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A IGREJA ORTODOXA E A EDUCAÇÃO NA RÚSSIA NOS SÉCULOS

XVIII E XIX.(2001).
Márcio Rogério da Costa Letona
Licenciado em História UFRGS/2003
Especialista em Ensino Religioso CESUCA/2009

INTRODUÇÃO:

O projeto inicial de nosso trabalho visava relacionar a cristianização tardia da


Rússia com o fato de que ali, não se formou a partir da doutrina da Igreja ortodoxa russa,
uma ideologia que permitisse fazer frente às idéias comunistas que levaram à eclosão da
revolução em 1917.
As dificuldades de tal projeto são muito grandes e tal estudo compreenderia levantar
dados sob uma perspectiva de longa duração que iniciaria em meados do século X
(aproximadamente em 988), quando Vladimir adota o cristianismo como religião oficial da
Rússia1e viria até meados do século XIX, o que obviamente extrapola a proposta deste
trabalho monográfico.
Desta maneira, não há outra possibilidade de viabilizar o trabalho a não ser fazendo
um recorte mais específico no tempo mantendo a idéia de que há uma relação entre a
cristianização tardia e a ausência de uma ideologia forte, capaz de se opor ao comunismo
no período da revolução, isso não significa que o cristianismo não tenha se enraizado na
Rússia, pois após setenta anos de comunismo ele ressurgiu com força, contudo não houve
uma conjunção de fatores que consolidasse sua oposição efetiva na época. Assim,
resolvemos estudar os séculos XVIII e XIX e a primeira metade do XX, para obtermos
dados relativos a tal processo histórico podendo assim interpretá-lo de forma adequada.
Assim, a partir da bibliografia selecionada será possível analisar o processo
histórico em questão e provar ou refutar nossa tese. De qualquer forma, as leituras iniciais
indicam uma preocupação de manter a Igreja ortodoxa afastada da educação, ou pelo menos
diminuir sua influência desde o século XVIII.
É provável que tal esforço por parte do Estado esteja ligado ao receio de que a
Igreja aumentasse sua influência sobre a população, o que para um Estado altamente
calcado sobre o poder da aristocracia talvez não fosse interessante.
Por outro lado, existiram também motivações de cunho prático que levaram à
tomada de medidas centralizadoras e supressoras do poder da Igreja ortodoxa russa, no
sentido de que o imperador Pedro I considerava que a única forma de manter a unidade e
empreender algum progresso dependia de uma centralização extrema nas mãos do
governante, tal qual os regimes absolutistas europeus haviam feito anteriormente.

1
Conforme observado no Compendio de Historia de la URSS publicado pela Academia de Ciencias de la
URSS, p.40.
CAPÍTULO I - O SÉCULO XVIII

O século XVIII na Rússia foi marcado pelo período imperial. Analisando o inicio do
governo de Pedro o grande é possível verificar sua preocupação com a educação e ao
mesmo tempo um dos motivos da Igreja ortodoxa não ter atingido uma posição de maior
poder frente ao Estado:

“La reconstrución de Rusia - y esto lo percebió Pedro igual que Lenin en sus últimos años - era
principalmente un problema de educación, y no se trataba en este caso de la formación de un
pequeno estrato de la nobleza, sino de una educación que llegara hasta los escribanos de la lejana
Astracán. Sin embargo, apenas existían las más mínimas condiciones para esta tarea, y sobre todo
porque la Iglesia ortodoxa en su concepción liturgica - y no catequística - apenas se había
ocupado de la formación del pueblo. Rusia no conoció ni la Reforma ni la Contrarreforma, es
decir, que hasta el Raskol no conoció ningún estímulo que obligase a clérigos y laicos a
reflexionar y transmitir razonablemente las verdades y exigencias de la fe, como prólogo de su
propria secularización”. (Hellmann, 1979, p. 163-164).

Com estas afirmações o autor nos dá vários argumentos para a defesa de nossa tese
e insere um dado importante, ou seja, o afastamento da Igreja ortodoxa russa da esfera do
poder está ligado inicialmente a uma questão de estratégia da própria instituição, quer dizer,
ao invés de tomar uma postura catequística a Igreja ortodoxa russa é centrada na liturgia, de
certa maneira herdada de Bizâncio, contudo a liturgia da Igreja ortodoxa bizantina não era
desligada do poder, pelo contrário participava de forma direta dando respaldo ao
Imperador.
Uma Igreja com postura catequística é uma Igreja com um projeto de educação
religiosa para a sociedade, no qual está inserida a ideologia da mesma. No ocidente
europeu, por exemplo, esta postura significou que a igreja assumiu gradativamente a
educação na sociedade. No caso da Igreja ortodoxa russa a ênfase foi dada na liturgia, ou
seja, nos rituais religiosos, afastando de certa forma o clero da função educacional na
sociedade e ao mesmo tempo facilitando a centralização promovida pelo Estado.
Diehl nos oferece uma boa descrição de como os povos eslavos se apropriaram de
certas características da cultura bizantina com a seguinte afirmação:

