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INTRODUÇÃO

APOCALIPSE
Autoria
Como já vimos no Evangelho segundo João e em suas cartas às igrejas da Ásia, o profeta e
autor do Apocalipse (22.9), o mais enigmático e curioso livro da Bíblia é do apóstolo João, filho de
Zebedeu e Salomé, uma família abastada da Galiléia (Mc 15.40,41), conhecido como “o discípulo a
quem Jesus amava” (Jo 21.20-24). Talvez isso tenha deixado uma ponta de inveja em muitos falsos
seguidores do cristianismo, a ponto de séculos mais tarde brotar maldosamente, da parte de alguns
críticos, certas calúnias questionando a sexualidade de João. Entretanto, em sua época e por todas
as igrejas da Ásia Menor, ele notabilizou-se por sua bravura e masculinidade, vindo a ser conhecido
como “filho do trovão” (Mc 3.17). João teve um importante papel na obra da igreja primitiva em
Jerusalém (At 3.1; 8.14; Gl 2.9). Em quatro ocasiões, o autor do Apocalipse tem o cuidado de se
apresentar como João (1.1,4,9; 22.8). Judeu e versado nas Escrituras, alimentava viva e contagiante
a esperança de que a verdade e a fé cristã não demorariam a ver a glória do triunfo eterno sobre as
momentâneas e poderosas forças de Satanás em plena atuação no mundo.
Por volta do ano 135 d.C., Justino Mártir, e logo depois Irineu (180 d.C.), citam o livro do Apocalipse
em seus estudos, em alguns trechos, palavra por palavra e, indiscutivelmente, atribuem a autoria do
livro sagrado a João, o apóstolo de Jesus Cristo.
No século II, entretanto, um bispo africano denominado Dionísio fez um longo estudo comparativo
entre a linguagem, o estilo e a teologia aplicada ao livro do Apocalipse, e as demais obras do
apóstolo João, concluindo que outro João, provavelmente, João conhecido como “o Presbítero”,
seria o autor desse livro profético. Embora alguns estudiosos ainda hoje sigam o pensamento de
Dionísio, a grande maioria dos eruditos e biblistas da atualidade confirmam a autoria do apóstolo
João para o livro das “últimas coisas”: o Apocalipse.

Propósitos
A palavra-chave para o início de uma correta compreensão desta obra encontra-se na abertura da
carta: revelação (1.1). Essa é a melhor tradução da expressão grega Apokavluyi" (Apokálypsis) que
abre o livro do “Apocalipse” e freqüentemente aparece nos textos proféticos do AT da Septuaginta
(a primeira e mais importante tradução do AT em grego). Tanto que a edição da Bíblia King James
de 1611, e todas as demais em língua inglesa, usam a expressão “revelation” (revelação) como título
desse livro de João. A palavra “apocalipse” tornou-se um termo técnico para a igreja primitiva e
passou a designar a manifestação gloriosa de Jesus Cristo, o Messias, no final dos tempos (Rm 2.5;
8.19; 1Co 1.7; 2Ts 1.7; 1Pe 1.7,13). Portanto, o “apocalipse” é a “revelação” da pessoa do Senhor
Jesus Cristo como o Redentor do mundo e conquistador único e absoluto do Mal em todas as suas
formas e expressões.
Como na época de João, as autoridades políticas e militares dominantes estavam começando a im-
por o chamado “culto de adoração ao imperador”, o apóstolo sente a necessidade vital de encorajar
os cristãos a se manterem fiéis e leais a Jesus Cristo, nosso único e supremo Senhor.
Por vários motivos, incluindo o cultural (o estilo literário peculiar), o místico (a obra é fruto de uma
experiência de êxtase espiritual), e o da segurança (era fundamental que a mensagem chegasse às
igrejas sem a censura ou o bloqueio do exército romano). Todo o processo pelo qual o Senhor dará
prosseguimento à sua obra redentiva e salvadora de todas as pessoas que nele crerem, está aqui
delineado sob símbolos, metáforas e ilustrações diversas.
A estrutura dessa obra maravilhosa e fundamental de João está baseada em quatro grandes
visões, cada uma delas estrategicamente começando com a expressão “no espírito”, e comunicando
ao leitor algum aspecto da pessoa do Messias, Jesus Cristo, e da sua supremacia como Juiz do
Universo. Cada visão proporciona uma cena diferente e nos conduz para um degrau superior no
processo de revelação total e final da História da humanidade.
O livro tem seu início marcado pela visão de cartas endereçadas pelo Senhor a sete igrejas exis-
tentes no período apostólico, e que servem como exemplos de igrejas de todas as épocas. Nessas

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cartas, Deus expressa seus elogios e críticas, concluindo sempre com uma advertência ou conselho
e uma promessa.
No quarto capítulo, João se sente transferido para as dimensões celestiais, e lhe é concedido o
dom de contemplar os grandes eventos mundiais que acontecerão depois de certos sinais (4.1).
Por meio de uma série de julgamentos seguidos, porém imprecisos quanto a épocas e duração (os
selos, as trombetas e as taças), o planeta Terra e todos os seres vivos serão castigados por causa do
pecado humano com sua insaciável perversão e maldade. Então, o grande Dia da ira de Deus, retido
por séculos e séculos, será finalmente inaugurado.
Embora não possamos calcular quando nem quanto tempo levará todo esse processo de juízo,
o próprio Senhor - por sua misericórdia - se encarregará de abreviar a dor e o sofrimento da raça
humana, especialmente dos seus filhos. Nos capítulos dezessete e vinte, somos informados
dos detalhes finais dessa dispensação ou tempo histórico. O glorioso retorno de Jesus Cristo
acompanhado por seus exércitos celestiais (19.11-20), o estabelecimento efetivo e definitivo do
Reino de Deus, logo após o processo de julgamento final do Trono Branco (20.1-15) e o início de um
novo mundo (21.1-8; 21.9 – 22.5).
Contudo, no encerramento deste livro há uma palavra poderosa e alentadora de chamamento à
devoção. O alerta é geral: considerando a iminente, triunfal e definitiva volta do Senhor, a santidade
e o testemunho são imperiosos na vida de todos aqueles que receberam o maravilhoso dom de crer
em Deus Yahweh. O livro termina com uma oração que deveria expressar o santo desejo de todos
os crentes: Maranata! (uma transliteração do aramaico) que significa “Amém! Vem Senhor Jesus!”
(22.20; 1Co 16.22).

Data da primeira publicação


João escreveu o Apocalipse por volta do ano 93 d.C., quando os cristãos estavam começando a
viver um dos mais intensos períodos de perseguição religiosa da história; depois do terrível reinado
de Nero (54-68 d.C.), e ao final da era de Domiciano (81-96 d.C.). Tito Flávio Domiciano foi filho de
Vespasiano. Nascido no ano 51 d.C., na dinastia dos Flávios, começou seu império com sabedoria
e elevado carisma popular, mostrou-se hábil administrador. Conquistou diversos povos e terras,
inclusive toda a Bretanha. Entretanto, seu autoritarismo sempre crescente fez surgir um regime
de extremo terror e repressão que atingiu o povo, a aristocracia, os filósofos, e, principalmente, os
pensadores e pregadores judeus e cristãos. Sucumbiu assassinado numa conjuração promovida
por seus senadores com a cumplicidade de sua esposa. O apóstolo João, sem citar nomes, faz uma
profunda analogia entre a maligna estratégia política de Domiciano e os líderes mundiais despóticos
e maquiavélicos de todas as épocas, especialmente com o último anticristo.

Esboço de Apocalipse
1. Prefácio e saudações apostólicas aos crentes em Cristo (1.1-8)
2. Primeira Visão: Cristo e a Igreja (1.9 – 3.22)
A. Representação da presença do Sumo Sacerdote (1.9-20)
B. Mensagens às sete igrejas (2.1 – 3.22)
3. Segunda Visão: Cristo e o mundo (4.1 – 16.21)
A. Adoração universal ao Cordeiro e Rei (4.1 – 5.14)
B. Os sete selos são rompidos (6.1-17; 8.1-5)
C. Os 144.000 selados de Israel (7.1-8)
D. A multidão incontável dos demais salvos (7.9-17)
E. O mistério das sete trombetas (8.6 – 9.21; 11.19)
F. O mistério da medição do Templo (11.1,2)
G. O mistério das duas testemunhas (11.3-14)
4. Os assustadores sinais mundiais (12.1 – 14.20)
A. O sinal da mulher com a coroa de doze estrelas (12.1-16)
B. O sinal do enorme dragão vermelho (12.3-17)
C. Israel gerou um filho que regerá o mundo (12.5,6)
D. A batalha de Miguel, o arcanjo (12.7)
E. A Besta que se levanta do mar (13.1-10)
F. A Besta que se levanta da terra (13.11-18)
5. Cristo, o Cordeiro de Deus, no monte Sião (14.1-5)

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6. Anúncios especiais dos anjos do Senhor (14.6-20)
7. Os sete anjos derramam as sete taças do juízo (15.1 – 16.21)
A. Os santos entoam hinos de louvor a Deus (15.1-4)
B. Os anjos executam os sete flagelos do juízo (15.5-16.21)
8. Terceira Visão: Cristo e a Vitória absoluta (17.1 – 21.8)
A. A destruição da Babilônia (17.1 – 18.24)
B. A resposta que vem do céu (19.1-10)
C. A prisão de Satanás por mil anos (20.1-6)
D. Grandes conflitos e o juízo final (20.7-15)
E. Nasce o novo céu e a nova terra (21.1-8)
9. Quarta Visão: Cristo e a eternidade (21.9 – 22.5)
A. Nasce uma Nova Jerusalém (21.9-21)
B. A nova vida com o Cordeiro (21.22 – 22.5)
10. Conclusão do Apocalipse (22.6-21)
A. Convocação à obediência imediata (22.6-11)
B. Convocação ao serviço cristão (22.12-15)
C. Convocação ao Amém de Cristo (22.16-20)
D. Bênção apostólica a todos os crentes (22.21)

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APOCALIPSE
Introdução e tema do livro Saudação às sete igrejas da Ásia

1 Revelação de Jesus Cristo, que Deus


lhe concedeu para mostrar a seus
servos os acontecimentos que em breve
4 João, às sete igrejas que estão na provín-
cia da Ásia: graça e paz a vós outros, da
parte daquele que é, que era e que há de
devem se realizar, e que Ele, por intermé- vir, e da parte do sétuplo Espírito que o
dio do seu anjo, expressou ao seu servo assiste diante do seu trono,3
João,1 5 e de Jesus Cristo, que é a Testemunha
2 o qual comprovou tudo quanto viu da fiel, o Primogênito dentre os mortos e o
Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Soberano dos reis da terra. Ele, que nos
Cristo. ama e, mediante seu sangue, nos libertou
3 Bem-aventurados os que lêem, bem de todos os nossos pecados,4
como os que ouvem, as palavras desta 6 e nos constituiu reino e sacerdotes para
profecia e obedecem às orientações que servir a Deus, seu Pai; a Ele, portanto,
nela estão escritas, porquanto o tempo sejam glória e domínio pelos séculos dos
desses eventos está às portas.2 séculos. Amém!5

1 A expressão grega apokalipsis “revelação”, significa literalmente “tirar o manto”, isto é, “descobrir”, “tornar claro algo
obscuro”, “trazer um mistério à luz da compreensão”. Aqui a mensagem (revelação) vem de Cristo, por meio de um “anjo
intermediário” (a palavra “anjo” ocorre mais de 70 vezes neste livro), e é ministrada a João através de símbolos, que é o sentido
do termo grego semainõ “significar”, “expressar” (ensinar por simbologia). Essa compreensão nos leva à chave da interpretação
geral deste livro: ensinamento simbólico. João, apóstolo, e conhecido como “o discípulo amado” de Cristo, irmão mais novo do
apóstolo Tiago, primo de Jesus e autor do evangelho e das epístolas que levam seu nome, foi escolhido por Deus para receber
essa advertência divina e transmiti-la a todos os demais “servos” (em grego “escravos”) de Jesus em todo mundo. Sabendo que
tais “eventos” estão em processo desde a assunção de Cristo aos céus e, portanto, seu glorioso retorno é certo e iminente (Jo
19.25; 21.2,20,24; Mt 27.56; Mc 3.17; 15.40; Lc 9.52-56; Ap 22.6-20).
2 Os leitores ocidentais, especialmente, devem estar atentos ao estilo apocalíptico (simbólico) desta obra, muito comum no
Oriente ainda hoje. Mais de 50 vezes o número 7 aparece em todo livro, significando “inteireza”, “perfeição”. Aqui temos, por
exemplo, a primeira das sete “bem-aventuranças” que aparecem em todo o livro (14.13; 16.15; 19.9; 20.6; 22.7,14). O termo
grego makarios tem um sentido muito mais amplo e profundo do que a expressão “feliz” poderia comunicar. Portanto, “bem-
aventurados” transmite melhor o poder e a maravilha da bênção que está reservada para todos aqueles que humildemente
lerem ou ouvirem as palavras deste livro (Mt 5.3; Sl 1.1). O vocábulo “profecias” refere-se tanto à previsão de eventos futuros,
quanto à proclamação da Palavra de Deus. O Senhor retarda o grande Dia do Juízo para que fique, a cada dia, mais notória a
sua longanimidade (Mt 10.39; 18.11; Lc 19.10; Jo 17.12) e a incapacidade do ser humano caído (Gn 3) proporcionar à própria
humanidade um mundo justo, sadio e solidário. Contudo, seu glorioso retorno pode ocorrer a qualquer momento (Tg 5.9).
3 A mensagem foi dirigida às sete igrejas, ou seja, àquelas enumeradas no v.11 e a todas as demais igrejas cristãs em todas as
épocas. O termo grego ekklesia “assembléia” era usado para “convocar” as pessoas para as “reuniões” dos crentes primitivos.
As igrejas localizadas na província romana da Ásia, na época de João, hoje uma região da Turquia ocidental, formavam um círculo
geográfico na Ásia, com uma distância de cerca de 80 km entre uma e outra. Curiosamente, seus nomes são citados no sentido
horário, partindo de Éfeso em direção ao norte até Laodicéia, a leste de Éfeso. Todas as sete igrejas receberam cópias completas
do livro com a recomendação de não apenas lerem, estudarem e praticarem a Palavra de Deus, mas igualmente, de proclamarem
a Salvação e o Dia do Senhor a todo o mundo. O vocábulo grego “Graça” é usado apenas duas vezes neste livro, aqui e no
último versículo (22.21). No entanto, Paulo o usa mais de 100 vezes, evidenciando que vivemos a era da Graça, quando Deus
está caminhando pela terra, com seu Espírito e sua Igreja, oferecendo liberalmente sua Salvação (Jn 4.2; Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3;
Ef 1.2). João parafraseia um dos títulos de Cristo para ressaltar seu poder e eternidade (Êx 3.14,15; Hb 13.8; Ap 4.5). Algumas
versões trazem a expressão “os sete espíritos”, todavia, o sentido mais apropriado é compreendido ao aplicarmos a simbologia
do número 7 à autoridade absoluta e perene do Espírito Santo (Is 11.2; Zc 4.2,10).
4 Jesus, por sua morte e ressurreição, recebeu o primeiro corpo celestial, “sendo Ele o primeiro dos frutos dentre aqueles que
dormiram” (Sl 89.27; Dn 7.13; Mt 24.30; Mc 13.26; Lc 21.27; Zc 12.10; Jo 19.34,37; 1Co 15.20,48; Cl 1.18) e nos resgatou (libertou)
pagando com o seu próprio sangue imaculado a nossa fiança (Hb 9.12).
5 Deus designou Israel como seu povo, reino e sacerdotes (Êx 19.6; Zc 3; At 1.6). Essa mesma honra foi concedida aos
membros da Igreja de Cristo (1Pe 2.5,9). O Nome de Deus revela sua própria pessoa (Yahweh – Ex 3.14).

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5 APOCALIPSE 1

7 Eis que Ele vem com as nuvens, e todo 14 Sua cabeça e seus cabelos eram bran-
olho o verá, até mesmo aqueles que o cos como a lã, tão brancos quanto a neve,
traspassaram, e todas as tribos da terra se e seus olhos, como uma chama de fogo.8
lamentarão por causa dele. Certamente, 15 Seus pés reluziam como o metal,
assim será. Amém! quando é refinado em fornalha ardente,
8 “Eu Sou o Alfa e o Ômega”, declara o e sua voz como o som de muitas águas.9
Senhor Deus, “Aquele que é, que era e 16 Tinha em sua mão direita sete estre-
que há de vir, o Todo-Poderoso”. las, e de sua boca saía uma espada com
dois gumes afiados. Seu rosto era como
Jesus aparece e revela a João o próprio sol quando brilha em todo o
9 Eu, João, irmão e vosso companheiro seu esplendor.10
de sofrimento, no Reino e na perseve- 17 Assim que o admirei, cai a seus pés
rança na fé em Jesus, estava na ilha de como se estivesse morto. Então, Ele co-
Patmos, por causa da Palavra de Deus e locou sua mão direita sobre mim, e disse:
do testemunho de Jesus. “Não tenhas medo, Eu Sou o primeiro e
10 E, no dia do Senhor, achei-me exaltado o último.
no Espírito, quando ouvi atrás de mim 18 Eu Sou o que vive; estive morto, mas
uma voz forte, como o som de trombeta,6 eis que estou vivo por toda a eternida-
11 que dizia: “Escreve em um livro o que de! E possuo as chaves da morte e do
vês e envia-o a estas sete igrejas: Éfeso, inferno.11
Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Fila- 19 Portanto, escreve sobre tudo o que tens
délfia e Laodicéia”. visto, tanto os eventos que se referem ao
12 Voltei-me para observar quem falava presente como aqueles que sucederão
comigo e, voltando-me, vi sete candela- depois destes.
bros de ouro 20 Este é o mistério das sete estrelas, que
13 e, entre os candelabros, alguém seme- viste na minha mão direita, e dos sete
lhante a um ser humano, vestindo uma candelabros de ouro: as estrelas são os
longa túnica que chegava aos seus pés, e anjos das sete igrejas, e os sete candela-
um cinturão de ouro ao redor do peito.7 bros são as sete igrejas”.12

6 Patmos era uma pequena ilha rochosa no mar Egeu, próxima ao litoral onde hoje se situa a Turquia, cerca de 80 km de
Éfeso. Era conhecida como colônia penal romana, e Eusébio, um dos “pais da Igreja”, relata que João foi liberto de Patmos pelo
imperador Nerva, entre os anos 95 e 98 d.C. O Espírito do Senhor conduziu João a uma experiência de êxtase espiritual (assim
como ocorreu a Pedro – At 10.10), durante a qual lhe concedeu uma visão da realidade normalmente inacessível ao ser humano.
Nesta época, o domingo já era considerado pela igreja cristã primitiva como “o dia do Senhor”. Era, portanto, o dia em que os
cristãos se reuniam como igreja (assembléia) e recolhiam suas ofertas para a obra (At 20.7; 1Co 16.2).
7 Referência clara a Cristo como nosso sumo sacerdote (Êx 28.4; 29.5).
8 Os cabelos brancos (cãs) representam santidade, sabedoria e a eterna deidade de Cristo, conforme a descrição do profeta
Daniel do Ancião de Dias (Dn 7.9,13; 10.6; Is 1.18). Os olhos em chamas denotam o olhar penetrante e discernidor de Cristo (4.6;
Lv 19.32; Pv 16.31).
9 Outros profetas, como Ezequiel, descrevem a voz de Deus como a rebentação das ondas (Ez 1.24; 43.2). Em Patmos esse
som do mar seria ainda mais aterrador ao quebrar-se contra as paredes rochosas da ilha. Mais um símbolo de autoridade e
soberania de Deus (Jo 12.29).
10 Deus sustenta os anjos das igrejas (as estrelas – v.20) em sua mão direita, o que significa, posição de grande honra e res-
ponsabilidade. A espada, longa e afiada dos dois lados, representa o poder e o direito que Cristo tem para julgar e executar as
devidas sentenças aos impenitentes (Is 11.4; 44.6; 48.12; Hb 4.12,13).
11 No AT, há uma profusão de referências ao “Deus Vivo” (Js 3.10; Sl 42.2; 84.2), que se aplicam a Jesus Cristo, em contraste
aos “deuses mortos” do paganismo. Cristo tem vida em si mesmo e possui absoluto domínio sobre todos os seres vivos e mortos.
Hades, palavra grega que pode ser traduzida por “inferno”, “sepulcro”, “morte” ou “lugar dos mortos” (Mt 16.18).
12 Esse é o primeiro texto no livro que procura interpretar alguns dos símbolos usados na comunicação da profecia entregue
a João (17.15,18). O termo grego angelos significa “mensageiro” e, na maioria das vezes, tem a ver com um ser celestial (anjo).
Aqui, entretanto, pode ser também aplicado ao pastor ou líder espiritual da igreja, personificando a atmosfera celeste (espírito)
que deve prevalecer em cada comunidade cristã.

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APOCALIPSE 2 6

Carta à igreja em Éfeso 7 Quem tem ouvidos, compreenda o que

2 “Ao anjo da igreja em Éfeso escreve:


‘Assim declara Aquele que tem as sete
estrelas na mão direita e anda no meio
o Espírito declara às igrejas: ‘Ao vencedor
darei o direito de comer da árvore da
vida, que está no paraíso de Deus’”.6
dos sete candelabros de ouro:1
2 Conheço as tuas obras, tanto o teu tra- Carta à igreja em Esmirna
balho árduo como a tua perseverança, e 8 “Ao anjo da igreja em Esmirna escreve:
que não podes tolerar pessoas más, e que ‘Aquele que é o primeiro e o último, que
puseste à prova aqueles que a si mesmos foi morto e ressuscitado, faz as seguintes
se declaram apóstolos mas não são, e afirmações:
descobriu que eram impostores.2 9 Conheço as tuas aflições e a tua pobreza;
3 Tens perseverado e suportado sofri- contudo, tu és rico! Conheço a blasfêmia
mentos de toda espécie por causa do dos que se dizem judeus mas não são, pelo
meu Nome, e não te deixaste desfalecer. contrário, são sinagoga de Satanás.
4 Entretanto, tenho contra ti o fato de 10 Não temas nada do que estais prestes
que abandonaste o teu primeiro amor.3 a sofrer! Eis que o Diabo está para lançar
5 Recorda-te, pois, de onde caíste, arre- alguns de vós na prisão; a fim de que
pende-te e volta à prática das primeiras sejais provados, e sofrereis perseguição
obras. Porquanto, se não te arrependeres, durante dez dias. Sê fiel até a morte, e Eu
em breve virei contra ti e tirarei o teu te darei a coroa da vida!’7
candelabro do seu lugar.4 11 Aquele que tem ouvidos, compreen-
6 Tens, contudo, a teu favor que odeias da o que o Espírito revela às igrejas: ‘O
as práticas dos nicolaítas, as quais Eu vencedor de maneira alguma sofrerá a
também odeio’.5 punição da segunda morte’”.8

1 Essas sete igrejas realmente existiram na Ásia Menor. Apesar disso, observa-se o retrato de uma certa seqüência de degra-
dação espiritual e moral da igreja, ao longo da história, que chega até a completa apatia exemplificada pela igreja de Laodicéia.
Jesus revela um padrão de advertência que se aplica aos vários perfis da igreja em todas as épocas até sua volta: elogio pelas
boas atitudes; admoestação contra os erros e faltas; disciplina e correção. Éfeso era um dos principais centros urbanos do
Império e jactava-se de sua cultura e religiosidade pagã, ostentando o templo de Ártemis (Diana), uma das sete maravilhas do
mundo antigo.
2 A igreja primitiva cultivava o hábito de pôr à prova os mestres e suas doutrinas, a fim de verificar sua correção e fidedignidade
bíblica. Haja vista a grande quantidade de místicos, judaizantes e falsos mestres que surgiram nos primeiros séculos após a
ressurreição de Cristo (1Co 14.29; 1Ts 5.21; 1Jo 4.1).
3 Todas as igrejas da província da Ásia haviam experimentado grande amor por Jesus Cristo (pelo Evangelho) e cooperavam
fraternalmente uns com os outros, demonstrando a plenitude e a alegria do amor cristão nos primeiros anos de suas conversões.
Com o passar do tempo, a chegada das muitas provações e tentações, esse amor foi se esfriando. Um alerta para a igreja dos
nossos dias.
4 O termo grego, aqui traduzido por “arrepende-te”, significa: “transforma o teu pensamento e tuas ações”. Assim também, a
expressão grega: “em breve virei contra ti” prenuncia uma visitação divina, especial e urgente, para julgamento imediato.
5 A tradição indica a seita herética dos nicolaítas com Nicolau, um prosélito de Antioquia e um dos sete primeiros diáconos da igre-
ja em Jerusalém (At 6.5). Na época de João, contudo, o sincretismo religioso e filosófico já era tão avassalador nas regiões da Ásia
Menor, que um grupo em Pérgamo, que defendia as idéias de Balaão (vv.14,15), e alguns outros heréticos em Tiatira, que seguiam a
Jezabel (v.20), aderiram ao movimento dos nicolaítas, pois que estes também estimulavam o paganismo e a libertinagem.
6 Neste livro, a expressão “vencer” se refere aos “cristãos que permanecem fiéis ao Senhor apesar das muitas provações e
tentações” (15.2). Alimentar-se da “árvore da vida” (Gn 2.9; Ap 22.2) simboliza o participar da plenitude da vida eterna. O termo
persa “paraíso”, incorporado ao vocabulário hebraico, significa “jardim particular” e tem a ver com a promessa de Jesus (Lc 23.43;
2Co 12.2) e a Jerusalém celestial que, em breve, nos será plenamente revelada (Ap 21.10; 22.2).
7 A “coroa” aqui não se refere à coroa de rei, mas a uma espécie de grinalda de folhas, presenteada aos “vencedores” nas
batalhas e jogos olímpicos (1Co 9.25). No contexto deste livro simboliza a vida eterna (4.4; 12.3; 13.1; 14.14; 19.2; Tg 1.12; 1Pe
5.4). O vocábulo grego diabolos significa “acusador” (em hebraico: “Satanás” – Zc 3.1; Jó 1.6-12; 2.1-7), e representa a principal
artimanha do Diabo contra os filhos de Deus (Jo 15.20; 2Tm 3.12).
8 Esmirna (hoje na região da Turquia) era uma colônia do Império romano. Econômica e culturalmente desenvolvida,
absolutamente submissa a Roma e ao culto ao imperador. Além disso, a grande comunidade judaica que vivia na cidade era
muito hostil aos cristãos. Policarpo, um dos mais famosos “pais da Igreja”, foi bispo cristão em Esmirna e martirizado por sua fé,
sincera e corajosa no Senhor. A expressão “segunda morte” simboliza a condenação eterna (20.6,14; 21.8).

