão são
muito baixas e assim não permitem uma redistribuição significativa. Essa precipitação de
dispersóides, entretanto deve ser controlada, de modo a não ocorrer nos contornos das
dendritas, e tem uma importância muito grande como fator de geração de obstáculos à
movimentação de contornos durante a a recristalização, pois os dispersóides atuam no sentido
de dificultar a movimentação dos contornos, contribuindo para a obtenção de grãos mais finos,
o que é benéfico para a maioria das aplicações das ligas de alumínio, uma vez que
invariavelmente resulta em melhores propriedades mecânicas [3].

• Recozimento:

O recozimento pode ser necessário antes das operações de conformação mecânica a frio,
devido à ocorrência de encruamento durante essas operações. É utilizado em todos os tipos de
ligas de alumínio, tanto as endurecíveis por precipitação como as que não endurecem por
precipitação, entretanto, no caso das primeiras, deve haver um controle de temperaturas mais
cuidadoso, para evitar a ocorrência de precipitação durante um tratamento de recozimento para
recristalização, por exemplo. O tipo de recozimento a ser realizado numa liga evidentemente
depende de sua história termomecânica prévia e do tipo de microestrutura resultante dessas
operações anteriores. O encruamento resultante de uma têmpera F (de fabricação) em geral
pode ser eliminado mediante aquecimento a uma temperatura da ordem de 345 ºC e a
manutenção a esta temperatura por um tempo adequado para garantir uniformidade térmica.
Nesse tipo de tratamento as taxas de aquecimento e de resfriamento não são críticas, embora
um aquecimento mais rápido seja preferível, por proporcionar um grão mais fino [3].

O recozimento de ligas previamente tratadas para têmperas como W, T3, T4, T6 ou T8


necessita de tratamentos que primeiro façam com que os precipitados atinjam sua estrutura
cristalina de equilíbrio e depois coalesçam. Isso pode ser conseguido mediante aquecimento a
temperatura entre 355 e 410 ºC, ou pouco acima, seguido por resfriamento até cerca de 260 ºC
em taxas de 25 a 40 ºC. Um resfriamento muito lento resulta em precipitados muito grosseiros,
o que pode prejudicar as operações de conformação mecânica subseqüentes. Nas ligas da
série 7XXX o processo de precipitação é mais lento do que nas ligas da série 2XXX,
necessitando um tratamento adicional a 230 ºC por 2 a 6 h, de modo a garantir precipitação
completa, de forma a permitir maior estabilidade durante a operação de conformação
subseqüente. Mesmo assim com esse tratamento, as ligas envelhecidas apresentam piores
condições para conformação do que as mesmas ligas não envelhecidas. O recozimento só se
aplica a ligas fundidas quando é necessário um rigoroso controle dimensional ou quando o
material será submetido posteriormente a alguma operação de conformação não convencional
[3].

• Solubilização:
O objetivo do tratamento de solubilização é por em solução sólida a maior quantidade possível
de átomos de soluto, como cobre, magnésio, silício ou zinco, na matriz rica em alumínio. Para
algumas ligas a temperatura na qual a máxima quantidade de soluto pode estar dissolvida
corresponde à temperatura eutética. Sendo assim, as temperaturas de solubilização devem ser
limitadas a um nível seguro no qual as conseqüências do superaquecimento e da fusão parcial
sejam evitadas. A liga 2014 apresenta essa característica, ao contrário da liga 7029, que
permite maior tolerância de temperaturas de solubilização. Mesmo assim, o limite superior de
temperatura de solubilização deve levar em conta outros fenômenos, como o crescimento de
grão, efeitos de superfície, economia e operacionalidade. Algumas ligas, como a 7075 e a
7050, que teoricamente permitiriam grande tolerância na definição da temperatura de
solubilização, com base na temperatura solvus de equilíbrio e na temperatura solidus, podem
apresentar fusão incipiente em temperatura muito inferiores à solidus em determinadas
circunstâncias. A liga 7075 tem duas fases solúveis, a MgZn2 (com alumínio e cobre
substituindo parcialmente o zinco) e a Al2CuMg. Esta última dissolve muito lentamente.
Concentrações localizadas desta fase podem causar fusão de não equilíbrio entre 485 e 490
ºC, se a liga for aquecida muito rapidamente até esta faixa de temperaturas e se a
homogeneização não for bem feita. Outro fenômeno nocivo que pode ocorrer durante a
solubilização é o crescimento excessivo de grãos, tanto mais significativo quanto mais elevadas
as temperaturas e mais longos os tempos de solubilização. Finalmente, outra conseqüência
negativa de elevadas temperaturas de solubilização é a oxidação em altas temperaturas,
principalmente se a atmosfera do forno estiver contaminada com umidade ou enxofre [3].

