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Adultos [4]
1) OBJETIVO
O objetivo do trabalho, sob a forma de uma revisão sobre o tema, é chamar a atenção
sobre essa entidade clínica, o Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade
(TDA/H). Esse distúrbio não raramente deixa de ser diagnosticado, ou torna-se mesmo
alvo de mitos e má-informação, embora venha despertando grande interesse no meio
científico de outros países, particularmente nos Estados Unidos, onde se realizam
congressos anuais específicos sobre esse assunto, e onde um número apreciável de
trabalhos científicos tem sido publicado em revistas especializadas.
O artigo também pretende abordar as manifestações clínicas no adulto, uma vez que
nessa faixa etária esse transtorno é ainda mais raramente diagnosticado. Até a década de
80 acreditava-se que o TDA/H era um distúrbio restrito à infância, com remissão
espontânea do quadro até o final da adolescência. Como conseqüência da não
identificação, as manifestações desses pacientes são muitas vezes confundidas com
outras entidades clínicas psiquiátricas, ou apenas se diagnosticam as condições
comórbidas, já que freqüentemente, como veremos adiante, o TDA/H tende a apresentar
um elevado índice de comorbidade.
2) IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
A maioria dos adultos com TDA/H são inquietos, facilmente distraídos, têm dificuldade
em manter a atenção e se concentrar, são impulsivos, impacientes, sofrem freqüentes
oscilações do humor, apresentam acessos passageiros de mau humor, são muito
desorganizados e não conseguem fazer planejamentos, ou se os fazem, não conseguem
segui-los. Com freqüência têm dificuldades profissionais. Às vezes podem perder o
emprego devido ao mau desempenho, à falta de atenção, à desorganização no trabalho,
ou devido a dificuldades no relacionamento. Outras vezes simplesmente se
desinteressam e abandonam o trabalho por sentirem tédio. Costumam ser maus
motoristas, e por isso mais sujeitos a acidentes automobilísticos. Gestações precoces,
divórcios e separações múltiplas são ocorrências observadas na curva de vida dessas
pessoas.
3) INTRODUÇÃO
A primeira descrição dessa condição data de 1902, quando um médico inglês, George
Still, descreveu um conjunto de alterações de comportamento em crianças, as quais,
segundo ele, não podiam ser explicadas por falhas ambientais, mas se deviam a algum
processo biológico desconhecido até então.
Entre 1916 e 1927 nova onda de interesse por esse quadro clínico surgiu graças à
observação de manifestações semelhantes em crianças que foram acometidas pela
encefalite epidêmica de Von Economo. Os adultos que tinham sofrido dessa encefalite
desenvolviam como seqüela um quadro parkinsoniano, ao passo que as crianças
passavam a mostrar um quadro de hiperatividade e alterações do comportamento.
4) QUADRO CLÍNICO
É curioso observar que as denominações do transtorno têm migrado ao longo dos anos
da ênfase na hiperatividade (Transtorno Hiperativo) para a ênfase na desatenção
(Transtorno do Déficit de Atenção) e pode-se supor se irá migrar para uma
denominação que ponha a ênfase na dificuldade do autocontrole.
quando vai falar ou fazer alguma coisa, se houver uma breve interrupção, já
não se recorda mais do que ia dizer ou fazer.
mostra necessidade de estar sempre ocupado com alguma coisa, com frequência
está preocupado com algum problema seu ou de outra pessoa.
fala quase sem parar, e tem tendência a monopolizar as conversas. Nem sempre
controla o voluma da voz.
costuma fazer diversas coisas ao mesmo tempo, como, por exemplo, ler vários
livros.
As características das pessoas com TDA/H no que diz respeito ao déficit de controle
dos impulsos são:
dirige perigosamente
tem um mau humor fácil (diz-se que parece, seja homem ou mulher, estar
sempre no período pré-menstual).
