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Joel Tauchen
Programa de Pós-Graduação em Engenharia – PPGENG,
Faculdade de Engenharia e Arquitetura, Universidade de Passo Fundo – UPF,
Campus I, Km 171, BR 285, Bairro São José, C. P. 611, CEP 99001-970,
Passo Fundo, RS, Brasil,
e-mail: tauchenjoel@cfjl.com.br
Recebido em 06/7/06
Aceito em 30/11/06
v.13, n.3, p.503-515, set.-dez. 2006
Resumo
A preocupação com o desenvolvimento sustentável e ações de gestão ambiental vem ganhando um espaço crescente
nas Instituições de Ensino Superior. Isto tem se revelado a partir da abordagem educacional, na preparação de estu-
dantes e fornecimento de informações e conhecimento sobre gestão ambiental e nos exemplos práticos incorporados
na operação de seus campi. Este artigo tem o objetivo de propor uma sistematização de procedimentos, culminando
num modelo para a implantação de um SGA, adaptado às IES que iniciarão a implantação de um campus univer-
sitário, permitindo a essas instituições controlarem os impactos ambientais e se adequarem à legislação, ainda no
momento da concepção da sua infra-estrutura. A base da proposta é um levantamento de benchmarkings nacionais e
internacionais de boas práticas de sustentabilidade ambiental em campus universitário. O modelo está fundamentado
no ciclo PDCA. Os exemplos apresentados indicam ações isoladas em cada universidade, sendo que a maioria des-
tina-se a situações nas quais a instituição já está implementada e funcionando. Esta situação revela a preocupação
crescente de adaptação das universidades em busca de um desenvolvimento sustentável, não só no aspecto do ensino,
mas também nas de práticas de funcionamento ambientalmente corretas.
Palavras-chave: universidades, campus, gestão ambiental, sustentabilidade.
1. Introdução
A gestão ambiental vem ganhando um espaço crescente pazes de, pelo menos, iniciar o caminho da sustentabi-
no meio empresarial. O desenvolvimento da consciência lidade.
ecológica em diferentes camadas e setores da sociedade O papel de destaque assumido pelas IES no processo
mundial acaba por envolver também o setor da educação, de desenvolvimento tecnológico, na preparação de estu-
dantes e fornecimento de informações e conhecimento,
a exemplo das Instituições de Ensino Superior (IES).
pode e deve ser utilizado também para construir o desen-
No entanto, ainda são poucas as práticas observadas
volvimento de uma sociedade sustentável e justa. Para
nas IES, as quais têm o papel de qualificar e conscientizar que isso aconteça, entretanto, torna-se indispensável que
os cidadãos formadores de opinião de amanhã. essas organizações comecem a incorporar os princípios
Na visão de Careto e Vendeirinho (2003), as Universi- e práticas da sustentabilidade, seja para iniciar um pro-
dades e outras Instituições de Ensino Superior precisam cesso de conscientização em todos os seus níveis, atin-
praticar aquilo que ensinam. Enquanto as universidades gindo professores, funcionários e alunos, seja para tomar
são freqüentemente vistas como instituições estagnadas decisões fundamentais sobre planejamento, treinamento,
e burocráticas, outras instituições demonstraram ser ca- operações ou atividades comuns em suas áreas físicas.
504 Tauchen e Brandli – A Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior: Modelo para Implantação...
Esse artigo tem o objetivo de apresentar um levanta- De forma geral, as IES assumem uma responsabilida-
mento de benchmarkings nacionais e internacionais de de essencial na preparação das novas gerações para um
boas práticas de sustentabilidade ambiental em campus futuro viável. Pela reflexão e por seus trabalhos de pes-
universitário. Com base nos exemplos encontrados, nas quisa básica, esses estabelecimentos devem não somente
normas de gestão ambiental e no ciclo PDCA, propõe-se advertir, ou mesmo dar o alarme, mas também conceber
uma sistematização de procedimentos, culminando num soluções racionais. Devem tomar a iniciativa e indicar
modelo para a implantação de um SGA, adaptado às IES possíveis alternativas, elaborando propostas coerentes
que iniciarão a implantação de um campus universitário, para o futuro (Fouto, 2002; Kraemer, 2004).