O resfriamento rápido que se segue à têmpera é uma etapa crítica do tratamento, porque é
fundamental para manter à temperatura ambiente a solução sólida obtida em alta temperatura.
Além disso, o resfriamento rápido permite manter à temperatura ambiente a mesma
concentração de lacunas existente em alta temperatura, e estas lacunas são muito importantes
para acelerar o processo de difusão dos átomos de soluto que ocorre no tratamento posterior
de envelhecimento (endurecimento por precipitação). O meio de resfriamento rápido mais
usado é a água, embora, caso seja necessária uma taxa de resfriamento mais baixa, possam
ser usados diversos líquidos orgânicos como meios de resfriamento rápido. O resfriamento ao
ar é muito lento para a maioria das ligas de alumínio, permitindo o prosseguimento do processo
de precipitação, embora não seja tão lento como o resfriamento ao forno, evidentemente.

• Endurecimento por precipitação – Envelhecimento artificial:

O efeito da precipitação é bastante acelerado mediante aquecimento em temperaturas da


ordem de 95 a 205 ºC, muito inferiores à temperatura solvus (acima da qual ocorre a
solubilização dos átomos de soluto), porém suficientes para a obtenção de energia térmica
necessária para a difusão dos átomos de soluto que permite a formação dos precipitados
endurecedores. Entretanto, o máximo de dureza atingido por uma liga através de tratamento
térmico (T6) também corresponde a uma considerável queda de dutilidade e tenacidade. Por
outro lado, o superenvelhecimento, resultante do prolongamento do envelhecimento por longos
períodos ou envelhecimento em altas temperaturas, provoca queda de dureza, porém
simultaneamente aumento de dutilidade e tenacidade em comparação com a condição T6
(máximo de dureza) [3]. Cada tipo (série) de liga de alumínio endurecível por precipitação
(séries 2XXX, 6XXX, 7XXX e 8XXX) tem a sua faixa de temperaturas de envelhecimento
artificial (em forno) assim como sua faixa de temperaturas de solubilização. Utiliza-se o termo
envelhecimento natural para designar os processos de precipitação que ocorrem com a
manutenção da liga de alumínio à temperatura ambiente, evidentemente muito mais lentos e
com níveis de dureza resultante bem mais baixos do que os que ocorrem no envelhecimento
artificial [3].

• Tratamentos termomecânicos – Envelhecimento termomecânico:

Constituem-se nos tratamentos nos quais a deformação plástica é realizada antes, após, ou
intercalada com o tratamento térmico de envelhecimento. As práticas de tratamentos
termomecânicos mais simples correspondem aos tratamentos T3, T8 e T9. A taxa e o grau de
endurecimento por precipitação aumentam muito com a deformação anterior ao
envelhecimento, devido à introdução de discordâncias que atuam como sítios para a nucleação
preferencial de precipitados, entretanto, a resposta a esse tipo de tratamento varia muito de liga
para liga, sendo algumas mais propensas do que outras ao ganho de dureza proporcionado por
essa seqüência de tratamentos. Algumas ligas da série 2XXX, como a 2024, 2124 e 2219 são
particularmente sensíveis a esse tipo de tratamento, obtendo ganho significativo de dureza
quando submetidas ao tratamento T8. Na liga 2024 esse ganho de dureza está relacionado
com a nucleação de precipitados de fase S’ (em forma de plaquetas) sobre as discordâncias
introduzidas pela deformação, geralmente realizada por processo de estiramento ou de
laminação. Além de favorecer a nucleação de precipitados, a deformação, com a introdução de
discordâncias, acelera todo o processo de precipitação, sendo assim o material deformado
atinge o superenvelhecimento mais rapidamente do que o mesmo material não deformado [3].

