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igreja se tornou um teatro sacro, que os atos litúrgicos assumiram aspecto espetaculoso
povoado se media pela suntuosidade ornamental de sua igreja matriz, que a opulência
do ouro era considerada uma dádiva divina e, que a glória de deus era a glória do
e pela alegoria através das linguagens escrita, plástica e teatral. Procurar-se-á apontar as
1
Houve uma antiga capela de Nossa Senhora do Pilar feita em madeira e taipa no local do atual templo; o
qual foi construído sob administração da Irmandade do Santíssimo Sacramento com projeto atribuído ao
sargento-mor e engenheiro Pedro Gomes Chaves, sendo João Fernandes de Oliveira o arrematante da obra
principal. A construção em adobes e taipa foi iniciada pela nave a partir de 1728-30. Foi demolida a
antiga capela que servia como capela-mor provisória da atual em 1731 (ocasião em que o Santíssimo
Sacramento e Imagens foram trasladados para a Capela do Rosário dos pretos). A estrutura arquitetônica
do novo templo foi concluída em 1733 (ano do Triunfo Eucarístico). Entre 1735-7 a ornamentação da
nave foi realizada integrando seis altares e dois púlpitos laterais em talha dourada. Os altares Santo
Antônio e NS Dores (1º e 3º do Evangelho) antecedem aos outros quatro da nave e talvez sejam da capela
primitiva, mas com os coroamentos refeitos por Antônio Francisco Pombal. Não há documentação a
respeito desses altares laterais e púlpitos, os quais foram construídos por confrarias particulares. Todo
esse conjunto deve se situar no período compreendido entre 1730 e 1740. A reconstrução e talha da
capela-mor entre 1741-54 foi um período conturbado pela falência do arrematante Antônio Francisco
Pombal em 1744 e morte do entalhador Francisco Xavier de Brito em 1751, ano em que foi concluído o
arco-cruzeiro. Reconstrução da abóbada da capela mor em 1770. Os trabalhos de pintura,marmorização e
douramento perduraram até 1774 e são atribuídos a João de Carvalhais e a Bernardo Pires. Em 1781 foi
feito reparo urgente em uma torre. Em 1818 uma parede ameaça ruir e em 1825 houve substituição da
parede de taipa do lado da Epístola por alvenaria de pedra. Em 1848 foram terminados o frontispício e a
torre do Evangelho. A fachada da igreja ganha a configuração atual com aspecto neoclássico. O imóvel
foi objeto de tombamento individual pelo IPHAN, conforme Processo nº 75-T Inscrição nº 246 - Livro de
Belas Artes, Fl. 42, em data de 8 de setembro de 1939. Entre 1952-65 houve obras de restauração
realizadas pelo IPHAN (recuperação dos trabalhos de douramento e pintura). O Museu de Arte Sacra foi
instalado em espaço adaptado no porão sob a sacristia no ano 2000 e reúne peças de escultura, prataria e
1
A classificação geral dos retábulos utilizados para a ornamentação interna dos
templos durante o ciclo barroco-rococó em Minas Gerais denomina como segunda fase
o estilo joanino, ou Dom João V. Devemos aqui pontuar o fato de que os trabalhos de
em Minas Gerais. A arte que se produziu nesse momento é tão inebriada, ostensiva e
capela-mor e sacristia (com consistório no segundo pavimento), cujo acesso é feito por
corredores laterais encimados pelas tribunas da capela mor. A forma poligonal da nave
advém de uma estrutura postiça de madeira com pesados esteios que suportam a
armação dos retábulos e das tribunas prolongando-se até a cobertura. Essa forma
confere à nave um aspecto elíptico que cria maior efeito de movimento para o conjunto
parte posterior com os corredores que levam à sacristia e permitem também o acesso aos
alfaias pertencentes à paróquia. Dados coligidos a partir de: Fundação João Pinheiro. Dossiê de
Restauração. Plano de Conservação, Valorização e Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana.
