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A IMPORTÂNCIA DA MACRODRENAGEM NO PLANEJAMENTO DA OCUPAÇÃO URBANA

EM BACIAS HIDROGRÁFICAS.

Ronaldo Garcia *

RESUMO. O acentuado crescimento urbano das metrópoles brasileiras, nas últimas décadas, tem
concorrido diretamente para o aumento substancial das áreas impermeabilizadas nas bacias
hidrográficas. A erosão nas margens, a obstrução no leito dos cursos d’água e áreas ribeirinhas e as
enchentes concorrem assim para prejuízos de ordem social, econômica e ambiental, como
conseqüência de um sistema de drenagem sobrecarregado. No presente artigo apresenta-se uma
análise da proposta de planejamento para cidade de Belo Horizonte e os reflexos sobre a
macrodrenagem, bem como dos problemas semelhantes que vem ocorrendo na bacia do Ribeirão
Vidoca, em São José dos Campos, SP. Como resultado, mostra a necessidade de se adotar uma nova
visão no planejamento das bacias hidrográficas, através de uma lei de uso do solo com ênfase no
controle dos adensamentos urbanos, de suas áreas impermeáveis e dos impactos decorrentes do
aumento das vazões na macrodrenagem e no ecossistema ribeirinho.
Palavras-chave: crescimento urbano, macrodrenagem, planejamento urbano, Lei de Zoneamento.

ABSTRACT. The rapid urban growth of Brazilian cities in the last decade has directly contributed
to increase substantially the amount of impervious areas on the watersheds. Erosion to the riverbanks,
obstruction of the riverbeds, wetlands and riparian areas, and flood on the major waterway corridors
that contributes to social, economic and environmental losses, are some of the consequences of an
overloaded drainage system. In the present issue we analyze the proposed plan for the city of Belo
Horizonte, and the consequences to the macro drainage, as well as the similar problems that occurs in
the Vidoca River basin in São José dos Campos. As a result, it shows the need of adoption of a new
approach to solve the planning problems on hydrographic watersheds, through a Zoning Law with
focus on the urbanization’s control, on the amount of the impervious areas and the impact to the
drainage system and riverine ecosystem due to the increase in the water flow.
Key words: urban growth, macrodrainage, urban planning, Zoning Law.

* Professor da UniVap – FEAU.