A seguir são apresentadas temperaturas consideradas ideais para alguns tipos de tratamento
térmico de algumas ligas de alumínio [50]:

Tabela 9.1 – Temperaturas de recozimento completo

Liga Temperatura
1060, 1100, 1350 345
2014, 2017, 2024, 2117, 2124, 2219 415
2036 385
3003, 3004, 3105 345
5005, 5050, 5052, 5056, 5083, 5086, 5154,
345
5182, 5254, 5454, 5456, 5457, 5652
6005, 6009, 6010, 6053, 6061 6063, 6066 415
7005 345
7001, 7049, 7050, 7075, 7079, 7178, 7475 415
Obs: No caso das ligas endurecíveis por precipitação (séries 2XXX, 6XXX e 7XXX) recomenda-se como
tempo de tratamento (na temperatura indicada) 2 a 3 h. No caso das demais ligas apenas o suficiente
para o atingimento da temperatura de tratamento.

Tabela 9.2 – Temperaturas de solubilização e envelhecimento (série 2XXX).

Liga T solubilização (ºC) T envelhecimento (ºC)


2011 525 160
2025 515 170
2219 535 175
2018 495 170
2024 495 190
2036 500 190
2038 540 205
2218 510 170
2008 510 205
2014 500 160
2017, 2117 500 170
2618 530 200
2090 540 165
2091 530 120

Tabela 9.3 – Temperaturas de solubilização e envelhecimento (série 6XXX).

Liga T solubilização (ºC) T envelhecimento (ºC)


6005 530 175
6009 555 205
6010 565 205
6053 520 170
6061 530 175
6063 520 175
6013 570 190
6066 530 175
6070 545 160
6111 560 175
6151 515 170
6262 540 175
6463 520 175
6951 530 160

Tabela 9.4 – Temperaturas de solubilização e envelhecimento (série 7XXX).

Liga T solubilização (ºC) T envelhecimento (ºC)


7001 465 120
7050 475 120 e 160 (2 etapas)
7075 480 120
7175 470 120
7475 510 120
Alclad 7475 495 120

Tabela 9.5 – Temperaturas de solubilização e envelhecimento (ligas fundidas).

Liga T solubilização (ºC) T envelhecimento (ºC)


201.0 525-530 155
204.0 530 140-180
206.0 525-530 155
222.0 510 155
295.0 515 155
296.0 510 155
328.0 515 155
333.0 505 155
336.0 515 155
355.0 525 155
356.0 540 155
http://www.infomet.com.br/metais-e-ligas-conteudos.php?
cod_tema=10&cod_secao=11&cod_assunto=57