“Nas cortes, os soberanos bárbaros compraziam-se em introduzir costumes suntuosos, títulos, o


cerimonial complicado do palácio imperial de Bizâncio, e Kief orgulhava-se de ter, como
Constantinopla, sua igreja de Santa Sofia e sua Porta de Ouro. Desse modo todas essas tribos
bárbaras tornavam-se verdadeiros povos, cujos sábios cuidavam de contar sua origem e história, e
por toda a Europa oriental Bizâncio era verdadeiramente o que a Roma dos papas foi para a
Europa ocidental, a grande educadora, a grande iniciadora”.(Diehl, 1961, p. 48).

Assim, podemos dizer que na Rússia houve uma interpretação equivocada da


vocação litúrgica adotada pela Igreja ortodoxa bizantina, o que acabou estabelecendo uma
posição subordinada ao Estado altamente centralizado nas mãos do imperador, não bastasse
esta opção por parte da Igreja ortodoxa, o imperador Pedro decidiu impossibilitar qualquer
movimento da Igreja ortodoxa neste sentido publicando o “Regramento eclesiástico” (1721)
conforme afirma o trecho a seguir:

“Realmente con esta reforma la Iglesia ortodoxa quedó sometida posteriormente a interesses del
2
Estado, a menudo poco perspicaces, y se evidenció la profunda grieta, durante mucho tiempo
insalvable, entre ella y el estamento de los intelectuales que adquirían poco a poco su
independencia”. (Hellmann, 1979, p. 172).

Voltemos ao início do governo de Pedro e analisemos as motivações, além do


desejo de tornar-se detentor do poder temporal e espiritual, que o levaram a tomar as
medidas que restringiam a possibilidade de qualquer outro poder fazer frente ao poder
absoluto do Estado. Em primeiro lugar é necessário destacar a vocação militar da Rússia e
também do imperador que demonstrou muito interesse pela arte da guerra, dedicando muito
tempo aos jogos militares. O esforço do imperador talvez esteja ligado às dificuldades que a
Rússia enfrentava no início de seu governo. A Rússia necessitava de produtos
manufaturados, sobretudo armamentos e tinha extrema dificuldade de produzi-los:

“Las manufaturas, fundadas en el siglo XVII, eran muy pocas. La producción nacional de
armamento era deficiente, habia que comprar armas en el extranjero. Escaseaban los
especialistas. La enseñanza eclesiástica no podia asegurar la preparación de los especialistas
necesarios”. (Academia de Ciencias de la URSS, s.d., p.153).

Assim podemos dizer que um conjunto de fatores se somaram para que, durante o
século XVIII a Igreja ortodoxa russa permanecesse em uma posição subordinada ao Estado,
ainda em relação às medidas estatais neste sentido podemos citar que o imperador Pedro
instituiu em 1701 o Prikaz dos monastérios2, organismo de polícia política, o que contribuiu
muito para suprimir a dignidade e o poder do patriarca.
Até aqui levantamos fatos que permitem inferir o caráter anticlerical do governo
imperial russo no século XVIII, a partir destes fatos e afirmações encontrados na
bibliografia podemos dizer que obtivemos a base necessária para defender nossa idéia,
contudo é necessário ressaltar que não consideramos que a única motivação do triunfo das
idéias comunistas esteja ligada à questão religiosa, pelo contrário, os antecedentes dos
séculos XVIII e XIX indicam várias transformações sociais, e algumas transições forçadas
como a industrialização por exemplo.
Tais transformações ocorreram de maneira muito rápida, colocando em choque
diversos setores da sociedade, as modificações no regime de servidão, a industrialização, o
endurecimento do controle estatal, as contrariedades regionais são fatores que pesaram
muito para que o processo culminasse com a revolução dando seus primeiros sinais com as
revoltas de 1905.
Isto posto, é possível agora analisarmos o século XIX para obtermos antecedentes
mais diretos do período revolucionário, desta forma, podemos traçar um esboço da situação
política e social que nos permitirá entender as motivações dos governos imperiais
manterem o clero fora da esfera de poder político.