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7 APOCALIPSE 2

Carta à igreja em Pérgamo novo nome, o qual ninguém conhece, a


12 “Ao anjo da igreja em Pérgamo es- não ser aquele que o recebe’”.12
creve: ‘Assim declara Aquele que tem a
espada de dois gumes afiados:9 Carta à igreja em Tiatira
13 Conheço o lugar em que vives, onde 18 “Ao anjo da igreja em Tiatira escreve:
se encontra o trono de Satanás. Apesar ‘Assim declara o Filho de Deus, cujos
disso, permaneces fiel ao meu Nome e olhos são como chama de fogo e os pés
não renunciaste à tua fé em mim, nem como bronze reluzente:13
mesmo quando Antipas, minha leal tes- 19 Conheço as tuas obras, o teu amor,
temunha, foi morto nessa cidade, onde a tua fé, o teu ministério, a tua perseve-
Satanás habita.10 rança, bem como sei que estais servindo
14 Tenho, contudo, contra ti algumas muito mais agora do que no princípio.
admoestações, porquanto tens contigo 20 No entanto, tenho contra ti o fato de
os que seguem a doutrina de Balaão, que que toleras Jezabel, aquela mulher que se
ensinou a Balaque a armar ciladas contra diz profetisa; porém, com seus ensinos
os filhos de Israel, induzindo-os a comer ela induz os meus servos à imoralidade
alimentos sacrificados a ídolos e a se en- sexual e a comerem alimentos sacrifica-
tregarem à prática da prostituição.11 dos aos ídolos.14
15 Além disso, tens também alguns que, 21 Concedi-lhe tempo para que se ar-
semelhantemente, seguem a doutrina rependesse da sua prostituição, mas ela
dos nicolaítas. não quer arrepender-se.
16 Diante do exposto, arrepende-te! Caso 22 Portanto, eis que a farei adoecer e
contrário, logo virei contra ti e contra enviarei grande aflição sobre aqueles que
eles pelejarei com a espada da minha com ela comentem adultério, a não ser
boca’. que se arrependam das suas más ações.
17 Quem tem ouvidos, compreenda o que 23 Matarei os seguidores dessa mulher,
o Espírito revela às igrejas: ‘Ao vencedor e todas as igrejas saberão que Eu Sou
proporcionarei do maná escondido, bem aquele que sonda mentes e corações, e
como lhe darei uma pedra branca, e so- portanto, retribuirei a cada um de vós de
bre essa pedra branca estará grafado um acordo com as vossas obras.15

9 Pérgamo (atual Bergama), antiga capital da Ásia Menor, seu nome significa “centro defensivo ou fortaleza”. Foram os primei-
ros a trabalhar o couro de cabras e ovelhas como material de base para escrita (pergaminho), dando origem ao formato (códice)
que o livro tem hoje. Os dois gumes da espada simbolizam a julgamento de Deus: justo e inexorável (1.16).
10 Pérgamo acabou sendo uma espécie de centro oficial da religiosidade pagã e de adoração ao imperador de Roma. Segundo
a tradição cristã, Antipas foi o primeiro mártir na Ásia, tendo sido cozido em azeite, num caldeirão de bronze, lentamente até
morrer, por causa de professar publicamente sua fé em Jesus Cristo, durante o reinado de Domiciano.
11 Balaão era mestre em confundir os assuntos espirituais e morais com seus interesses materiais. Chegou a ensinar às mu-
lheres midianitas a seduzir os israelitas (Nm 22 – 24; 25.1,2; 31.16; Jd 8,11). Em Apocalipse, representa perfeitamente os falsos
mestres espirituais (como os gnósticos na época de João), cada vez mais abundantes pela terra; cuja ganância, corrupção e
arrogância levam seus seguidores ao engano religioso, mundanismo e à perdição (At 15.20,29).
12 O “maná escondido” simboliza (Êx 16.14-15), aqui, o privilégio incomparável que todos os cristãos sinceros têm de participar
da grande festa celestial e messiânica chamada “a ceia das bodas do Cordeiro” (19.9). Um alimento divino somente disponível
aos crentes no Senhor, em contraposição ao que é oferecido aos seguidores de líderes da estirpe de Balaão (Sl 78.24). Os juízes
da época costumavam usar uma pedra branca para votar em benefício do réu. Na antigüidade, os escravos que conseguiam a
alforria, ganhavam uma pedrinha branca como “atestado” de sua liberdade. Aqui, o simbolismo sugere um “ingresso”, patrocina-
do por Cristo, para a grandiosa solenidade das suas bodas com a Igreja. A salvação é uma convicção pessoal, verdadeiramente
conhecida apenas entre o crente e o Senhor (19.12).
13 Tiatira (atual Akhisar) foi fundada por Seleuco (311 – 280 a.C) com o objetivo de ser um posto militar avançado. Lídia,
vendedora de púrpura, era de Tiatira (At 16.14).
14 O nome de Jezabel é lembrado aqui como símbolo de uma mulher de destaque na sociedade, mas que subvertia a fidelidade
a Deus, manipulando pessoas mediante a permissividade moral e a incorporação de práticas pagãs. A idolatria e o materialismo
eram as mais expressivas tentações em Tiatira, um importante centro comercial da Ásia (1Rs 16.31; 2Rs 9.22-37).
15 A palavra grega original “seguidores” pode ser facilmente confundida com a expressão literal “filhos”, cujo sentido aqui tem
a ver com “discípulos”. Jezabel é a mãe simbólica de todos os que seguem doutrinas espúrias e libertinas. O Senhor sonda,

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APOCALIPSE 2, 3 8

24 Todavia, aos demais que estão em Tia- tenho encontrado integridade em tuas
tira e que não seguem a doutrina dessa obras diante do meu Deus.
mulher, e não aprenderam, como eles 3 Portanto, lembra-te daquilo que tens
costumam falar, os profundos segredos recebido e ouvido; obedece e arrepende-
de Satanás, afirmo: ‘Não colocarei outra te. Porquanto se não estiveres vigilante,
carga sobre vós!16 virei como um ladrão, e tu não saberás a
25 Tão-somente apegai-vos com firmeza que hora virei contra ti.
ao que tendes, até que Eu venha. 4 Contudo, tens em Sardes algumas pes-
26 Ao vencedor, aquele que permanecer soas que não contaminaram suas vestes;
nas minhas obras até o fim, Eu lhe darei elas caminharão comigo, vestidas de
autoridade sobre as nações. branco, pois são dignas.
27 Ele as pastoreará com cetro de ferro 5 Deste modo, o vencedor andará trajado
e as reduzirá a pedaços como se fossem com vestes brancas, e de modo algum
vasos de barro. apagarei o seu nome do Livro da Vida;
28 Eu lhe concederei autoridade seme- pelo contrário, reconhecerei o seu nome
lhante a que recebi de meu Pai. Também na presença do meu Pai e dos seus an-
lhe darei a estrela da manhã’. jos.2
29 Aquele que tem ouvidos, compreenda 6 Aquele que tem ouvidos, compreenda o
o que o Espírito revela às igrejas!”17 que o Espírito revela às igrejas.’”

Carta à igreja em Sardes Carta à igreja em Filadélfia

3 “Ao anjo da igreja em Sardes escreve:


‘Assim declara Aquele que tem os sete
espíritos de Deus e as estrelas: Conheço
7 “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve:
‘Assim declara Aquele que é santo e ver-
dadeiro, que possui a chave de Davi. O
as tuas obras, que tens fama de estar vivo, que Ele abre ninguém consegue fechar, e
mas de fato, estás morto.1 o que Ele fecha ninguém pode abrir:3
2 Sê alerta! E fortalece o que ainda resta 8 Conheço as tuas obras. Eis que tenho
e estava prestes a morrer; porque não colocado diante de ti uma porta aberta

literalmente no original grego “os rins”, “as entranhas”. Isso significa que Deus conhece as nossas vontades (fomes) mais
íntimas, e o centro das nossas decisões. Atualmente, costuma-se fazer referência ao “coração” para explicar os sentimentos,
e à “mente” para a razão (Sl 7.9; 62.12; Pv 24.12; Jr 11.20; 17.10). As obras são conseqüências da fé (Mt 16.27; Rm 2.6; Ap
18.6; 20.12,13; 22.12).
16 O gnosticismo ensinava que, para derrotar Satanás e suas hostes, se fazia necessário entrar na fortaleza do Inimigo e ter
profunda experiência com o mal. Esse princípio é observado até hoje por diversas seitas heréticas em todo mundo, especialmente
por meio de iniciações e ensinos secretos e esotéricos.
17 O uso literal do verbo grego “pastoreará” comunica o sentido de “governar”; e a expressão “com cetro de ferro”, longe
de uma alusão despótica, enfatiza o “governo poderoso” de Cristo (12.5; 19.15). A expressão “estrela da manhã” refere-se
simbolicamente também à presença da pessoa do próprio Senhor Jesus entre os crentes, especialmente durante as grandes
tribulações mundiais, prenunciando o glorioso retorno de Cristo e todas as bênçãos que aguardam os cristãos sinceros, justos
e vencedores (Dn 12.3).
Capítulo 3
1 Sardes (atual Sart) foi capital do antigo reino da Lídia. Cidade próspera e orgulhosa de suas indústrias de lã e tinturaria, era
o centro de culto à deusa Cibele, que atraía seguidores para uma religião mística, adornada por rituais sensuais e libertinos. O
ministério da igreja cristã local tinha um conceito muito favorável por causa do seu início notável. Entretanto, Deus percebe o vírus
da apatia espiritual (descrença) corroendo o íntimo da fé e da prática cristã naqueles crentes (Mt 24.43,44; Lc 12.39-40).
2 Tanto os judeus (Êx 32.32,33; Sl 69.28; Dn 12.1; Mt 10.32; Lc 12.8; Ap 20.12) quanto os romanos conservavam um livro de
registro de todos os cidadãos que formavam seus reinos e, portanto, tinham direitos e deveres a zelar. Se, por infringir a lei,
um cidadão tivesse seu nome apagado do livro, significaria a total perda de cidadania. Para os judeus e cristãos, o registro no
Livro da Vida é divino, e quem possui a vida eterna tem a graça da perseverança durante sua caminhada terrestre (Mt 24.13;
Fp 4.3; Hb 2.3).
3 Filadélfia (atual Alashehir), cujo nome significa “amor fraternal”, era uma cidade de grande importância comercial e, estrategi-
camente localizada, como porta de entrada do elevado planalto central da província romana na Ásia Menor. O Senhor afirma que
Cristo é quem tem todo o poder de admitir ou excluir pessoas do Reino. Os judeus acreditavam que apenas Israel tinha o privilégio

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9 APOCALIPSE 3

que ninguém consegue fechar; tens pou- declara o Amém, a testemunha fiel e ver-
ca força, mas obedeceste a minha Palavra dadeira, o Soberano da criação de Deus.7
e não negaste o meu Nome.4 15 Conheço as tuas obras, sei que não
9 Farei aos da sinagoga de Satanás, aos és frio nem quente. Antes fosses frio ou
que se dizem judeus e não são, mas quente!
mentem; sim, farei que venham adorar 16 E, por este motivo, porque és morto,
prostrados aos teus pés e saibam que Eu não és frio nem quente, estou a ponto de
te amo! vomitar-te da minha boca.8
10 Porque deste atenção à minha exortação 17 E ainda dizes: ‘Estou rico, conquistei
quanto a suportar os sofrimentos com muitas riquezas e não preciso de mais
paciência, Eu, igualmente, te livrarei da nada’. Contudo, não reconheces que és
hora da tribulação que virá sobre o mun- miserável, digno de compaixão, pobre,
do todo, para pôr à prova os que habitam cego e que está nu!
sobre a terra.5 18 Portanto, ofereço-te este conselho: Ad-
11 Eis que venho sem demora! Conserva quire de mim ouro refinado no fogo, a fim
o que tens, para que ninguém tome a tua de que te enriqueças; roupas brancas, para
coroa. que possas cobrir sua vergonhosa nudez;
12 Farei do vencedor uma coluna no tem- e compra o melhor colírio para que, ao
plo do meu Deus, o nome da cidade do ungir os teus olhos, possas enxergar cla-
meu Deus, a nova Jerusalém que desce do ramente.9
céu da parte do meu Deus; e igualmente 19 Eu repreendo e corrijo a todos quantos
escreverei nele o meu novo Nome.6 amo: sê pois diligente e arrepende-te.
13 Aquele que tem ouvidos, compreenda 20 Eis que estou à porta e bato: se alguém
o que o Espírito revela às igrejas’”. ouvir a minha voz e abrir a porta, en-
trarei em sua casa e cearei com ele, e ele
Carta à igreja em Laodicéia comigo.10
14 “Ao anjo em Laodicéia escreve: ‘Assim 21 Ao vencedor, Eu lhe concederei que

de ingressar no Reino de Deus. O poder das chaves é a autoridade exclusiva outorgada a Jesus Cristo, o Messias davídico (v.9;
5.5; 22.16; Is 22.22; 60.14; Mt 16.18-19).
4 O contexto desta carta indica que Cristo estabeleceu uma porta de entrada para todos os que nele crêem, com acesso abso-
luto aos privilégios do Reino de Deus e do serviço cristão. Uma entrada que ninguém pode bloquear (1Co 16.9).
5 Uma alusão às “dores messiânicas”, a seqüência de sofrimentos e perseguições que sobrevirão ao povo de Deus antes do
glorioso retorno do Senhor Jesus (Is 60.14; Dn 12.1-13; Mc 13.14; 2Ts 2.1-12). Grandes provações atingirão os crentes persegui-
dos pelo anticristo, enquanto os não-cristãos (pagãos), definidos neste livro como “os que habitam sobre a terra”, sofrerão os
julgamentos divinos por sua incredulidade (13.7-8; 8.1 – 9.19; 16.1-20).
6 Os judeus estabeleciam estreito paralelo entre o nome e o caráter de uma pessoa. O novo nome de Cristo simboliza tudo
o que é por causa da sua obra salvadora e remidora a favor da humanidade. Evento que se dará na segunda vinda do Senhor
(2.7; 7.15; 14.1; 21.2; 22.4).
7 Laodicéia foi a cidade mais rica da região da Frígia na época do Império Romano, e ficava próxima à atual Denizli. Era
conhecida em todo o mundo antigo por seus estabelecimentos bancários, escola de medicina e indústria têxtil. Contudo, a cidade
sofria com sérios problemas de abastecimento de água potável. A expressão “Soberano” significa literalmente no original grego
“o primeiro no tempo”: origem ou princípio de tudo (Jo 1.14; Pv 8.22; 2Co 5.17; Cl 1.15-18). O “Deus do Amém” se refere ao “Deus
da Verdade”, como designação pessoal; refere-se a quem é perfeitamente crível, leal e fidedigno (1.5; 19.11; Is 65.16).
8 Em Hierápolis, cidade de repouso, adjacente a Laodicéia, havia muitas fontes de água térmicas e medicinais, porém impró-
prias para saciar a sede dos viajantes. A igreja cristã local não estava proporcionando água da vida para os peregrinos sedentos,
nem cura e conforto para os espiritualmente enfermos.
9 O texto se refere aos três grandes orgulhos de Laodicéia: riquezas financeiras, a ponto de rejeitar a ajuda de Roma quando foi
praticamente destruída por um terremoto em 60 d.C., próspera indústria têxtil e grande avanço na medicina, tanto que lá desen-
volveram a fórmula de um colírio muito apreciado na época. Contudo, nem todo o progresso econômico, cultural ou científico do
mundo podem ser comparados com a riqueza do verdadeiro relacionamento com Deus (Os 12.8; Mt 6.19-20; Lc 1.53; 12.21).
10 Embora tradicionalmente aplicado aos incrédulos, o contexto dessa passagem revela uma admoestação explícita e direta
aos crentes que se iludem com suas próprias conquistas ou com uma religiosidade formal, e abandonam o sincero relacionamen-
to com Cristo e o dedicado amor ao próximo. O Senhor sempre disciplina seus filhos com amor (Jó 5.17; Sl 94.12; Pv 3.11,12;

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APOCALIPSE 3, 4 10

se assente comigo no meu trono, assim e quatro outros tronos; vi assentados so-
como Eu venci e me assentei com meu Pai bre eles vinte e quatro anciãos, vestidos
no seu trono. de branco e com coroas de ouro sobre a
22 Aquele que tem ouvidos, compreenda cabeça.4
o que o Espírito revela às igrejas!’” 5 Do trono emanavam relâmpagos, vozes
e trovões. Perante Ele estavam acesas
A visão da majestade de Deus sete lâmpadas de fogo, que são os sete
espíritos de Deus.5
4 Depois destes acontecimentos, ob-
servei uma porta no céu, e a primeira
voz que eu ouvira, voz como de trombe-
6 E diante do trono, ainda, havia algo se-
melhante a um mar de vidro, trans-lúcido
ta, falando comigo, chamou-me: “Sobe como o cristal. No centro, circundando o
até aqui, e Eu te revelarei os eventos que trono, havia quatro seres viventes cobertos
devem ocorrer depois destes”.1 de olhos, tanto na frente como nas costas.6
2 Imediatamente, me vi absolutamente 7 O primeiro aparentava um leão, o segun-
tomado pelo Espírito, e diante de mim do era semelhante a um touro, o terceiro
estava um trono no céu e nele estava tinha um semblante como o de homem, o
assentado alguém.2 quarto parecia uma águia em pleno vôo.7
3 Aquele, pois, que estava assentado ti- 8 Cada um desses seres tinha seis asas e
nha a aparência que se assemelhava às eram repletos de olhos, tanto ao redor
pedras lapidadas de diamante e sardônio. como por baixo das asas. Dia e noite
Ao redor do trono, reluzia um arco-íris proclamam sem cessar: “Santo, santo,
parecendo uma esmeralda.3 santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
4 Também ao redor do trono havia vinte Aquele que era, que é e que há de vir!”8

1Co 11.32; Hb 12.5-11). Todos quantos perseveram na fé, estes são os vencedores e participarão do majestoso trono de Cristo
(2.7; 20.4-6; Mt 19.28; 2Tm 2.12).
1 As passagens de 4.1 a 5.14 proporcionam ao leitor uma introdução para o longo trecho de 6 a 20. Na sala do trono celestial,
o Cordeiro inicia a derradeira batalha contra as forças diabólicas, em cujo final lançará definitivamente o Diabo e seus seguidores
no lago do fogo eterno. O Senhor usa com João o mesmo tipo de convocação que usou com Moisés no monte Sinai, a fim de
receber as orientações de Deus (Êx 19.20.24).
2 João foi elevado a um estado raro de consciência espiritual alterada, em que seus sentidos foram totalmente arrebatados pela
plenitude do Espírito, a fim de que pudesse ver, ouvir e sentir vívidamente tudo o quanto lhe seria comunicado por Deus (1.10; 17.3;
21.10). O estilo literário, retratar Deus governando em seu trono celestial é uma forma clássica e tradicional do AT (Sl 47.8).
3 Deus é plena luz, verdade e santidade, e não pode ser contemplado diretamente por nenhum ser humano (1Tm 6.16); por
isso, se apresenta como o brilho intenso das pedras preciosas (os tons multicoloridos refletidos pelo diamante puro ou averme-
lhados do jaspe, e castanhos dos cristais de calcedônia) combinando com todas as matizes de verde, como que produzidos pelo
prisma da luz através dos mais puros cristais de esmeralda (Ez 1.26-28; Ap 10.1).
4 Os vinte e quatro anciãos representam os doze patriarcas de Israel (as doze tribos) e os doze apóstolos, simbolizando desse
modo a cifra completa e a unidade de todos os salvos de todas as eras (Ef 2.11-22). Há outros estudiosos cristãos que entendem
que essa é uma representação dos anjos que servem a Deus no governo do Universo (Sl 89.7; Is 24.23; Êx 24.11; Ap 4.9-11;
5.5-14; 7.11-17; 11.16-18; 14.3; 19.4).
5 Os relâmpagos, trovões, grandes sinais no céu e as lâmpadas simbolizam o magnífico poder e a majestade eterna do Senhor,
assim como vem se revelando à humanidade, desde a própria Criação, o Dilúvio e as grandes manifestações do amor de Deus
para com seu povo no deserto do Sinai (Êx 19.16-19; Sl 18.12-15; 77.18; Ez 1.13). Na visão do Apocalipse, esses fenômenos estão
sempre associados a algum acontecimento relevante para a humanidade e que se passa nas amplas e maravilhosas dependências
do templo celestial (8.5; 11.19; 16.18). A expressão “os sete espíritos” é apenas uma maneira simbólica de mostrar o poder e a
majestade perfeita do Espírito de Deus, uma vez que o sete é sempre o número da perfeição e da completeza (1.4).
6 A origem dessas expressões figuradas, como “mar de vidro”, está no AT (Gn 1.7; Êx 24.10; Ez 1.22), que também indicava a
bacia do templo celestial (11.19; 14.15-17; 15.5-8; 16.1,17), cujo equivalente no templo terreno era chamado de mar (1Rs 7.23-25;
2Rs 16.17; 2Cr 4.2,4,15,39; Jr 27.19). Os quatro seres pertencem a uma ordem elevada de criaturas angelicais, cuja missão é zelar
pelo trono celestial enquanto coordenam uma sistemática e interminável proclamação de louvor e adoração a Deus. Com seus
muitos olhos, nada escapa à atenção e ao cuidado deles.
7 O profeta Ezequiel teve uma visão semelhante (Ez 1.6-10; 10.14).
8 Aqui vemos uma expansão do próprio nome de Deus (Êx 3.14,15), com o objetivo de enfatizar que os atributos de Deus
(próprios de seu nome), como seu poder e santidade, se estendem da eternidade passada à eternidade futura, sem oscilação ou
qualquer possibilidade de cessar (1.4; Is 6.2,3; 41.4; Ez 1.18; 10.12).