Trabalho mecânico, recuperação, recristalização e crescimento de grão


Além de aumentar a resistência mecânica de todos os tipos de ligas de alumínio, através do
encruamento, que aumenta a densidade de discordâncias, o trabalho mecânico,
adicionalmente, nas ligas endurecíveis por precipitação, acelera o aumento de dureza
associado com a formação de precipitados. Entretanto, produtos endurecidos por encruamento
podem ter sua baixa dureza original restaurada, parcial ou completamente, pelo tratamento
térmico de recozimento (ver capítulo de tratamentos térmicos), ao modificar a microestrutura
resultante do encruamento [3].
O trabalho mecânico é utilizado para produzir as chamadas têmperas de encruamento,
designadas pela letra H seguida por algum número. A têmpera H18, por exemplo, é a têmpera
de trabalho a frio severo que resulta no endurecimento pleno correspondente a 75 % de
redução em área. A têmpera H19 denota produtos com dureza ainda mais elevada, resultante
de uma redução em área ainda mais intensa. Por outro lado, as têmperas H16, H14 e H12 são
obtidas com menor grau de encruamento, ou seja, menor redução em área no trabalho a frio,
representando respectivamente as têmperas ¾ duro, ½ duro e ¼ duro. Uma combinação de
encruamento com recozimento parcial é usada na obtenção das têmperas H22, H24, H26 e
H28: neste caso o material é mais encruado do que o necessário para atingir determinados
níveis de propriedades mecânicas e então amolecido pelo recozimento parcial. Para as ligas
Al-Mg (série 5XXX) são utilizadas têmperas nas quais o material é encruado e estabilizado,
como H32, H34, H36 e H38: essas ligas inicialmente encruadas tendem a amolecer ao serem
mantidas por longos períodos à temperatura ambiente. Para evitar que esse fenômeno ocorra
de modo descontrolado, essas ligas são então aquecidas em baixas temperaturas, acelerando
controladamente o amolecimento e permitindo então a obtenção de propriedades estáveis que
favoreçam as operações subseqüentes de trabalho mecânico [3].

A deformação nas ligas de alumínio ocorre através dos processos de deslizamento


(escorregamento), ou seja, movimento normal de discordâncias, sendo possível observar
nessas ligas bandas de deslizamento e bandas de deformação. As discordâncias normalmente
combinam-se para formar subestruturas celulares. Quando o grau de deformação
(encruamento) é mais severo, aumenta a densidade de discordâncias e reduz-se o tamanho
das células. As distorções do reticulado, associadas com as discordâncias e com as tensões
resultantes da interação entre discordâncias, são as principais fontes de endurecimento
resultante do trabalho a frio (encruamento) [3].

Entretanto, o aumento de resistência mecânica obtido através do trabalho mecânico é


acompanhado por uma perda de dutilidade medida pelo alongamento ou pela redução de área
no ensaio de tração, por exemplo, assim como pela perda de trabalhabilidade em operações
como trefilação ou dobramento, razão pela qual deve-se evitar têmperas muito duras em
materiais que devem possuir alta dutilidade ou elevada trabalhabilidade. Exceções importantes
são as chapas destinadas à conformação de latas para envasamento de bebidas, normalmente
produzidas com a liga 3004 na têmpera H19 como matéria-prima [3].

A introdução de elementos de liga no alumínio tem um efeito importante nas características de


encruamento da liga, mesmo quando não confere a capacidade de endurecimento por
precipitação. A adição de elementos como magnésio e manganês, por exemplo, permite obter
maiores taxas de endurecimento por deformação, devido à maior densidade de discordâncias
[3].

O trabalho a frio também proporciona aumento de resistência à fluência em temperaturas


baixas, ao cisalhamento e à fadiga em amostras não entalhadas. Entretanto, o uso do
encruamento para o aumento da resistência mecânica das ligas termicamente tratáveis
(endurecíveis por precipitação) é limitado, encontrando sua aplicação principal em produtos
extrudados e trefilados como vergalhões, arames e tubos, os quais podem ser trabalhados
após o tratamento térmico, para aumentar a resistência mecânica e melhorar o acabamento
superficial. Entretanto, isso só se aplica às ligas da série 6XXX (Al-Mg-Si), uma vez que as
demais ligas endurecíveis por precipitação (basicamente as séries 2XXX e 7XXX) possuem
dutilidade e trabalhabilidade muito limitadas. Nas ligas Al-Cu (série 2XXX) pequenos graus de
encruamento são utilizados após solubilização para acelerar o envelhecimento artificial [3].

