No que se refere à ação penal, cabe conceituá-la, enquanto direito
público subjetivo, como direito de postular perante o Estado-Juiz, o qual se coloca na condição de sujeito passivo, a aplicação do dispositivo de direito material penal incidente sobre o caso concreto, cabendo ainda, falar-se em direito subjetivo do órgão-acusatório estatal, Estado-Administração, ou ainda, do particular, enquanto titular da iniciativa de provocação ao poder- dever de punir inerente a própria condição do órgão de jurisdição.
Por conta do fato, verifica-se claramente a associação do instituto aos
termos do art. 5º, inciso XXXV, da C.F/88, na medida em que se constitui a ação penal na forma a partir da qual provocado o órgão de jurisdição, no sentido de proceder à aplicação do direito ao caso concreto, valendo-se para tanto do devido processo legal.
Desta forma, é possível definir ainda, a ação penal, como sendo o
direito do Estado-Acusação ou da vítima de ingressar em Juízo, requerendo a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito material penal, ao caso concreto.
Daí, apresentar a mesma determinadas características, tais como,
constituir-se em direito autônomo, na medida em que se encontra este destacado da relação jurídica material que se desenvolve fora do processo, fato confirmado a partir da constatação da existência das ditas ações declaratórias, cuja representação encontra-se no âmbito do processo penal, relacionada a figura do “Habeas Corpus”, na forma do art. 648, VI e VII, do CPP, utilizando-se o direito processual como forma de veiculá-lo; em direito abstrato, na medida em que reconhecida com relação ao instituto a prevalência da “teoria da ação enquanto direito autônomo e abstrato”, haja vista que não se reconhece a existência de qualquer garantia com relação ao resultado final; direito subjetivo, na medida em que haverá de dirigir-se o órgão-acusatório ao Estado-Juiz, na condição de sujeito passivo, no sentido da prestação jurisdicional devida, justificado o fato nos termos do art. 5º, inciso XXXV, da C.F/88, destacando-se não se tratar de condição absoluta, haja vista a mitigação ao princípio da obrigatoriedade de acordo com o que prevê o art. 28, do CPP; e por fim, enquanto direito público, pois, a atividade invocada decorre de uma das funções estatais, no caso a judiciária ou jurisdicional, buscada, de regra, pelo Estado-Administração.
Assim, verifica-se ao par da tradicional divisão das ações de acordo
com o tipo de provimento jurisdicional invocado, quais sejam de conhecimento, sub-dividindo-se a mesma em condenatória, constitutiva e declaratória, sendo esta positiva ou negativa; cautelar ou ainda, de execução, sub-dividida em executória e executiva, próprias do processo civil, que se reconhece com relação a teoria geral da ação penal a classificação considerando o aspecto subjetivo, ou da classificação subjetiva, associado a existência da condição de titularidade, pela qual se verifica a sub-divisão em ação penal pública incondicionada, condicionada, exclusivamente privada ou privada propriamente dita e privada subsidiária da pública, além da privada personalíssima, a qual subsiste em uma única hipótese no ordenamento, qual seja aquela tratada pelo art. 236, do CP, sendo certo que a lei a declara de regra, pública, admitindo em hipóteses nas quais se verifica verdadeira forma de substituição processual, a iniciativa privada, nos termos do art. 100, § 2º, do CP, 29 e 30, do CPP.
Desta forma, se verifica que a ação penal pública, encontra sub-
divisão em ação penal pública incondicionada e condicionada, quando no primeiro caso, independente o MP de qualquer forma de condição estabelecida por lei, enquanto “condição de procedibilidade”, procedendo o órgão estatal a persecução penal através da direta propositura da mesma, bastando para tanto a presença das condições da ação e dos pressupostos processuais, enquanto que na segunda hipótese, há justamente a existência de condicionante à iniciativa do parquet, na forma de representação do ofendido ou de seu representante legal, quando faltarem ao primeiro condições de agir em nome próprio, ou ainda, diante de requisição do Ministro da Justiça, onde couber.