importância na implantação de uma cidade,
porque é a partir desse conhecimento que
1. INTRODUÇÃO teremos insinuado o sentido de
direcionamento do sistema viário primário,
O Homem necessita intervir na natureza,
das redes de esgotos sanitários e pluviais e a
modificar o espaço onde vive, para satisfazer
localização dos reservatórios de tratamento
suas necessidades de deslocamentos, habitação,
e captação de água potável”. (MATOS,
subsistência, etc. O maior ou menor grau 1988).
dessas intervenções acarretará um maior ou O crescimento populacional das grandes
menor impacto ambiental, podendo conduzir a cidades brasileiras e o conseqüente aumento da
um “desenvolvimento sustentável” – onde o área impermeabilizada nas bacias
homem pode conviver harmonicamente com a hidrográficas, o assoreamento dos leitos dos
natureza, ou infringir pesadas perdas ao rios, a poluição dos corpos d’água e as
ecossistema global, o que geralmente se dá deficiências no planejamento da drenagem
quando de uma ocupação urbana descontrolada. urbana formam um quadro dos principais
Historicamente, as cidades quase sempre problemas que afligem, há algum tempo, a
se localizavam às margens dos rios, e grande maioria dos municípios brasileiros.
progressivamente iam se expandindo para Os desastres ambientais de grandes
montante, ao longo das bacias, ocupando as proporções, como deslizamento de encostas,
terras mais favoráveis à urbanização. Contudo, inundações, etc., têm mostrado que o homem
essa ocupação tem sido feita muitas vezes de não utiliza o meio ambiente de forma a
forma incompatível com os condicionamentos compatibilizar as ações antrópicas com as leis
ambientais, causando sérios impactos ao meio da natureza. Os aglomerados urbanos, nos
ambiente, quer seja pela ocupação de áreas do grandes centros, têm provocado mudanças no
leito de inundação dos rios, quer pela ocupação micro clima urbano, o qual é sensivelmente
de áreas de forte declividade ou com potencial diferente do micro clima rural, com o
de grande erodibilidade. surgimento de ilhas de calor, que agravam os
“Os grandes traços da estrutura espacial episódios de poluição do ar e o aumento da
de uma cidade são, durante um largo
precipitação pluviométrica.
período de sua evolução, conseqüência
Os corpos d’água, suas áreas marginais e
direta das limitações que o meio físico-
as áreas de várzeas constituem um complexo
geográfico imprime no tecido urbano
sistema que proporcionam o habitat natural
projetado ou construído. As bacias de rios,
para a vida animal, e formam, também, um
os cursos d’água, as tipologias de vales e
montanhas, enfim, a morfologia é de vital sistema importante na composição do nosso
espaço, desempenhando papel fundamental na Durante o período de urbanização de
formação, subsistência e na sobrevivência do uma bacia, ocorre também um aumento
ser humano. significativo na produção de sedimentos,
Os sistemas clássicos atuais de drenagem causado por obras de terraplenagem, limpeza
urbana estão centrados na lógica do rápido do terreno com a remoção da cobertura vegetal
escoamento das águas pluviais. Na quase do solo, escavações, etc.
totalidade dos casos, os projetos nunca levam “Os efeitos da urbanização
em consideração seus impactos potenciais na descontrolada sobre o sistema receptor
macrodrenagem. Assim sendo, e em dos corpos d’água são: a aceleração
decorrência da expansão urbana descontrolada, da erosão dos leitos, a deposição
são necessárias freqüentes ampliações nas acelerada de sedimentos nos lagos e
obras já executadas, (pontes, galerias, linhas de estuários, o assoreamento do habitat
tubos, etc.) como solução para suportar o animal nos berços de desova e dos
crescente aumento das vazões. micro-invertebrados, e o incremento
“O uso indiscriminado do solo urbano, dos poluentes”. (URBONAS, 1999).
sem um estudo prévio de suas limitações,
O ciclo hidrológico pode sofrer
tem gerado vários problemas de cunho
profundas transformações em conseqüência das
social – perda de moradia, destruição de
intervenções antrópicas que impactam o meio
ruas, asfaltamentos, estradas, pontes,
ambiente. O impacto da urbanização no
poluição visual, da água, do solo, do ar, -
Balanço Hídrico produz modificações no ciclo
o que tem contribuído para diminuir,
hidrológico nas suas várias fases, conforme
sistematicamente, a qualidade de vida em
mostra a Fig. 1.
áreas metropolitanas ou em cidades com
Na fase de pré-urbanização, ocorre
grande crescimento urbano”.
uma maior retenção da precipitação
(AUGUSTIN, 1985).
pluviométrica pelos solos, que, ao se infiltrar,
Essas soluções estruturais acarretam
promove uma maior recarga dos aqüíferos e
pesados investimentos por parte dos poderes
um menor volume de escoamento superficial