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11 APOCALIPSE 4, 5

9 Toda vez que os seres viventes excla- encontrou ninguém que fosse digno de
mam glória, honra e graças Àquele que abrir o livro e de olhar para ele.
está assentado no trono e que vive para 5 Então, um dos anciãos consolou-me,
todo sempre, afirmando: “Não chores, pois o Leão da
10 os vinte e quatro anciãos se prostram tribo de Judá, a raíz de Davi, venceu para
diante daquele que está assentado no abrir o livro e romper os sete selos”.3
trono e adoram Àquele que vive para 6 Nisso, aconteceu que reparei, no meio
todo o sempre. Eles lançam suas coroas do trono e dos quatro seres viventes e en-
diante do trono e declaram: tre os anciãos, em pé, um Cordeiro que
11 “Nosso Senhor e nosso Deus, tu és dig- parecia estar morto, e tinha sete chifres
no de receber a glória, a honra e o poder, e sete olhos, que são os sete espíritos de
porquanto tu és o Criador de tudo e, por Deus enviados a toda a terra.4
tua soberana vontade, tudo o que há, foi 7 Ele veio e pegou o livro da mão direita
criado e veio a existir”. de quem estava assentado no trono.
8 E assim que o recebeu, os quatro seres
A visão do livro do Cordeiro viventes e os vinte e quatro anciãos pros-

5 Então, observei na mão direita da-


quele que está assentado no trono um
livro em forma de rolo, escrito de ambos
traram-se diante do Cordeiro. Cada um
deles tinha uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações
os lados e selado com sete selos.1 dos santos;
2 Vi, também, um anjo forte, que procla- 9 e eles cantavam um cântico novo: “Tu
mava em grande voz: “Quem é digno de és digno de tomar o livro e de abrir seus
abrir o livro e de lhe romper os selos?”. selos, porque foste morto, e com o teu
3 No entanto, não havia ninguém, nem sangue compraste para Deus homens de
no céu, nem na terra nem debaixo da toda tribo, língua, povo e nação.5
terra, que pudesse abrir o livro, ou ao 10 Tu os constituíste reino e sacerdotes
menos olhar para ele.2 para o nosso Deus; e assim reinarão sobre
4 E eu chorava muito, porque não se a terra”.6

1 O livro estava na forma de um pergaminho enrolado, escrito de ambos os lados (1.11; 10.2-10). Assim como as tábuas de
pedra da Lei no AT (Êx 32.15; Ez 2.9,10), os setes selos revelam a inviolabilidade de um testamento de grande importância e valor
(Is 29.11; Dn 12.4). Os nobres da época costumavam escrever suas últimas vontades e heranças em um documento que era
lacrado na presença de sete testemunhas. Após a morte do testador, suas determinações eram lidas em público e executadas
à risca (1Pe 1.4).
2 A expressão original grega (céu, terra e debaixo da terra) não objetiva dividir o Universo nessas três partes. Era uma forma
convencional de referir-se à universalidade da proclamação (Êx 20.4; Fp 2.10).
3 Vários títulos messiânicos são mencionados nessa passagem, vinculando a obra de Cristo às profecias do AT (Gn 49.8-10).
O Leão da tribo de Judá simboliza o poder e a majestade do Messias. No AT, Judá é chamado de “leãozinho” e lhe é prometido
o governo até o glorioso retorno do Messias (Ez 21.27). Raíz de Davi é outro título profetizado para o Messias e Rei ideal (Is
11.1,10; Rm 15.12).
4 João emprega uma palavra especial para “Cordeiro” (29 vezes neste livro, e uma vez em Jo 21.15), revelando o sacrifício
vicário de Cristo (Is 53.7; Zc 4.10; Jo 1.29) e seu pleno poder (17.14). Na milenar tradição judaica, o “chifre” é símbolo do poder e
da “luz da glória” (Dt 33.17). O quarto grande animal que aparece na profecia de Daniel tem dez chifres. Entretanto, são os “sete
chifres” que representam o pleno poder e glória absoluta do Messias (Dn 7.7,20; 8.3,5; Ap 4.5).
5 No NT, o Cordeiro representa o único e grande líder da nova humanidade (Hb 2.9-11). Os Salmos conclamam todo povo de
Deus a cantar novos louvores a Cristo, o Messias (Sl 33.3; 98.1; 141.2; 144.9; 149.1). Enquanto o capítulo 4 termina com a canção
da Criação, o quinto se encerra com os cânticos da Nova Criação, que reúne os salvos de todas as nações e culturas. A morte e
ressurreição de Jesus Cristo é a base da redenção, restauração, criação e exaltação eterna do Filho de Deus: o Vencedor e seu
povo (Mt 20.28; 1Co 6.20; 7.23; 1Pe 1.18-19; Ap 14.3-4). É para a glória de Deus-Pai que Cristo redime homens e mulheres ao
longo da história (Ef 1.1-14).
6 Hoje em dia, a Igreja de Cristo passa por uma fase de lutas e descrédito por parte do mundo. Entretanto, na Nova Ordem ou
Nova Jerusalém, os crentes serão constituídos “reino e sacerdotes” e reinarão sobre toda a terra (Êx 19.6; Dn 7.10; 1.6; 2.26,27;
20.4,6; 22.5).

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APOCALIPSE 5, 6 12

11 Então reparei e também ouvi a voz de O segundo selo


grande multidão de anjos ao redor do 3 Quando Ele abriu o segundo selo, ouvi
trono e dos seres viventes e dos anciãos, o segundo ser vivente bradar: “Vem!”.
cujo número era de milhares de milhares 4 Então, partiu outra cavalgadura, um
e de milhões de milhões. cavalo vermelho; e ao seu cavaleiro, foi
12 Eles proclamavam em alta voz: “Digno concedido o poder de tirar a paz da terra,
é o Cordeiro, que foi morto, de receber de modo que os homens matassem uns
a plenitude do poder, riqueza, sabedoria, aos outros. E lhes foi entregue também
força, honra, glória e louvor!”. uma grande espada.3
13 Em seguida, ouvi todas as criaturas
existentes no céu, na terra, debaixo da O terceiro selo
terra e no mar, e tudo o que neles há, 5 Quando o Cordeiro abriu o terceiro
que exclamavam: “Ao que está assentado selo, ouvi o terceiro ser vivente convocar:
no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a “Vem!”. Então, reparei e eis um cavalo
honra, a glória e o domínio pelos séculos preto e o seu cavaleiro ostentava na mão
dos séculos!”. uma balança.
14 E os quatro seres viventes bradavam: 6 Então, ouvi o que parecia uma voz
“Amém!”, e os anciãos igualmente pros- grave, vinda dentre os quatro seres
traram-se e o adoraram.7 viventes, exclamando: “Um quilo de
trigo por um dinheiro, e três quilos de
O Cordeiro abre o Primeiro Selo cevada também por um dinheiro, mas
não destruas o azeite e o vinho!”.4
6 Observei quando o Cordeiro abriu o
primeiro dos sete selos. Em seguida,
ouvi um dos seres viventes exclamar com O quarto selo
voz de trovão: “Vem!”.1 7 Quando Ele abriu o quarto selo, ouvi
2 Olhei, e diante de mim estava um cava- a voz do quarto ser vivente clamar:
lo branco e o seu cavaleiro empunhava “Vem!”.
um arco, e foi-lhe outorgada uma coroa; 8 Olhei, e diante de mim estava um
e ele cavalgava altaneiramente, como cavalo amarelo pálido. Seu cavaleiro
vencedor, determinado a vencer.2 chamava-se Morte e o lugar dos mortos

7 Deus Pai entronizado na glória eterna, e o Deus-Cordeiro-Filho, que é o Messias (Cristo em grego), são de igual modo
adorados (Fp 2.9-11) e seus “sete atributos” (sua perfeição) evidenciados (5.12; 7.12), o que demonstra uma vez mais a absoluta
unidade do Pai com o Filho.
Capítulo 6
1 Há três séries bem definidas de julgamentos que se sucederão em grupos de sete elementos: os sete selos (6.1-16; 8.1-5), as
sete trombetas (8.1 – 9.21) e as sete taças (cap. 16).
2 Os quatro cavaleiros do apocalipse fazem parte de um contexto simbólico que tem suas raízes no AT (Zc 1.8-17; 6.1-8). Há vá-
rias interpretações possíveis quanto ao significado das cores, missões e personalidades dos cavaleiros (assim como para o livro
todo), mas o comitê internacional de tradução da KJA considera que o cavalo branco representa o Espírito de Cristo, que através
da sua Igreja conquistará milhões de almas (vitórias) para o Reino. A cor branca no NT, e especialmente no Apocalipse, sempre
indica ou está relacionada com a pessoa ou a obra de Jesus Cristo, cuja vitória – no final – será plena e perene (19.11-16).
3 O cavalo e o cavaleiro vermelhos simbolizam os grandes e horríveis derramamentos de sangue provocados principalmente
pelas guerras. A espada grande (em grego hromfaia) é uma metáfora de todo tipo de arma ou poder que visa o extermínio
humano (Zc 1.8; 6.2; Mt 10.34).
4 O cavalo preto representa os períodos trágicos de extrema necessidade de alimentos que, normalmente, se seguem aos
tempos de guerra e graves conflitos políticos (Zc 6.2,6). Os processos econômicos mundiais não são solidários aos pobres e,
portanto, quanto maior a escassez maiores os preços. Um dinheiro (em grego denarion) era uma moeda de prata, que, na época
de João, era capaz de comprar até quinze vezes a alimentação diária de um homem e, normalmente, era o salário que um soldado
ou operário braçal ganhava por dia a serviço ao Império romano. Todavia, nos dias de “fome”, aqui previstos, o equivalente
monetário a um denário não será suficiente para alimentar uma família pequena todos os dias, mesmo considerando uma balança
com alimentos (cevada) menos nutritivos do que o trigo. Entretanto, o Senhor coloca limites à destruição promovida pelo cavaleiro
negro: as raízes da oliveira e da videira são fortes e profundas, e resistem aos períodos de seca e privações.

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13 APOCALIPSE 6, 7

o seguia de perto. Foi-lhes dado o poder ficou escurecido como coberto com roupa
sobre um quarto de toda a terra, a fim de luto, e toda a lua se tornou vermelha
de que matassem à espada, pela fome, como se estivesse ensangüentada;8
por meio da pestilência e pelos animais 13 e as estrelas do firmamento caíram so-
selvagens da terra.5 bre a terra, como figos verdes derrubados
da figueira por um terrível vendaval.
O quinto selo 14 E, assim, o céu foi recolhido como
9 Quando Ele abriu o quinto selo, con- um pergaminho quando se enrola. En-
templei debaixo do altar as almas daque- tão, todas as montanhas e ilhas foram
les que haviam sido mortos por causa da removidas de seus lugares.9
Palavra de Deus e do testemunho que 15 E aconteceu que os reis da terra, os
proclamaram.6 príncipes, os generais, os ricos, os pode-
10 Eles exclamavam com grande voz: “Até rosos; todos enfim, escravos e livres, bus-
quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, caram refugiar-se em cavernas e entre as
esperarás para julgar os que habitam em rochas das montanhas.
toda a terra e vingar o nosso sangue?”. 16 Então, passaram a berrar para as mon-
11 Então, para cada um deles foi entregue tanhas e rochedos: “Caiam sobre nós e
uma vestidura branca, e foi-lhes orien- ocultem-nos da face daquele que se as-
tado que aguardassem ainda um pouco senta no trono e da ira do Cordeiro,10
mais, até que se completasse o número 17 porquanto, eis que é chegado o grande
dos seus irmãos que, como eles, foram Dia da ira deles; e quem poderá sobre-
servos e que, da mesma forma, também viver?”.
deveriam ser mortos.7
Os 144.000 israelitas selados...
O sexto selo
12 Vi, quando Ele abriu o sexto selo. Então,
aconteceu um enorme terremoto. O sol
7 Depois desses eventos, observei quatro
anjos em pé nos quatro cantos da ter-
ra, com a missão de reter os quatro ventos

5 A expressão grega original chlõros descreve um tom de cor “amarelo esverdeado” (pálido), próprio da aparência de pessoas
portadoras de graves doenças, o que simboliza a pestilência, epidemias e a morte. Aqui a “Morte” é personificada (1Co 15.26;
Rm 5.14,17; 6.9), e o Hades, expressão grega, derivada do termo hebraico Sheol (v.1.18; 20.13,14; Mt 16.18), que pode significar
“sepulcro” ou “inferno”, em alguns casos. Tem aqui melhor tradução como “lugar dos mortos”, pois no NT é companheiro da morte
(1Co 15.55; Ap 6.8; 20.13-14). Os soldados romanos lançaram milhares de cristãos e pessoas consideradas criminosas às feras na
arena, em espetáculo público. Estes são alguns dos sinais previstos por Cristo como indicação do seu breve retorno (Mt 24.6-28).
6 No ritual do sacrifício do AT, o sangue do animal oferecido ao Senhor era derramado na base do altar (Êx 29.12; Lv 4.7).
7 O símbolo da justiça e pureza de Cristo é atribuído também aos cristãos martirizados, como se o sangue e a dor desses
homens e mulheres fossem um sacrifício aos pés do altar de Deus (Fp 2.17; 2Tm 4.6, em paralelo a Lv 4.7). É o sangue dos servos
do Senhor que reivindicam o julgamento de Deus sobre os ímpios e toda a forma de injustiça sobre a terra. Há um número dos
eleitos (justificados) que se completará naturalmente por conversão a Cristo antes de seu glorioso retorno (Rm 11.12). Embora
não seja possível determinar com exatidão que número é esse, o que João nos profetiza é que haverá muitos outros mártires
até a volta do Senhor.
8 Terremotos sempre fizeram parte da expressão do castigo divino sobre a humanidade (Êx 19.18; Is 2.19; 13.10; Ez 32.7; Ag
2.6). Os terremotos que sinalizarão as colossais alterações físicas da terra e prenunciarão o glorioso retorno de Cristo, o final dos
tempos e a transformação total da criação, terão magnitudes inimagináveis. Toda a descrição do sexto selo está relacionada aos
fenômenos cósmicos profetizados pelo próprio Senhor Jesus (Mt 24.29; Mc 13.24-25; Lc 21.25). O apóstolo Pedro, igualmente,
cita o profeta Joel em seu sermão no Pentecostes, como uma indicação da iminência histórica desses eventos (At 2.20; Jl 2.31).
9 Um dos últimos sinais que antecederão ao glorioso retorno do Senhor ocorrerá no firmamento. As pessoas olharão para o céu
escuro e verão algo como uma intensa e prolongada chuva de estrelas cadentes. Os figos que surgem no inverno são soprados
facilmente das árvores sem folhas pelos fortes ventos desta estação (Mc 13.25,26). Um outro fenômeno (em geral, relatados
nas Escrituras sob o ponto de vista do observador leigo e não de cientistas especializados) será o desaparecimento do céu (a
abóbada atmosférica azul que observamos hoje em torno da terra), desmantelamento das cordilheiras e montanhas em todo o
mundo, assim como o desaparecimento ou anexação ao continente de todas as ilhas (16.20; 20.11; Is 34.4; Jr 4.24; Na 1.5).
10 No Dia do Senhor, até mesmo os generais experientes e destemidos (na época de João um general romano comandava uma
coorte, cerca de mil soldados guerreiros) se acuarão desesperados nas cavernas (comuns na região da Palestina), reconhecerão

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APOCALIPSE 7 14

da terra e evitar que qualquer massa de ar Naftali; doze mil, da tribo de Manassés;
fosse soprada sobre a terra, o mar ou em doze mil,
qualquer árvore.1 7 da tribo de Simeão; doze mil, da tribo
2 Então, vi um outro anjo subindo do de Levi; doze mil, da tribo de Issacar;
Oriente, tendo o selo do Deus vivo. Ele doze mil,
bradou com voz grave aos quatro an- 8 da tribo de Zebulom; doze mil, da tribo
jos a quem havia sido concedido poder de José; doze mil, da tribo de Benjamim;
para produzir destruição na terra e no doze mil”.5
mar:
3 “Não danifiqueis a terra, nem o mar, ...e a enorme multidão de cristãos
nem as árvores, até que selemos a testa 9 Em seguida, olhei, e diante de mim
dos servos do nosso Deus!”. descortinava-se uma grande multidão
4 Então me foi revelado número dos que tão vasta que ninguém podia contar,
foram selados: “cento e quarenta e qua- formada por pessoas de todas as nações,
tro mil, de todas as tribos de Israel.3 tribos, povos e línguas. Estavam em pé,
5 Da tribo de Judá, foram selados doze diante do trono do Cordeiro, vestidos
mil, da tribo de Rúben; doze mil, da tribo com túnicas brancas, empunhando fo-
de Gade; doze mil,4 lhas de palmeira.6
6 da tribo de Aser; doze mil, da tribo de 10 E proclamavam com grande voz: “A

que o Cordeiro (o Jesus sacrificado) e Deus são a mesma pessoa, e temerão a ira do julgamento divino (5.6; 19.15; Is 2.10; Sf
1.14-18; Os 10.8; Jl 2.11; Na 1.6; Ml 3.2; Rm 1.18).
Capítulo 7
1 Este capítulo é uma espécie de parênteses entre a narrativa dos seis primeiros selos e a visão do selo final. Essa mesma
característica ocorre na seqüência descritiva da visão das trombetas (10.1 – 11.13). O capítulo sete nos revela duas visões espe-
cíficas: o selo dos 144.000 fiéis de Israel (v. 1-8) e a vasta multidão dos crentes comemorando a salvação e a vitória do Cordeiro
(v. 9-17). Os quatro cantos da terra simbolizam os quatro pontos cardeais da bússola (Zc 6.5). Deus controla a história, assim
como todos os fenômenos físicos e meteorológicos em função do seu plano em Cristo para a plena e eterna redenção do seu
povo (judeus e cristãos).
2 Na antigüidade, os documentos importantes e os que circulavam entre os nobres eram enrolados ou dobrados, amarrados,
e uma massa especial de argila era aplicada sobre o nó. Assim, o remetente carimbava a massa que se endurecia, com seu anel
ou sinete (com a marca da família), que autenticava e protegia aquele conteúdo. O capítulo 7 deixa claro que o Nome de Jesus
Cristo é o lacre (selo) de propriedade de Deus, registrado na fronte de todos os que nele crêem sinceramente. O objetivo desta
marca espiritual é proteger o povo de Deus dos terríveis juízos que acometerão toda a terra. Assim como aconteceu no Egito, para
a libertação do povo de Deus da escravatura (Êx 12.29-36), o profeta Ezequiel adverte Israel quanto à destruição de Jerusalém e
de todos os não selados por Deus (o que de fato ocorreu, por meio da invasão babilônica, seis anos após a proclamação dessa
profecia). Na época de Ezequiel, o Senhor marcou os crentes sinceros com a última letra do antigo alfabeto hebraico (tav), que
era escrita de modo fenício, semelhante a um “X” ou sinal de “cruz” (Ez 9.4).
3 Algumas das seitas heréticas, que pregam que 144.000 é o número exato dos salvos, já contam com um número maior
do que este de adeptos. Os livros proféticos e apocalípticos da Bíblia são alvos de várias interpretações, e é necessário muito
discernimento espiritual, visão integral e histórica das Escrituras, conhecimento das línguas originais e a indispensável graça
divina para uma interpretação adequada e saudável. Contudo, as mensagens vitais de cada livro podem ser compreendidas sem
dificuldade, restando à investigação acurada os aspectos menos fundamentais e detalhes instigantes. Quanto a essa passagem,
por exemplo, duas posições teológicas são defendidas por estudiosos cristãos sérios: 1) Alguns vêem aqui uma referência aos
membros das tribos judaicas, o remanescente israelita fiel da “grande tribulação” (v.14). 2) Um outro grupo defende o simbolismo
deste trecho, e o interpretam como sendo a expressão alegórica do número que indica completeza (144.000 é o equivalente a
mil dúzias de doze, o que seria uma espécie de hipérbole numerológica). Simboliza todos os cristãos que permanecem fiéis ao
Senhor mesmo vivendo num mundo secularizado, hedonista e materialista, e também inclui os judeus que ainda serão salvos por
Cristo e que não se dobrarão aos ditames do anticristo durante a “grande tribulação”.
4 A tribo de Judá é listada antes de Rúben, seu irmão mais velho, devido ao fato do Cristo (o Messias, em hebraico) pertencer
à linhagem da tribo de Judá (Gn 37.21).
5 Manassés era a mais pobre e frágil das tribos de José (Efraim e Manassés). Entretanto, aqui é mencionada para completar
as doze tribos (Jz 6), considerando que Dã fora excluída (assim como Judas Iscariotes que foi infiel e teve de ser substituído no
grupo dos Doze), por causa de sua avareza e idolatria (Jz 18.30). Uma antiga tradição judaica prevê que o último anticristo virá
da tribo de Dã.
6 As pessoas que fazem parte do povo de Deus na terra se reunirão no grande palácio celestial, diante do trono do Cordeiro.
Essa multidão incontável é composta de todos os salvos de todas as partes da terra. Essa visão pode referir-se aos mesmos

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15 APOCALIPSE 7, 8

Salvação pertence ao nosso Deus, que se seu santuário; e Aquele que está assenta-
assenta no trono e ao Cordeiro!”.7 do no trono estenderá sobre eles o seu
11 Todos os anjos que se encontravam tabernáculo.10
em pé ao redor do trono dos anciãos e 16 Nunca mais passarão fome, jamais
dos quatro seres viventes prostraram-se terão sede. Não os afligirá o sol, nem
diante do trono com o rosto em terra e tampouco qualquer mormaço,11
adoraram a Deus, 17 pois o Cordeiro que está no centro do
12 exclamando: “Amém! Louvor e glória, trono será o seu Pastor; Ele os conduzirá
sabedoria, ação de graças, sejam ao nosso às fontes das águas da vida, e Deus lhes
Deus para todo o sempre. Amém!”.8 enxugará dos olhos toda lágrima”.12
13 Então um dos anciãos me indagou:
“Quem são e de onde vieram todos O sétimo selo e o incensário
estes que estão vestidos com túnicas
brancas?”.
14 E eu lhe respondi: “Ó meu Senhor, tu
8 Quando o Cordeiro abriu o sétimo
selo houve absoluto silêncio nos céus
por aproximadamente meia hora.1
o sabes”. Então ele afirmou: “Estes são 2 Então, observei os sete anjos que se
os que vieram da grande tribulação e encontram em pé perante Deus, e lhes
lavaram as suas vestes e as alvejaram no foram entregues sete trombetas.2
sangue do Cordeiro.9 3 Aproximou-se um outro anjo e se
15 Por este motivo, eles estão perante o colocou em pé junto ao altar, portando
trono de Deus e o servem dia e noite em um incensário de ouro. A ele foi entregue

144.000 (se considerarmos esse número como um símbolo da vasta multidão dos eleitos), que, após a “grande tribulação” dos
últimos tempos (v.14), celebram e louvam ao Senhor por tão grande salvação e pela magnífica vitória sobre as perseguições,
provações (tentações) e a própria morte (vv. 16,17). A Igreja de Cristo é apresentada em Apocalipse e ao longo de todo o NT,
como o verdadeiro “Israel de Deus” (o povo do Senhor), judeus e não-judeus (Gl 6.16). Sendo assim, é possível compreender que
as duas multidões que aparecem neste capítulo se referem a uma só “inumerável multidão”, vista em dois momentos diferentes:
antes (1.3-8) e depois da “última tribulação” (Lc 21.16,18). As folhas de palmeira sendo agitadas e as vestiduras brancas são
fortes símbolos da vitória perpétua (Lv 23.40; Jo 12.13).
7 A salvação (no original hebraico tem o duplo sentido de cura e livramento) é propriedade exclusiva de Deus, que ele, graciosa
e soberanamente, oferece a todos que a recebem (Gn 49.18; Jn 2.9; Jo 1.12).
8 A seqüência de sete atributos enfatiza o louvor completo e perfeito (5.12).
9 A expressão “grande tribulação” (Dn 12.1; Mt 24.21; Mc 13.19) aponta para os terríveis constrangimentos éticos, morais e toda
espécie de hostilidades que o anticristo e seus comandados deflagrarão contra os judeus e cristãos fiéis, pouco antes do glorioso
retorno de Cristo. Todavia, é importante observar que uma crescente perseguição aos crentes vem ocorrendo, em alternância de
intensidade e método, desde os tempos de João.
10 Outro detalhe significativo a ser considerado está ligado ao termo original grego “templo”, que, nas dezesseis vezes em que
aparece neste livro, significa o “santuário interior” e não o recinto maior. Ou seja, “o lugar santo onde habita o Espírito de Deus”,
o qual simboliza o antigo “tabernáculo”, onde resplandecia a “presença do Senhor” no deserto (Lv 26.11-13).
11 Aqui estão em foco aqueles que sofreram os graves momentos de provação e tribulação provocados pelo anticristo (Is
49.10), mas não abdicaram de sua fé sincera no Senhor. Purificaram-se diariamente no sangue do Cordeiro e souberam honrar
seus corpos como a própria habitação do Espírito Santo. Agora chegaram às suas moradas no Reino de Deus, conforme a
promessa de Cristo, e estão perante seu trono para adorá-lo eternamente (Jo 14.1-6). O vocábulo original grego latreuõ comunica
um tipo de serviço espiritual (trabalho) que realmente agrada a Deus (v.14; Rm 1.9; At 26.7; Hb 12.28).
12 Sl 23.1,2; Ez 34.23; Is 25.8.
Capítulo 8
1 João observa que em todo o céu há uma pausa marcante e atônita antes da série final de punições que sobrevirão ao planeta.
Os julgamentos de Deus serão tão severos e terríveis que os próprios habitantes do céu ficam pasmos e comovidos com o castigo
dos ímpios. O tempo no céu não é cronometrado como na terra, contudo João procura nos comunicar a sensação que sente ao
presenciar esse momentum de absoluta apreensão no Universo.
2 Na época de João e especialmente no AT, usava-se o som forte e marcante das trombetas para anunciar acontecimentos
de grande importância nacional. A reverberação dos variados toques podia alcançar quilômetros de distância e servia para
orientar as estratégias bélicas dos generais e seus exércitos nas batalhas. As sete trombetas (caps. 8, 9 e 11.15-19) proclamam
uma série ainda mais severa de açoites contra a incredulidade, porém não mais terrível e devastadora como as reservadas nas
“taças” (cap. 16).

