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PRÁTICAS DE LEITURA

E ESCRITA
NO ENSINO SUPERIOR
SUMÁRIO

Unidade 1 – Conceito de texto...................................................1


Estudo dirigido da unidade 1 – Coerência textual ................16
Unidade 2 – Oralidade e escrita...............................................41
Estudo dirigido da unidade 2 – Verbos de dizer e
pronomes relativos.................................................................53
Unidade 3 – Tipos e gêneros textuais escritos.........................67
Estudo dirigido da unidade 3 – Pontuação e paragrafação....74
Unidade 4 – Narração e relato...............................................92
Estudo dirigido da unidade 4 – Elementos coesivos............102
Unidade 5 – Dissertação: exposição e argumentação............123
Estudo dirigido da unidade 5 – Tipo de parágrafo e
formas de desenvolvimento e conclusão . ...........................148
Unidade 6 – Resumo..............................................................171
Estudo dirigido da unidade 6 – Esquema.............................180
Unidade 7 – Resenha.............................................................192
Estudo dirigido da unidade 7 – Distinção entre fato
e opinião...............................................................................204
Unidade 8 – Relatório............................................................213
Referências bibliográficas......................................................224
UNIDADE 1
CONCEITO DE TEXTO

O que é um texto? Já pensou nisso alguma vez? O que lhe diz a sua
intuição de usuário da língua sobre isso?
.............................................................................................................
.............................................................................................................

Que tal ler o material abaixo? Acho que você não hesitaria em cha-
má-lo de texto, não é? Observe, então, o que ele diz e como faz para
dizê-lo.

Um mesmo fato pode receber tratamento diferente de acordo com


quem o relata e com o texto que o aborda, como, por exemplo, uma
notícia e um artigo de opinião. Leia o que se segue e identifique o
tratamento dado ao mesmo assunto em uma e em outra situação.

Texto 1

RACISMO NO AVIÃO

Músico Dudu Nobre afirma ter sido vítima


de preconceito ao voltar dos Estados Unidos
Renata Cabral
ISTOÉ – ano 31, nº 2038

Em solo brasileiro, eles têm dinheiro e fama, espécie de


blindagem que costuma inibir as manifestações mais explícitas de
preconceito racial. Mas no anonimato do voo 951 da American Air-
lines, que ia de Nova York ao Rio de Janeiro no dia 16 de novem
bro, o músico Dudu Nobre e sua mulher, a modelo e atriz Adria-
na Bombom, disseram ter sido alvo de discriminação associada à
cor da pele. Os artistas acusam os comissários de bordo da empresa
aérea de ofensas, injúrias preconceituosas e lesão corporal e pedem
R$ l milhão de indenização por danos morais. Eles alegam ter sido
chamados de “macacos”, entre outros xingamentos, na frente de
suas duas filhas, de seis e cinco anos, e dos demais passageiros. “O
constrangimento de ter sido xingado de macaco, junto com minha
mulher, e chamado para brigar na frente de minhas filhas é inesque-
cível”, desabafa Dudu, que se diz disposto a lutar incansavelmen-
te pela punição dos responsáveis. “Se acontece conosco, imagina
com quem não aparece na mídia”, completou Adriana. O incidente
aconteceu exatamente na semana em que se celebra o Dia da
Consciência Negra, quinta-feira 20.
A confusão teria começado ainda nos Estados Unidos, quando,
ao forçar a porta do banheiro, Adriana ouviu a aeromoça chamá-la
de “estúpida”. Segundo o casal, eles preferiram ignorar as imita-
ções de porco e macaco que o comissário fazia ao passar por Dudu.
Mas, quando a modelo e a comissária trocaram insultos no desem-
barque para a escala que fizeram em São Paulo, a briga começou
de fato. Quem levou a pior, nessa hora, foi o produtor da carreira
internacional do músico, Ivan Corrêa Júnior, que acompanhava o
grupo na viagem. Ele teve uma caneta estocada no braço direito
no auge da briga. A família de Dudu viajava na classe econômica,
mas ele disse que tentou trocar as passagens para a primeira classe
justamente porque conhecia “a má reputação da equipe da Ameri-
can Airlines de não ser cordial com brasileiros que não falam in-
glês”. Assim que desembarcou no aeroporto Antônio Carlos Jobim,
o grupo procurou a polícia federal e registrou queixa contra dois
dos comissários americanos. O inquérito foi aberto, mas o crime
não foi entendido como racismo, e sim injúria qualificada. “Por-
que eles não foram expulsos nem impedidos de entrar no avião,
por exemplo, mas receberam tratamento preconceituoso”, explica
o advogado da família, Thalles Wildhagen Camargo.
A empresa American Airlines divulgou apenas um comunicado:
“Estamos realizando um inquérito interno em relação ao incidente
relatado pelos meios de comunicação.” Dudu Nobre diz que está
esperançoso por uma retratação, apesar de uma recente pesquisa
feita pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrar
que as vítimas de racismo perdem 57,7% dos casos na Justiça.
1) De que incidente o texto trata?