Podemos agrupar uma série de características dos adultos com TDA/H como Sintomas
Associados ou Secundários, traços comumente apresentados por essas pessoas e que,
pelo menos em parte, são as conseqüências de anos de insucesso e dificuldades nos
relacionamentos gerados pelas características peculiares do distúrbio de que padecem
crônicamente, e quase sempre sem ser tratado. Algumas vezes esses traços secundários
acabam se tornando mais proeminentes que os sintomas centrais (desatenção,
hiperatividade e impulsividade), o que confirma a idéia que o TDA/H não é um
transtorno benigno. Depois de alguns anos com o transtorno, o tratamento pode trazer
melhoras naqueles sintomas nucleares, mas nem sempre produz melhoras imediatas
nessas “cicatrizes”. Alguns desses sintomas secundários são:
depressões freqüentes
Outras características:
caligrafia ruim
dificuldades de coordenação
1 - Desatenção
A pessoa deve apresentar seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção
persistentes por no mínimo 6 meses em um grau que compromete a adaptação e que é
incompatível com o nível de desenvolvimento:
(a) freqüentemente não presta muita atenção nos detalhes ou comete erros por descuido
nos deveres escolares, no trabalho, ou em outras atividades.
(d) freqüentemente não obedece as instruções passo a passo e não completa deveres,
ou tarefas no trabalho (sem ser devido a um comportamento de oposição ou por uma
dificuldade de entender as instruções)
(g) freqüentemente perde objetos necessários para suas atividades, por exemplo,
brinquedos, deveres escolares, lápis, livro, óculos, celular, etc.
2 - Hiperatividade - Impulsividade
São necessários seis ou mais dos seguintes sintomas persistentes por no
mínimo 6 meses em grau que compromete a adaptação e é incompatível com o nível de
desenvolvimento:
Hiperatividade:
Impulsividade:
(i) freqüentemente interrompe ou se intromete na fala dos outros (por exemplo, invade
conversa ou jogos de outros).
A. Presença de seis (ou mais) dos sintomas de desatenção e/ou seis (ou mais) de
hiperatividade-impulsividade, por pelo menos seis meses, em grau mal-adaptativo
e inconsistente com o nível de desenvolvimento.
C. Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos
(escola, casa, trabalho).
TDA/H sem outras especificações (TDA/H-SOE), para os casos que mostram alguns
dos traços citados, porém sem satisfazer os critérios de desatenção nem de
hiperatividade-impulsividade, mas que apresentam um comprometimento funcional em
mais de uma área da vida.
Pela leitura do que está acima podemos concluir, como foi dito anteriormente, que
esses critérios se prestam melhor para o diagnóstico em crianças e adolescentes,
enquanto carecem de uma melhor caracterização das manifestações no adulto, o que
pode estar contribuindo para uma maior dificuldade em fazer o diagnóstico nessa
faixa etária (Barkley, 1997). Esse autor costuma dizer que o adulto não supera o
TDA/H que apresentava na infância, mas sim que ele supera os critérios do DSM-IV. É
possível que as futuras revisões do DSM corrijam essa falha.
6) DIAGNÓSTICO
Existe um consenso entre a grande maioria dos autores que o diagnóstico do TDA/H é
clínico, ou seja, baseia-se fundamentalmente na avaliação clínica, sendo essencial a
colheita de uma detalhada história do desenvolvimento, com especial ênfase para o
período escolar. Sempre que possível devem ser entrevistados um ou mais membros da
família do paciente, ou mesmo outras pessoas que convivam de perto com ele, pois é
bastante comum a falta de insight desses pacientes, em parte pelo menos devido ao
fato de o TDA/H ser uma condição que perdura desde quase o inicio da vida.
Especialmente deve ser investigada, como foi dito acima, a vida escolar dessas
pessoas, embora não seja raro a pessoa bem dotada intelectualmente compensar o
déficit da atenção e ter bom rendimento nos estudos. Cabe lembrar que o transtorno
não impede de forma absoluta a concentração, assim é que certas pessoas são capazes
de bom desempenho, por exemplo, na área profissional, até devido ao alto grau de
interesse, mas em todos os outros momentos a atenção falha desastradamente.
Também cabe lembrar que, como com qualquer outro distúrbio, existe a possibilidade
de uma gama variável de intensidade do quadro clínico, indo desde casos leves ou
discretos até casos graves com intenso comprometimento funcional. Thomas Brown
menciona a possibilidade de crianças com TDA/H terem um bom rendimento escolar
enquanto estão sendo permanentemente monitoradas por um pai ou mãe muito
presentes, mas essa dificuldade tornar-se patente assim que precisam se afastar de
casa.