1973/1975; BAZIN, Germain. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1983. v
I e II; e BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais; e de
informações fornecidas pela paróquia.
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púlpitos. Os retábulos e púlpitos apresentam características do joanino inicial, são
estilo de Francisco Xavier de Brito, já num momento considerado como estilo joanino
abóbada representa a Última Ceia. Integradas à talha das sobrevergas das tribunas da
notemos que a utilização de recursos como a marmorização (pintura sobre madeira para
cria efeito de mármore) cria uma ambientação ainda mais cênica. Percebemos também o
camada de ouro sobre madeira. Às ilusões não se conferia o caráter de falsidade, pois já
luxuosos objetos de cerimoniais3 que ‘davam ao culto aspecto mais digno e elevado’.
2
quatro painéis com os quatro evangelistas (registro parietal superior, nível das tribunas laterais); um
painel representando coluna com trigo e outro com arvore ceifada envolvida por ramos de uva (registro
parietal intermediário); e quatro painéis para as estações do ano (registro parietal inferior)
3
Prataria, imagens e alfaias pertencentes à paróquia e hoje reunidos no Museu de Arte Sacra: turíbulos,
navetas, âmbulas, cálices, patenas, galhetas, sacras, salvas, caldeiras e asperges, espivitadeira, varas e
3
Também os retábulos joaninos muito se assemelham às estruturas utilizadas como
ornato para as bocas de cena dos palcos, encimados por dossel que se abre em
ritual se confunde com o espetáculo. A cena determina os atos de uma sociedade que
afirma suas relações nesse espaço. Os espaços determinados pelo projeto arquitetônico
definem usos e classes: a nave é destinada aos fiéis, que reunidos em irmandades se
no piso térreo. E como por coxias de um palco, o sacerdote saía da capela mor, passava
pelos corredores irregulares que eram camuflados pela ornamentação da nave e aparecia
eloqüente do sacerdote era iluminada pelo Divino Espírito Santo que, representado no
abaixa-voz do púlpito, pairava sobre sua cabeça como pairara antes sobre a do Cristo no
Rio Jordão. O espaço anterior à nave (entre a porta central da igreja, o tapa-vento e o
que divide a nave da igreja em dois espaços, local onde é ministrado o sacramento). É
cruzes processionais, custódias, ostensórios, palmas, castiçais e tocheiros, recipientes para os santos
óleos, esquife, pedras de penitencia, paramentos, e a mesa de Eça utilizada nas exéquias (de corpo
ausente) de D João V. Num dos corredores laterais à capela mor podem ainda ser observados
curiosos quadros representando: um mulato como demônio; a morte (esqueleto acompanhado por
atributos macabros como ampulheta, pira, foice, tíbias cruzadas); a ressurreição do cristo; e a fama
(figura feminina).
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mister observar que tais posições definem uma hierarquia social. O uso dos espaços no
os nobres, que vêem o povo de cima. Quanto à ascendência espiritual, notemos que, ao
entrar pela porta do templo, classificam-se os não batizados (no nartex), os fiéis (na
comum, não iniciado na prática do auxílio dos rituais, apenas adentraria a capela mor
Ainda se faz importante ressaltar o sentido simbólico que tem o espaço destinado aos
fiéis leigos, a nave. O termo nave significa nau, embarcação. Remete à transcendência
homem ao paraíso após a morte e o juízo final. Durante o ritual, a profusa utilização de
santos; o olfato sente a pureza do incenso; os ouvidos percebem os coros dos anjos; o
vida eterna ao lado de deus pai todo poderoso; as mãos rendem graças e súplicas a deus,
o tato conta o rosário. Também a morte se fazia presente durante os rituais pelo cheiro
exuberância e o impacto dessa cena tendem a envolver o homem barroco, procura nele
despertar a mais profunda emoção para que a fé seja instituída juntamente com a ordem
que se estabelece no rito. Esse espaço cênico produz uma impressão naqueles que se
5
encontram ali inseridos; e há uma clara demonstração dos extratos que compõem a
sociedade e um evidente destaque para aqueles aos quais a sociedade confere destaque
por sua formação religiosa, ou por seus títulos de nobreza. “’É nesse teatro que as
pessoas encenam, então, o papel que cada uma delas assume dentro da rígida e
Trindade, representado por meio de uma alegoria composta por três figuras dispostas na
uma pomba com raios de luz (representando o espírito santo). Cristo é representado
como homem jovem com os estigmas da paixão e sustendo a cruz do martírio; Deus Pai
do sepulcro com a cruz nas mãos, ao lado do sepulcro, madalena vê a tumba vazia). No
4
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 72
5
Por vezes a figura de Deus Pai, o Criador, é também representada com a orbi em uma das mãos
(remetendo à criação divina).
