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O exercício, ao abstrair da profunda e crescente divisão entre ricos e pobres, os que “têm” e os
que “não tê m” acesso aos bens e serviços, revela-se inócuo e improdutivo em termos de
soluções e propostas alternativas. Assim, indagam ... “suponhamos as melhores condições
sociais possíveis, qual é o crescimento que o sistema físico poderá suportar”? (pág.44).
Nas conclusões, os autores postulam que ... “se as atuais tendências de crescimento da
população mundial – industrialização, produção de alimentos, poluição e diminuição de
recursos naturais continuarem, os limites de crescimento no planete serão alcançados dentre
dos próximos anos e resultarão em declínio súbito e incontrolável da capacidade industrial”...
(pág.20).
40 anos depois (2008) da elaboração do estudo, é possível verificar que a população mundial
mais do que dobrou neste intervalo enquanto os indicadores de pobreza, mortalidade infantil e
subnutrição não foram invertidos em sua tendência perversa. Pelo menos 1 /3 da população
vegeta nos limites de sobrevivência, não tendo acesso à água potável, saneamento,
alimentação básica e serviços essenciais como educação e saúde e isto, apesar da
incorporação de centenas de milhões de deserdados como produtores e consumidores na
China e, em grau menor, na Índia.
Um exemplo da gritante desigualdade é o acesso à água potável. É sabido que a quantidade de
água doce disponível na terra é de apenas 0,5% do total das águas, incluindo as calotas
polares geladas.
Devido à urbanização intensa, os desmatamentos e a contaminação por atividades industriais e
agrícolas, mesmo esta pequena quantidade de água está diminuindo, causando a desertificação
progressiva da superfície da terra. O consumo de água, em consequência da urbanização
dobra a cada 20 anos, mais rapidamente do que o crescimento da população. Se, de acordo
com as estatísticas das Nações Unidas, centenas de milhões de pessoas carecem de acesso à
água potável, por outro lado, continua o consumo de desperdício do precioso líquido pela
parcela dos mais afortunados que podem pagar pelo serviço. Enquanto regiões imensas na
África, Ásia e América Latina carecem de recursos hídricos mínimos, nas regiões
“desenvolvidas”, além de excesso de consumo, aumenta a poluição de rios, lagoas e lençóis
freáticos e aqüíferos subterrâneos, tudo em nome de um suposto crescimento econômico.
Alimentos, recursos naturais, água e um meio ambiente saudável são condições necessárias,
porém não suficientes para um processo de desenvolvimento sustentável, definido por
atividades econômicas racionais sem depredação dos recursos naturais quanto, sobretudo, do
trabalho humano, com distribuição eqüitativa e justa dos produtos e oferecendo oportunidades
iguais para o desenvolvimento pessoal e o pleno desabrocha r da personalidade de cada
indivíduo.
A alegada ou real escassez de recursos – terra, água, fontes energéticas e matérias-primas - é o
resultado de uma organização social perversa e injusta que condena metade da humanidade às
condições de indigentes e marginalizados, sem qualquer perspectiva de desenvolver seu
potencial humano criativo. A aposta em inovações tecnológicas, tais como a Revolução
Verde, tem se mostrado contraditória em seus efeitos. Houve um aumento da produção em
conseqüência do uso maciço de fertilizantes, defensivos e sementes selecionadas, mas seus
benefícios foram apropriados pelos proprietários de terras de grandes extensões que, além do
capital necessário para adotar as novas técnicas, têm acesso mais fácil aos mercados de seus
produtos e a financiamento. Desalojando pequenos agricultores, criam desemprego e mais
pobreza.
Nem todos os problemas são suscetíveis de soluções técnicas. Seus condicionantes são
valores sociais e uma postura ética, ausentes entre os donos de capital, movidos pela busca
irrefreada de lucros e sua acumulação. Infelizmente, a chamada “responsabilidade social” das
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empresas tem se revelado mais um instrumento de marketing do que uma mudança no
comportamento real do mundo dos negócios.
As tentativas de apelar à consciência dos empresários, executivos, políticos e um certo
número de acadêmicos reunidos anualmente no Fórum Econômico Mundial, em Davos,
Suíça, revelam mais perplexidade e são inócuos face as dimensões dos problemas da
humanidade.
Também, o Fórum Social Mundial, criado como contraponto aos encontros dos empresários,
após um início promissor, com a presença de dezenas de milhares de ativistas, sobretudo
jovens vindos de mais de uma centena de países, perdeu seu foco e ímpeto, deixando seus
participantes perplexos e desorientados.
Os históricos movimentos de massa, proclamando mudanças estruturais revolucionárias -
socialistas, comunistas, anarquistas – sofreram o golpe da revelação das atrocidades
cometidas pelo regime stalinista na ex-União Soviética, que desacreditaram todos os
movimentos esquerdistas. Por outro lado, o avanço espetacular do neoliberalismo
proclamando “o fim da história” e acenando com o acesso ao consumo ilimitado, desarticulou
também os movimentos sindicais cujos dirigentes foram cooptados pelo aparelho de poder da
plutocracia.
Em outras palavras, atravessamos um ciclo histórico recessivo na evolução da humanidade, o
qual, com a opulência, a riqueza material e o poder concentrados nas mãos de poucos, nos
aproxima aos limites da barbárie.
Parafraseamos um filósofo grego que, ao contemplar o céu e as estrelas, postulara a harmonia
e o equilíbrio como condições sine qua non do sistema cósmico e clamou por “um mundo
só”, agora e no futuro. Para me lhorar as condições humanas e restaurar a dignidade
existencial, serão necessários sacrifícios individuais e mudanças nas estruturas de poder
econômico e político, no caminho de uma humanidade solidária, pacífica e sustentável, que
tenha condições de satisfazer as necessidades básicas de todos e criar oportunidades iguais
para cada um, de realizar seu potencial individual.
A situação econômica e social atual está cada vez mais próxima do caos, da violência e de
confrontos irracionais em todas as regiões do globo. A tendência à depredação de recursos
naturais e humanos não significa que os limites de crescimento serão alcançados nos
próximos anos e resultarão em declínio súbito e incontrolável da população e de sua
capacidade produtiva. Significa, contudo, que os custos sociais e ambientais serão transferidos
em escala e intensidade crescentes aos que menos poder de defesa tem, eternas vítimas de um
sistema desumano e implacável.
No começo de julho de 2008, reuniram-se em Tokayo, na ilha de Hokkaido, Japão os chefes
de estado do G-8, os países industrialmente mais desenvolvidos e ricos (EUA, Japão,
Alemanha, Grã Bretanha, França, Itália, Canadá e a Rússia) para “considerar seriamente” a
redução de emissões causadoras do aquecimento global terrestre. Não houve avanço com
relação à reunião do ano anterior, realizada em Heiligendamm, Alemanha, durante a qual
Japão, União Européia e Canadá propuseram a redução das emissões globais até 2050, uma
meta de longo prazo. Mas, como dizia Lord Keynes,...”a longo prazo estaremos todos
mortos”.
Ainda assim, os EUA se opõem a apresentar metas quantitativas a menos que haja
compromissos idênticos de outros países, grandes emissores, sobretudo China, Índia e Brasil.
Os G-8 e mais outros oito países – Austrália, Brasil, China, Índ ia, Indonésia, México, África
do Sul e Coréia do Sul respondem em conjunto por mais de 80% das emissões que provocam
o “efeito estufa” e o aquecimento global.