Importante para o diagnóstico lembrar que o TDA/H é uma condição que acompanha a
pessoa desde os primeiros anos de vida, portanto ninguém adquire TDA/H na idade
adulta. Dito de outra forma, a pessoa “é” portadora de TDA/H, jamais “adquire”
TDA/H na vida adulta. Entretanto, algumas pessoas com TDA/H menos intenso,
somente em idade mais adulta frente a um incremento das demandas, devido à maior
complexidade das tarefas, passam a apresentar as manifestações do transtorno que
vinha até então mais ou menos silencioso ou subclínico. Fato semelhante se passa com
algumas mulheres nos períodos de grandes transformações hormonais (puerpério,
menopausa).
Do que foi exposto, percebe-se que não existe sinal patognomônico de TDA/H, visto
que as características mencionadas desse distúrbio são inespecíficas, e além disso
comuns a todas as pessoas em algum grau ou durante períodos variáveis na vida de
muitos. A diferença é que a pessoa que padece desse problema
apresentahabitualmente as características citadas. Além disso, o conceito
de disfunção é fundamental quando pensamos em firmar um diagnóstico, o que
equivale a dizer que esses traços de comportamento, além de serem constantes ao
longo da vida, devem apresentar uma intensidade tal que comprometa o adequado
funcionamento da pessoa em várias áreas de sua vida. Outro critério importante é que
as manifestações apresentadas não possam ser atribuídas a nenhum outro transtorno
existente.
Da mesma forma que com relação a todos os demais transtornos, vale a pena ter em
mente a possibilidade da ocorrência de formas frustras do transtorno. O DSM-IV
reserva a denominação de TDA/H Sem Outra Especificação quando os sintomas não
são suficientes para atender os critérios diagnósticos mencionados. John Ratey aborda
essa questão no seu livro Shadow Syndromes (Síndromes Silenciosas).
O DSM, bem como o CID, tem por finalidade estabelecer critérios capazes de delimitar
as manifestações psicopatológicas, circunscrevendo-as dentro de determinados limites,
e assim estabelecer categorias diagnósticas. Dessa forma, guiando-se pelos critérios
que são propostos nesses manuais chegamos o ponto de dizer se uma pessoa apresenta
ou não determinado transtorno, caso ela preencha ou não os critérios diagnósticos
estabelecidos. Todavia, como as características do TDA/H também fazem parte da vida
psíquica normal, embora em menor intensidade, pode-se dizer que ao invés de uma
categoria qualitativamente diferente, esse transtorno representa um extremo de uma
dimensão do existir psíquico. Tomemos, por exemplo, uma categoria física, como a
gravidez. Ou a pessoa está grávida, ou não está. Não existe meio termo. No caso de
uma dimensão, o que existe é um continuum entre um ponto extremo ao ponto extremo
oposto, situando-se todos os casos ao longo dessa linha estendida entre os dois
opostos. O TDA/H é mais adequadamente entendido como um acontecimento psíquico
que merece um diagnóstico dimensional, e não categorial. Todavia, o DSM, da mesma
forma que o CID, pretende dar a ele um tratamento de categoria e não de dimensão.
7) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
d - Esquizofrenias larvadas
8) COMORBIDADE
a – Transtornos do Aprendizado
b – Tiques e Tourette
c - Transtornos depressivos, geralmente a distimia (secundária) ou quadros
depressivos intermitentes.
9) ETIOLOGIA
Estudos diversos com gêmeos e com crianças adotadas evidenciam que se trata de um
distúrbio genético. Na prática clínica, não é raro evidenciarmos esse fato ao
atendermos uma pessoa com TDA/H e a história familiar mostrar a ocorrência do
mesmo distúrbio em algum dos pais ou irmãos.
Características Diagnósticas
A característica essencial do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é um padrão persistente de
desatenção e/ou hiperatividade, mais freqüente e severo do que aquele tipicamente observado em indivíduos
em nível equivalente de desenvolvimento (Critério A). Alguns sintomas hiperativo-impulsivos que causam
prejuízo devem ter estado presentes antes dos 7 anos, mas muitos indivíduos são diagnosticados depois, após a
presença dos sintomas por alguns anos (Critério B).
Algum prejuízo devido aos sintomas deve estar presente em pelo menos dois contextos (por ex., em casa e na
escola ou trabalho) (Critério C). Deve haver claras evidências de interferência no funcionamento social,
acadêmico ou ocupacional apropriado em termos evolutivos (Critério D). A perturbação não ocorre
exclusivamente durante o curso de um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro
Transtorno Psicótico e não é melhor explicada por um outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor,
Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou Transtorno da Personalidade) (Critério E).