públicos, e poderiam ser, em muitos casos,
em relação à fase de pós-urbanização.
minimizados com a aplicação de políticas
Na fase de pós-urbanização, os volumes
voltadas ao controle dos acréscimos das vazões
escoados aumentam, os picos de vazão são
e a aplicação de uma política rigorosa da não
maiores e mais rápidos e os volumes infiltrados
ocupação das áreas de inundação do leito dos
diminuem, provocando uma redução na recarga
corpos d’água.
dos aqüíferos.
Na elaboração da presente análise sobre a
importância da macrodrenagem no
planejamento das bacias hidrográficas, foram
escolhidas as cidades de São José dos Campos,
(bacia hidrográfica do Ribeirão Vidoca), e Belo
Horizonte, em face aos problemas decorrentes
do crescimento urbano que apresentam.
Projetada em fins do século XIX por
técnicos brasileiros, com inspiração em
exemplos de outras cidades da Europa e
Estados Unidos, o projeto de Belo Horizonte
seguiu a concepção racionalista vigente à
época, de domínio da natureza pelo homem.
“Seu urbanismo foi diretamente
inspirado nos exemplos da grande
renovação de Paris, 1860, (sob a
liderança de Haussmann), da
implantação da cidade de Washington e
Fig.1. – Balanço Hídrico nas fases de
de Mar del Plata. Salientava em seu
Urbanização e de Pré Urbanização.
(Adaptado). traçado aspecto de monumentalidade,
grandes formas simétricas e
Planejar o espaço urbano é uma tarefa
concêntricas.”(Matos 1988).
complexa, multidisciplinar e multiobjetivos,
com implicações econômicas, políticas, sociais
2.1. O PLANEJAMENTO DE BELO
e ambientais.
HORIZONTE.
Disciplinar e ordenar esse crescimento
O município de Belo Horizonte, com
urbano tem sido tarefa atribuída ao
uma área de 335 km², situa-se na região
Planejamento Urbano, de forma que,
Sudeste do Brasil, Estado de Minas Gerais,
racionalizando a ocupação e o uso do solo, seja
sendo delimitada pelas latitudes 19º 46' 35" e
possível compatibilizar esse crescimento com a
20º 03' 34" sul e pelas longitudes 43º 51' 27" e
capacidade de auto-regulação do complexo
44º 03' 47" oeste de Greenwich.
ecossistema ambiental.
Assim como Brasília e Goiânia, Belo
Horizonte é um dos casos de cidade planejada e
2. DESENVOLVIMENTO projetada com a finalidade de ser a capital de
Estado. A primeira ordenação do espaço Para a área de expansão urbana, foi
ocupado pela cidade de Belo Horizonte foi sua aprovado um modelo de ocupação baseado nas
planta original, a qual estabeleceu o traçado “Avenidas Sanitárias”, com implantação de
básico do sistema viário e criou três espaços vias principais de penetração ao longo dos
distintos, que são as zonas urbanas, suburbana vales, sendo os cursos d’água gradativamente
e rural. canalizados.
“O plano da cidade, então elaborado, Segundo MATOS, (1988), dos 330 km
traz a marca do positivismo. Aplicado da rede natural de drenagens existentes, foram
ao urbanismo, o positivismo se canalizados cerca de 190 km. A zona urbana
expressa pelo gosto da medida, da destacava-se pela simetria do traçado em dupla
retificação, da ordenação, das figuras malha ortogonal, diagonalmente ajustada, com
geométricas, resultando em formas ruas e avenidas largas, constituindo-se no
espaciais semelhantes á rede, á malha, espaço destinado à localização dos principais
ao xadrez”.(PLANBEL, 1986). equipamentos coletivos e institucionais e pelo
qual se iniciaria a implantação das
A cidade foi fundada em 1897, no local infraestruturas. A zona suburbana, circundando
denominado Curral Del Rey. Foi planejada a urbana, desenvolvia-se em terreno mais
pelo Eng. Aarão Reis de acordo com as acidentado, com um traçado mais adaptado à
concepções racionalistas da época, na qual “o topografia e à zona rural que, circundando a
homem visava ao domínio da natureza”. Era o zona suburbana, destinava-se a sítios e
pensamento das elites dominantes, à época do pequenas lavouras. A ocupação da cidade, no
Brasil Republicano. Seu projeto inicial previa entanto, contrariou o Plano Original e as
um núcleo urbano de 200 mil habitantes. diretrizes traçadas em diversos aspectos,
crescendo da periferia para o centro, ocorrendo
Segundo a PLANBEL (1986), o traçado
na zona rural um incremento populacional ao
urbanístico e o traçado geométrico foram
invés da produção de alimentos para a qual fora
elaborados sem levar em conta a rede natural
planejado, (Fig.2.1).
de drenagem, fato que gerou inúmeras críticas e
sugestões para um novo traçado. Esse novo
traçado, que não seria aprovado, propunha
sinuosidades nas vias publicas para se adequar
aos leitos dos cursos d’água existentes, em
contraposição ao traçado geométrico.
Figura 2.1. - Plantas de Belo Horizonte, MG, traçado geométrico e traçado sanitário.
Fonte: Fundação João Pinheiro, (1996), in PDDU-BH.