6
com anjos de diversos tipos, dentre os quais podemos destacar: anunciantes (anjos de
altar sobre o dossel e sobre os arcos interrompidos apontando para o trono do altar ou
para a alegoria da trindade); putis (ou no singular, puto, não tem asas, são criancinhas de
colo); adoradores (anjos vestidos de aparência adulta ajoelhados e com as mãos postas
em prece); querubins (cabeças de anjos com um par de asas cada, representam maior
pureza por apresentarem menor porção de matéria); atlantes (anjos de feição adulta com
vestimenta e posicionados sob as colunas do altar como se sustentasse seu peso sobre as
costas, remetem a Atlas). A talha do altar mor parece se alastrar pelas paredes na
conforme as regras do decoro, em nível ascendente de acordo com o teor dos temas. Os
Senhor (que também é a palavra da salvação) e são exemplos da salvação pela Fé.
6
Os painéis de talha já apresentam algumas rocalhas (elementos do rococó, posteriores à ornamentação
joanina do templo mas intergrados harmonicamente ao conjunto).
7
Os atributos de São João Evangelista “são a águia, o livro dos evangelhos e a pena, a caldeira de óleo e a
palma do paraíso. (...) A águia simboliza a ascensão aos céus”. São Lucas, patrono dos médicos e
pintores, “tem como atributos o boi, com ou sem asas, o livro dos Evangelhos e um quando com a
imagem da Virgem. O boi simboliza o sacrifício de Cristo”, e o quadro remete à tradição de que ele “foi
o primeiro pintor da Virgem”. São Marcos “tem como atributos o livro, a pena, o leão alado e o livro
dos evangelhos. O leão simboliza Cristo na ressurreição”. São Mateus tem como atributos “um anjo ou
um homem alado, o livro dos evangelhos, uma pena e uma lança”; “exercia a profissão de cobrador de
impostos (...) quando Cristo o convidou para se apóstolo. (...) é invocado contra o pecado capital da
avareza” Conforme CUNHA, Maria José Assunção da. Iconografia Cristã. Ouro Preto: UFOP/IAC,
1993. p 47
7
Devemos ainda lembrar que João remete também à escatologia (aos fins últimos do ser
humano como a morte, o juízo, o purgatório, o inferno e o paraíso), uma vez que é
também autor do livro do Apocalipse (ou livro dos sete selos). No mesmo nível em que
ramos de trigo sobre uma coluna: remete à eucaristia por trazer o trigo, do qual é feito o
pão, que representa o corpo de cristo; e à força e à segurança pelo sacramento, por trazer
a coluna. O outro painel representa uma árvore ceifada (que remete à morte) envolvida
por ramos de uva (remetendo ao vinho e, logo, a sangue de cristo). Nesses painéis o
alto da capela mor, um painel circular aplicado no centro do forro (em abóbada de
aresta) representa a Última Ceia, momento em que Cristo instituiu o rito eucarístico.