A desatenção pode manifestar-se em situações escolares, profissionais ou sociais. Os indivíduos com este
transtorno podem não prestar muita atenção a detalhes ou podem cometer erros por falta de cuidados nos
trabalhos escolares ou outras tarefas (Critério A1a). O trabalho freqüentemente é confuso e realizado sem
meticulosidade nem consideração adequada. Os indivíduos com freqüência têm dificuldade para manter a
atenção em tarefas ou atividades lúdicas e consideram difícil persistir em tarefas até seu término (Critério A1b).
Eles freqüentemente dão a impressão de estarem com a mente em outro local, ou de não escutarem o que
recém foi dito (Critério A1c).
Pode haver freqüentes mudanças de uma tarefa inacabada para outra. Os indivíduos diagnosticados com este
transtorno podem iniciar uma tarefa, passar para outra, depois voltar a atenção para outra coisa antes de
completarem qualquer uma de suas incumbências. Eles freqüentemente não atendem a solicitações ou
instruções e não conseguem completar o trabalho escolar, tarefas domésticas ou outros deveres (Critério A1d).
O fracasso para completar tarefas deve ser considerado, ao fazer o diagnóstico, apenas se ele for devido à
desatenção, ao invés de outras possíveis razões (por ex., um fracasso para compreender instruções).
Esses indivíduos com freqüência têm dificuldade para organizar tarefas e atividades (Critério A1e). As tarefas
que exigem um esforço mental constante são vivenciadas como desagradáveis e acentuadamente aversivas. Por
conseguinte, esses indivíduos em geral evitam ou têm forte antipatia por atividades que exigem dedicação ou
esforço mental prolongados ou que exigem organização ou concentração (por ex., trabalhos escolares ou
burocráticos) (Critério A1f). Esta evitação deve ocorrer por dificuldades da pessoa com a atenção, e não devido
a uma atitude oposicional primária, embora uma oposição secundária possa também ocorrer.
Nas situações sociais, a desatenção pode manifestar-se por freqüentes mudanças de assunto, falta de atenção
ao que os outros dizem, distração durante as conversas e falta de atenção a detalhes ou regras em jogos ou
atividades.
A hiperatividade pode manifestar-se por inquietação ou remexer-se na cadeira (Critério A2a), por não
permanecer sentado quando deveria (Critério A2b), por correr ou subir excessivamente em coisas quando isto é
inapropriado (Critério A2c), por dificuldade em brincar ou ficar em silêncio em atividades de lazer (Critério A2d),
por freqüentemente parecer estar "a todo vapor" ou "cheio de gás" (Critério A2e) ou por falar em excesso
(Critério A2f). A hiperatividade pode variar de acordo com a idade e nível de desenvolvimento do indivíduo,
devendo o diagnóstico ser feito com cautela em crianças pequenas. Os bebês e pré-escolares com este
transtorno diferem de crianças ativas, por estarem constantemente irrequietos e envolvidos com tudo à sua
volta; eles andam para lá e para cá, movem-se "mais rápido que a sombra", sobem ou escalam móveis, correm
pela casa e têm dificuldades em participar de atividades sedentárias em grupo durante a pré-escola (por ex.,
para escutar uma estória).
As crianças em idade escolar exibem comportamentos similares, mas em geral com menor freqüência ou
intensidade do que bebês e pré-escolares. Elas têm dificuldade para permanecer sentadas, levantam-se com
freqüência e se remexem ou sentam-se na beira da cadeira, como que prontas para se levantarem. Elas
manuseiam objetos inquietamente, batem com as mãos e balançam pernas e braços excessivamente. Com
freqüência se levantam da mesa durante as refeições, enquanto assistem televisão ou enquanto fazem os
deveres de casa; falam em excesso e podem fazer ruídos demasiados durante atividades tranqüilas.
Outros podem queixar-se de dificuldade para se expressar adequadamente. Os indivíduos com este transtorno
tipicamente fazem comentários inoportunos, interrompem demais os outros, metem-se em assuntos alheios,
agarram objetos de outros, pegam coisas que não deveriam tocar e fazem palhaçadas.