permitindo a essas instituições controlarem os impactos A exemplo de Kraemer (2004), que tratou disso, Tau-
ambientais e se adequarem à legislação, ainda no mo- chen et al. (2005), enfatizam que o desenvolvimento
mento da concepção da sua infra-estrutura. sustentável procura nas IES um agente especialmente
equipado para liderar o caminho. A missão das IES são
o ensino e a formação dos tomadores de decisão do fu-
2. Revisão da literatura
turo – ou dos cidadãos mais capacitados para a tomada
de decisão. Essas instituições possuem experiência na
2.1 O Papel das Instituições de Ensino investigação interdisciplinar e, por serem promotores do
Superior (IES) rumo ao desenvolvimento conhecimento, acabam assumindo um papel essencial na
sustentável construção de um projeto de sustentabilidade.
Existem duas correntes de pensamento principais re- Isso vem ao encontro de Fouto (2002) que, ao discutir
ferentes ao papel das IES no tocante ao desenvolvimen- o papel do Ensino Superior no desenvolvimento susten-
to sustentável. A primeira destaca a questão educacional tável, apresenta a visão da Universidade Politécnica da
como uma prática fundamental para que as IES, pela for- Catalunha, sob a forma de um modelo (Figura 1).
mação, possam contribuir na qualificação de seus egres- O modelo apresentado por Fouto aponta quatro níveis de
sos, futuros tomadores de decisão, para que incluam em intervenção para as IES:
suas práticas profissionais a preocupação com as ques- I. Educação dos tomadores de decisão para um futuro
tões ambientais. A segunda corrente destaca a postura de sustentável;
algumas IES na implementação de SGAs em seus campi
II. Investigação de soluções, paradigmas e valores que sir-
universitários, como modelos e exemplos práticos de
vam uma sociedade sustentável;
gestão sustentável para a sociedade.
III. Operação dos campi universitários como modelos e
2.1.1 Educação para o desenvolvimento exemplos práticos de sustentabilidade à escala local; e
sustentável IV. Coordenação e comunicação entre os níveis anteriores
O crescimento demográfico, o consumo incontrolável e entre estes e a sociedade.
dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente
passaram a exigir ações corretivas de grande envergadu-
ra. Segundo Mayor (1998), a educação é a chave do de-
Soluções
senvolvimento sustentável e auto-suficiente. A educação Paradigmas
deve ser fornecida a todos os membros da sociedade, de Profissionais Consciência Crítica
Graduados IES
tal maneira que cada um se beneficie de chances reais de
se instruir ao longo da vida.
A educação ambiental, um dos pilares do desenvolvi-
Educação Pesquisa
mento sustentável, contribui para a compreensão funda-
mental da relação e interação da humanidade com todo
o ambiente e fomenta uma ética ambiental pública a res-
peito do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida, des- Coordenação e
Comunicação
pertando nos indivíduos e nos grupos sociais organizados Campus Universitário
o desejo de participar da construção de sua cidadania Vida
Promover a educação, a consciência pública e reorien- ceram semelhantes ao consumo dos habitantes das cida-
tar a educação para o Desenvolvimento Sustentável são des, o que evidencia a necessidade de controle também
idéias que constam nos artigos da Rio/92, nos quais se desse item.
destaca a importância de determinar a integração dos con- Na Figura 3, tem-se a representação do sistema de
ceitos de ambiente e o desenvolvimento em todos os pro- controle das entradas e das saídas da Universidade de
gramas de educação, em particular, a análise das causas Bordeaux, destacando a relação entre o que é consumido,
dos problemas que lhes estão associados num contexto lo- a área do campus, o número de pessoas envolvidas e os
cal, como um objetivo específico (AGENDA 21, 1992). resíduos gerados.