O arco-cruzeiro é encimado por uma tarja ladeada por dois anjos anunciantes
(um a cada lado) que sustentam acima dela (da tarja) uma coroa (a qual representa a
majestade celestial de Maria e sua coroação pelos anjos). A tarja tem ao centro uma
cartela com a imagem de Nossa Senhora do Pilar sustendo na mão esquerda o Menino
Jesus e na Mão direita uma custódia com o Santíssimo Sacramento. A iconografia dessa
Sacramento, que congregava os ‘homens bons’ das principais vilas, foi uma das mais
8
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 72
8
Maria9; graças e privilégios10; necessidades dos homens11; lugares12; e circunstâncias
diversas13. A devoção a Nossa Senhora do Pilar é uma invocação que remete ao local de
Portugal”14. Segundo a tradição, “São Tiago Menor, após o martírio de Santo Estevão,
Sobrelevam aspectos de devoção (...) e terão sido os únicos livros que, durante séculos,
Nosso Senhor dos Passos, Sant’Ana, e São Miguel (no lado da epístola); e de Nossa
Senhora das Dores, Nossa Senhora do Rosário, e Santo Antônio (no lado do evangelho).
O Senhor dos Passos representa o Cristo carregando a cruz às costas quando da sua
muito acentuado no culto religioso durante o século XVIII. No que diz respeito à
utilização e fatura das imagens do Senhor dos Passos em Minas Gerais, notemos que
“trata-se de figuras processionais, por isso mesmo de roca e articuladas, que saem em
9
Nossa Senhora da Angústia ou das Dores, da Anunciação, da Assunção ou da Glória, do Bom parto ou
do Bom Sucesso, da Imaculada Conceição, do Desterro ou da Fuga para o Egito, da Expectação do
parto ou do Ó, da Piedade, da purificação (da Luz, da Candelária ou das Candeias), da Soledade, da
Visitação.
10
Nossa Senhora dos Anjos ou da Porciúncula, Madre de Deus, Mãe dos Homens.
11
Nossa Senhora da Ajuda ou do Amparo, da Boa Morte, da Boa Viagem ou dos Navegantes, das
Mercês, das Necessidades, dos Remédios, da Paz.
12
Nossa Senhora de Belém, do Carmo, da Lapa, do Montserrate, de Nazaré, da Penha de França, do Pilar,
de Fátima, de Lourdes.
13
Nossa Senhora Divina Pastora, das Neves, do Rosário ou de Pompéia, do Terço.
14
CUNHA, Maria José Assunção da. Iconografia Cristã. Ouro Preto: UFOP/IAC, 1993. p 30
15
Idem. p 30
16
Ibidem. p 11
9
cima de andores”17. Presentes em Minas desde o princípio do século XVIII, as
aos brancos”18, ricos, e muitas vezes aos militares. Juntamente com o Senado da
Câmara, eram responsáveis pelas obras de construção e ornamentação das capelas dos
passos19. O culto a Santana “tem uma ligação estreita com a formação de Minas Gerais.
igrejas matrizes. (...) O culto à mãe da virgem é bem antigo.”20 Na Igreja Oriental, em
Constantinopla, foram edificados em sua honra dois templos nos anos 550 e 705. Na
Igreja Ocidental “o culto a Santana ganharia relevo desde meados do século VIII,
segundo consta no livro pontifical do tempo de São Leão III, por mando do qual pintou-
17
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 84
18
Idem. p 84
19
Conjunto de pequenas capelas com representações da via sacra e inseridas na malha urbana da vila de
acordo com o trajeto das procissões, levava para o urbanismo colonial a teatralidade do ritual religioso.
A Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos foi constituída em Vila Rica aos 20/5/1715. Em 1717 a
Procissão dos Passos já era realizada no domingo de ramos. As capelas dos passos foram construídas a
partir de 1728 com pagamentos entre 1728-34 a Manoel Francisco Lisboa pela fatura dos Passos da rua.
Em 1786 a irmandade decidiu reconstruir as capelas em local mais conveniente. Foi o 1º passo
reconstruído entre 1788-92 em obra arrematada por Antônio de Barros. Estrutura autônoma e isolada.