2) Quais os personagens envolvidos na questão?

3) Que medidas foram tomadas pelas pessoas que se sentiram ofen-


didas?

4) Blindagem – eis a palavra empregada no texto para se referir ao


efeito provocado para o fato de alguém ter dinheiro e fama reconhe-
cida, no Brasil. Por que blindagem?

5) A jornalista relata que a confusão teria começado ainda nos Esta-


dos Unidos. Poderia ter escrito “a confusão começou”.
Os efeitos de sentido seriam os mesmos, empregando indistintamen-
te uma ou outra forma de dizer? Por quê?

6) A autora faz uso de recursos que só são possíveis na escrita,


como as aspas e o negrito. Que sentidos cada um desses recursos,
respectivamente, ajuda construir no texto?

7) Apesar de o jornalismo se pretender neutro e objetivo, podemos


perceber que posição a jornalista toma com relação ao fato. Copie
do texto palavras que comprovem essa afirmativa.

Texto 2

NAS ASAS DO TIO SAM

Leonardo Attuch
ISTOÉ – ano 31, nº 2038

Bastou Barack Obama ser eleito presidente dos Estados Uni-


dos para a política ser interpretada por um prisma racial. Ao esco-
lher um negro para chefiar a Casa Branca, os americanos estariam
deixando para trás décadas de discriminação. Pode ser que isso
seja verdade lá dentro, mas os “embaixadores informais” do país,
aqueles que travam os primeiros contatos com outros povos, não
aprenderam a lição. Na semana passada, comissários da American
Airlines teriam dispensado tratamento racista ao sambista Dudu
Nobre e a sua esposa, Adriana Bombom. Consta até que um dos
tripulantes teria imitado um macaco diante das duas filhas do casal.
O incidente parou na delegacia, a empresa abriu uma investi-
gação interna, mas certo mesmo teria sido autuar e prender os co-
missários em flagrante por um crime que, no Brasil, é inafiançável.
O fato é que a American Airlines, companhia aérea símbolo da
aviação americana, tem um histórico de lamentáveis ocorrências
no Brasil. Em 2004, um de seus pilotos, Dale Hersh, foi preso por-
que não queria enfrentar as filas da imigração e debochou do sis-
tema brasileiro de triagem de estrangeiros, mostrando o chamado
“dedo do meio” para as câmeras da Polícia Federal. Foi preso por
desacato e só conseguiu sair depois que a empresa pagou a fiança
de R$ 36 mil. A identificação com as digitais era uma medida de
reciprocidade em relação às crescentes humilhações que os brasi-
leiros enfrentavam para entrar na terra do Mickey e do Tio Sam.
Depois disso, a companhia também soltou uma preconceituosa car-
tilha sobre como proceder em relação a passageiros brasileiros.
Pode-se imaginar que os americanos estejam angustiados com
sua própria decadência. Em meio a uma crise econômica de gran-
des proporções, que eles criaram e exportaram para o resto do
mundo, os Estados Unidos carregam um rombo trilionário nas suas
contas internas e externas. Portanto, precisarão cada vez mais dos
dólares mestiços que vêm dos países emergentes. Um bom come-
ço seria treinar os “diplomatas” da American Airlines em questões
como cortesia, respeito e educação. Uma proposta ainda melhor
seria convidar, voando na primeira classe, Dudu Nobre e Adriana
Bombom para o baile inaugural do casal Obama na Casa Branca,
que até poderia ser um batuque de ioiô e iaiá. Afinal, como já pre-
via o compositor Assis Valente, chegou a hora dessa gente bronze-
ada mostrar seu valor e do Tio Sam tocar pandeiro para o mundo
sambar.