Estes aspectos deixam evidente que as IES devem
2.1.2 Postura e práticas de combater os impactos ambientais gerados para servirem
sustentabilidade nas IES de exemplo no cumprimento da legislação, saindo do
Existem razões significativas para implantar um SGA campo teórico para a prática.
numa Instituição de Ensino Superior, entre elas o fato de
que as faculdades e universidades podem ser compara- 2.2 Panorama histórico da questão
das com pequenos núcleos urbanos, envolvendo diversas ambiental e as IES
atividades de ensino, pesquisa, extensão e atividades re- As IES passaram a introduzir a temática ambiental em
ferentes à sua operação por meio de bares, restaurantes, seus esquemas de gestão a partir dos anos sessenta. As pri-
alojamentos, centros de conveniência, entre outras facili- meiras experiências surgiram nos Estados Unidos, simulta-
neamente com as promoções de profissionais nas ciências
dades. Além disto, um campus precisa de infra-estrutura
ambientais, que se estenderam ao longo dos anos setenta.
básica, redes de abastecimento de água e energia, redes de
Já nos anos oitenta, o destaque foi para políticas mais espe-
saneamento e coleta de águas pluviais e vias de acesso.
cíficas à gestão de resíduos e eficiência energética. Durante
Como conseqüência das atividades de operação do a década de noventa se desenvolveram políticas ambientais
campus há geração de resíduos sólidos e efluentes líqui- de âmbito global, que congregam todos os âmbitos das ins-
dos, consumo de recursos naturais, ou seja, a visão indus- tituições, a exemplo do Campus Ecology da University of
trial de inputs e outputs. A Figura 2 mostra os principais Wisconsin at Madison ou o Brown is Green, da University
fluxos de um campus universitário. of Brown nos Estados Unidos (Delgado e Vélez, 2005).
Bonett et al. (2002) relatam uma pesquisa efetuada Até à Conferência do Rio de Janeiro em 1992, as IES
numa universidade localizada na região de Bordeaux praticamente estiveram fora do palco da discussão sobre
– França. Foram identificados os consumos de energia e o desenvolvimento sustentável. A experiência trouxe uma
água, dos serviços disponíveis na instituição. Com rela- lição clara: as universidades não devem se esquivar ao
ção ao consumo per capita de água, foi constatado que desafio, pois se não se envolverem, se não usarem as suas
é o mais elevado, se comparado ao consumo médio das forças combinadas para ajudar a resolver os problemas
grandes cidades. O fato se agrava em virtude de parte da emergentes da sociedade global, então serão ignoradas
água consumida no campus ser proveniente de aqüíferos. no despertar de um outro motor de mudança, uma outra
Quanto ao consumo de energia, os parâmetros permane- agência ou estrutura será convidada a promover a lide-
Calor
Resíduos Líquidos
Químicos
Equipamentos
Materiais sólidos
Gases Diversos
Líquidos Campus Universitário
Efluentes
Líquidos
Armazenamento Resíduos
Água Sólidos
Figura 2. Principais fluxos de um campus universitário. Fonte: Careto e Vendeirinho (2003, p. 9).
506 Tauchen e Brandli – A Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior: Modelo para Implantação...
Figura 3. Fluxos de energia e água do campus de Bordeaux. Fonte: Bonnet et al. (2002, p. 15)
A Carta Copernicus, instrumento criado por Coper- das por suas práticas de sustentabilidade ambiental. Estão
nicus, foi um programa interuniversitário de cooperação abertas a todas as instituições engajadas nos programas
ao meio ambiente, estabelecido pela associação das uni- de melhoria contínua na área ambiental.
versidades européias. A carta expressa um compromisso O Ecocampus foi projetado de forma flexível, per-
coletivo em nome de um grande número de universida- mitindo um atendimento gradativo na sua execução,
des. Representa um esforço para mobilizar os recursos destacando alguns exemplos chave da sustentabilidade
das instituições para uma educação elevada a um con- (Blewitt, 2001):
ceito mais complexo do desenvolvimento sustentável. • Contribui para o desenvolvimento da ética sustentável;
Os principais objetivos do programa são: incorporar uma
• Controla os transportes dentro do campus;
perspectiva ambiental em toda a educação universitária
e ajudar a desenvolver materiais pedagógicos; estimular • Prima pelo bem estar, saúde e segurança;
e coordenar a integração multidisciplinar de projetos de • Reduz os desperdícios;
pesquisa; disseminar amplamente a pesquisa e as desco-
• Aprimora as atividades ambientais curriculares;
bertas empíricas (COPERNICUS, 1994).
