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já abordada anteriormente, o constituinte de 1988 procurou dar efetiva tutela ao meio ambiente, trazendo
mecanismos para sua proteção e controle.
Cumpre-nos observar que esta alçou a fruição do meio ambiente saudável e
ecologicamente equilibrado como direito fundamental. Como bem coloca o mestre José Afonso da Silva, senão
vejamos:
O ambientalismo passou a ser tema de elevada importância nas Constituições mais
recentes. Entre nelas deliberadamente como direito fundamental da pessoa humana,
não como simples aspecto da atribuição de órgãos ou de entidades públicas, como
ocorria em Constituições mais antigas.3
E ainda, salienta o mesmo autor, que a “Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a
tratar deliberadamente da questão ambiental. Pode-se dizer que ela é uma Constituição eminentemente
ambientalista.”4
Destarte, o grande marco e impulso na mudança de concepção foi, se dúvida, as
disposições da Carta Magna de 1988, trazendo um arcabouço legislativo superior ao das legislações do
primeiro mundo.
Nossa Constituição traz a preocupação com as questões ambientais como fundamentais
para continuidade da vida em nosso Planeta, eis que esta preocupação é de cunho global. Deve haver além de
um bom aparato jurídico sobre o assunto, um envolvimento de toda sociedade.
Não basta, entretanto, apenas legislar. É fundamental que todas as pessoas e
autoridades responsáveis se lancem ao trabalho de tirar essas regras do limbo da
teoria para a existência efetiva da vida real, pois, na verdade, o maior dos problemas
ambientais brasileiros é o desrespeito generalizado, impunido ou impunível, à
legislação vigente. É preciso, numa palavra, ultrapassar-se ineficaz retórica ecológica
– tão inócua, quanto aborrecida – por ações concretas em favor do ambiente e da
vida. Do contrário, em breve, nova modalidade de poluição – a “poluição
regulamentar” – ocupará o centro de nossas atenções.5
Nos diversos artigos que se referem ao meio ambiente na ordem constitucional, nota-se
claro o caráter interdisciplinar desta questão, eis se referem a aspectos econômicos, sociais, procedimentais,
abrangendo ainda natureza penal, sanitária, administrativa, entre outras.
O artigo 225 do texto constitucional, assim prescreve:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar
as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
3
SILVA. José Afonso. Direito Ambiental constitucional. 4ª ed. São Paulo: Malheiros. 2003. p. 43.
4
SILVA. op. cit. p. 46
5
MILARÉ, Edis. Direito do ambiente: doutrina, prática e jurisprudência, glossário. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2001.
p. 232.
3
6
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 16ª ed. São Paulo: RT. 1991. p. 426.
7
MILARÉ. op. cit. p. 235.
8
MEDEIROS, op. cit. p. 21.
9
CARVALHO, Carlos Gomes de. O que é Direito Ambiental. Dos descaminhos da casa à harmonia da nave. Florianópolis:
Habitus. 2003. p. 152.
4
10
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2004. p. 68.
11
FREITAS, Vladimir Passos de. A Constituição Federal e a efetividade das normas ambientais. 2ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais. 2002. p. 17.
12
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4º ed. São Paulo: Malheiros. p. 70.
13
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e teoria da Constituição. 3ª ed. Coimbra: Ed. Almedina. 1999. p. 362.
14
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constituicional. 10ª ed. São Paulo: Malheiros. 2000. p. 521.
15
CANOTILHO, op. cit. p. 375.
5
16
MEDEIROS, op. cit. p. 133.
17
MS - 22.164-0/SP, rel. o Min. Celso de Mello, in DJU 17/11/95, p. 39206.
18
NALINI, José Renato. Ética Ambiental. Campinas: Millennium. 2001. p. 203.
19
Enciclopédia Saraiva do Direito, vol. 70. 1982. p. 415.
6
Em matéria ambiental esta garantia encontra-se mitigada, eis que na hipótese de uma
atividade em que posteriormente ao seu licenciamento ambiental, se mostre danosa ao meio ambiente não se
poderá se recorrer a este princípio constitucional visando resguardar o direito já “adquirido” pelo poluidor.
Neste caso, prevalece o interesse maior que é o da coletividade, a quem foi dado o
direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
É certo que o Direito Ambiental, para cumprir a sua missão de tutela ao interesse
público, deverá poder impor medidas antipoluição a instalações já existentes, sob
pena de violar-se o princípio poluidor-pagador e perpetuar o direito a poluir.20
Destarte, se houver conflito entre o direito auferido por alguém em virtude da expedição
de licença ambiental e o interesse da coletividade que está sendo prejudicada em virtude da atividade que
apesar de licenciada causa danos ambientais, deve prevalecer o interesse da coletividade.
20
MILARÉ, op. cit. p. 261.
21
ANTUNES. op. cit. p. 30
22
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 8ª ed. São Paulo: Malheiros. 2003. p. 219.
7
CONCLUSÃO
1. Do estudo realizado neste trabalho, pudemos observar que o novo tratamento
constitucional em matéria ambiental foi um passo fundamental rumo a preservação do meio ambiente.
2. A partir daí, novas leis ambientais foram promulgadas e já tiveram uma concepção
diversa daquela existente, ou seja, estamos deixando um visão utilitarista do meio ambiente e partindo para
uma visão mais preservacionista dos recursos naturais.
3. Urge, no entanto, que esta mudança atinja não só a legislação ambiental brasileira,
mas que perpasse por cada um de nós, visto que os danos que estão ocorrendo no meio ambiente têm
afetado também os seres humanos, por vezes de forma violenta e trágica.
4. Isto, como salientado anteriormente passa também por uma mudança na postura do
desenvolvimento econômico, que deve estar aliado à preservação ambiental, criando mecanismos para
melhoria na qualidade de vida dos habitantes deste planeta, não se esquecendo da preocupação com as
gerações que estão por vir.
5. Destarte, as portas para a participação popular foram abertas pela Carta Magna
vigente. Faz-se necessário que cada um de nós assuma seu papel tanto em defesa do meio ambiente,
adotando atitudes concretas neste sentido. De nada valerá um arcabouço da legislação ambiental louvável, se
este não for efetivamente colocado em prática.
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23
FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Saraiva. 2004. p. 27
24
SILVA. op. cit. p. 26
25
Nosso futuro comum. O Relatório Brundland. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas. 1990. p. 9.
26
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8
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