• Deformação de ligas de alumínio em altas temperaturas:


As características de encruamento das ligas de alumínio em altas temperaturas variam tanto
com a temperatura como com a taxa de deformação. O grau de encruamento reduz-se com o
aumento de temperatura até que a 370 ºC não ocorre mais encruamento. Isso se deve ao fato
de que em temperaturas relativamente altas é favorecida termicamente a recuperação, que
ocorre rapidamente durante e imediatamente após a deformação, resultando na formação de
uma estrutura de subgrãos semelhante à que se forma no metal aquecido após deformação a
frio. Quando a deformação ocorre a uma temperatura e a uma taxa de deformação constantes
o resultado é um tamanho de subgrão que depende dessa temperatura e dessa taxa de
deformação. A resistência à deformação em alta temperatura é inversamente proporcional ao
tamanho do subgrão formado. Sendo assim, menores tamanhos de subgrão e,
conseqüentemente, maior resistência ao escoamento em alta temperatura, resultam de
temperaturas de deformação mais baixas e ou de taxas de deformação mais elevadas [3].

O resfriamento rápido após o trabalho mecânico em alta temperatura pode minimizar a


recristalização e deste modo preservar a estrutura de subgrãos anteriormente formada.
Quando isso acontece, a resistência da liga de alumínio, anteriormente trabalhada a quente,
quando mantida à temperatura ambiente, é função inversa do tamanho do subgrão. Essa
chamada subestrutura proporciona um certo incremento de resistência mecânica em relação à
mesma liga totalmente recristalizada. [3].

• Efeito do encruamento nas propriedades físicas e químicas:

A condutividade térmica das ligas de alumínio encruadas é pouco afetada pelo encruamento,
caindo de 63 % IACS no alumínio comercialmente puro recozido para 62,5 % na têmpera
encruada H19. A densidade também cai ligeiramente devido ao trabalho a frio, chegando a
uma queda de 0,2 % quando o encruamento é severo. Por outro lado, o trabalho a frio aumenta
a energia interna armazenada, que pode chegar a 16 kJ/kg.átomo. O módulo de elasticidade,
ao contrário, pouco é afetado pelo encruamento, entretanto, propriedades inelásticas, como o
atrito interno e o amortecimento, são muito influenciadas pelo encruamento, sendo o
amortecimento em geral maior na condição de recozido em comparação com o estado
encruado, podendo haver no entanto alguma variação causada por condições experimentais e
estado de tensões aplicadas. O encruamento tende a acelerar as reações químicas devido à
maior energia armazenada, mas a resistência à corrosão não é muito influenciada pelo
encruamento, com exceção dos casos de corrosão sob tensão. Outro efeito do encruamento é
induzir ou acelerar a precipitação nos contornos de grão de ligas Al-Mg não termicamente
tratáveis [3].

• Efeito do recozimento em estruturas encruadas:

A estrutura de discordâncias geradas pelo encruamento é instável e em temperaturas e tempos


suficientes tende a ser revertida. Quanto menor o grau de pureza da liga de alumínio, maior a
temperatura em que o encruamento poderá ser revertido. Essa reversão ocorre em várias
etapas, dependendo da temperatura e do tempo, havendo diferentes mecanismos de reversão.
O primeiro desses mecanismos, que ocorre em baixas temperaturas e tempos curtos, é a
recuperação [3].

O início da recuperação caracteriza-se pela ocorrência de mudanças microestruturais que não


podem ser observadas em microscópio ótico. Entretanto, técnicas como difração de raios X e
microscopia eletrônica de transmissão permitem evidenciar a grande redução da densidade de
discordâncias e a sua reordenação em uma estrutura celular de subgrãos. Esse processo de
recuperação é conhecido como poligonização, o qual torna-se mais completo e leva ao
aumento do tamanho de subgrão à medida que a temperatura torna-se mais elevada. Nessa
etapa muitos dos subgrãos têm contornos completamente livres de emaranhados de
discordâncias [3].

A redução na densidade de discordâncias causada pela recuperação provoca queda de


resistência mecânica e também afeta outras propriedades. A velocidade desse processo
depende da composição química da liga, sendo tanto maior, quanto maior for o grau de pureza
da liga. A recuperação leva ao aumento da condutividade elétrica e à redução das tensões
internas e da energia armazenada., sendo que a mudança de algumas propriedades podem ser
observadas em temperaturas tão baixas como as do intervalo de 93 a 120 ºC, sendo porém
mais intensas em rápidas em temperaturas mais elevadas. Entretanto, o retorno às mesmas
propriedades que o material antes do encruamento somente é possível através da
recristalização [3].