Outro evento importante, ocorrido em março de 2000, • Monitora o consumo de água e energia; e
foi o encontro de ministros de vários países da região do • Motiva a participação da comunidade local e regional.
Mar Báltico no palácio de Haga em Estocolmo, com a fi- O projeto é baseado visando o estabelecimento de um
nalidade de examinar a praticabilidade da criação de uma sistema de gerência ambiental compatível com a ISO
rede de ministros, autoridades e instituições educacionais 14001. Os certificados das realizações são concedidos às
dedicadas à educação para o desenvolvimento sustentável. instituições por um corpo independente de certificação,
Em 2002, ocorreu uma segunda reunião na qual participa- em todos os estágios, durante todo o projeto do Ecocam-
ram a Dinamarca, Estônia, Finlândia, Alemanha, Islândia, pus, servindo como motivação para a progressão e de-
Letônia, Lituânia, Noruega, Polônia, Rússia e Suécia. A sempenho na implantação.
finalidade da reunião era examinar os resultados conse- Atualmente, observa-se que o Reino Unido lidera o
guidos pela rede de ministros, no cumprimento das tarefas movimento universitário para o desenvolvimento sus-
dadas na primeira reunião ministerial no palácio de Haga tentável na Europa e constata-se a existência de uma es-
em março de 2000, e adotar a Agenda 21 na educação trutura de ligação de âmbito nacional, a Environmental
para o desenvolvimento sustentável da região do Mar Bál- Association for Universities and Colleges (EAUC), que
tico. As principais definições foram no sentido de incen- serve de interlocutora das universidades britânicas junto
tivar a cooperação internacional a respeito das pesquisas às estruturas nacionais, regionais e internacionais.
envolvendo a temática ambiental, criar um suporte para as
redes que compartilham das experiências e atividades co- 3. Metodologia
muns em todos os níveis. O projeto do Mar Báltico pode,
conseqüentemente, ser visto como um ator importante na Os resultados apresentados neste artigo referentes às
disseminação de boas práticas para o desenvolvimento práticas ambientais desenvolvidas pelas universidades fo-
sustentável (HAGA DECLARATION, 2000, 2002). ram obtidos por meio de uma extensa revisão bibliográfi-
ca sobre o tema em IES localizadas no Brasil e em outros
2.3 Panorama atual da situação das IES países. A partir dos resultados encontrados, foi elaborada
quanto à gestão ambiental uma lista de ações sustentáveis contemplando todas as
Segundo Delgado e Vélez (2005), existem atualmente iniciativas adotadas pelas universidades pesquisadas.
cerca de 140 IES que incorporaram políticas ambientais Foram pesquisadas 42 universidades localizadas no
na administração e na gestão acadêmica. Dentro dessas Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Portugal, Alema-
IES que adotaram compromissos e políticas ambientais nha, Espanha, França e Nova Zelândia. No Brasil apre-
para o desenvolvimento sustentável, dez IES estão certifi- senta-se o caso de 4 universidades.
cadas com ISO 14001, como é o caso da Universidade da O modelo proposto para a gestão ambiental em uma
Organização das Nações Unidas em Tókio no Japão. Instituição de Ensino Superior baseou-se nas boas práti-
Ribeiro et al. (2005) mencionam que a IES considera- cas encontradas e sua estruturação foi concebida a partir
da pioneira na implantação de um SGA é a Universida- das normas para sistemas de gestão ambiental, NBR ISO
de Mälardalen, na Suécia. Atualmente, esta universidade 14001 e NBR ISO 14004 (ABNT, 1997a; 1997b), além
está certificada segundo a norma ISO 14001. do ciclo PDCA.
