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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

CURSO DE TECNOLOGIA EM COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL

CARLOS TABAJARA FERREIRA

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RESENHA DESCRITIVA

CURITIBA

2011

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CARLOS TABAJARA FERREIRA

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Resenha Acadêmica Descritiva


apresentada ao Curso deTecnologia em
Comunicação Institucional, pertencente
ao Departamento Acadêmico de
Comunicação e Expressão da
Universidade Tecnológica Federal do
Paraná como requisito parcial para a
aprovação na disciplina de História das
Ideias no Brasil ± Século XIX.

Prof. Responsável: Prof. Dr. Wilton Fred


Cardoso de Oliveira

CURITIBA

2011
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A obra intitulada ³Os Donos do Poder: Formação do patronato político
brasileiro´ foi publicada em 1958 , e desde a sua 1ª edição obteve grande
reconhecimento e causou admirável repercussão, repercussão e sta que a concedeu
o Prêmio José Veríssimo da Academia Brasileira de Letras já em 1959, e outros
como o Prêmio Moinhos Santista em Ciências Sociais conquistado em 1978, que na
época era um dos mais importantes prêmios concedidos no Brasil.
A última edição deste livro foi feita pela Editora Globo em 2001, lançando um
exemplar comemorativo, 3ª edição revista, pelos 50 anos de seu lançamento, com
autógrafos originais da 1ª e 2ª edição. Porém para Piccolo, esta obra foi uma das
mais reeditadas no Brasil, sendo encontrada até a 11ª edição de 1997.
O jurista, sociólogo e cientista político, Raymundo Faoro, nasceu em
Vacaria-RS em 1925, formado em Direito pela Universidade do Rio Grande do Sul
foi Procurador do Estado do Rio de Janeiro, cargo em que se aposentou.
Reconhecido pelas suas obras foi o 5º a ocupar a cadeira nº 6 da Academia
Brasileira de Letras.
Os Donos do Poder é uma obra em que Faoro pretendeu mostrar uma visão
weberiana da história do Brasil, em que os colonizadores detentores do poder,
instauraram na cultura brasileira uma espécie de ³estamento burocrático´ e que esse
histórico de eventos resultou em uma sociedade com posturas ³anacrônicas´ e
errôneas.
Nesta obra de grande valia nacional, que se transformou em um dos maiores
clássicos brasileiros e que segundo uma enquete publicada pela revista Veja em
1995 foi escolhida como uma das 20 obras mais importantes de nossa história,
encontra-se o Capítulo IV que tem como título ³O Brasil até o Governo Geral´,
composto por 46 páginas e 6 seções, que foi o foco desta leitura.
Inicia-se o Capítulo VI, descrevendo a descoberta do Brasil pelos
portugueses e a primeira impressão que tiveram ao se depararem com o povo
indígena. Um povo inocente e puro que viviam desnudos, prontos para serem
catequizados, livres do trabalho e da lei. Mas antes de lançarem olhar para a beleza
exótica da terra, as diferenças das gentes, e a presença da religião, o interesse

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maior era saber se nesta recém -descoberta terra havia ouro e prata. Apesar do
principal interesse em saber se havia a presença dos metais preciosos, o local foi
analisado de súbito quanto ao seu potencial mercantilista, mas constatou -se que os
nativos não possuíam nenhum tipo de conhecimento em comum com a cultura
europeia, diferindo de tudo que eles tinham visto.
A nova terra foi ilustrada como um paraíso, com muitos bons ares e com
potencial agrícola aparente, isso se percebe na seguinte citação ³... querendo-a
aproveitar, dar-se-á nela tudo..´ (pag. 117). Apesar de até aquele momento a terra
ser qualificada como desprovida de ouro e prata, vinhos, trigo e gado, Pero Vaz via
além do lado mercantilista; enxergava outra possibilidade, utilizá-la como
escoadouro dos pobres, desprezados e famintos.Foi construída assim uma visão
paradisíaca que servia para atender aos in teresses dos poderosos, descrevendo-a
como a terra antes do pecado de Adão. Descrição esta, com um tom totalmente
poético, fazendo alusão aos belos corpos, mulheres de bela forma e arredondadas;
a ausência de vestimentas, medos e trabalho.A inocência ident ificada nos nativos os
caracterizou como terreno fértil para a catequização .
O local recebeu uma visão edênica, onde existia a possibilidade de
ascensão social súbita sem esforços, onde todos seriam acolhidos e libertos do
trabalho. Era o local perfeito para enviar os menos favorecidos que almejavam uma
vida melhor e um utópico paraíso. Era uma alternativa perfeita para a crise vivida na
Europa. Bastava um ou dois escravos para se viver ³honradamente´, era a promessa
de uma situação ³afidalgadora´, livre de regras, onde tudo seria permitido, onde ³se
escorregava em índias nuas´. Essa apelação configurou um convite tentador para
desajustados, desamparados e excluídos, pois segundo os relatos só se morria de
velhice, todos eram livres de religião, leis, govern o, submissão, vivendo em uma
total simplicidade e ignorância.
A invenção da América foi permeada por uma visão edênica e idílica, local
onde tudo era permitido . Esta visão, porém, durou pouco para aqueles pobres que
em Portugal estavam reduzidos a miséria e vieram buscar a ostentação senhorial.
Estes foram incumbidos da pseudo colonização, quese revelou feitorização, com a
imposição à América, suas trocas, seu comércio e seu sistema de exploração, que
resultou na revelação da ³real´ natureza dos habitantes da nova terra, evidencia ndo