Em 1979 a SUDECAP, Dentre as razões de seu grande


Superintendência para o Desenvolvimento da crescimento populacional está a
Capital, Belo Horizonte, em função dos industrialização que, desde os primórdios, já
problemas com as enchentes, propunha um era manifesta intenção de seus administradores.
plano de intervenções nos cursos d’água, Esse crescimento populacional provocou
denominado “Plano de Urbanização e profundas alterações na urbanização do
Saneamento Básico de BH”, que recomendava município e um quadro de agravamento das
o revestimento em concreto dos córregos e condições de habitação, em especial na
ribeirões como forma de solucionar os periferia urbana.
problemas das inundações, num total de 305 “A cidade vem apresentando elevadas
km de extensão de cursos s’água revestidos. taxas de crescimento populacional (em
Estima-se que foram gastas cifras em torno de torno de 7% ao ano), possuindo 214.300
US$ 1 bilhão nessas obras. habitantes em 1940, cerca de 353.700
em 1950, em 1960 passou a cerca de Apesar de não declarado
693.300, atingindo hoje uma população explicitamente, o desenho parece
de aproximadamente 2,1 milhões de indicar a intenção de esconder os
habitantes, inserindo-se no contexto de córregos sob o traçado regular das
uma região metropolitana (RMBH) com ruas. Nenhuma destas foi projetada com
cerca de 3,5 milhões de habitantes, dimensões compatíveis para a
distribuídos em 5852 km², englobando passagem, a céu aberto, de um curso de
24 municípios”. (MATOS, 1988). água. Apenas o ribeirão Arrudas, o
Segundo PEREZ et al. (2001), o principal córrego, em cuja bacia se
território de Belo Horizonte encontra-se hoje desenvolve a cidade, é mantido a céu
urbanizado de forma integral, restando cerca de aberto e, mesmo retificado em diversos
6% de áreas ainda não parceladas (incluindo as trechos, com uma sinuosidade que
áreas rurais) e cerca de 5% de áreas já mantém a linha básica de seu curso
parceladas, mas não edificadas. original. Mas o Arrudas é, desde a
O texto a seguir, extraído de concepção inicial da cidade, tratado
“Saneamento Básico em Belo Horizonte: como um fundo desta. A cidade, de certo
Trajetória em 100 Anos - Saneamento e modo, dá as costas para seu principal
Paisagem Urbana”, da Fundação João rio, característica que mantém até os
Pinheiro/CEHC, (1.996), ilustra alguns dias atuais, apesar de o vale do Arrudas
aspectos da evolução urbanística de Belo ter se transformado em um grande
Horizonte e o tratamento da questão da água no corredor do sistema de transportes da
meio urbano: metrópole.

“No plano inicial da cidade de Belo Na implantação da cidade, projetada,

Horizonte, a natureza foi tratada como talvez, por limitações de recursos

algo a ser submetida às necessidades financeiros, os córregos foram mantidos

simbólicas e funcionais expressas na à vista e canalizados a céu aberto.

geometria rígida do traçado racional. .................................................................

