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INTRODUÇÃO

1 CORÍNTIOS
Autoria
As evidências internas e inerentes a este documento apostólico, bem como as evidências exter-
nas não deixam dúvida quanto à autoria de Paulo (1.1,2; 16.21). Os próprios pais da igreja, como
Clemente de Roma, por volta do ano 95 d.C., já defendiam a autoria paulina dessa primeira carta à
Igreja em Corinto.
Na época de Paulo, a cidade de Corinto tinha uma população estimada em 250 mil cidadãos livres
e cerca de 400 mil escravos. Devido à sua localização geográfica, constituía-se de uma faixa de terra
ligando a península ao continente, com pleno acesso ao mar Mediterrâneo; era uma encruzilhada
para viajantes e comerciantes de todas as partes do mundo. Seus dois importantes portos eram
Cencréia, cerca de 10 km a leste do golfo Sarônico, e Lecaião, a uns 2 km a oeste, no golfo de
Corinto, que faziam da cidade ponto estratégico e obrigatório de abastecimento de descarga de
navios. O comércio era um dos mais exuberantes do Mediterrâneo; a cultura cosmopolita, e a
imoralidade sem limites faziam parte da religião local como forma de expressão e culto aos deuses
helênicos. Corinto abrigava doze grandes templos, sendo que um dos mais infames era dedicado
à Afrodite, deusa grega do amor, onde mais de mil mulheres eram escolhidas todos os anos para
oferecem seus corpos aos homens como oferenda religiosa.

Propósitos
Essa primeira carta dirigida à Igreja em Corinto é eminentemente de ordem prático-doutrinária e
trata de problemas espirituais e morais como se fosse um manual de teologia pastoral.
Alguns membros da casa de Cloé comunicaram a Paulo a respeito do surgimento de fortes
discórdias qque haviam se alastrado de tal forma qque a pprópria p igreja
g j estava se dividindo. Outros
irmãos que foram ter com Paulo em Éfeso, como Estéfanas, Fortunato e Acaico (16.17), trouxeram
relatos perturbadores sobre o procedimento imoral e pagão de alguns membros da igreja (caps. 5
e 6). Devido ao contexto cultural e religioso no qual a cidade vivia, a imoralidade sempre oprimiu os
cristãos de Corinto. Paulo já havia recomendado expressamente que os crentes não deviam voltar
a se envolver com os procedimentos moralmente inconvenientes e impuros, próprios daqueles que
não temem a Deus e seguem a deuses e líderes segundo suas próprias concupiscências (5.9-11).
Contudo, o apóstolo percebe que não foi bem compreendido e, portanto, escreve com maior clareza
ainda, conclamando os verdadeiros crentes a uma ação imediata e drástica contra o pecado e os
rebeldes (5.3-13). Um comitê vindo da liderança da igreja em Corinto trouxe uma carta pedindo as
orientações de Paulo em relação a uma série de assuntos (7.1; 8.1; 12.1; 16.1).
Sendo assim, mesmo considerando os diversos dons espirituais que capacitavam muitos mem-
bros da igreja para o santo e produtivo serviço cristão, os crentes de Corinto eram imaturos, muito
ligados à tradição pagã dos helênicos e aos maus costumes (1.4-7; 3.1-4). Paulo, então, se dispõem
a instruir e restaurar a igreja – a partir da sua liderança – nas suas específicas áreas de fraqueza, cor-
rigindo práticas equivocadas e pecaminosas, como: murmurações e divisões (1.10 – 4.21); todas as
formas de imoralidade (5.1 – 6.20); demandas entre cristãos mediadas por juízes incrédulos (6.1-8);
exageros de comida, bebida e liberdade moral durante a Ceia do Senhor (11.17-34); e falsas con-
cepções teológicas sobre a ressurreição de Cristo (cap.15). Paulo ainda instrui a igreja sobre a coleta
de ofertas em favor dos cristãos que estavam atravessando um terrível período de crise econômica
e financeira em Jerusalém (16.1-4).
Esta carta de Paulo, portanto, tem a preocupação básica de resolver os problemas enfrentados
pelos crentes em Corinto quanto à verdadeira prática cristã, ou seja, em relação à santificação pro-
gressiva de cada crente, mediante o controle absoluto do Espírito Santo, que se expressa através de
uma fé santa e de um caráter santo.
O conteúdo desse documento eclesiástico de Paulo faz todo o sentido nos dias de hoje, na vida diária
dos crentes e nas comunidades modernas. A maior parte das questões enfrentadas pela Igreja em Co-
rinto faz parte do nosso cotidiano e das realidades humanas do século XXI. O capítulo 13 fala da maior
necessidade do homem: o amor. E o capítulo 15 responde: a ressurreição do nosso Salvador.

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Data da primeira publicação
ç
Todos os documentos históricos e arqueológicos apontam para a primavera do ano 55 d.C. como
a data em que os originais da primeira carta à Igreja de Corinto começaram a ser lidos e estudados
ppublicamente,, como era costume dos cristãos da época.
p Paulo teria escrito essa epístola
p já
j no final
do período
p de três anos qque ppassou em Éfeso ((16.5-9;; At 20.31).) Na menção
ç qque o apóstolo
p faz em
relação à sua permanência na movimentada e helênica cidade de Éfeso até a chegada das celebra-
ções de Pentecostes (16.8), fica evidente seu desejo de passar pouco tempo ali depois de ter escrito
aos coríntios.

Esboço geral de 1 Coríntios


1. Saudações ministeriais com ações de graças (1.1-3)
2. Louvor a Deus pelos dons espirituais concedidos à Igreja em Corinto (1.4-9)
3. O apóstolo busca corrigir as falhas dos crentes coríntios (1.10 – 6.20)
A. Calúnias, difamações e divisões (1.10 – 16)
B. O Espírito de Cristo é indivisível (1.10 – 17)
C. Os crentes devem enfatizar a pregação da Cruz (1.18 – 31)
D. O exemplo de Paulo através do seu ensino (2.1-5)
E. O verdadeiro conhecimento e sabedoria (2.6-16)
F. Brigas e facções são sinais de imaturidade espiritual (3.1-4)
G. A correta avaliação dos ministros de Cristo (3.5-9)
H. A Igreja deve ser edificada sobre a Rocha (3.10-15)
I. O Templo do Senhor (3.16,17)
J. Como devemos ver nossos líderes espirituais (3.18 – 4.17)
K. Advertência aos orgulhosos e arrogantes (4.18-21)
L. A imoralidade renitente não deve ser tolerada (5.1-13)
M. Litígios entre crentes não devem ser ajuizados por pagãos (6.1-11)
N. Não oferecer os corpos à prostituição como os pagãos (6.12-20)
4. Orientações quanto ao celibato, casamento e divórcio (7.1-40)
5. Orientações quanto às comidas e oferendas aos ídolos (8.1 – 11.1)
6. Orientações quanto à proclamação e ao culto público (11.2 – 14.40)
A. A simbologia do uso do véu por parte das irmãs (11.2-16)
B. Como compreender e se portar na Ceia do Senhor (11.17-34)
C. Como compreender e praticar os dons espirituais (12.1 – 14.40)
D. O amor fraternal é o mais importante dos dons espirituais (13.1-13)
E. O dom da profecia (pregação) é superior ao de línguas (14.1-25)
F. A necessidade de ordem no culto (14.26-40)
7. Como compreender a doutrina da ressurreição (15.1-58)
8. Orientações quanto à oferta para a Igreja em Jerusalém (16.1-4)
9. Paulo planeja passar o inverno com a Igreja em Corinto (16.5-9)
10. Exortações, saudações finais e bênção apostólica (16.10-24)

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1 CORÍNTIOS
Prefácio e saudações Exortações à concórdia na igreja

1 Paulo, convocado para ser apóstolo


de Jesus Cristo pela vontade de Deus,
e o irmão Sóstenes,1
10 Suplico-vos, queridos irmãos, pelo nome
de nosso Senhor Jesus Cristo, que concor-
deis uns com os outros no que falam, a fim
2 à Igreja de Deus que está em Corinto, de que não haja entre vós divisões; antes,
aos santificados em Cristo Jesus e con- sejais totalmente unidos, sob uma mesma
vocados para serem santos, juntamente disposição mental e no mesmo parecer.
com todos os que, em toda parte, in- 11 Caros irmãos, fui informado a vosso
vocam o Nome de nosso Senhor Jesus respeito, pelos da família de Cloé, que
Cristo, Senhor deles e nosso:2 existem discórdias entre vós.
3 Graça e paz a vós outros, da parte de 12 Refiro-me ao fato de um de vós afir-
Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo! mar: “Eu sou de Paulo”; enquanto o ou-
tro declara: “Eu sou de Apolo”; e outro:
Graças a Deus pelos irmãos “Eu sou de Pedro”; e outro ainda: “Eu
4 Sempre dou graças a Deus por vós, pela sou de Cristo!”.5
graça de Deus que vos foi concedida por 13 Ora, acaso Cristo está dividido? Foi
Ele em Cristo Jesus. Paulo crucificado em vosso favor? Fostes
5 Pois em tudo fostes enriquecidos nele, batizados em nome de Paulo?
em toda a palavra e em todo conheci- 14 Dou graças a Deus por não ter bati-
mento, zado a nenhum de vós, com exceção de
6 porquanto o testemunho de Cristo foi Crispo e de Gaio,
confirmado em vós, 15 a fim de que ninguém venha a alegar
7 de maneira que não lhes falta nenhum que foi batizado em meu nome.
dom espiritual, enquanto aguardais a re- 16 É certo que batizei também os da casa
velação de nosso Senhor Jesus Cristo.3 de Estéfanas; além destes, não me recor-
8 Ele os conservará firmes até o fim, de do se batizei algum outro irmão.
modo que sereis irrepreensíveis no Dia 17 Porquanto Cristo não me enviou para
de nosso Senhor Jesus Cristo. batizar, mas para proclamar o Evange-
9 Deus é fiel, por meio do qual fostes lho; não por meio de palavras de sabe-
chamados à comunhão de seu Filho doria humana, para que a cruz de Cristo
Jesus Cristo, nosso Senhor.4 não seja esvaziada.

1 Aqui Paulo volta a usar a expressão “apóstolo” em seu sentido restrito, os que viram e foram comissionados pelo próprio
Jesus ressurreto (Mc 6.30; Hb 3.1). Paulo publica seu título em quase todas as suas cartas (menos em Fp, 1 e 2 Ts e Fm), com
o objetivo de confirmar sua convocação apostólica como arauto de Jesus, autoridade essa que seus opositores procuravam
contestar (2Co 11).
2 Paulo usa a expressão “Igreja de Deus” somente aqui, em At 20.28 e 2Co 1.1. No AT, a expressão equivalente usada é
“Assembléia do Senhor” (Dt 23.1; Nm 16.3; 20.4; 1Cr 28.8).
3 A palavra grega original para “dom” é charisma, e ressalta, em seu significado, que os dons são resultado da graça de Deus e
capacitam os cristãos para ministrar aos membros do Corpo de Cristo e ao mundo perdido. Os crentes receberam a capacidade
de suprir todas as necessidades da Igreja por meio do Espírito Santo (12.7-11; 14.3-17).
4 Paulo garante que a fidelidade de Deus se encarregará de manter os crentes “firmes até o fim” (1Ts 5.24; v.8).
5 Apolo havia realizado um ministério notável em Corinto (At 18.24-28; 19.1). Pedro, cujo nome em grego é Cefas (Jo 1.42),
também era muito querido e respeitado. Entretanto, dizia-se que apenas os cristãos judeus o seguiam. Um outro grupo,
ainda, se arvorava o direito de ser mais cristão do que os outros. Paulo, que não admitia “paulinistas”, admoesta a todos que
abandonem suas “facções religiosas” e se concentrem no fato de que todos os crentes são de Cristo, e a Ele devemos toda
a devoção e obediência. Evidentemente que devemos respeito e carinho aos nossos líderes espirituais e amor fraterno para
com todas as pessoas.

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1 CORÍNTIOS 1 4

Palavra da cruz, poder de Deus O chamado e vocação dos santos


18 Pois a mensagem da cruz é loucura 25 Porquanto a insensatez de Deus é mais
para os que estão sendo destruídos, po- sábia que a sabedoria dos seres humanos,
rém para nós, que estamos sendo salvos, e a fraqueza de Deus é mais forte que
é o poder de Deus.6 todo o poder dos homens.
19 Porquanto está escrito: “Destruirei a 26 Irmãos, contemplai a vossa vocação!
sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteli- Pois não foram convocados muitos sá-
gência dos homens cultos”.7 bios, de acordo com critérios humanos,
20 Onde está o sábio? Onde está o ho- nem muitos poderosos, nem tampouco
mem culto? Onde está o questionador nobres.
desta era? Acaso não tornou Deus com- 27 Pelo contrário, Deus escolheu justa-
pletamente insensata a sabedoria deste mente o que para o mundo é insensatez
mundo? para envergonhar os sábios, e escolheu
21 Considerando que, na sabedoria de precisamente o que o mundo julga fraco
Deus, o mundo não o conheceu por para ridicularizar o que é forte.
meio da sabedoria humana, foi do 28 Ele escolheu o que do ponto de vista do
agrado de Deus salvar os que crêem por mundo é insignificante, desprezado, e o
intermédio da loucura da proclamação que nada é, para reduzir a nada o que é,
da sua mensagem.8 29 com o objetivo de que nenhuma pes-
22 Porque tanto os judeus pedem sinais, soa se vanglorie perante Ele.
como os gregos procuram sabedoria;
23 nós, entretanto, proclamamos a Somos de Deus em Cristo
Cristo crucificado, que é motivo de 30 Portanto, vós sois dele, em Cristo Je-
escândalo para os judeus e loucura para sus, o qual se tornou para nós sabedoria
os gentios.9 da parte de Deus, justiça, santificação e
24 Todavia, para os que foram convoca- redenção,
dos, tanto judeus como gregos, Cristo é o 31 a fim de que, como está escrito: “Aque-
poder de Deus e sabedoria de Deus.10 le que se gloria, glorie-se no Senhor”.11

6 A palavra original grega para “poder de Deus” é dunamis (Rm 1.16). Portanto, o Evangelho não tem apenas a capacidade
de instruir e educar, mas o poder de transformar a alma de qualquer ser humano, tornando-o santo em Cristo, por meio da ação
contínua do Espírito Santo (At 1.8).
7 Paulo não está condenando todo o saber secular, mas sim as idéias filosóficas que procuram destronar Deus do comando do
universo e das vidas dos indivíduos na Terra. A citação é extraída de Is 29.14, texto em que Deus condena a política dos “sábios”
de Judá, os quais tentaram negociar um acordo com o Egito ao serem ameaçados pelo rei Senaqueribe, da Assíria. Os cidadãos
de Corinto eram extremamente politizados e dados a questionamentos. Aristides dizia que em todas as ruas de Corinto achava-se
algum suposto sábio, que tinha soluções para todos os problemas do mundo.
8 A expressão “proclamação da mensagem” deriva do significado geral do termo grego original kerigma. A pregação das “boas
notícias” de que Jesus Cristo (o Messias), o Filho de Deus, encarnado, que morreu na cruz do Calvário e ressuscitou para nossa
justificação, santificação e salvação eterna, é simplesmente loucura (insensatez) do ponto de vista de quem está escravizado pelo
sistema de valores deste mundo. É interessante notar que o vocábulo “crêem” está no original grego no tempo presente contínuo
do verbo, o que indica uma fé diária e constante.
9 Deus colocou o mundo todo sob uma grande prova de fé. Os judeus esperavam um Messias com poderes políticos e mili-
tares extraordinários que pudesse colocar Israel sobre todas as nações da terra (Jo 7.31). A bênção de Deus era compreendida
somente a partir da ostentação de símbolos econômicos, políticos e militares (poder e riqueza). Jamais poderiam aceitar alguém
amaldiçoado por Deus (Gl 3.13). Os gregos escarneciam de uma divindade que, a seus olhos, não tinha a sabedoria filosófica e
o poder para salvar a si mesmo da condenação, à morte de cruz. Os romanos tinham certeza de que nenhuma pessoa de boa
reputação seria crucificada, de maneira que era inconcebível que Jesus pudesse ser divino e ao mesmo tempo um criminoso
condenado à pena capital.
10 Deus demonstra sua incomensurável e imarcescível sabedoria ao vir à terra em forma humana, na pessoa do seu Filho, para
pagar a pena universal que condenava todo homem ao eterno afastamento da presença gloriosa do Senhor. Sem a loucura e a
fraqueza da crucificação, não poderia ter havido a sabedoria, o poder da ressurreição e os inumeráveis benefícios decorrentes,
que estão à disposição de todos os crentes (Hb 11.1; Gl 6.14).
11 Os próprios cristãos que moravam em Corinto eram testemunhas vivas de que a salvação não depende de boas ações ou

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Pregação no poder do Espírito 8 Nenhum dos governantes desta era

2 Eu mesmo, irmãos, quando me dirigi


até vós, não o fui apenas com um
discurso eloqüente, nem ostentando sa-
compreendeu essa sabedoria, pois se a ti-
vessem entendido, não teriam crucificado
o Senhor da glória!3
bedoria para vos anunciar o testemunho 9 No entanto, como está escrito: “Olho
de Deus. algum jamais viu, ouvido algum nunca
2 Porquanto decidi nada saber entre vós, a ouviu e mente nenhuma imaginou o
não ser Jesus Cristo, e este, crucificado.1 que Deus predispôs para aqueles que o
3 E foi sob fraqueza, temor e grande tre- amam”.
mor que estive entre vós. 10 Deus, todavia, o revelou a nós por in-
4 Minha mensagem e minha procla- termédio do Espírito!
mação não se formaram de palavras 11 Pois, quem conhece os pensamentos
persuasivas de conhecimento, mas cons- do ser humano, a não ser o espírito
tituíram-se em demonstração do poder do homem que nele reside? Assim,
do Espírito, igualmente ninguém conhece os pen-
5 para que a vossa fé não se fundamente samentos de Deus, a não ser o Espírito
em sabedoria humana, mas no poder de de Deus.4
Deus.2 12 Nós, entretanto, não recebemos o
espírito do mundo, mas, sim, o Espírito
A sabedoria que vem do Espírito que vem de Deus, a fim de que possamos
6 Contudo, falamos de sabedoria entre compreender o que por Deus nos foi
aqueles que já têm maturidade; não me outorgado gratuitamente.
refiro, entretanto, à sabedoria desta era 13 Sobre isso também pregamos, não com
ou dos poderosos deste século, que estão palavras ensinadas pelo saber humano,
sendo reduzidos a nada. mas, sim, com palavras ministradas pelo
7 Ao contrário, falamos da sabedoria de Espírito, interpretando verdades espiritu-
Deus, do mistério que estava oculto, o ais para os que são espirituais.
qual Deus preordenou antes da origem 14 As pessoas que não têm o Espírito não
das eras, para a nossa glória. aceitam as verdades que vêm do Espírito

da qualidade inerente de certas pessoas. Portanto, quando alguém é contemplado com o dom da salvação deve orgulhar-se
(gloriar-se) na misericórdia do Senhor (Jr 9.24).
Capítulo 2
1 Os pregadores e mestres do Evangelho devem dar especial atenção ao conteúdo da mensagem e ao viver sob a direção
do Espírito Santo. A oratória e as técnicas de comunicação são secundárias. A expressão original grega marturion significa
“testemunho”, e transmite aos oradores a idéia de serem testemunhas de Cristo antes de apenas comunicadores. “Cristo
crucificado” é uma síntese da mensagem cristã que deve ser pregada em todo mundo e a todos os povos (15.3,4), cuja exposição
completa está registrada nas diversas passagens do NT.
2 Paulo não está negligenciando o estudo sistemático e dedicado das Escrituras, nem a busca do aperfeiçoamento na arte
de pregar. Suas cartas revelam grande conhecimento em várias áreas do saber, e sua eloqüência ficou evidenciada em seus
vários discursos (At 17.22-31). O que acontece, infelizmente, é que à medida que os cristãos se desenvolvem no conhecimento
teológico, menos se observa demonstrações de piedade e dependência do Espírito em suas vidas. O que o experiente apóstolo
está nos ensinando é que a obra é do Senhor. É o Espírito Santo quem abençoa o pregador cristão para entregar a mensagem
de Deus aos ouvintes, assim como é o mesmo Espírito quem opera na audiência para aplicar as verdades bíblicas em seus
corações. A confiança de Paulo como pregador não dependia da sua capacidade intelectual e retórica, como ocorria com os
comunicadores e filósofos gregos.
3 A expressão grega original teleiois (perfeitos ou aperfeiçoados) refere-se aos cristãos que por meio da experiência com o
Espírito Santo, e às muitas provas, alcançaram sabedoria e maturidade espiritual e, portanto, já não agem com “infantilidade,
espiritual” (Hb 5.13 a 6.3). Ao referir-se aos “poderosos deste século”, Paulo não está falando das potestades demoníacas, mas
dos governantes judaicos e romanos da sua época, bem como das autoridades humanas do nosso tempo, cujo poder é ilusório
e efêmero (2.8; Lc 24.20; At 3.17, 4.27; Mc 1.24,34).
4 Paulo cita o AT com freqüência (está escrito...), a fim de demonstrar o cumprimento da Palavra de Deus em Jesus Cristo.
Aqui, Paulo refere-se a certas passagens de Is 64.4; 65.17; 52.15. O amor não é apenas um sentimento de paixão, mas um
compromisso para a vida toda (Jo 14.21). A grande revelação se refere às verdades do Evangelho todo.

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1 CORÍNTIOS 2, 3 6

de Deus, pois lhes parecem absurdas; Paulo? Servos por intermédio dos quais
e não são capazes de compreendê-las, viestes a crer, e isto conforme o ministé-
porquanto elas são discernidas espiri- rio que o Senhor concedeu a cada um.2
tualmente. 6 Eu plantei; Apolo regou; mas foi Deus
15 Contudo, aquele que é espiritual quem deu o crescimento.
pode discernir todas as coisas, e ele 7 De forma que nem o que planta nem
mesmo por ninguém é compreendido; o que rega são de alguma importância,
porquanto: mas unicamente Deus, que realiza o
16 “Quem jamais conheceu a mente do crescimento.
Senhor, para que possa instruí-lo?” To- 8 O que planta e o que rega ministram
davia, nós temos a mente de Cristo!5 de acordo com um propósito, e cada um
será premiado segundo o seu próprio
O crente infantil e as dissensões trabalho.