Encontro do Cristo com Verônica representado em painel pintado por Athaíde (tela levada para o
Museu de Ate Sacra do Pilar). Também o Capitão-mor José Bento Soares recebeu pagamentos em 1843
pela obra do Passo de Antônio Dias (na rua Bernardo de Vasconcelos, antiga rua Direita de Antônio
Dias). Dados coligidos a partir de: Fundação João Pinheiro. Dossiê de Restauração. Plano de
Conservação, Valorização e Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana. 1973/1975. / Simões, Josanne
Guerra & Furtado, Júnia Ferreira. Ouro Preto Revisitada: roteiro histórico de seus monumentos
esquecidos. 1981 / BAZIN, Germain. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro:
Record, 1983. v II / e www.iphan.gov.br
20
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 74
21
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 74
22
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 74
23
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 75
10
menina ao colo ou guiada pela mão) é pouco comum em Minas Gerais, mas recorrente
seu lado esquerdo a Nossa Senhora menina, cujo olhar fixa-se atentamente no livro
Joaquim e São José, que formam com Maria e Cristo a Sagrada Família. Por sua vez, a
devoção a São Miguel e Almas está “vinculada às irmandades para resgate das almas do
representação em Minas Gerais está inserida numa “tradição iconográfica que resulta na
forma de mesclar duas cenas em uma só: a pesagem das almas [psicostasia] e a peleja
esquerda uma balança; e pela alusão ao Apocalipse (12:7-8) aparece vestido como
guerreiro “portando uma lança (às vezes trocada por uma espada), com a qual desfere o
golpe mortal contra o demônio, que vem pisoteado a seus pés”26. Por uma “mudança de
sentimento por parte dos Irmãos das Almas, que começam a deixar-se sensibilizar pelo
sacrário. A devoção a Nossa Senhora das Dores se insere nos ciclos que procuram
que somente no início do século XVIII o culto veio a obter certa singularidade (...)
como pública e específica desde que o Papa Benedito XIII, em 22 de agosto de 1727,
24
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 73
25
Idem.
26
Ibidem.
27
Idem Ibidem. p 74
11
ordenou aos católicos rezar sobre as sete Dores de Nossa Senhora”28. Em Portugal o
culto foi instituído em 1761 na cidade de Braga pela Congregação do Oratório Divino.
É representada de pé, “com vestimenta roxa, tendo seu peito trespassado por sete
punhais às vezes substituídos por apenas um punhal ou por um diadema com sete
abençoando o mundo”32 (criança nua representando Jesus sobre a orbi), a qual se insere
no ciclo cristológico por representar Jesus com imagem de sua infância. No que diz
respeito a Nossa Senhora do Rosário (e os santos negros São Benedito, Santa Efigênia,
Santo Elesbão e Santo Antonio do Noto), o culto chega às minas “ao mesmo tempo em
que os santos ‘bandeirantes’ (Nossa Senhora da Conceição, Santana e São José)”33. Sua
Congo pelos dominicanos (...) no ano de 1570”34. O culto migrou para o Brasil através
dos navios negreiros como um “verdadeiro símbolo da redução dos africanos à religião
católica”35. Considerado uma forma superior de culto a Nossa Senhora, o Rosário “foi
instituído sob a inspiração da Virgem Maria, por São Domingos de Gusmão (...). Seu
surgimento está ligado a um fato histórico concreto: a investida dos cristãos contra os
28
Ibidem Ibidem. p 81 – A saber: “1ª A profecia de Simeão: uma espada de dor trespassará sua alma”; 2ª
a fuga para o Egito; 3ª Perda do Menino Jesus no Templo; 4ª Encontro da Virgem com Jesus a caminho
do calvário; 5ª Morte de Jesus; 6ª Quando recebe o corpo de Jesus morto (a Piedade); 7ª a Soledade de
Nossa Senhora após o enterro de Jesus.” ALVES, Célio. p 92
29
Ibidem ibidem. p 81
30
Conforme apontado em NASCIMENTO, Adalgisa Arantes do. Introdução ao Barroco Mineiro:
cultura barroca e manifestações do rococó em Minas Gerais – Belo Horizonte: Crisálida, 2006. p 14
31
a qual desapareceu ainda na primeira metade do século XVIII, mas que deixou sua existência registrada
no cortejo do Triunfo Eucarístico
32
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 84
33
Idem.