Ainda nesta perspectiva, existe na Europa o projeto O ciclo PDCA pode ser brevemente descrito:
Ecocampus, que é um sistema de gerenciamento ambien- • Planejar (PLAN): envolve o estabelecimento dos obje-
tal direcionado as IES. O projeto permite o reconheci- tivos e processos necessários para atingir os resultados,
mento das faculdades e universidades a serem reconheci- de acordo com a política ambiental da organização;
508 Tauchen e Brandli – A Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior: Modelo para Implantação...
• Executar (DO): envolve a implementação dos processos; Sob o ponto de vista das IES, o número maior de ações
• Verificar (CHECK): envolve o monitoramento e me- sustentáveis foi encontrado na Cornwall College (REINO
dição dos processos em conformidade com a política UNIDO) e na Louisville Universidade (EUA) correspon-
ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e dendo a 8 iniciativas (18% do total).
relatar os resultados; e A Figura 4 relaciona as iniciativas adotadas pelas
universidades pesquisadas de acordo com as etapas de
• Agir (ACTION): envolve a execução de ações para me- implantação de um sistema de gestão ambiental, o ciclo
lhorar continuamente o desempenho do sistema da ges- PDCA.
tão ambiental.
Este modelo está em fase de implantação na Faculdade 4.1.1 Casos de IES localizadas no Brasil
de Horizontina (FAHOR), localizada na cidade de Hori- O exemplo brasileiro mais importante de universidade
zontina, noroeste do RS. No entanto, os resultados de sua que implementou um Sistema de Gestão Ambiental é a
aplicação não são foco deste artigo. Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Por
intermédio do projeto Verde Campus, a UNISINOS foi a
4. Apresentação dos resultados primeira universidade da América Latina a ser certificada
segundo a ISO 14001. O projeto visa à preservação, à
melhoria e à recuperação da qualidade ambiental, asse-
4.1 Iniciativas e boas práticas de sustenta- gurando condições de desenvolvimento socioeconômico,
bilidade das universidades
segurança do trabalho, proteção da vida e qualidade am-
No processo de pesquisa, foi possível encontrar diver-
biental. Um dos resultados mais relevantes alcançados
sos casos de gestão ambiental em âmbito universitário.
foi a criação do curso de Gestão Ambiental no ano de
Dois aspectos devem ser ressaltados em relação aos re-
2005. Com isso, a UNISINOS possibilitou a criação de
sultados: as ações são isoladas e pontuais; e a maioria laboratórios para estudos ambientais, pesquisas básicas
destina-se a situações em que a instituição já está imple- e aplicadas e, ainda, ferramentas de geoprocessamento e
mentada e funcionando, facilitando as ações de formação demais recursos técnicos e humanos necessários para a
do pessoal, a distribuição de responsabilidades do pro- formação de seus alunos (VERDE CAMPUS, 1997).
grama de gestão ambiental e o monitoramento e controle A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é
dos indicadores de gestão para o SGA. um exemplo de tentativa da implementação de um SGA.
As Tabelas de 1 a 3 apresentam, de forma resumida, Foi criada uma coordenadoria de Gestão Ambiental, li-
as ações sustentáveis encontradas nas universidades pes- gada diretamente ao gabinete da reitoria, e, ainda, foi es-
quisadas. Os casos estão organizados de acordo com a lo- tabelecida uma política de gestão ambiental responsável.
calização das instituições. As linhas hachuradas indicam Por meio desta, privilegiou-se utilizar o ensino como uma
que a iniciativa é adotada pela IES. busca contínua para melhorar a relação homem e meio
A Tabela 1 apresenta um resumo das universidades ambiente, trazendo a comunidade como parceira dessa
com ações sustentáveis localizadas no Reino Unido proposta e visando uma melhor qualidade de vida pela
(Blewitt, 2001) geração do conhecimento (Ribeiro et al. 2005).
A Tabela 2 apresenta um resumo das universidades Na prática, alguns programas propostos já estão em
com ações sustentáveis localizadas em Portugal, Alema- andamento. No sistema de coleta dos resíduos químicos
nha, Espanha, França, Nova Zelândia e América Latina da UFSC, por exemplo, uma empresa terceirizada é a res-
(Bonnet et al., 2002, Fouto (2002); Careto e Vendeirnho, ponsável pela coleta e destinação final adequada destes
2003; Pontifica Universidad Javeriana, 2003; Ribeiro resíduos. Ainda foi desenvolvido, por meio de parceria
et al. 2005; Delgado e Vélez, 2005). com órgãos públicos estaduais, ONGs e associações, o
A Tabela 3 apresenta um resumo das universidades Projeto Sala Verde. Esta atividade consiste em criar um
com ações sustentáveis localizadas nos Estados Unidos espaço na instituição dedicado ao delineamento e desen-
e Canadá (Careto e Vendeirinho, 2003) volvimento de atividades de caráter educacional, tendo
Do total das 42 IES pesquisadas, as ações sustentáveis como uma das principais ferramentas a divulgação e a
que mais aparecem são o controle do consumo e reuso difusão de publicações sobre Meio Ambiente (Ribeiro
da água e o programa de reciclagem-gestão de resíduos, et al. 2005).
