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GUIMARÃES ROSA – SAGARANA.

Segundo Afrânio Coutinho.


João Guimarães rosa (Cordisburgo, MG, 1908-RJ 1967) fez as primeiras letras na
cidade natal. Cursou faculdade de Medicina formando –se em 1930 , Em 1934 Rosa já
escrevia seus contos,
Guimarães Rosa encontra-se na época do Instumentalismo, onde reúnem se
escritores a partir de 1945, ficcionistas e também poetas onde a preocupação seria
retratar a realidade regional como instrumento de trabalho, porém Guimarães não o
retratava incorporava essa realidade em suas obras.
Segundo Afrânio Coutinho, a prosa de Guimarães vem com uma numerosa
multiplicidade te timbres, ritmos e acordes. Sua obra teve desdobramento na última fase
, a fase do regionalismo pitoresco, da fotografia do documento, que foi dos regionalistas
do século XIX sob a estética do realismo, a que sucedeu o regionalismo de cunho social
do modernismo e veio seguir-se com Guimarães Rosa com o uso do material de origem
regional para uma interpretação mítica da realidade através de símbolos e mitos da
vaidade universal, experiência humana meditada e recriada mediante uma revolução
formal e estilística.
Nessa época o conto sofreu radicais transformações dentro da estética modernista.
Novas dimensões foram introduzidas, além do enriquecimento temático devido à
contribuição regional. O relato seguido e objetivo, com sua estrutura de começo meio e
fim e a narrativa mantida pelo suspense, cedeu pouco a pouco o paço a simples
evocação, ao instantâneo fotográfico, aos episódios ricos de sugestão, aos flagrantes de
atmosfera intensamente poéticas, e aos casos densos de significação humana.
Sua época foi chamada de REVOLUÇÃO ROSIANA onde ressurgiu a complexa
estrutura formal e o Estilo In Opere, esse estilo fizera explodir a linguagem
consuetudinária, desarticulando a sintaxe tradicional, subvertendo a semântica
dicionarizada, fazendo ir pelos ares tudo quanto havia de estratificado em nossa dicção
literária.
As obras eram baseadas na qualidade fônica dos textos literários geradas pelo uso de
aliterações, assonâncias e coliterações. A língua Roseana deixou de ser unidimensional ,
converteu-se em idioma no qual os objetos flutuam numa atmosfera em que os
significados de cada coisa está em continua mutação, a exemplo pode se citar as
numerosas cargas semânticas para a palavra sertão: realidade geográfica, social ,
política, dimensão folclórica, psicológica , metafísica, infinitas possibilidades
significativas.
Assim a revolução Roseana consistiu em romper dialeticamente a forte tradição da
inteligência brasileira.
Há em suas obras constantes referencia a religião, nela há a busca da santidade do
homem, e os valores mais presentes são a coragem, alegria e o amor. Cabe lembrar a
mensagem na obra de Rosa , que focava-se na denuncia da miséria brasileira mostrada
de uma modo como nenhum outro autor foi capaz de expor, pois ele vivia a realidade do
seu sertão . Guimarães ainda acreditava no poder da arte para transformar o individuo, e
seu desejo era de que a poesia fosse incorporada à vida humana e não vivesse apenas no
papel, que a vida, ela mesma se transformasse num poema continuo numa realidade
encantatória.

SAGARANA.