Nessa concepção, os córregos não Ao longo do tempo, no entanto, com o

cabiam nas ruas. O traçado se lhes crescimento da cidade, as necessidades

impunha, e no desenho de Aarão Reis de circulação e fluidez do tráfego,

são linhas sinuosas que atravessam impulsionadas por um excessivo e

impertinentes os quarteirões predatório adensamento e

quadrangulares da cidade projetada”. verticalização das áreas centrais,


impõem o progressivo fechamento das
canalizações dos córregos, que passam O crescente aumento populacional em
então a cruzar a cidade sem que o Belo Horizonte provocou um aumento na
habitante possa, na grande maioria dos ocorrência de inundações. Segundo PEREZ
casos, perceber a sua passagem. A (2001) enquanto a população estava no patamar
cidade fica “sem córregos”, massa de de 1,5 milhões de habitantes na década de 70, o
concreto e asfalto na qual, apenas de número de ocorrências estava em cerca de 26,
tempos a tempos, nas tempestades e passando para cerca de 270 ocorrências na
chuvas torrenciais, os rios mostram, às década de 90, quando a população atingia a
vezes tragicamente, sua presença cifra de dois milhões de habitantes.
permanente. O Plano Diretor de Drenagem de Belo
................................................................. Horizonte atualmente em execução está
Em todas essas canalizações, no baseado em uma nova filosofia, diferente
entanto, prevaleceu a concepção do daquela, objeto de seu planejamento original.
canal fechado, sobre o qual se Assim, sob novo enfoque, o Plano Diretor de
desenvolvem as pistas de rolamentos Drenagem,
das avenidas, política de esconder os
“... deverá buscar alterar esta lógica,
córregos, tratados como meros canais
assumindo como diretriz a preservação
de drenagem, quando não de esgotos;
dos fundos de vale. Esta orientação
política de domar a natureza e escondê-
implica em se priorizar e garantir a
la sob o tecido árido e pragmático da
despoluição dos cursos d’água e a
cidade; política que impede, mesmo que
adoção de soluções de drenagem menos
esta não seja sua intenção explícita, a
intervencionistas, integrando-os à
riqueza do intercâmbio entre natureza e
paisagem urbana. Para tanto, será
cidade, a visualização dos córregos,
necessário investir na concepção de
mesmo que domesticados e
parques lineares ao longo de canais
regularizados, em meio ao espaço
naturais, ou tratados apenas de forma a
artificial da cidade; política que, em
garantir sua estabilidade e condições de
larga medida, desconsidera o potencial
escoamento, como forma de assegurar a
dos vales como espaços de fruição e
manutenção de áreas inundáveis
lazer, submetendo-os à lógica da
correspondentes à calha maior destes
máxima utilização do solo para a
córregos. Viabilizar estes princípios
localização de atividades econômicas e
implica também em uma nova
o deslocamento dos transportes.”
abordagem do planejamento viário e da
legislação de parcelamento municipais, efetivamente na fase de industrialização. Foi
que têm também induzido ao quando se instalaram no município as grandes
‘encaixotamento’ dos cursos indústrias multinacionais. Esse crescimento se
d’água”.(PEREZ et al., 2001). deu em maior escala na zona urbana. A tabela a
seguir mostra o comportamento do crescimento
populacional nas zonas urbana e rural no
2.2. SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
O município de São José dos Campos período 1980 até 2000. A distribuição dessa
população se deu de maneira desequilibrada,
experimentou uma fase de intenso crescimento
ficando a maior parte, cerca de 85%, na zona
populacional a partir da década de 50, quando
urbana e o restante na zona rural.
passou da fase sanatorial e ingressou

Tabela - 1. Crescimento demográfico de São José dos Campos de 1980 até 2000.
TABELA DA POPULAÇÃO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, DE 1980 A 2000.
População/Anos 1980 1985 1990 1995 2000
Urbana 275.000 335.000 406.000 469.000 531.000
Rural 10.500 13.000 16.000 13.000 6.600
Fonte: Censo IBGE.(2000).