em torno de 22% dos casos, seguidos do treinamento e Também no Estado de Santa Catarina aparece a Univer-
sensibilização dos alunos, com 19% dos casos. Outros sidade Regional de Blumenau (FURB). “A FURB é uma
dois aspectos que aparecem em 16% das IES foram a au- instituição comprometida com a proteção ambiental e com
ditoria ambiental para indicar melhorias onde necessário a economia dos recursos naturais, visando uma melhoria
e do Diagnóstico dos impactos diretos ou significativos na qualidade de vida atual e futura (Política Ambiental
para o ambiente. da FURB)”. A Instituição efetivou a sua postura ambien-
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talmente consciente criando o Comitê de Implantação do Conforme Ribeiro et al. (2005), a Universidade Fe-
SGA em março de 1998, constituído por representantes deral do Rio Grande do Sul (UFRGS) também vem se
de toda a comunidade universitária, objetivando identifi- empenhando em implementar um SGA. Inicialmente foi
car com clareza os seus problemas ambientais, a fim de realizado um diagnóstico sobre os resíduos gerados e
estabelecer um plano de melhoria contínua na atenuação suas diferentes destinações nas unidades da universidade.
ou eliminação desses problemas. Este Comitê, seguindo Com esta iniciativa, foi possível obter informações muito
as normas da ISO 14001, elaborou a Política Ambiental úteis acerca dos resíduos gerados pela UFRGS. Analisan-
da FURB e deu início ao Planejamento Ambiental, culmi- do o diagnóstico realizado a partir dos dados obtidos na
nando com a criação do Sistema de Gestão Ambiental da UFRGS, foi constatada a existência de algumas iniciati-
Universidade em 1999. O Sistema de Gestão Ambiental vas pontuais objetivando melhoras nos aspectos ambien-
da FURB é uma estrutura organizacional e de responsabi- tais da universidade. Na Escola de Engenharia, um grupo
lidades destinada a implementar a política ambiental e os formado por estudantes do curso de Engenharia de Mate-
objetivos de gestão ambiental da FURB e é composto pela riais planejou um sistema de Gerenciamento de Resíduos
Coordenadoria do Meio Ambiente, Responsáveis e Agen- Sólidos Urbanos (GRSU). Com o apoio da unidade, este
tes Ambientais (Butzke, Pereira e Noebauer, 2002). grupo implementou o GRSU em 2004. Embora o projeto
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tenha atingido seus objetivos nos primeiros meses de im- o gerenciamento de resíduos. Esse gerenciamento é uma
plementação, o afastamento gradual dos estudantes que o importante etapa no futuro desenvolvimento do Sistema
iniciaram, associado à falta de envolvimento da alta admi- de Gestão Ambiental.
nistração, foram fatores que causaram a desestruturação Na visão de Ribeiro et al. (2005), ao proceder à análise
do projeto. A Escola de Administração é outra unidade dessas iniciativas na UFRGS, ainda existem barreiras na
da UFRGS que também vem desenvolvendo atividades implementação do SGA, entre elas: a falta de informação
relacionadas à Gestão Ambiental. A partir da iniciativa da sociedade sobre práticas sustentáveis; a não valoriza-
de um grupo de alunos orientados por um professor, tam- ção do meio ambiente por diversos colaboradores da or-
bém foi proposta a implementação de um Sistema de Ge- ganização; e a não percepção da universidade como uma
renciamento de Resíduos Sólidos Urbanos nesta unidade. fonte potencial de poluição.