3 Irmãos, não vos pude falar como


a pessoas espirituais, mas como a
pessoas carnais, como a crianças em
9 Porquanto nós somos colaboradores de
Deus; vós sois a lavoura de Deus e edifí-
cio de Deus.3
Cristo.
2 O que vos dei para beber foi leite e não O dever dos ministros de Cristo
alimento sólido, pois não podíeis recebê- 10 Segundo a graça de Deus que me foi
lo, nem ainda agora podeis,1 outorgada, eu, como prudente constru-
3 porque ainda sois carnais. Visto que tor, lancei o alicerce e outro está edifican-
campeia entre vós todo tipo de inveja do sobre ele. Entretanto, reflita bem cada
e discórdias, por acaso não estais sendo um como constrói.
carnais, vivendo de acordo com os pa- 11 Porque ninguém pode colocar outro
drões exclusivamente mundanos? fundamento além do que está posto, o
4 Pois, quando alguém alega: “Eu sou de qual é Jesus Cristo!
Paulo”, e outro “Eu sou de Apolo”, não 12 Se alguma pessoa edifica sobre esse
estais agindo absolutamente segundo os alicerce utilizando ouro, prata, pedras
padrões dos homens? preciosas, madeira, feno ou palha,4
5 Quem é, portanto, Apolo? E quem é 13 sua obra será manifesta, porquanto o

5 O homem “natural” ou “da alma” (no grego original psuchikos) vive em função de um “espírito não regenerado”, ou seja, com-
pletamente inclinado às vontades da terra, do pecado e das trevas. O Espírito Santo em nós, além de dar vida ao nosso espírito,
nos abre a visão ao conceder-nos o poder do discernimento (em grego anakrinetai). Um milagre ocorre, e deixamos de ser apenas
“alma vivente” para ser pneumatikos (no original grego “espiritual”). Ou seja, guiados pelo Espírito Santo (Rm 8.9,14). Entretanto,
o Espírito não age por força, o crente precisa convidá-lo a participar das decisões de sua vida. Quanto mais o cristão dialogar e
entregar o controle de sua vida ao Espírito Santo, tanto mais e maiores experiências do amor e do poder de Deus terá.
Capítulo 3
1 A expressão grega original sarkinois significa “carnais” no sentido de “bebês humanos”. Quando conhecemos a Cristo como
nosso Salvador e Senhor, passamos a ser orientados pelo Espírito Santo, que começa a nos alimentar com “leite”, termo que, no
original, identifica todo o desígnio básico de Deus, ministrado de forma didática e progressiva, até que possamos compreender
(ingerir) princípios mais complexos e de alta doação pessoal ao Senhor e aos nossos semelhantes (At 20.27; Hb 5.12-14; 6.1).
2 Todo ministro da Palavra deve ser diakonoi, ou seja, “servo”. Essa expressão no original grego transmite a idéia de pessoas
tão humildes que, em si mesmas, não têm qualquer poder ou mensagem, e apenas estão a serviço do seu senhor.
3 Paulo tinha um chamado divino para pregar o Evangelho onde ainda não havia sido pregado (At 18.4-11). Apolo tinha o dom
de mestre, gostava de ensinar os membros de uma igreja já implantada, normalmente edificando os novos convertidos que Deus
convocava à salvação por meio da pregação pioneira de Paulo. As duas funções têm igual importância e são complementares
para o cumprimento da vontade de Deus. O “prêmio” (salário ou recompensa) não depende do êxito, do número de salvos ou
igrejas plantadas, mas do trabalho realizado com sinceridade e espírito de adoração ao Senhor. Os crentes são o campo agrícola
de Deus. E o grego é enfático ao repetir que Deus é dono tanto da lavoura, quanto do edifício, nos quais Paulo, Apolo, Pedro e
tantos outros discípulos foram trabalhadores dedicados.
4 O ouro, a prata e vários tipos de pedras preciosas (como o mármore) foram usados na construção dos templos, enquanto
a madeira, feno e palha eram destinados às casas sem grande valor. O primeiro grupo representa o trabalho precioso e aceito

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7 1 CORÍNTIOS 3, 4

Dia a trará à luz; pois será revelada pelo crito: “Ele apanha os sábios nas próprias
fogo, que provará a qualidade da obra de artimanhas deles”.
cada um.5 20 E mais: “O Senhor conhece os pensa-
14 Se a obra que alguém construiu per- mentos dos sábios, que são elucubrações
manecer, este receberá sua recompensa. vãs”.
15 Se a obra de alguém se queimar, este 21 Portanto, nenhuma pessoa deve se
sofrerá prejuízo; ainda assim, será salvo orgulhar dos homens, porque tudo vos
como alguém que escapa por entre as pertence,
chamas do fogo.6 22 seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, seja
16 Não sabeis que sois santuário de Deus o mundo todo, a vida, a morte; assim
e que o seu Espírito habita em vós? como o presente ou o futuro, tudo o que
17 Se alguma pessoa destruir o santuário existe é vosso,8
de Deus, este o destruirá; pois o santuá- 23 e vós sois de Cristo, e Cristo de Deus!9
rio de Deus, que sois vós, é sagrado.7
Ministros de Deus
A sabedoria humana é loucura
18 Ninguém se iluda: se qualquer pessoa
entre vós se considera sábia de acordo
4 Portanto, todas as pessoas devem nos
considerar servos de Cristo encarre-
gados dos mistérios de Deus.1
com os padrões deste nosso tempo, 2 Além disso, o que se requer de todos
então é melhor tornar-se insensata para aqueles que têm essa responsabilidade é
alcançar a sabedoria. que vivam fielmente.
19 Porquanto a sabedoria deste mundo é 3 Quanto a mim, pouco me importa
loucura aos olhos de Deus. Pois está es- ser julgado por vós, ou por qualquer

por Deus como oferta suave e agradável que suportará os testes do Juízo divino; simbolizam a doutrina e a vida cristã puras e
saudáveis. O segundo grupo significa o trabalho realizado sem sinceridade e pureza de coração, apenas como uma atividade
profissional sem qualquer compromisso ético e moral com Deus e com as pessoas; simboliza doutrina e vida cristã insípidas e
distantes dos princípios básicos da Palavra de Deus.
5 O juízo divino testará com fogo a qualidade espiritual das obras realizadas. O trabalho de alguns crentes resistirá à prova,
como metais caros e pedras preciosas, porém, outros verão suas obras serem consumidas pelo fogo como se fossem de palha
seca. Essa forte ilustração usada por Paulo tem o propósito de ressaltar a importância de se pregar, ensinar e viver a Palavra de
Deus sem subterfúgios, manipulações ou intenções reprováveis (4.5; 2Co 5.10).
6 Recompensa, salário ou galardão (Ap 22.12; Lc 19.16-19). Paulo usa uma expressão proverbial muito comum entre os gregos
da época e que tinha o sentido geral de “escapando por um triz”, para explicar que toda a obra desse cristão insincero e negli-
gente será queimada pelo fogo da justiça de Deus.
7 O termo grego original correspondente à palavra “santuário” é naos. E era um somente, no qual também existia o chamado
“lugar santíssimo”. Era um costume pagão acreditar que seus deuses moravam dentro dos seus muitos templos, por isso a pro-
fusão de imagens e esculturas. Entretanto, o Deus de Israel tinha em seu templo em Jerusalém apenas um símbolo da presença
divina, porquanto o Espírito de Deus habita o Templo que é a Igreja Universal que se manifesta nas igrejas locais. A penalidade
para a profanação do templo era a exclusão ou a morte (Nm 19.20; Lv 15.31). Paulo aqui se refere a pessoas que profanam a
igreja local por meio de divisões e dissensões (1.11-12).
8 Todos os ministros e líderes cristãos não são absolutamente autônomos; todos pertencem a uma única Igreja Unida em Cristo
com o principal propósito de serví-la enquanto servem ao Senhor. Nenhum grupo cristão pode considerar-se dono exclusivo de
um determinado líder, nem tampouco qualquer líder pode atrever-se a ser dono da igreja ou de seus membros. O mundo (em
grego kosmos), ou seja, o universo físico, incluindo todo o verdadeiro e saudável conhecimento secular pertence aos crentes
(15.54-57).
9 Paulo explica essa relação de propriedade, destacando que os crentes estão unidos a Cristo e pertencem a Ele. Cristo está
unido a Deus, o Pai (Jo 10.30), e com Deus, o Espírito Santo (2Co 13.14). De maneira que, semelhantemente, todos os cristãos
sinceros estão em união com os verdadeiros líderes espirituais da Igreja e com Cristo, que, por sua vez, está em união com as
demais pessoas da trindade. Cristo é igual a Deus, mas, como Filho e homem, é perfeitamente submisso ao Pai.
Capítulo 4
1 A palavra grega huperetas, aqui traduzida por “servos” tem o sentido de “subordinado ou mordomo”, enquanto a expressão
grega oikonomos, aqui traduzida por “encarregados”, quer dizer “despenseiros ou responsáveis”. Isso significa que “os servos”
do Senhor são como “supervisores” espirituais daqueles que se fizeram “escravos” de Cristo e administradores dos bens de
Deus, ou seja, da Sua Palavra e mistérios (sabedoria e poderes divinos encobertos ao mundo, mas revelados aos discípulos de
Cristo – Rm 11.25).

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1 CORÍNTIOS 4 8

tribunal humano; em verdade, nem eu mundo, tanto diante de anjos como dos
tampouco julgo a mim mesmo. seres humanos.
4 Porquanto, ainda que esteja consciente 10 Nós somos loucos por causa de Cristo,
de que nada há contra mim, nem por todavia vós sois os sábios em Cristo! Nós
isso me justifico, pois quem julga é o somos os fracos por causa de Cristo,
Senhor.2 mas vós sois fortes! Vós sois respeitados,
5 Assim, nada julgueis antes da hora de- contudo, nós somos desprezados!
vida; aguardai até que venha o Senhor, o 11 Até hoje, estamos passando fome, sede
qual não somente trará à luz o que está e necessidade de roupas; somos afronta-
em oculto nas trevas, mas igualmente dos e esbofeteados, e não temos morada
manifestará as intenções dos corações. certa.
Então, nesse momento, cada pessoa rece- 12 Nos afadigamos de trabalhar ardua-
berá de Deus a sua recompensa.3 mente com as próprias mãos. Quando
somos ofendidos, abençoamos; quando
Advertência contra a arrogância perseguidos, não revidamos;
6 Irmãos, apliquei essas verdades a mim 13 quando caluniados, respondemos fra-
e a Apolo por amor de vós, para que ternalmente. Até esse momento, somos
por nosso intermédio aprendais a não considerados a escória da humanidade,
ir além do que está escrito, de maneira o lixo do mundo.5
que nenhum de vós se encha de orgulho
a favor de um contra o outro.4 Admoestação de pai espiritual
7 Pois, quem é que te faz destacado em 14 Não vos escrevo dessa forma com a in-
relação aos demais? E o que tens que não tenção de vos envergonhar, mas para vos
tenhas recebido? E, se o recebeste, então advertir, como a meus filhos amados.
qual o motivo do teu orgulho, como se 15 Pois, ainda que venhais a ter dez mil
não o tiveras ganho? tutores em Cristo, não teríeis, entretanto,
8 Já tendes tudo o que desejais! Já estais muitos pais. Porquanto em Cristo Jesus
ricos! Conseguistes vos tornar reis, e isso, eu mesmo os gerei por intermédio do
sem nós! Quisera muito eu que verda- Evangelho.6
deiramente reinásseis, para que também 16 Sendo assim, suplico-vos que sejam
nós reinássemos convosco! meus imitadores.
9 Porquanto a mim parece que Deus nos 17 Por esse motivo, vos estou enviando
colocou a nós, os apóstolos, em último Timóteo, meu filho amado e fiel no
lugar, como condenados à morte; pois Senhor, o qual vos trará à lembrança o
viemos a ser como um espetáculo para o modo como vivo em Cristo Jesus, em

2 A expressão grega anakrinõ (“julgado”) significa um exame ou análise crítica que se faz antes do julgamento final. Paulo se
sentia “justificado” em relação à obra que realizava. Quanto à sua salvação, contudo, a “justificação” é dom de Deus mediante
a fé (Rm 5.1).
3 A “hora devida” tem a ver com o Dia em que Deus julgará os crentes (3.13), manifestará as mais profundas intenções do
coração (Sl 19.12; 139.23,24; Rm 2.16; Hb 4.12,13) e concederá galardões aos fiéis (15.58; Hb 6.10).
4 Os antigos e sábios rabinos gostavam de citar um provérbio: “Não ultrapasses o que está escrito” (Jr 9.24; Is 5.21; Sl
94.11). Devemos ter um conceito da humanidade a partir das Escrituras (4.18,19; 5.2; 8.1; 13.4), considerando as limitações
do ser humano caído (Gn 3), e lembrando que a arrogância (altivez, orgulho, soberba, empáfia) é a principal causa dos
desentendimentos, divórcios e divisões.
5 Paulo escreve de Éfeso (15.32; 16.8,9), e faz questão de mencionar que trabalhou duramente (fabricando tendas – At 18.3;
20.34,35; 1Co 9.6,18) com o objetivo de não depender financeiramente de ninguém para ensinar o Evangelho. Paulo pagou para
abençoar e pregar a Salvação, e recebeu injúrias e perseguições, sem revidar ou vingar-se (Mt 5.44). Os gregos desprezavam
qualquer trabalho manual e o relegavam aos escravos (1Ts 2.9; 2Ts 3.8).
6 Todo pai deve estabelecer limites para seus filhos e admoestá-los, sempre que necessário, perseverantemente em amor
(Ef 6.4). Paulo usa a expressão grega “paidagogos”, aqui traduzida por “tutores”, pois se referia ao serviço de alguns escravos,
encarregados de acompanhar os rapazes até à escola e supervisionarem seu aprendizado e educação (Gl 3.24). Paulo usa o
direito de um pai fiel ao Senhor para pedir que seus filhos imitem seu comportamento e caráter (11.1; 1Ts 1.6).

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9 1 CORÍNTIOS 4, 5

conformidade com o que eu ensino por atitude e expulsar da comunhão aquele


toda parte, em todas as igrejas. que assim procede?
18 Alguns de vós se tornaram arrogantes, 3 Apesar de eu estar ausente fisicamente,
como se eu não fosse mais visitar-vos. estou presente em espírito, e já julguei
19 Contudo, em breve, irei visitar-vos, quem praticou tamanha insolência,
se o Senhor permitir, então saberei não como se estivesse presente.
apenas o que estão falando esses sober- 4 Ora, quando vos reunirdes em o Nome
bos, mas que poder eles realmente têm. do Senhor Jesus, e eu estando convosco
20 Porque o Reino de Deus não consiste em espírito, diante da presença do poder
de palavras, mas de poder!7 de nosso Senhor Jesus,
21 O que preferis? Devo ir visitar-vos com 5 entreguem esse homem a Satanás, para
a vara da disciplina, ou com amor e espí- que a carne dessa pessoa seja destruída,
rito de mansidão?8 mas seu espírito seja salvo no Dia do
Senhor.2
Combate à imoralidade na Igreja 6 Esse vosso orgulho não é bom. Não sa-

5 De toda parte se ouvem comentários


de que há impureza entre vós, e uma
espécie de imoralidade que não se obser-
beis que um pouco de fermento faz com
que toda a massa fique fermentada?
7 Livrai-vos do fermento velho, a fim de
va nem mesmo entre os pagãos, a ponto que sejais massa nova e sem fermento,
de alguém manter relações sexuais com a assim como certamente, sois. Porquanto
mulher do seu pai.1 Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi sacri-
2 E ainda estais cheios de arrogância! ficado.3
Não devíeis, pelo contrário, repugnar tal 8 Por isso, celebremos a festa, não com

7 O Reino de Deus se estabelece na vida de todos aqueles que têm um encontro verdadeiro e profundo com a fé em Jesus
Cristo, recebem a presença do Espírito Santo em suas vidas e passam a trabalhar com a Igreja (os santos) na proclamação da
glória do Senhor, com humildade e caráter cristãos (Jo 3.3-8; 2Co 5.17). Neste sentido, as palavras fúteis e vazias se contrapõem
ao poder autêntico do Espírito Santo.
8 Como pai espiritual de todos aqueles “adolescentes espirituais” em Cristo, que formavam a igreja de Corinto naquela época,
Paulo os adverte figuradamente sobre a possibilidade de ter de usar sua autoridade apostólica (“a vara da disciplina”) para
repreendê-los e ensiná-los a se manter no verdadeiro Caminho do Senhor (2Co 10.8; 13.10).
Capítulo 5
1 A expressão grega porneia, aqui traduzida por “imoralidade”, significa todo o tipo de impureza moral e indecência. O incesto
era expressamente contra a Lei judaica (Lv 18.7,8; 27.20; Am 2.7) e abominável entre os romanos. O antigo orador Cícero decla-
rou que tal ato era desconhecido na sociedade romana de sua época. O texto de Paulo faz supor que a mulher não se tratava
da mãe biológica do homem em questão, ainda assim uma atitude repugnante mesmo para aqueles que não criam em Deus
(os pagãos).
2 Paulo já havia advertido a igreja em Corinto (v.9) que os crentes devem buscar e andar em santidade, pois esse é o caráter
dos cristãos e seu testemunho ao mundo. Entretanto, neste caso, como não houve qualquer manifestação de arrependimento e,
além disso, muitos ainda se portavam com arrogância, afrontando a Palavra, Paulo manda, em nome de Jesus Cristo, que seja
executada a sentença pública (perante toda a igreja) de excomunhão daquele cristão faltoso, renitente e presunçoso. Um ato
formal e solene deveria marcar a exclusão do impenitente (excomungar da igreja – Jo 9.22) da comunhão e do convívio fraterno
dos crentes (nossa família em Cristo), e decretar sua devolução ao reino das trevas (sistema mundial), onde Satanás reina com
toda a sorte de crueldades e depravações. Essa sentença vigorava até que o cristão rebelde se arrependesse dos seus maus atos
e pecados contra o Senhor e Sua Igreja e rogasse por sua reintegração à comunhão dos santos. Entretanto, algumas vezes, era
necessário que tais pessoas sofressem aflições espirituais, psicológicas e físicas até que compreendessem o valor e a bênção
de viver guardados e dirigidos pelo Espírito Santo. Mesmo pessoas que jamais se arrependem claramente, nem voltam ao bom
senso espiritual, poderão ser salvas no último dia, por haverem, um dia, aceito ao Senhor e se tornado cristãs. Portanto, esse
julgamento final não pertence à Igreja (Ef 2.12; Cl 1.13; 1Jo 5.19).
3 Paulo repete uma metáfora muito usada por Jesus para evidenciar que os cristãos são, posicionalmente, santos (santificados
por Cristo) e, portanto, os devem ser também no procedimento diário; puros, como a massa dos pães sem fermento (levedura),
oferecidos como alimento durante a Festa da Páscoa (Êx 12.15). Nas Escrituras, em geral, o fermento simboliza o mal ou o
pecado (Mc 8.15), que penetra na alma humana, azeda e se desenvolve (cresce), contaminando todo o corpo. A Igreja deve estar
atenta e, com amor e firmeza, livrar-se do fermento do pecado, pois é nova massa, composta de novas criaturas em Cristo (2Co
5.17). Cristo é nosso Cordeiro Pascal. Em sua morte expiatória na cruz do Calvário cumpriu completamente – e de uma vez por

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1 CORÍNTIOS 5, 6 10

fermento velho, nem com o fermento 2 Ou desconheceis que os santos julgarão


do maligno e da corrupção, mas com os o mundo todo? E, se o mundo será jul-
pães sem fermento da sinceridade e da gado por vós, como sois incompetentes
verdade. para julgar assuntos de tão menor im-
9 Já vos adverti por carta que não vos portância?2
associásseis a nada que fosse imoral. 3 E mais, não sabeis vós que iremos jul-
10 Dizendo isso, não me refiro às pessoas gar inclusive os anjos? Quanto mais as
imorais deste mundo, nem aos avarentos, demandas triviais desta vida!
ou aos ladrões, ou ainda, aos idólatras. Se 4 Será que, quando surgem questões des-
assim fosse, seria necessário que saísseis ta vida para serem julgadas, constituís
do mundo. como juízes as pessoas menos respeitá-
11 Entretanto, agora vos escrevo para que veis da igreja?
g j
não vos associeis com qualquer pessoa que, 5 É para vossa vergonha que me expresso
afirmando-se irmão, for imoral ou ganan- dessa forma. Não há, porventura, nem
cioso, idólatra ou caluniador, embriagado ao menos um sábio entre vós, que possa
ou estelionatário. Com pessoas assim não julgar uma contenda entre irmãos?
deveis sequer sentar-se para uma refeição. 6 Contudo, ao invés disso, um irmão
12 Pois, como haveria eu de julgar os que recorre ao tribunal contra outro irmão
estão fora da igreja? Todavia, não deveis e apresenta tudo isso diante de incré-
vós julgar os que são de dentro? dulos?
13 Contudo, Deus julgará os que são de 7 Só o fato de haver entre vós processos
fora. Expulsai, portanto, do vosso meio judiciais uns contra os outros revela
esse que vive na prática da indecência.4 que já estais derrotados. Em vez disso,
por que não deis preferência a sofrer a
O crente não deve buscar juízo pagão injustiça? Por que não arqueis com o

6 Atreve-se alguém entre vós, quando


há litígio de um contra o outro, levar
o caso para ser julgado por pessoas pagãs
prejuízo?
8 Entretanto, sois vós mesmos que prati-
cais a injustiça e cometeis fraudes, e tudo
e não pelos próprios santos?1 isso contra seus próprios irmãos!

todas – as demandas da Lei quanto à instituição do sacrifício judaico do cordeiro pascal (Is 53.7; Jo 1.29). O Cristo, o Cordeiro de
Deus, foi crucificado no exato Dia da Páscoa, celebração anual que começava no entardecer do dia anterior, quando se realizava
a cerimônia familiar e comunitária da refeição da Páscoa (Êx 12.8).
4 É função da Igreja orar, orientar e buscar a reconciliação do pecador com Deus. A disciplina na igreja não deve ser uma
atitude intempestiva ou despótica, mas um processo amoroso e justo com vistas a recuperar o faltoso à plena comunhão com
Cristo e com os santos (crentes) da igreja. O primeiro passo desse processo, quase sempre, é o mais negligenciado – o que traz
graves conseqüências – e consiste na busca de um diálogo particular e conciliador entre a pessoa que se sente ofendida e o
suposto ofensor (Mt 18.15-18). Todavia, não cabe à Igreja julgar o mundo e os incrédulos, pois esse papel é da responsabilidade
das autoridades governamentais constituídas em suas várias instâncias (Rm 13.1-5), cujo julgamento final e eterno será decidido
por Deus (Ap 20.11-15).
Capítulo 6
1 Paulo usa o termo “santos” não exatamente como “perfeição do caráter moral”, mas como “nossa posição em Cristo diante
de Deus”. Na época de Paulo, os assuntos criminais e de estado eram julgados conforme a lei romana, que concedia aos judeus
o direito de ajuizar seus próprios litígios, princípio que deve ser respeitado pelos cristãos de hoje (Rm 13.3,4). Entretanto, diversas
causas judiciais sobre bens materiais, morais e éticos entre cristãos devem ser julgados e resolvidos pelos próprios crentes por
amor, fé e temor a Deus. Uma vez que o materialismo e o maquiavelismo do sucesso tenta dominar a seara da Igreja, o exemplo
de cristãos, chegando a bom termo em suas demandas judiciais, seria um maravilhoso testemunho para o mundo todo.
2 Paulo lembra aos crentes que o mundo e os anjos (Sl 8.6; Hb 2.5-9; 2Pe 2.4,9; Jd 6) serão julgados por eles no governo futuro
que terão com Cristo (Mt 19.28; 2Tm 2.12; Ap 5.10; 20.4). Considerando que o Espírito Santo habita a vida do cristão sincero hoje,
isso lhe dá uma visão ampla e a perspectiva divina sobre assuntos que envolvem ética e moral, podendo julgar com sabedoria
suas próprias causas, e não necessitando passar pela humilhação de submeter-se ao juízo de pessoas que não têm a mente de
Cristo, nem confiam na Palavra de Deus.