A impulsividade pode levar a acidentes (por ex., derrubar objetos, colidir com pessoas, segurar inadvertidamente
uma panela quente) e ao envolvimento em atividades potencialmente perigosas, sem consideração quanto às
possíveis conseqüências (por ex., andar de skate em um terreno extremamente irregular).
Os sintomas tipicamente pioram em situações que exigem atenção ou esforço mental constante ou que não
possuem um apelo ou novidade intrínsecos (por ex., escutar professores, realizar deveres escolares, escutar ou
ler materiais extensos ou trabalhar em tarefas monótonas e repetitivas). Os sinais do transtorno podem ser
mínimos ou estar ausentes quando o indivíduo se encontra sob um controle rígido, está em um contexto novo,
está envolvido em atividades especialmente interessantes, em uma situação a dois (por ex., no consultório do
médico) ou enquanto recebe recompensas freqüentes por um [79]comportamento apropriado.
Os sintomas são mais prováveis em situações de grupo (por ex., no pátio da escola, sala de aula ou ambiente de
trabalho). O clínico deve indagar, portanto, acerca do comportamento do indivíduo em uma variedade de
situações, dentro de cada contexto.
Subtipos
Embora a maioria dos indivíduos apresente sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade-
impulsividade, existem alguns indivíduos nos quais há predominância de um ou outro padrão. O subtipo
apropriado (para um diagnóstico atual) deve ser indicado com base no padrão predominante de sintomas nos
últimos 6 meses.
Procedimentos de Registro
Os indivíduos que em um estágio anterior do transtorno tinham o Tipo Predominantemente Desatento ou o Tipo
Predominantemente Hiperativo-Impulsivo podem vir a desenvolver o Tipo Combinado, e vice-versa. O subtipo
apropriado (para um diagnóstico atual) deve ser indicado com base no padrão sintomático predominante nos
últimos 6 meses.
Caso persistam sintomas clinicamente significativos mas os critérios não mais sejam satisfeitos para qualquer
dos subtipos, o diagnóstico apropriado é Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Em Remissão Parcial.
Quando os sintomas de um indivíduo não satisfazem, atualmente, todos os critérios para o transtorno e não está
claro se eles alguma vez foram satisfeitos, deve-se diagnosticar Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
Sem Outra Especificação.
As realizações acadêmicas em geral estão prejudicadas e insatisfatórias, tipicamente ocasionando conflitos com
a família e autoridades escolares. A insuficiente dedicação às tarefas que exigem esforço constante
freqüentemente é interpretada pelos outros como sinal de preguiça, um fraco senso de responsabilidade e
comportamento de oposição.
Uma parcela substancial das crianças encaminhadas a clínicas por Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade também tem Transtorno Desafiador de Oposição ou Transtorno da Conduta. É possível
que haja uma prevalência superior de Transtornos do Humor, Transtornos de Ansiedade, Transtornos da
Aprendizagem e Transtornos da Comunicação em crianças com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
O transtorno não é infreqüente entre indivíduos com Transtorno de Tourette; quando os dois transtornos
coexistem, o início do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade freqüentemente precede o início do
Transtorno de Tourette. Pode existir uma história de abuso ou negligência à criança, múltiplas colocações em
lares adotivos, exposição a neurotoxinas (por ex., envenenamento por chumbo), infecções (por ex., encefalite)
exposição a drogas in útero, baixo peso ao nascer e Retardo Mental.
É especialmente difícil estabelecer o diagnóstico em crianças com menos de 4 ou 5 anos, pelo fato de seu
comportamento característico ser muito mais variável do que o de crianças mais velhas e incluir, possivelmente,
aspectos similares aos sintomas do transtorno. Além disso, em geral é difícil observar sintomas de desatenção
em bebês e crianças pré-escolares, porque as crianças jovens tipicamente sofrem poucas exigências de atenção
prolongada. Entretanto, mesmo a atenção de criança pequenas pode ser mantida em uma variedade de
situações (por ex., a criança típica de 2 ou 3 anos de idade em geral consegue ficar sentada com um adulto,
olhando livros de figuras).
Em comparação, crianças pequenas com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade movem-se
excessivamente, sendo em geral difícil contê-las. Indagar sobre uma ampla variedade de comportamentos em
uma criança pequena pode ser útil para assegurar-se da obtenção de um quadro clínico completo. À medida que
as crianças amadurecem, os sintomas geralmente se tornam menos conspícuos. Ao final da infância e início da
adolescência, os sinais de excessiva atividade motora ampla (por ex., correr ou escalar excessivamente, não
conseguir permanecer sentado) passam a ser menos comuns, podendo os sintomas de hiperatividade limitar-se
à inquietação ou uma sensação íntima de agitação ou nervosismo.