O grupo realizou o levantamento dos resíduos gerados e,
atualmente, ações possíveis para a diminuição do consu- 4.2 Proposta de modelo de gestão
mo de energia e água estão em implantação. ambiental para IES
Conforme a iniciativa das instituições apresentadas As universidades anteriormente mencionadas, assim
acima, nota-se a predominância de projetos abordando como um número crescente de empresas que desenvol-
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vem um SGA em sua organização, devem ter sua concep- exercida pela IES e a criação da política ambiental, pode-
ção, para a busca da certificação, segundo a norma ISO se avaliar e determinar quem será responsável por cada
14001. Algumas etapas somente podem ser concebidas etapa do processo, quais as mudanças físicas necessárias
conforme um programa que oriente a melhoria do desem- e, principalmente, qual a receita disponível para investir
penho ambiental da organização, prevendo os seguintes nesse projeto de melhoria. Após a execução do propos-
passos: política ambiental; planejamento; implementa- to, segue-se com o monitoramento das etapas produtivas,
ção e operacionalização; verificação e ação corretiva; e buscando corrigir falhas que possam existir e minimizar
uma revisão permanente (PDCA). possíveis problemas que não condizem com o objetivo
A Figura 5 apresenta uma proposta de procedimentos do SGA.
para implantar um modelo de gestão ambiental e demons- Como etapa final desse ciclo, faz-se necessária uma
tra, de forma sucinta, as principais etapas desse processo. análise crítica sobre o que foi melhorado, se a política
A concepção está baseada no ciclo PDCA. ambiental foi seguida e se o SGA conseguiu atingir seus
O levantamento dos requisitos legais e aspectos am- objetivos. Por ser um ciclo, o SGA, a partir daí, volta a
bientais deverá influenciar a definição da Política Am- aplicar sua política, buscar possíveis novos aspectos am-
biental de um campus. Depois de identificados os as- bientais que passam a ser observados após a execução do
pectos ambientais, pode ser aplicado o ciclo do PDCA. PDCA. Avaliar novamente os recursos disponíveis para
Com a identificação dos aspectos ambientais da atividade melhorar o processo, seguir o monitoramento das ações e
512 Tauchen e Brandli – A Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior: Modelo para Implantação...
PLANEJAMENTO
EXECUÇÃO
Auditoria ambiental
Diagnóstico dos impactos diretos ou Inclusão nos currículos de conteúdos
significativos sustentabilidade ambiental
Guia com boas práticas sustentáveis Programas voltados à população de
Treinamento e sensibilização da conscientização ambiental
equipe de funcionários/ dos alunos Desenvolvimento de projetos de pesquisa
Soluções baseadas no padrão de Controle do uso de combustíveis
gerência ambiental da ISO 14001 Controle do consumo e reuso da água
Controle do uso da energia
Controle de efluentes
AÇÃO P D Alimentação orgânica
Plano de ação para melhoria contínua Sistemas de saúde e a segurança
Soluções baseadas no padrão Parceria com outras universidades
de gerência ambiental da ISO 14001 A C Disseminaçâo dos projetos
Programa de reciclagem - gestão de resíduos
Organização de eventos na área ambiental
VERIFICAÇÃO Criação de departamento para gestão ambiental
Cursos de formação de gestores ambientais
Criação de ferramenta para análise da
Construções e reformas c/ padrões sustentáveis
sustentabilidade
Promoção da biodiversidade dos ecossistemas
Coleta de indicadores ambientais
Critérios ambientais com fornecedores
Desenvolvidos e editados materiais de
Espaços verdes - controle da vegetação
avaliação ambiental
IES
Diagnóstico ambiental Levantamento de aspectos
Motivadores inicial e impactos ambientais
Levantamento dos
requisitos legais
Licenciamento
SGA Política ambiental
ambiental
Planejamento
Melhoria Contínua Aprimorar
Verificar
- Acompanhamento da evolução indicadores Implementação e
Planejar
- Estabelecimento de novos objetivos e metas Executar Operação
- Novas tecnologias Áreas gerenciáveis na Prática de
- Melhor desempenho escala ambiental sustentabilidade
- Redução de custos
- Novas praticas de sustentabilidade - Água - Recuperação da mata ciliar
- Divulgação dos resultados - Energia - Integração paisagística
- Transportes - Espaços verdes
- Resíduos - Recuperação da área
- Uso do solo de nascente
Verificação e ação corretiva - Emissões gasosas - Cisterna para captação
- Aquisições de águas pluviais
- Monitoramento das áreas gerenciáveis na - Serviços - Edificações com conforto
escala ambiental térmico
- Controle sobre as práticas de sustentabilidade - Disciplinas na área
- Acompanhamento das etapas do SGA ambiental
- Registro de atividades que podem ter um impacto - Pesquisas e publicações
significativo no ambiente - Campanhas ecológicas
- Ações corretivas
- Avaliações de qualidade ambiental
realizar novas análises, sempre com o objetivo principal tável, não só no aspecto do ensino, mas de práticas de
do ciclo que é a melhoria contínua do SGA. funcionamento ambientalmente corretas.