Como princípios norteadores da ação penal pública incondicionada,
destacam-se os princípios da obrigatoriedade ou da legalidade, de acordo com o qual se identificados indícios de autoria e materialidade, não pode o MP recusar-se a dar início da ação penal, na medida em que os delitos não podem restar impunes, delicta maneant impunita, não se constituindo em hipótese de exceção a transação penal contemplada pelo art. 76, da Lei 9.099/95, pois efetivamente se constitui em satisfação a sociedade, haja vista a imposição imediata de pena não-privativa de liberdade, verificando- se ainda, que há correspondência a regra até mesmo no arquivamento dos autos do inquérito policial, art. 28, do CPP,haja vista que dependerá da anuência do órgão de jurisdição na condição imprópria de fiscal da aplicação do referido princípio, no caso mitigado; princípio da indivisibilidade, pelo que diz respeito ao dito princípio, malgrado as opiniões manifestadas por Capez e Tourinho Filho, verifica-se que haverá o mesmo de prevalecer somente nos casos dos crimes de ação penal privada, pelo que prevê o art. 48, do CPP, preponderando à posição assumida por Mirabete, de acordo com o qual há em verdade no caso da ação penal pública incondicionada, o princípio da divisibilidade, no que fora acompanhado pela jurisprudência predominante, sendo que o MP pode optar por processar apenas, um dos ofensores, diante da necessidade de que sejam coletados elementos adicionais com relação aos demais; princípio da indisponibilidade, de acordo com o qual como conseqüência, inclusive, do princípio da obrigatoriedade, se impositiva a propositura da ação penal pública, não haveria de se admitir que posteriormente pudesse o órgão de acusação da mesma desistir posteriormente, dispondo expressamente a respeito o art. 42, do CPP.
Pelo que diz respeito à ação penal pública condicionada, verifica-se a
incidência dos termos do art. 38, do CPP, de acordo com o qual decairá do direito de queixa ou de representação, em especial, o ofendido ou seu representante legal, no prazo de 06 (seis) meses a contar de regra, da data em que vier a saber quem é o autor do crime, sendo certo que tal prazo por tratar-se de prazo decadencial, não estará sujeito a interrupção por força de feriados, fins de semana, férias forenses ou qualquer outro motivo de força maior.
Com relação à representação, sobre a qual dispõe o art. 39, do CPP,
verifica-se tratar-se de condição de procedibilidade, sem a qual no caso dos crimes de ação penal pública condicionada, não é dado ao MP atuar no sentido da propositura da mesma, dependendo o órgão de acusação, portanto, da manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal, não apresentando esta forma especial bastando para tanto que contenha ao menos implicitamente manifestação no sentido de que seja imposta sanção ao suposto autor do crime, a exemplo do que ocorre com o que se extrai de depoimento prestado perante a autoridade policial ou o simples boletim de ocorrência.
Há ainda, de se reconhecer que poderá a mesma vir a ser dirigida
tanto ao órgão de jurisdição, quanto ao MP ou ainda, a autoridade policial, enquanto destinatários, pelo que dispõe o caput do art. 39, caput, in fine, do CPP.
No que se refere aos termos do art. 38, do CPP, verifica-se que se
haveria de supor a existência de prazo ou legitimidade concorrente, ou seja, reconhecido tanto a um quanto a outro, ofendido e representante legal, em momentos idênticos e em igualdade de condições, o mesmo prazo, sendo certo que dirime eventual dúvida a respeito, aquilo sobre o qual dispõe a Súmula 594, do STF, no sentido de que se encontram reconhecidos dois prazos, autônomos e independentes, iniciando-se com relação ao representante legal enquanto menor de 18 (dezoito) anos a vítima, passando ao ofendido a partir da zero hora do dia em que este alcançar a maioridade.
Quanto à hipótese de retratação da representação, encontra-se
tacitamente prevista pelo art. 25, do CPP, significando com a compreensão devida, que considera o legislador ao afirmar que a “representação será irretratável após o oferecimento da denúncia”, a possibilidade de que venha o ofendido ou quem tenha capacidade de representá-lo, genitores, tutor ou curador, a desdizer-se, ou seja, voltando atrás na intenção claramente manifestada anteriormente, de ver processado o autor da infração, admitindo parte da doutrina, que possa haver inclusive, a retratação da retratação, desde que não esteja associada à mesma a iniciativa de má-fé, como no caso de chantagem ao infrator, desde que exercido o direito até o prazo para o oferecimento da denúncia.
No que se refere à ação penal pública condicionada, verifica-se que a
atuação do Ministério Público, encontra-se condicionada a manifestação do ofendido ou de seu representante legal, ou ainda, de requisição do Ministro da Justiça, passando a encontrar-se informada pelo princípio da indisponibilidade relacionado à ação penal pública incondicionada, após a devida manifestação daqueles retro-referidos, o qual haverá de sobrepor-se ao princípio da “disponibilidade” até aquela oportunidade prevalecente, na medida em que poderão decidir-se, ou não, os primeiros pela representação, assim como com relação ao órgão do executivo, por critério de conveniência política, caberá a requisição até a ocorrência das causas de extinção da punibilidade, sendo irrelevante qualquer tentativa de retratação após o oferecimento da denúncia.