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11 1 CORÍNTIOS 6

9 Não sabeis que os injustos não herdarão 13 Os alimentos são para o estômago e
o Reino de Deus? Não vos deixem enga- o estômago, para os alimentos. Deus,
nar: nem imorais, nem idólatras, nem no entanto, destruirá tanto um quanto
adúlteros, nem os que se entregam a prá- o outro. Mas o corpo não é para servir
ticas homossexuais de qualquer espécie, à imoralidade, e sim para o Senhor; e o
10 nem ladrões, nem avarentos, nem Senhor, para o corpo.5
viciados em álcool ou outras drogas, 14 Por seu poder, Deus ressuscitou o Se-
nem caluniadores, nem estelionatários nhor e, igualmente, nos ressuscitará.
herdarão o Reino de Deus.3 15 Não sabeis que os vossos corpos são
11 Assim fostes alguns de vós. Contudo, membros de Cristo? Tomarei eu os
vós fostes lavados, santificados e justifi- membros de Cristo e os unirei a uma
cados em o Nome do Senhor Jesus Cristo prostituta? De forma alguma!
e no Espírito Santo do nosso Deus! 16 Ou não é de vosso conhecimento que
quem se une a uma prostituta torna-se
Nosso corpo é santuário de Deus um corpo com ela? Porquanto está escri-
12 Todas as coisas me são permitidas, to: “Os dois serão uma só carne”.6
mas nem todas são saudáveis. Tudo me é 17 Entretanto, aquele que se une ao Se-
lícito realizar, mas eu não permitirei que nhor é um só espírito com Ele!
nada me domine.4 18 Fugi, portanto, da imoralidade sexual.

3 O Reino de Deus é herdado mediante o novo nascimento em Cristo (Jo 3.3-5; Mt 5.1; Rm 4.13). Toda pessoa que
verdadeiramente recebeu o Espírito Santo em seu coração tem a mente de Cristo e será controlada por Deus em seus
pensamentos, motivações e realizações. Essa não é uma tarefa fácil nem automática, porquanto Deus não priva o ser humano
do livre arbítrio que lhe concedeu. O “Eu” humano luta contra o Espírito de Deus, pois ambos caminham em direções opostas
(Rm 7.19). No entanto, a vitória do cristão sobre suas próprias inclinações naturais é certa (1Co 15.57). Cabe ao crente entregar-
se em plena confiança aos cuidados do Senhor e experimentar o poder de Deus na transformação de seus traços nocivos de
caráter e personalidade. Não há nada que a presença de Cristo não possa curar ou mudar para melhor. A razão básica de todo
pecado e atitude contrária aos padrões morais e santos de Deus é a idolatria. Uma pessoa sempre se submeterá com prazer ao
seu maior amor. Se nosso maior e mais importante amor não for o Senhor, seremos idólatras e, de alguma forma, passaremos a
servir ao deus que escolhemos. Paulo fala de todo o tipo de imoralidade e coloca, no mesmo nível, os homossexuais, adúlteros,
mentirosos, viciados, de forma geral, enganadores e fofoqueiros. Cada um desses grupos cultua um deus particular e precisa se
converter dos seus maus caminhos (1Rs 8.35,47; 2Cr 6.24,26; 7.14; 30.9; Ne 1.9; Jr 18.8,11; Lc 1.16; At 3.19; 14.15; 26.18; 28.27;
1Pe 2.25). Não é de hoje que a sociedade é tentada a levar as pessoas à imoralidade sexual e ao “deus do prazer” (hedonismo e
egocentrismo). Os antigos gregos pagãos já difundiam a idéia de um “terceiro sexo”, uma mistura entre os atributos masculinos e
femininos que dariam origem a um “homem mais sensível e amável” e a uma “mulher mais racional e competitiva”, personalidades
altamente requeridas pelo mercado capitalista e difundidas pela mídia em todo o mundo atual. No templo de Afrodite em Corinto,
a prostituição fazia parte do culto pagão, o que conferia a esse pecado um tom de mistério e certa divinização, bem ao gosto
dos hipócritas que sempre buscam uma boa justificativa para seus atos egoístas e contrários à vontade de Deus (Rm 1.16-
32). Parentes, amigos e a Igreja devem orar a Deus especialmente pela conversão dessas pessoas, que certamente sofrem
escravizadas pelo Diabo. Orientar sempre com paciência, firmeza e amor; jamais esquecendo, entretanto, que a conversão é um
dom de Deus a seu tempo, nós – como crentes - somente podemos testemunhar da graça que já recebemos.
4 Os gregos sempre se consideraram semideuses, especialmente em Corinto, a maior e mais cosmopolita das cidades gregas
na época de Paulo. Assim, a liberdade para os gregos era parte do fato de se acharem “filhos dos deuses”. Era comum dizerem:
“tudo me é lícito!”, numa demonstração de certa arrogância. Paulo, entretanto, complementa o pensamento com uma frase de
grande sabedoria, bem ao estilo grego: “mas nem tudo é realmente proveitoso ou útil”. Um direito transforma-se num erro (peca-
do) se prejudica – de alguma forma – outra pessoa ou a nós mesmos.
5 O destino final e glorioso para nosso corpo é ser absolutamente transformado (15.42; Rm 8.11). Paulo destaca que tudo nessa
vida é transitório, tanto o corpo quanto os alimentos; entretanto, alerta para a necessidade de darmos muita importância ao que
fazemos por meio do corpo; que não é para ser usado como um parque de diversões sexuais, mas como elemento fundamental
de uma celebração de compromisso, prazer e fidelidade entre duas pessoas que se casam para se amarem por toda a vida (Hb
13.4). Muitos casais têm sérios problemas conjugais por levarem para dentro de seus lares fantasias sexuais promovidas pela
mídia e por um sistema mercantilista cada vez mais agressivo, pois um mundo desestruturado e sem limites é mais consumista
e lucrativo para alguns.
6 Paulo ressalta o grande valor que Deus atribui ao corpo humano, especialmente dos salvos, e, por isso, cita o fato de Deus
haver ressuscitado o corpo de Cristo e, em futuro iminente, os corpos de todos os crentes (15.51-53; 1Ts 4.16,17). Um corpo
destinado à ressurreição não deve se autodestruir pela compulsão sexual, drogas, desregramentos alimentares, autoflagelos,
amarguras, iras e maledicências de todos os tipos (Ef 4.26; Fl 3; 1Tm 3.2,11).

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1 CORÍNTIOS 6, 7 12

Qualquer outro pecado que uma pessoa seu próprio corpo, mas, sim, o marido.
comete, fora do corpo os comete; toda- Da mesma maneira, o marido não tem
via, quem peca sexualmente, peca contra autoridade sobre o seu próprio corpo,
o seu próprio corpo.7 mas, sim, a esposa.
19 Ou ainda não entendeis que o vosso 5 Portanto, não vos negueis um ao outro,
corpo é santuário do Espírito Santo, que exceto por mútuo consentimento, e apenas
habita em vós, o qual tendes da parte de durante algum tempo, a fim de vos consa-
Deus, e que não pertenceis a vós mes- grardes à oração. Logo em seguida, uni-vos
mos? novamente, para que Satanás não vos tente
20 Pois fostes comprados por alto preço; por causa da vossa falta de controle.3
portanto, glorificai a Deus no vosso pró- 6 Entretanto, prego isso como concessão
prio corpo.8 e não como mandamento.
7 Porquanto gostaria que todos os ho-
Princípios sobre a vida conjugal mens estivessem na mesma condição em

7 Agora, em relação aos assuntos sobre


os quais escrevestes, é bom que o ho-
mem se abstenha de relações sexuais com
que eu vivo, contudo, cada ser humano
tem seu próprio dom da parte de Deus;
um de determinado modo, outro de for-
qualquer mulher. ma diferente.4
2 Porém, por causa da imoralidade, cada
homem tenha sua esposa, e cada mulher, Melhor estar solteiro, pior é a separação
seu marido.1 8 Digo, no entanto, aos solteiros e às
3 O marido deve cumprir seus deveres viúvas: Melhor seria se permanecestes
conjugais para com sua esposa, e, da como eu.
mesma forma, a esposa para com seu, 9 Porém, se não vos é possível controlar-
marido.2 se, que se casem. Porque é melhor casar
4 A esposa não tem autoridade sobre o do que viver queimando de paixão.

7 A expressão grega original kollõmenos significa um tipo de união perene, leal e capaz de resistir às diversidades da vida e
aos desgastes do tempo (Mt 19.5; Mc 10.8; Ef 5.31). A melhor saída para os momentos de tentação sexual é “fugir”. A expressão
imperativa em grego, nesse caso, traz a seguinte idéia: “cultivem o hábito de fugir sempre” (Gn 39.12; 2Tm 2.22; 1Ts 4.3), pois a
imoralidade sexual pode destruir o templo de Deus. Não é possível adorar ao Senhor por meio de um templo profanado. Paulo
aproveita para advertir os gregos quanto as práticas sexuais das sacerdotisas de Afrodite em Corinto (3.17).
8 O cristão deve aprender a valorizar seu corpo como lugar sagrado em que Deus reside, e conscientizar-se de que, por
intermédio da presença amorosa e poderosa do Espírito Santo, tem à sua disposição todos os recursos para livrar-se de qualquer
escravização ou engano pecaminoso, e se transformar em Pedra Viva para a glória de Deus (Rm 8.5-11; 1Pe 2.9; 1Jo 1.9; Rm
6.12,13; Cl 3.17).
Capítulo 7
1 Os coríntios tinham o costume de fazer perguntas embaraçosas a Paulo (7.25; 8.1; 12.1; 16.1,12). Paulo sempre se pronunciou
favorável ao casamento e à vida familiar conforme a vontade de Deus (Ef 5.22-33; Cl 3.18,19; 1Tm 3.2,12; 5.14). Ensinou que o
celibato é dom de Deus e uma decisão absolutamente pessoal. Quando grupos auto-intitulados cristãos começassem a proibir o
casamento, este seria um sinal do início da apostasia que marcaria o final dos tempos (1Tm 4.1-3).
2 Os cônjuges têm direitos e deveres em função do ideal de desenvolverem uma família sadia e um lar harmonioso. Neste
sentido, o amor sexual é uma dívida mútua, não um favor ou obrigação contratual. É a expressão de uma vida de compromisso
amoroso, fidelidade e respeito, ou seja, amor conjugal. A idéia de que a abstenção sexual é mais santa tem sua origem no
paganismo (1Pe 3.7; Hb 13.4).
3 Deus criou a maioria dos homens e mulheres com grande disposição natural para o relacionamento sexual (libido), acentu-
adamente durante a juventude. O casamento oferece aos cônjuges a correta motivação e o perfeito ambiente para a satisfação
física e emocional do amor erótico. A abstenção temporária, com consentimento mútuo e tendo em vista alguma finalidade
proveitosa, é plenamente compreensível e aceitável (como uma espécie de jejum), pois a vida conjugal não se limita ao relacio-
namento sexual (Ec 3.5; Jl 2.16).
4 Embora o casamento faça parte da vontade de Deus para a humanidade, não é obrigatório, especialmente considerando as
circunstâncias culturais, sociais e religiosas pelas quais passavam os coríntios naquele momento. Paulo preferiu o celibato por
boas e pessoais razões (29, 32, 35), e porque tinha o “dom” (em grego charisma) de viver solteiro, o qual inclui efetivo controle
sobre o apetite sexual e uma grande apreciação por um estilo de vida totalmente independente. O casamento também exige um
“dom” específico (Mt 5.32; 19.10-12; Mc 10.2-12; Lc 16.18).

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13 1 CORÍNTIOS 7

10 Todavia, ordeno aos casados, não eu, 18 Foi alguém chamado sendo já circun-
mas o Senhor: Que a esposa não se sepa- cidado? Não se preocupe em desfazer sua
re do marido. circuncisão. Foi alguém chamado sendo
11 Se, porém, ela se separar, que não se incircunciso? Não se deixe circuncidar!
case, ou que se reconcilie com o seu ma- 19 A circuncisão em si não faz o menor
rido. E que o marido não se divorcie da sentido e a incircuncisão também não
sua esposa. significa nada; o que realmente importa
12 A todos os demais, eu particularmente, é obedecer aos mandamentos de Deus.6
não o Senhor, vos digo: Se algum irmão 20 Cada um deve permanecer na condi-
tem mulher descrente, e esta se dispõe a ção em que foi chamado por Deus.
viver com ele, não se divorcie dela. 21 Foste chamado sendo escravo? Não te
13 Da mesma forma, se uma mulher tem preocupes com isso. Mas se ainda podes
marido incrédulo, mas este consente em conseguir tua liberdade, aproveita a
viver com ela, não se separe dele. oportunidade.
14 Porquanto o marido descrente é san- 22 Pois aquele que, sendo escravo, foi
tificado por causa da esposa cristã; e a chamado pelo Senhor, é liberto e perten-
esposa incrédula é santificada por causa ce ao Senhor; e da mesma forma, aquele
do marido crente. Se assim não fosse, que era livre quando foi chamado, agora
seus filhos seriam impuros, mas agora é escravo de Cristo.
são santificados. 23 Fostes comprados pelo mais elevado pre-
15 No entanto, se o incrédulo decidir ço; não vos torneis escravos de homens!
separar-se, que se separe. Em tais cir- 24 Portanto, irmãos, cada um deve per-
cunstâncias, nem o irmão nem a irmã manecer diante de Deus na condição em
estão sujeitos à servidão; pois Deus nos que foi chamado.7
chamou para vivermos em paz.
16 Porquanto, como podeis saber, ó mu- Solteiros ou casados: consagrem-se!
lher, se salvarás teu marido? Ou, como 25 Quanto aos solteiros, não tenho man-
sabes, ó homem, se salvarás tua mulher?5 damento específico do Senhor. Dou, no
entanto, meu parecer como um homem
Cada um viva conforme seu chamado que, pela misericórdia do Senhor, tem
17 Contudo, cada um prossiga vivendo na vivido em fidelidade.
condição que o Senhor lhe determinou, 26 Considero, portanto, que é saudável,
e em conformidade com o chamado de devido aos problemas deste momento,
Deus. É isso que ordeno em todas as que a pessoa permaneça em sua atual
igrejas! condição.

5 Paulo está falando de casais que já estavam casados quando um deles aceitou a Cristo como Salvador e Senhor. O cônjuge
descrente é influenciado diretamente pelo Espírito Santo que agora habita no coração do cônjuge cristão, especialmente quando
este age de acordo com a vontade de Deus (1Pe 3.1). Os filhos pertencem à comunidade cristã (Igreja). Essa é uma bênção geral
e funciona de forma similar à bênção outorgada por Deus a Israel, onde todos gozavam de certos benefícios especiais do Senhor,
apesar de muitos não serem salvos e fiéis (10.1-5). O crente deve fazer todo o possível para preservar seu casamento. Se, ainda
assim, o cônjuge descrente decidir abandonar o crente, numa reação contra o Evangelho, o cristão fica livre da obrigação de
continuar casado, pois deve haver paz no lar do crente (Lc 12.51; 14.26; 21.16).
6 Os cristãos judeus não devem preocupar-se em eliminar fisicamente o fato de serem judeus, assim como, os gentios não
devem ceder às pressões judaizantes a favor da circuncisão e da guarda de leis e costumes legalistas (At 15.1-5; Gl 5.1-3). O que
importa na vida é a obediência a Cristo, pois comprova a realidade da existência do amor e da fé. A fé não anula a obediência,
mas sim a confirma.
7 No Império Romano, era comum os nobres presentearem seus escravos com a liberdade por algum serviço prestado ou ato
notável. Paulo está ensinando que o crente deve viver satisfeito onde está e com o que tem. Essa é uma maneira de testemunhar
nossa fé em Cristo em qualquer fase ou circunstância da vida. Entretanto, sempre que for possível, não perder a oportunidade
de buscar o sucesso e a liberdade (econômica, financeira, política e social), pois já temos a mais importante das liberdades em
Jesus: a espiritual.

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1 CORÍNTIOS 7, 8 14

27 Estás casado? Não procures separação. 35 Estou dizendo isso para o vosso maior
Estás solteiro? Não procures casamento. benefício, não para restringir vossa li-
28 Todavia, se te casares, com essa atitu- berdade, mas para que possais viver de
de não pecas; da mesma forma, se uma maneira honrada, em plena consagração
virgem vier a se casar, também por isso ao Senhor.
não comete pecado. Contudo, aqueles 36 Mas, se alguém julgar que está agindo
que se casam enfrentarão uma série de de forma desonrosa perante sua noiva,
dificuldades nessa vida, e eu gostaria de se ela estiver passando da idade, crendo
poupá-los disso. que deve se casar, faça como entender
29 Irmãos, o que desejo vos fazer entender melhor. Ele não peca por isso; que se
é que o tempo se abrevia sobremaneira. casem.
De agora em diante, aqueles que têm es- 37 Contudo, o homem que decidiu
posa, vivam como se não tivessem, firmemente em seu coração que não se
30 aqueles que estão tristes, como se não sente obrigado, mas tem controle sobre
chorassem; os que estão alegres, como se sua própria vontade sexual, e chegou à
não houvessem alcançado a felicidade; conclusão de não se casar com sua noiva,
os que podem comprar o que desejam, da mesma forma, esse também faz bem.
como se nada possuíssem; 38 De modo que, aquele que se casa com
31 os que se beneficiam dos produtos do sua noiva faz bem; mas quem não se casa
mundo, como se não tivessem acesso faz melhor.
a nada; porque a forma presente deste 39 A mulher está ligada ao seu marido en-
mundo está se transformando.8 quanto ele viver. Porém, se o seu marido
32 O que desejo de fato é que estejais morrer, ela estará livre para se casar com
livres de preocupações. Quem não é quem desejar, contanto que ele pertença
casado pode se entregar aos assuntos do ao Senhor.
Senhor, em como mais poderá agradar 40 Entretanto, segundo me parece me-
ao Senhor. lhor, ela será mais feliz se permanecer
33 Entretanto, quem é casado preocupa- viúva. E nisso, penso também estar em
se com os negócios deste mundo, em acordo com o Espírito de Deus.9
como irá agradar sua esposa;
34 e fica dividido. A mulher que não é Acerca dos alimentos oferecidos aos ídolos
casada e a virgem se ocupam dos assun-
tos do Senhor para serem santas, tanto
no corpo como no espírito. A mulher
8 No que se refere aos alimentos sacri-
ficados aos ídolos, reconheço, como
dizeis, que “todos nós temos pleno co-
casada, no entanto, preocupa-se com os nhecimento”. Porém, esse tipo de conhe-
negócios do mundo e de como irá agra- cimento produz orgulho, mas o amor
dar seu marido. nos faz crescer na fé.