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APOCALIPSE 8 16

grande quantidade de incenso para ofe- 9 e morreu a terça parte das criaturas que
recer com as orações de todos os santos vivem no mar, e um terço de todas as
sobre o altar de ouro diante do trono.3 embarcações foram destruídas.
4 E da mão do anjo elevou-se na presença
de Deus a fumaça do incenso juntamente A terceira trombeta
com as orações dos santos. 10 O terceiro anjo tocou a sua trombeta,
5 Então, o anjo tomou o incensário, en- e precipitou do céu uma grande estrela,
cheu-o com o fogo do altar e lançou-o ardendo em chamas como tocha, sobre
sobre a terra; e aconteceram trovões, um terço dos rios e das fontes de águas
vozes, relâmpagos e um terremoto. da terra.
11 E o nome dessa estrela é Absinto; por-
A visão das sete trombetas tanto, um terço de toda a água potável
6 E aconteceu que os sete anjos que da terra se tornou amarga, e multidões
estavam com as sete trombetas prepara- morreram pela ação nefasta das águas
ram-se para tocá-las. que foram envenenadas.6

A primeira trombeta A quarta trombeta


7 O primeiro anjo tocou a sua trombeta, 12 O quarto anjo tocou a sua trombeta e
e ocorreu grande precipitação de granizo um terço do sol foi ferido, bem como a
e fogo misturado com sangue, os quais terça parte da lua e das estrelas, de ma-
foram lançados sobre a terra. E, assim, neira que um terço deles se escureceu
um terço de toda a terra foi queimado, completamente. Assim, um terço do
e também um terço das árvores e toda a dia ficou sem luz e também um terço
relva verde existente.4 da noite.7
13 Enquanto eu admirava esses aconteci-
A segunda trombeta mentos, ouvi uma águia que planava
8 O segundo anjo tocou a sua trombeta, pelo meio do céu grasnindo em alta voz:
e algo como uma enorme montanha ar- “Ai! Ai! Ai dos que habitam sobre a terra,
dendo em chamas foi arremessada sobre por causa dos toques das trombetas que
o mar. Por esse motivo, um terço do mar estão prestes a serem entoados pelos três
transformou-se em sangue,5 próximos anjos!”.8

3 O incensário, no AT, era uma espécie de panela repleta de carvão vegetal em brasa, usada para queimar o incenso na presen-
ça do Senhor, como um símbolo da fragrância e certeza de que todas as nossas orações sobem até o Pai, que sempre nos ouve
atentamente e nos educa em seu amor (Êx 27.3; 30.1; 1Rs 7.50; Mt 7.9; Rm 8.26-27). A expressão grega original, usada aqui por
João, nos permite apreender que o “incenso”, verdadeiro e espiritual, não é a fumaça perfumada que sobe quando queimada,
mas sim as próprias “orações”, quando evaporam dos nossos corações em brasa (Lv 16.12; Ez 10.2; Ap 5.8; 11.19; 16.18).
4 Há uma analogia simbólica entre a primeira trombeta e a quarta praga do Egito (Êx 9.13-25; Ez 38.22). As frações empregadas
por João não devem ser tomadas literalmente, pois indicam apenas que a punição anunciada pelas trombetas ainda não está
completa nem conclusiva (vs. 8,9,10,11,12).
5 Outra similaridade com as pragas do Egito (Êx 7.20,21): João observa um juízo escatológico, não derivado da poluição
natural, mas de grandes erupções vulcânicas em vários pontos do planeta em um mesmo “momentum”.
6 Absinto é uma planta de sabor desagradável e intensamente amargo, embora não letal. Aqui serve de metáfora para
comunicar a degradação da humanidade, bem como uma possível contaminação radioativa de grande parte da água potável do
planeta (6.13; 9.1; Êx 15.25; Pv 5.3,4; Jr 9.15; 23.15; Is 14.12; Lm 3.19).
7 Na nona praga do Egito, densas trevas cobriram a terra durante três dias (Êx 10.21-23; Is 13.10; Ez 32.7; Jl 2.10).
8 A expressão original grega e apocalíptica “os que habitam sobre a terra” refere-se aos “ímpios e incrédulos” que resistem à
convocação do Senhor para a salvação (6.10; 9.4). Até este ponto da narrativa de João, os julgamentos divinos haviam tocado
somente a natureza inanimada do planeta; agora, contudo, os três “Ais” proclamados pela águia anunciam os três castigos finais,
e cada pessoa incrédula sobre a face da terra experimentará a ira de Deus contra o pecado. Os sete juízos referentes às “taças”
dos capítulos 15 e 16 podem ser compreendidos como uma expressão do terceiro “Ai”.

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17 APOCALIPSE 9

A quinta trombeta Tinham sobre a cabeça algo como coroas


9 Então, o quinto anjo soou a trombeta,
e observei uma estrela que havia
caído do céu sobre a terra. Àquela
de ouro e o semblante deles era seme-
lhante ao rosto humano.
8 Os cabelos deles eram parecidos com
estrela foi entregue a chave do poço do os cabelos de mulher e os dentes como
Abismo.1 os de leão.
2 Assim que ela abriu o poço do Abismo, 9 Possuíam couraças como armaduras de
subiu dele fumaça como a de uma colos- ferro e o som das suas asas assemelhava-
sal fornalha. O sol e o céu escureceram se ao barulho de muitos cavalos e carrua-
com a fuligem que saía do Abismo. gens correndo em direção à batalha.5
3 Desta fuligem saíram gafanhotos que 10 Tinham também caudas e ferrões como
vieram sobre a terra e lhes foi concedido de escorpiões, e em suas caudas carrega-
poder como o dos escorpiões da terra.2 vam a capacidade de provocar tormentos
4 Contudo, eles receberam ordens para à humanidade por cinco meses.
não causar dano nem à relva da terra, 11 E havia um rei sobre eles, o anjo do
nem a qualquer planta ou árvore, mas Abismo, cujo nome em hebraico é Aba-
tão-somente àqueles que não haviam re- dom e, em grego, Apoliom.6
cebido o selo de Deus em suas frontes.3 12 Portanto, o primeiro dos “Ais” já passou;
5 Não lhes foi concedido poder para contudo, outros dois ainda estão por vir.
matá-los, mas para provocar-lhes tor-
mentos durante cinco meses. E a aflição A sexta trombeta
que eles sofreram era como a causada 13 Então, o sexto anjo fez soar a sua trom-
pela picada do escorpião. beta, e ouvi uma voz que se projetava dos
6 Assim, naqueles dias as pessoas pro- quatro ângulos do altar de ouro que se
curarão a morte, todavia não a encon- encontra na presença de Deus,7
trarão; desejarão morrer, mas a morte 14 dizendo ao sexto anjo que empunhava
fugirá deles.4 a trombeta: “Solta os quatro anjos que se
7 O aspecto dos gafanhotos fazia lem- encontram atados junto ao grande rio
brar cavalos preparados para a batalha. Eufrates!”.8

1 Aqui, a “estrela caída” refere-se simbolicamente à figura de “um anjo caído” (20.1,3). Em 8.10, a “estrela” tem a ver com uma
seqüência de distúrbios cósmicos. A expressão grega “Abismo” transmite o sentido de algo “muito profundo” ou “trevas sem
fim”, onde estão presos os espíritos rebeldes, reservados para o Dia do Juízo (1Pe 3.19; Jd 6). Expressão usada na Septuaginta
(versão grega do AT) para traduzir um termo hebraico que se refere às “profundezas primevas” (Gn 1.2; 7.11; Pv 8.28).
2 Similaridade com a oitava praga do Egito (Êx 10.1-20; Jl 2.4-10).
3 Os gafanhotos do Apocalipse têm uma missão especial (no primeiro dos “Ais” – 7.3), não atacam os crentes nem devoram
seu alimento favorito (as folhas verdes), assim como ocorreu com os filhos de Israel durante as pragas no Egito (Êx 8.22; 9.4,26;
10.23; 11.7).
4 Cinco meses é o ciclo normal de vida dos gafanhotos orientais; também é o intervalo da estação seca na região (primavera até
final do verão), quando se espera a invasão dos enxames de gafanhotos famintos trazidos pelas correntes de ar. Pode-se imaginar
também o período de maior influência nefasta de um ataque nuclear. Um poeta romano do séc. I a.C., chamado Cornélio Galo,
escreveu: “Pior do que qualquer ferimento ou dor é a vontade de morrer sem poder” (10.8; Jó 3.21; Jl 1.6; 2.4; Lc 23.30).
5 Esses “gafanhotos” são identificados com a astúcia dos seres inteligentes e diabólicos. Vestem malhas de ferro ou de algum
material semelhante, que protegem pontos vitais de sua estrutura física. Os “cabelos de mulher” simbolizam possíveis antenas, e
os “dentes como os de leão”, a crueldade com que obedecem às ordens militares do Maligno (Jl 2.5).
6 Em hebraico, o nome “Abadom” significa “Destruidor”, traduzido como “Abismo” em Jó 28. Aqui, a tradução vem da expres-
são original grega “Apoliom”, cujo sentido é o mesmo e está de acordo com a missão deste grupo de soldados submissos a
Satanás (o anjo caído). A “estrela cadente” que abre o “Abismo” é expressão que aparece oito vezes no NT em grego, sete das
quais neste livro (v.1; Pv 15.11).
7 Esses “ângulos” eram projeções finais como chifres, que ficavam nos quatro cantos do altar de ouro no AT (8.3-5; Êx 27.2;
30.1-3). A tradição judaica ensinava que, nos últimos dias, aqueles que buscassem desesperadamente a salvação poderiam se
agarrar a esses ganchos (1Rs 1.50,51; 2.28; Am 3.14).
8 Na época de Salomão, a nação de Israel se estendia às fronteiras deste rio, o mais longo da Ásia ocidental (cerca de 2736 km).
O Eufrates separava as terras israelitas e seus principais inimigos históricos do leste (Is 8.5-8): Assíria e Babilônia (região em que

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APOCALIPSE 9, 10 18

15 Foram, então, soltos os quatro anjos os demônios e os ídolos de ouro, prata,


que se achavam preparados para aquele bronze, pedra e madeira; ídolos que não
exato momento, dia, mês e ano, a fim conseguem ver, nem ouvir, nem andar,10
de que matassem um terço de toda a 21 da mesma forma, não se arrepende-
humanidade. ram dos assassinatos cometidos, das suas
16 O número dos cavaleiros que forma- feitiçarias, da sua perversão sexual e de
vam os exércitos era de vinte mil vezes todas as formas de apropriação indébita.
dez milhares, de acordo com o número
que ouvi.9 O anjo e o pequeno livro do céu
17 Os cavaleiros e as montarias que vi em
minha visão tinham esta aparência: as
suas armaduras eram vermelhas como
10 Depois avistei outro anjo podero-
so que descia dos céus. Estava ele
envolto numa nuvem, e havia um arco-
o fogo, azuis como o jacinto e amarelas íris sobre sua cabeça. Sua face era como
como o enxofre. A cabeça das montarias a luz do sol e suas pernas como colunas
parecia a cabeça de um leão, e de suas bo- de fogo.1
cas lançavam fogo, fumaça e enxofre. 2 Ele segurava um livrinho que estava
18 E, por intermédio desses três elemen- desenrolado em sua mão. Então, colocou
tos de destruição: fogo, fumaça e enxofre o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo
eram cuspidos de suas bocas, foi morta sobre a terra,2
uma terça parte de toda a humanidade. 3 e bradou com grande voz, como um
19 O poder desses cavalos estava na sua forte rugido de leão. Assim que ele er-
boca e na sua cauda, porquanto as suas gueu seu clamor, os sete trovões soaram
caudas eram como cobras: possuíam ca- suas poderosas vozes.3
beças com as quais feriam as pessoas. 4 E quando os trovões terminaram
20 O restante da humanidade que não de fazer ecoar suas palavras, eu já ia
morreu por causa desses flagelos, nem escrever, quando ouvi uma voz do céu
mesmo diante disso se arrependeu das más que ordenava: “Guarda o que os sete
obras de suas mãos, deixando de adorar trovões disseram e não escrevas!”.4

atualmente se encontram a Síria e o Iraque). Na época de João, o Eufrates era o limite oriental do Império romano. Esses “quatro
anjos ou mensageiros” simbolizam uma espécie de generais militares comandados pelos cavaleiros demoníacos (v.15-19).
9 Mesmo o resultado desta expressão matemática, 200 milhões é apenas um número simbólico para evocar uma ordem de
grandeza incalculável (Sl 68.17; Dn 7.10; Ap 5.11). Aqui fica bem claro que a visão não se refere a grandes insetos, seres alados ou
simples montarias e seus cavaleiros, mas a grandes engenhos de guerra e destruição em massa. Aviões, helicópteros, submarinos
atômicos, mísseis inteligentes com ogivas nucleares, armas químicas e outros equipamentos bélicos de alta tecnologia, hoje sob
controle de Israel e das grandes potências militares da terra, podem perfeitamente realizar todas essas catástrofes e deflagrar um
grande e derradeiro conflito mundial. A visão de João enfatiza Deus agindo segundo seu exato cronograma, com datas e horas
marcadas. À medida que os eventos históricos evoluem para etapas mais dramáticas e desumanas, o Senhor continua a oferecer
sua Salvação às pessoas em todo o planeta e a clamar por um arrependimento que teima em não ocorrer (vv.20,21).
10 Sl 115.4-7; 135.15-17; Dn 5.4
Capítulo 10
1 Considerando que o livramento dos israelitas da escravidão no Egito (o Êxodo) serve de imagem e exemplo do que ocorre no
tempo apocalíptico, especialmente nessa parte central da visão de João, podemos compreender que as “colunas de fogo” do AT (Êx
13.21,22), que guiavam e protegiam o povo de Deus durante a viagem pelo deserto, representam as fortes e flamejantes “pernas” do
poderoso anjo do Senhor, que conduzirá os crentes pelo deserto das provações e da dor até nossa eterna Canaã (nome de origem
fenícia, que em hebraico antigo kena‘an, tem o sentido de “povo da terra”). Esse anjo, retratado em todo o seu esplendor e poder,
é uma representação viva (embaixador) do próprio Cristo ressuscitado e triunfante (5.2). O arco-íris simboliza a imensa bondade,
paciência e misericórdia divinas, especialmente quando se trata da Aliança de Deus com seu povo (Gn 9.8-17).
2 A palavra grega original, aqui traduzida por “livrinho” não é a mesma que “livro”, a qual aparece em 5.1, pois aquele primeiro
“rolo” tinha gravado um conteúdo que precisava ser comunicado (profetizado) às nações, enquanto esse “rolo menor” deveria
ser, literalmente no grego, “engolido” (Ez 2.9; 3.33).
3 Os sete trovões simbolizam o perfeito juízo de Deus sobre todas as nações e as punições divinas reservadas para todos
quantos dispensarem a graça salvadora de Cristo e os conselhos paternos do Senhor (8.5; 11.9; 16.18).
4 Aqui a expressão literal em grego é “lacra com o selo”. As profecias têm seu tempo certo de proclamação no cronograma de
Deus. O que os trovões profetizaram, especificamente, se refere aos últimos dias, quando será revelado (20.10; Dn 8.26; 12.4,9).

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19 APOCALIPSE 10, 11

5 O anjo, que vi em pé sobre o mar e a como o mel ao paladar; contudo, assim


terra, levantou a mão direita em direção que o engoli, meu estômago ficou muito
ao céu,5 amargo.
6 e jurou, por Aquele que vive pelos sécu- 11 Então, recebi a seguinte orientação: “É
los dos séculos e que criou o céu, a terra e necessário que profetizes novamente a
tudo o que neles existe, exclamando: “Eis respeito de muitos outros povos, nações,
que não haverá mais demora!”.6 línguas e reis”.
7 E, que nos dias da voz do sétimo
anjo, quando ele estiver para soar a sua Surgem as duas testemunhas
trombeta, o mistério de Deus se comple-
tará, exatamente da maneira como Ele
anunciou aos seus servos, os profetas.7
11 Então, foi-me entregue um caniço
semelhante a uma vara de medir,
e também recebi a seguinte orientação:
8 Então, a voz que eu havia ouvido do céu “Prepara-te e mede o templo de Deus,
falou comigo uma vez mais, ordenando: o seu altar e conta os adoradores que lá
“Vai e recebe o rolo aberto que está na estão reunidos;1
mão do anjo que se encontra em pé so- 2 contudo, não consideres o pátio exte-
bre o mar e sobre a terra”.8 rior; não tomes suas medidas, pois ele
9 Em seguida, me aproximei do anjo e foi entregue aos que não são judeus. Eles
lhe roguei que me desse o livrinho, ao pisarão a cidade santa durante quarenta
que Ele me declarou: “Pega-o e coma-o; e dois meses.2
ele lhe será amargo no estômago, todavia 3 Concederei poder às minhas duas tes-
doce como o mel na boca”.9 temunhas, a fim de que profetizem du-
10 Peguei o livrinho da mão do anjo e rante duzentos e sessenta dias em trajes
o comi depressa e, de fato, ele era doce escuros de pano de saco”.3

5 O ato de levantar a mão direita em direção ao céu era um símbolo da honestidade e responsabilidade, diante de Deus, dos
juramentos (Gn 14.22,23; Dt 32.40).
6 Aos mártires de 6.9-11, foi solicitado que tivessem mais um pouco de paciência e repousassem mais algum tempo. Agora,
entretanto, acabou-se o tempo extra de misericórdia e paciência para que a humanidade reconsiderasse sua decisão de apatia
ou revolta contra o Evangelho, e o juízo deve começar em breve (Dn 12.1,7; Mc 13.19).
7 O mistério revelado aqui é que Deus conquistou plena vitória sobre as forças do mal e reinará com os seus por toda a eterni-
dade (11.15; Dn 2.29,30; Rm 16.25,26).
8 As profecias apresentadas a seguir (vv.8-11) têm grande similaridade com as visões concedidas por Deus ao profeta Ezequiel
(Ez 2.8 – 3.3).
9 João foi revestido da unção profética para proclamar aos judeus e não-judeus as boas novas de salvação do Senhor Jesus, o
Cristo (o Messias, em hebraico). Deveria falar sobre os terríveis castigos que aguardam todos quantos rejeitam o sacrifício vicário
do Cordeiro e deixam de receber o selo (a marca) do Espírito de Deus. Por isso, é imperioso que o servo do Senhor continue
profetizando (v.11), especialmente além-mar, para todos os povos e culturas que desconhecem a Palavra da Salvação. O profeta
deve digerir a Palavra profética que é doce (libertadora) para todos os que são salvos (Sl 119.103), mas amarga para os que se
perdem (11.1-13; Jr 15.16; Ez 3.3-9).
Capítulo 11
1 O vocábulo grego original naos “santuário” refere-se à parte central do templo e incluía o chamado Lugar Santo e o Santo dos
Santos. O caniço era uma espécie de bambu fino, abundante às margens do rio Jordão, que por ser longo (podia chegar a mais
de seis metros de altura), reto e leve servia bem como uma grande régua (Ez 40.3; Zc 2.1,2).
2 O conhecido pátio dos gentios era um espaço (cerca de 26 acres) concedido aos não-judeus nos limites do templo. Quarenta
e dois meses é equivalente a 1260 dias (v.3), e à expressão apocalíptica: “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”,
ou seja, são equivalentes a três anos e meio, ou ainda, metade de uma semana completa de anos (Dn 7.25; 9.27; 12.7,14; Lc
21.24). Formas de se referir a um tempo curto de aflição irrefreável. Embora os anticristos do passado, como o tirano sírio Antíoco
Epifânio, que assolou o povo e profanou o templo de Israel por volta do ano 166 a.C.; ou, em pleno séc.XX, o ditador Adolf Hitler
(1889-1945), na Segunda Guerra Mundial, outros mensageiros de Satanás tentarão exterminar o povo de Deus (Mt 24.15,22) em
todas as épocas e nações, até que surjam as iniqüidades e perseguições lideradas pelo último e mais terrível dos anticristos.
Todavia, por breve tempo e sob supervisão de Deus que protegerá todos os seus filhos.
3 As testemunhas são profetas e pregadores que lembrarão Elias e Moisés. Essas pessoas se vestirão de forma austera, como
os profetas do passado, que se vestiam com roupas grosseiras, feitas de pêlos negros de bode ou camelo. Eram trajes vestidos
por longo tempo, em sinal de luto ou arrependimento (2Rs 1.8; Jl 1.13; Jn 3.5,6; Mt 11.21).