Quanto à hipótese de retratação da requisição do Ministro da Justiça,
verifica-se que parcela considerável da doutrina, representada por Mirabete, Fernando Tourinho Filho e Rogério Lauria Tucci, posicionam-se de forma contrária, na medida em que dispondo o órgão do Executivo, de largo período de tempo, limitado apenas, pelo prazo de extinção da punibilidade, decerto estaria em condição de avaliar as vantagens e desvantagens do ato, sendo certo que tal circunstância forçaria a conclusão de que seria fruto da irreflexão, o que não se admite e não se deverá conceber.
De acordo com Guilherme Souza Nucci, tratam-se ambas de
modalidades de delatio criminis postulatória.
De acordo com o fato, constatado que há a existência de crimes que
ofendem a própria estrutura social, por conseqüência, o interesse geral, motivo pelo qual exigem resposta rigorosa de parte do Estado, enquanto que outros atingindo diretamente a esfera íntima do ofendido, tendo repercussão indireta com relação à coletividade, dependem de iniciativa do particular de maneira a que esteja viabilizada a iniciativa, que de qualquer sorte caberá ao parquet.
Assim, verifica-se que admitida ainda, a hipótese pela qual se
verifica verdadeira forma de “substituição processual”, no caso da ação penal privada, conforme reconhecem Capez, Frederico Marques e Fernando Tourinho Fiho, haja vista que a titularidade no que se refere a propositura da ação penal, pelo que dispõe o art. 100, do CP, parte final, caberá de regra ao Ministério Público, admitindo-se que excepcionalmente, possa ocupar a posição deste, o particular, hipótese a qual a primeira vista estaria vedada pelo que prevêem os termos da parte inicial do art. 6º, do CPC.
Desta forma, apresenta-se a ação privada, a qual inclusive,
encontrará sub-divisão na forma de ação exclusivamente privada ou propriamente dita, privada personalíssima e subsidiária da pública, regulada a ação privada de acordo com o art. 100, §§ 2º e 3º, do CP, art.s 29 e 30 do CPP e art. 5º, inciso LIX, da C.F/88.
Assim, encontra-se a ação privada regulada pelos princípios da
oportunidade ou da conveniência, em oposição ao princípio da obrigatoriedade a nortear a ação penal pública incondicionada, na medida em que o ofendido considerando o streptus judicii ou escândalo do processo, possa vir a decidir-se pela inconveniência da medida; pelo princípio da disponibilidade, de acordo com o qual se verifica que poderá o ofendido obstar o prosseguimento da ação penal a partir do “perdão”, tratado a partir do art. 51, do CPP, o qual equivale a desistência da demanda, que em sendo ato bilateral, importará necessariamente na aceitação do querelado, ainda, que tácita, pelo que dispõe o art. 58, parte final, do CPP, sendo que Edílson Mougenot, sustenta ainda, estarem inseridas no conceito de desistência, outrossim, a renúncia e a perempção, contempladas pelos art.s 48 e seg.s e 60, do CPP; princípio da indivisibilidade, consagrado nos termos do art. 48, do CPP, na verdade como dito em linhas anteriores de fato aplicável a ação penal privada, na medida em que obriga o querelante a ajuizar a ação penal contra todos os ofensores ou querelados, em caso de concurso, de maneira a evitar que o primeiro “escolha” aquele que deva ser punido, passando a condição inadequada de vingador, admitindo-se ainda, a possibilidade de obter vantagens em razão do fato, havendo de velar o MP pela observância do princípio, cabendo eventualmente aditar a queixa-crime, pelo que prevê o art. 45, do CPP, não de modo a incluir junto a mesma co-autor, o que teria cabimento em se tratando de ação penal privada subsidiária, pelo que dispõe o art. 29, do estatuto processual penal, mas, somente de maneira a corrigir determinada imperfeição, enquanto falha formal da peça apresentada, a exemplo, do que ocorrerá quando deixar o ofendido de fazer constar junto a peça de ingresso, determinada circunstância agravante, ou ainda, em caso da não inclusão pelo querelante junto ao pólo passivo da demanda de determinado querelado, destacando-se que, no caso de ignorar o querelante o dito princípio, haverá de ser provocado o competente aditamento no que diz respeito a inclusão do querelado ignorado, sob pena de que seja reconhecida mediante provocação do parquet, a hipótese de renúncia com relação a todos os ofensores, pelo que prevê o art. 49, do CPP, extinguindo-se assim a punibilidade com relação aos mesmos.