8 Embora Paulo não esteja retransmitindo uma ordem direta de Jesus, manifesta sua opinião, especialmente para uma questão
que não envolve uma decisão entre o certo e o errado, e considerando aquele momento específico dos cristãos em Corinto.
Escrevendo sob inspiração do Espírito Santo (v.40), fica claro que seus conselhos devem ser motivo de reflexão por parte de
todos os cristãos em todas as épocas. O tempo urge e a vida é fugaz. A volta de Cristo é iminente, e o cristão deve aproveitar
o tempo para evangelizar e preparar-se para seu encontro com o Senhor (v.29-31). O mundo cada vez mais se preocupa com
os aspectos materiais e temporais dessa vida. O cristão deve compreender que todas essas coisas estão se transformando e
desaparecerão em breve; portanto, o amor ao Senhor e os demais bens espirituais e eternos são as virtudes que devem ser
cultivadas e preservadas.
9 O casamento é uma união vitalícia (com exceção de Mt 19.9), por isso o cristão deve procurar conhecer bem a pessoa com
quem deseja passar o restante da sua vida, antes de assumir esse compromisso solene. Entretanto, com o falecimento (expres-
são que no grego original significa: dormir – At 7.60), o cônjuge fica livre do vínculo conjugal e pode se casar com outro cristão,
isso porque os costumes de um eventual cônjuge pagão, certamente, tornariam difícil a vida de um crente. Neste caso, seria me-
lhor ficar só e receber o amparo dos filhos, parentes e igreja (7.26-34; 1Tm 5.3-16). Paulo nos assegura que fala em conformidade
com o juízo do Espírito Santo, o que era também uma resposta aos céticos e críticos de seu tempo que procuravam negar sua
autoridade apostólica (1.1-7; 9.1; 12.25).

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15 1 CORÍNTIOS 8, 9

2A pessoa que imagina conhecer alguma 9 Contudo, tendes cuidado para que o
coisa, ainda não tem a sabedoria que exercício da vossa liberdade não se torne
necessita. um motivo de tropeço para os fracos.
3 Todavia, quem ama a Deus, este é co- 10 Porquanto, se alguém que tem a
nhecido por Deus.1 consciência fragilizada vir a ti, que tens
4 Portanto, no que se refere à comida este conhecimento, comendo à mesa no
sacrificada a ídolos, temos pleno conhe- templo de ídolos, não será induzido a se
cimento de que o ídolo não tem o menor alimentar do que foi oferecido em sacri-
significado no mundo e que só existe um fício a ídolos?
Deus!2 11 E, assim, esse teu irmão mais fraco,
5 Pois, ainda que haja os chamados deu- por quem Cristo também morreu, é
ses, quer no céu, quer na terra – como de destruído pelo teu conhecimento.
fato há muitos deuses e senhores – 12 Portanto, quando pecas contra teus
6 para nós, contudo, há um único Deus, o irmãos dessa maneira, ferindo a consci-
Pai, de quem tudo procede e para quem ência fraca deles, pecas contra Cristo.
vivemos; em um só Senhor, Jesus Cristo, 13 Concluindo, se o alimento que eu
por intermédio de quem tudo o que há como induz meu irmão a pecar, nunca
veio a existir, e por meio de quem tam- mais comerei carne a fim de que não seja
bém vivemos.3 eu a causa do pecado dele.4
7 No entanto, nem todos conhecem essa
verdade. Alguns, ainda acostumados Os direitos dos apóstolos
com os ídolos, comem esse alimento
como se fosse um sacrifício idólatra; e
como a consciência deles é frágil, dei-
9 Não sou eu plenamente livre? Não
sou eu apóstolo? Não vi eu a Jesus,
nosso Senhor? E, não sois vós fruto do
xam-se contaminar. meu labor no Senhor?1
8 Ora, não são os alimentos que nos fa- 2 Se para alguns não sou reconhecido
zem aceitáveis diante de Deus; não nos como apóstolo, com toda a certeza o sou
tornaremos piores se não comermos, para vós. Porquanto, sois o selo do meu
nem melhores se comermos. apostolado no Senhor.

1 A cultura greco-romana com seu culto aos deuses pagãos permeava a vida de todos os povos atingidos pelo império (At
17.16). Esses conceitos culturais e religiosos influenciam nossa sociedade até hoje. Sem a bênção do amor divino (em grego
agape) o conhecimento é estéril e anti-social (1Co 13). Ser “conhecido” por Deus é sentir Seu amor, presença e bênçãos
espirituais (Gl 4.8-9; 1Jo 4.7-8). Os coríntios haviam escrito a Paulo perguntando sobre como agir em relação às carnes que
sobravam dos sacrifícios oferecidos nos altares pagãos e eram comidas pelos sacerdotes e pelos ofertantes, junto com amigos
e parentes, em festas públicas no templo, ou vendidas no mercado. Alguns cristãos não viam problema em comer esse tipo de
carne, até porque era difícil saber qual parte fora sacrificada. Outros já acusavam sérias dificuldades de consciência e medo
de estarem pecando contra o Senhor. O cristão maduro sabe que seus conhecimentos são limitados e que somente o Senhor
conhece tudo e todos (Rm 11.33-36). Por isso, deve tratar com amor e paciência seus irmãos mais fracos ou novos na fé.
2 Os ídolos não passam de simples objetos materiais. Entretanto, ao longo dos séculos, os demônios têm escravizado o
mundo induzindo as pessoas a depositarem fé na sorte que essas coisas possam proporcionar. Os crentes não devem alimentar
qualquer tipo de superstição, temor ou apego a amuletos. A fé do cristão deve ser pura e absoluta em Cristo, nosso Deus (Sl
115.4-7; 135.15-17; Is 44.12-20).
3 As expressões “deuses” e “senhores” têm o mesmo sentido nesse contexto, nos manuscritos gregos (Ef 6.12). Paulo não está
concordando, de fato, que possa haver “outros deuses”, pois está claro que “há somente um Deus” (Dt 6.4). Mas olhando para a
mitologia greco-romana, Paulo está concordando que muitas pessoas se deixaram iludir por Satanás e passaram a adorar coisas
e seres que não são reais deidades, nem sequer existem. Deus é a origem primeira (o Criador) de tudo o que há (a criação).
Deus-Filho é a pessoa dinâmica da Trindade, por intermédio de quem todas as coisas vieram à existência (Jo 1.3; At 4.24; Hb
2.10; Cl 1.16).
4 A palavra grega original exousia tem o sentido de “autoridade, liberdade e direito”. O crente é livre em Cristo, entretanto, evita
tudo quanto possa escandalizar ou prejudicar a fé de algum irmão mais fraco ou menos maduro (Rm 14.13-21). A expressão
“nunca” no original grego é um negativo duplo enfático (Mt 18.6-9).
Capítulo 9
1 Paulo, a exemplo de Jesus, sempre enfrentou críticas à sua pessoa e ministério. Alguns proclamavam que Paulo não tinha
méritos para ser considerado apóstolo (2Co 12.11,12; Gl 1.1 – 2.10). Paulo justifica seu chamado e ministério por meio de duas

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1 CORÍNTIOS 9 16

3 Esta é minha defesa diante daqueles 12 Se outros têm o direito de ser susten-
que me julgam. tados por vós, seguramente não o temos
4 Não temos nós o direito de comer e nós em maior medida? Contudo, jamais
beber? fizemos uso desse direito. Ao contrário,
5 Não temos nós o direito de levar co- suportamos tudo para não colocar qual-
nosco uma esposa crente como fazem os quer tipo de obstáculo ao progresso do
demais apóstolos, os irmãos do Senhor Evangelho de Cristo.
e Pedro?2 13 Não sabeis vós que os que prestam ser-
6 Ou será que Barnabé e eu somos os viços sagrados se alimentam com o que
únicos que devemos ter um trabalho pertence ao templo, e que os que servem
secular para nos sustentar? diante do altar participam do que é ofe-
7 Quem serve num exército à sua própria recido no altar?
custa? Quem cultiva uma vinha e não se 14 Assim, o Senhor também ordenou aos
alimenta do seu fruto? Quem apascenta que proclamam o evangelho, que igual-
um rebanho e não pode beber do leite mente vivam do evangelho!4
que é produzido?
8 Porventura, isso que vos digo é apenas um Visão e missão de Paulo
mero ponto de vista humano? Ora, a pró- 15 Todavia, eu não tenho me servido de
pria Lei não afirma claramente o mesmo? nenhum desses direitos. Não estou escre-
9 Pois está escrito na Lei de Moisés: “Não vendo na expectativa de que façais dessa
amordace o boi enquanto ele estiver de- forma para comigo; porquanto, melhor
bulhando o cereal”. Por acaso é com bois me fora morrer a permitir que alguém
que Deus está preocupado? me prive desta minha honra.
10 Ou certamente não estaria fazendo tal 16 Porém, quando prego o evangelho,
afirmação por nossa causa? É evidente não vejo como me orgulhar, pois a mim
que é em nosso favor que esse princípio é imposta a obrigação de proclamar. Ai
foi escrito. Pois “o lavrador quando ara a de mim se não anunciar o Evangelho!5
terra, e o debulhador quando tira as cascas 17 Porquanto, se prego de espontânea
das sementes, deve fazê-lo na esperança de vontade, tenho direito a recompensa;
participar dos resultados da colheita”. entretanto, como prego por obrigação,
11 Se nós semeamos entre vós verdades estou simplesmente cumprindo uma
espirituais, seria pedir muito colhermos missão a mim confiada.
alguns de vossos bens materiais?3 18 Qual é, portanto, a minha recompen-

grandes evidências: Paulo viu a Jesus (At 9.1-9; 22.6-16; 26.12-18), da mesma forma que os demais apóstolos (At 1.21,22). Acres-
centa que o fruto do seu ministério no Senhor era visível nas vidas de muitos (especialmente dos próprios coríntios).
2 Paulo defende (no original grego apologia – v.3) o direito ao suprimento de suas necessidades básicas, inclusive ao casa-
mento, se essa fosse sua vontade (7.7). A maioria dos discípulos e apóstolos havia se casado. Tinham filhos e viviam em família.
Tiago e Judas, irmãos de Jesus Cristo, eram filhos de Maria e José. O apóstolo Pedro também era casado e cuidava de sua
família (Mt 8.18).
3 Paulo se refere à Lei expressa no Pentateuco (Dt 25.4; 1Tm 5.17), considerando que Deus se preocupa com o bem-estar dos
animais, quanto mais com Seus servos e obreiros que ministram em Seu Nome e seara. Paulo está propondo que os obreiros
cristãos recebam, por parte da Igreja, pleno sustento de suas necessidades materiais (Gl 6.6), a fim de que possam dedicar-se
despreocupadamente à ministração da Palavra e ao cuidado do rebanho do Senhor. Os benefícios materiais não se comparam
aos profundos e eternos benefícios espirituais (Rm 15.27).
4 Geralmente, os ministros da Igreja, nos primeiros séculos, recebiam sustento integral. Paulo, entretanto, preferiu sustentar-se
por meio do trabalho manual que – como todo judeu de sua época – aprendeu quando adolescente; com o principal objetivo de
evidenciar sua integridade e desprendimento em relação à obra do Senhor, evitando que os críticos o acusassem de qualquer
interesse financeiro ou material. Os cristãos de Corinto entenderiam bem a ilustração de Paulo ao se referir aos que trabalham
no templo, não apenas por conhecerem o AT (Dt 18.1; Lv 7.28-26; Nm 18.8-20), mas pelo fato da prática comum nos templos
pagãos dos gregos e romanos.
5 Por trás de toda pregação sincera e autêntica, há um mandato (chamado) do Senhor, que produz uma irresistível motivação
divina no coração do homem (Rm 1.14; At 20.26; Ez 33.7; Jr 20.9). Paulo alimentava um “santo orgulho” de não depender das

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17 1 CORÍNTIOS 9, 10

sa? Tão somente esta: que anunciando o Um verdadeiro atleta de Cristo


evangelho, eu o apresente gratuitamen- 24 Não sabeis que entre todos os que
te, não usando, assim, dos meus direitos correm no estádio, na verdade, somente
de pregá-lo. um recebe o grande prêmio? Correi de
19 Porque, embora seja absolutamente tal maneira que o alcanceis!8
livre de todos, fiz-me escravo de todos, 25 Todos os que competem nos jogos se
para ganhar o maior número possível submetem a um treinamento rigoroso,
de pessoas.6 e isso, para obter uma coroa que logo se
20 Tornei-me judeu para os judeus. Para desvanece; no entanto, nós nos dedica-
os que estão subjugados pela Lei, tornei- mos para ganhar uma coroa que dura
me como se estivesse igualmente sujeito eternamente.9
à Lei, embora eu mesmo não esteja de- 26 Portanto, não corro como quem corre
baixo da Lei, com o objetivo de ganhar sem alvo, e não luto como quem apenas
aqueles que estão dominados pela Lei. soca o ar.
21 Para os que estão sem Lei, tornei-me 27 Mas esmurro o meu próprio corpo e
como sem lei vivesse (embora não esteja faço dele meu escravo, para que, depois
livre da Lei de Deus, mas submisso à Lei de haver pregado aos outros, eu mesmo
de Cristo), a fim de ganhar os que não não venha a ser reprovado.10
têm a Lei.
22 Para os fracos, tornei-me semelhan- Exemplos do Antigo Testamento
te-mente fraco, para ganhar os fracos.
Fiz-me tudo para com todos, com a
finalidade de conseguir, de qualquer
10 Portanto, irmãos, não quero que
ignoreis que nossos antepassados
estiveram todos debaixo da nuvem e
maneira possível, salvar alguns. todos passaram pelo mar.1
23 Faço tudo isso por causa do Evangelho, 2 Em Moisés, todos eles foram batizados
a fim de me tornar co-participante dele.7 na nuvem e no mar.2

ofertas dos irmãos para sua sobrevivência, ainda que reivindicasse esse tipo de atitude cristã e generosa em benefício de todos
aqueles que trabalhavam a serviço do Reino e dos irmãos nas igrejas.
6 Paulo, por sua devoção a Cristo, se tornou um homem livre da Lei (9.20; Rm 6.14; 10.4); das responsabilidades de um lar, ao
optar por uma vida celibatária (7.6,32); das demandas da sociedade secular (7.23; At 22.25); do domínio das vontades carnais
(9.25) e de qualquer dívida por favores ou ofertas recebidas (Rm 13.8). Paulo não apenas deixou de exercer o direito de receber
pagamento material por seu trabalho, mas se privou de várias outras prerrogativas sociais e eclesiásticas em função do seu
grande objetivo de evangelizar (ganhar) o mundo.
7 Por amor aos judeus, Paulo se ajustava aos mandamentos do AT (At 16.3; 18.18; 21.20-26). Ajustava-se, pelo mesmo motivo, (2Co
5.14) à cultura gentílica (aos que não conheciam a Lei), sempre que essa atitude não violava os princípios ensinados por Cristo; e ajus-
tava-se, ainda, à consciência dos “fracos” que tinham uma série de restrições alimentares e de costumes. Tudo isso pelo prêmio de
manter-se fiel ao Senhor, levar a Palavra da salvação a muitos, e ouvir de Jesus: “Muito bem, servo bom e fiel” (Mt 25.21; Lc 19.17).
8 As corridas e jogos atléticos bienais eram comuns e muito apreciados pelos gregos; somente superados em importância, em
toda a região, pelos Jogos Olímpicos, cuja maior premiação era a honra da vitória, agraciada por uma coroa de folhas naturais
(perecível), na qual os gregos acreditavam que havia as bênçãos dos deuses do Olimpo.
9 Na carreira cristã, o importante não é começar bem, mas terminar vitorioso (10.1-12; Tm 2.5; 4.7). A expressão: “todo atleta
em tudo se domina”, como aparece em algumas versões, é melhor traduzida a partir dos textos gregos mais fidedignos como: “se
submetem a um treinamento rigoroso”, pois o original grego comunica claramente a idéia de “esforçar-se ao máximo”. A coroa do
cristão – ao cumprir sua jornada – é imperecível, e dura para sempre (2Tm 4.8; Tg 1.12; 1Pe 5.4; Ap 2.10; 3.11; 4.10).
10 Paulo usa aqui uma metáfora extraída das lutas de boxe, a fim de ilustrar a nossa vida cristã cotidiana. Ele não desferia seus
golpes contra o ar, sem alvo ou propósito certo, como os muitos pensadores gregos. Mas, ensina que devemos disciplinar nosso
corpo como oferta e serviço a Jesus Cristo, nosso Salvador e Senhor (Fp 3.14).
Capítulo 10
1 Paulo fala sobre os pais (ancestrais) daquela geração de israelitas. Milhares de pessoas que foram testemunhas oculares dos
portentosos feitos de Deus, quando libertou Seu povo da escravidão do Egito. Os antepassados dos judeus tiveram o privilégio
de andar debaixo (sob a nuvem) da direção pessoal de Deus no deserto (Êx 13.21,22; 14.19; Nm 9.15-23; 14.14; Dt 1.33; Sl 78.14)
e provar a redenção ao atravessar o mar rumo à Terra Prometida (Êx 14.21-29).
2 Paulo enfatiza que “todos”, sem exceção, viram e experimentaram os milagres de Deus. É preciso uma fé genuína, confirmada
pela perseverança, para receber a Salvação e o Reino de Deus. Nem o batismo nem a ceia garantem a salvação daqueles que

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1 CORÍNTIOS 10 18

3 Todos comeram do mesmo alimento 10 E não vos entregueis à murmuração,


espiritual, como alguns deles resmungaram e foram
4 e todos beberam da mesma bebida mortos pelo destruidor.
espiritual, porque tinham a sede saciada 11 Tudo isso lhes aconteceu como exem-
pela rocha espiritual que os acompanha- plo, e foi escrito como advertência para
va, e essa rocha era Cristo.3 nós sobre quem o final dos tempos já
5 Entretanto, Deus não se agradou da chegou!8
maioria deles; e, por isso, seus corpos fi- 12 Assim, aquele que julga estar firme,
caram espalhados pelo chão do deserto.4 cuide-se para que não caia.
6 Esses fatos ocorreram como exemplo 13 Não vos sobreveio tentação que não
para nós, a fim de que não cobicemos o fosse comum aos seres humanos. Mas
que é ruim, como eles fizeram. Deus é fiel e não permitirá que sejais ten-
7 Não vos torneis idólatras, como alguns tados além do que podeis resistir. Pelo
deles foram, conforme está escrito: “O contrário, juntamente com a tentação,
povo se assentou para comer e beber, e proverá um livramento para que a pos-
levantou-se para se entregar à orgia.5 sais suportar.9
8 Não nos entreguemos à imoralidade,
como alguns deles assim agiram – e num A Ceia de Cristo e a ceia dos demônios
só dia morreram cerca de vinte e três mil.6 14 Por isso, meus amados irmãos, fugi da
9 Não devemos pôr à prova a paciência idolatria.
de Cristo, como alguns deles fizeram, e 15 Falo isso a pessoas sensatas; julgai vós
por isso foram mortos pelas serpentes.7 mesmos o que estou afirmando.

participam desses atos simbólicos e cerimoniais de fé. Mesmo a atuação pessoal e sobrenatural de Deus não assegurou que os
israelitas, contemporâneos de Moisés, chegassem à Terra Prometida. Essa é uma grande lição para a Igreja de hoje.
3 O maná (pão), alimento espiritual que descia do céu, e a água pura e refrescante, que brotava em abundância da Rocha (Êx
16.2-36; 17.1-7; Nm 20.2-11; 21.16), saciando a todo o povo, era o Cristo pré-existente: Pão e Água da vida – nosso alimento
espiritual (Jo 4.14; 6.30-35), que nos acompanha em nossa jornada.
4 Desde o Éden, Deus tem procurado ensinar o princípio da obediência – como prova do amor sincero e da fidelidade – dos
seres humanos (criação) para com Seu Pai (Criador). Entretanto, o Diabo – ao longo da história – tenta levar a humanidade a ig-
norar essa lei divina e afrontar a Deus por meio da desobediência à Sua Palavra. De todos os adultos que saíram do Egito, apenas
Calebe e Josué tiveram permissão de entrar em Canaã (Nm 14.22-35; Js 1.1,2). Nem sempre a maioria tem razão (Hb 3.14-19).
5 Os coríntios estavam raciocinando como os israelitas do passado, assim como a sociedade mundial de nosso tempo. Israel,
no deserto, se enjoou do maná e queria carne (Nm 11.4,34: Sl 78.27). Israel ergueu um deus de ouro, segundo suas vontades e
interesses mesquinhos (Êx 32.1-6), assim como ocorre no mundo de hoje, e ficará mais evidente à medida que nos aproximamos
rapidamente do final dos tempos.
6 Paulo faz referência à participação do povo israelita nos cerimoniais moabitas de adoração ao deus Baal-Peor (Nm 25.1-9),
que incluía todo o tipo de imoralidades sexuais com as jovens que cultuavam esse deus espúrio. O templo da deusa Vênus em
Corinto abrigava cerca de 1000 prostitutas ritualistas. Os textos hebraicos e a Septuaginta (texto grego do AT) registram 24 mil
mortos. Os autores do NT não tinham a mesma preocupação com a exatidão dos números quanto os teólogos atuais, e muitas
vezes os citavam de forma aproximada. A tradição judaica, na antiguidade, acreditava que os números traziam informações
espirituais em si mesmos (Js 6; Jó 1 e 42).
7 Insensata e tola é a pessoa que tenta desafiar os princípios estabelecidos por Deus. É inútil lutar contra o Senhor (Cristo),
denominado Javé (Jeová) no AT (Nm 14.2-36; 16.11,41; 21.5). Uma das principais expressões de falta de fé e incredulidade é a
reclamação sistemática (queixas contínuas). Paulo faz uma associação entre o anjo que trouxe a peste registrada em Nm 16.46-
50, por causa da murmuração contra os servos do Senhor (Moisés e Arão – Nm 16.41), e o anjo exterminador (Êx 12.23; 2Sm
24.16).
8 As Escrituras Sagradas foram legadas por Deus para nossa instrução na fé, crescimento espiritual e advertência (Rm 15.4).
O período histórico chamado de “o final dos tempos” teve início com a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus,
prolongando-se até a Sua volta em glória e restauração completa da Igreja (Hb 1.1). Vivemos a “época da graça” quando o Evan-
gelho está sendo pregado e a grande e derradeira oportunidade de salvação está à disposição de todos os interessados em todo
o mundo. Esse tempo, entretanto, está passando muito rapidamente e logo se encerrará (1Ts 4.13-18).
9 É Deus quem permite que sejamos tentados segundo as ambições e fraquezas humanas. A tentação em si não é pecado,
pois o próprio Cristo foi tentado, mas não pecou (Mt 4.1-11). As tentações põem nossa fé e lealdade ao Senhor à prova e nos
ensinam a depender da proteção e direção do Espírito Santo (1.9; 1Ts 5.24; Lm 3.23). Deus não permite que sejamos tentados
com a intenção de nos ver cair em pecado, mas sim, para fortalecer nossa fé por meio das provas (Mt 6.13; Tg 1.13; Hb 11.17). O
livramento ou escape é a capacitação divina que nos é concedida em cada situação específica, a fim de que possamos resistir e