As ligas Al-Mg, após serem encruadas, tendem a amolecer ao serem mantidas à temperatura
ambiente, efeito esse que se torna mais intenso com o aumento do grau de encruamento e
com o aumento do teor de magnésio, tendo com explicação a liberação da energia de
deformação e a relaxação dos emaranhados de discordâncias, porém sem alteração da
densidade de discordâncias. Para minimizar esse problema, a prática industrial recomenda a
aceleração artificial desse amolecimento mediante aquecimento rápido entre 120 e 175 ºC, o
que também aumenta a dutilidade. As propriedades resultantes desse aquecimento são
razoavelmente estáveis. As têmperas resultantes desse procedimento são denominadas H3X.

A recristalização caracteriza-se pelo aparecimento gradual de uma microestrutura de novos


grãos que pode ser observada em microscópio ótico. A nova microestrutura formada não
apresenta evidências de deformação e a densidade de discordâncias é insignificante, seja no
interior do grão ou nos seus contornos. A recristalização somente ocorre em temperaturas mais
elevadas e tempos mais longos do que os que já são suficientes para ocorrer a recuperação,
embora possa haver em determinadas condições a coexist6encia de ambos os processos de
restauração. Os grãos recristalizados são formados pelo crescimento de subgrãos
selecionados na microestrutura deformada e recuperada. A recristalização é função do tempo e
da temperatura, tornando-se mais intensa e mais rápida com o aumento dessas duas variáveis,
embora possa sofrer interferência de outros fenômenos, como, por exemplo, a solubilização e a
precipitação de fases secundárias [3].

O grau de encruamento e a temperatura de trabalho mecânico também influem na


recristalização. Em geral o maior grau de encruamento reduz o tempo e a temperatura
necessários para que ocorra recristalização. Também de um modo geral a redução da
temperatura de trabalho mecânico favorece a recristalização. Ligas trabalhadas a temperaturas
acima de 400 ºC são mais difíceis de serem recristalizadas. A composição química também
influencia a recristalização: a adição de qualquer impureza (átomos de soluto) aumenta
substancialmente a temperatura de recristalização em relação à do alumínio puro. A existência
de partículas dispersas em uma matriz de alumínio pode acelerar ou retardar o processo de
recristalização, dependendo de seu tamanho, espaçamento e estabilidade nas temperaturas de
recozimento. Numa faixa específica de tamanhos de partículas e espaçamento entre as
mesmas, sendo estas suficientemente grandes e próximas, a recristalização pode ser inibida
[3].

Outro fator importante para a recristalização e para o tamanho final dos grãos recristalizados é
a taxa de aquecimento até a temperatura de recozimento. Quanto mais lento o aquecimento
maior o tamanho de grão resultante. Quanto maior a temperatura de recozimento, maior o
tamanho de grão resultante, porém menor o grau de encruamento necessário para que a
recristalização aconteça, entretanto a temperatura de recozimento não altera significativamente
a relação entre o tamanho de grão e o grau de deformação ou a taxa de aquecimento [3].

Podem acontecer casos em que ocorre recristalização desde a superfície do material até uma
certa profundidade a partir da qual o material permanece deformado sem recristalizar. Isso se
deve ao fato de que em determinados processos de fabricação a deformação é muito mais
intensa nas superfícies externas do material do que no seu interior, havendo assim um
gradiente de encruamento que com o recozimento resulta em um gradiente de recristalização,
uma vez que somente nas regiões relativamente próximas à superfície o grau de deformação
foi suficiente para que ocorresse recristalização. Nestes casos os grãos recristalizados tendem
a ser muito grandes [3].