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a instabilidade da situação , acabando com o encantamento e mudando os indígenas
de povo inocente e cordial para bárbaros e rebeldes.
Percebeu-se que na nova terra havia uma boa mercadoria, similar a
mercadorias orientais ± o Pau Brasil, o que a coroa tratou logo de monopolizar e
mesmo sem envolvimento imediato mantinha-se no controle, no regime de
concessão. Mas para se manter este modelo com sucesso precisava-se manter um
núcleo leal da população, para isso o governo po rtuguês evoluiu para um sistema
misto de governo: a armada guarda -costas exploradora combinada com a expedição
colonizadora.
Mesmo com toda a preocupação de manter a ordem na colônia, os esforços
foram em vão, a feitoria fracassava ao ponto que colonos, de sertores, se
misturavam aos indígenas, com muitas mulheres e esqueciam até mesmo a língua
europeia. Tudo atrapalhava o intuito de encontrar ouro e prata, que Pero Vaz tinha
mencionado em sua carta, a mercantilização da América através do açúcar e café
era o único interesse, pairando sobre os nativos e animai s um olhar de desprezo e
frieza, sentimento este que só se ameniza com o surgimento de indícios da
existência de ouro e prata.
À colônia resta um sistema já falido de exploração social , visto que os
selvagens não se enquadravam nos moldes mercantilistas europeus e por este
motivo deveriam ser subjugados. A extração do Pau Brasil e ouro, a fabricação do
açúcar e o cultivo do café, alcançaram a colônia americana com seu braço
mercantilista, mas que o objetivo principal era um sistema feudal, buscando -se fixar
populações ociosas para se manter a povoação e defesa do território. Nestes
meados, já aderiam ao belo discurso de não somente explorar a colônia mas sim
colonizá-la, discurso besuntado de interesse em se manter o controle da
comercialização do Pau Brasil e o controle do local que era estratégico para a
navegação.
O açúcar brasileiro ganhou importância no mercado europeu, o que fez
crescer o interesse em manter a colônia, principalmente por esta possuir as
condições naturais ideais, e também por possuir o elemento humano, indígenas
vulneráveis ao sistema escravocrata. Tudo isto levara a uma preocupação em
proteger a colônia e manter o monopólio da conquista, a intenção não era promover
uma transmigração, mas sim estabelecer bases comerciais.