Desta forma, forçoso convir sujeitar-se outrossim a ação penal, as
“condições da ação” de modo geral aplicáveis aos diversos ramos do direito processual, voltadas para o desenvolvimento válido e regular da mesma, de maneira a que ao final possa vir a ocorrer a aguardada prestação jurisdicional (sentença de mérito), as quais acrescidas no processo penal, eventualmente das “condições de procedibilidade” mencionadas em linhas anteriores, dentre as quais destaca-se a representação do ofendido e a requisição do Ministro da Justiça, a ocorrer a última exemplificativamente pelo que dispõem os art.s 145, parágrafo único e 7º, § 3º, “b”, todos do CP.
Por conseqüência, apresentam-se a possibilidade jurídica do pedido,
o interesse de agir e legitimatio ad causam. No que se refere à possibilidade jurídica do pedido, ao contrário do que se aplica ao processo civil, no qual o conceito se apresenta eventualmente como parcialmente negativo, na medida em que o ordenamento estará prevendo expressamente a possibilidade de acolhimento do pedido em razão da existência de instrumento o qual haverá de viabilizar o encaminhamento do mesmo, como conseqüência, ou ao menos não o vede expressamente, como no caso da inexistência de obrigação ao pagamento por dívida de jogo, pelo que preceitua o art. 814, do CC, o que significa dizer que se encontra vedada a cobrança judicial relativa a mesma; no processo penal o conceito será sempre positivo, diante do reconhecimento necessário da “tipicidade da conduta”, de modo a permitir seja veiculado o pedido associado a possibilidade de imposição de sanção ao infrator, sob pena de sujeitar-se a rejeição da peça vestibular, pelo que dispôs o art. 43, inciso III, do CPP, revogado pela Lei 11.719/08, cujo texto transposto para o art. 395, II, do mesmo codex.
Associada a condição referida, apresenta-se o interesse de agir ou
legítimo interesse de agir, o qual no processo civil, encontra-se associado a “necessidade da busca das vias jurisdicionais” como última alternativa em razão de prejuízo iminente, sendo que o mesmo conceito é inerente ao processo penal, haja vista que vedada a utilização de outras hipóteses de solução de litígios, que não a jurisdição, ressalvada a possibilidade de utilização de formas alternativas, quando expressamente tratadas pelo legislador, a exemplo do que ocorre com a conciliação (composição civil dos danos experimentados pelo ofendido), com base no que dispõe a Lei 9.099/95, art. 73, sendo ainda, que no processo penal encontra-se associado o interesse de agir, a preocupação com a efetividade do processo.
Desta forma, apresenta-se ainda, associada à necessidade da busca
das vias jurisdicionais, a “utilidade do provimento jurisdicional”, na medida em que em dadas hipóteses constatado que se torna o processo inútil diante da realidade dos fatos, inviabilizando o exercício do jus puniendi, como haverá de ocorrer com o reconhecimento da prescrição da pena máxima ou em abstrato, ou ainda, no caso da assim denominada prescrição antecipada, também conhecida como virtual ou em perspectiva, considerando não a pena no máximo determinado pelo legislador, mas sim, no mínimo legal, admitida por parte da doutrina e da jurisprudência, considerando a iminência da prescrição retroativa, a qual retroagindo ao intervalo compreendido entre a data dos fatos e a data do recebimento da denúncia, no presente não mais admissível em razão da Lei 12.234/10, ou entre esta e a data da publicação da sentença , mantida de acordo com o posicionamento de Luís Flávio Gomes, dando reverberação ao entendimento dos Tribunais Pátrios, importarão no reconhecimento de causa de extinção da punibilidade, de acordo com o art. 107, inciso IV, do CP, considerando ainda, no caso da prescrição retroativa, além da prescrição virtual, não mais a pena máxima, de acordo com a tabela do art. 109, do CP, mas, a pena em concreto estabelecida após a sentença ou a sê- lo até aquela oportunidade, como o que ocorre no caso do crime de extorsão mediante seqüestro, tratado pelo art. 159, do CP, com pena variando de 08 a 15 anos de reclusão, atendendo aos critérios respectivamente previstos pelo art. 109, incisos I e II, ou seja, com relação ao máximo prescrevendo em 20 anos e com relação ao mínimo em 16 anos, sanção a qual importando em lapso de tempo superior aquele decorrido entre a data do fato e o recebimento da denúncia ou entre o recebimento da denúncia e a publicação de sentença condenatória recorrível, como causas interruptivas da prescrição pelo que prevê o art. 117, incisos I e IV, respectivamente, importará no reconhecimento da extinção da punibilidade, nos termos do art. 107, inciso IV, do CP, diante da inexistência da utilidade do provimento jurisdicional (sentença penal condenatória), haja vista que reconhecida a extinção do direito de punir, diante de determinadas causas definidas pelo próprio legislador, prejudicando assim, o exercício do juízo de valor no sentido da absolvição ou condenação do acusado.