Título constituído de um hibridismo “SAGA” radical germânico – criação verbal a


serviço do épico; “RANA” sufixo tupi-a maneira de.
Os textos de sagarana exemplificam bem o estilo inovador do autor, sua linguagem
inovadora, seus temas atrelados à vida rural de minas gerais, ele combina e recombina
habitualmente informações ao meio, confundindo lugares, paisagens, mesclando o real o
imaginário e o lendário em sua obra.
Em Sagarana Guimarães cria neologismos, utlizando-se de palavras formadas de
derivações prefixais, sufixais, parassintéticas e abreviações, composição por aglutinação
e justaposição, e como já dito cada uma delas leva a diversos significados, tendo de
utilizar muito da interpretação do leitor. Seus aspectos auditivos e visuais fazem um
verdadeiro arranjo sonoro com as palavras.
No conto “O DUELO” Rosa conta a história de Turíbio Todo, um seleiro “papudo”
que descobre a traição de sua mulher Dona Silivania com um ex militar Cassiano. Para
lavar sua honra, Turíbio resolve matar Cassiano, mas no ato, ele atira no homem errado,
ele mata o irmão de Cassiano que não tinha nada a ver com a desavença.
A partir daí começa a saga de Cassiano a perseguir Turíbio Todo que foge de arraial em
arraial esperando que seu inimigo se canse e morra devido a um problema de coração
que já tinha desde moço.
Essa perseguição acontece durante cinco meses e nela são citadas as cidades só
sertão do interior como Piedade do Bagre, Guaícui, Rio das Velhas, essas cidades eram
chamadas de arraial. Nesse tempo Cassiano conhece Canguinxo Timpim Vinte e Um e
acaba se tornando seu compadre devido a uma boa ação de Cassiano que salvou seu
filho, e por ironia do destino Cassiano acaba morrendo pelo problema no coração e nos
braços de seu compadre.
Turíbio ao saber do acontecido e contente arruma suas tralhas para voltar aos braços
de sua esposa, mas no meio do caminho, vem ao seu encontro um capialzinho que segue
viagem com ele e um determinado matagal o capialzinho se apresenta o Turíbio como o
compadre Vinte e Um de Cassiano e que estava ali para matá-lo devido à promessa feita
a Cassiano em seu leito de morte.
E assim a promessa foi cumprida. Turíbio leva dois tiros e Cassiano está vingado.
Durante a leitura percebemos muitas características Roseana. O mais presente delas
seria a questão da religiosidade, citada na parte em que Cassiano está no leito de morte:

“... Cassiano confessou-se , resmungou, recebeu o óleo santo , rezou, rezou...”.


“... Aí tomou a cara feliz, falou na mãe, apertou os dedos à medalhinha de Nossa
Senhora da Graças, morreu e foi para o céu...” (pág. 182).

E Turíbio prestes a morrer:


“... Pelo Amor da Virgem Santíssima. Não faça isso, Deus castiga...”.
“... Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo Amém! Padre Nosso...”.
“ A época se faz presente quando nos diálogos há a presença do pronome de tratamento
“nhor” e cita-se o dinheiro da época” contos de Réis”
“... Um barqueiro transportava animais e pessoas a quatrocentos réis por cabeça...”.
E também pela ação das pessoas onde a honra era lavada com sangue em uma terra
sem leis, tudo era resolvido à bala, principalmente no sertão em zona rural como era o
cenário da narrativa.
Durante todo o conto as características da linguagem são facilmente percebidas, a
orquestração a sinfonia está em toda a obra.
Aliterações e assonâncias:
“... para cima e para baixo, para o lado e não o escandaloso, papo mola quando anda
pede esmola”... (pág. 157)
“... Veio encontrá-la em pleno adultério, no mais doce dado e descuidoso dos exílios
fraudulentos...”.
Neologismos:
Turíbio Todo, Canguinxo Timpim Vinte e UM.
Derivações e composições:
Matungo, ajumentado, estrompado, quatrolho, quatrolho.
Vocabulário típico da região:
“... Aquerenciado com saudades da mulher”.
“Riba rio”
“... Não vê! Quem fica no claro é enxergado mais primeiro...”.
Algo que chama muita a atenção é o fato do autor comparar os olhos de Silivania com
os de cabra tonta:
“... Tinha grandes olhos bonitos de cabra tonta...”.
E por fim o uso de reticências dando a impressão de continuidade, pois um conto
vou causo contado nunca tem fim, quem conta um conto, aumenta um ponto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

• Rosa, João Guimarães. Sagarana, editora. Nova Fronteira, 28ª ed, RJ- 1984.

• Coutinho, Afrânio. A Literatura no Brasil, editora Global, 7ª ed, São Paulo-


2004.

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