Em crianças em idade escolar, os sintomas de desatenção afetam o trabalho em sala de aula e o desempenho
acadêmico. Os sintomas de impulsividade também podem levar ao rompimento de regras familiares,
interpessoais e educacionais, especialmente na adolescência. Na idade adulta, a inquietação pode ocasionar
dificuldades ao participar de atividades sedentárias e a evitação de passatempos ou ocupações que oferecem
limitadas oportunidades para movimentos espontâneos (por ex., trabalhos burocráticos).
O transtorno é muito mais freqüente no sexo masculino, com as razões masculino-feminino sendo de 4:1 a 9:1,
dependendo do contexto (isto é, população geral ou clínicas).
Prevalência
A prevalência do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é estimada em 3-5% entre as crianças em
idade escolar. Existem poucos dados sobre a prevalência na adolescência e idade adulta.
Curso
A maioria dos pais observa pela primeira vez o excesso de atividade motora quando as crianças ainda estão
engatinhando, freqüentemente coincidindo com o desenvolvimento da locomoção independente. Entretanto,
uma vez que muitos bebês hiperativos não desenvolvem o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade,
deve-se ter cautela ao fazer este diagnóstico em uma idade muito precoce. Geralmente, o transtorno é
diagnosticado pela primeira vez durante as primeiras séries, quando o ajustamento à escola está comprometido.
Na maioria dos casos observados nos contextos clínicos, o transtorno é relativamente estável durante o início da
adolescência. Na maioria dos indivíduos, os sintomas atenuam-se durante o final da adolescência e idade adulta,
embora uma minoria dessas pessoas experiencie o quadro sintomático completo de Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade até os anos intermediários da idade adulta. Outros adultos podem reter alguns dos
sintomas, aplicando-se nestes casos um diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Em
Remissão Parcial. Este diagnóstico aplica-se aos indivíduos que não mais têm o transtorno com todos os seus
aspectos característicos, mas ainda retêm alguns sintomas que causam prejuízo funcional.
Padrão Familial
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é encontrado com maior freqüência nos parentes biológicos
em primeiro grau de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
Os estudos também sugerem que existe uma prevalência superior de Transtornos do Humor e de Ansiedade,
Transtornos da Aprendizagem, Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtorno da Personalidade Anti-
Social nos membros das famílias de indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
Diagnóstico Diferencial
Na infância, pode ser difícil distinguir entre os sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e
comportamentos apropriados à idade em crianças ativas (por ex., correrias e barulho excessivo).
Os sintomas de desatenção são mais comuns entre crianças com baixo QI colocadas em contextos escolares em
desacordo com sua capacidade intelectual. Esses comportamentos devem ser diferenciados de sinais similares
em crianças com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
Complicando o diagnóstico diferencial está o fato de que alguns indivíduos com Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade desenvolvem atitudes oposicionais secundárias em relação a essas tarefas e
desvalorizam sua importância, freqüentemente como uma racionalização para seu fracasso.
Inteligência e TDAH
Algumas pesquisas de mapeamento cerebral mostram que os portadores de TDAH tem um desenvolvimento das
áreas que corrrespondem a cognição preservadas. Porém em testes de Q.I estas mesmas pesquisas
demonstraram uma queda de 7 a 10 pontos e,Segundo RUSSEll (2002), esta baixa reflete, muito provavelmente,
os problemas secundários impostos pela condição de TDAH e não propriamente o comprometimento da
inteligência.
Aliás, a inteligência preservada dessas crianças, por muitas vezes acabam por dificultar o diagnóstico do
transtorno, uma vez que alguns profissionais só o consideram quando, somada as características peculiares, a
criança apresenta também dificuldades para atingir a media escolar e quando isso não ocorre o diagnóstico não
é feito e assim por conseguinte o tratamento também não acontece, postergando então, qualquer possibilidade
de melhora dos sintomas.
Ouso ainda dizer que os potadores de TDAH parecem ter um nível de criatividade acima da média e para
conhecer mais sobre este assunto, leia o artigo: TDAH: um transtorno ou uma alta habilidade?