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APOCALIPSE 11 20

4 Estas testemunhas simbolizam as aos outros, porquanto esses dois profetas


oliveiras e os dois candelabros que per- tinham afligido os que vivem na terra.
manecem firmes na presença do Senhor 11 Entretanto, depois de três dias e meio,
na terra.4 Deus soprou em seus corpos o espírito
5 Se alguém tentar causar-lhes algum da vida e eles tornaram a ficar em pé, e
dano, da boca deles sairá fogo que devo- um enorme pavor tomou conta de todos
rará os seus inimigos. Portanto, é assim quantos os viram.8
que deve ser destruída qualquer pessoa 12 Então, eles ouviram uma grave voz
que intentar contra suas vidas.5 que se projetava dos céus e lhes ordenou:
6 Estes homens têm a capacidade de “Subi vós para cá”. E elevaram-se ao céu
trancar o céu, de maneira que não chova numa nuvem, e os seus inimigos as ob-
durante o tempo em que estiverem servavam atônitos.
profetizando, e têm o poder de transfor- 13 Naquele momento, houve um grande
mar a água em sangue e ferir a terra com terremoto e desabou a décima parte da
toda espécie de flagelos, tantas vezes cidade. Sete mil pessoas morreram nesse
quantas ordenarem.6 terremoto, e os sobreviventes ficaram
7 Quando eles tiverem, então, concluído aterrorizados e expressaram glória ao
o testemunho que devem pregar, a Besta Deus dos céus.
que surge do Abismo os atacará e preva- 14 Assim, transcorreu o segundo dos
lecendo contra eles, os ferirá de morte.7 “Ais” e o terceiro virá sem demora!
8 Os seus cadáveres ficarão expostos
na rua principal da grande cidade, que A sétima trombeta
simbolicamente é denominada Sodoma 15 Então, o sétimo anjo fez soar sua
e Egito, onde, da mesma forma, foi cruci- trombeta e aconteceram no céu fortes
ficado o seu Senhor. vozes que proclamavam: “O reino do
9 Durante três dias e meio, gente de mundo se tornou de nosso Senhor e do
todos os povos, tribos, línguas e nações seu Cristo e Ele reinará pelos séculos dos
contemplarão seus corpos mortos, e não séculos!”.9
permitirão que sejam sepultados. 16 Os vinte e quatro anciãos que estavam
10 Os habitantes da terra muito se alegra- assentados em seus tronos diante de
rão pelo que aconteceu com as testemu- Deus prostraram-se sobre seus rostos e
nhas e festejarão, mandando presentes uns adoraram a Deus,

4 A linguagem metafórica aqui ressalta que o poder necessário para um testemunho eficaz é concedido exclusivamente pelo
Espírito Santo (Zc 4).
5 Esta passagem lembra os antigos confrontos entre o profeta Elias e os mensageiros de Acazias (2Rs 1.10-12).
6 Mais uma analogia à vida, ministério e poder dos profetas: Elias, que determinou uma seca para a glória de Deus, em sua
época (1Rs 17.1; Lc 4.25; Tg 1.17), e Moisés, que teve que lançar essa praga sobre os Egípcios durante sua batalha espiritual
para que o povo de Deus alcançasse a liberdade e pudesse partir para a terra da Promessa (Êx 7.17-21). As testemunhas lançarão
também poderosos açoites de Deus sobre a humanidade incrédula, com a esperança de quebrar a renitência do pecado, e que
alguns recebam a graça salvadora de Cristo em seus corações petrificados, e se tornem “pedras vivas” (2Ts 2.3-11; 1Pe 2.1-10).
7 Esta é a primeira menção feita ao monstro diabólico (a Besta do Apocalipse) e principal inimigo do povo de Deus nos últimos
dias (Dn 7.3,20,25). Esse representante poderoso de Satanás, que procede das profundas trevas do Abismo (9.1), terá permissão
de Deus para perseguir e submeter as testemunhas de Cristo ao mesmo destino do seu Senhor. A Besta é a mesma personifica-
ção do Diabo que surge do mar (13.1-7) e será montada por outra personagem demoníaca, a Grande Prostituta (17.1,8).
8 Para vários e sérios teólogos cristãos, esta passagem é uma profecia quanto ao fenômeno chamado de “Arrebatamento” dos
crentes em Cristo (em inglês, Rapture), que ocorrerá com o glorioso retorno de Jesus Cristo, e o encontro definitivo com sua
Igreja (16.15; 1Ts 4.17; 5.2). De qualquer maneira, não há dúvidas de que um terrível sentimento de medo e desespero sobrevirá
aos “habitantes da terra” (os incrédulos – v.10) ao observarem a ressurreição e ascensão das testemunhas ao céu (Ez 37.5,10; Is
1.9-10), assim como ocorreu com Cristo (Lc 24.50,51; At 1.9-11).
9 A sétima trombeta assinala definitivamente a chegada dos últimos dias da humanidade e da terra como são constituídas hoje
(10.6), e fecha o parêntese histórico que teve início em 10.1. A mensagem e os eventos profetizados por intermédio desse anjo,
ao tocar sua trombeta, consistem nos sete castigos anunciados no cap. 16 (Sl 115.13; Dn 7.14,27).

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21 APOCALIPSE 11, 12

17 E declaravam: “Graças te damos, Se- seus pés, e uma coroa de doze estrelas
nhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que sobre a cabeça.1
eras, porquanto assumiste o teu grande 2 Ela estava grávida e gritava de aflição,
poder e começaste a reinar. pois estava para dar à luz.2
18 De fato, as nações se enfureceram; 3 De repente, apareceu um outro sinal
chegou, todavia, a tua ira. Eis que é no céu: um poderoso Dragão vermelho
chegado o tempo de julgares os mortos com sete cabeças e dez chifres, possuindo
e de recompensares os teus servos, os sobre as cabeças sete coroas.3
profetas, os teus santos e os que temem 4 Sua cauda arrastou consigo uma terça
o teu Nome, tanto aos pequenos como parte das estrelas do céu, as quais arre-
aos grandes, e a hora de destruíres os que messou sobre a terra. O Dragão posicio-
assolam a terra”. nou-se diante da mulher que estava para
19 Nesse momento, se abriu o santuário dar à luz, a fim de devorar o seu filho
de Deus nos céus, e ali foi observada a assim que nascesse.
arca da Aliança. Houve relâmpagos, vo- 5 Todavia, nasceu-lhe um filho, um ho-
zes, trovões, um grande terremoto e um mem, que reinará sobre todas as nações
forte temporal de granizo.10 com cetro de ferro. E o seu filho foi arreba-
tado para junto de Deus e de seu trono.4
A Mulher agraciada e o Dragão 6 A mulher fugiu para o deserto, para um

12 Eis, então, que surge nos céus um


portentoso sinal: uma mulher
vestida do sol, com a lua debaixo dos
lugar que lhe havia sido preparado por
Deus, para que ali a sustentassem pelo
período de mil duzentos e sessenta dias.5

10 João tem uma visão do próprio santuário celestial, e nada é escondido ao olhar do profeta. A antiga Arca da Aliança, uma
caixa de madeira feita de acácia (Dt 10.1,2), simboliza a presença gloriosa de Deus entre o seu povo amado. Entretanto, esse
símbolo sagrado dos judeus foi destruído, juntamente com todo o templo, pelos exércitos de Nabuzaradá (2Rs 25.8-10). Seu
desaparecimento também ilustra o afastamento da glória do Senhor do seu povo e das nações, aliança que é perfeitamente
restabelecida em Cristo, confirmando a imutabilidade das promessas do Senhor (vv.15-19; 8.5; 16.18).
Capítulo 12
1 Após a visão dos sete selos e das sete trombetas, e antes das sete taças, ocorre uma visão ainda mais inusitada e misteriosa.
Sete personagens projetadas no céu e envolvidas em terríveis conflitos e guerras: A Mulher, abençoada com a graça de Deus
(personificada em Maria, mãe de Jesus), simbolizando Israel e todos os crentes no Senhor (Gl 4.26; 37.9). O Dragão, que
representa o Diabo e suas manifestações (vv.3,4). O Filho, referência a Cristo (vv.5,6). O anjo Miguel, encarregado de proteger
Israel (vv.7-12; Dn 10.13,21; 12.1). A Besta que emerge do mar e, num sentido historicamente imediato, se refere a Domiciano,
Imperador romano entre os anos 81 e 96 d.C. Filho de Vespasiano, da dinastia dos Flávios, iniciou seu governo com notável
sabedoria, senso administrativo e militar, tendo conquistado toda a Bretanha. Entretanto, com o passar do tempo, tornou-se
arrogante, extremamente despótico e violento. Seu regime de terror perseguiu e executou milhares de religiosos e intelectuais
judeus e cristãos. Foi assassinado num motim de seus próprios senadores, tramado por sua esposa. Contudo, esses fatos e
pessoas simbolizam as ações devastadoras dos anticristos e, especialmente, do último anticristo contra o povo de Deus (13.1-
10). Por fim, há o surgimento da Besta que sobe da terra, alertando aos leitores deste livro sobre os sacerdotes, que no passado
exigiam o culto pagão à imagem do Imperador, e simbolizam os religiosos que se aliarão ao falso profeta e prestarão culto à
própria imagem do anticristo, num período de grande aflição e sofrimento, antes do Milênio (13.11-18).
2 Descrição do renascimento de Jerusalém em Is 66.7 (Mq 4.10).
3 Os dragões fazem parte da mitologia da maioria dos povos antigos, quase sempre simbolizando poder. No AT e na cultura
judaica, representam os inimigos de Deus e de Israel (Sl 74.14; Is 27.1; Ez 29.3; Dn 7.7). Na visão de João, o Dragão é a
personificação de Satanás, e o vermelho (em grego purros) quer dizer “cor de fogo”. Seu objetivo prioritário foi destruir o Filho de
Deus, desde sua encarnação e nascimento, o que lhe daria total chance de vitória sobre o povo de Deus (v.10). As sete cabeças
simbolizam inteligência além do normal, e os chifres, poder extraordinário (13.1).
4 Uma clara alusão ao Filho de Deus, Jesus Cristo, o Messias prometido no AT, que governaria todo o Universo com “cetro de
ferro”, ou seja, com amor, sabedoria e justiça (2.27; Sl 2.9; Is 11.4; Dn 8.10).
5 Seguindo a linha de interpretação escatológica, que observa o cumprimento das profecias a curto, médio e longo prazos,
temos aqui uma ilustração da proteção especial que Deus concedeu ao seu povo ao sair do Egito em peregrinação pelo deserto
até a terra da Promessa; mas, ao mesmo tempo, temos também uma referência à proteção de Deus para com José, Maria e o
menino Jesus, ao peregrinarem pelo deserto rumo a Belém e depois até o Egito (Lc 2.1-7; Mt 2.13-15). Essa profecia é ainda
aplicada à terrível destruição de Jerusalém (69-70 d.C.), quando muitos crentes foram alertados e escaparam daquele genocídio,

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APOCALIPSE 12, 13 22

A vitória de Cristo e do seu povo O Dragão persegue a Mulher


7 Houve, então, uma guerra nos céus. 13 Quando, pois, o Dragão se viu atirado
Miguel e seu exército de anjos lutaram para a terra, empreendeu forte persegui-
contra o Dragão, ao que o Dragão com ção à mulher que dera à luz o menino.
seus anjos revidaram.6 14 Então, foram entregues à mulher as
8 Contudo, estes não foram suficiente- duas asas da grande águia, a fim de que
mente poderosos e, desta maneira, per- pudesse voar até o local que lhe havia
deram o seu lugar nos céus. sido planejado no deserto, onde seria
9 Assim, o grande Dragão foi excluído sustentada pelo período de um tempo,
para sempre. Ele é a antiga serpente cha- tempos e meio tempo, absolutamente
mada Diabo ou Satanás, que tem a capa- fora do alcance da serpente.
cidade de enganar o mundo inteiro. Ele e 15 E foi por essa razão que a serpente fez
seus anjos foram lançados à terra. jorrar água da sua boca como se fosse
10 Então, ouvi uma voz grave que vinha um forte rio, com o objetivo de alcançar
dos céus proclamando: “Eis que agora a mulher e arrastá-la com a correnteza.
chegou a salvação, o poder e o Reino do 16 Contudo, a terra cooperou com a mu-
nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, lher, abrindo a boca e devorando o rio
pois foi expulso o Acusador de nossos que o Dragão fizera jorrar da sua boca.8
irmãos, o mesmo que os denuncia de dia 17 Então, irou-se tremendamente o Dra-
e de noite, perante o nosso Deus. gão contra a mulher e partiu para atacar
11 Eles, portanto, o venceram por causa o restante da sua descendência, os que
do sangue do Cordeiro e por intermédio obedecem aos mandamentos de Deus e
da palavra do testemunho que anuncia- se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus.9
ram; posto que, face a face com a morte, 18 E assim, o Dragão se colocou em pé
não amaram mais a própria vida! sobre a areia do mar.
12 Sendo assim, celebrai, ó céus, e vós os
que neles habitais! Entretanto, ai da terra A Besta que se levantou do mar
e do mar, pois o Diabo desceu até vós,
e ele está totalmente encolerizado, por-
quanto sabe que pouco tempo lhe resta
13 Então, observei que emergiu do
mar uma Besta que tinha dez chifres
e sete cabeças e, sobre os chifres, dez coroas
para seu fim.7 e, em cada cabeça um nome de blasfêmia!1

e se refugiaram na cidade de Pela, no deserto além do Jordão. E a profecia continua valendo para o futuro, quando os crentes
sinceros e obedientes ao Senhor receberão poder e sabedoria para fugir das artimanhas e perseguições do Diabo e seus
demônios. Os “mil duzentos e sessenta dias” é um símbolo do período especial de proteção divina correspondente à duração
das perseguições mais severas (11.2; 13.5). Nesse sentido, o deserto não se refere simplesmente a uma grande área coberta de
areia, mas a um lugar de refúgio, proteção e isolamento (Os 2.14).
6 Satanás, tendo sido derrotado na terra e não conseguido destruir o Filho de Deus, ataca os exércitos do Senhor nos céus e
tenta invadir a Glória de Deus, a fim de continuar a perseguir a Cristo. Entretanto, é derrotado pelos anjos do Senhor, e isso faz
aumentar ainda mais seu ódio e sede de vingança, impulsionando-o ferozmente contra todos os crentes. O anjo Miguel, como
responsável pela guarda de Israel, protegerá os israelitas nas grandes aflições dos últimos dias (Dn 10.13,21; 12.1).
7 Ao ser vencido e lançado de volta à terra, Satanás canalizou toda a sua revolta e fúria contra os cristãos e Israel (a Mulher).
Assim, desde a ascensão de Jesus até os nossos dias, as perseguições contra os israelitas e cristãos em todo o mundo tem
sido variadas e ininterruptas. É raro, nos dias atuais, não se ouvir uma notícia trágica sobre Israel ou seu povo nos noticiários da
imprensa mundial (v.13). Essas hostilidades ainda crescerão em violência e dramaticidade, até atingirem seu ápice no período
chamado de Grande Tribulação (13.7,17; Mt 24.21; Jó 1.9-11; Zc 3.1). Contudo, o Senhor garante que o tempo está passando
muito depressa e que, num prazo historicamente breve, Satanás será definitivamente destruído.
8 Uma analogia ao fato ocorrido em Nm 16.30-33, no qual os seguidores de Corá foram engolidos vivos pela terra (Dn 7.25; 12.7)
9 Alusão a uma perseguição satânica final, engendrada e implementada pelo anticristo, especificamente contra a geração dos
cristãos sinceros que viverem nos últimos tempos (cap. 13).
Capítulo 13
1 O termo original grego qhrivon, transliterado por therion e traduzido pela expressão “Besta”, que significa “poderoso animal
selvagem” (11.7,36). Seus poderes foram legados de forma mística pelo próprio Diabo (o Dragão). A Besta simboliza toda

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23 APOCALIPSE 13

2 E a Besta que vi era semelhante a um 9 Aquele que tem ouvidos, compreenda


leopardo, porém tinha pés como os de esta palavra:
urso e boca como a de leão. O Dragão 10 “Se alguém tem que ir para o cativeiro,
passou à Besta o seu poder, o seu trono e certamente, para o cativeiro irá. E se
grande autoridade. alguém matar à espada, é necessário
3 Notei que uma das cabeças da Besta pa- que pela espada seja morto!”.
recia ter sofrido um golpe mortal, contu-
do, tal ferimento de morte foi curado. E A Besta que se levantou da terra
toda a humanidade ficou maravilhada e 11 Vi ainda emergir da terra outra Besta
seguiu a Besta. com dois chifres semelhantes aos de um
4 Passaram a adorar o Dragão, o qual cordeiro, e ela se expressava como o
tinha transferido autoridade à Besta, Dragão.4
então todos também começaram a adorar 12 Também exercia a mesma autoridade
a Besta, exclamando: “Quem é semelhante da primeira Besta, em nome dela, e obri-
à Besta? Quem pode guerrear contra ela?”. gava a terra e seus habitantes a adorarem
5 À Besta foi concedida uma boca para a primeira Besta, cujo ferimento mortal
pronunciar palavras arrogantes e blas- tinha sido curado.
femas, e lhe foi transmitida autoridade 13 Ela realizava grandes sinais à vista da
para realizar suas obras por quarenta e humanidade, de maneira que fazia até
dois meses. descer fogo do céu para a terra;
6 Então, abriu a boca em blasfêmias contra 14 e, por intermédio dos sinais que lhe
Deus e para amaldiçoar o seu Nome, seu fora permitido realizar em nome da
Tabernáculo e os que habitam nos céus. primeira Besta, enganou os habitantes
7 Foi-lhe concedido também poder para da terra e ordenou-lhes que edificassem
guerrear contra os santos e vencê-los. E uma imagem em honra à Besta que fora
recebeu autoridade sobre toda a tribo, ferida de morte pela espada, contudo
povo, língua e nação.2 sobrevivera.
8 Todos os habitantes da terra adorarão 15 Além disso, foi-lhe dado poder para dar
a Besta, ou seja, todos aqueles que não fôlego à imagem da primeira Besta, de
tiveram seus nomes escritos no Livro da maneira que ela tivesse a capacidade de
Vida do Cordeiro, que foi imolado desde falar, e fizesse com que todos os que não
a criação do Universo.3 lhe prestassem adoração fossem mortos.

espécie de deificação do homem ou da autoridade secular. Essa tem sido a marca de todos os tiranos e anticristos do passado,
como o rei Antíoco Epifânio (Dn 7.25; 8.9-14; Ap 17.3-12), especialmente a partir dos imperadores romanos. Será também a
principal característica do último e mais terrível anticristo que precederá o glorioso retorno de Cristo (Mt 24.15-31; 2Ts 2.1-12).
O cenário que se arma coincide com a visão que Daniel teve acerca das quatro grandes feras, que significavam poderosos
impérios já passados (Dn 7.2-7): babilônico (De 626 a 539 a.C), medo-persa (até 300 a.C), grego (até 63 a.C) e romano (até
cerca de 110 d.C).
2 A Besta terá uma vitória apenas externa por meio do martírio dos cristãos que não negarem sua fé no Senhor. Apesar da morte, as
almas dos crentes estarão preservadas pelo Espírito Santo (6.9-11; Mt 24.12; Sl 69.28). O Diabo tem profunda inveja de Deus e procura
imitar todos os procedimentos criativos do Senhor, visando receber da humanidade toda a adoração à sua pessoa sedutora e nefasta.
Por isso, vem tentando ao longo da história e nos últimos dias, com mais intensidade e evidência, projetar a imagem do seu anticristo
como melhor substituto mundial de Jesus Cristo, o Filho de Deus, de quem é o verdadeiro e eterno domínio (5.9; 7.9; Jr 15.2).
3 O sacrifício vicário de Jesus Cristo fez parte do propósito remidor de Deus mesmo antes da criação do Universo. Os planos,
mandamentos e profecias do Senhor são tão reais e concretos quanto os próprios acontecimentos em si (At 2.23; Ef 1.4).
4 O Diabo, em sua inveja insana de Deus, desenvolve uma imitação da pessoa e da espiritualidade de Jesus na forma de um
poderoso, carismático e ardiloso “falso profeta” (19.20), cuja forma exterior de cordeiro (pretenso exemplo de pessoa amável e
beneficente) será usada pelo Dragão para seduzir e chefiar uma religião que adensará milhões de adoradores, de todas as partes
do mundo, aos pés do anticristo. Com suas “feras diabólicas e sedutoras”, Satanás dominará por um tempo os três grandes
pilares da sociedade moderna: economia, política e religião. Da mesma forma como ocorreu na época de João, quando o povo
de Deus foi obrigado a se render à adoração dos imperadores romanos, assim será no mundo atual, pouco antes da volta de
Cristo (Mt 24.24).

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APOCALIPSE 13, 14 24

16 Ela obrigou a todos, pequenos e quatro mil, que ostentavam, escritos em


grandes, ricos e pobres, livres e escravos suas frontes: o nome dele e de seu Pai.1
a aceitarem certa estampa de marca na 2 Ouvi um som do céu, como o barulho
mão direita ou na testa,5 de um temporal e o estrondo de um
17 a fim de que ninguém pudesse com- grande trovão. O som que ouvi era como
prar nem vender, a não ser que apresen- de harpistas que tocavam suas harpas.
tasse a tal marca, que é o nome da Besta 3 Entoavam um cântico novo, diante do
ou o número do seu nome. trono e perante os quatro seres viventes e
18 Aqui é preciso decifrar. Aquele que dos anciãos; e ninguém podia aprender
tem sabedoria calcule o número da Bes- o cântico, a não ser os cento e quarenta e
ta, pois o número representa o nome de quatro mil que haviam sido comprados
um ser humano. Seu número é seiscentos da terra.
e sessenta e seis!6 4 Estes são os que não se macularam com
mulheres, porque são virgens. São os que
O Cordeiro e seus remidos seguem ao Cordeiro aonde quer que vá.

14 Então, olhei e vi diante de mim


o Cordeiro em pé sobre o monte
Sião, e junto a Ele cento e quarenta e
Foram comprados dentre todos os seres
humanos e foram os primeiros a ser ofe-
recidos a Deus e ao Cordeiro.2

5 Como já vimos (nota 5 do cap. 12), as profecias podem ter uma realização imediata e repetida ao longo da história até o
final dos tempos. Assim, os anticristos sempre forçaram as pessoas, especialmente o povo de Deus, a se renderem às suas
“personas” como “divindades” e, para tanto, usaram de toda espécie de tortura e humilhações, como o ferretear de escravos
ou presos militares, o carimbar passaportes e outros documentos com expressões discriminatórias. A marca da Besta será uma
espécie de prova de fidelidade às exigências do culto imperial à personalidade do último anticristo. Esse ato será promovido e
supervisionado pelo “falso profeta” (a Besta possuída pelo Dragão), e um dos últimos símbolos da globalização, do ecumenismo
e da padronização dos comportamentos da humanidade em favor do anticristo e de seu sistema mundial de valores (v.17; 14.9,11;
15.2; 19.20; 20.4). Essa também será uma das últimas grandes tentativas do Diabo para imitar (blasfemar) um procedimento santo
de Deus, isto é, o selo espiritual dos servos de Cristo (cap. 7).
6 Desde a Antigüidade, os escritos proféticos e apocalípticos judaicos costumavam atribuir às letras valores numéricos e
significados ocultos, o que facilitava a conferência da correção de um texto (especialmente das cópias) pela simples somatória das
letras, além de encerrar certos enigmas, a fim de evitar que as mensagens pudessem ser compreendidas pelos perseguidores do
povo de Deus. Na atualidade, muitos equipamentos usam letras que podem ser convertidas em números para suas operações.
A tríade maldita, formada pelo anticristo e suas bestas, convencerá a sociedade mundial a ostentar sua marca e implantará
um boicote econômico-financeiro contra todos os rebeldes. A marca do Diabo é um número que revela um nome humano. O
número seis, simboliza na numerologia judaica a imperfeição e a maldade, numa flagrante oposição e eterna incapacidade de
chegar à perfeição, bondade e justiça representadas pelo número sete. Portanto, sabemos que essa marca será uma expressão
da união desses três representantes do Diabo sobre a terra. Além disso, eles deflagrarão violenta e impiedosa oposição contra
seus opositores, especialmente aos judeus e cristãos sinceros. Considerando o passado, esta profecia traduz bem alguns líderes
tiranos mundiais e suas ações sanguinárias: Nabucodonosor, rei da Babilônia, que destruiu o primeiro Templo e escravizou o
povo de Israel; Antíoco Epifânio, rei da Síria, que profanou o segundo Templo e colocou uma estátua representando seus deuses
pagãos no Santo dos Santos; o comandante romano Tito e seu pai Vespasiano, que profanaram a terceira edificação do Templo
(70 d.C), sobre o qual profetizou Jesus, quarenta anos antes da destruição de Jerusalém (Mt 24); Domiciano, imperador romano
que obrigava todos os seus súditos a reverenciá-lo com uma frase protocolar (uma espécie de marca da blasfêmia), em latim:
Dominus et Deus noster (Nosso Senhor e Deus); Nero César; e já em meados do séc. XX, Adolf Hitler, com sua visão totalitária e
insana do estabelecimento de uma raça humana perfeita, sem ascendência judaica (ariana) e seu anti-semitismo diabólico.
Capítulo 14
1 No AT, o monte Sião foi conquistado por Davi e transformado numa espécie de fortaleza e capital da cidade pré-israelita de
Jerusalém (2Sm 5.7). No NT, e especialmente neste livro, simboliza a Jerusalém celestial, a eterna habitação de Deus e de seu
povo amado (Hb 12.22-24; Gl 4.26), que descerá até a nova terra, onde se implantará completamente o eterno Reino de Deus (Ap
21.2,3). Como já vimos em 7.4, aqui João contempla a imensa multidão dos salvos: todos os selados com o Espírito Santo de
Deus, o Nome do Filho e do Pai (Ez 9.4; Mt 28.19). Um número tão grande de pessoas que pareceu melhor ao Espírito expressá-lo
por meio de uma cifra semelhante ao número das tribos de Israel e dos apóstolos de Jesus, um valor santo, completo e perfeito,
multiplicado milhares de vezes: 144.000 ou mil dúzias vezes doze.
2 Mesmo considerando que alguns teólogos cristãos interpretam literalmente esta passagem, assim como o número dos
144.000 salvos, é preciso notar que, neste contexto, “a Mulher” representa “Israel” e que, portanto, a expressão “mulheres”
tem a ver com outras nações, cultos e sistemas de valores. Sendo assim, João está se referindo à grande multidão de pessoas,