A taxa de crescimento populacional na inundações, assoreamentos e erosões


zona urbana atingiu, nas décadas de 70 e 80, aceleradas, e espelha o grande surto de
índices de até 6,5% ao ano, enquanto a taxa de crescimento que o município vem
crescimento rural apresentou valores negativos, apresentando.
tendendo atualmente à estabilização. A atual Segundo estudos elaborados por
taxa de crescimento urbano está entre 2,5% a GARCIA, R. (2003), para bacia do Ribeirão
3% ao ano. Vidoca, ela apresenta atualmente um quadro
O Rio Paraíba do Sul atravessa todo o preocupante em face do crescimento das áreas
município de São José dos Campos, segundo a impermeabilizadas, em razão de não terem sido
direção SW-NE. É na sua margem direita que tomadas providencias para mitigar os efeitos do
se localiza a Bacia do Ribeirão Vidoca, objeto aumento das vazões dos cursos d’água.
do presente estudo, com uma área de O estudo foi elaborado com base no
aproximadamente 60.0 km2. mapeamento dos perímetros urbanizados na
A escolha desta bacia se deu por estar ela bacia hidrográfica do Ribeirão Vidoca,
atualmente num estágio de desenvolvimento conforme Valério Filho et al. (2002) e
bastante acentuado, com fortes indícios de realizado, via SPRING, o cruzamento das áreas
deterioração ambiental, apresentando elevados urbanizadas segundo Classes de Adensamento,
índices de impermeabilização, freqüentes
com o mapa das zonas de uso do solo urbano nos totais de áreas ocupadas e não
segundo a Lei 165/97 atualmente em vigor. ocupadas na bacia em estudo.
Para a análise da bacia, consoante as • Na segunda parte, estão totalizadas as
Taxas de Ocupação definidas na Lei 165/97, foi áreas das zonas de uso dos solos
aplicada em cada Zona de Uso do Solo a Taxa ocupadas e não ocupadas, os
de Ocupação definida na lei, porém agrupadas coeficientes das taxas de ocupação
em três classes, quais sejam: taxa de ocupação permitidos na Lei 165/97, para cada
de até 10%, correspondentes a Zona Especial zona de uso, os totais de áreas ocupadas
de Proteção Ambiental – ZEPA III, e Área de segundo as taxas de ocupação definidas
Proteção Ambiental - APA; taxa de ocupação pela Lei 165/97, e as áreas ainda livres
de 65% correspondente as Zonas Mistas - ZM 1 para ocupação.
a ZM 8, Zona Especial de Proteção Ambiental Aplicando-se as taxas de ocupação
ZEPA I E II, Zona Residencial - ZR, Zona de especificadas pela Lei de Zoneamento do Solo
Vazio Urbano - ZVU, e Zona Especial de Urbano – Lei 165/97, GARCIA, R. (2003)
Interesse Social – ZEIS; e taxa de 80% para as verificou que da área total da bacia, apenas
Zona de Transição Industrial - ZETI, Zona de 58,4 % da área poderia estar ocupada, porém,
Uso Predominante Industrial - ZUPI, e Zona atualmente já se encontram ocupados 49,23% e
Comercial - ZC. restam ainda 50,77% de áreas livres para
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ocupação. Assim, aplicando-se as taxas de
O cruzamento dos perímetros dos ocupação previstas na Lei 165/97 nas zonas de
Adensamentos das diversas Zonas de Uso do uso dos solos para as áreas atualmente livres
Solo com os das Taxas de Ocupação nas para ocupação, e somando-se a ela o total de
respectivas Zonas, possibilitou visualizar a áreas já ocupadas atualmente, teremos o total
forma como as áreas da bacia estão sendo de ocupação da bacia no futuro, que passará a
ocupadas. Os resultados desse cruzamento ser de 78,01%.
estão apresentados na Tabela 2. É importante ressaltar que, devido à sua
A tabela está dividida em duas partes: conformação topográfica, as áreas de montante
• Na primeira parte estão as classes de da bacia, que correspondem à maior porção
uso dos solos da Lei 165/97, e as áreas ainda a ser ocupada, situam-se entre as altitudes
dos perímetros das zonas de uso dos 600 e 700 metros, em sua porção média
solos segundo as classes de superior, e nas cabeceiras atingem altitudes que
adensamentos urbanos obtidos por vão de 700 a 950 metros. Nessas áreas, os
Valério Filho et al. (2002), resultando terrenos apresentam declividades mais
acentuadas, o que ocasiona, em eventos de
precipitação, uma diminuição no tempo de para jusante, e de se regulamentar o uso e
concentração e uma maior velocidade de ocupação do solo das áreas marginais aos
escoamento superficial, em relação às demais cursos d’água levando-se em conta os níveis de
áreas. Assim sendo, com o advento da enchente máxima.
impermeabilização das áreas ainda livres de Os problemas de erosões,
ocupação, e sem o controle efetivo do aumento assoreamentos, deposição de materiais sólidos
das vazões para a macrodrenagem na bacia, nas margens e as enchentes que ocorrem
certamente ocorrerá um agravamento do atualmente na bacia do Ribeirão Vidoca, como
quadro atual, com problemas de erosões das também em outras bacias do município, são o
margens, assoreamentos, inundações, etc. como reflexo da falta de um planejamento adequado
tem ocorrido recentemente na bacia, podendo de ocupação da terra, de forma que os impactos
atingir índices de vazão superiores a 27 vezes a gerados pelas intervenções antrópicas na bacia
vazão natural da bacia na fase de pré- sejam minimizados, e as vazões para a
urbanização. macrodrenagem sejam mantidas próximas
Dessa forma, tendo em vista os daquelas da fase de pré-urbanização.
problemas ocorridos na cidade de Belo Por outro lado, a experiência da cidade
Horizonte, visto que o planejamento inicial de Belo Horizonte nos mostrou, pelo fato do
priorizou o traçado geométrico das vias sem se seu plano original priorizar o traçado
preocupar com as interferências com os cursos geométrico e acreditando que obras estruturais
d’água, e em face aos resultados da análise do resolveriam os problemas do escoamento das
impacto do adensamento urbano na bacia águas de chuva, a importância de se preservar
hidrográfica do Ribeirão Vidoca, como os leitos dos cursos d’água e de se fazer uma
conseqüência do grande aumento de áreas reserva de áreas ribeirinhas de forma que
impermeabilizadas, conclui-se pela necessidade possam comportar as vazões nos períodos de
do planejamento da ocupação urbana nas bacias máxima enchente, sem causar prejuízos
hidrográficas com enfoque no controle do materiais e perda de vidas humanas.
aumento das vazões para a macrodrenagem.
É de fundamental importância ainda a 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
reformulação da atual legislação de maneira a
contemplar os aspectos do controle das vazões AGUSTIN, C. H. R. R.; SAADI, A. Avaliação
“in loco”, de modo que os acréscimos de vazão Preliminar, Qualitativa, do Impacto
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sejam regulados sem que os impactos Mergulhão – Pampulha, BH. In:
decorrentes desta ocupação sejam transferidos
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SANITÁRIA E AMBIENTAL. 2., 2001.
Anais.... Belo Horizonte. 2001.
Tabela 2. - Síntese dos resultados obtidos através do cruzamento do Mapa de Adensamento Urbano (1997) e a Lei 165/97. (**)
Não Não
Consolidada Consolidada Implantação Consolidada Consolidada Áreas Áreas Não Total
Classes Baixa Média Média Alta Ocupadas Ocupadas
ZEPA 3 15.690,23 355,86 95.163,41 496.492,77 607.702,27 401.128,23 1.008.830,50
ZCHR 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
ZEPA I e II 22.105,98 259.508,65 55.021,48 1.183.922,27 458.550,30 1.979.108,68 11.693.161,00 13.672.269,68
ZM/ZR/ZVU/ZEI
S 289.439,40 708.711,68 1.103.066,09 5.270.543,03 15.747.945,18 23.119.705,38 10.126.920,12 33.246.625,50
ZC 7.363,07 990.834,76 998.197,83 0,00 998.197,83
ZETI/ZUPI 185.088,59 3.912,84 891.426,01 275.675,87 1.356.103,31 4.026.768,83 5.382.872,14
APA 311.545,39 1.168.999,15 1.162.000,42 940,99 10.361,47 2.653.847,42 5.422.063,61 8.075.911,03
Total 623.090,77 2.337.998,30 2.324.356,69 7.449.358,78 17.979.860,35 30.714.664,89 31.670.041,79 62.384.706,68
% da classe 2,03% 7,61% 7,57% 24,25% 58,54%
% da Bacia 1,04% 3,90% 3,87% 12,42% 29,97% 49,23% 50,77% 100,00%