O tamanho de grão também é muito afetado pela composição química. Em geral elementos de
liga comuns e impurezas como cobre, ferro, magnésio e manganês favorecem a redução do
tamanho de grão. Os efeitos de elementos com baixa solubilidade sólida como manganês,
cromo e ferro dependem do tipo de fases que esses elementos formam, reagindo entre si e
com outros elementos e pela sua distribuição na liga. O manganês é particularmente
interessante nesse aspecto. A distribuição de soluto é determinada pelas condições de
solidificação do lingote, pelo pré-aquecimento do mesmo e por outros variáveis dos processos
de fabricação, que são controlados de forma a produzir o grão mais fino possível [3].

A forma do grão recristalizado nas ligas de alumínio trabalhadas varia consideravelmente, de


aproximadamente equiaxial em materiais comercialmente puros ou de baixa liga, para grãos
alongados ou achatados em materiais de alta liga. O formato dos grãos é influenciado pela
presença de alguns elementos como o manganês, o cromo e o zircônio. Estes elementos estão
distribuídos de modo não homogêneo no lingote fundido original e formam precipitados muito
finos (dispersóides) com comprimento da ordem de 0,1 µm ou menor. A microestrutura
trabalhada consiste de bandas ou camadas alternadas densas ou dispersas de dispersóides.
Os grãos recristalizados têm seu crescimento obstruídos por essas bandas de dispersóides e
assim formam-se os grãos alongados típicos das ligas de maior resistência mecânica [3].

A recristalização prossegue modificando as propriedades do metal deformado e recuperado, o


que continua até que a recristalização se complete. A recristalização completa restaura as
propriedades originais do metal não deformado, com exceção dos efeitos do tamanho de grão
e da orientação preferencial (textura). Nas ligas termicamente tratáveis o recozimento pode ter
como efeito adicional a precipitação e mudanças na concentração de soluto. A recristalização
também é acompanhada por um decréscimo adicional da energia armazenada durante a
deformação e pela eliminação completa das tensões residuais [3].

• Crescimento de grão após a recristalização:

O aquecimento após a recristalização pode produzir crescimento de grão, que pode ocorrer de
modos diferentes. O grão pode crescer gradual e uniformemente através de um processo
conhecido como crescimento normal de grão, que Eva à eliminação dos grãos com formas ou
orientações desfavoráveis em relação aos seus vizinhos mais próximos. Esse processo ocorre
facilmente no alumínio de alta pureza e no caso de ligas (soluções sólidas) pode levar à
formação de grãos relativamente grosseiros. Esse tipo de crescimento de grão corre quando há
pequenos grãos recristalizados, altas temperaturas e aquecimento generalizado. Esse
processo também pode ocorrer em ligas de alumínio comerciais, mas é muito restringido pela
presença de finas partículas de fases intermetálicas e impurezas, como as que contêm
manganês e cromo, que desaceleram o processo, impedindo ou dificultando o movimento dos
contornos de grão [3].

As ligas de alumínio submetidas à presença de algum tipo de obstáculo ao movimento dos


contornos de grão costumam apresentar um outro tipo de crescimento de grão, o chamado
crescimento anormal (ou exagerado) de grão, também conhecido como recristalização
secundária. Neste processo o crescimento restringe-se a alguns poucos grãos do metal
recristalizado, os quais crescem em temperaturas muito elevadas e podem atingir diâmetros de
vários milímetros. Provavelmente em alta temperatura a dissolução das partículas que contêm
ferro, cromo e manganês implica na remoção dos obstáculos ao crescimento dos grãos que
primeiramente encontram-se livres das partículas inicialmente dissolvidas. Em altas
temperaturas os poucos grãos que primeiramente encontram-se livres desses obstáculos
crescem rapidamente consumindo os grãos vizinhos menores, tornando-se grãos muito
grosseiros. Mas na maioria das ligas as altas temperaturas somente não são as únicas
responsáveis pelo aparecimento de grãos muito grosseiros. Texturas (orientações
cristalográficas preferenciais) estão entre os fatores que podem levar ao crescimento anormal
de grão [3].