34
Ibidem.
35
HORNAERT, Eduardo (Org). História da Igreja no Brasil. p 384
12
hereges de Albi, na França”36. As bases da devoção foram lançadas pelo dominicano
Álamo de Rupe por volta de 1470. O também dominicano Papa Pio V “atribuiu às
virtudes milagrosas do Rosário a vitória das forças cristãs sobre os turcos, na famosa
assume sua forma atual de meditação38. Santo Antônio de Lisboa aparece contemplativo
carregando o Menino Jesus, “cena inspirada em uma visão milagrosa, em que o menino
justas e menos justas junto à Virgem e ao Menino Jesus; de interceder pelas almas do
que a religiosidade leiga atribuiu ao culto dedicado aos santos e à Virgem Maria
aspirações e alegrias dos fiéis. Em troca, recebe imagens, jóias, altares e festas. (...)
dos sete selos (Apocalipse) remetendo à segunda vinda de Cristo (durante o juízo final).
36
ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 70
37
Idem.
38
“com os quinze mistérios (cinco gozosos, cinco dolorosos e cinco gloriosos; os quinze Padre-nossos, as
150 Ave-Marias e as Litanias). (...) o Papa Joao Paulo II instituiu os denominados ‘mistérios
Luminosos’, elevando paa vinte o número dos mistérios” ALVES, Célio Macedo. Op. Cit. p 70; 91.
39
Ibidem. p 73
40
Idem Ibidem. p 73
41
Ibidem ibidem. p 69-70
13
pode ser observada no painel central do forro da nave, no qual o cordeiro é representado
deitado sobre a cruz (símbolo do martírio do Cristo). Os demais painéis do forro da nave
projetam-se acima dos retábulos laterais até o nível das tribunas seis pássaros de cujos
bicos pendem lustres42. Por sua morfologia indefinida, a tais aves já foram atribuídos os
sentidos de fênix, pelicano, e/ou águia. Observemos aqui a semelhança dessa imagem
com alguns dos atributos de São João Evangelista: “a águia, o livro dos evangelhos e a
pena, a caldeira de óleo e a palma do paraíso. (...) A águia simboliza a ascensão aos
céus”43. A João são atribuídos o Quarto Evangelho, o Apocalipse e três Cartas. Notemos
que muitas vezes a caldeira de óleo tem formato de lampadário e é trazida pelo bico da
águia nas representações do evangelista, imagem similar à dos pássaros que sustentam
posicionadas sobre as vergas das tribunas das paredes laterais. Duas delas são anjos
paraíso representa o martírio do cristo e de sua vitória sobre a morte pela ressurreição).
42
Que iluminavam a nave provocando um lúdico efeito cênico de contraste e movimento pela luz das
velas incidindo sobre a talha e as imagens.
43
CUNHA, Maria José Assunção da. Iconografia Cristã. Ouro Preto: UFOP/IAC, 1993. p 47
14
a cada lado. As quatro figuras posicionadas nas sobrevergas do lado do evangelho
trazem cada qual seu atributo: uma cruz; uma âncora; três crianças; uma serpente. As
quatro figuras do lado da epístola trazem: uma espada; uma coluna; uma trombeta; e um
deriva do termo latino “virtus, utis, ‘força corpórea; ânimo, valor, bravura, coragem;
o termo virtude tem as seguintes acepções: “qualidade daquele que se conforma com o
comportamento social, do dever, da eficácia, etc. (...) conformidade com o Bem, com a
finalidade, utilização, etc com eficácia, bom rendimento, mérito, propriedade”46. Para o
excelência ou perfeição deste ser”47. Aplicada à condição humana, “tal definição indica
que cada indivíduo possui uma virtude própria, condizente com sua natureza inata e seu
44
HOUAISS, Antonio. p 2.869-70
45
Idem.