8) Na concepção do jornalista, levando-se em conta o contexto da si-


tuação reportada, quem são os embaixadores informais de um país?

9) A quem, no texto, o autor especificamente se refere quando em-


prega essa expressão?

10) Que lição esses, que seriam os embaixadores informais dos Es-
tados Unidos, não aprenderam?

11) Observe as duas construções a seguir:


Os embaixadores informais [...] não aprenderam a lição.
Comissários da American Airlines teriam dispensado tratamento
racista ao sambista.
Qual das duas afirmativas é mais categórica? Justifique sua res-
posta.

12) Observe agora esta outra construção, empregada pelo jornalista:


O fato é que a American Airlines (...) tem um histórico de lamen-
táveis ocorrências no Brasil.
A mesma frase poderia ter sido assim escrita:
A American Airlines (...) tem um histórico de lamentáveis ocorrên-
cias no Brasil.

Que diferença há entre um e outro modo de dizer?

Quanto à posição do adjetivo em lamentáveis ocorrências, o


autor poderia ter empregado o adjetivo depois do substantivo,
ficando assim; ocorrências lamentáveis. Teria provocado algum
efeito de sentido essa alteração? Justifique sua resposta.

13) O autor, em dois momentos, emprega expressões em que ironiza


os americanos. Sublinhe-as no texto.

14) O emprego das aspas em “dedo do meio” se deu pelo mesmo


motivo em que foram usadas por Renata Cabral, no primeiro texto?
Por quê?

15) No fim do texto, o autor reproduz alguns versos de uma letra de


Assis Valente. Qual o valor argumentativo que essa citação confere
ao texto?

16) Explique o emprego de aspas em “diplomatas” no último parágra-


fo, confrontando a “embaixadores informais”, no primeiro.

Em “Racismo no avião”, temos uma notícia e em “Nas asas de Tio


Sam”, um pequeno ensaio. Este último é considerado opinativo,
por isso fica mais marcado linguisticamente o comprometimento
do jornalista com as ideias que apresenta, com os argumentos que
defende.
Depois das leituras e de feitos os exercícios, confronte sua definição
de texto com a de especialistas na área de linguagem:

“(...) o texto pode ser considerado o próprio lugar da interação e da


constituição dos interlocutores. (...) Nessa perspectiva, o sentido
de um texto é construído na interação texto-sujeitos e não algo
que preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade
interativa altamente complexa de produção de sentidos.”

KOCH, I. e ELIAS, V. Ler e compreender: os sentidos do texto.


São Paulo: Contexto, 2006. p. 10-11

Até aqui tudo bem? E agora, você diria que temos a seguir um texto
também? Justifique sua opinião.

No entanto, se você soubesse que o material tivesse um título –


Apartheid – e um autor – Avelino de Araújo –, poderia mais facilmente
atribuir-lhe sentido, não é?
Precisamos ampliar nossa concepção de texto. Leia mais esta outra
definição abaixo e depois, com base nela, explique por que devemos
considerar intervenção urbana de Alexandre Orion, que a ela segue,
também um texto.

Um texto é um todo de sentido. Dizer que ele é um todo organiza-


do de sentido implica afirmar que o texto é um conjunto formado
de partes solidárias, ou seja, que o sentido de uma parte depende
de outras.
Prof. Dr. Luís Fiorin

Metabiótica – Alexandre Orion

Imagine esta mesma imagem sem o desenho no muro. Imagine-a


agora sem a presença do motociclista. Levando-se em conta a ima-
gem como se vê e que nada há no muro desenhado ou escrito além
do homem que parece estar voando, poderíamos considerar, nesse
caso, a foto um texto? Justifique sua resposta.

