You are on page 1of 5

Gestão

Gestão da
da pr
produtividade
odutividade nas
produtividade nas empr
empresas
empresas
esas

A aaplicação
plicação do conceito de Pr odutividade Sistêmica permite
Produtividade
determinar o vvalor
alor adicionado ao processo pr
processo produtivo
odutivo
odutiv

No Brasil, a gestão da produtividade nas empresas vem se tornando cada


vez mais crucial em um ambiente de crescente abertura externa e globalização
dos negócios.
Atualmente, sem produtividade ou sem a eficiência do processo produtivo,
dificilmente uma empresa vai ser bem-sucedida ou até mesmo sobreviver no
mercado. Dado o acirramento da concorrência, a gestão da produtividade está se
tornando um dos quesitos essenciais na formulação das estratégias de competitividade
das empresas.
Este artigo tem dois objetivos: indicar e problematizar os procedimentos básicos
relativos a esse tipo de gestão e argumentar que, atualmente, o conceito relevante
para orientar esses processos é o de produtividade sistêmica.
Mariano de Matos Macedo

Procedimentos básicos
Procedimentos produção do que do processo produtivo de uma empresa.
É ainda comum a visão de que o processo produtivo de
A gestão da produtividade incorpora basicamente três uma empresa se restringe ao seu processo de produção.
procedimentos: Essa visão não capta a realidade de que esse processo
Ambiente Econômico

• a medição da produtividade; é apenas uma das etapas do processo produtivo de uma


• a identificação e a análise dos fatores determinantes empresa. Além da produção, o processo produtivo
dos gargalos de produtividade; contempla mais duas etapas: uma delas se refere à compra
• a definição e aplicação de propostas de superação de bens e serviços intermediários de outras unidades
desses gargalos. produtivas; a segunda é relativa à venda dos bens e serviços
Aparentemente, esses processos são logicamente que a empresa produz.
triviais. No entanto, é possível problematizá-los. Nesse contexto, o processo de produção da empresa se
Tradicionalmente, a produtividade vem sendo percebida limita à transformação física de bens e serviços
mais como uma medida de eficiência do processo de intermediários em bens e serviços produzidos pela empresa.

18

r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .3, set. 2 0 02
Já o processo produtivo de uma empresa se refere à sua De forma coerente com esse conceito e sua forma de
capacidade de gerar “produto” ou de agregar valor. A medição, a identificação e a análise dos fatores
agregação de valor nesse processo vai além da produção, determinantes dos gargalos de produtividade – o
pois depende também de como e em que condições a segundo procedimento para a gestão da produtividade –
empresa compra bens e serviços intermediários e tendem a se restringir ao “mundo” da produção, com
efetivamente vende os bens e serviços que produz. Por conclusões do seguinte tipo: gargalos de set-up, de
exemplo, se a empresa produz mas não vende tudo o que eficiência/ineficiências tópicas da linha de produção, de
produziu e acumula estoques indesejáveis, também não defasagem tecnológica dos equipamentos, de desempenho
efetiva o valor adicionado correspondente a esses estoques. da força de trabalho, etc.
O conceito de produtividade restrito ao processo de Esse tipo de análise é de extrema importância, mas, como
produção aparentemente é mais adequado à avaliação da é fundamentalmente restrita ao processo de produção, pode
eficiência de desempenho de empresas que não ser suficiente para avaliar todos os
atuam em “mercados cativos”, ou seja, em O conceito de gargalos de eficiência ou produtividade do
mercados de compras e vendas produtividade vai além processo produtivo da empresa.
relativamente fechados à concorrência e dos aspectos restritos ao Ainda com coerência metodológica, esse
com maior grau de controle por parte da processo de produção, tipo de medição e análise da produtividade
empresa. Esse conceito também tende a pois a geração de valor leva a definições e aplicações de
enfatizar a importância dos recursos de também depende propostas de superação de gargalos
produção tangíveis (máquinas, instalações, fundamentalmente – o terceiro procedimento para a gestão
quantidade de matérias-primas e de trabalho, das demais etapas do da produtividade – que também tendem a
etc.) no processo produtivo da empresa. processo produtivo ser restritas ao mundo da “produção”: 5S,
Além disso, a partir desse conceito, as Ferramentas da Qualidade, Gestão de
relações entre produtividade e lucratividade – o motum da Conflitos, Manutenção Produtiva Total-TPM, etc. Essas
empresa – dificilmente podem ser diretamente estabelecidas. ações são importantes, mas também podem ser insuficientes
Com base nesse conceito de produtividade, os aspectos para superar todos os gargalos de eficiência do processo
mais relevantes para o desempenho empresarial tornam-se produtivo da empresa.
centrados no processo de produção e, portanto, a eficiência
do processo produtivo passa a ser determinada e medida
fundamentalmente pelos seus aspectos operacionais.
Produtividade sistêmica:
Produtividade
Nesse caso, a medição da produtividade – a
noções básicas 2