Quanto à legitimidade para agir, dita ad causam, corresponderá à
verdadeira pertinência subjetiva da ação, na medida em que se verifica que é dado a determinado sujeito ocupar o pólo ativo da demanda, tratando-se portanto, de legitimidade ativa ad causam, enquanto que dado a outro ocupar o pólo passivo da mesma, portanto, verificando-se a legitimidade passiva ad causam, correspondendo as posições que haverão de ocupar respectivamente, o titular da acusação, ou seja, o Ministério Público, admitindo que excepcionalmente esteja sucedido pelo próprio ofendido, na forma de “substituição processual” ou “legitimação extraordinária”, assim como ao suposto autor da prática, definida como infração penal.
Por fim, informa-se que haverão de ser analisadas as “condições da
ação”, no momento do recebimento da denúncia ou da queixa, pelo que dispõe o art. 395, II, do CPP, resultando da ausência de uma ou de todas as condições referidas, na declaração de “carência do direito de ação”, importando o fato na extinção do feito, sem o julgamento do mérito, de acordo com o art. 267, inciso VI, do CPC, aplicável por analogia, ao processo penal.
No que se refere ao início da ação penal, haja vista que a mesma
haverá de encontrar-se reconhecida como ajuizada, a partir do recebimento da petição inicial, vale-se a mesma das peças acusatórias inicializadoras da ação, quais sejam, respectivamente, denúncia ou queixa-crime, em se tratando de crime de ação penal pública ou privada, que haverão de conter a exposição circunstanciada dos fatos que se constituem, ao menos em tese, em ilícito penal, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se permita identificá-lo, a classificação do crime e quando necessário, o rol de testemunhas, havendo junto as referidas peças de ingresso de se fazer constar a pretensão de que venha a ser aplicada a lei penal, ainda, que tacitamente, justificando o pedido a partir das provas das quais se valem os titulares, nos termos do art. 41, do CPP.
Assim, apresentam-se como requisitos das peças de ingresso
mencionadas, aqueles que se encontram descritos junto ao dispositivo acima mencionado, aos quais se empresta destaque a descrição dos fatos em todas as circunstâncias, admitindo-se excepcionalmente possa vir a ser a denúncia, genérica, no caso de concurso de pessoas, o que poderá ocorrer quando não se conseguir por absoluta impossibilidade, definir-se a conduta de cada indivíduo no cometimento da infração penal, como se dá no exemplo, em que certos indivíduos adentram em determinado bar desferindo tiros a esmo, sem que se possa estabelecer o número de tiros disparados por cada um, ou ainda, no caso dos crimes denominados de societários, sendo certo que a imprecisão não haverá de acarretar impossibilidade ou dificuldade do direito de defesa, sendo certo que em estando individualizadas as condutas através de inquérito policial, obrigado o promotor também a individualizá-las, sob pena de que seja considerada a denúncia como inepta.
Destaca-se, que se mostra favorável o STF, através de diversos
julgados, a possibilidade de que venha a ser admitida a denúncia genérica em determinadas hipóteses, enquanto que o STJ, se mostra contrário em especial pelo que se refere aos crimes multitudinários ou de autoria coletiva.
Quanto à descrição dos fatos dos quais teria eventualmente
participado o acusado, mostra-se de suma importância que venha a ocorrer de maneira precisa, sob pena de inviabilizar a defesa. Explica-se, em verdade, defende-se o acusado dos fatos alegados, assim como de todas as circunstâncias que os envolvem, e não da tipificação penal procedida pelo órgão-acusatório, enquadrando o suposto comportamento do acusado em determinado dispositivo da Lei Material Penal, na medida em que como leigo não possui a obrigação de conhecê-la, enquanto que a defesa técnica, que haverá de caber ao defensor dativo ou constituído, provavelmente discordará do posicionamento manifestado pelo parquet, não estando adstrito, inclusive, o próprio julgador ao entendimento manifestado pela acusação, pelo que lhe autoriza o art. 383, do CPP.