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O plano consistia em permitir o casamento da ³gente baixa´ com as
mulheres da terra, pois assim se fixariam à terra. Então as nativas eram tornadas
cristãs ou cativas para servirem aos seus senhores, afim de lhes proporcionarem o
advento de filhas, que eram utilizadas como uma espécie de barganhas e privilégios
entre senhores e colonos, logo os casamentos ³racialmente promíscuos´ se
dissolvem num jogo de interesses. Sendo que tais enlaces despertou uma
preocupação em erguer um império composto por essa ³gente vil´.
O casamento logo passou a ter assistência religiosa que o tornava estável e
criava um núcleo de lealdade, assim a terra seria absorvida pelos colonos ± gente
sem escrúpulos de diferença de classe e de honra. O povoamento deu origem então
a uma mistura racial, a princípio somente aceita pela ³gente baixa´, mas mascarada
pelas relações sociais e cargos atribuídos.
Cada vez mais o reino via a necessidade de se estabelecer na colônia um
braço do seu poder, mesmo que para isso tivesse que elevar agricultores e senhores
de escravos a nobres. Resultando na origem de uma nobreza brasileira a partir de
colonos que se aproveitaram de mão de obra escrava, e se apossaram de maior
número de terra, a posse outorgo u-lhes títulos de nobreza.
A colonização possuía cabedais largos, admitindo pessoas de diversas
origens que eram enviadas para a América com o objetivo de povoar e produzir
riquezas para a pátria mãe, tudo sob a visão e aprovação do Rei, eram cedidas
terras para os colonos agricultarem em certo período, mediante concessão real, e
estes passavam a efetuar pagamentos de tributos à coroa. Para administrar este
processo foi instaurada a fiscalização de um capitão que agia em nome do rei, e
este cargo era hereditário. Todo este aparato haviapara beneficiar e prover a
prosperidade da coroa, e garantir o controle da arrecadação tributária, soma -se a
essa preocupação a defesa contra os indígenas e corsários. E estamento era
mantido através da criação de vilas, antes da povoação, criação da realidade a partir
de regulamentos.
A colonização portuguesa diferiu da colonização inglesa pelo fato dos
portugueses, utilizarem a colônia como local de extração, não como local de
construção de uma cultura ou uma nova comunidade, os portugueses vieram
simplesmente para uma missão deixando suas famílias além -mar, os ingleses
levaram suas esposas consigo para a colônia. O inglês buscou fundar uma nova

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pátria, o português criar um braço do império. Até mesmo a aplicação da Lei das
Sesmarias foi importada para a colônia, mas logo se desvirtuara p ossibilitando a
criação de extensos latifúndios, acompanhados da aquisição de escravos africanos
e ³decorados´ com senzalas à sombra de casas-grandes.
Neste cenário, neste lado do Atlântico nas ce o feudalismo indígena, um
cenário composto por colonos e senhores de engenhos, arbitrários, prepotentes,
burocratas, prontos para exigir a obediência de seus vassalos. Esta cena
simplesmente era uma cópia barata da idade média europeia, vestida de outro s
trajes e com outro cenário. Simplesmente as cidades da nova nação, como
Pernambuco, São Vicente, São Paulo, buscavam reproduzir todos os costumes e
desmandos da corte europeia, com seus esbanjamentos, ostentações e folganças.
O sistema jurídico utilizado no sistema colonial, embora devesse obedecer
aos moldes da pátria mãe, adquiria característica s onímodas, indianófobas, típicas
de uma instituição de natureza imperfeita e anacrônica do sistema colonial
implantado no novo mundo. O feudalismo colonial veio como uma tendência social,
resultado de uma amálgama de propriedade e soberania, o título de senhor de
engenho era almejado por trazer incutido em si, o direito de ser serv ido e ser
respeitado por muitos; e consequentemente se o mesmo tivesse governança e
cabedal passaria a ser um fidalgo.
Embora inúmeras vezes referiu -se ao pressuposto feudalismos brasileiro,
essa expressão é uma ³figura de retórica´, mesmo que houvesse uma classe
dominante isso não a tornava uma nobreza. A existência de uma nobreza capit alista
no Brasil, não passa de um exagero terminológico, um abuso de linguagem, visto
que a realidade é que toda a riqueza dos colonos não passa de uma lenda
embelezadora da história, pois os mesmos enfrentavam dificuldades com saúvas,
enchentes, dívidas que permeavam o seu viver.
Embora o sistema de donatarias não fosse tão eficiente devido a distância e
isolamento possibilitando o surgimento de autoridades locais, o rei estava sempre
atento ao seu negócio, não permitindo que o mundo americano esquecesse q ue
havia um cordão umbilical lhes sugando toda a riqueza.
Este livro é indispensável para quem busca uma leitura que lhe outorgue um
panorama real e crítico da história brasileira, para estudantes e profissionais que
busquem uma história lúcida e sem maquiagens, que realmente queiram descortinar

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em seu entendimento a formação de nossas instituições e democracia, atitudes e
posturas contemporâneas, e decifrar comportamentos que até hoje permeiam a
nossa sociedade.































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- PICCOLO, H. I. L.à !" 2004. 16f. Artigo ±
Caderno IHU Ideias ± Ano 2 ± Nº19 ± 2004 ± ISSN 1679-2316. Disponível
em:<http://www.ihu.unisinos.br/uploads/publicacoes/edicoes/1163186269.77pdf. pdf>
Acesso em: 04 Abr. 2011, 23:37.
FAORO, R.à#$ %&#''#()'*+,*(* . 3.
ed. rev. São Paulo: Globo, 2001.


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