2
Além disso, podemos citar a criação do exército regular e da marinha de guerra, como medidas tomadas para
aumentar o poder do Estado absolutista de acordo como o Compendio de Historia de la URSS, s.d., p. 155.
3
CAPÍTULO II - O SÉCULO XIX

Concordamos com o autor Jacques Néré, quando ele afirma que é em torno da
evolução do problema econômico-social da abolição da servidão, ou seja, da transição do
regime de servidão para o trabalho “livre” que podemos ordenar toda a história da Rússia
do século XIX3. Tal questão ocupou os melhores espíritos intelectuais da época e suscitou
diversas possibilidades de solução que em nossa opinião não resolveram totalmente o
problema.
O entendimento da história da Rússia no século XIX passa obrigatoriamente pela
questão da transição do regime de trabalho servil para o não servil, no entanto Néré propõe
uma hipótese interessante quando trata do impacto causado pelo ocidente na Rússia:

“em conseqüência da grande mistura ocasionada pela guerra da Revolução e do Império, a


nobreza russa que se viu em contato com o Ocidente, ali adquiriu novas necessidades; afez-se a
educar os filhos no estrangeiro e, muitas vezes, a ali residir também. Tudo isso supõe recursos
monetários que a economia dominial essencialmente agrária não fornece. Nessas condições, seria
preciso apertar o cinto, e seria, sem dúvida, o impacto do Ocidente sobre a Rússia, que
acarretaria, num plano diverso do da ideologia, e por um encadeamento de fatos, a abolição da
servidão”. (Néré, 1991, p. 282).

Analisemos, segundo nosso interesse específico, a afirmação do autor: O problema


central da história russa no século XIX está ligado entre outras coisas à influência do
Ocidente, não unicamente no campo das idéias liberais que circulavam na intelectualidade
européia e alteravam sobremaneira a realidade social, mas também por uma via não
ideológica causando uma pressão de fundo econômico que culminaria ao longo do processo
na abolição da servidão.
A esta altura o leitor já deve estar se perguntando: O que esta questão estrutural tem
a ver com o nosso tema específico? A resposta é simples: A nobreza estando prejudicada
por esta pressão econômica tendeu a evitar mais ainda a divisão de poder, tendendo
portanto a evitar a todo o custo que o clero adquirisse uma posição mais ativa no jogo
político.
Assim, é provável que a nobreza acreditasse mais em uma reação dentro de setores
teoricamente mais próximos como o clero ou os intelectuais, que em grande parte se
relacionavam com ela, mas esquecia-se da massa camponesa e dos operários que
começaram a despontar a partir de uma industrialização às avessas.
A partir de 1890 podemos notar o início do processo modernização da Rússia,
aliado a ele pode-se verificar um aumento nos índices de alunos em escolas primárias, o
que é interessante destacar é que sob o reinado de Alexandre III (1881-1894) o número de
alunos em escolas paroquiais passou de 105.000 para 981.000, já em 1904 contavam-se
3.360.000 crianças em escolas elementares do Ministério da Educação, e 1.900.000 nas da
Igreja4.
A análise destes dados dá a entender que o Estado tomou para si o compromisso da
educação fundamental, suplantando o papel que a Igreja não conseguia dar conta
anteriormente, houve um crescimento inicial do número de alunos em escolas paroquiais no

3
Cf. Néré, História Contemporânea, 1991, p. 280.
4
Cf. Néré, História Contemporânea, 1991, p. 286.
4
primeiro período (1881-1894) e depois em 1904 a educação estatal supera definitivamente a
da Igreja permitindo-nos concluir que o interesse do Estado era assumir tal
responsabilidade.
Desta forma, o Estado podia controlar melhor o processo de industrialização, pois
controlava a educação para a formação técnica tão necessária aos países em fase de
modernização como a Rússia do século XIX, o clero que no século XVIII optou por manter
estrutura da Igreja ortodoxa russa em sua concepção litúrgica, um século depois se via
afastado da função educativa, não completamente, mas de maneira irreversível.
Por outro lado, podemos dizer que a “revolução industrial” russa que começou por
volta de 1840 e 1850 foi concluída, de maneira geral em 18805. Assim, a história da Rússia
na segunda metade do século XIX foi fundamentalmente a da transição rápida de um
regime semifeudal para capitalista com todas as implicações deste processo, as
transformações estruturais ocorridas neste período relacionadas a esta transição do modo de
produção provocaram transformações sociais inevitáveis.
Se no século XVIII a Igreja ortodoxa russa foi mantida fora da esfera do poder por
medidas preventivas do Estado autocrático, no século seguinte as mudanças no plano
econômico intensificaram tais medidas, ao Estado novamente não interessava outro grupo
na disputa de poder, muito menos algum grupo que pudesse ter influência na educação do
povo e uma possível influência ideológica popular, visto que, agora cresciam grupos como
os camponeses e principalmente os operários que se organizavam e protestavam por
melhores condições de trabalho e salário.