capacidade da empresa gerar “produto” 1 – é feita


O conceito de produtividade se relaciona à capacidade
principalmente por indicadores de natureza físico-
da empresa gerar “produto” no seu processo produtivo.
operacional, por exemplo, X unidades de bens e serviços
A eficiência desse processo não se restringe ao “mundo”
por unidade de tempo, produção física por número de horas
da produção.
trabalhadas, entre outros. Quando os bens e serviços Esse conceito vai além dos aspectos restritos ao processo
produzidos pela empresa não são fisicamente homogêneos, de produção, pois a geração de valor também depende
esse método de medição possui limitações, pois, nessas fundamentalmente das demais etapas do processo
condições, é impossível a agregação desses bens e serviços produtivo: a compra de bens e serviços intermediários e a
em uma única quantidade física total de bens e serviços
produzidos pela empresa.
venda dos bens e serviços que a empresa produz. Se a
estratégia de compras da empresa (quantidade, qualidade,
...
19

r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .3, set. 200 2


relação com fornecedores, etc.) é inadequada e/ou a sua tangíveis (máquinas, instalações, quantidade de
estratégia e resultados de mercado (logística de distribuição, matérias-primas e de trabalho), mas também daqueles
volume de vendas, mark-up, market share, relação com que são intangíveis (gestão, cultura organizacional,
clientes, entre outros) são problemáticos, a eficiência de conhecimento ou produção intelectual, etc.);
seu processo produtivo pode ficar comprometida, apesar • com base nesse conceito, as relações entre
da excelência que possa ter no seu processo de produção. produtividade, lucratividade e salários podem ser
A eficiência na produção é condição necessária, mas diretamente estabelecidas, pois lucros líquidos
não suficiente, do processo produtivo da empresa. (retidos ou distribuídos), impostos, juros pagos ao
Nessa perspectiva metodológica, o conceito de sistema financeiro e salários constituem parcelas
produtividade passa a ter por base o valor adicionado pelo do valor adicionado (ver figura 1);
processo produtivo da empresa. Esse valor é calculado Além disso, a noção de valor adicionado, incorporada
pela diferença entre o valor das vendas da empresa e o ao conceito de produtividade, permite que as externalidades
valor das compras de bens e serviços intermediários que (economias externas, por exemplo, eficiência coletiva, e/ou
faz junto aos seus fornecedores (incluídas as variações socialização de custos, como danos ao meio ambiente) sejam
de estoque) - figura 1. contabilizadas na avaliação da eficiência do processo
O valor adicionado é um conceito sistêmico, pois depende produtivo da empresa individual. Por exemplo, se uma
dos múltiplos e interdependentes fatores/variáveis que definem empresa individual produz danos ao meio ambiente, o valor
e estruturam o processo produtivo. Quando o conceito de estimado desses danos pode ser diminuído do seu valor
produtividade tem por base esse valor, afirma-se o caráter adicionado, de forma a contabilizar a riqueza efetivamente
ou a natureza sistêmica da produtividade. Em um processo gerada pelo seu processo produtivo.
produtivo, a sua eficiência ou produtividade é sistêmica.

A eficiência na produção é Gestão da produtividade


produtividade
condição necessária, mas não sistêmica
suficiente, do processo
produtivo da empresa Nesse contexto conceitual e metodológico, a medição
da produtividade ou da eficiência do processo produtivo –
A produtividade desse processo não pode ser avaliada o primeiro procedimento para a gestão da produtividade –
somente pela eficiência de uma de suas fases, a produção. torna-se determinada pela relação entre valor adicionado
Todos os fatores/variáveis que afetam o desempenho da (output) e os recursos que a empresa utiliza (inputs) nesse
empresa (preço e qualidade do produto, estratégia de processo. Quando a produção é customizada e/ou os bens e
mercado, volume de vendas, estoque de produtos acabados, serviços produzidos pela empresa não são homogêneos, esse
padrão tecnológico, qualidade dos processos de produção, método de medição é também o mais adequado, pois não
relações de trabalho, custo e qualidade das matérias-primas,
apresenta problemas de agregação.
estoque de matérias-primas, relação com fornecedores)
De forma coerente com o conceito de produtividade
Ambiente Econômico

afetam também, sistemicamente, o valor adicionado pelo seu


sistêmica e a sua forma de medição, a identificação e
processo produtivo.
análise dos fatores determinantes dos gargalos de
Esse conceito de produtividade apresenta as seguintes
características: produtividade – o segundo procedimento para a gestão
• é mais adequado à avaliação da eficiência de da produtividade – não se restringe ao “mundo” da
desempenho de empresas que atuam em “mercados produção. Os aspectos relativos às relações da empresa
abertos”, ou seja, em mercados de compras e vendas com os mercados (estratégia e resultados), tanto de compra
com concorrência empresarial e com menor grau de bens e serviços intermediários, quanto de venda dos
de controle por parte das empresas; bens e serviços que produz, também assumem relevância
• tende a realçar a importância, para o processo como possíveis gargalos de produtividade ou de eficiência
produtivo da empresa, não só dos recursos produtivos do processo produtivo.
20