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25 APOCALIPSE 14

5 Mentira alguma foi encontrada em seus 10 da mesma maneira, beberá o vinho da


lábios, e portanto, são irrepreensíveis.3 justiça severa de Deus, que foi derrama-
do sem misturas atenuantes no cálice da
As três proclamações dos anjos sua ira. E será atormentado com enxofre
6 Observei outro anjo, que voava pelo incandescente diante dos santos anjos do
meio do céu e portava nas mãos o Evan- Cordeiro.
gelho eterno para anunciar aos que habi- 11 E a fumaça da sua aflição será exalada
tam na terra, a toda nação, tribo, língua para todo o sempre. Para todos aqueles
e povo. que adoram a Besta e a sua imagem, e
7 Então, proclamou com voz grave: “Te- para quem recebe a marca do seu nome,
mei a Deus e rendei-lhe glória; porquanto não haverá repouso algum, dia e noite
a hora do seu Juízo chegou. Adorai Aquele sem cessar”.
que fez o céu, a terra, o mar e as fontes das 12 Aqui está a perseverança dos santos,
águas!”. daqueles que obedecem aos mandamen-
8 O segundo anjo o seguiu, exclamando: tos de Deus e permanecem fiéis a Jesus.6
“Caiu a grande Babilônia, que deu de 13 Então, ouvi uma voz grave do céu
beber a todas as nações do vinho da ira que ordenava: “Escreve: Bem-aventura-
da sua prostituição!”.4 dos os mortos que desde agora morrem
9 Seguiu-os ainda um terceiro anjo, aler- no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que
tando a todos em alta voz: “Se alguém descansem de suas lutas e trabalhos,
adorar a Besta e a sua imagem, e receber porquanto as suas obras os acompa-
sua marca na testa ou na mão;5 nham!”.7

ainda que seja um grupo específico vivendo durante a Grande Tribulação e que não se dobrou ao sistema sócio-politico-religioso
(sistema mundial de valores) ditado pelo anticristo. Ou seja, são homens e mulheres que se mantiveram espiritualmente “virgens”
(castos, imaculados) e não se entregaram à sedução e prostituição com os valores mundanos (Mt 19.21; Mc 8.34). Estão portanto,
libertos do pecado da “idolatria” que é “fornicação” (14.8; 17.2,4; 18.3,9; 19.2), com todas as suas implicações (2Pe 2.20-22).
Os salvos serão como aquela primeira parte da colheita (as Primícias) que era oferecida ao Senhor em agradecimento por sua
graça e misericórdia (Êx 23.19; Lv 23.9-14; Nm 18.12; Rm 16.5; 1Co 15.20). Ao mesmo tempo, o restante da humanidade, que
preferiu ficar ao lado da “poderosa tríade global” ostentará com prazer o número da Besta e, como uvas maduras, estarão sendo
reservadas para serem ceifadas e pisadas no lagar da ira do Senhor (vv.17-20).
3 O sentido dessa expressão é demonstrar que os cristãos sinceros jamais negam sua fé (termo que nos originais têm o sentido
de: fidelidade no Senhor. Nos últimos tempos, o sistema mundial, manipulado pelo Diabo e seus asseclas, tentará ridicularizar a
verdadeira fé cristã e os crentes em Cristo, para mais tarde forçá-los violentamente a negar seu amor por Deus. Nesse momento,
muitos cristãos não mentirão, e por isso, serão martirizados (Jo 18.37; Sf 3.13).
4 Temos aqui um caso clássico da máxima: “os ciclos históricos são pendulares e se repetem”. Por isso, as profecias
apocalípticas podem ser aplicadas às várias gerações até o Dia final. A antiga Babilônia foi erguida na Mesopotâmia (região onde
hoje se encontra o Iraque), por volta do ano 626 a.C., e se constituiu no mais prestigioso centro econômico, político, militar e
religioso do mundo de sua época. Luxo e depravação moral eram algumas das principais marcas de sua opulência e arrogância.
O profeta Daniel referiu-se a ela como “a grande Babilônia” (Dn 4.30). Durante a época de João, suas descrições correspondiam
ao Império de Roma (16.19; 17.5; 18.2-21). Em nossos dias, simboliza o sistema mundano de valores que envolve todos os
povos da terra e os seduz (embriaga) com os ideais de consumo e prazer produzidos pelas nações mais ricas. Contudo, no final
dos tempos uma grande potência mundial reunirá sob sua influência e controle todas as nações da terra, e exibirá as mesmas
características diabólicas da Babilônia. Sua queda, entretanto, assim como ocorreu com a primeira versão da Babilônia (cerca de
539 a.C.) é inevitável e definitiva (Is 21.9; Jr 51.8).
5 O terceiro anjo proclama diante dos céus e da terra a condenação do anticristo e dos seus seguidores (20.13-15). No AT, a ira
de Deus é habitualmente ilustrada como o cálice de vinho do juízo final (v.10,11), a ser provado, individualmente, pelos incrédulos
de todos os tempos e de todas as nações (Sl 75.8; Is 51.17; Jr 25.15). Sodoma e Gomorra são exemplos clássicos do derramar
da ira de Deus, quando foram destruídas por uma tempestade de enxofre ardente (Gn 19.24). O mesmo juízo será aplicado aos
ímpios, incrédulos e infiéis (Sl 11.6; Ap 19.20; 20.10; 21.8).
6 Um encorajamento aos cristãos para que jamais neguem sua fé em Jesus Cristo, sejam quais forem as formas de
constrangimento e perseguição que vierem a enfrentar, especialmente tendo em vista a forte tendência do mundo em se aliar ao
anticristo e seus comandados, e o trágico final que os aguarda (Mt 24.13).
7 A expressão original grega anapauõ, “habitar ou descansar em paz” revela uma das sete bem-aventuranças (prêmios – Mt 5.1-
12), expressas neste livro para aqueles que perseverarem na fidelidade a Cristo (Mt 11.28). Os bem-aventurados (muito felizes)
são: os que conhecem e obedecem a Palavra de Deus (1.3); os que morrem fiéis a Cristo (14.13); os que aguardam o glorioso

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APOCALIPSE 14, 15 26

Chegou a hora de ceifar a terra lâmina afiada por toda a terra, ajuntou
14 Olhei, e eis que diante de mim estava as uvas maduras e as lançou no imenso
uma nuvem branca e, assentado sobre a lagar da ira de Deus.
nuvem, alguém semelhante ao Filho do 20 E todas elas foram pisadas no lagar,
homem. Ele estava com uma coroa de ouro que fica fora da cidade, e o sangue que
na cabeça e uma foice afiada na mão.8 correu do lagar chegou ao nível do freio
15 Então, outro anjo saiu do santuário e dos cavalos, cobrindo uma distância de
clamava em alta voz ao que estava assen- cerca de trezentos quilômetros.10
tado sobre a nuvem: “Agora, pois, toma a
tua grande foice e faz a tua colheita, pois a Os sete anjos e os sete flagelos
safra da terra está madura e chegou a hora
de ceifá-la!”.
16 Em seguida, Aquele que estava assen-
15 Então, observei no céu um outro
grande e terrível sinal: sete anjos
empunhando os últimos flagelos, pois
tado sobre a nuvem passou a sua lâmina com estes se completa o Juízo severo de
de colheita por toda a humanidade e a Deus sobre a terra.1
terra foi ceifada.
Os remidos cantam ao Senhor
Ceifando as uvas da ira de Deus 2 Vi algo semelhante a um mar de vidro
17 Então, outro anjo partiu do santuário misturado com fogo; e, em pé, junto ao
celeste empunhando uma foice menor e mar, todos que haviam vencido a Besta,
afiada. a sua imagem e o número do seu nome.
18 E do altar saiu ainda mais um anjo, Eles empunhavam as harpas que haviam
com poder sobre o fogo, e clamou com sido entregues por Deus,2
forte voz ao que trazia a foice menor: 3 e cantavam o cântico de Moisés, ser-
“Passa a tua faca afiada e colhe todos os vo de Deus, e o cântico do Cordeiro:
cachos da extensa vinha da terra, porque “Grandes e admiráveis são as tuas obras,
as suas uvas já chegaram a ponto de se- ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e
rem ceifadas!”9 verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei
19 Sem demora, o anjo passou aquela das nações.3

retorno de Cristo em santidade (16.15); os convidados para a Ceia das bodas do Cordeiro (19.9); os que participam da primeira
ressurreição (20.6); os que atendem às orientações deste livro (22.7); e os que lavam suas vestes no sangue de Cristo (22.14).
8 Jesus Cristo, o Filho do homem, Rei dos reis, é o juiz máximo da história e da humanidade (1.13; Dn 7.13; Mt 3.12; Tg 4.12).
O termo grego original drepanon, “faca de colheita”, refere-se a uma grande lâmina afiada, em forma de foice, usada para colher
a safra de grãos, simbolizando o julgamento final (Jl 3.13; Mt 13.30-42). Alguns teólogos cristãos vêem nessa passagem uma
referência à grande reunião dos crentes com Cristo em seu glorioso retorno.
9 Esse é o anjo de 8.3-5, que tem a responsabilidade de executar o Juízo (Mt 18.8; Lc 9.54; 2Ts 1.7). A foice israelita (v.14), própria
para colheita de grãos consistia em uma lâmina curvada e afiada de ferro, ajustada a uma haste de madeira ou de osso, com um
longo cabo. A foice usada para podas e coleta dos cachos de uvas das videiras era uma espécie de faca menor e mais afiada.
10 Lagar era um grande recipiente, esculpido na rocha, onde os israelitas costumavam depositar as uvas maduras que seriam
pisadas com os pés descalços a fim de produzir o primeiro lote de suco da safra, sendo canalizado para outro recipiente inferior.
No AT, “pisar o lagar” era uma metáfora muito eloqüente quanto à execução inexorável da justiça severa (ira) de Deus (Is 63.3; Lm
1.15; Jl 3.13; Ap 19.15). Nos últimos tempos, esse terrível derramamento de sangue contaminaria os próprios limites da cidade
numa extensão de, literalmente, “mil e seiscentos estádios” (cada estádio equivale a 185 metros), ou seja, quase o tamanho atual
da Palestina de norte a sul.
Capítulo 15
1 Os versículos de 1 a 8 anunciam a última das três séries de sete juízos e o derramamento das setes taças repletas da ira de
Deus sobre toda impiedade (6.16; 8.2).
2 João, em sua primeira visão do trono de Deus, já tinha visto este mar simbolizando a separação entre a humanidade e o
Senhor (4.6). Agora, os cristãos martirizados estão celebrando a vitória definitiva dos crentes em Cristo (4.12,13; 5.8).
3 Outra analogia com a libertação que Deus proporcionou ao seu povo no Egito, mediante a pessoa de Moisés, seu servo,
cujo hino (Êx 15.1-18) era habitualmente entoado às tardes de sábado nas sinagogas, para celebrar ao Senhor por seu poder e
amor fiel (Dt 32; Sl 22; 92.5; 111.2). Os crentes, diante do trono celestial, louvam a Deus por um resgate ainda maior e perene.
Jesus Cristo, o próprio Filho de Deus, nos libertou do Império das trevas para a vida eterna (Jr 10.10; Jo 1.17; 6.32; Sl 86.9; 1Tm
1.17; Hb 3.2-6).

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27 APOCALIPSE 15, 16

4 Senhor, quem não temerá e não glorifi- pessoas portadoras da marca da Besta e
cará o teu Nome? Pois só Tu és santo por os adoradores da sua imagem foram ata-
isso, todas as nações virão e se prostrarão cados por feridas dolorosas e mortais.1
diante de ti, porque os teus juízos são
manifestos!”.4 O anjo e o segundo flagelo
5 Em seguida, olhei e observei que se 3 Veio o segundo anjo e derramou a sua
abriu nos céus o santuário, o tabernácu- taça sobre o mar, e este se transformou
lo da aliança. em sangue como de um morto, e morreu
todo ser vivente que havia no mar.2
Deus envia os sete flagelos
6 Então, partiram do santuário os sete O terceiro flagelo é derramado
anjos com os sete flagelos. Eles estavam 4 O terceiro anjo derramou a sua taça
vestidos de linho puro e resplandecente, nos rios e nas fontes, e todos eles se
e portavam cinturões de ouro ao redor transformaram em sangue.
do peito.5 5 Então, ouvi o anjo responsável pelas
7 E um dos quatro seres viventes entre- águas declarar: “Tu és Justo, Tu, o Santo,
gou aos sete anjos sete taças de ouro, que és e que eras, porquanto julgaste
repletas da ira de Deus, que vive pelos estes crimes;
séculos dos séculos. 6 porque eles derramaram o sangue dos
8 Imediatamente, o santuário se encheu teus santos e dos teus profetas, e agora Tu
da fumaça produzida pela glória e o po- lhes deste sangue para beber, pois isto é o
der de Deus, e ninguém podia entrar no que merecem”.3
santuário enquanto não se completas- 7 E ouvi que do altar procedia a seguinte
sem os sete flagelos dos sete anjos.6 aclamação: “Certamente, ó Senhor Deus,
Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são
O primeiro dos sete flagelos todos os teus juízos!”.

16 E aconteceu que ouvi uma forte


voz que vinha do santuário e
ordenava aos sete anjos: “Ide e derramai
O quarto flagelo
8 Veio o quarto anjo e derramou a sua
pela terra as sete taças da ira de Deus”. taça sobre o sol, e foi concedido poder
2 Partiu, pois, o primeiro anjo e der- ao sol para queimar a humanidade com
ramou a sua taça pela terra, e todas as fogo.4

4 João registra neste livro uma série de cânticos espirituais que exaltam a Cristo, como Rei, Senhor e Juiz soberano de todos
os povos, línguas e nações (5.9-13; 7.10,12; 11.15-18; 12.10-12; 16.5-7; 19.1-8, conforme Fp 2.6-11).
5 O tabernáculo foi o local onde a presença de Deus se manifestava ao povo de Israel na travessia do deserto (Êx 40.34,35)
e onde ficava a arca da aliança com as duas tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus, trazidas para a tenda santa, do alto
do monte Sinai, por Moisés (Êx 32.15; 38.21; Dt 10.5). Os últimos flagelos são uma analogia às últimas pragas usadas por Deus
contra os ímpios no Egito para a libertação do seu povo. Os centurões de ouro fazem parte dos paramentos reais, litúrgicos e
sacerdotais, e não militares (2Ts 1.7-9).
6 Outra forte analogia à presença gloriosa de Deus no tabernáculo. Essa fumaça representa o poder e a glória do Senhor (Êx
40.34; 1Rs 8.10,11; Ez 44.4). Assim como aconteceu com Moisés e Arão na consagração do tabernáculo no deserto, e quando
Salomão consagrou o Templo ao Senhor e a glória de Deus encheu poderosamente todo aquele espaço, ninguém terá acesso ao
lugar Santo antes da consumação dos sete juízos sobre a terra (Lv 9.23-24; 2Cr 5.13-14; 7.1-2; Is 6.4).
Capítulo 16
1 A exemplo do que ocorreu no passado, por ocasião do Êxodo do povo judaico, quando Deus enviou a sexta praga sobre o
Egito (Êx 9.9-11); agora, todos quantos compactuaram com a Besta, e usam seu símbolo ou marca (13.16), foram afligidos por
uma série de cânceres e feridas. Literalmente: “úlceras dolorosas que emanam odor repugnante” (Jó 2.7-13).
2 A primeira vida animal criada por Deus ocorreu no mar (Gn 1.20). Agora, como na primeira praga de Deus contra os ímpios no
Egito, as águas do mar deixaram de hospedar a vida e provocam morte e apodrecimento (Êx 7.17-21).
3 Deus reluta, em sua santa longanimidade, em punir os ímpios; entretanto, quando esse momento chegar, o castigo será
inexorável e proporcional às infrações e crimes de cada pecador (Is 49.26).
4 Os incrédulos, ainda que sob intenso sofrimento global, não darão atenção à voz do Senhor. Suas peles serão queimadas
violentamente pelos raios solares e, sabendo que Deus é o Senhor do Universo, blasfemarão contra o Criador e questionarão

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APOCALIPSE 16 28

9 As pessoas foram queimadas pelo for- 13 E aconteceu que observei saírem da


te calor e, colocando a culpa em Deus, boca do Dragão, da boca da Besta e
blasfemaram contra seu Nome, que tem da boca do Falso profeta três espíritos
domínio sobre estas pragas. Diante de imundos semelhantes a rãs;8
tudo isso, ainda recusaram arrepender- 14 Ora, são espíritos de demônios que
se de seus pecados para poderem render realizam sinais miraculosos; eles vão aos
glória a Ele. reis de todo mundo, a fim de reuni-los
para a batalha do grande Dia do Deus
O quinto flagelo Todo-Poderoso.
10 Então, o quinto anjo derramou a sua 15 “Eis que venho como vem o assaltante.
taça sobre o trono da Besta, cujo reino Bem-aventurado todo aquele que se
ficou sob trevas. A aflição foi de tal mantém alerta e conserva suas vestes
grandeza que os homens mordiam suas preparadas, pois assim não terá que
próprias línguas,5 correr nu e ter sua vergonha exposta ao
11 e blasfemavam contra o Deus dos céus, público”.9
por causa das terríveis dores que sentiam 16 Então, os três espíritos se reuniram em
provocadas por suas muitas feridas; um lugar que, em hebraico, é chamado
contudo, nem mesmo assim se arrepen- Armagedom.10
deram de suas obras malignas para que
pudessem glorificar ao Senhor.6 O sétimo e último flagelo
17 E aconteceu que o sétimo anjo derra-
O sexto flagelo mou a sua taça no ar, e do santuário
12 Veio o sexto anjo e derramou a sua taça projetou-se uma voz grave, que vinha do
sobre o grande rio Eufrates e suas águas trono e exclamava: “Está consumado!”.
secaram, a fim de que se preparasse o ca- 18 Imediatamente, ocorreram relâmpa-
minho para os reis que vêm do Oriente.7 gos, vozes, trovões e um colossal ter-

sua bondade para com a humanidade (Dt 28.22; 1Co 3.13; 2Pe 3.7). Embora a finalidade última das pragas e flagelos seja levar
o ímpio ao arrependimento, isso, infelizmente, não ocorrerá (Am 4.6-13).
5 A ira de Deus chega ao centro de comando do Diabo, numa analogia às trevas que caíram sobre o Egito por ocasião da nova
praga (Êx 10.21-23). A palavra original grega “trono” aparece neste livro 42 vezes, sendo que, apenas aqui e em 2.13, refere-se ao
trono do Inimigo. Nas demais referências, 40 vezes o termo está ligado à posição de absoluta soberania de Deus.
6 Uma característica natural dos ímpios e incrédulos (assim como ocorreu com o Faraó do Egito), ainda que sejam cultos, é o
fato de interpretarem as calamidades mundiais como indiferença ou impotência de Deus, e não como motivo de arrependimento
por suas faltas e pecados contra o Senhor e sua Igreja.
7 Heródoto, o grande historiador da antigüidade, narra como os persas conseguiram fazer um desvio no rio Eufrates, que corria
por baixo das muralhas da Babilônia, e o leito seco se transformou em estrada para a invasão dos exércitos de Ciro (539 a.C.).
Esse fato histórico ilustra bem a forma inesperada e rápida como acontecerá o assalto militar à herdeira dessa civilização pagã
(v.15; Is 11.15-16). Seja ela, Roma ou alguma nação poderosa, dirigida pelos três grandes representantes do Mal (o Anticristo, a
Besta e o Falso profeta).
8 Na tradição judaica, a rã é considerada um animal impuro, que também simboliza o espírito diabólico do engano (Lv 11.10).
A Besta usará o Falso profeta para comunicar ao mundo seus planos enganosos de paz e prosperidade, e vender ilusões aos
que ostentarem a sua marca (13.11).
9 Ainda que do ponto de vista humano, o glorioso retorno de Cristo esteja demorando, o crente fiel e previdente deve viver
vigiando (em grego, gregoreő “acordado”), preparado espiritualmente para seu definitivo encontro com Deus (3.18; Mt 22.11-13).
O cristão tem certeza de que Jesus voltará; será um retorno repentino, mas não inesperado para os crentes (Mt 24.36-44; 1Ts 5.4;
1Co 15.52). Muitos esfriarão sua fé e tantos outros cederão aos encantos da Besta, mas os cristãos sinceros e fiéis resistirão em
sua fé no Filho de Deus e sua Palavra (Lc 12.35-39; 1Pe 1.13; 5,8; 2Pe 3.8-12; Ap 7.13-14).
10 A expressão hebraica har megiddo é, aqui, traduzida pelo nome “Armagedom”, que é uma transliteração de “a colina
de Megido” (Jz 5.19), que se ergue na planície de Esdralom. Esse é um local histórico de grande orgulho nacional para os
israelenses e de impressionante valor simbólico-religioso. Em Armagedom, foram derrotados os cananeus (Jz 4.2); Gideão e seus
300 escolhidos venceram os midianitas (Jz 7); o rei Saul foi derrotado (1Sm 31); e a grande rainha Jezabel foi envergonhada e
morta (2Rs 9.33). A expressão Armagedom (2Rs 23.29; 2Cr 35.22), mais do que uma localização geográfica, simboliza a mundial
e derradeira batalha entre o povo de Deus contra as forças de Satanás (Sl 3; 2.2; Is 5.26-30; Jr 6.1-5; Ez 38).

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29 APOCALIPSE 16, 17

remoto. Nunca havia irrompido um nomes blasfemos e possuía sete cabeças e


terremoto de tão devastadoras propor- dez chifres.2
ções quanto esse, desde que o ser huma- 4 A mulher estava vestida de azul e
no existe sobre a terra. vermelho, e adornada de ouro, pedras
19 A grande cidade foi dividida em três preciosas e pérolas. Segurava um cálice
partes, e as cidades das nações simples- de ouro, transbordante de abominações
mente desmoronaram. Deus lembrou-se e de tudo quanto é próprio do engano e
da grande Babilônia e a fez beber o cálice da sua prostituição.
do vinho do furor da sua ira. 5 E, em sua fronte, ostentava a seguinte
20 Todas as ilhas fugiram e as montanhas inscrição enigmática: “A Grande Babilô-
foram aplainadas. nia, mãe das prostitutas e de todas as
21 Desabou o céu sobre a humanidade. práticas repugnantes sobre a terra”.3
Uma tempestade com enormes pedras 6 Notei que a mulher já estava embria-
de granizo, com cerca de trinta e cinco gada com o sangue dos santos, o sangue
quilos cada precipitou-se sobre os habi- dos mártires de Jesus. Assim que a vi, fui
tantes da terra, e eles blasfemaram contra tomado de grande espanto.4
Deus por causa dessa calamidade, pois o 7 Então o anjo me encorajou, dizendo:
seu castigo foi sobremodo grande.11 “Por que te admiraste? Eu te explicarei o
ministério desta mulher e da Besta que
A queda da última Babilônia a conduz, e que tem sete cabeças e dez

17 Então, eis que se aproximou um


dos sete anjos que têm as sete
taças e convidou-me, dizendo: “Vem
chifres.
8 A Besta que viste, era, e já não é. Ela está
para subir do Abismo e caminha para a
comigo, eu te mostrarei a condenação perdição. Os habitantes da terra, cujos
da grande prostituta que está assentada nomes não foram escritos no Livro da
sobre muitas águas,1 Vida desde a criação do mundo, ficarão
2 com quem os reis do mundo se prostitu- espantados quando virem a Besta, por-
íram e os habitantes da terra se embriaga- que ela era, agora não é, contudo virá.
ram com o vinho da sua sedução”. 9 Agora, é preciso sabedoria para decifrar:
3 Em seguida, o anjo conduziu-me em As sete cabeças são sete colinas sobre as
Espírito para um deserto. Ali observei quais está assentada a mulher.
uma mulher montada na Besta ver- 10 Significam, também, sete reis. Cinco
melho-escarlate, que estava coberta de deles já caíram, um ainda persiste, mas

11 A Babilônia, mais do que o nome de uma cidade ou nação, representa a capital do pecado; o quartel general da
personificação do Diabo, a Besta. Um lugar onde a cultura, a tecnologia e o paganismo se encontram para cooperar com os
ideais do anticristo. Na época de João, tinha tudo a ver com o Império de Roma; em meados do século XX, com o movimento
nazista mundial, mas, nos dias de maior exposição da tríade maldita (o Anticristo, a Besta e o Falso profeta), será destruída por um
terremoto de proporções inimagináveis. Uma forte chuva de pedras, pesando literalmente “um talento” (cerca de 35 quilos) cada,
desabará sobre os sobreviventes do terremoto. Entretanto, o coração endurecido e odioso dos incrédulos não saberá reconhecer
em todos esses terríveis sinais o apelo final de Deus ao arrependimento e salvação da humanidade em Cristo (Jo 1.11,12).
Capítulo 17
1 O próprio anjo, no v.18, nos esclarece quanto à identidade desta figura enigmática: a grande prostituta. E, no v.5, informa que
o nome dessa personagem simbólica é “A Grande Babilônia”, porquanto a antiga cidade da Babilônia (que representa absoluta
oposição a Deus) era cercada por muitos canais e uma região muito fértil (Jr 51.13; Sl 137.1).
2 Os arrebatamentos no Espírito ou êxtases espirituais como estes, narrados pelo apóstolo João, são raros, mas reais (1.10;
4.2; 21.10; At 10.10,11). A Besta descrita aqui é a mesma que subiu do mar (13.1). Os nomes de blasfêmia simbolizam a autodei-
ficação que o anticristo promoverá sobre sua própria pessoa (2Ts 2.4).
3 Da capital pagã e da Besta emanam todas as formas de malignidade e idolatria. Essas são as abominações produzidas pelo
anticristo e profetizadas por Cristo (Mt 24.15).
4 João usa a palavra grega original marturõn, “mártires”, para se referir a todas as testemunhas cristãs que morrem por causa
da sua fidelidade a Jesus Cristo (14.13).