• Texuras cristalográficas:

O alumínio fundido tende a apresentar uma distribuição aleatória de orientações


cristalográficas, com exceção dos casos em que se formam grãos colunares durante a
solidificação. Esse caráter aleatório é rapidamente perdido durante o trabalho a frio ou a
quente, sendo substituído por texturas (orientações cristalográficas preferenciais) nas quais os
grãos assumem preferencialmente determinadas orientações. A textura final resultante de um
determinado processo de deformação depende de alguns fatores, como o tipo de deformação,
mudanças na forma do produto e, em menor escala, a composição química da liga. Além da
textura de deformação, também é importante a textura de recristalização, que geralmente difere
da textura de deformação introduzida antes do recozimento, dependendo do histórico de
fabricação da peça e da composição química da liga. Do ponto de vista prático é quase sempre
desejável que o nível de textura de um material que irá ser processado posteriormente seja o
mais baixo possível. Isso é particularmente importante nos processos de conformação de
chapas, como a estampagem e principalmente o embutimento, no qual a existência de textura
acentuada na chapa a ser embutida pode levar ao aparecimento de defeitos de fabricação
como o “orelhamento” (ondulações nas bordas das peças embutidas), que pode ser evitado
com cuidados nos processos de laminação e recozimento. Mas as próprias condições de
embutimento devem ser controladas para evitar o “orelhamento” [3].

• Defeitos superficiais resultantes da deformação:

Bandas de Lüder: Durante o estiramento ou a conformação de algumas ligas de alumínio, dois


tipos distintos de marcas superficiais, ou bandas de Lüders, podem correr. O primeiro tipo,
também conhecido como tipo A está associado ao escoamento (pico de tensão na curva
tensão x deformação seguido por queda na tensão de escoamento formando um patamar mais
baixo) de ligas (soluções sólidas) recozidas ou submetidas a ouro tipo de tratamento térmico,
como as ligas Al-Mg. Ocorre freqüentemente em operações de estiramento. Embora não
prejudique as propriedades mecânicas das ligas, tal tipo de defeito superficial é prejudicial do
ponto de vista estético. Esse tipo de defeito pode ser evitado ao se realizar as operações de
conformação em temperaturas superiores a 150 ºC. O segundo tipo, ou tipo B, está associado
ao chamado efeito Portevin-Le Chatelier (“serrilhamento” na curva tensão x deformação),
ocorrendo durante o estiramento além do limite de escoamento. Ao contrário das bandas de
Lüders do tipo A, as do tipo B podem ocorrer tanto em ligas encruadas como em ligas
recozidas. Formam-se a cerca de 50 º do eixo de tração e aumentam em número à medida que
o estiramento prossegue. Na curva tensão x deformação a deformação não uniforme associada
com essas bandas aparecem associadas ao “serrilhamento”da curva e continua até o
”empescoçamento”, ocorrendo a fratura através da banda de Lüders. Esse tipo de defeito é
raramente encontrado em ligas submetidas às operações de deformação mais tradicionais,
mas pode surgir devido em chapas encruadas estiradas para achatamento. As ligas Al-Mg são
especialmente suscetíveis ao surgimento de bandas de Lüders, que aumentam em severidade
com o aumento do teor de magnésio. As ligas termicamente tratáveis também são suscetíveis
à formação desse tipo de defeito, mas geralmente apenas na condição solubilizada e
rapidamente resfriada, sem envelhecimento.

• Efeito “casca de laranja”:

O embutimento, o estiramento ou a estampagem profunda das ligas de alumínio podem


produzir um aspecto de “casca de laranja” (rugosidade) quando o tamanho de grão da chapa
submetida à conformação é muito grande. Isso se deve ao fato de que os grãos da superfície
da chapa deformam-se com menor restrição do que os grãos do interior e a heterogeneidade
de deformação resultante, agravada pelo maior amanho de grão, gera esse aspecto de “casca
de laranja”na superfície do produto. O tamanho de grão que pode causar esse tipo de defeito
varia com o tipo de produto, com o grau de deformação e com a microestrutura da liga.
Texturas de grãos com orientação preferencial, embora relativamente pequenos, também
podem gerar esse tipo de defeito, que costuma ser mais freqüente nos produtos trabalhados a
frio em comparação com os trabalhado a quente.

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