r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .3, set. 2 0 02
Com essa perspectiva metodológica, a empresa é produtivo de uma empresa. Shimizu, Wainai e Avedillo-
analisada não como um mero conjunto de departamentos Cruz (1997)3 fazem e ampliam esse tipo de decomposição,
(vendas, produção, entre outros), mas como uma unidade correlacionando 28 fatores.
sistêmica. O foco da empresa passa a ser a geração de
valor adicionado pelo seu processo produtivo e não mais a
sua produção física.
As medidas parciais de produtividade – do trabalho, do
A Gestão da Produtividade
capital, de bens e serviços intermediários (matérias-primas, Sistêmica desloca a empresa de
energia, recursos hídricos, etc.) – podem ser realizadas com uma lógica estritamente baseada
base no valor adicionado, podendo cada uma e o conjunto em custos para a lógica do ganho
dessas medidas serem úteis para a identificação e análise de
gargalos de produtividade, em particular quando comparadas
com benchmarks.
Esse mesmo eixo metodológico leva a definições e
Dentro de certos limites, é possível realizar essa
aplicações de propostas de superação de gargalos –
identificação e análise com base na decomposição do valor
o terceiro procedimento para a gestão da produtividade –
adicionado segundo seus fatores/variáveis determinantes,
na forma do exposto. Pode-se observar que alguns fatores que podem ser relativas a qualquer etapa/variável do
(Valor das Vendas, Número de Trabalhadores ou de Horas processo produtivo: compras, produção e vendas. Com
Trabalhadas, Valor Adicionado, etc.) se inter-relacionam
e sistemicamente determinam a eficiência do processo
essa perspectiva, a Gestão da Produtividade também
assume uma natureza sistêmica.
...
21

r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .3, set. 200 2


Lógica do ganho
ganho Finalmente, na perspectiva da produtividade sistêmica,
as despesas com salários, em geral contabilizadas como
O conceito de Gestão da Produtividade Sistêmica elementos de custos, são analisadas como uma parcela
amplia o escopo dos aspectos relativos à eficiência do do valor adicionado gerado pelo processo produtivo. Assim,
processo produtivo de uma empresa. a determinação dessa parcela está relacionada aos
Como a variável-chave da produtividade sistêmica é o aspectos relativos à distribuição funcional desse valor entre
valor adicionado por esse processo, a sua gestão deixa de lucros, salários, juros, aluguéis e impostos. Nessa pers-
ter natureza operacional e transforma-se no eixo de pectiva, é possível romper a aparente dicotomia entre
formulação das estratégias da empresa. O quadro analítico aumento da taxa de lucro/redução da massa salarial ou
da produtividade, de seus fatores determinantes e de suas aumento da massa salarial/redução da taxa de lucro: em
relações com a lucratividade passa a ser o referencial de condições de crescimento do valor adicionado é possível
planejamento estratégico da empresa. O desempenho do definir trajetórias convergentes de aumentos da taxa de
valor adicionado não só é determinado por fatores internos lucros e da massa salarial.
à empresa (gestão, padrão tecnológico, entre outros), mas
também por fatores que relacionam a empresa ao seu
ambiente externo, tanto micro (estruturas de mercado,
disponibilidade de infra-estrutura logística), quanto
macroeconômico (taxa de juros, taxa de câmbio, etc.).
Além disso, dada sua perspectiva conceitual e metodológica,
a Gestão da Produtividade Sistêmica desloca a empresa de
uma lógica estritamente baseada em custos, para a lógica do
ganho. Nessa lógica, o fundamental é gerar valor adicionado,
o que pode ocorrer mesmo em situação de custos crescentes.
Em certos casos, o aumento de custos pode ser um requisito
para o aumento mais do que proporcional do valor adicionado, Mariano de Matos Macedo é economista, doutor em Economia pela
Unicamp, Coordenador do Núcleo de Produtividade Sistêmica do Instituto
por exemplo, gastos em Pesquisa e Desenvolvimento de Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Paraná - IBQP-PR.
inovações de produto ou processo. E-mail: mariano@ibqppr.org.br
Ambiente Econômico

NOTAS
1
Em geral, o conceito de produtividade se refere à relação entre output e input de uma atividade econômica. Muitas vezes, essa relação é vista mais
como uma razão contábil do que como um processo de geração de “produto”, valor da nova riqueza gerada ou agregada pelo processo produtivo.
2
A metodologia de gestão da produtividade sistêmica vem sendo desenvolvida pelo IBQP-PR. Em geral, as idéias apresentadas neste artigo
são fruto de esforço coletivo dos técnicos dessa instituição. No entanto, qualquer equívoco de análise que o artigo possa apresentar é de
responsabilidade exclusiva do autor.
3
SHIMIZU, M.; WAINAI, K.; AVEDILLO-CRUZ, E. Value added productivity measurement and its practical implications with
linkage between productivity and profitability. Tokio: Japan Productivity Center for Socio-Economic Development, 1997.

22

r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .3, set. 2 0 02

You might also like