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XVIII E XIX.(2001).
Márcio Rogério da Costa Letona
Licenciado em História UFRGS/2003
Especialista em Ensino Religioso CESUCA/2009
INTRODUÇÃO:
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Conforme observado no Compendio de Historia de la URSS publicado pela Academia de Ciencias de la
URSS, p.40.
CAPÍTULO I - O SÉCULO XVIII
O século XVIII na Rússia foi marcado pelo período imperial. Analisando o inicio do
governo de Pedro o grande é possível verificar sua preocupação com a educação e ao
mesmo tempo um dos motivos da Igreja ortodoxa não ter atingido uma posição de maior
poder frente ao Estado:
“La reconstrución de Rusia - y esto lo percebió Pedro igual que Lenin en sus últimos años - era
principalmente un problema de educación, y no se trataba en este caso de la formación de un
pequeno estrato de la nobleza, sino de una educación que llegara hasta los escribanos de la lejana
Astracán. Sin embargo, apenas existían las más mínimas condiciones para esta tarea, y sobre todo
porque la Iglesia ortodoxa en su concepción liturgica - y no catequística - apenas se había
ocupado de la formación del pueblo. Rusia no conoció ni la Reforma ni la Contrarreforma, es
decir, que hasta el Raskol no conoció ningún estímulo que obligase a clérigos y laicos a
reflexionar y transmitir razonablemente las verdades y exigencias de la fe, como prólogo de su
propria secularización”. (Hellmann, 1979, p. 163-164).
Com estas afirmações o autor nos dá vários argumentos para a defesa de nossa tese
e insere um dado importante, ou seja, o afastamento da Igreja ortodoxa russa da esfera do
poder está ligado inicialmente a uma questão de estratégia da própria instituição, quer dizer,
ao invés de tomar uma postura catequística a Igreja ortodoxa russa é centrada na liturgia, de
certa maneira herdada de Bizâncio, contudo a liturgia da Igreja ortodoxa bizantina não era
desligada do poder, pelo contrário participava de forma direta dando respaldo ao
Imperador.
Uma Igreja com postura catequística é uma Igreja com um projeto de educação
religiosa para a sociedade, no qual está inserida a ideologia da mesma. No ocidente
europeu, por exemplo, esta postura significou que a igreja assumiu gradativamente a
educação na sociedade. No caso da Igreja ortodoxa russa a ênfase foi dada na liturgia, ou
seja, nos rituais religiosos, afastando de certa forma o clero da função educacional na
sociedade e ao mesmo tempo facilitando a centralização promovida pelo Estado.
Diehl nos oferece uma boa descrição de como os povos eslavos se apropriaram de
certas características da cultura bizantina com a seguinte afirmação:
“Realmente con esta reforma la Iglesia ortodoxa quedó sometida posteriormente a interesses del
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Estado, a menudo poco perspicaces, y se evidenció la profunda grieta, durante mucho tiempo
insalvable, entre ella y el estamento de los intelectuales que adquirían poco a poco su
independencia”. (Hellmann, 1979, p. 172).
“Las manufaturas, fundadas en el siglo XVII, eran muy pocas. La producción nacional de
armamento era deficiente, habia que comprar armas en el extranjero. Escaseaban los
especialistas. La enseñanza eclesiástica no podia asegurar la preparación de los especialistas
necesarios”. (Academia de Ciencias de la URSS, s.d., p.153).
Assim podemos dizer que um conjunto de fatores se somaram para que, durante o
século XVIII a Igreja ortodoxa russa permanecesse em uma posição subordinada ao Estado,
ainda em relação às medidas estatais neste sentido podemos citar que o imperador Pedro
instituiu em 1701 o Prikaz dos monastérios2, organismo de polícia política, o que contribuiu
muito para suprimir a dignidade e o poder do patriarca.
Até aqui levantamos fatos que permitem inferir o caráter anticlerical do governo
imperial russo no século XVIII, a partir destes fatos e afirmações encontrados na
bibliografia podemos dizer que obtivemos a base necessária para defender nossa idéia,
contudo é necessário ressaltar que não consideramos que a única motivação do triunfo das
idéias comunistas esteja ligada à questão religiosa, pelo contrário, os antecedentes dos
séculos XVIII e XIX indicam várias transformações sociais, e algumas transições forçadas
como a industrialização por exemplo.