Conclui-se, afirmando que a descrição inadequada dos fatos, haverá
de importar em comprometimento ao pleno exercício do princípio da ampla defesa, o que se mostra como inadmissível, gerando por conseqüência, o reconhecimento da inépcia da inicial.
No que se refere ao rol das testemunhas, trata-se de providência
facultativa, haja vista que evidentemente poderá a prática do ilícito não haver sido presenciada por qualquer pessoa, sendo certo que de outro lado encontra-se vinculado o órgão de acusação a apresentação da dita relação quando do início da ação, sob pena de preclusão, atendendo àquelas ao número máximo de 08 (oito), para os crimes apenados com reclusão, pelo que prevê o art. 401, caput, do CPP.
Haverá ainda, de ocorrer à qualificação do acusado, leia-se nome,
filiação, profissão, endereço etc..., sendo certo que onde encontrar-se impossibilitado o atendimento a medida, bastará a identidade física, determinada, por exemplo, a partir do método datiloscópico, admitida nos termos da Lei 10.054/00, como ocorrerá por exemplo, com moradores de rua, sem endereço ou família, sendo que posteriormente, a deficiência apontada poderá vir a ser sanada na forma de aditamento, pelo que prevê o art. 569, do CPP, até a sentença final.
Destaca-se ainda, a necessidade de classificação jurídica do fato,
sendo que não se apresenta como requisito essencial, haja vista que o acusado defende-se dos fatos e não, da tipificação penal, encontrando-se o julgador adstrito aos fatos narrados na peça inicial, não importando a tipificação que lhe é dada pelo titular da ação junto a mesma, justificado o entendimento pelo que dispõe os art.s 383 e 384, do CPP, ao tratarem das hipóteses de emendatio libeli e mutatio libeli, admitindo a imposição no primeiro caso de pena ainda, que mais grave, discordando da definição dada em exordial, como no caso em que narrando o MP o crime de furto com fraude, pena de 02 a 08 anos, ao final pede a condenação por estelionato, pena de 01 a 05 anos, reconhecendo o julgador a viabilidade da primeira hipótese.
Quanto a hipótese de mutatio libeli, é dado ao julgador reconhecer
circunstância elementar, tida como componentes subjetivos e objetivos do tipo básico, como vem a ocorrer com o caso dos elementos “subtrair”, “para si ou para outrem”, “coisa”, “alheia”, “móvel”, não descrita implicitamente na inicial, no que se refere ao crime de furto simples, descrito pelo art. 155, do CP, com pena de 01 a 04 anos de reclusão e multa, passando a encontrar-se definido como furto qualificado, nos termos do § 4º, do mesmo dispositivo, com pena de 02 a 08 anos de reclusão e multa, diante da constatação após o encerramento da instrução, da existência de circunstância do crime em um tipo derivado, motivo pelo qual admite-se não somente a manifestação do órgão de acusação, como também, da defesa diante da nova definição legal.
No que diz respeito à decisão de recebimento da denúncia, verifica-
se que dispensada com relação a mesma, a motivação exigida pelo art. 93, IX, da C.F/88, para as decisões judiciais, cabendo em caso de irresignação de parte do acusado, no que diz respeito ao acolhimento da mesma pelo órgão julgador, a impetração do competente Habeas-Corpus, sendo que da decisão que nega o recebimento da denúncia, caberá a interposição de Recurso em Sentido Estrito, de acordo com o art. 581, inciso I, do CPP.
Quanto ao prazo para o oferecimento da denúncia, encontra previsão
junto ao art. 46, do CPP, sendo de 05 (cinco) dias e 15 (quinze) dias, estando o réu preso ou solto, respectivamente, apresentando-se em conseqüência do excesso de prazo na primeira hipótese, o relaxamento de prisão, o que não inviabiliza o oferecimento da peça de ingresso de forma extemporânea, o que também haverá de ocorrer de acordo com a última situação, estando limitada a atuação do MP somente pela causa de extinção da punibilidade, no caso a prescrição.
