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PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE

Por Samory Pereira Santos

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato
capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O crime de PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE se trata de crime próprio, doloso direto
(de dano), de meio de execução livre, plurissubsistente, instantâneo, formal que se consome
com a mera conduta capaz de transmitir a moléstia. Seu sujeito ativo é aquele contaminado por
moléstia grave, tendo que o sujeito passivo não estar contaminado pela mesma moléstia. O bem
jurídico protegido é incolumidade física e a saúde humana.
Objetivamente, adequa-se ao tipo a conduta capaz de de transmitir moléstia grave. Isso
pode-se dar por vias diretas (através de contato corporal) ou indiretas (através de instrumento
auxiliar, como uma seringa). Não há a exigência de um determinado tipo de conduta, como naquele
crime do art. 130, sendo, portanto, livre o meio de execução deste crime. É moléstia grave aquela
que assim é definido pela medicina, havendo um espaço para a atividade valorativa para a efetiva
tipificação do crime.
Caso a moléstia grave seja venérea, mas não haja ato libidinoso para sua transmissão,
tipificará no crime do art. 131, e o mesmo ocorrerá caso a moléstia grave não seja venérea, porém
houve conduta libidinosa para a sua transmissão. A coincidência da característica venérea da
moléstia e da libidinosidade da conduta descaracterizará o perigo de contágio de moléstia grave.
Quanto a subjetividade da sua adequação típica, deve apenas o sujeito praticar ato capaz de
e querer transmitir a moléstia grave que seja portador. Aquele que acaba assumindo o risco de
transmitir a moléstia, porém não age com esse fim, não se torna autor deste crime, pela própria
ausência do elemento subjetivo especial do injusto (que é o motivo de agir, no caso, “de transmitir
moléstia grave”). Portanto, não comporta, este crime, a modalidade eventual do dolo, apenas sua
modalidade direta. Muito menos esse crime comporta modalidade culposa.
Por se tratar de um crime de intenção, não se necessita da consumação do elemento subjetivo
especial do injusto, no caso, a própria transmissão da moléstia. Sua consumação é antecipada, no
momento da conduta capaz de transmitir a moléstia. Caso a moléstia venha a ser transmitida, haverá
o exaurimento do crime.
O crime do art. 131 comporta tentativa, devido a possibilidade de fracionamento do iter
criminis. Aquele que, por exemplo, portador do vírus HIV, prepara seringas contaminadas com seu
sangue, mas no momento de aplicá-las é impedido pela vítima que suspeita da irregularidade, acaba
por configurar em crime tentado.
Naturalmente, como afirmado anteriormente, não se é sujeito passivo aquele que esteja
contaminado pela mesma moléstia. Aquele que dolosamente pratica conduta capaz de transmitir
moléstia grave que é portador contra alguém que também é portador desta moléstia grave não
comete crime algum. Se trata de um crime impossível. O mesmo ocorre com quem crê que esteja
com moléstia grave, mas não esteja nessa condição.
Caso, ao praticar o crime, a moléstia grave levar a vítima ao óbito, o autor responderá por
lesão corporal seguida de morte. Se fora desde sempre a intenção do autor a morte de sua vítima,
ele responderá por homicídio. Também, caso a conduta do sujeito ativo leve a uma epidemia,
responderá ele, em concurso formal, pelos crimes dos arts.131 e 267, § 2º (a modalidade culposa da
epidemia).
Por fim, sua ação penal é pública incondicionada.

Referência: BITTENCOURT, César Roberto. Tratado de Direito Penal. V. 2. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2003.

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