Ocupação
Áreas Não Taxa de Máxima pelo Áreas livres para
Classes Áreas Ocupadas Ocupadas Total Ocupação Zoneamento ocupação
ZEPA 3 607.702,27 401.128,23 1.008.830,50 2% 20.176,61 8.022,56
ZCHR 0,00 0,00 0,00 50% 0,00 0,00
ZEPA I e II 1.979.108,68 11.693.161,00 13.672.269,68 65% 8.886.975,29 7.600.554,65
ZM/ZR/ZVU/ZEIS 23.119.705,38 10.126.920,12 33.246.625,50 65% 21.610.306,58 6.582.498,08
ZC 998.197,83 0,00 998.197,83 80% 798.558,26 0,00
ZETI/ZUPI 1.356.103,31 4.026.768,83 5.382.872,14 80% 4.306.297,71 3.221.415,06
APA 2.653.847,42 5.422.063,61 8.075.911,03 10% 807.591,10 542.206,36
Total 30.714.664,89 31.670.041,79 62.384.706,68 36.429.905,56 17.954.696,72
% da Bacia 49,23% 50,77% 100,00% 58,40% 78,0%
Total 48.669.361,61
Ampliação Atual Zoneamento Futura
da cheia (*) ±16,0 ±19,0 > 26,67
(**) Áreas em metros quadrados. (*) Número de vezes em relação à condição Rural. Fonte:Tucci, 2000.

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