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19 1 CORÍNTIOS 10

16 Não é verdade que o cálice da bênção Os limites da liberdade cristã


que abençoamos é a comunhão do sangue 23 Sim, “tudo é permitido”, porém nem
de Cristo? Acaso o pão que partimos não é tudo é proveitoso. Sim, “todas as coisas
nossa participação no Corpo de Cristo?10 são lícitas”, contudo nem todas são edi-
17 Como há somente um pão, nós, que ficantes.
somos muitos, somos um só corpo, pois 24 Ninguém deve buscar o seu próprio
todos participamos de um único pão.11 bem, mas o bem dos seus próximos.13
18 Observai o povo de Israel: porventura 25 Comei de tudo o que se vende no mer-
os que comem dos sacrifícios não são cado, sem questionamentos por causa da
participantes do altar? consciência,
19 Sendo assim, o que estou querendo di- 26 porquanto “do Senhor é a terra e tudo
zer? Será que o sacrifício oferecido a um o que nela existe”.14
ídolo significa alguma coisa? Ou o ídolo 27 Se, portanto, algum descrente vos
tem algum valor? convidar para uma refeição e quiserdes
20 Não! Quero enfatizar que o que os ir, comei de tudo que vos for servido,
pagãos sacrificam é oferecido, isto sim, sem nada questionar por motivo de
aos demônios e não a Deus. E não quero consciência.
que tenhais qualquer comunhão com os 28 Mas, se alguém vos prevenir: “Isto foi
demônios. oferecido em sacrifício”, nesse caso, não
21 Não podeis beber do cálice do Senhor comais, por causa daquele que vos avisou
e do cálice dos demônios. Não podeis e por motivo de consciência.15
participar da mesa do Senhor e da mesa 29 Não me refiro à vossa própria consci-
dos demônios. ência, mas da consciência da outra pes-
22 Ou desejamos provocar os ciúmes do soa. Pois, por que a minha liberdade deve
Senhor? Porventura somos mais fortes ser julgada pela consciência dos outros?
do que Ele?12 30 Se participo da refeição com ação de

vencer todas as tentações e provas. Entretanto, mesmo as nossas quedas e falhas são transformadas por Deus em ensino e força
para nosso desenvolvimento espiritual (1Jo 1.9).
10 O cálice da bênção era o terceiro cálice do qual se tomava o vinho nas antigas celebrações judaicas da Páscoa. Foi numa
tradicional celebração de Páscoa que Jesus instituiu Sua Ceia como memorial cristão (Mt 26.17-30; Mc 14.12-26; Lc 22.7-23). Ao
erguer o terceiro cálice e abençoá-lo (ao agradecer a Deus por coisas simples as estamos consagrando e abençoando), Jesus
criou um símbolo para que seus discípulos, de todas as partes e épocas, recordassem o dia do seu sacrifício (derramamento do
sangue inocente do Cordeiro de Deus) em benefício de todos os que crêem. Jesus não estava dizendo que o vinho bebido se
transformaria em seu sangue, até porque quando celebrou a primeira Ceia seu sangue ainda não havia sido derramado. Mas usou
uma forte metáfora para ilustrar a nossa comunhão (em grego: koinõnia) com seus sofrimentos, a cruz e a vida eterna (11.25).
11 O ato cerimonial de muitos crentes, participando de um mesmo pão, simboliza a união e a unidade que deve prevalecer no
Corpo de Cristo, onde não deve haver distinções raciais, políticas, culturais, sociais, econômicas ou denominacionais. A comu-
nhão vertical (com Deus) não existe em plenitude, sem a comunhão horizontal (com os irmãos, a Igreja – 1Jo 1.5-7).
12 Paulo nega que os ídolos sejam alguma coisa, tampouco que haja deuses. Na verdade, são demônios que se travestem de
deuses, aterrorizam e iludem as pessoas, e delas pedem sacrifícios e adoração. O povo de Deus é advertido a não participar de
festas pagãs dessa natureza, pois isso seria ter comunhão com os demônios. Todo tipo de idolatria é entrar em acordo com os
demônios, e isso é provocar o zelo (ciúme) de Deus (Êx 20.5; Dt 32.21; Sl 78.58).
13 Os coríntios haviam aprendido de Paulo acerca da liberdade que temos em Cristo, mas estavam usando esse conceito
saudável e comunitário para dar vazão ao egoísmo e às imoralidades pessoais. Paulo concorda que somos livres para fazer tudo
o que for agradável a Deus, ao nosso próximo e a nós mesmos. Temos toda a liberdade para fazer e promover o bem sobre a terra
e para com todos. A liberdade para o erro e o mal é pecado (Gl 6.2; Rm 14.19; 15.2; 1Co 3.9-17; 8.1).
14 Mesmo que as carnes e os alimentos tivessem sido sacrificados aos ídolos, no templo pagão, ao serem colocados no mer-
cado público, perdiam totalmente seu significado religioso e místico, não podendo afetar a consciência e a fé dos cristãos, pois
tudo pertence ao Senhor (Jo 1.1; Sl 24.1; Rm 14.14).
15 Desenvolver um relacionamento social e amigo com incrédulos é interessante quando o objetivo maior é levá-los à Cristo.
Nesse caso, deve-se comer com tranqüilidade de tudo quanto for posto à mesa, sem qualquer receio de um possível mal derivado
de alimentos sacrificados. Entretanto, se alguém informar que aquela carne ou alimento foi oferecido a ídolos, o crente deve se
abster devido à consciência das pessoas presentes, pois alguém poderia supor que um cristão está livre para participar de cultos
e rituais pagãos, e isso serviria de escândalo ou confusão para muitos.

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1 CORÍNTIOS 10, 11 20

graças, por que sou condenado por algo 4 Todo homem que ora ou profetiza com
pelo qual posso dar graças a Deus? a cabeça coberta desonra a sua cabeça;
31 Assim, seja comendo, seja bebendo, 5 e toda mulher que ora ou profetiza
seja fazendo qualquer outra coisa, fazei com a cabeça descoberta desonra a sua
tudo para a glória de Deus. cabeça, pois é como se estivesse com a
32 Não vos torneis motivo de tropeço cabeça rapada.
nem para judeus, nem para gregos, nem 6 Assim, se a mulher não cobre a cabeça,
para a Igreja de Deus. então deveria cortar também o cabelo.
33 Também eu procuro agradar a todos, Se, no entanto, é vergonhoso para a mu-
de todas as maneiras possíveis. Porquan- lher cortar o cabelo ou raspar a cabeça,
to não estou em busca do meu próprio então ela deve cobrir a cabeça.4
bem, mas procuro o bem de muitos, para 7 O homem, contudo, não deve cobrir a ca-
que sejam salvos.16 beça, visto que ele é a imagem e a glória de
Deus, mas a mulher é a glória do homem.

11 Sede meus imitadores, como eu o


sou de Cristo!1
8 Porquanto o homem não se originou da
mulher, mas sim a mulher do homem;5
9 além disso, o homem não foi criado por
Reverência na adoração causa da mulher, mas sim a mulher por
2 Eu vos elogio porquanto em tudo vos causa do homem.
lembrais de mim, e vos tendes apegado 10 Por essa razão e por causa dos anjos, a
fielmente às tradições que vos transmiti.2 mulher deve ter sobre a cabeça um sinal
3 Entretanto, desejo que entendais que de autoridade.6
Cristo é o Cabeça de todo homem; o 11 No Senhor, todavia, nem a mulher é
homem, o cabeça da esposa; e Deus, o independente do homem nem o homem
cabeça de Cristo.3 é independente da mulher.

16 O princípio geral que orienta a exposição teológica de Paulo nos capítulos 8 a 10 é que todas as nossas palavras e atitudes
podem glorificar ou profanar o Nome de Deus (6.20; Cl 3.17,23). Um coração agradecido consagra todas as coisas ao Senhor
(1Tm 4.4; Rm 14.6; Ef 5.20).
Capítulo 11
1 Paulo foi salvo por Cristo e dele se tornou “imitador” (palavra cujo sentido original refere-se ao compromisso de ser discípulo).
Todo aquele que vive segundo o exemplo supremo de Cristo deve ser, igualmente, seguido (1Pe 2.21).
2 A expressão grega original pardoseis, aqui traduzida por “tradições”, refere-se ao ensino cristão básico e fundamental
transmitido de forma oral e escrita (2Ts 2.15; 3.6; 1Co 15.3), e não tem a ver com costumes e modelos culturais de uma
comunidade cristã. O Evangelho deve tomar a forma e a cultura do povo onde está sendo pregado, sem infringir nenhum de seus
mandamentos. Isto é manter a “tradição” neotestamentária e a doutrina dos apóstolos (At 2.42-47).
3 Paulo usa a palavra grega kefale, em seus dois significados: “cabeça” e “chefe”. A expressão grega literal usada neste texto
para “mulher” tem o sentido de “esposa”. Paulo está ensinando que, assim como Cristo tem autoridade (em grego: digno de hon-
ra) sobre o homem (Cl 1.18; 2.10), e por isso deve ser honrado (tanto no sentido de receber quanto de agir com honradez). Assim
também o marido tem uma posição de autoridade no lar e deve, portanto, ser honrado pela esposa (15.28; Ef 1.21,22; 5.22,23).
4 O costume oriental dos homens de descobrirem suas cabeças ao entrar num local religioso ou sinagoga, e das mulheres
cobrirem suas cabeças como símbolo de honra a seus maridos era muito anterior a Paulo (Gn 3.16). Esse dado cultural era tão
forte que costumava-se rapar a cabeça das prostitutas e mulheres pegas em adultério como sinal público de desonra. Algumas
mulheres estavam confundindo sua posição de liberdade em Cristo e igualdade de direitos em relação aos homens, e cortando
os cabelos ou retirando o véu (manto) de sobre as cabeças em sinal de protesto (1Tm 2.11-14; Gl 3.28).
5 Deus estabelece uma hierarquia de honra e autoridade com base na origem primeira dos seres. Deus, como não tem início,
tempo ou espaço, é a própria origem e a finalidade de tudo, merecendo ser honrado e amado eternamente por toda a sua criação.
Deus é Pai de Jesus Cristo; e o Senhor é a autoridade máxima sobre todo homem; o homem, em um certo sentido, deu à luz a
mulher, para que esta lhe fosse esposa, sua melhor companhia na terra e sua colaboradora leal, segundo o plano de Deus para
a humanidade (Gn 2.21-24). Por isso, cabe à mulher respeitar e ajudar seu marido. Os maridos, contudo, devem ser amáveis e
justos, como convém aos verdadeiros filhos de Deus (1Pe 3.7).
6 Paulo estabelece uma correlação entre o acampamento judaico, descrito na Torá (o Pentateuco), quando Deus passeava por
entre seu povo no deserto para os abençoar e santificar, e ao lar cristão (Dt 23.14). Deus, assim como seus anjos (Is 6.2; 2Pe
2.4; Hb 1.14; Jd 6), tem prazer em passear pelos lares onde Seu Nome é amado e reverenciado. Assim como o véu e os mantos

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21 1 CORÍNTIOS 11

12 Porque, assim como a mulher veio do divergências entre vós, para que os apro-
homem, assim também o homem nasce vados se tornem conhecidos em vosso
da mulher, mas tudo provém de Deus! meio.
13 Julgai entre vós mesmos: é apropriado 20 Pois, quando vos reunis como igreja,
a uma mulher orar a Deus com a cabeça não é para comer a Ceia do Senhor.9
descoberta? 21 Porque, quando comeis, cada um
14 Não vos ensina a própria natureza que, toma antes a sua própria ceia sem es-
se o homem tiver cabelos compridos, perar pelos outros. E, dessa maneira,
isso lhe é motivo de desonra? enquanto um fica com fome, outro se
15 E que se a mulher, entretanto, tiver ca- embriaga.
belos compridos, isso é para ela uma gló- 22 Será que não tendes casas onde podeis
ria? Pois os cabelos compridos lhe foram comer e beber? Ou, de fato, desprezais a
outorgados como se fosse um manto. Igreja de Deus, humilhando os que nada
16 Contudo, se alguém deseja fazer desse possuem? Que vos direi? Acaso vos elo-
assunto uma polêmica, nós não temos giarei por isso? Certamente que não vos
esse procedimento, nem as igrejas de elogio por essas atitudes!
Deus.7
Como celebrar a Ceia do Senhor
A Ceia deve expressar amor cristão 23 Pois eu recebi do Senhor o que tam-
17 Apesar de tudo, não vos elogiarei bém vos entreguei: que o Senhor Jesus,
quanto à instrução que passo a vos dar na noite em que foi traído, tomou o pão
agora, porquanto as vossas reuniões pro- 24 e, logo após haver dado graças, o
duzem mal e não bem! partiu e disse: “Isto é o meu corpo que
18 Em primeiro lugar, porque ouço dizer é dado por vós. Fazei isto em memória
que há divisões entre vós quando vos de mim.10
reunis como igreja; e até certo ponto 25 Do mesmo modo, depois de comer,
acredito que isso esteja ocorrendo.8 Ele tomou o cálice e declarou: “Este cáli-
19 Todavia, se faz necessário que haja ce é a nova aliança no meu sangue. Fazei

(em grego exousia – “autoridade”), para a maioria dos povos orientais, a aliança de casamento também era um símbolo do
compromisso entre um homem e sua mulher. Os judeus costumavam confeccionar um anel circular de ouro maciço, totalmente
liso e sem qualquer adorno extra ou inscrição, que o noivo colocava no dedo indicador da mão mais forte da noiva como símbolo
de Kiddũsh (consagração) e amor perpétuo. Paulo usa a expressão hebraica “por causa dos anjos”, para falar da presença
gloriosa do Senhor sem a necessidade de mencionar o nome de Deus, como era a forma de os judeus fiéis respeitarem a
transcendência divina. Os textos de Qunram - os rolos do Mar Morto - aduzem a este motivo.
7 No primeiro século, era costume no oriente os homens usarem os cabelos mais curtos do que os das mulheres. Paulo
não acha importante discutir costumes locais e temporários ou culturas, desde que estes procedimentos não transgridam os
princípios básicos do Evangelho de Cristo.
8 Reunir-se “como igreja” ou “na igreja” são expressões que derivam do termo grego original Ekklesia que fora traduzido do
hebraico (congregação – At 7.38) pela Septuaginta. A palavra portuguesa “igreja” deriva do termo em latim Ecclesia. Contudo,
todas essas expressões têm um mesmo sentido: a igreja não significa um lugar ou edifício, mas o ajuntamento, a assembléia ou
a reunião dos fiéis seguidores de Cristo (discípulos) com o objetivo de adorar a Deus, estudar sua Palavra, cooperar e encorajar
uns aos outros na fé.
9 O ensino eucarístico (o termo original grego eucharistesass significa “dar graças”), distintivo de Paulo, salienta a significação
da Ceia, ligando-a firmemente ao propósito remidor de Deus, de tal maneira que a mesma proclama a morte de Cristo (v.26),
visto como o ritual de Páscoa. A expressão hebraica Haggãdãh (anunciar, proclamar) foi traduzida por Paulo para o grego
Katangellõ, cujo sentido é realizar uma pregação dramatizada em palavra e símbolo como era a própria Páscoa (Êx 13.3-10).
Paulo apresenta o profundo significado da Mesa do Senhor como uma comunhão (em grego koinõnia) entre os filhos de Deus,
simbolizada pelo partilhar do pão e do vinho (10.16), e revela o caráter de unidade da Igreja, pois assim como seus membros
compartilham juntamente de um único pão, também se reúnem como o Corpo único de Cristo. Paulo termina essa carta com um
fundo eucarístico: Marãnãthã, expressão transliterada do aramaico e que significa: “Vem, Senhor!” (16.22).
10 Segundo descobertas e análises histórico-arqueológicas ocorridas durante o século 20, Paulo escreveu esta carta pouco
antes do surgimento dos quatro evangelhos. Esse é, portanto, o primeiro relato da Ceia do Senhor e a mais antiga citação escrita
das palavras do Senhor Jesus (Mt 26.26). A celebração da eucaristia e da Ceia do Senhor, na comunhão dos crentes, deve ser

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isto todas as vezes que o beberdes, em 32 No entanto, quando somos julgados


memória de mim”. pelo Senhor, estamos sendo corrigidos
26 Portanto, todas as vezes que comerdes a fim de que não sejamos condenados
deste pão e beberdes deste cálice proclamais juntamente com o mundo.13
a morte do Senhor, até que Ele venha.11 33 Portanto, meus caros irmãos, quando
27 Por esse motivo, quem comer do pão vos reunirdes para comer a Ceia, aguar-
ou beber do cálice do Senhor indigna- dai uns pelos outros.
mente será culpado de pecar contra o 34 Se alguém tiver fome, coma em casa,
corpo e o sangue do Senhor. para que, quando vos reunirdes, isso não
28 Examine, pois, cada um a si próprio, seja para vossa própria condenação. Quan-
e dessa maneira coma do pão e beba do to às demais orientações, pessoalmente vos
cálice. instruirei, assim que puder visitar-vos.14
29 Pois quem come e bebe sem ter cons-
ciência do corpo do Senhor, come e bebe Quanto aos Dons Espirituais
para sua própria condenação.12
30 Por essa razão, há entre vós muitos
fracos e doentes e vários que já dormem.
12 A respeito dos dons espirituais,
não quero, irmãos, que tenhais
desconhecimento.1
31 Contudo, se nós tivéssemos a cautela 2 Sabeis que, quando éreis pagãos, de
de julgar a nós mesmos, não seríamos uma maneira ou outra, fostes fortemente
condenados. atraídos para os ídolos mudos.2

realizada com alegria, fraternidade, reverência e com o sentido de celebração (memorial), não como sacrifício, uma vez que esse
já foi realizado pelo próprio Senhor, de uma vez para sempre e por todos os que crêem (Hb 9.27,28).
11 Jesus celebrou a primeira Ceia do Senhor, logo após a tradicional refeição da Páscoa (Mt 26.17-30; Mc 14.12-26; Lc 22.7-
23; Jo 13.18-30). Um cálice de vinho foi o símbolo usado por Jesus para marcar o início de um novo pacto (aliança) que seria
escrito com seu sangue, inocente e vicário, derramado sobre a cruz do Calvário (Lc 22.20; Jr 31.31-34). A nova aliança (em grego
diatheke) é superior e derradeira sobre a antiga aliança firmada com Moisés e o povo de Israel no Sinai (Êx 24.3-8). Esse novo
memorial deve ser realizado com regularidade, até que Jesus volte – brevemente – em glória (Mt 26.29).
12 A Ceia do Senhor é uma celebração destinada aos crentes. Antes de participar da Ceia, o crente deve passar um tempo refle-
tindo sobre a maneira como está vivendo o cristianismo que professa. A expressão grega original dokimazetõ significa um “exame
rigoroso” da alma em relação à vontade de Deus: uma auto-análise íntima, sincera e curadora, em aconselhamento com o Espírito
Santo. Esse tempo de diálogo, confissão e restauração com o Espírito Santo seria melhor aproveitado antes da Ekklesia, ou seja,
antes da “reunião dos crentes” para o culto. Assim, o cristão chegaria para a celebração da Ceia em plena comunhão com Deus
e com seus irmãos, com a alma renovada e restaurada, apto para louvar a Deus e vivenciar plenamente o significado do memorial
do sacrifício de Cristo por nossa salvação (19; 2Co 13.5; Tg 5.16; 1Jo 1.6). Quem não é sensível ao Corpo de Cristo, isto é, ao
significado diário e perpétuo da morte e ressurreição do Filho de Deus, e à natureza e caráter da Ekklesia (os membros da Igreja
do Senhor), vive uma vida egocêntrica e materialista, atraindo sobre si ainda mais juízo (5.5; 1Tm 1.20; At 5.1-11; Tg 5.13-20).
13 Um exame rigoroso das nossas motivações e ações à luz da Palavra nos pouparia de muito sofrimento. Como filhos redimidos
de Deus somos disciplinados – assim como um pai amoroso corrige as atitudes erradas de seu filho – a fim de que cheguemos
à conclusão de que precisamos nos arrepender dos nossos pecados e voltar à plena comunhão com o Espírito do Senhor. Esse
processo de correção, disciplina, reconhecimento, perdão e restauração significa: crescimento espiritual na graça. E apenas aqueles
que amam a Deus e se permitem quebrantar, conseguem perceber essa bênção em suas vidas (2Co 7.10; Hb 12.7-14; Rm 6.22).
14 A Igreja primitiva celebrava uma reunião de confraternização conhecida como ágape (termo grego para o “amor frater-
nal”), por ocasião da celebração da Ceia do Senhor (2Pe 2.13; Jd 12). Ocorre que, na igreja de Corinto, os grupos de gregos
cristãos ricos estavam trazendo grande quantidade de alimentos para a festa, mas não repartiam com os pobres. E muitas
pessoas estavam passando fome, enquanto outras até se embriagavam, antes da Ceia do Senhor. Paulo nota o absurdo e, por
isso, adverte que o cristão deve estar em contínua vigilância espiritual e comunhão com o Espírito de Deus, pois a natureza
do cristão é semelhante a de todo mundo, e tende para o egoísmo (pecado). Paulo ainda demonstra que o líder cristão deve
discernir sobre o que escrever e o que falar. E, ainda, que há assuntos que dizem respeito à toda a congregação, e outros que
são mais particulares.
Capítulo 12
1 Paulo continua a responder às questões levantadas pelos coríntios na referida carta (7.1; 8.1; 16.1). Embora, a palavra original
grega usada aqui para “dons” seja diferente da usada em 1.7, é certo que tem a ver com pneumatikõn, crentes capacitados pelo
Espírito Santo para servirem no Reino de Deus e cooperarem (encorajarem) uns aos outros.
2 Os coríntios, no passado (10.19,20), e muitas pessoas – ainda hoje – foram iludidos por rituais a ídolos (objetos) sem vida. Os
“gentios” ou “pagãos” são todos aqueles que não colocam sua fé (confiança na paternidade e salvação) em Deus por intermédio
de Cristo. Paulo orienta aos coríntios a seguirem a direção do Espírito Santo que agora habita em seus corações.