5
Cf. Compendio de Historia de la URSS, s.d., p. 241.
5
CAPÍTULO III - O PÓS-REVOLUÇÃO

Alguns fatos ocorridos anteriormente tiveram influência marcante na Rússia após a


Revolução de 1917, particularmente no que diz respeito à centralização administrativa da
Igreja ortodoxa podemos citar os seguintes fatos:

“Depois que a Diocese Metropolitana de Kiev, que abrangia a Igreja ortodoxa da Ucrânia e da
Belorrúsia, passou para a jurisdição do Patriarcado de Moscou em 1686 a Igreja Ucraniana
cessou de existir como corpo religioso autônomo”. (Iwanow, 1965, p.89).

“Em 1783, de conformidade com o tratado assinado por Iraklii II e a imperatriz Catarina II, a
Geórgia aceitou a proteção de seu vizinho ortodoxo, o império russo, retendo, ao mesmo tempo, a
independência de sua própria Igreja; mas em 1801 - em virtude de um manifesto expedido pelo
czar Alexandre I - foi a Geórgia anexada à Rússia e, em 1811, o Catholicos Antonii II foi
substituído e deportado para a Rússia, por ordem do comandante das tropas russas no Cáucaso. O
Sagrado Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa aboliu, então, a condição de autocéfala da Igreja da
Geórgia e colocou-a sob a direção de um exarcado russo”. (Iwanow, 1965, 106).

Estes fatos fazem parte de medidas tomadas pelo Estado nos séculos anteriores, no
sentido de unificar a Igreja ortodoxa e de realizar uma verdadeira russificação das
populações da Ucrânia, da Belorrússia e da Geórgia através da introdução, por via religiosa,
da cultura russa, adotando o culto e o idioma característicos da Igreja russa.
O interesse do Estado, neste caso, era controlar melhor as regiões conquistadas ou
anexadas cujas populações haviam desenvolvido anteriormente um sentimento de
nacionalismo que colocava em risco o controle centralizado russo.
Havia portando em vários momentos da história pregressa, nos séculos XVII,
XVIII e XIX a consciência por parte do Estado do potencial da religião (representada pela
Igreja ortodoxa) como instrumento ideológico que poderia tanto estar a favor como contra
os interesses do Estado.
Após a revolução de 1917, o Estado passou a perseguir a Igreja ortodoxa russa
como uma instituição que apoiava as idéias anticomunistas, as várias correntes das Igrejas
da Ucrânia, Belorrússia e Geórgia sofreram perseguições violentas e foram sufocadas,
tiveram seus líderes e sacerdotes presos ou deportados. O partido e seus órgãos de
fiscalização controlavam os poucos resquícios de Igrejas que restaram, muitas foram
destruídas, outras utilizadas para sede de clubes que, de maneira geral, só eram
freqüentados pelos membros do partido.
Ocorreram mudanças estruturais importantes com a revolução, mas o clero
continuava a ser temido como uma ameaça ideológica contra o controle estatal. Após a
segunda guerra mundial houve um certo afrouxamento das perseguições e também uma
reforma nas escolas de teologia que segundo Teodorovich teve o seguinte resultado:

“Assim, limitou-se consideràvelmente a extensão das matérias para estudo: isso prejudicará
sèriamente o trabalho dos jovens sacerdotes que saem dessas escolas e, além do mais, arrefecerá o
interesse de jovens estudiosos que, anteriormente, se sentiam atraídos para as escolas de teologia
pela oportunidade de adquirirem conhecimentos e idéias rejeitadas pelo marxismo”. (Teodorovich
In: Iwanow, 1965, p. 70).