Como se pode perceber, não só as palavras, mas uma variada es-


pécie de materialidades pode vir a constituir um texto. Há inclusive
os que apresentam misturas delas, são os textos de natureza mul-
tissemiótica. Quem lida com a internet, quem frequenta exposições
sabe que os sentidos vêm-se construindo muitas vezes a partir da
articulação entre essas materialidades – como é o caso da arte de
Orion analisada anteriormente.

Especificamente no que se refere à imagem, temos as fotografias,


os cartuns, os quadrinhos e as tiras, as ilustrações dos livros infantis,
as charges, entre outros textos visuais ou mistos (os que misturam
palavra e imagem).
Texto pode ser também definido, segundo Fávero e Koch (1983),
a partir de duas perspectivas: (I) em sentido restrito, é compreen-
dido como manifestação verbal, oral ou escrito, isto é, atividade
comunicativa de um sujeito, em uma situação de comunicação
dada, englobando o conjunto de enunciado, dotado de coerência
e coesão; (II) em sentido amplo, é toda e qualquer manifestação
da capacidade textual do ser humano (música, filme, escultura,
poema, etc.) desde que tomada como atividade comunicativa.

17) Na imprensa, é muito comum que noticiário, editorial e charges


se inter-relacionem, remetendo a um mesmo fato. Nesse caso, qual
das charges em destaque poderia estar relacionada ao tema que o
texto verbal que segue trata? Justifique sua escolha.

www.chargeonline.com.br

- Entra! Entra! - Sai! Sai!


- Vou embora pra Pasargada!
- Lá sou amigo do rei!!

O Ministério Público Federal denunciou magistrados do TJ-ES (Tri-


bunal de Justiça) do Espírito Santo suspeitos de envolvimento em
um suposto esquema de venda sentenças. Além de juízes e desem-
bargadores, a denúncia apresentada pelo subprocurador-geral da
República, Carlos Vasconcelos, no último dia 5 inclui integrantes do
Ministério Público do Espírito Santo, advogados e empresários. Ao
todo, 26 pessoas foram acusadas de participação no esquema. A
denúncia indica a participação dos denunciados em um “esquema de
corrupção sem precedentes, que tinha por objeto a comercialização
de decisões judiciais”.
In Folha Online – 19/02/2010
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Embora as charges sempre remetam a um fato normalmente já noti-


ciado antes, isso não quer dizer que ela seja a representação desse
fato. Pelo contrário, trata-se de sua leitura crítica, na verdade uma
releitura do fato, em que o autor assume uma posição diante dele.
Logo, nesse caso, a imagem não é uma tradução do escrito.

Em certos casos, pode-se afirmar isso até de fotos jornalísticas. Ob-


serve como a foto seguinte pode ter encaminhado o leitor para senti-
dos diferentes dos expressos na notícia, cujo título era Malan vê FMI
com tranquilidade. A propósito, convém refletir:

“A palavra fala da imagem, a des-


creve e traduz, mas jamais revela sua
matéria visual. Por isso mesmo, ‘uma
imagem não vale mil palavras, ou ou-
tro número qualquer’. A palavra não
pode ser a moeda de troca das ima-
gens. É a visibilidade que permite a
existência, a forma material da ima-
gem e não a sua co-relação com o
verbal.
“A não correlação com o verbal,
porém, não descarta o fato de que a
imagem pode ser lida. Propriedades
como a representatividade, garantida
pela referencialidade, sustentam, por
um lado, a possibilidade de leitura da
imagem, e, por outro, reafirmam o seu
status de linguagem.”

SOUZA, Tânia C. C. A análise do não verbal e os usos nos meios


de comunicação. In RUA. Revista do Núcleo de Desenvolvimento
da Criatividade da Unicamp. Unicamp 2001, nº 7. pp. 69

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