A gestão ambiental em universidades deve: incluir As ações que aparecem incorporadas a um SGA para
análises responsáveis e detalhadas de cada fluxo num as IES podem ser resumidas:
campus, devendo ser baseada em unidades físicas, porém Assessoria ambiental, trabalhos de levantamento de
permitindo também que sejam considerados questões aspectos e impactos ambientais e elaboração do SGA;
econômicas; incluir a avaliação de indicadores consis- Gestão de recursos - gestão de energia, gestão da água,
tentes; envolver o estudo detalhado destes indicadores a qualidade e conforto térmico; Gestão de resíduos, pre-
fim de compreender e estimar o potencial de melhoria venção da poluição; Construção sustentável – plano di-
do sistema; e servir de melhoria contínua dos parâmetros retor definido para todos os prédios a serem construídos;
ambientais do sistema, de acordo com o comprometi- Compras integrando critérios ambientais – materiais e
mento ambiental exemplar que as instituições precisam equipamentos; Educação integrando aspectos ambien-
demonstrar. tais – sensibilização ambiental, formação, informação,
currículo integrando aspectos ambientais, projetos de
5. Considerações finais investigação sobre temas do SGA, campanhas; Decla-
rações e relatórios ambientais – para uma fase posterior
Com a apresentação de um modelo de atuação para as ao SGA e após a sua revisão; Investimentos nos aspectos
universidades em matéria de desenvolvimento sustentá- paisagísticos, recuperação da mata ciliar, criação da bi-
vel, espera-se ter conseguido justificar, à escala global, blioteca natural, espaços verdes; e Sistema de captação
que existem motivos claros para investimentos das IES de águas pluviais e utilização nas bacias sanitárias, mic-
neste sentido. Esses motivos substanciam desde diretri- tórios e jardins.
zes a modelos ou guias de atuação e práticas de sustenta- Finalmente, é importante salientar que os benefícios de
bilidade para implantação de um SGA nas IES. um SGA são muitos e, entre eles, destacam-se as econo-
Os casos de gestão ambiental em âmbito universitário mias pelo melhoramento da produtividade e da redução
encontrados no mundo e no Brasil constituem, na maio- no consumo de energia, água e materiais de expediente;
ria das vezes, práticas isoladas em situações em que a o estabelecimento das conformidades com a legislação
instituição já está implementada e funcionando. Esta si- ambiental; reduzindo, assim, os riscos de incorrer em pe-
tuação revela a preocupação crescente de adaptação das nalidades ou gerar passivos ambientais; a evidência de
universidades em busca de um desenvolvimento susten- práticas responsáveis e melhora na imagem externa da
instituição; e a geração de oportunidades de pesquisa.
Referências Bibliográficas
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Abstract
In the last few years, sustainable development and environmental management have become one of the main in-
terests of higher-education institutions. This has been revealed mainly by the educational approach on environmental
management and the practical examples incorporated in campi operation. The present work shows a systematization
of procedures and a model whose purpose it is to implement an adapted environmental management system (EMS) at a
university campus, making it possible for a higher-education institution to control and prevent environmental impacts
and adjust to legislation and regulations, even in the infrastructure planning phase. The proposal is based on PDCA
tools and on a comprehensive survey of national and international benchmarks for sustainable university campi. The
examples presented indicate isolated actions in the surveyed universities, most of them implemented when the campus
is already functioning. This situation shows a growing concern regarding the adaptation of universities in search of
sustainable development, not only regarding educational aspects, but also regarding environmentally correct prac-
tices.
Keywords: university, campi, environmental management, sustainable development.