Pelo que tange a queixa-crime, verifica-se que o prazo previsto pelo
art. 38, do CPP, de 06 (seis) meses, para o oferecimento da mesma em Juízo, haverá de encontrar-se regulado, no que se refere à contagem, não pelo que dispõe o art. 798, § 1º, do mesmo codex, mas sim, pelos termos do art. 10, do CP, começando a fluir a partir do dia em que toma o ofendido conhecimento de quem seja o autor do crime, em se tratando de prazo decadencial o qual não admitirá interrupção ou suspensão, importando em comprometimento do direito de agir, e por conseqüência de forma indireta do próprio direito de punir reconhecido ao Estado, sendo que o referido conceito haverá de encontrar-se estendido, inclusive, a representação, seja esta dirigida a autoridade policial, judiciária ou ao ministério público. No que se refere à hipótese de aditamento da queixa, procedida pelo MP no sentido de adicionar determinadas circunstâncias significativas no sentido da caracterização e classificação do crime, portanto, aditamento facultativo, encontra-se associada à ação penal privada propriamente dita ou exclusivamente privada, pelo que dispõe o art. 45, do CPP, assim como eventualmente, estendendo-se o mesmo critério a ação penal privada personalíssima, verificando-se que nesta hipótese, se lhe encontra vedada a inclusão de co-autores ou partícipes, circunstância a qual somente teria cabimento em se tratando de ação penal privada subsidiária da pública, tratada pelo art. 29, do mesmo codex, na qual a atuação do Estado- Acusação é ampla, tornando, portanto, o aditamento obrigatório.
Frisa-se, que a iniciativa do MP, no que se refere à hipótese
inicialmente supra-referida, resultará da atuação do órgão acusatório, enquanto fiscal da aplicação do princípio da indivisibilidade da ação penal privada, art. 48, do CPP, havendo de proceder no sentido da intimação do querelante de maneira a que se faça constar junto à peça de ingresso o nome de todos os querelados, sob pena de que seja tida a omissão como renúncia tácita ao direito de queixa a estender-se a todos.
O prazo para o aditamento da queixa, será de 03 (três) dias, a contar
do recebimento dos autos pelo MP.
Assim, apresenta-se ainda, a questão da “extinção da punibilidade”, a
partir da qual reconhecido que originado o direito de punir para o Estado, a partir da prática do crime, podem ocorrer determinadas causas impeditivas da aplicação da sanção penal, importando em renúncia de parte do mesmo em punir o autor do delito, destacando-se as hipóteses que se refiram ao direito de ação e ao procedimento criminal, a ocorrer antes do trânsito em julgado da sentença, atingindo o próprio jus puniendi, não persistindo quaisquer efeitos do processo ou mesmo da sentença condenatória, em determinados casos, citando-se como exemplo a circunstância, a partir da qual será rejeitada a denúncia ou a queixa, se já encontrar-se extinta a punibilidade, pela prescrição ou pela decadência, por exemplo, na forma do que dispunha o anterior art. 43, II, do CPP, atual art. 397, IV, havendo a situação de ser declarada de ofício em qualquer fase do processo, pelo julgador, com fundamento no que prevê o art. 61, do mesmo codex.
Destaca-se, que existem outras possibilidades, que haverão de
encontrar-se reconhecidas após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, extinguindo-se o título penal da mesma natureza, estabelecido por força de sentença proferida em processo de conhecimento, ou mesmo a possibilidade de imposição da pena, mantidos por conseqüência os demais efeitos associados a mesma, quais sejam, exemplificativamente, o lançamento do nome do condenado no rol dos culpados, para efeitos da constatação de reincidência.
Apresenta-se, portanto, a hipótese da renúncia do direito de queixa,
tratado pelo art. 107, inciso V, do CP, enquanto ato unilateral, resultando na desistência do direito de ação por parte do ofendido, que haverá de ser exercido na fase pré-processual, seja de maneira expressa, pelo que estabelecem os termos do art. 50, caput, ou de forma tácita, de acordo com o art. 57, ambos do CPP.
Frisa-se, que com relação à renúncia, diante da inexistência de
vedação legal, admissível que venha a ser exercido o direito em se tratando de ação penal privada subsidiária da pública, não impedindo, contudo, que venha o proceder o órgão-acusatório ao oferecimento da denúncia até que esteja extinta a punibilidade por qualquer outra causa, como a prescrição diante dos prazos relativos à pena em abstrato, previstos pelo art. 109, do CP.
Destaca-se ainda, que como visto anteriormente, em decorrência do
princípio da indivisibilidade, expresso nos termos do art. 48, o exercício do direito de queixa com relação a um dos querelados, a todos se estenderá, velando o MP pela indivisibilidade da ação penal privada, no que se refere ao mesmo, salvo no caso do desconhecimento de todos os participantes do crime, quando a não-inclusão não resultará em renúncia tácita.