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23 1 CORÍNTIOS 12

3 Portanto, eu vos afirmo que ninguém 10 a outro, poder para operar milagres; a
que fala pelo Espírito de Deus, pode outro, profecia; a outro, discernimento
dizer: “Maldito seja Jesus!” Da mesma de espíritos; a outro, variedade de lín-
forma, ninguém pode declarar: “Jesus é guas; e ainda a outro, interpretação de
Senhor!”, a não ser pelo Espírito Santo.3 línguas.
4 Existem diferentes tipos de dons, mas o 11 Entretanto, o mesmo e único Espírito
Espírito é o mesmo.4 realiza todas essas ações, e Ele as distri-
5 Existem várias formas de ministérios, bui individualmente, a cada pessoa, con-
mas o Senhor é o mesmo.5 forme deseja.9
6 E há diversas maneiras de atuação, mas é o
mesmo Deus quem efetua tudo em todos. Unidade na diversidade
7 A cada um, contudo, é concedida a ma- 12 Porquanto, assim como o corpo é uma
nifestação do Espírito, com a finalidade só unidade e possui muitos membros, e
de que todos sejam beneficiados.6 todos os membros do corpo, ainda que
8 Pelo Espírito, a um é dada a palavra de muitos, constituem um só organismo,
sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, assim também ocorre em relação a
a palavra de conhecimento.7 Cristo.
9 A outro, pelo mesmo Espírito, é outor- 13 Pois todos fomos batizados por um só
gada a fé; a outro, pelo único Espírito, Espírito, a fim de sermos um só corpo,
dons de curar;8 quer judeus, quer gregos, quer escravos,

3 A pessoa que foi regenerada (nasceu espiritualmente), pelo Espírito Santo, não tem como proferir qualquer maldição (anátema
– 16.22; Gl 1.8,9) contra a pessoa de Jesus Cristo, nem agir de maneira a amaldiçoar o Nome do Senhor. Pelo contrário, somente
o crente pode declarar com propriedade que “Jesus é o Senhor” (Jo 20.28; 1Jo 4.2,3). Essa expressão na boca de qualquer
pessoa que não tenha nascido de novo (Jo 3) é “anátema” para sua própria vida. A expressão original grega, aqui traduzida por
“Senhor”, é a mesma utilizada na tradução grega do AT (Septuaginta) para se referir ao nome de Deus Yahweh em hebraico.
4 O termo grego original aqui traduzido por “dons” é charismatõn, que tem a ver com poderes miraculosos que Deus outorga
aos crentes em Cristo, Seu Filho, por meio do Espírito Santo (Rm 12.3-8; 1Pe 4.10). Há diversos dons (capacitações espirituais)
para diversas aplicações e serviços na Igreja. Paulo apenas citou alguns. Essa é uma das passagens (12.4-6) que revela a Trinda-
de em ação para abençoar cada crente com dons e capacitações espirituais a serviço da Igreja.
5 A expressão grega original, aqui traduzida por “ministérios”, é usada, em suas várias formas, sempre no sentido de “serviço
à comunidade”, especialmente aos membros da Igreja de Cristo, como o zelo em servir às mesas (At 6.2,3). A Igreja primitiva (no
século 1) usava esse mesmo termo em referência ao ofício diaconal (Fp 1.1).
6 Uma das evidências da conversão de um pagão a Cristo é a expressão de um dos muitos dons espirituais em benefício dos seus
irmãos. Todo cristão recebe pelo menos um dom do Espírito Santo (1Pe 4.10,11). O dom espiritual é concedido de forma gratuita,
natural e para toda a vida, entretanto, sua manifestação é ocasional e está sujeita ao crente. Todas as capacitações espirituais (dons)
têm como objetivo divino encorajar e edificar, especialmente, os membros da comunidade de crentes que integram a Igreja. Por-
tanto, não devem ser jamais usados com orgulho ou egoísmo para que seus efeitos e as pessoas envolvidas não sofram prejuízos.
Paulo adverte que alguns em Corinto estavam procedendo mal em relação à administração dos seus próprios dons.
7 Nem todos os crentes têm o mesmo dom, tampouco, há algum cristão que tenha todas as capacitações espirituais. A expres-
são original grega logos traz o sentido de “capacidade de comunicar”, enquanto “sabedoria” corresponde ao poder de analisar
profundamente algo que é descoberto ou apresentado. O dom do “conhecimento” tem a ver com a capacidade espiritual dos
apóstolos, profetas e mestres em trazer à lume novas revelações da Palavra para o benefício do Corpo de Cristo (Ef 2.20; 4.11).
8 Essa não é a fé para a salvação (que todo cristão ganhou), que também é um dom de Deus, mas cuja finalidade é converter
o coração do incrédulo e levá-lo a crer profundamente no sacrifício vicário e salvador de Jesus Cristo (Ef 2.8-10; Fl 2.12). O dom
da fé para o serviço cristão é uma capacitação especial para crer no cumprimento da Palavra e na realização de grandes obras
espirituais em prol da comunidade cristã e na evangelização do mundo (13.2; Mt 17.19). Quanto à expressão grega original “dons
de curas” (literalmente no plural) refere-se a várias capacidades espirituais oferecidas pelo Espírito Santo aos crentes, a fim de
poderem ministrar, de várias formas, a cada uma das muitas doenças que afligem a humanidade de tempos em tempos.
9 Literalmente, no original grego, temos a expressão: “ações de milagres”, confirmando que o milagre é sempre uma
intervenção sobrenatural e extraordinária de Deus, que, nesse caso, usa como canal a pessoa de determinado crente e sua
capacitação espiritual e especial (dom) concedida pelo próprio Senhor. A profecia é igualmente um ato da vontade de Deus,
que o Espírito Santo transmite especialmente ao crente agraciado com esse dom específico. A revelação divina pode ser uma
predição (Mt 24; At 11.28; 21.10,11) ou anúncio da vontade expressa de Deus a partir da exposição da Palavra (At 14.29,30;
13.1,2). Entretanto, como falsas profecias e ensinos podem adentrar à comunidade dos crentes, o Senhor concede o “dom de
distinguir” os espíritos, separando com clareza os ensinamentos e práticas que vêm do Senhor dos enganos e mentiras que

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1 CORÍNTIOS 12 24

quer livres; e a todos nós foi dado beber 23 e os membros do corpo que julgamos
de um único Espírito.10 serem menos honrosos, nós mesmos os
14 Porque também o corpo não é cons- tratamos com maior honra. E os mem-
tituído de apenas um membro, mas de bros que em nós são vergonhosos, vesti-
muitos. mos com decoro especial,
15 Se porventura o pé disser: “Porque não 24 enquanto os membros mais apresentá-
sou mão, não pertenço ao corpo”, nem veis, dispensam qualquer tratamento es-
por isso deixa de fazer parte do corpo. pecial. Todavia, Deus estruturou o corpo
16 E se a orelha reclamar: “Porque não atribuindo maior honra aos membros
sou olho, não pertenço ao corpo!”, nem que dele tinham necessidade,
por isso deixa de fazer parte do corpo. 25 a fim de que não haja divisão no corpo,
17 Se o corpo todo fosse olho, onde mas sim que todos os membros tenham
estaria a capacidade de ouvir? Se o cor- igual dedicação uns pelos outros.
po todo fosse audição, onde estaria o 26 Desse modo, quando um membro
olfato? sofre, todos os demais sofrem com ele;
18 Em verdade, Deus dispôs cada um quando um membro é honrado, todos
dos membros no corpo, segundo a sua os outros se regozijam com ele.
vontade. 27 Ora, vós sois o Corpo de Cristo, e cada
19 E, se todos fossem um só membro, pessoa entre vós, individualmente, é
onde estaria o corpo? membro desse Corpo.
20 Sendo assim, há muitos membros, mas 28 Assim, na Igreja, Deus estabeleceu
um só corpo!11 alguns primeiramente apóstolos; em
21 O olho não pode ordenar à mão: “Não segundo lugar, profetas; em terceiro,
tenho necessidade de ti!” Tampouco mestres; em seguida, os que realizam mi-
a cabeça pode declarar aos pés: “Não lagres, os que têm dons de curar, os que
preciso de vós!” têm dom de prestar ajuda, os que têm
22 Ao contrário, os membros do corpo dons de administração e os que falam
que parecem mais fracos são essenciais; diversas línguas.12

tentam seduzir os cristãos desde o início da Igreja (1Jo 4.1-6). Alguns crentes recebem a capacidade espiritual de falar em outros
idiomas, sem que nunca os tenha aprendido de forma natural, como ocorreu no Dia de Pentecoste (At 2.4-11) ou em línguas
extáticas (no original grego glõssõn), um sistema lingüístico próprio dos seres celestiais e desconhecido na Terra. Esse dom tem
a finalidade de enlevar os crentes e a Igreja, não exatamente de comunicar ensinos, doutrinas ou profecias do Senhor. Deve ser
ministrado em adoração sincera a Deus, com humildade, altruísmo e discernimento (como todos os demais), pois o mau uso dos
dons pode causar muito prejuízo ao seu hospedeiro e à Igreja (1Co 14. 9,10). Por isso, Paulo orienta o uso do dom de “línguas
estranhas”, e enfatiza que tenham tradução clara e precisa, a fim de que todos os ouvintes possam ser movidos a louvar a Deus,
especialmente os que ainda não são cristãos (1Co 14.18-28). É Deus, por meio do Seu Espírito, quem atribui soberanamente a
cada crente os dons espirituais, para edificação da Igreja e evangelização do mundo. Ao cristão cabe receber seus dons com
alegria, e administrá-los com sabedoria, altruísmo e sem rivalidades, para a glória do Senhor Jesus.
10 O povo de Deus (os crentes) são os únicos membros do Corpo de Cristo (a Igreja), e deve aprender a usar a diversidade dos
seus dons espirituais para, em unidade e adoração ao cabeça da Igreja: Jesus Cristo (Ef 1.22,23), evangelizar o mundo. Todos
os cristãos sinceros são batizados no Espírito Santo (Jo 4.10), incorporados ao Corpo de Cristo e, portanto, podem participar da
Ceia do Senhor (10.16). Em Cristo não pode haver qualquer preconceito ou distinção racial, cultural, econômica ou social, pois
a todos que crêem foi dado o direito de beber do único Espírito de Deus, de modo que suas vidas expressem o fruto do Espírito
que neles habita (Gl 5.22,23; Jo 7.37-39).
11 A Igreja em Corinto apresentava muitas deformações doutrinárias. Uma delas era exigir que todas as pessoas tivessem o
dom de línguas. Com isso, muitos cristãos sinceros estavam se sentindo inferiorizados perante seus irmãos. Paulo orienta, espe-
cialmente os líderes da igreja (1Pe 5.1; At 6.1-6), a ter uma visão correta sobre a diversidade e os benefícios do exercício de todos
os dons na Igreja, porquanto essa é a vontade soberana de Deus para o funcionamento sadio do Corpo de Cristo.
12 Os ministérios e os dons são como os dois lados de uma mesma moeda. Quando o Senhor convoca alguém para uma
missão (serviço espiritual) é porque já lhe concedeu os dons necessários. Os “apóstolos” são aqueles que foram escolhidos
pessoalmente por Cristo, foram testemunhas oculares da Sua ressurreição e receberam autoridade especial para estabelecer
os fundamentos doutrinários da Igreja (Mc 3.14; At 1.21,22; Ef 2.20; Jd 3). Em seu sentido ampliado, esse termo pode ser usado

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25 1 CORÍNTIOS 12, 13

29 Acaso são todos apóstolos? São todos corpo para ser queimado, se não tiver
profetas? Ou são todos mestres? Todos amor, todas essas ações não me trarão
têm o dom de realizar milagres? qualquer benefício real.3
30 Todos têm dons de curar? Falam todos 4 O amor é paciente; o amor é bondoso.
em línguas? Todos as interpretam? Não inveja, não se vangloria, nem é ar-
31 Contudo, buscai com zelo os melhores rogante.
dons.13 5 Não se porta de maneira inconve-
niente, não age egoisticamente, não se
O Amor que vem de Deus enfurece facilmente, não guarda ressen-

13 E agora, passo a vos mostrar um ca-


minho ainda muito mais excelente.
Ainda que eu fale as línguas dos seres
timentos.4
6 O amor não se alegra com a injustiça,
pois sua felicidade está na verdade.
humanos e dos anjos, se não tiver amor, 7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
serei como o sino que ressoa ou como o suporta.
prato que retine.1 8 O amor jamais morre; todavia, as pro-
2 Mesmo que eu possua o dom de pro- fecias deixarão de existir, as línguas ces-
fecia e conheça todos os mistérios e toda sarão, o conhecimento desaparecerá.
a ciência, e ainda tenha uma fé capaz de 9 Porquanto em parte conhecemos e em
mover montanhas, se não tiver amor, parte profetizamos;
nada serei.2 10 quando, no entanto, chegar o que é per-
3 Mesmo que eu dê aos necessitados tudo feito, o que é imperfeito será extinto.5
o que possuo e entregue o meu próprio 11 Quando eu era criança, pensava como

como “missionário” (Rm 16.7; Gl 1.19). Os “profetas” revelam a Palavra de Deus para situações específicas e temporárias. Os
“mestres” dominam a teologia, a didática, e ensinam de forma prática a Palavra revelada (Ef 4.11). Os dons, que permitem aos
cristãos a realização de milagres, curas e prestação de socorro (ajuda espiritual, psicológica ou material), estão agrupados numa
mesma categoria e devem ser ministrados com humildade, altruísmo e profunda adoração ao Senhor (v. 9,10; At 5.12; Rm 12.6-8;
At 6.1-6). Finalmente, Paulo destaca os que têm dom de “governo ou administração”, normalmente exercido pelos presbíteros (At
15.6-22; 1Tm 3.5) e, pela terceira vez, menciona o “dom de línguas”, em último lugar.
13 A expressão grega original zeloute também usada em 14.1, indica o “zelo” (dedicação, cuidado, carinho, seriedade) com
que o crente em Cristo deve aceitar, compreender e usar seus dons espirituais em benefício especialmente do Corpo de Cristo.
A instrução de Paulo não é para que os cristãos entrem numa competição em busca de eventuais dons mais importantes ou
apreciáveis. Os dons são distribuídos por Deus, segundo sua vontade soberana, não podem ser escolhidos ou aprendidos; são
capacidades espirituais em potencial, que precisam ser desenvolvidas e usadas com maturidade. O uso pleno e sábio dos dons
proporciona grande alegria ao seu hospedeiro, a todos que estão à sua volta e, especialmente, ao Espírito do Senhor. Paulo
segue mostrando que a maneira mais correta de exercer os dons é por meio do amor sincero. Neste sentido, o amor não é um
“dom espiritual” mas sim um dos atributos do fruto do Espírito (Gl 5.22).
Capítulo 13
1 Jesus e sua Igreja criaram uma expressão nova para o vocábulo grego Agape, que significa “amor sacrificial”, o mesmo amor
demonstrado por Cristo em sua missão de sacrifício vicário por nossa Salvação (Jo 13.34,35; 1Jo 3.16). Essa palavra raramente
é encontrada nos escritos gregos seculares, mas aparece mais de 100 vezes no NT, configurando uma expressão especialmente
cristã. Paulo recorre a uma figura de linguagem (hipérbole) para ensinar que falar sem amor (Agape
( ) é tão inócuo quanto apenas
fazer barulho sem sentido.
2 Paulo escolhe outros três dons para enfatizar que ainda que tais dons fossem expressos em todo o seu esplendor, se não
houvesse o amor de Deus (Agape
( ), não produziriam qualquer benefício verdadeiro e perene.
3 Deus não aceita qualquer ato de generosidade, doação ou sacrifício que não seja motivado, primeiramente, pelo amor
cristão (Agape
( ). Mesmo os atos de martírio, quando provocados pelo egoísmo ou fanatismo político-religioso, são absolutamente
rejeitados por Deus.
4 O amor que vem de Deus tem dupla característica: a) Ativa: não espera ser amado primeiro para retribuir, mas toma a iniciativa
e age com misericórdia (benignidade). b) Passiva: não se precipita em julgar e condenar, mas espera pacientemente (longani-
midade) pela ação poderosa e perfeita do Senhor. Paulo faz referência ao procedimento indecoroso e desregrado dos coríntios
naquele momento (11.18-22 e capítulo 5).
5 O Espírito Santo concede seus dons aos crentes a fim de revelar a Cristo e nos encorajar na caminhada cristã. Quando o que
é “perfeito” (o sentido grego original desta palavra é: “fim”, “cumprimento”, “completa maturidade”) se manifestar, os dons não
serão mais necessários. As profecias estarão todas cumpridas; teremos uma só língua e não haverá barreiras à comunicação,
todos teremos pleno conhecimento e mais nada será necessário ser aprendido ou amadurecido.

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1 CORÍNTIOS 13, 14 26

menino, sentia e falava como menino. 4 Quem fala em uma determinada língua
Quando cheguei à idade adulta deixei para a si mesmo se edifica, mas quem profeti-
trás as atitudes próprias das crianças. za edifica a Igreja.4
12 Agora, portanto, enxergamos apenas 5 Gostaria que todos vós falásseis em
um reflexo obscuro, como em um ma- línguas, todavia, muito mais que profe-
terial polido; entretanto, haverá o dia em tizásseis. Quem profetiza é maior do que
que veremos face a face. Hoje, conheço em aquele que fala em línguas, a não ser que
parte; então, conhecerei perfeitamente, da as interprete para que toda a comunida-
mesma maneira como plenamente sou de receba a palavra que edifica.
conhecido.6 6 Portanto, irmãos, se eu for até vós
13 Sendo assim, permanecem até o mo- falando em línguas, que benefício vos
mento estes três: a fé, a esperança e o trarei, se não vos falar por intermédio
amor. Contudo, o maior deles é o amor!7 de revelação, ou de conhecimento, ou de
profecia, ou, ainda, de ensino?5
O correto uso dos dons 7 Até mesmo considerando objetos sem

14 Segui o caminho do amor e exercei


com zelo os dons espirituais; con-
tudo, especialmente o dom de profecia.1
vida, mas que produzem sons, tais como
a flauta ou a harpa, como alguém poderá
reconhecer a música que está sendo to-
2 Porquanto quem se expressa em uma cada, se os sons formados por elas não
língua estranha, não fala aos homens, forem distintos?
mas a Deus. De fato, ninguém o compre- 8 E mais, se a trombeta não emitir um
ende, pois em espírito fala mistérios.2 som claro e correto, quem se preparará
3 Entretanto, quem profetiza o faz clara- para a batalha?
mente para edificação, encorajamento e 9 Da mesma maneira vós, se com a língua
consolação de todas as pessoas.3 não pronunciardes sons que se podem

6 Paulo novamente usa uma figura de linguagem para explicar a maneira parcial e obscura com que nos é facultado conhecer
e sentir a Deus. Vemos o Senhor como por um reflexo imperfeito, normalmente produzido na época do apóstolo, por um objeto
de bronze polido (espelho), no qual as pessoas costumavam ver a projeção de seus rostos e a aparência do corpo (Tg 1.23).
Entretanto, por ocasião do iminente e glorioso retorno de Jesus Cristo, os cristãos poderão ver o Senhor com toda a nitidez e
também o conhecerão de uma forma muito mais completa do que nos é possível hoje, semelhante ao pleno conhecimento que
o próprio Espírito já tem de cada cristão (1Jo 2.2; Mt 7.23).
7 O amor sincero a Deus abre espaço na mente e no coração do crente para o pleno exercício dos dons em benefício dos seus
irmãos e na evangelização do mundo (1Ts 1.3). Todos os dons serão desnecessários e desaparecerão com a volta de Cristo,
entretanto, o amor (Agape
( ) permanecerá, pois é o maior poder (virtude) concedido por Deus aos seres humanos, especialmente
aos crentes (1Jo 4.10). Afinal, Deus é amor (1Jo 4.8) e ordena que amemos uns aos outros (Jo 13.34,35). O amor supera todas
as dádivas. Mesmo depois que todos os dons passarem, o amor de Deus continuará a ser perpetuamente o princípio governante
dos relacionamentos no universo.
Capítulo 14
1 O amor ((Agape) é o ambiente ideal em que os dons espirituais devem ser expressos e ganham plena eficácia, especialmente
o dom de profecia (12.10).
2 O termo grego original, aqui traduzido por “línguas estranhas”, se refere tanto a um idioma humano desconhecido por deter-
minado povo ou cultura, como a língua extática dos seres celestiais. Deus compreende bem todas as manifestações do espírito
humano, assim como o próprio Espírito Santo intercede em nós ao Pai com “gemidos impossíveis de serem expressos por meio
de palavras” (Rm 8.26). Os ouvintes não conseguem entender alguém que fale uma língua assim; por isso, é mistério. E, portanto,
sua expressão pública somente é aprovada e útil à Igreja quando há quem possa interpretá-la para o vernáculo dos ouvintes.
3 A verdadeira palavra profética é estimulante, confirmada pelo Espírito que habita nos cristãos e se alegra com a verdade; é
também encorajadora (no original grego paraklesin). A mesma função do Espírito Santo: exortar, animar e aconselhar o crente,
como um sábio e dedicado advogado faria para com seu protegido (1Jo 2.2; 12.7).
4 A própria pessoa que fala uma língua estranha não a compreende por meio de qualquer capacidade intelectual. Mesmo que
ela tenha o dom de interpretar, este será sempre um poder espiritual (virtude, dádiva) e não uma propriedade da mente ou do
saber. Portanto, a edificação é pessoal e na área emocional, fortalecendo a fé, estimulando a dedicação e inspirando mais amor
para com Deus e o Seu Reino.
5 A expressão “revelação”, neste texto, vem do termo grego original apocalypsis, significando uma “mensagem direta de Deus”.
Por isso, a Bíblia King James, em inglês desde 1611, denomina o último livro da NT como Revelation.