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APOCALIPSE 17, 18 30

outro ainda não surgiu; entretanto, quan- ração deles a disposição de realizar o
do aparecer, deverá governar durante propósito que Ele tem, conduzindo-os a
pouco tempo.5 concordar em entregar à Besta o poder
11 A Besta que era, e agora não é, é o que eles receberam para reinar até que se
oitavo rei. É um dos sete, e caminha para cumpram as Palavras de Deus.
a perdição.6 18 A mulher que viste é a Grande Cidade
12 Os dez chifres que viste são dez so- que reina sobre os reis da terra”.
beranos que ainda não receberam seus
reinos, mas que receberão a autoridade A queda da última Babilônia
de monarcas, por apenas uma hora, jun-
tamente com a Besta.7
13 Eles têm o mesmo objetivo e outor-
18 Passados esses acontecimentos,
vi descer do céu outro anjo, que
possuía grande autoridade, e a terra se
garão à Besta todo o poder e autoridade iluminou com o seu esplendor.1
que detêm. 2 Então, ele bradou com poderosa voz:
14 Então, guerrearão contra o Cordeiro, “Caiu! Caiu a grande Babilônia, e se tor-
mas o Cordeiro os vencerá, pois Ele é o nou habitação de demônios e antro de
Senhor dos senhores e o Rei dos reis; e toda espécie de espírito imundo e escon-
com Ele vencerão todos os seus eleitos, derijo de toda ave impura e detestável,2
convocados e fiéis”. 3 porquanto, todas as nações beberam do
15 Em seguida, declarou-me mais o anjo: vinho da cólera da sua prostituição. Os
“As águas que viste, sobre as quais se monarcas da terra se prostituíram com ela
assenta a prostituta, são os povos, multi- e os negociadores da terra se enriquece-
dões, nações e línguas de toda a terra. ram à custa do seu luxo extravagante!”
16 Os dez chifres e a Besta que viste 4 Então, ouvi uma outra voz dos céus que
odiarão a prostituta. Eles a deixarão ar- exclamava: “Retirai-vos dela, povo meu,
ruinada e nua; devorarão sua carne e a para não serdes cúmplices em seus peca-
exterminarão com fogo, dos e para não participardes das pragas
17 porquanto, Deus estabeleceu no co- que a atingirão!3.

5 É relevante o fato de a cidade de Roma ter sido estabelecida a partir da reunião de sete povoados localizados, cada um sobre
uma colina, à margem esquerda do rio Tibre. Vários escritores romanos se referiram a Roma como “a cidade das sete colinas”.
Entretanto, considerando a fluidez do simbolismo escatológico, não devemos aplicar essa descrição profética unicamente à
cidade de Roma ou ao Império romano, mas observar as estratégias e características gerais da armação, alcance e implantação
do império mundial do anticristo. Os grandes impérios, todos marcados por total oposição ao Deus de Israel e a seu Cristo,
forte paganismo, depravação moral e autodeificação de seus principais líderes, foram: egípcio, assírio, babilônico, persa,
grego, romano, e aquele império global que será anunciado em breve, organizado e comandado pelo anticristo e outras duas
personificações do Diabo: a Besta e o Falso profeta (Dn 7.17).
6 O anticristo, que já se manifestou nas pessoas de alguns grandes líderes sanguinários do passado, como Antíoco Epifânio
e Adolf Hitler (Dn 8.9,21), reaparecerá com seus plenos poderes para seduzir e, por algum tempo, conquistar globalmente a
humanidade (Mt 24.15).
7 Ainda não nos é possível precisar quem serão esses dez grandes líderes (nações) mundiais que, por brevíssimo período de
tempo, se aliarão e submeterão suas autoridades ao carisma e governo da Besta. Arruinarão a Grande Cidade (Jerusalém ou
alguma outra cidade que represente o ressurgimento babilônico na época), mas serão vencidos por Jesus Cristo e o exército dos
seus discípulos (Dn 7.24; 1Co 15.24-25).
Capítulo 18
1 A glória do Senhor é manifestada em toda a terra (Êx 34.29-35; Sl 104.2; Ez 43.1-5; 1Ts 6.16).
2 O poder de Satanás se hospedava na Grande Cidade – a última Babilônia – de onde dominava os ímpios e incrédulos do
mundo todo. Entretanto, a declaração do anjo, na visão de João, feita com o verbo no passado (“Caiu!”), revela a absoluta certeza
do cumprimento desta profecia. Assim como a antiga Babilônia se tornou terra de lobos, abutres e outros animais carniceiros,
também a última versão diabólica da Babilônia sepultará incontável quantidade de cadáveres em meio à sua ruína fatal (Is 13.19-
22; 21.9; 34.11-15; Jr 50.39; 51.37).
3 Assim como os crentes foram avisados para abandonar Jerusalém e se refugiar na cidade de Pela antes do genocídio
cometido pelo exército romano no ano 70 d.C., agora, também, o anjo alerta para que os cristãos não se deixem envolver pelos
encantos iniciais da Besta e da Grande Cidade. Essa advertência pode ser compreendida de forma simbólica: abandonar o

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31 APOCALIPSE 18

5 Pois os pecados da Babilônia se acumu- 13 canela e outras especiarias, incenso,


laram até o céu, e Deus se lembrou de mirra e perfumes; vinho e ovelhas, cava-
todas as suas práticas iníquas. los e carruagens, e até mesmo corpos e
6 Agora, portanto, dai-lhe em retribuição almas de seres humanos.7
a mesma moeda investida por ela, e mais, 14 E eles murmurarão: ‘Também desa-
pagai-lhe em dobro por tudo o que fez; pareceram todas as frutas que tanto lhe
no cálice em que misturou bebidas for- davam prazer ao paladar! Todas as suas
tes, misturai, pois, para ela, uma porção riquezas e todo o seu esplendor se evapo-
dobrada do seu próprio licor.4 raram; jamais serão recuperados’.
7 Causai-lhe tanta aflição e infelicidade 15 Os negociantes desses produtos,
quanto a glória e a riqueza que ela que se enriqueceram à custa dela, se
buscou exclusivamente para si, pois colocarão à distância, apavorados com
no seu íntimo ela meditava: ‘Estou o seu sofrimento, prantearão, e muito se
assentada como rainha; não sou viúva, e lamentarão,
jamais sentirei tristeza’. 16 exclamando: ‘Ai! Ai da Grande Cidade,
8 Por isso, num só dia, as suas merecidas que estava vestida de linho fino, com
pragas a alcançarão: morte, tristeza e roupas de púrpura e luxuosos trajes ver-
fome; e o fogo a extinguirá, porquanto o melhos, toda adornada de ouro, pedras
Senhor Deus que a julga é Poderoso! preciosas e pérolas!
9 Os reis da terra, que com ela se pros- 17 Em apenas uma hora, tamanha os-
tituíram e aproveitaram do seu luxo, se tentação e riqueza foram aniquiladas!’ E
desesperarão e prantearão por ela, assim todos os pilotos, e todos os marinheiros
que avistarem a fumaça do seu incêndio e passageiros dos navios, e todos aqueles
colossal.5 que ganham a vida trabalhando no mar
10 Aterrorizados por causa do tormento ficarão de longe.
dela, ficarão observando de longe e grita- 18 E ao verem a fumaça do incêndio dela,
rão: ‘Ai! Ai da Grande Cidade, Babilônia, exclamarão: ‘Que outra cidade jamais se
a cidade forte! Como foi que em apenas equiparou à Grande Cidade?’6
uma hora chegou a tua condenação?’ 19 Então, jogarão pó sobre as cabeças e
11 Os comerciantes da terra prantearão e chorando e lamentando muito, exclama-
lamentarão por ela, pois ninguém mais rão: ‘Ai! Ai da Grande Cidade! Por causa
pode comprar as suas mercadorias;6 de suas riquezas, todos os que possuíam
12 artigos como ouro, prata, pedras pre- navios no mar se enriqueceram, mas
ciosas e pérolas, linho, púrpura, seda, te- bastou apenas uma hora para que ela
cidos escarlate, e toda espécie de madeira virasse um amontoado de escombros!’8
de cedro e peças de marfim, madeira 20 Celebrai sobre ela, ó céus, e vós santos,
preciosa, bronze, ferro e mármore; apóstolos e profetas! Porquanto, afinal,

quanto antes a prática do pecado; e literalmente deixando a Grande Cidade, quando as características demoníacas e anticristãs
deste importante centro político, comercial, cultural e militar do mundo se tornarem evidentes e insuportáveis ao remanescente
fiel dos cristãos (Is 48.20; 52.11; Jr 50.8; 51.54; Zc 2.7; 2Co 6.16-18).
4 O alucinante dispêndio de esforço e zelo na busca por dinheiro e prazer se transformará em angústia e aflição dobradas no
final dos tempos. A Babilônia jamais reconhecerá a destruição e morte de seus exércitos nos campos de batalha (v.7; Jr 50.29).
5 Os reis e governantes de todas as nações que se aliaram à Babilônia, lamentarão as enormes perdas econômico-financeiras,
que lhes sobrevirão. O profeta Ezequiel teve a mesma triste e dramática revelação sobre a destruição da cidade de Tiro (Ez 27).
6 O vício, a moda, as doenças e a ignorância produzem um grande e lucrativo mercado internacional para empresas e indivíduos. A
queda da última Babilônia arruinará, de uma hora para outra, a estabilidade da economia mundial baseada no pecado (vv. 8,19,21).
7 O profeta Ezequiel faz uma lista muito parecida de produtos e serviços altamente valorizados pelos negociantes e consu-
midores mundanos (Ez 26). Mais do que transacionar corpos, Satanás está interessado em escravizar almas humanas ao seu
sistema de valores.
8 Outra analogia à narrativa de Ezequiel sobre o desespero e a tristeza que tomou conta de todos quantos apostaram seu futuro
nos ganhos materiais e no sucesso oferecidos pela Grande Cidade (Ez 27.30).

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APOCALIPSE 18, 19 32

Deus a julgou, retribuindo-lhe tudo quan- 2 porquanto, verdadeiros e justos são


to ela praticou contra vós!”. os seus juízos. Ele condenou a grande
prostituta que corrompia a terra com
A ruína da Babilônia é definitiva a sua sedução, e das mãos dela vingou
21 Então, um forte anjo levantou uma pe- o sangue dos seus servos”.
dra, do tamanho de uma grande pedra de 3 E mais uma vez a multidão reunida
moinho, e lançou-a ao mar, exclamando: exclamou: “Aleluia! A fumaça que dela
“Com semelhante violência será jogada parte, sobe pelos séculos dos séculos.
por terra a Grande Cidade de Babilônia, 4 Então, os vinte e quatro anciãos e os qua-
para nunca mais ser encontrada!’ tro seres viventes prostraram-se e adora-
22 Jamais se voltará a ouvir em suas pra- ram a Deus, que está assentado no trono, e
ças o som dos harpistas, dos músicos, dos exclamavam: “Amém! Aleluia!”
flautistas, nem dos tocadores de trombe- 5 E do trono partiu uma voz que concla-
tas. Nunca mais se encontrará dentro de mava: “Louvai o nosso Deus, vós, todos
seus muros artífice algum, de qualquer os seus servos, e vós que o temeis, tanto
ramo da arte. Também jamais se ouvirá pequenos como grandes!”
em seu interior o ruído do trabalho das 6 Então, ouvi algo semelhante ao som de
pedras de moinho. uma grande multidão, como o estrondo
23 Nunca mais brilhará dentre seus limi- de muitas águas e poderosos trovões, que
tes a luz das candeias. Jamais se ouvirá ali bradava: “Aleluia! Porquanto, o Senhor
a voz do noivo e da noiva. Seus comer- nosso Deus, o Todo-Poderoso, já reina!
ciantes eram os grandes profissionais do 7 Alegremo-nos, exultemos e demos
mundo. Todas as nações foram seduzidas glória a Ele, porque chegou a hora das
por suas feitiçarias.9 bodas do Cordeiro e sua noiva já está
24 E, em suas dependências, foi descoberto preparada”.2
sangue de profetas e de santos, e de todos 8 Para vestir-se, foi-lhe providenciado linho
os que foram assassinados na terra”.10 fino, puro e resplandecente. O linho fino
representa os atos de justiça dos santos.
Aleluia! Júbilo no céu 9 Então, o anjo me ordenou: “Escreve:

19 Havendo passado esses aconteci-


mentos, ouvi no céu uma voz grave
que anunciava: “Aleluia! A salvação, a gló-
Bem-aventurados os que são chamados
ao banquete das núpcias do Cordeiro!”
E disse-me mais: “Estas são as exatas
ria e o poder pertencem ao nosso Deus,1 palavras de Deus!”.3

9 O grande objetivo de Satanás é ser adorado. Por isso, não faltará em todos os seus relacionamentos com o ser humano,
algum tipo de culto religioso e adoração mística ainda que dissimulados (Ef 2.2; 6.11-12). Nos últimos dias, entretanto, o Diabo e
seus anticristos manifestarão, de forma mais clara e pública, os seus atributos místicos, assim como requisitarão de seus segui-
dores provas evidentes de culto às suas personalidades (13.14).
10 Haverá, portanto, um tempo, como nenhum outro, em que os profetas do Senhor e os cristãos sinceros serão perseguidos e
mortos impiedosamente pelo anticristo e seus asseclas (6.10; 17.6; 19.2 de acordo com Ez 24.7; Jr 51.49). Contudo, a Babilônia
nunca mais será reeditada e todos os crentes sinceros serão ressuscitados para herdar um novo mundo, repleto de paz e felici-
dade, ao lado de Cristo (Jo 6.38-40; 10.9,10).
Capítulo 19
1 “Aleluia” é uma expressão hebraica, rara no NT, que significa “Louvai a Yahweh (Jeová)”. Essa convocação ocorre quatro
vezes do v. 1 ao 6, a fim de anunciar que a Salvação e o Triunfo pertencem ao Senhor, e que é chegado o Dia das bodas do
Cordeiro, e sua noiva (sua Igreja) já está preparada para as núpcias eternas.
2 João usa a linguagem figurada de um casamento, conhecida no NT, para comunicar a intimidade de amor e compromisso
entre Deus e seu povo. Laços de perene fidelidade e fraternidade que têm raízes nos escritos proféticos do AT (Is 54.5-7; 62.5; Jr
31.32; Os 2.19), e foram reafirmados por Cristo e pelos apóstolos ao se referirem à Igreja toda, e não apenas a um segmento ou
denominação cristã (Mt 22.2-14; 25.6,7; Ef 5.25-32; 1Jo 3.2,3; 2Co 7.1).
3 A expressão “os convidados” tem o mesmo significado de “a esposa ou a noiva” e “a cidade santa”. São todas figuras de
linguagem que nos ajudam a compreender o profundo amor de Deus por seu povo em toda a terra (21.2-10). Felizes (bem-

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33 APOCALIPSE 19

10 Diante disso, lancei-me aos seus pés dos de linho fino, alvo e puro, mon-tados
num gesto de adoração, mas ele, imedia- em cavalos brancos.8
tamente, me orientou: “Olha, não faças 15 Uma espada afiada saía-lhe da boca
isso; sou conservo teu e de teus irmãos, para ferir com ela as nações. Ele as regerá
que têm o testemunho de Jesus. Adora a com cetro de ferro; e Ele mesmo é o que
Deus, porquanto o testemunho de Jesus é pisa o lagar do vinho da justa ira de Deus
a essência da profecia”.4 Todo-Poderoso.9
16 Em seu manto, sobre a coxa, traz es-
Cristo vence todos os inimigos crito este nome: REI DOS REIS E SENHOR
11 Então, olhei e eis que vi os céus abertos, DOS SENHORES.
e diante de mim um cavalo branco, cujo 17 Avistei um outro anjo que se colocou
cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele em pé no sol, e que clamava em alta voz a
é responsável por julgar e guerrear com todas as aves que estavam em pleno vôo
justiça.5 pelo meio do céu: “Vinde, ajuntai-vos
12 Seus olhos são como chamas vivas de para a grande ceia provida por Deus,10
fogo, e em sua cabeça há muitas coroas 18 a fim de comerdes a carne de reis, de
e um Nome escrito que somente Ele comandantes, de poderosos, de cavalos e
conhece.6 de seus cavaleiros, pequenos e grandes.
13 Estava vestido com um manto salpi- 19 Nesse momento, vi a Besta, os reis da
cado de sangue, e seu Nome é Palavra terra e os seus exércitos reunidos para
de Deus.7 guerrearem contra Aquele que está mon-
14 Os exércitos dos céus o seguiam, vesti- tado no cavalo e contra o seu exército.11

aventurados) são todos aqueles que receberam o convite do Senhor e o aceitaram de coração, pois somente os convidados,
que confirmaram sua presença por meio de uma resposta íntima, positiva e sincera ao discipulado de Cristo, estarão presentes
ao banquete nupcial do Cordeiro. E o anjo assegura que essas são as “exatas” (literalmente em grego: ajlhqinoi; “verdadeiras”),
palavras de Deus e que, portanto, a promessa desta festa maravilhosa se cumprirá com toda certeza, assim como o julgamento
e condenação dos incrédulos, ímpios e impenitentes.
4 O fiel e fraterno testemunho sobre Jesus, capaz de vencer as mais difíceis crises, provações e perseguições é aquele que tem
sua fonte na essência (literalmente: “no espírito”) da profecia (1.17; At 10.25).
5 Esse “cavalo branco” é o símbolo do glorioso retorno de Cristo como Guerreiro-Messias-Rei. Seus títulos “Fiel e Verdadeiro”
salientam a absoluta segurança com que os crentes devem aguardar, e cooperar para o cumprimento dessas promessas do
Senhor (1.5; 3.14; Mt 24.35 de acordo com Is 9.3-5; 11.4; Ez 1.1).
6 O valor e a importância do Nome, como indicativo de família e caráter herdados de Deus, se manterá no Reino. Esse nome,
no entanto, será conservado em segredo até a batalha final (2.17), quando Cristo despojará toda força que se opõem a Deus e
exercerá seu poder sobre todas as coroas (reinos, diademas) do mundo (v.16; Dn 10.6; Fp 2.9).
7 Somente o apóstolo João empregou o termo grego logos (palavra), para descrever a pessoa do Filho de Deus como
sendo seu próprio “fôlego espiritual” (hálito). Jesus é a expressão exata da vontade divina ao salvar, santificar, julgar, destruir a
iniqüidade e criar o novo e eterno mundo (a Nova Jerusalém) para a nova humanidade. As marcas de sangue em seu manto são
provenientes do seu próprio corpo (para a salvação) e dos inimigos de Deus (para a condenação final – 14.14-20; Is 63.1-3).
8 Um poderoso exército composto de seres angelicais (Dt 33.2; Sl 68.17) e humanos salvos de todas as épocas (17.14), que
executarão a justa e definitiva sentença de Deus contra o império de Satanás (v.19; Mt 25.31).
9 Cristo não precisará de nada além da sua própria Palavra (Hb 4.12,13), para executar o julgamento e execução dos incrédulos
e pecadores manipulados pelo anticristo e suas entidades (bestas). Logo depois de haver aniquilado o Mal, instalará seu Reino de
paz e justiça plenas, e regerá o mundo com eqüidade, literalmente: “cajado de ferro” (Sl 2.9; Is 11.4; 63.3; Jl 3.13; Ap 14.20).
10 Aqui temos a cena terrível e dramática do banquete que farão os abutres e aves carniceiras com os corpos dos incrédulos,
ímpios e impenitentes sobre a face da terra, em contraste com a exultante ceia dos crentes nas bodas do Cordeiro (v.9). O
Armagedom, a última guerra entre os exércitos de Satanás e o poder de Jesus Cristo, o Messias e seus fiéis, deixarão sobre a
terra os corpos de todos aqueles que se consideravam poderosos, ricos, cultos e indestrutíveis em suas perversidades (16.16),
de maneira que não restará sequer quem os sepulte (Mt 24.28 de acordo com Ez 39.17-20).
11 A narrativa do Apocalipse é como uma pintura complexa e delicada à qual o artista volta sucessivas vezes para incorporar um
detalhe ou retocar algum aspecto importante do quadro geral. Assim, a Besta, cujo exército está descrito em 16.13-14, comanda
uma união de dez nações (ou reis) contra a Babilônia (17.16-18), com o objetivo de igualmente atacar o Cordeiro (17.4). O Maligno
não tem paz, e, em seu egoísmo perverso e ensandecido, busca a ruína de bons e maus sem distinção.