Tais transformações ocorreram de maneira muito rápida, colocando em choque
diversos setores da sociedade, as modificações no regime de servidão, a industrialização, o
endurecimento do controle estatal, as contrariedades regionais são fatores que pesaram
muito para que o processo culminasse com a revolução dando seus primeiros sinais com as
revoltas de 1905.
Isto posto, é possível agora analisarmos o século XIX para obtermos antecedentes
mais diretos do período revolucionário, desta forma, podemos traçar um esboço da situação
política e social que nos permitirá entender as motivações dos governos imperiais
manterem o clero fora da esfera de poder político.
2
Além disso, podemos citar a criação do exército regular e da marinha de guerra, como medidas tomadas para
aumentar o poder do Estado absolutista de acordo como o Compendio de Historia de la URSS, s.d., p. 155.
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CAPÍTULO II - O SÉCULO XIX
Concordamos com o autor Jacques Néré, quando ele afirma que é em torno da
evolução do problema econômico-social da abolição da servidão, ou seja, da transição do
regime de servidão para o trabalho “livre” que podemos ordenar toda a história da Rússia
do século XIX3. Tal questão ocupou os melhores espíritos intelectuais da época e suscitou
diversas possibilidades de solução que em nossa opinião não resolveram totalmente o
problema.
O entendimento da história da Rússia no século XIX passa obrigatoriamente pela
questão da transição do regime de trabalho servil para o não servil, no entanto Néré propõe
uma hipótese interessante quando trata do impacto causado pelo ocidente na Rússia:
3
Cf. Néré, História Contemporânea, 1991, p. 280.
4
Cf. Néré, História Contemporânea, 1991, p. 286.
4
primeiro período (1881-1894) e depois em 1904 a educação estatal supera definitivamente a
da Igreja permitindo-nos concluir que o interesse do Estado era assumir tal
responsabilidade.
Desta forma, o Estado podia controlar melhor o processo de industrialização, pois
controlava a educação para a formação técnica tão necessária aos países em fase de
modernização como a Rússia do século XIX, o clero que no século XVIII optou por manter
estrutura da Igreja ortodoxa russa em sua concepção litúrgica, um século depois se via
afastado da função educativa, não completamente, mas de maneira irreversível.
Por outro lado, podemos dizer que a “revolução industrial” russa que começou por
volta de 1840 e 1850 foi concluída, de maneira geral em 18805. Assim, a história da Rússia
na segunda metade do século XIX foi fundamentalmente a da transição rápida de um
regime semifeudal para capitalista com todas as implicações deste processo, as
transformações estruturais ocorridas neste período relacionadas a esta transição do modo de
produção provocaram transformações sociais inevitáveis.
Se no século XVIII a Igreja ortodoxa russa foi mantida fora da esfera do poder por
medidas preventivas do Estado autocrático, no século seguinte as mudanças no plano
econômico intensificaram tais medidas, ao Estado novamente não interessava outro grupo
na disputa de poder, muito menos algum grupo que pudesse ter influência na educação do
povo e uma possível influência ideológica popular, visto que, agora cresciam grupos como
os camponeses e principalmente os operários que se organizavam e protestavam por
melhores condições de trabalho e salário.
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Cf. Compendio de Historia de la URSS, s.d., p. 241.
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CAPÍTULO III - O PÓS-REVOLUÇÃO
“Depois que a Diocese Metropolitana de Kiev, que abrangia a Igreja ortodoxa da Ucrânia e da
Belorrúsia, passou para a jurisdição do Patriarcado de Moscou em 1686 a Igreja Ucraniana
cessou de existir como corpo religioso autônomo”. (Iwanow, 1965, p.89).
“Em 1783, de conformidade com o tratado assinado por Iraklii II e a imperatriz Catarina II, a
Geórgia aceitou a proteção de seu vizinho ortodoxo, o império russo, retendo, ao mesmo tempo, a
independência de sua própria Igreja; mas em 1801 - em virtude de um manifesto expedido pelo
czar Alexandre I - foi a Geórgia anexada à Rússia e, em 1811, o Catholicos Antonii II foi
substituído e deportado para a Rússia, por ordem do comandante das tropas russas no Cáucaso. O
Sagrado Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa aboliu, então, a condição de autocéfala da Igreja da
Geórgia e colocou-a sob a direção de um exarcado russo”. (Iwanow, 1965, 106).