46
Ibidem.
47
Idem ibidem.
48
Ibidem ibidem.
49
Ibidem ibidem.
15
dores”50. No cristianismo agostinista, é definida como a “disposição para o amor,
descrições medievais significa “o segundo dos cinco coros (ordens) da hierarquia dos
catolicismo, as três graças espirituais (fé, esperança e caridade) que dirigem a alma a
Deus por Cristo são chamadas virtudes teologais ou teológicas. Entende-se por virtude
infusa “cada uma das virtudes que a alma recebe no momento do batismo
esculpidas sobre as vergas das tribunas da capela mor da Igreja Matriz de Nossa
significado de seus atributos. As virtudes teologais são representadas pela cruz (Fé),
pela âncora (esperança), e pelas três crianças acolhidas (caridade). As virtudes cardinais
são representadas pela serpente (prudência), pela espada (justiça), pela coluna
de sopro de grandes proporções, representa aquilo “que propala, divulga, anunciador” 57,
50
Ibidem ibidem.
51
Ibidem ibidem.
52
Ibidem ibidem.
53
Ibidem ibidem.
54
Ibidem ibidem.
55
Ibidem ibidem.
56
CAMINO, Rizzardo da. Dicionário maçônico (1918). São Paulo: Madras, 2004. p 404
57
HOUAISS, Antonio. p 2.775
16
e ao mesmo indica alarme, “sinal para advertir sobre ameaça de guerra ou ataque”58;
remete à fama e à virtude cardeal da prudência. O espelho pode ser interpretado como
“parcela representativa de alguma coisa, amostra (...) modelo a ser seguido; exemplo
(...) plano de boca de uma peça de artilharia (...) sinonímia de modelo”59; remete ao
índole de um indivíduo; modo de ser (...) distanciamento de qualquer excesso (...) modo
(sinonímia de austeridade e índole). Pela têmpera (ou mistura) dos conceitos (espelho e
modelo exemplar cristão de difusão da Fé mesmo que sob o temor das armas. Fundidos
índole cristã e austera que caracteriza o Estado Português. Portanto, nesse caso a
organização perfeita do Estado e da alma humana pelos eixos da vida moral, e as graças
espirituais que dirigem a alma a Deus por Cristo. Devemos ainda lembrar que, na
58
Idem.
59
Ibidem. p 1.227
60
Idem ibidem. p 2689-90
61
Ibidem ibidem.
62
Ibidem ibidem.
17
teosófica mistura dos eruditos florentinos, a hierarquia celestial das Virtudes
refoma afirmando os dogmas, as doutrinas, o papel intercessor dos anjos e dos santos, e
paixão, morte e ressurreição) e pela exaltação da Virgem Maria; a ênfase ao culto aos
santos e figuras angélicas; a exaltação das virtudes para o alcance da glória. Notamos
absolutista e contra reformista. Podemos então atribuir também a essa alegoria do fausto
descoberta das minas de ouro e diamantes como prêmio pela propagação da Fé. Não
63
Conforme HANSEN, João Adolfo. Alegoria. pp 165-8
18
BIBLIOGRAFIA
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e Arte: Imaginária Religiosa em Minas Gerais. São Paulo: Edusp, 2005. pp 69-121.
CAMINO, Rizzardo da. Dicionário maçônico (1918). São Paulo: Madras, 2004.
COELHO, Beatriz (org). Devoção e Arte: Imaginária Religiosa em Minas Gerais. São
Paulo: Edusp, 2005. pp 69-121.
CUNHA, Maria José Assunção da. Iconografia Cristã. Ouro Preto: UFOP/IAC, 1993.
Hornaert, Eduardo (Org). História da Igreja no Brasil. 4ª ed. Petrópolis: vozes, 1992.
SIMÕES, Josanne Guerra & Furtado, Júnia Ferreira. Ouro Preto Revisitada: roteiro
histórico de seus monumentos esquecidos. 1981
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