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APOCALIPSE 19, 20 34

20 No entanto, a Besta foi presa, e com ela é necessário que ele seja solto por um
o Falso profeta que havia realizado gran- pouco de tempo.
des sinais miraculosos em nome dela, 4 Olhei e vi alguns tronos, e foi entregue
por intermédio dos quais ele havia enga- o poder de julgar aos que neles se
nado todos os que receberam a marca da assentaram; e vi as almas dos que foram
Besta e adoraram a sua imagem. Os dois degolados por causa do testemunho de
foram lançados vivos no lago de fogo que Jesus e da Palavra de Deus, os que não
arde com enxofre.12 adoraram a Besta nem tampouco a sua
21 Todos os demais foram mortos com a imagem, e não receberam o sinal na testa
espada que saía da boca daquele que está nem nas mãos. Eles reviveram e reinaram
montado no cavalo. E todas as aves se com Cristo durante mil anos.3
fartaram com a carne deles. 5 Entretanto, os demais mortos não revive-
ram, até que se completassem os mil anos.
Os cristãos reinam por mil anos Está é, pois, a primeira ressurreição.4

20 Então, observei que desceu do céu


um anjo com a chave do Abismo
e uma grande corrente em sua mão.1
6 Bem-aventurados e santos os que
tomam parte da primeira ressurreição!
A segunda morte não tem poder algum
2 Ele prendeu o Dragão, a antiga Serpen- sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de
te, que é o Diabo, Satanás e o amarrou Cristo, e reinarão com Ele pelo período
por mil anos.2 de mil anos.5
3 Lançou-o no Abismo, onde o fechou
e pôs um selo sobre ele, para que não A destruição total de Satanás
enganasse mais as nações, até que os mil 7 Quando se completarem os mil anos,
anos se completassem. Depois disso, Satanás será solto da sua prisão

12 O castigo por meio do fogo, que arde sem parar sob uma densa atmosfera de enxofre, sempre fez parte dos ensinos judaicos
primitivos sobre o juízo final e eterno. Apesar da expressão grega “geena” (inferno) não ter sido usada aqui, não há dúvida de
que João se refere a esse lugar de punição, desolação e dor (Mt 5.22, de acordo com 2Rs 16.3; 23.10; Jr 7.31). Entretanto, o
“inferno” não é o mesmo local designado de “Abismo” (9.1-3; 20.1-3), mas uma espécie de jazigo final de Satanás e de todos
os seus asseclas e simpatizantes (passivos ou ativos). Ou seja, todos quantos não fizeram uma declaração pessoal e sincera de
aceitação incondicional do ato expiatório e salvífico de Cristo. Tanto a doutrina do “inferno”, quanto a do “céu”, tão solidamente
apresentadas neste livro, são expostas de forma simbólica por meio de vívidas e dramáticas metáforas (capítulos: 4, 5, 21 e 22).
Capítulo 20
1 Os três capítulos finais de Apocalipse fazem uma reflexão sobre os principais assuntos dos primeiros três capítulos de Gêne-
sis. O livro das origens dialoga com o livro do final dos tempos e da nova criação (21.1). Sobre o “Abismo” ver nota em 9.1.
2 Alguns teólogos consideram esse tempo como um período literal e exato de mil anos. Outros, compreendem o milênio (em
latim mille annus) como uma extensão indeterminada de tempo. De qualquer forma, o que não há como negar é que seja um
tempo longo (do ponto de vista humano), em que Jesus Cristo e os salvos reinarão sobre a terra, substituindo o império do
anticristo e de seus asseclas e simpatizantes, cumprindo perfeitamente mais essas profecias escatológicas do AT, preanunciando
o julgamento final, o fim da terra e da humanidade como as conhecemos hoje, e o início de um novo mundo, onde habitarão os
seres humanos salvos (Sl 72.1-20; Isaías caps. 2 a 63; Jr 23.5-7; 33.14-16; Ez 36.16-18; caps. 40 a 48; Zc 6.12-14; Dn 7.1-28; Mq
4.1-4; Mt 25.31-32; 1Co 15.24-28). Quem deseja se aprofundar nessa área de estudo, deve buscar conhecer melhor três correntes
de pensamento teológico sobre esse assunto: o amilenarismo, o pré-milenarismo e o pós-milenarismo.
3 Todos os salvos (santos) compartilham do reinado de Cristo, o Leão da tribo de Judá (5.5), não apenas os mártires e aqueles
que ministram – em tempo integral – a serviço do Senhor e da Igreja (Dn 9.7).
4 Haverá uma primeira ressurreição, a dos justos (Lc 14.14), que precederá o arrebatamento de todos os que estiverem vivos
no exato momento do glorioso retorno de Cristo (1Ts 4.16-17; 1Co 15.52). É importante notar que todos os seres humanos
ressuscitarão e serão julgados por suas obras. Os justos, primeiro (os que acolheram com sinceridade o dom da Salvação em
Cristo e, portanto, têm seus nomes inscritos no Livro da Vida). Depois de um tempo, os ímpios (os incrédulos que rejeitaram ou
menosprezaram a dádiva da Salvação), a fim de serem lançados no lago de fogo perpétuo (v.12; Dn 12.2; Jo 5.29).
5 A primeira morte é a simples morte física e a conseqüente separação da alma do corpo. A segunda morte é definitiva e eterna;
tem a ver com a separação da alma humana do doador da vida: o Senhor Deus (v.14; 21.8).

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8 e sairá para seduzir as nações que estão foram julgados pelas observações que
nos quatro cantos da terra, Gogue e Ma- estavam registradas nos livros, de acordo
gogue,6 cujo número é como a areia do com as suas obras realizadas.7
mar, a fim de ajuntá-las para a grande 13 O mar entregou os mortos que jaziam
guerra. nele, e a morte e o Hades entregaram os
9 Então, as nações marcharam por toda a mortos que neles havia; e um por um foi
superfície da terra e cercaram o acampa- julgado em conformidade com o que
mento dos santos, a Cidade Amada; toda- tinha feito.8
via, um fogo desceu do céu e as devorou. 14 Então, a morte e o Hades foram ati-
10 O Diabo, que as enganava, foi lançado rados no lago de fogo. Esta é a segunda
no lago de fogo que arde com enxofre, morte: o lago de fogo!
onde já haviam sido confinados a Besta e 15 E todo aquele cujo nome não foi en-
o Falso profeta. Eles serão atormentados contrado escrito no Livro da Vida foi
dia e noite pelos séculos dos séculos. lançado no lago de fogo.

O julgamento dos mortos O novo céu e a nova terra


11 Em seguida, observei um grande trono
branco e o que estava assentado sobre ele,
a terra e o céu fugiram da sua presença e
21 Então vi novo céu e nova terra,
pois o primeiro céu e a primeira
terra haviam passado; e o mar já não
não foi achado lugar para eles. mais existia.1
12 Vi também os mortos, grandes e pe- 2 Vi também a Cidade Santa, a nova Je-
quenos, em pé diante do trono e alguns rusalém, que descia dos céus, da parte de
livros foram abertos. Então, abriu-se um Deus, adornada como uma linda noiva
outro livro, o Livro da Vida, e os mortos para o seu esposo amado.2

6 Satanás, como todo narciso, egoísta e arrogante, não pode aprender nem mudar, pois crê que tudo sabe e de nada precisa.
Após “mil anos”, ele sai, e sua ambição e métodos não se alteraram desde Gn 3 até ser aprisionado, por gerações e gerações,
em Ap 20. Satanás continua a usar suas armas mais poderosas: a sedução, o engano e a mentira (Jo 8.44; 1Jo 2.22) contra
a humanidade, porque sabe que o ser humano é profundamente corrupto e pecaminoso. Nem mesmo todas as experiências
vividas pela humanidade com Cristo, e os mil anos da mais absoluta prosperidade mundial, evitarão com que pessoas de várias
nações (simbolizadas por dois nomes enigmáticos: Gogue e Magogue – Ez caps. 38 e 39) voltem a cair nas artimanhas do Diabo
para se rebelarem contra Deus. Contudo, da mesma forma como a Besta, o Falso profeta e a Prostituta, o Inimigo de Deus e da
humanidade será igualmente derrotado, humilhado e atirado no lago de fogo, que perpetuamente o destruirá. O Diabo ainda
reclamará o juízo e o castigo eterno de Deus sobre todos quantos enganou durante o milênio.
7 Logo após o tempo do “milênio” (vv.2-6), acontecerá a ressurreição dos ímpios para o juízo do lago de fogo. O critério deste
grande julgamento será comportamental, ou seja, contará tudo quanto o incrédulo realizou por meio da sua mente e corpo (v.13),
o que significa que as culpas corresponderão aos pecados e maldades que cada pessoa praticou em vida (Lc 12.47-48; Rm 2.6).
Entretanto, no Livro da Vida (uma metáfora do registro dos nomes dos salvos no céu), encontram-se os nomes de todos os que creram
sinceramente na pessoa e obra de Cristo, e, portanto, foram salvos do juízo final pela graça de Deus-Pai (Êx 32.32,33; Jo 1.12).
8 A palavra grega original a}dh" “Hades”, quase sempre traduz o termo hebraico transliterado She’ôl, cujo sentido no AT tem a
ver com as “profundezas onde jazem os mortos”, e pode ser traduzida no NT por “inferno”, “sepulcro”, “morte” ou “profundezas”,
assim como no v.14.
Capítulo 21
1 O termo grego original kaino;n kainos significa “novo” em qualidade, ineditismo e temporalidade (20.11). Somente Deus é
capaz de criar o absolutamente novo. A terra e a humanidade ingressarão num novo Universo, onde não mais dependeremos da
força e energia de astros como o sol, a lua e as estrelas (v.23). O mar, na tradição judaica sempre simbolizou o caos (entropia) e
a malignidade. Na nova ordem, não haverá qualquer sombra de maldade, e o mar físico pode desaparecer do planeta como um
sinal da total implantação do Reino de Cristo sobre a terra (Rm 8.19-22).
2 A “Cidade Santa” é a Nova Jerusalém, a Igreja de Cristo, adornada como uma noiva perfeita (bonita, amorosa e fiel). O
enlace matrimonial do Senhor com sua Igreja (seu povo salvo e santo) é uma metáfora judaica antiga do amor de Deus pela
humanidade (19.7; Ef 5.26-27). A “Cidade Santa” reúne em si os principais elementos de Jerusalém, do Templo e do Jardim do
Éden. A drástica separação que houve, fruto da infidelidade humana, agora está completamente perdoada e superada em Cristo
(Gn 3; Hb 9.15; 12.24).

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APOCALIPSE 21 36

3 E ouvi uma forte voz que procedia do sete taças cheias dos sete últimos flagelos
trono e declarava: “Eis que o Tabernáculo aproximou-se e me orientou: “Vem, eu
de Deus agora está entre os homens, com te mostrarei a noiva, a esposa do Cor-
os quais Ele habitará. Eles serão o seu deiro!”. 6
povo e o próprio Deus viverá com eles, e 10 E ele me conduziu no Espírito à parte
será o seu Deus.3 alta de uma montanha, e revelou-me a
4 Ele lhes enxugará dos olhos toda a lágri- Cidade Santa: Jerusalém, que descia do
ma; não haverá mais morte, nem pran- céu da parte de Deus.7
to, nem lamento, nem dor, porquanto a 11 Ela resplandecia com a glória de Deus,
antiga ordem está encerrada!”.4 e o seu esplendor era como o brilho de
5 E Aquele que está assentado no trono uma jóia lapidada e muito preciosa,
afirmou: “Eis que faço novas todas as assim como um grande diamante trans-
coisas!” E acrescentou: “Escreve isto, lúcido feito cristal puro.8
pois estas palavras são verdadeiras e 12 Tinha um sólido e altaneiro muro
absolutamente dignas de confiança”. com doze portais e doze anjos junto
6 E declarou-me ainda: “Tudo está reali- aos portais. Nessas portas adornadas,
zado! Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Prin- estavam escritos os nomes das doze
cípio e o Fim. A todos quantos tiverem tribos de Israel.9
sede lhes darei de beber graciosamente 13 Assim, havia três portas ao oriente, três
da fonte da Água da Vida. ao norte, três ao sul e três ao ocidente.
7 O vencedor herdará todas essas bênçãos, 14 O muro da cidade tinha doze funda-
e Eu serei seu Deus e ele será meu filho. mentos, e neles estavam gravados os
8 Porém, quanto aos covardes, os incrédu- nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.
los, os depravados, os assassinos, os que 15 O anjo que falava comigo tinha como
praticam imoralidade sexual, os bruxos e medida uma vara feita de ouro, para me-
ocultistas, os idólatras e todos os mentiro- dir a cidade, seus portais e seus muros.
sos, a parte que lhes cabe será no lago de 16 A cidade era quadrangular, de com-
fogo, que arde perpetuamente em meio primento e largura iguais. Ele mediu
ao enxofre. Esta é a segunda morte!”.5 a cidade com a vara; tinha dois mil e
duzentos quilômetros de comprimento;
A Nova Jerusalém a largura e a altura eram também iguais
9 Então, um dos sete anjos que traziam as ao comprimento.10

3 Desde a libertação do povo de Deus do Egito que a figura do Tabernáculo significa a presença do Espírito de Deus junto dos
seus filhos amados. Finalmente, eternamente, agora, essa convivência será perfeita (Jo 1.14). O Senhor fez de seus filhos Reino
e Sacerdócio, e estes receberam o direito de viver na presença do Pai (Lv 26.11-12; Ez 37.27; 2Co 6.16).
4 Todos os males, tristezas e dores vivenciados no mundo atual serão superados e consolados no novo mundo, onde impera
o Reino de Cristo (7.17; Is 25.8; 1Jo 3.2).
5 Em geral, pessoas que vivem na prática obstinada desses erros e pecados são as mesmas que negam que Jesus Cristo é o
Messias e o Filho de Deus. Os crentes sinceros entregam o controle de suas vontades e atitudes ao Espírito do Senhor, e jamais
desistem de buscar a santificação (1Jo 2.22).
6 Os sete últimos flagelos ou pragas da justa ira divina (15.1). A “esposa do Cordeiro” e a “Cidade Santa” são símbolos usados
para representar a cidade que Abraão aguardava pela fé obediente em Deus (Hb 11.10-16, de acordo com Ap 21.22-24).
7 Ver notas sobre a expressão “no Espírito” em 1.10; 4.2 e 17.3
8 A beleza exuberante de uma jóia rara, pura e muito valiosa simboliza a santificação dos crentes que agora compartilham
alegremente da glória de Deus Pai, que já descreveu a sua glória como o esplendor das mais ricas gemas de diamante e jaspe
(4.3; Ez 43.5).
9 Os doze portais ou portas ornamentadas com requinte e arte representam o ingresso dos salvos no Reino, o número
simbólico, completo e generoso de 144.000 de 7.4-8. A cifra 12, representando abundância, graça, completeza e perfeição, faz
uma menção honrosa às doze tribos de Israel, e ressalta o vínculo que há entre o AT e o NT ao mencionar os doze apóstolos nos
fundamentos da Cidade (v.14; Ez 48.30-35).
10 Para os antigos gregos, o cubo era a forma geométrica (quadrangular) que simbolizava a perfeição, pois nele, comprimento,

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17 Ele mediu o muro e deu sessenta e cinco nem da lua, para que brilhem sobre ela,
metros de altura, de acordo com a medida pois a plena Glória de Deus a ilumina e o
humana que o anjo estava usando. Cordeiro é o seu candelabro.13
18 O muro era todo feito de diamante e 24 As nações andarão sob a luz dela, e os
a cidade era de ouro puro, semelhante a reis da terra lhe trarão suas riquezas.
vidro límpido.11 25 Os seus portais estarão continuamente
19 Os fundamentos do muro da cidade abertos todos os dias, e ali não haverá
estavam adornados com toda espécie de noite.
pedras preciosas. O primeiro fundamen- 26 A glória e a honra de todas as nações
to era de cristal de jaspe; o segundo, de lhe serão trazidas.
safira; o terceiro, de calcedônia; o quarto, 27 Nela jamais entrará qualquer coisa
de esmeralda; impura, tampouco, alguém que pratique
20 o quinto, de sardônica; o sexto, de ações vergonhosas ou mentirosas, mas
sárdio; o sétimo, de crisólito; o oitavo, de unicamente aqueles cujos nomes estão
berilo; o nono, de topázio; o décimo, de gravados no Livro da Vida do Cordeiro!14
crisópraso; o décimo primeiro, de jacin-
to; o décimo segundo, de ametista. O rio da água da vida
21 Os doze portais eram doze pérolas;
cada um dos portais construído a partir
de uma só pérola; e a rua principal da
22 Então, o anjo me mostrou o rio
da água da vida que, translúcido
como cristal, fluía do trono de Deus e do
cidade era de ouro puro, reluzente como Cordeiro,1
o vidro límpido. 2 e que passa no meio da rua principal da
22 Contudo, não vi templo algum na cidade. De uma e outra margem do rio
cidade, pois o Senhor Deus Todo-Pode- estava a árvore da vida, que produz doze
roso e o Cordeiro são o seu santuário.12 frutos, de mês em mês; e as folhas da ár-
23 A cidade também não necessita do sol vore servem para a cura das nações.2

largura e altura têm a mesma medida. Para os judeus, o cubo era lembrado como o formato geral dos Santos dos Santos no
Tabernáculo e no Templo. Em Ap 11, as medidas foram tomadas como garantia de proteção; aqui, são uma clara demonstração
da beleza, simetria, perfeição e amplitude impressionante da graça divina. A medida grega citada no texto original é o “estádio”,
que equivale a 185 metros, correspondendo a um total de “doze mil estádios”. O Senhor Deus é o Edificador do seu povo e da
perfeita habitação dos crentes sinceros (Ef 2.19-22).
11 A medida original grega do muro é de 144 côvados. O côvado era uma medida linear equivalente a cerca de 45 centímetros.
O cristal de jaspe ou diamante simboliza a pureza, resistência, beleza, riqueza e perenidade das obras realizadas pelo Senhor.
O ouro límpido e cintilante como o vidro revela a absoluta ausência de contaminação e corrupção. Satanás jamais conseguirá
seduzir o povo de Deus nem induzir o ser humano ao erro (v.27; Gn 3.1-7).
12 A constante presença do Tabernáculo, e depois do Templo em Jerusalém, sempre foi um símbolo de reverência e
encorajamento quanto à presença amorosa e poderosa do Deus de Israel, e uma lembrança perpétua de que todo ser humano
é pecador e carece da graça, do perdão e da glória do Senhor (Rm 3.23-24). Entrar no Santo dos Santos de forma indigna
significava a morte imediata do transgressor. Nos dias atuais, para desalento dos judeus, sobre as ruínas do último Templo cintila
a cúpula dourada da mesquita islâmica de Omar, que também, com seu formato cúbico, resiste em Jerusalém desde o séc. VII.
A “Cidade Santa”, entretanto, será habitada somente pelos salvos e santos. O relacionamento com Deus será franqueado e
ininterrupto, pois na Nova Terra, todo lugar é lugar de abundante e alegre comunhão entre o Pai e seus filhos remidos (22.3).
13 Cristo é toda a exuberância da glória de Deus-Pai manifesta ao mundo (Jo 1.14). Portanto, na nova existência celestial não
serão necessárias outras fontes de energia que não sejam a própria presença gloriosa do Senhor (Is 60.19).
14 A “Cidade Santa” não conhecerá a escuridão ou as trevas, e jamais será ameaçada por qualquer perigo ou ação maligna
(Is 11.9-10).
Capítulo 22
1 O rio da água da vida representa que o processo da nossa salvação eterna foi idealizado e implementado pelo Espírito de
Deus-Pai e Filho, o Cordeiro. O rio da graça infinita de Deus flui a partir do trono do Senhor por toda a eternidade (Ez 47.1).
2 A árvore da vida foi ocultada de Adão e Eva e de toda a humanidade (Gn 2.9; 3.22-24; Ez 47.12), mas agora seu acesso está
franqueado aos salvos e santificados. Seus frutos e folhas simbolizam a generosa graça e o transbordante poder que emana da
salvação premiada a todas as pessoas que crêem no sacrifício vicário e remidor de Cristo (Jo 10.10).

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APOCALIPSE 22 38

3 E nunca mais haverá maldição. Nela 9 Entretanto, ele me admoestou: “Olha,


estará o trono de Deus e do Cordeiro; e não faças isso; eu sou conservo teu, dos
os servos do Senhor o servirão. teus irmãos, os profetas, e de todos os
4 Eles contemplarão a sua face, e o seu que guardam as palavras deste livro.
Nome estará sobre as frontes dos seus Adora, pois, a Deus!”4
servos.3 10 E acrescentou: “Não ocultes as pala-
5 Assim, já não haverá noite, nem ne- vras da profecia deste livro, porquanto o
cessitarão eles da luz dos candelabros, tempo se aproxima rapidamente.5
nem da luz do sol, pois o Senhor Deus 11 Ora, quem é injusto, continue na in-
os iluminará, e eles reinarão para todo justiça; quem é mundano, continue na
o sempre. impureza; mas quem é justo, firme-se na
prática da justiça; e quem é santo, conti-
Breve estas profecias ocorrerão nue a buscar a santificação.6
6 Então, o anjo me afirmou: “Estas pala- 12 Eis que venho sem demora! E trago co-
vras são absolutamente dignas de con- migo o galardão que tenho para premiar
fiança e verdadeiras. O Senhor, o Deus a cada um segundo as suas obras.7
dos espíritos dos profetas, enviou o seu 13 Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e
anjo para revelar aos seus servos os acon- o Derradeiro, o Princípio e o Fim.
tecimentos que em breve se realizarão. 14 Bem-aventurados todos os que lavam
7 Eis que venho em breve! Bem-aventu- as suas roupas no sangue do Cordeiro, e
rado aquele que atende às palavras da assim ganham o direito à árvore da vida,
profecia deste livro!”. e podem adentrar na Cidade através de
seus portais.
Exortações e conclusão do livro 15 No entanto, fora estão os cães, os
8 Eu, João, sou quem ouviu e anteviu to- bruxos e ocultistas, os que cometem
dos esses acontecimentos. Quando os vi imoralidades sexuais, os assassinos, os
e ouvi, prostrei-me aos pés do anjo que idólatras e todos os que amam e prati-
os revelava a mim, a fim de adorá-lo. cam a mentira.8

3 A expressão literal grega indica que “seus escravos terão grande prazer em servi-lo, como uma forma de culto” (v.3). Na
“Cidade Santa” (no Reino eterno), a plena soberania do Senhor será aceita e seguida com muita alegria (Mt 6.10). Na Antiguidade,
os criminosos não podiam ficar na mesma cidade em que residia o rei, por isso eram banidos da sua presença (Et 7.8; 2Sm
14.24). Os pecadores remidos por Cristo ganham a bênção de, na eternidade, poderem contemplar a face do Senhor (Rm 8.1;
1Co 13.12; Êx 33.20; Jo 1.18). O Nome do Senhor representa seu caráter estampado nos crentes para sempre (3.12).
4 Este livro todo é uma revelação especial de Jesus Cristo para que o apóstolo João a transmitisse às igrejas em todo mundo,
e essas as pregassem para todas as pessoas até a volta do Senhor. Todas as palavras e visões foram passadas por um dos
principais anjos do Senhor a João, que aqui é reconhecido também como porta-voz de Deus, assim como os demais profetas
do AT e NT (v.16).
5 Ao contrário do profeta Daniel, agora João recebe uma ordem expressa para não esconder (fechar, selar) o conteúdo das
profecias deste livro até a volta do Senhor (Dn 8.26; 12.4,9). As exortações deste livro devem ser atendidas pelas igrejas de todas
as gerações, desde a época de João até o final dos tempos. A salvação é tão graciosa e vital, que até no último segundo ainda
haverá tempo para que o pecador se arrependa, seja convertido por Cristo, e herde a vida eterna na presença de Deus-Pai (Lc
23.43). Ainda que pareça demorar, o Senhor Jesus prometeu que viria rapidamente – de acordo com sua graça, sabedoria e
longaminidade – e, por isso, a Igreja deve viver em santa expectativa (1Co 7.29-31).
6 Aqui não há uma simples aquiescência ao perverso status quo (procedimento habitual ou padrão) da sociedade mundana,
mas uma advertência quanto ao fato de que à medida que o glorioso retorno de Cristo se aproxima, os tempos e as pessoas se
tornarão ainda mais incrédulos e maldosos. Os cristãos, por sua vez, devem buscar a santificação e testemunhar a salvação que
há em Cristo ao mundo.
7 O texto se refere ao cumprimento das promessas do Senhor de galardoar (honrar, premiar) os vencedores (crentes sinceros
e perseverantes na fé), e de pagar a devida punição aos rebeldes e impenitentes (2.7-28; 3.5-21; 21.8).
8 Na tradição judaica do AT, a expressão “cães” era aplicada para descrever todas as pessoas que se envolviam com práticas
religiosas impuras e procedimentos éticos e morais contrários à Lei. Em Dt 23.18, o termo é usado para se referir à prostituição

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16 Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos as palavras da profecia deste livro: Se al-
entregar esse testemunho em relação às guém lhes acrescentar algo, Deus lhe acres-
igrejas. Eu Sou a Raiz e o prometido centará os flagelos descritos neste livro.
Descendente de Davi, e a brilhante Estrela 19 Se alguém tirar alguma palavra deste
da Manhã. livro de profecia, Deus tirará dele a sua
parte na árvore da vida e na Cidade San-
Advertências e bênção final ta, que são descritas neste livro.
17 O Espírito e a Noiva proclamam: 20 Aquele que dá testemunho destas
“Vem!” E todo aquele que ouvir responda: palavras afirma: “Com toda a certeza,
“Vem!” Quem sentir sede venha, e todos venho rapidamente!” Amém. Vem, Se-
quantos desejarem, venham e recebam de nhor Jesus!10
graça a água da vida!9 21 A graça do Senhor Jesus seja com to-
18 Portanto, declaro a todos os que ouvem dos. Amém!

feminina e masculina, comum em Canaã como rito religioso pagão e, infelizmente, incorporado por algumas seitas ocultistas
em nossos dias.
9 Este é o último apelo evangelístico que o Espírito de Deus faz por meio da sua Noiva (a Igreja de Cristo – 21.2; Ef 5.27). Toda
pessoa que ouvir (atender) essa pregação de arrependimento e conversão, deve responder afirmativamente a Cristo: “Vem!”, e
nascer de novo (Jo 3; Mt 5.6; Ef 2.8-9; Is 55.1; Ap 21.6).
10 A expressão grega e{rcou kuvrie !Ihsou' “Vem, Senhor Jesus!”, traduz a oração que os cristãos da antiga igreja em Jerusalém
costumavam fazer em aramaico “Maranata!”, palavra que se repetia com expectativa e fervor nas celebrações regulares da Ceia
do Senhor e que deve representar também a nossa esperança e contentamento no dia de hoje (1Co 16.22).

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