Estes fatos fazem parte de medidas tomadas pelo Estado nos séculos anteriores, no
sentido de unificar a Igreja ortodoxa e de realizar uma verdadeira russificação das
populações da Ucrânia, da Belorrússia e da Geórgia através da introdução, por via religiosa,
da cultura russa, adotando o culto e o idioma característicos da Igreja russa.
O interesse do Estado, neste caso, era controlar melhor as regiões conquistadas ou
anexadas cujas populações haviam desenvolvido anteriormente um sentimento de
nacionalismo que colocava em risco o controle centralizado russo.
Havia portando em vários momentos da história pregressa, nos séculos XVII,
XVIII e XIX a consciência por parte do Estado do potencial da religião (representada pela
Igreja ortodoxa) como instrumento ideológico que poderia tanto estar a favor como contra
os interesses do Estado.
Após a revolução de 1917, o Estado passou a perseguir a Igreja ortodoxa russa
como uma instituição que apoiava as idéias anticomunistas, as várias correntes das Igrejas
da Ucrânia, Belorrússia e Geórgia sofreram perseguições violentas e foram sufocadas,
tiveram seus líderes e sacerdotes presos ou deportados. O partido e seus órgãos de
fiscalização controlavam os poucos resquícios de Igrejas que restaram, muitas foram
destruídas, outras utilizadas para sede de clubes que, de maneira geral, só eram
freqüentados pelos membros do partido.
Ocorreram mudanças estruturais importantes com a revolução, mas o clero
continuava a ser temido como uma ameaça ideológica contra o controle estatal. Após a
segunda guerra mundial houve um certo afrouxamento das perseguições e também uma
reforma nas escolas de teologia que segundo Teodorovich teve o seguinte resultado:
“Assim, limitou-se consideràvelmente a extensão das matérias para estudo: isso prejudicará
sèriamente o trabalho dos jovens sacerdotes que saem dessas escolas e, além do mais, arrefecerá o
interesse de jovens estudiosos que, anteriormente, se sentiam atraídos para as escolas de teologia
pela oportunidade de adquirirem conhecimentos e idéias rejeitadas pelo marxismo”. (Teodorovich
In: Iwanow, 1965, p. 70).
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Aqui, concordamos que as reformas curriculares apresentadas pelo autor que
diminuíram sensivelmente matérias como: psicologia, lógica e filosofia, dificultaram a
tarefa dos sacerdotes, mas quando o autor refere-se que os currículos antigos seriam mais
atraentes para aqueles que se interessavam por idéias rejeitadas pelo marxismo é preciso
lembrar da especificidade das idéias do marxismo adotadas na URSS, pois o marxismo
pode ser interpretado de várias formas, e a forma escolhida neste contexto específico, no
nosso entender contém muitas contrariedades em relação as idéias originais de Marx e
Engels.
Portanto, aqueles que se sentiam atraídos por idéias contrárias à interpretação
soviética das idéias marxistas podem ter se sentido desmotivados a estudar nas
pouquíssimas escolas de teologia que existiam na URSS6.
Assim, como já dissemos, apesar das transformações estruturais trazidas pela
revolução de 1917 e conseqüentes transformações sociais, a perseguição à Igreja ortodoxa
russa se intensificou ainda mais na primeira metade do século XX, por vias e motivos
diferentes das perseguições ocorridas nos séculos anteriores, após a segunda guerra
mundial, o Estado soviético resolveu aliviar a pressão, mas fez uma reforma no ensino de
teologia procurando manter controlada a situação, evitando que pudesse se formar por via
ideológica uma contraposição originada a partir da religião.
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Na URSS foram fundadas entre 1944 e 1948 duas academias de teologia e oito seminários, sendo que estes
números permaneceram iguais até 1958, a título de comparação na Rússia pré-revolucionária havia quatro
academias de teologia, 57 seminários e 185 escolas religiosas, Cf. Iwanow, 1965, p.64.
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CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA:
Academia de Ciencias de la URSS. Compendio de Historia da la URSS, Capítulos II, VI,
VII, VIII e IX, Moscu: Editorial Progresso, s.d.
MAS, Santiago. História del Movimiento Obrero 8 - Rusia: las luchas del populismo,
Buenos Aires: Centro editor de América Latina S.A., 1990.
NÉRÉ, Jacques. “A Rússia no século XIX” In: História Contemporânea, Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1991, pp. 279-293.