No que tange a decadência, verifica-se no processo penal, tratar-se de
causa extintiva da punibilidade consistente na perda do direito de ação privada ou de representação em decorrência de não haver sido exercido no prazo legal, o qual se encontra estabelecido nos termos do art. 38, do CPP e 103, do CP, atingindo o próprio jus puniendi, decorrente da relação jurídica de direito material, na medida em que inviabilizada a atuação do Estado, diante da ausência de iniciativa do ofendido, não se admitindo que aja o órgão-acusatório, por conseqüência.
Sobressai-se ainda, quanto ao instituto, o cabimento deste não
somente na ação penal privada propriamente dita, como também, no que se refere à ação penal subsidiária da pública, contando-se o prazo a partir do esgotamento do lapso temporal concedido ao MP.
Quanto à contagem do prazo, em se tratando de instituto de direito
material penal, atende a regra prevista pelo art. 10, do CP, qual seja, inclui- se o dia do início ou dies a quo e exclui-se o dia do término ou dies ad quem, não se admitindo venha a ser a mesma suspensa ou interrompida, como no caso de instauração do inquérito policial ou da remessa dos autos ao MP, cabendo o curso do lapso até o seu término, quando haverá, portanto, o esgotamento do prazo decadencial, iniciando-se a contagem a partir do momento em que toma o ofendido o conhecimento da suposta autoria.
Apresenta-se ainda, como causa extintiva da punibilidade, nos
termos do art. 107, inciso IV, 1ª figura, do CP, a prescrição com a qual guarda o instituto acima referido nítida semelhança, daquele diferindo por tratar-se a do lapso temporal reconhecido ao Estado, de modo a que no exercício do poder-dever de punir possa aplicar determinada pena ou executá-la, pelo que prevêem os termos dos art.s 109 e seg.s, incidindo, portanto, sobre o jus puniendi inicialmente e somente posteriormente sobre o direito de agir.
Daí, constatar-se que incidirá a decadência sobre o direito de agir,
enquanto que a prescrição haverá de recair sobre o direito de punir (jus puniendi) e posteriormente sobre o direito de agir autônomo, que se destaca da relação jurídica de direito material, prejudicada pelo decurso de determinado lapso de tempo, ou seja, a mora na instauração da ação penal ou na tramitação do processo, é punida com a extinção da punibilidade.
No que se refere à natureza jurídica do instituto, malgrado a
existência de divergência doutrinária, firmado o entendimento no sentido de tratar-se de matéria de direito penal, de acordo com Damásio de Jesus, sujeitando-se, portanto, a regra insculpida pelo art. 10, do CP, no que se refere a contagem do prazo.
Quanto à perempção, trata-se de causa extintiva da punibilidade,
decorrente de sanção imposta ao querelante em decorrência de inércia ou negligência, de acordo com as hipóteses tratadas pelo art. 60, do CPP, as quais se empresta destaque aquelas previstas pelos incisos I e III, quais sejam, deixando de proceder o ofendido a movimentação do feito por período superior a 30 (trinta) dias, como poderá ocorrer quando restam retidos os autos do processo em poder do patrono da causa ou quando não- sucedido este por outro em caso de renúncia aos poderes previstos em procuração, enquanto que no último caso, quando não houver a formulação de pedido de condenação nas alegações finais, o que poderá ocorrer dispensando-se o formalismo, na hipótese de que pede o ofendido a procedência do pedido formulado na ação ou quando se manifesta no sentido de que seja realizada justiça, equivalendo a falta de apresentação das mesmas a falta do referido pedido ou ainda, a ausência de contra-razões ao recurso interposto.
Destaca-se que em havendo perempção, não poderá o querelante
propor nova ação contra o querelado sobre os mesmos fatos, não cabendo a mesma com relação à ação penal privada subsidiária da pública, diante do que prevê o art. 29, parte final do CPP, retomando o MP a ação como parte principal.
Quanto ao perdão aceito, tratado pela parte final, do art. 107, V, do
CP, como causa extintiva da punibilidade, verifica-se que importa em revogação do ato praticado pelo querelante ao ajuizar a ação penal privada, desistindo da mesma, desculpando o ofensor, somente sendo admissível a partir do recebimento da queixa-crime, sendo que em momento anterior, tal conduta haverá de ser interpretada como renúncia ao direito de queixa, somente cabendo na ação penal privada exclusiva ou ainda, personalíssima, não sendo admitido em ação penal privada subsidiária da pública.
Cumpre destacar, que se constitui em ato bilateral, daí constatado o
fato de que importará necessariamente na aceitação por parte do querelado, nos termos do art. 51, ainda, que tacitamente pelo que prevê o art. 58, caput, ambos do CPP.
Ressalta-se, que assim como a renúncia, concedido o perdão a um