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27 1 CORÍNTIOS 14

entender, como se compreenderá o que muito bem, mas o teu semelhante não
dizeis? Pois estareis como que jogando está sendo edificado.9
palavras ao vento.6 18 Dou graças a Deus por falar em lín-
10 Realmente, há diversos idiomas no guas mais do que todos vós.
mundo; contudo, nenhum deles é sem 19 No entanto, na igreja, prefiro comunicar
sentido. cinco palavras compreensíveis, a fim de
11 Portanto, se eu não compreender o orientar os meus semelhantes, do que falar
significado do que alguém está comuni- dez mil palavras em uma língua estranha.
cando, serei estrangeiro para quem fala e 20 Irmãos, não sejais infantis em vossa
tal pessoa, estranha para mim. maneira de pensar. Porém, quanto ao
12 Assim igualmente vós. Visto que estais mal, sede como as crianças, contudo,
desejosos por exercer os dons espirituais, adultos quanto ao entendimento.
procurai amadurecer naqueles que pro- 21 Pois está escrito na Lei: “Por meio de
duzem edificação para todo o Corpo de homens de outras línguas, e por intermé-
Cristo. dio de lábios de estrangeiros, falarei a
13 Sendo assim, aquele que fala em uma este povo, todavia, mesmo assim, eles
língua, ore para que possa interpretá-la não me ouvirão”, diz o Senhor.
corretamente. 22 Desse modo, as línguas são um sinal,
14 Pois, se oro em uma língua meu espíri- não para os crentes, mas para os incré-
to também ora, mas o meu intelecto fica dulos. A profecia, entretanto, não é um
improdutivo.7 sinal para os não crentes, mas para todos
15 Diante disso, o que fazer então? Orarei os cristãos.10
com o espírito, mas ao mesmo tempo 23 Se, portanto, toda a igreja se reunir
com a mente; cantarei com o espírito, num lugar e todos falarem em línguas,
mas igualmente com a razão.8 e entrarem pessoas não instruídas ou
16 De outra forma, se louvares a Deus descrentes, por acaso não dirão que es-
apenas com teu espírito, como poderá tais loucos?
alguém que está entre os não instruídos 24 Mas, se todos profetizarem, e alguém
declarar o “Amém” à tua ação de graças, incrédulo ou não instruído entrar, será
visto que
q não entende o qque dizes? por todos convencido de que é pecador
17 É possível que estejas dando graças e por todos será julgado.

6 A flauta, a harpa (um tipo de cítara) e a trombeta eram instrumentos musicais bem conhecidos pelos gregos da época de
Paulo. O soar das trombetas e os vários toques de guerra eram familiares desde os grandes clássicos da literatura: Ilíada e
Odisséia, escritos pelo maior poeta grego Homero (por volta do séc. IX a.C.). Os judeus tinham na Torá e na memória dos ante-
passados o vívido som produzido a partir dos chifres de carneiro (Nm 10.9; Js 6.4,9). Para que alguém reconheça uma melodia,
a compreenda e lhe dê valor, deve haver uma variedade de notas musicais, organizadas de tal maneira que produzam um som
harmonioso e significativo. Uma só nota, repetida de forma monótona, não conseguiria transmitir uma mensagem interessante;
apenas causaria desconforto e irritação.
7 O princípio básico do ensino de Paulo sobre os dons espirituais é que sejam usados para a edificação (em grego pneumatõn)
do Corpo de Cristo (v.12). Em Corinto, uma importante cidade portuária, era comum se ouvir muitos idiomas estrangeiros. En-
tretanto, Paulo explica que o dom de línguas não é fruto da mente ou da habilidade no aprendizado de outros idiomas, mas um
mistério espiritual, não compreendido nem mesmo por quem fala. Por isso, maior valor está no dom de compreender e traduzir
essa linguagem espiritual para o vernáculo dos ouvintes.
8 Orar (no grego original proseuchomai) deve incluir expressões sinceras de louvor e gratidão ao Senhor. A adoração cristã
é mais do que um exercício intelectual, estético ou emocional. A espontânea improvisação de um hino ou cântico de louvor em
línguas estranhas só teria valor para a edificação da igreja se todos pudessem compreender a mensagem (1Cr 16.36; Ne 5.13;
8.6; Sl 104.33; 136.1; 148.1; Rm 11.36; Ef. 5.18-20; Cl 3.16).
9 Era costume, desde as antigas sinagogas, os ouvintes dizerem: “amém” (que significa literalmente em hebraico: assim seja)
quando concordavam com uma determinada oração e desejavam também fazer suas aquelas palavras (Dt 27.15; Ne 8.6).
10 O capítulo 28 de Isaías revela que a língua assíria era uma espécie de sinal de condenação para os judeus incrédulos, pois
soberbamente se achavam o único povo de Deus. Por isso, Paulo destaca esse aspecto do dom de línguas: ser um sinal para
os não crentes (Pedro pregou em aramaico em At 2, mas cada estrangeiro ouviu a Palavra em seu próprio idioma). Da mesma
maneira, a profecia era imprescindível para os cristãos que, naquela época, ainda não tinham o NT. O dom de profecia sempre
transmite verdades reveladoras aos que se dispõem a recebê-las com humildade e fé (Mt 13.11-16).

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25Os segredos do seu coração se torna- três, e os outros julguem com zelo tudo
rão manifestos. E assim, prostrando-se, o que foi dito.
rosto em terra, adorará a Deus, teste- 30 No caso de ser concedida uma revela-
munhando que, em realidade, Deus está ção a alguém que está sentado, cale-se o
entre vós!11 primeiro.
31 Porque todos podereis profetizar, cada
Ordem nas reuniões da Igreja um por sua vez, para que todos sejam
26 Portanto, qual a atitude correta, en- orientados e encorajados.
tão? Ora, quando vos reunis, cada um 32 O espírito dos profetas está sujeito ao
de vós tem um salmo, ou uma mensa- controle dos próprios profetas.14
gem de ensino, uma revelação, ou ainda 33 Porquanto Deus não é Deus de desor-
uma palavra em determinada língua e dem, mas sim de paz. Como em todas as
outro tem a interpretação dessa língua. assembléias dos santos,15
Tudo seja feito para a edificação da 34 as mulheres devem permanecer em
Igreja.12 silêncio nas igrejas, quando não lhes é
27 Se alguém falar em uma língua estra- permitido falar; mantendo-se em atitude
nha, que a falem somente dois, quando de respeito, como também a Lei ordena.
muito três, um de cada vez, e que haja 35 Se desejarem saber mais sobre algum
quem possa interpretar. ensino, questionem a seus maridos em
28 Contudo, se não houver intérprete, casa; porque, para a mulher é vergo-
permaneça calado na igreja, falando nhoso conversar durante as reuniões
consigo mesmo e com Deus.13 da igreja.16
29 Tratando-se de profetas, falem dois ou 36 Porventura a Palavra de Deus teve

11 Paulo não enfatizava o uso do dom de línguas na evangelização, mas sim o contato pessoal, a amizade que se desenvolvia
ao longo das experiências da vida diária (discipulado). A expressão “não instruídos” diz respeito aos gentios simpatizantes ou
interessados, mas não iniciados na doutrina dos apóstolos, também chamados de “indoutos”. Já o termo “incrédulo” era uma
referência clara aos judeus céticos e arrogantes.
12 Paulo revela, em linhas gerais, como se desenvolvia o culto na igreja cristã primitiva (v.23; 11.17-20). Alguns desses elemen-
tos (como o salmo e a palavra de ensino) provinham do costume judaico de se adorar a Deus no AT, e que fora assimilado pelas
sinagogas (Mt 26.30; Lc 4 16.22). O termo “salmo” se refere a poemas e músicas compostos por membros da igreja ou recitações
de antigos salmistas de Deus, como Davi (o mais apreciado). A mensagem de ensino ou instrução tem a ver com a exposição da
boa doutrina (teologia bíblica); a revelação diz respeito às profecias e, finalmente, as expressões de louvor e adoração por meio
de línguas estranhas, sempre acompanhadas de interpretação para a devida compreensão de todos os ouvintes.
13 A igreja em Corinto não estava sabendo lidar coerentemente com o dom de línguas em função do seu objetivo maior: a edi-
ficação do Corpo de Cristo. Por isso, Paulo os adverte e impõe três restrições ao seu uso nas assembléias da igreja: 1) Somente
duas ou três pessoas devem falar por reunião; 2) Deve falar uma de cada vez; 3) Cada mensagem ou expressão proferida deve
ter sua respectiva interpretação para o vernáculo dos ouvintes (v.28).
14 Os crentes que têm o dom de profecia, assim como os que têm o dom de línguas, não deveriam superar três pessoas a falar
por reunião. Na época de Paulo, eram comuns os excessos e reuniões que se prolongavam por várias horas até a exaustão. Os
próprios profetas deveriam julgar o conteúdo bíblico e espiritual das mensagens pregadas pelos demais profetas, pois mesmo os
crentes com dom de profecia ou quaisquer líderes espirituais não são infalíveis e, portanto, devem ser avaliados com sabedoria
(com o dom de discernimento – 12.10) por toda a igreja (37; At 20.30; 1Ts 5.20). O dom de revelação no AT era expresso através
dos profetas
p do Senhor, nos tempos
p do NT, por
p meio dos apóstolos
p e seus discípulos
p mais próximos.
p Paulo, nos capítulos
p de 12 a
14 se refere a dons que são concedidos a qualquer membro da Igreja de Cristo. Podia ser uma predição, como no caso de Ágabo
(At 11.28; 21.10-11), uma orientação específica da parte de Deus (At 13.1,2) ou mensagens de edificação, exortação e consolo
(v.3). Paulo enfatiza que o dom de profecia, assim como o de línguas estranhas, não são produto de qualquer êxtase emocional
ou psíquico, mas são capacitações espirituais totalmente sob controle do crente.
15 Em todo o NT, a expressão “em todas as assembléias (ou congregações) dos santos” é usada somente aqui e enfatiza a
universalidade e a harmonia de toda a Igreja visível de Jesus Cristo, o Filho de Deus, na Terra. Portanto, todas as igrejas cristãs
devem obedecer às orientações aqui expressas, a fim de que o poder e a glória do culto cristão estejam na pessoa de Cristo e
não no carisma individual dos membros da igreja. Um culto sem ordem, tumultuado, e sem coerência teológica (bíblica) pode
colocar o nome de Deus em descrédito diante daqueles que ainda não foram salvos. A paz e a união dos crentes em Cristo é um
poderoso testemunho ao mundo (1Ts 5.23).
16 Deus criou o homem primeiro e lhe entregou a responsabilidade de amar e orientar sua esposa (1Tm 2.11-14; Ef 5.25). A mu-
lher foi criada a partir do corpo do homem, a fim de lhe ser a melhor companhia (auxiliadora) ao longo de toda a vida (Gn 2.20-24).
Alguns povos interpretam erroneamente esse princípio bíblico e submetem suas mulheres a uma condição humilhante e desumana.

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29 1 CORÍNTIOS 14, 15

origem entre vós? Sois vós o único povo 2 Por meio dele também sois salvos,
para quem a Palavra foi entregue?17 desde que vos apegueis com convicção à
37 Se alguém se considera profeta ou es- Palavra que vos anunciei; caso contrário,
piritual, reconheça que o que vos escrevo tendes crido em vão.1
são mandamentos do Senhor.18 3 Porquanto, o que primeiramente vos
38 No entanto, se alguém não reconhece transmiti foi o que também recebi: que
essa verdade, deixe que tal pessoa siga em Cristo morreu pelos nossos pecados,
sua ignorância.19 segundo as Escrituras,
39 Concluindo, caros irmãos, aperfeiçoai 4 foi sepultado e ressuscitou no terceiro
com zelo o dom de profetizar e não proi- dia, conforme as Escrituras,
bais o falar em línguas. 5 e apareceu a Pedro e depois aos Doze.2
40 Porém, que tudo seja realizado com 6 Depois disso, apareceu a mais de qui-
decência e ordem!20 nhentos irmãos de uma vez, a maioria
dos quais ainda vive, embora alguns já
A ressurreição de Cristo é real tenham adormecido.
15 Irmãos, lembro-vos do Evangelho
que vos preguei, o qual também
recebestes e no qual estais firmes.
7 Mais tarde apareceu a Tiago, e a todos
os apóstolos.3
8 E, depois de todos, apareceu igualmen-

Outras culturas contrariam a ordem de Deus e impõem sobre a mulher um peso de responsabilidade, autoridade e liberdade para o
qual ela não foi concebida. Paulo, no entanto, está menos preocupado em definir o papel da mulher e mais em evidenciar o respeito
cristão que deve haver entre o povo de Deus. Para Paulo, era natural que as mulheres pudessem orar e profetizar nos cultos públicos
(11.5). Contudo, tudo deveria ser feito com decência e respeito (bom senso cristão). Na época de Paulo, e especialmente em Co-
rinto, conviviam muitas culturas, cada qual com suas regras sociais. Paulo orienta a igreja a ser sensível às várias culturas e, nesses
casos, se em alguns grupos sociais é tradicional a mulher manter-se em silêncio, que seja assim. Por outro lado, para culturas mais
abertas à participação feminina nas reuniões, que não houvesse o exagero (muito comum nas igrejas orientais) de as mulheres se
entregarem a discussões intermináveis e em voz alta, atrapalhando o desenvolvimento geral do culto.
177 Algumas pessoas torceram o nariz para as argumentações de Paulo, obrigando o apóstolo a usar de ironia em suas pergun-
tas, mostrando aos coríntios que eles estavam desenvolvendo e seguindo uma “doutrina particular” nessas questões, em vez de
aceitarem e se ajustarem à eterna Palavra de Deus.
18 Paulo deixa claro que suas orientações são mandamentos expressos do Senhor, devendo ser obedecidos. Já que a dis-
cussão dos coríntios era sobre os dons e capacitações espirituais, Paulo enfatiza que quem de verdade recebeu suas virtudes
(poderes) do Senhor saberá reconhecer com humildade a autoridade que o apóstolo recebeu de Deus.
19 O desobediente e renitente passará a ser considerado pelo apóstolo e por toda a igreja como incrédulo, na expectativa de
que, verdadeiramente, venha a conhecer a Salvação.
20 Os membros das comunidades cristãs devem ter a liberdade de exercer o dom espiritual de línguas, com decência e ordem
(bom senso cristão), segundo a clara doutrina de Cristo, ensinada pelo apóstolo Paulo (v.26-35). A prática de qualquer dom, fora
dos princípios da Palavra de Deus, se constitui em personalismo, arrogância, egoísmo e, portanto, em pecado.
Capítulo 15
1 Aceitar a Cristo é apenas o primeiro passo de uma vida inteira caminhando em comunhão com o Espírito Santo. Se alguém
não persevera na fé cristã, demonstra claramente que ainda não abraçou a fé salvífica. Paulo apresenta um resumo da defesa da
fé cristã que havia se tornado um postulado da igreja primitiva: 1) As Escrituras comprovam que Jesus é o Messias prometido
(Lc 24.25-27; Sl 16.8-11; Is 53.5,6,11) em todas as predições do AT. 2) O túmulo vazio e centenas de testemunhos oculares da
ressurreição corpórea de Jesus. Paulo cita apenas seis aparecimentos aqui (At 1.21,22).
2 Paulo é submisso à tradição dos apóstolos, especialmente aos que viveram mais próximos de Cristo. Paulo deixa claro que
não foi o criador do pensamento e da tradição cristã. Ele afirma sua conversão a Jesus, seu aprendizado e respeito à doutrina dos
primeiros apóstolos (os verbos que emprega nos manuscritos gregos são termos técnicos que comunicam o sentido de “receber”
e “transmitir” a tradição cristã da igreja primitiva). Apesar de toda a formidável cultura, capacidade intelectual e sabedoria teológica,
Paulo fazia questão de salientar a pregação central dos Evangelhos e dos apóstolos: que Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio a terra,
andou entre nós, morreu – sem pecado – exclusivamente pelos nossos pecados (Hb 7.27), foi sepultado (morreu como ser humano),
e foi ressuscitado (somente Deus tem o poder de ordenar a ressurreição). Paulo tinha grande respeito pela espiritualidade e experi-
ência de vida de Pedro, e costumava chamá-lo por seu nome aramaico: Cefas. A morte era compreendida por judeus e gregos como
um estado de adormecimento das almas, que eram transportadas para um lugar celestial chamado Hades (tradução grega Haidẽs,
derivada da expressão hebraica Shẽ’ôl), l com um abismo dividindo o plano das almas salvas das perdidas, todas aguardando o Dia
do Senhor e o final dos tempos (Lc 16.19-31). Os judeus contavam qualquer parte do dia como um dia inteiro. Por isso, os três dias
são contados a partir da tarde de sexta-feira, todo o sábado e as primeiras horas da alvorada do domingo (Mt 12.40).
3 Paulo cita algumas das muitas aparições de Cristo após a ressurreição: a Pedro (Lc 24.34); ao primeiro grupo de apóstolos
e discípulos, conhecido como “Os Doze” (Lc 24.36-43; Jo 20.19-23), a mais de quinhentos discípulos na Galiléia (Mt 28.10-20).

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1 CORÍNTIOS 15 30

te a mim, como a um que nasceu fora do então, Ele também não ressuscitou a
tempo. Cristo.
9 Pois sou o menor dos apóstolos, nem 16 Porquanto, se os mortos não ressus-
mereço ser chamado apóstolo, porquan- citam, nem o próprio Cristo foi ressus-
to persegui a Igreja de Deus.4 citado!
10 Mas, pela graça de Deus, sou o que 17 E, se Cristo não ressuscitou, a vossa fé
sou. E a sua graça para comigo não foi para nada serve, e continuais a viver em
inútil; antes, trabalhei mais do que todos vossos pecados.
eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus 18 Sendo assim, também os que dormi-
que vive em mim. ram em Cristo estão perdidos.
11 Portanto, quer tenha sido eu, quer te- 19 Ora, se a nossa esperança em Cristo
nham realizado eles, é isso que pregamos se restringe apenas a esta vida, somos
e é nisso que crestes. os mais miseráveis de todos os seres
humanos.5
Nós também ressuscitaremos
12 Ora, se tem sido proclamado que Cris- A ressurreição dos crentes
to ressuscitou dentre os mortos, como é 20 No entanto, em realidade, Cristo res-
possível que alguns dentre vós afirmais suscitou dentre os mortos, sendo Ele o
que não existe ressurreição dos mortos? primeiro dos frutos dentre aqueles que
13 Então, se não há ressurreição dos mor- dormiram.
tos, nem mesmo Cristo ressuscitou; 21 Porque, assim como a morte veio por
14 e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a um homem, da mesma forma, por um
nossa pregação, como igualmente é im- homem veio a ressurreição dos mortos.
produtiva a vossa fé. 22 Porquanto, assim como em Adão
15 Pior que isso, seremos considerados todos morrem, em Cristo todos serão
falsas testemunhas de Deus, porque con- vivificados.6
tra Ele testemunhamos que ressuscitou 23 Contudo, cada um por sua vez: Cristo,
a Cristo dentre os mortos. Todavia, se é o primeiro; logo depois, os que são de
verdade que os mortos não ressuscitam, sua propriedade na sua vinda.7

Paulo se refere, ainda, a Tiago, meio-irmão de Jesus (Mt 13.55), o qual não acreditou em Jesus Cristo até o evento da ressurreição
(Jo 7.5), mas depois se arrependeu e, convertido, dedicou toda a sua vida a serviço do Senhor, especialmente cooperando na
liderança espiritual da igreja de Jerusalém (At 1.14; 15.13). Jesus também se apresentou a todos os apóstolos (At 1.6-11).
4 O aparecimento de Jesus Cristo a Paulo ocorreu cerca de três anos depois da Sua ascensão aos céus. Paulo reconhece que
não fez parte da primeira formação original dos apóstolos. Na verdade, Paulo estava – por causa do zelo à tradição judaico-religio-
sa e da cegueira espiritual – perseguindo a Igreja (ao próprio Cristo), quando foi convertido e convocado pelo Senhor para serví-lo
(At 9.1-8). Entretanto, uma vez alcançado pela graça de Jesus Cristo, dedicou-se de todo coração ao Senhor e à evangelização do
mundo; sendo reconhecido pelo próprio apóstolo Pedro como servo amado e apóstolo de Deus (2Pe 3.14-18). A graça do Senhor
transforma qualquer indigno em santo (2Co 11.5).
5 Alguns em Corinto estavam afirmando não haver ressurreição do corpo. Para os gregos, toda a matéria era considerada
como inerentemente má, por isso deveria ser aniquilada pela morte, o fim de todo mortal. De outro lado, os judeus criam que
cada átomo do corpo sepultado ressuscitaria literalmente. Paulo arma um sistema lógico de raciocínio e corrige essas duas
doutrinas errôneas.
6 Negar a ressurreição de Cristo seria reduzir o cristianismo a uma simples lenda religiosa. E não haveria remissão dos pecados
(Rm 4.25). E ressurreição de Cristo é o âmago da fé dos cristãos (1Pe 1.3). Paulo apela para a tradição histórica dos judeus e
afirma que, assim como o primeiro molho da colheita (as primícias) era dedicado ao Senhor, em sinal de que toda a colheita
pertencia a Ele e lhe seria dedicada por meio de todas as vidas que dependiam do fruto da terra (Lv 23.10-20), assim também,
Jesus Cristo, que foi ressuscitado, é a garantia plena de ressurreição e vida eterna de todo o salvo (redimido) por Deus (1Ts
4.13-18). A morte veio à Terra por meio de um só homem, Adão (Gn 3.17-19). Da mesma forma, a ressurreição e a vida eterna
nos foram concedidas por um só homem: Cristo, “o último Adão” (Rm 5.12-21; Jo 5.25; 1Ts 4.16,17; Ap 20.6). Não há espaço na
teologia de Paulo para a doutrina da salvação universal. Nem todos serão salvos, somente aqueles que aceitarem o sacrifício de
Cristo e tiverem seus corações sinceramente convertidos ao Senhor, e, portanto, podem compartilhar da Sua natureza e serão
vivificados (2Pe 1.4).
7 O termo grego original parousia (vinda) era usado para comunicar a chegada de uma visita real. No NT, tem o sentido técnico
e denota a volta gloriosa de Cristo.