6
Aqui, concordamos que as reformas curriculares apresentadas pelo autor que
diminuíram sensivelmente matérias como: psicologia, lógica e filosofia, dificultaram a
tarefa dos sacerdotes, mas quando o autor refere-se que os currículos antigos seriam mais
atraentes para aqueles que se interessavam por idéias rejeitadas pelo marxismo é preciso
lembrar da especificidade das idéias do marxismo adotadas na URSS, pois o marxismo
pode ser interpretado de várias formas, e a forma escolhida neste contexto específico, no
nosso entender contém muitas contrariedades em relação as idéias originais de Marx e
Engels.
Portanto, aqueles que se sentiam atraídos por idéias contrárias à interpretação
soviética das idéias marxistas podem ter se sentido desmotivados a estudar nas
pouquíssimas escolas de teologia que existiam na URSS6.
Assim, como já dissemos, apesar das transformações estruturais trazidas pela
revolução de 1917 e conseqüentes transformações sociais, a perseguição à Igreja ortodoxa
russa se intensificou ainda mais na primeira metade do século XX, por vias e motivos
diferentes das perseguições ocorridas nos séculos anteriores, após a segunda guerra
mundial, o Estado soviético resolveu aliviar a pressão, mas fez uma reforma no ensino de
teologia procurando manter controlada a situação, evitando que pudesse se formar por via
ideológica uma contraposição originada a partir da religião.

6
Na URSS foram fundadas entre 1944 e 1948 duas academias de teologia e oito seminários, sendo que estes
números permaneceram iguais até 1958, a título de comparação na Rússia pré-revolucionária havia quatro
academias de teologia, 57 seminários e 185 escolas religiosas, Cf. Iwanow, 1965, p.64.
7
CONCLUSÃO

Ao longo de dois séculos e meio, a saber, os séculos XVIII, XIX e a primeira


metade do século XX, as estruturas políticas, econômicas e sociais russas sofreram grandes
transformações, apesar das mudanças no campo político e econômico pode-se perceber que
ao longo deste período o Estado manteve a Igreja impedida de difundir de maneira
ideológica idéias contrárias aos seus interesses.
O que é paradoxal em tal fenômeno é que temos neste período a transição do
Absolutismo monárquico ao capitalismo e depois do capitalismo ao comunismo, portanto
em termos políticos e econômicos as diferenças são muito grandes, contudo o bloqueio
feito pelo Estado em relação à Igreja tornou-se cada vez mais eficiente com o passar do
tempo, até o recuo do Estado soviético após a segunda grande guerra.
Se compararmos este processo com a história de Bizâncio, responsável pela
cristianização da Rússia, as diferenças são gritantes. No Império Bizantino, ou Império
Romano do Oriente, o poder estava equilibrado entre Igreja e Estado, embora houvesse
alternância em determinados períodos tal equilíbrio garantiu a estabilidade que faltou ao
Ocidente e prolongou a vida do Império Oriental até 1453, muitos séculos depois da
decadência do Ocidente.
Assim, embora tenham ocorrido mudanças estruturais, o Estado encarregou-se de
maneira muito eficiente de evitar a concorrência ou oposição da Igreja, já em Bizâncio ou
no Ocidente o papel da Igreja foi fundamental, tanto para o restabelecimento da ordem após
a queda do Império do Ocidente, quanto para a manutenção do poder centralizado no
Império do Oriente.
O que parece ter ocorrido na Rússia é que a nobreza imperial, a nobreza
aburguesada do século XIX e a cúpula do partido após a revolução de 1917, entendiam
como um grande perigo deixar espaço para o clero divulgar suas idéias, o que foi fatal para
o regime absolutista e a estrutura semifeudal dos séculos XVIII e XIX e vantajoso para os
revolucionários além de outros fatores que não envolvem a questão religiosa.

8
BIBLIOGRAFIA:
Academia de Ciencias de la URSS. Compendio de Historia da la URSS, Capítulos II, VI,
VII, VIII e IX, Moscu: Editorial Progresso, s.d.

DIEHL, Charles “O Lugar de Bizâncio na História da Idade Média” In: Os Grandes


Problemas da História Bizantina, São Paulo: Editora das Américas, 1961. p. 37-51.

FERRO, Marc. A Revolução Russa de 1917. São Paulo: Perspectiva, 1974.

HELLMANN, Manfred et alli. “El Imperio Ruso, de Pedro el grande a la revolucion de


febrero” In: Rusia, Madrid: Siglo XXI, 1979, pp. 162-258.

IWANOW, Boris. Religião na URSS, São Paulo: Dominus Editora, 1965.

MAS, Santiago. História del Movimiento Obrero 8 - Rusia: las luchas del populismo,
Buenos Aires: Centro editor de América Latina S.A., 1990.

NÉRÉ, Jacques. “A Rússia no século XIX” In: História Contemporânea, Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1991, pp. 279-293.

RAUSCHENBACH, Boris V. “O Batismo de Kiev” In: O Correio da Unesco, Agosto


1988, Ano 16, Nº 8, Brasil, p. 4-8.

VOLIN. A Revolução Desconhecida: Nascimento, crescimento e triunfo da revolução


russa (1825-1917). São Paulo: Global editora, 1980.

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