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31 1 CORÍNTIOS 15

24 Então virá o fim, quando Ele entregar afirmo isso, irmãos, porquanto sois meu
o Reino a Deus, o Pai, depois de ter des- orgulho em Cristo Jesus, nosso Senhor.
truído todo domínio, potestade e poder.8 32 Portanto, se foi simplesmente por
25 Porque é necessário que Ele reine até razões humanas qque lutei com feras em
que absolutamente todos os seus inimigos Éfeso, que lucro obtive nisso? Ora, se os
sejam prostrados debaixo de seus pés. mortos não ressuscitam: “comamos e be-
26 E o último inimigo que será destruído bamos, pois amanhã morreremos”.12
é a Morte.9 33 Não vos enganeis! “As más compa-
27 Pois Ele “tudo sujeitou debaixo de seus nhias corrompem os bons costumes”.13
pés”. Porquanto, quando se afirma que 34 Como justificados que sois, recobrai o
“tudo” lhe foi submetido, é evidente que bom senso e não pequeis mais; porque
isso não inclui o próprio Deus, que condu- alguns ainda não têm conhecimento de
ziu todas as coisas à submissão de Cristo. Deus; declaro isso para vossa vergonha.14
28 Todavia, quando tudo lhe estiver su-
jeito, então o próprio Filho se submeterá Os novos corpos dos ressuscitados
àquele que todas as coisas lhe colocou 35 Entretanto, é possível que alguém ques-
aos pés, a fim de que Deus seja absoluta- tione: “Como ressuscitam os mortos? E
mente tudo em todos.10 com que espécie de corpo ressurgirão?”
29 Se não há ressurreição, que farão aque- 36 Insensato! O que semeia não nasce a
les que se batizam pelos mortos? Se, de não ser que primeiro morra.
maneira alguma, os mortos não ressusci- 37 Quando semeais, não semeais o corpo
tam, por qual razão então se batizam em que virá a ser, mas apenas uma simples
benefício deles?11 semente, assim como a semente de trigo
30 De igual modo, nós mesmos, por que ou outra qualquer.
estamos nos expondo a perigos o tempo 38 Mas Deus lhe dá um corpo, como de-
todo? terminou, e a cada espécie de semente dá
31 Todos os dias enfrento a morte! E seu corpo apropriado.

8 A expressão original “o fim” tem a ver com a segunda e gloriosa volta de Cristo e todos os grandiosos acontecimentos
profetizados nas Escrituras que a acompanharão. O início do Reino de Cristo ocorre no momento da sua glorificação (At 2.32; Ef
1.19-23). Por meio da Igreja, o Senhor consolida sua vitória sobre todas as forças e inimigos do universo (Cl 2.15). Ao final dos
tempos, havendo cumprido cabalmente sua missão, entregará o Reino ao Pai.
9 O verso 25 é uma alusão ao Sl 110.1, conforme Mt 22.44. A Morte (em grego thanatos), personificada como arquiinimiga da
vida, será aniquilada no fim dos eventos que acompanharão a volta triunfante de Cristo (Ap 19.11-21; 20.5-14), no julgamento do
grande trono branco (quando a Morte e o Hades serão lançados no eterno lago de fogo).
10 As três pessoas da trindade são iguais em divindade e em dignidade. A subordinação que se estabelece é apenas quanto
à função de cada pessoa. Deus-Pai é o Senhor e cabeça supremo da trindade. Deus-Filho tem a função de cumprir a vontade
soberana do Pai, na criação como na plena redenção da raça humana. Deus-Espírito é enviado pelo Filho como selo da salvação
e poder espiritual para habitar e capacitar o crente a fazer a vontade do Pai, com o objetivo de que Deus seja tudo em todos.
11 Paulo faz referência a mais uma prática equivocada e antibíblica dos coríntios com a principal finalidade de evidenciar
a contradição que há nas pessoas que dizem não crer na ressurreição ou na vida após a morte, mas que ao mesmo tempo
participam de rituais envolvendo o além. Há mais de 50 interpretações sobre esse texto publicadas em comentários teológicos
em todo mundo, porém o mesmo continua envolto em certa obscuridade.
12 Paulo, como cidadão romano, jamais foi obrigado a lutar contra feras (At 19), como ocorreu com milhares de cristãos gentios
ou judeus por ordem do Império nas arenas de Roma. Paulo se refere metaforicamente aos próprios líderes judeus e romanos que
o perseguiram acirradamente “como feras” em Éfeso (2Co 1.8, conforme Sl 22.12-21). Paulo apela novamente para o raciocínio
lógico dos coríntios, ao afirmar que seria um total contrasenso sofrer todo tipo de perseguições e humilhações para proclamar a
ressurreição de Cristo se esta não fosse um fato verídico (2Co 11.23-29). Paulo usa um antigo e conhecido ditado popular para
enfatizar a idéia de que se Cristo não houvesse ressuscitado, a vida terminaria mesmo no túmulo, e, então, o melhor seria gozar
os dias de forma hedonista, ou seja, buscando o prazer (Is 22.13).
13 Paulo está convencido de que tem argumentos poderosos para rebater a filosofia grega. Por isso, cita a conhecida e apre-
ciada comédia grega Thais, escrita pelo antigo poeta grego Menandro, a fim de advertir os próprios cristãos gregos para não se
deixarem levar pelos falsos argumentos e vãs filosofias (Pv 13.20).
14 A situação na igreja de Corinto era de tal mundanismo que muitos freqüentadores não eram cristãos de fato, apenas apre-
ciavam a comunhão dos crentes. Paulo afirma que isso é vergonhoso para todos.

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1 CORÍNTIOS 15 32

39 Nem toda carne é da mesma espécie: homem terreno; os que são dos céus, ao
os seres humanos têm uma espécie de homem celestial.
carne, enquanto os animais possuem ou- 49 Assim como obtivemos a imagem do
tra, as aves outra, e os peixes uma outra homem terreno, receberemos de igual
diferente. modo a imagem do homem celestial.16
40 Também existem corpos celestes e cor-
pos terrestres; todavia, um é o esplendor Todos seremos transformados
dos corpos celestiais, e outro diferente é 50 Contudo, irmãos, eu vos afirmo que
o brilho dos corpos terrestres. carne e sangue não podem herdar o Rei-
41 Um é o esplendor do sol, outro da lua, no de Deus, nem o que é perecível pode
e outro ainda o fulgor das estrelas; e as herdar o imperecível.
estrelas diferem em luminosidade umas 51 Eis que eu vos declaro um mistério:
das outras. nem todos adormeceremos, mas certa-
42 Assim será com a ressurreição dos mente, todos seremos transformados,17
mortos. O corpo que é semeado é perecí- 52 num momento, num abrir e fechar
vel e ressuscita imperecível; de olhos, ao som da última trombeta.
43 é semeado em desonra, mas ressuscita Porquanto a trombeta soará, os mortos
em glória; é semeado em fraqueza, po- ressuscitarão incorruptíveis e nós sere-
rém ressuscita em poder; mos transformados.
44 é semeado um corpo natural, contu- 53 Pois é impreterível que este corpo que
do ressuscita um corpo espiritual. Ora, perece se revista de incorruptibilidade,
se há corpo natural, há também corpo e o que é mortal, se revista de imorta-
espiritual.15 lidade.
45 Da mesma forma, está escrito: “Adão, o 54 No momento em que este corpo pe-
primeiro homem, foi feito alma vivente”; recível se revestir de incorruptibilidade,
o último Adão, no entanto, é espírito e o que é mortal, for revestido de imor-
vivificante! talidade, então se cumprirá a palavra que
46 Assim, não foi o espiritual que veio está escrita: “Devorada, pois, foi a morte
primeiramente, mas sim o natural; de- pela vitória!”
pois dele então, chegou o espiritual. 55 “Onde está, ó Morte, a tua vitória?
47 O primeiro homem foi formado do pó Onde está, ó Morte, o teu aguilhão?”
da terra, o segundo homem é dos céus. 56 Porquanto, o aguilhão da Morte é o
48 Os que são da terra são semelhantes ao pecado, e o poder do pecado é a Lei.18

15 Paulo usa uma série de analogias para demonstrar que, no caso da ressurreição, Deus tomará um corpo “natural” (em grego
psuchikon), perecível (corruptível), fraco e pecaminoso, e o transformará – na ressurreição – num corpo “espiritual” (em grego
pneumatikon), glorioso, imperecível (incorruptível), poderoso e sem pecado. Não se trata de um corpo imaterial ou totalmente
diferente do corpo natural; contudo, preparado para viver a eternidade com Deus numa dimensão celestial (2Pe 3.10-13).
16 O primeiro homem, criado a partir do pó da terra (Gn 2.7), foi feito “alma vivente” (no original grego psuchen-zősan), ou seja,
Adão recebeu um corpo psicossomático que transmitiu geneticamente para toda a raça humana até nossos dias. O “ultimo Adão”,
Cristo, o espírito vivificante (Jo 5.26) que proporcionará aos crentes remidos, em seu glorioso retorno, um corpo físico especial,
poderoso, sem pecado e imperecível (Fp 3.21). Um corpo semelhante ao de Cristo: ressurreto e glorificado (Lc 24.36-43).
177 O corpo e o sangue não são elementos pecaminosos em si mesmos, mas constituem a natureza psicossomática dos seres
humanos, que necessita ser transformada para que possa viver eternamente no ambiente celestial com Cristo (Hb 2.14; 5.9).
Paulo revela que o grande evento da ressurreição mundial se dará numa fração de tempo (no original grego atomos – a menor
unidade referencial de tempo e matéria). Todos os crentes, quer vivos por ocasião do glorioso retorno de Cristo, quer já mortos,
receberão instantaneamente novos corpos gloriosos. Esse será o grande som da trombeta profetizado (Mt 24.31; 1Ts 4.16; Ap
11.15). Paulo vivia cada dia de sua vida numa espécie de antegozo espiritual pela certeza absoluta que tinha do glorioso retorno
de Cristo, da ressurreição e da vida eterna de todos os crentes.
18 Foi o pecado (desobediência) de Adão que nos sujeitou ao poder da morte (Gn 3, Rm 5.12). O aguilhão (no original
grego kentron) é como o ferrão do escorpião ou do marimbondo. O aguilhão não é a morte, mas sim o pecado inoculando seu
veneno letal na alma e no corpo de quem não se arrepende diante de Cristo, e, portanto, não é perdoado (Ap 9.10). A Lei de
Deus é clara em relação ao pecador que não se arrepende (A conversão - o único antídoto eficaz) e à pena de morte eterna
(Is 25.8; Os 13.14).

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33 1 CORÍNTIOS 15, 16

57 Contudo, graças a Deus, que nos dá a homens que aprovardes para levarem a
vitória por intermédio de nosso Senhor vossa contribuição para Jerusalém.
Jesus Cristo!”19 4 Se for conveniente que eu também vá,
58 Portanto, meus amados irmãos, per- eles me acompanharão.3
manecei firmes e que absolutamente
nada vos abale. Dedicai-vos, dia após Projetos e pedidos pessoais
dia, à obra do Senhor, plenamente 5 Depois de passar pela Macedônia, por
conscientes de que no Senhor, todo o onde tenho de atravessar, irei até vós.
vosso trabalho jamais será improdu- 6 Provavelmente, eu permaneça convosco
tivo.20 durante algum tempo, ou até mesmo
passe o inverno entre vós, a fim de que
Oferta para o povo de Deus possais cooperar comigo, para onde quer
16 Quanto à oferta para o povo de
Deus, fazei vós também da mes-
ma forma como orientei às igrejas da
que eu tenha de ir.4
7 Porquanto, desta vez, não vos quero
ver apenas de passagem; pelo contrário,
Galácia.1 anelo ficar algum tempo convosco, se o
2 No primeiro dia da semana, cada um de Senhor o ppermitir.
vós separe o que puder, de acordo com 8 Contudo, permanecerei em Éfeso até o
a sua renda, e a guarde para que não se Pentecoste;
façam coletas quando eu chegar.2 9 porque se abriu para mim uma porta
3 Então, quando estiver entre vós, en- ampla e promissora; mas os inimigos são
viarei com carta de recomendação os muitos.5

19 Cristo é a única possibilidade de vitória e vida eterna sobre o poder do pecado, a morte eterna a partir do sepulcro, e a
condenação final e eterna pelo pecado, conforme a Lei (Rm 4.25).
20 O maior e melhor investimento do crente está em servir (ministrar) ao Senhor e à Igreja. Todos os esforços na adoração ao
Senhor e na proclamação da Palavra ao mundo serão regiamente recompensados por Jesus Cristo em seu glorioso e iminente
retorno (Mt 25.21 de acordo com Lc 19.17).
Capítulo 16
1 Paulo responde a mais uma das questões levantadas pela igreja em Corinto (7.1; 8.1; 12.1) e organiza uma grande ação
de levantamento de recursos, envolvendo as igrejas da Galácia e da Macedônia (2Co 8.1; 9.1-4; At 24.17), com o objetivo
de socorrer a igreja em Jerusalém que estava padecendo por causa da forte crise que se abateu sobre Israel por volta do
ano 45 d.C., e devido às constantes perseguições aos crentes, especialmente em Jerusalém (Rm 15.26; At 11.28; 8.1; Hb
10.32; 1Ts 2.14).
2 Paulo faz a primeira referência ao fato de que as reuniões da igreja cristã já estavam ocorrendo costumeiramente aos do-
mingos, em homenagem e celebração ao “Dia do Senhor”, o dia da semana em que Jesus Cristo ressuscitou (Ap 20.7 e 1.10;
Lc 24.1-6). As ofertas eram recolhidas durante os cultos, como uma forma de adoração ao Senhor. Todos deviam contribuir, de
forma espontânea e regular, cada qual à medida do seu ganho semanal. Justino Mártir, um dos chamados “pais da Igreja”, relata
que em sua época (150 d.C.) era tradicional os crentes trazerem seus dízimos e ofertas, todos os domingos, a fim de cooperarem
com a obra do Senhor.
3 Paulo e os demais apóstolos sempre se preocuparam com a transparência na prestação de contas e responsabilidade
financeira das igrejas como demonstração de bom testemunho. Por isso, determinou que o dinheiro arrecadado não fosse
tocado. A igreja deveria separar alguns homens de confiança que teriam como desafio missionário a tarefa de servir ao Senhor
como auditores e guardiães dos recursos doados pelos coríntios (2Co 8.16-21). Os nomes de alguns dessa comitiva estão
registrados em At 20.3-6.
4 Paulo, apesar de fazer todo o possível para não ser um peso financeiro para ninguém (9.1-12), contava com a ajuda dos
irmãos para prover suas viagens e obras missionárias. No inverno mediterrâneo (novembro a março), era praticamente impossível
navegar (At 27.9-12). Em At 20.2-16 temos o registro de como esses planos se realizaram.
5 Paulo escreve sua primeira carta aos coríntios em Éfeso, onde estava. Desejava subir até à Macedônia e visitar os filipenses e
outras igrejas ao norte da Grécia, para então passar um bom tempo ensinando e fortalecendo a fé da igreja em Corinto. Pensou
primeiro em ir direto para Corinto, mas mudou de idéia (2Co 1.12 – 2.4). Pentecoste significa o qüinquagésimo dia do Pentecostes,
ao passo que “pentecostes” tem a ver com os 50 dias de celebração da Festa das Primícias (Lv 23.10-16), as sete semanas após
a Páscoa. A “porta aberta” era uma expressão conhecida entre os cristãos, e tinha a ver com “alguma oportunidade concedida
por Deus para serví-lo diretamente ou ao seu Reino”. Os “inimigos ou adversários” se referem aos artífices pagãos que produziam
miniaturas de prata do templo da deusa Ártemis e o grande número de pessoas pobres e incultas que depositavam fé nesses
amuletos (At 19.23-34).

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1 CORÍNTIOS 16 34

10 Caso Timóteo chegue, tomai provi- 17 Alegro-me com a vinda de Estéfanas,


dências para que ele não tenha nada que Fortunato e Acaico; pois eles supriram o
recear entre vós, pois ele trabalha na obra que me faltava da vossa parte.
do Senhor, assim como eu.6 18 Porque revigoraram o meu espírito as-
11 Portanto, ninguém o despreze. Mas aju- sim como o vosso. Homens como eles são
dai-o a prosseguir viagem em paz, a fim de dignos de todo o vosso reconhecimento.7
que ele possa retornar até mim, pois o es-
tou esperando juntamente com os irmãos. Saudações
ç e a bênçãoç final
12 Quanto ao irmão Apolo, insisti que 19 As igrejas
g j da província
p da Ásia vos
fosse com os irmãos para vos visitar. enviam saudações. Áquila e Priscila vos
Todavia, ele não quis ir agora de modo cumprimentam fraternalmente no Se-
algum. Irá, porém, assim que tiver uma nhor, assim como a igreja que se reúne
boa oportunidade. na casa deles.8
13 Vigiai, permanecei firmes na fé, por- 20 Todos os irmãos daqui vos saúdam!
tai-vos corajosamente, sede fortes! Cumprimentai-vos uns aos outros com
14 Fazei tudo com grande amor fraternal. o costumeiro beijo santo!9
15 Irmãos, sabeis que os da família de Esté- 21 Eu, Paulo, escrevi esta saudação de
fanas representam os primeiros frutos da próprio punho.10
Acaia; eles têm se dedicado ao ministério 22 Se alguém não ama o Senhor, seja
dos santos; portanto, suplico-vos agora amaldiçoado. Agora, pois, Marana tha!11
16 que também vos sujeiteis aos que são 23 A graça do Senhor Jesus seja convosco.
como eles, assim como a todo que coo- 24 Recebam o amor que tenho por todos
pera e ministra na obra. vós em Cristo Jesus. Amém!12

6 Paulo envia Timóteo e Erasto, dois irmãos e missionários em quem muito confiava, à Macedônia (At 19.22) e depois a Corinto.
Todavia, Timóteo era adolescente e um tanto tímido, apesar de muito firme em Cristo, e Paulo zelava para que a igreja o acolhesse
com respeito e carinho fraterno (1Co 4.17; 1Tm 4.12; 2Tm 1.7). Erasto era crente de Corinto e administrador da cidade (Rm 16.23;
At 19.22). A segunda carta de Paulo aos coríntios revela que a situação na igreja havia piorado. Tito conseguiu resolver parte dos
principais problemas, e preparar o caminho para a chegada de Paulo (2Co 1.15-23; 2.1-12; 8.16).
7 Estéfanas, Fortunato e Acaia levaram a carta dos coríntios ao apóstolo (7.1), buscaram seus conselhos e supriram parte do
carinho e da comunhão que Paulo ansiava ter com toda a igreja. A atitude espiritual e sacrificial desses irmãos aliviou o coração
aflito de Paulo em relação às muitas dificuldades e pecados entre os crentes de Corinto.
8 Paulo se refere às comunidades cristãs situadas nas províncias romanas na Ásia (atualmente a região onde se localiza a
Turquia ocidental) em que estavam Éfeso e várias cidades menores ao redor (At 19.10). Durante a vida ministerial de Paulo, todas
as pessoas ao longo da província e cercanias ouviram o Evangelho. As igrejas de Colossos, Laodicéia e Hierápolis também
estavam incluídas nessa saudação do apóstolo (Cl 4.13-16; Ap 1.11; 2 e 3). Áquila e Priscila (variante do nome grego Prisca)
haviam ajudado Paulo a iniciar a igreja em Corinto (At 18.1-4) e o acompanharam até Éfeso onde estavam começando outra igreja
em casa, como era comum nesse período da igreja primitiva (At 18.18-19; Rm 16.3-5; Fm 2).
9 O beijo público na face, em sinal de submissão respeitosa e amor fraternal, era um antigo costume oriental cultivado nas
sinagogas e preservado pela igreja primitiva.
10 Paulo, como costume da época e entre os apóstolos, servia-se da assistência de um amanuense (pessoa que se dedicava
a arte de escrever) para quem narrava muitas de suas cartas. A saudação, entretanto, o apóstolo faz questão de fazer de próprio
punho a fim de mostrar seu carinho especial pelos irmãos de Corinto (Cl 4.18; Fm 19; 2Ts 3.17; Rm 16.22).
11 Paulo é claro em alertar para o fato de que aquela pessoa que se mantém deliberadamente contra o Evangelho deve ser
deixado por sua própria conta e risco, a fim de que experimente o que significa viver afastado da comunhão de Deus, prove do
desagrado do Pai e venha a se arrepender (Lc 15.11-32; Jo 3.36; Gl 1.8-9). Ao final da carta, Paulo suspira uma expressão em
aramaico (Marana tha – Maranata), que significa “Vem Senhor”, e tornou-se uma expressão de clamor muito conhecida entre os
cristãos da igreja primitiva, ao suplicar a Deus para que se abreviasse a gloriosa volta de Jesus Cristo.
12 Paulo encerra suas palavras escritas com sua tradicional bênção apostólica (Gl 6.18; Ef 6.24; Fp 4.23), uma simplificação da
bênção trinitária dispensada na segunda carta aos coríntios (2Co 13.14). Paulo foi firme e amoroso, como todo bom pai deve ser,
sempre disposto a corrigir, perdoar e regozijar-se com seus filhos na graça de Jesus Cristo, nosso Senhor.

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